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Caroline Schmidt Patricio | 175 nossos próprios problemas sobre como fazer sentido do passado e de outra cultura, e também sobre o ensino. Como é ensinar História do Antigo Ori- ente Próximo? Como é aprender a História do Antigo Oriente Próximo? Qual o sentido de ainda aprender sobre isso? Como aproximar as pessoas de uma matéria distante em tempo e espaço? Existem várias formas de responder essas perguntas e organizar ati- vidades de ensino de História envolvendo Antiguidade. Durante o desenvolvimento da minha pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso, busquei propor alguns pensamentos basilares para práticas educa- cionais que conversassem melhor com uma visão de História que acredito: como um fazer também imaginativo e intuitivo. Isso significa abandonar os acontecimentos pontuais. A história não é uma linha feita de tracejados, ela é contínua e não faz “paradas” para que Dom Pedro grite às margens do Ipi- ranga enquanto ela espera a performance, que será registrada como um marco. Somente a imaginação permite que o aluno pense a continuidade his- tórica em contraposição aos livros didáticos que dividem capítulos por eventos históricos. (PATRICIO, 2021, p. 115-116) Para elaborar esses pensamentos de forma teórico-prática, resolvi ar- ticular três frentes: a) um material de base para consulta. Neste caso, um dicionário de verbetes cuja temática escolhida foi a das deusas mesopotâ- micas; b) a tradução de materiais estrangeiros que constituem os verbetes e as atividades; c) propostas de atividades escolares. Aqui, faço alguns comentários sobre os pontos acima. O projeto, em seu início, buscava debater a questão de gênero. Por isso, o recorte das deusas mesopotâmicas. A partir da representação de sua figura dentro da sociedade, podemos pensar o impacto dessas imagens de mulheres na vida das mulheres reais. Por outro lado, as especificidades de cada uma das deusas levou o projeto, a partir das propostas educativas, ao debate não 176 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa apenas de gênero, mas de outras questões também importantes dentro da sociedade. Sobre as traduções: por uma questão de tempo, não foi possível o desenvolvimento da tradução dos textos na íntegra. Para solucionar essa questão, busquei traduzir para os verbetes as principais partes. Além disso, para as atividades educativas para sala de aula, alguns textos antigos fo- ram traduzidos inteiros do inglês para o português. De qualquer forma, essa pesquisa, e o material entregue a partir dela, não é apenas uma resposta para as perguntas feitas no início deste texto. Antes disso, é uma provocação — vinda a partir de um incômodo pessoal — para que nós, pesquisadores de História Antiga, olhemos com carinho para o Ensino Básico e pensemos novas práticas pedagógicas que consi- gam unir o passado e o presente para a transformação do futuro. Pensando o material de consulta Durante o período em que participei da pesquisa "Arte, história e cul- tural material: um estudo de selos-cilindros mesopotâmicos", desenvolvida pelo Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental (LEAO – UFRGS, coordenado pela professora Katia Pozzer), observei que a maio- ria das nossas referências bibliográficas eram em línguas estrangeiras. Principalmente os materiais básicos (enciclopédias e dicionários) que nos ajudavam a identificar algum motivo visual e contextualizá-lo na imagem. Isso demonstra que tal área de pesquisa é praticamente inalcançável para uma pessoa sem o conhecimento intermediário de, pelo menos, a lín- gua inglesa. Os resultados práticos dessa exclusão de uma parte da sociedade são pesquisas que não se interessam por pensar a pluralidade, recepção e o acesso à História Antiga. Por outro lado, a existência de materiais em língua portuguesa sobre História Antiga Oriental não é suficiente para popularizar e tornar ela acessível. “É preciso, também, que estes materiais sejam de fácil