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Pré-eclâmpsia Doença toxêmica gravídica multissistêmica caracterizada pela hipertensão e proteinúria que aparece após a 20ª semana, mais assídua perto do termo. É a maior causa de óbito materno no Brasil e maior causa direta e indireta da mortalidade perinatal. Ocorre em 2-10% das gestações, com maior ocorrência em nulíparas; Risco de 4-5% da insuficiência renal crônica; Síndromes Hipertensivas: a. Pré-eclâmpsia leve, grave e eclampsia; b. Hipertensão crônica de qualquer etiologia; c. Pré-eclâmpsia / eclampsia superposta à hipertensão crônica; d. Hipertensão gestacional a. Transitória (desaparece em até 12 semanas pós-parto); b. Crônica (continua após 12 semanas pós-parto). Conceitos importantes: Hipertensão: PA > 140/90 mmHg ou acréscimo de 30 mmHg na PS ou 15 mmHg na PD; Proteinúria: excreção de 300 mg ou mais de proteína de 24h (300mg/L) ou 1+ no teste de fita. Etiopatogenia Acredita-se que acontece devido a uma placentação defeituosa; causas de uma placentação defeituosa: · Fatores genéticos; · Fatores imunológicos – maior risco na gestação do primeiro filho do que no segundo (caso seja o mesmo pai); · Estresse oxidativo; · Fatores ambientais. Na gravidez normal, a artéria umbilical é frouxa, pois houve duas ondas de migração trofoblástica de destruição da capa dos vasos espiralados (no 1º e no 2º trimestre). Na pré-eclâmpsia, houve apenas uma onda, permanecendo a capa musculoelástica do segmento miometrial da artéria espiralada, levando a um menor fluxo de sangue e uma isquemia placentária. A isquemia placentária leva a uma disfunção endotelial, com aumento dos fatores antiangiogênicos (sFlt 1 e sEng) e diminui os fatores angiogênicos (VEGF, PIGF, TGFBeta) aumento de vasoconstritores (endotelina 1 e TXA2) e reduz vasodilatadores (PGI2 e NO) vasoespasmo (maior sensibilidade à angiotensina II), aumento da permeabilidade capilar e dano microangiopático repercussão sistêmica. Fatores predisponentes: · Primiparidade; · História familiar da doença; · Toxemia (pré-eclâmpsia) prévia; · Gemelaridade; · Hipertensão essencial / renal anterior; · Mola hidatiforme; · DM; · Hidropisia fetal. fisiopatologia Alterações Renais: Endoteliose capilar glomerular redução da taxa de filtração glomerular, proteinúria e retenção de ácido úrico. · Níveis sanguíneos de creatinina altos; · Em casos graves: isquemia renal (do tipo necrose tubular aguda ou necrose cortical bilateral aguda). · Edema em dedos e faces. Alterações Vasculares: vasiespasmo, lesão tecidual e hipóxia. Alterações Cardiovasculares: hemoconcentração e risco de edema agudo de pulmão. Alterações Hepáticas: pode ocorrer necrose hemorrágia portal e hematoma hepático · TGO, TGP e DHL altos; · Síndrome HELLP. Alterações cerebrais: Encefalopatia hipertensiva edema vaso gênico (encefalopatia posterior reversível) e hemorragia cerebral cefaleia occipital e vagalumes. Alterações uteroplacentárias: Circulação reduzida, ocorrendo grande infartes placentários; · Insuficiência placentária: RCIU e oligoamnio; · DPP. clínica Pré-eclâmpsia leve: PA < 160 x 110 mmHg em pelo menos 2 aferições após a 20ª semana de gestação, sem hipertensão prévia, e com proteinúria entre 300 mg e 2 g/dia ou 1 cruz na fita de urina. Sinais de pré-eclâmpsia grave: · PA > 160/110 mmHg; · Proteinúria 2+ ou 3+; · Oligúria (< 400 mL/24h); · Creatinina > 1,3mg; · Manifestações cerebrais; · Dor epigástrica; · Edema agudo de pulmão; · Síndrome HELLP. Pré-eclâmpsia grave: PA > 160 x 110 mmHg e proteinúria > 2g/dia; também pode ter a creatinina elevada (>1,2), cefaleia persistente e/ou dor epigástrica e/ou distúrbios visuais, alteração