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278-historias-antigas-88

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Caroline Schmidt Patricio | 175 
 
nossos próprios problemas sobre como fazer sentido do passado e de outra 
cultura, e também sobre o ensino. Como é ensinar História do Antigo Ori-
ente Próximo? Como é aprender a História do Antigo Oriente Próximo? 
Qual o sentido de ainda aprender sobre isso? Como aproximar as pessoas 
de uma matéria distante em tempo e espaço? 
Existem várias formas de responder essas perguntas e organizar ati-
vidades de ensino de História envolvendo Antiguidade. Durante o 
desenvolvimento da minha pesquisa para o Trabalho de Conclusão de 
Curso, busquei propor alguns pensamentos basilares para práticas educa-
cionais que conversassem melhor com uma visão de História que acredito: 
 
como um fazer também imaginativo e intuitivo. Isso significa abandonar os 
acontecimentos pontuais. A história não é uma linha feita de tracejados, ela é 
contínua e não faz “paradas” para que Dom Pedro grite às margens do Ipi-
ranga enquanto ela espera a performance, que será registrada como um 
marco. Somente a imaginação permite que o aluno pense a continuidade his-
tórica em contraposição aos livros didáticos que dividem capítulos por eventos 
históricos. (PATRICIO, 2021, p. 115-116) 
 
Para elaborar esses pensamentos de forma teórico-prática, resolvi ar-
ticular três frentes: a) um material de base para consulta. Neste caso, um 
dicionário de verbetes cuja temática escolhida foi a das deusas mesopotâ-
micas; b) a tradução de materiais estrangeiros que constituem os verbetes 
e as atividades; c) propostas de atividades escolares. 
Aqui, faço alguns comentários sobre os pontos acima. O projeto, em 
seu início, buscava debater a questão de gênero. Por isso, o recorte das 
deusas mesopotâmicas. A partir da representação de sua figura dentro da 
sociedade, podemos pensar o impacto dessas imagens de mulheres na vida 
das mulheres reais. Por outro lado, as especificidades de cada uma das 
deusas levou o projeto, a partir das propostas educativas, ao debate não 
176 | Histórias Antigas: entre práticas de ensino e pesquisa 
 
apenas de gênero, mas de outras questões também importantes dentro da 
sociedade. Sobre as traduções: por uma questão de tempo, não foi possível 
o desenvolvimento da tradução dos textos na íntegra. Para solucionar essa 
questão, busquei traduzir para os verbetes as principais partes. Além disso, 
para as atividades educativas para sala de aula, alguns textos antigos fo-
ram traduzidos inteiros do inglês para o português. 
De qualquer forma, essa pesquisa, e o material entregue a partir dela, 
não é apenas uma resposta para as perguntas feitas no início deste texto. 
Antes disso, é uma provocação — vinda a partir de um incômodo pessoal 
— para que nós, pesquisadores de História Antiga, olhemos com carinho 
para o Ensino Básico e pensemos novas práticas pedagógicas que consi-
gam unir o passado e o presente para a transformação do futuro. 
 
Pensando o material de consulta 
 
Durante o período em que participei da pesquisa "Arte, história e cul-
tural material: um estudo de selos-cilindros mesopotâmicos", 
desenvolvida pelo Laboratório de Estudos da Antiguidade Oriental (LEAO 
– UFRGS, coordenado pela professora Katia Pozzer), observei que a maio-
ria das nossas referências bibliográficas eram em línguas estrangeiras. 
Principalmente os materiais básicos (enciclopédias e dicionários) que nos 
ajudavam a identificar algum motivo visual e contextualizá-lo na imagem. 
Isso demonstra que tal área de pesquisa é praticamente inalcançável 
para uma pessoa sem o conhecimento intermediário de, pelo menos, a lín-
gua inglesa. Os resultados práticos dessa exclusão de uma parte da 
sociedade são pesquisas que não se interessam por pensar a pluralidade, 
recepção e o acesso à História Antiga. 
Por outro lado, a existência de materiais em língua portuguesa sobre 
História Antiga Oriental não é suficiente para popularizar e tornar ela 
acessível. “É preciso, também, que estes materiais sejam de fácil