de comportamento, anasarca, sinais de anemia microangiopática e/ou elevação das enzimas hepáticas, ou trombocitopenia. Sintomas que prenunciam o acidente convulsivo: · Disfunção do SNC: · 60-70% cefaleia persistente occiptal, frontal ou difusa; · 20-30% com distúrbios visuais: escotomas, turvação, diplopia, fotofobia, amaurose, hiperreflexiva com aumento da área reflexogênica · Dor epigástrica ou no QSD – distensão de capsula hepática; · Oligúria e cilindrúria; · Reflexos tendinosos profundos exaltados. Eclampsia: é a pré-eclâmpsia grave com crises convulsivas tônico-clônicas ou coma. Diagnóstico PAS > 140 mmHg ou PAD > 90mmHg + proteinpuria > 300mg/24h ou proteinúria/creatinúria em amostra isolada > 0.3 ou proteinúria 1+ em fita reagente ou disfunção em órgãos alvo. Critérios de gravidade: · PAS > 160 mmHg ou PAD > 110mmHg · Creatinina sérica > 1,1 ou aumento em 2x; · Plaquetopenia < 100.000 · AST ou ALT > 70 · Oligúria < 500ml/24h · Edema pulmonar ou cianose. · Síndrome HELLP: hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia · Hemólise: esquizócitos, BT > 1,2 e DHL > 600 · Elevated enzimas hepáticas: TGO > 70 · Plaquetopenia < 100.000 Obs.: HAS e proteinúria podem não estar presentes. prognóstico Complicações: Insuficiência Renal Aguda (38%) / CIVD / DPP (6%) / ruptura hepática (3%). A principal causa de morte na eclampsia é hemorragia cerebral, seguida de edema agudo de pulmão. A pré-eclâmpsia costuma não determinar sequelas definitivas na mulher, embora a reversibilidade completa possa durar até 12 meses. Usualmente os sintomas permanecem até 8 semanas. As pacientes devem ser aconselhadas em relação ao risco de doença da gestação subsequente (25% se surgiu no termo, 40% se surgiu entre 29 e 36 semanas e 60% se surgiu no 2º trimestre). Além disso, elas têm maior risco de HAS e as suas irmãs e filhas tem risco de desenvolver a doença. O feto pode sofrer: sofrimento crônico, RCIU e morte. Tratamento Pré eclampsia leve: tratamento conservador até o feto atingir 37 semanas: repouso (não pode trabalhar nem viajar) e acompanhar semanalmente. · 1ª escolha medicamentosa: metildopa 250mg VO 12/12h (máxima: 3g/dia). · Avaliação da vitalidade fetal semanal: · Crescimento fetal: AFU e USG obstétrico mensal; · Função placentária: doppler de a. umbilical semanal; · Resposta hemodinâmica fetal: doppler de ACM e ducto venoso; · PBF semanal. · Interromper a gravidez de 37 a 40 semanas. Avaliação clínico laboratorial: · PAD e busca de síntomas; · Proteinúria, hemograma, esfregaço sanguíneo, contagem de plaquetas, creatinina, ac. Úrico, albumina no soro, enzimas hepáticas. Critérios de internação: · Ao diagnóstico com sinal de gravidade); · Necessidade de doses crescentes de anti-hipertensivos; · Alteração da vitalidade fetal; · Aumento significativo proteinúria; · Suspeita de lesão de órgão-alvo; · Sinais de gravidade. Pré eclampsia grave: internação · Interromper a gravidez o quanto antes: manter até 34 semanas se possível. A interrupção deve ser feita apenas após o quadro clínico se estabilizar, o que demora em torno de 4 a 6 horas (sulfato de magnésio). · Interrupção imediata: · Iminência de eclampsia; · Mal controle pressórico; · Diástole reversa umbilical; · IP ducto venoso < 1,5 · PBF < 6 · DIP II recorrentes; · Oligoâmnio grave (ILA < 3). · Interrupção mediata (após corticoide antenatal): IP ducto venoso entre 1,0 e 1,5 / oligoamnio com ILA entre 3 e 5. · Medidas gerais: decúbito lateral esquerdo; O2 sob máscara; acesso venoso; coleta de exames; monitorização; sonda vesical de demora. · Sulfato de magnésio – ataque 4g EV em 20 min; manutenção – 1-2g EV / hora. · Cuidado com a intoxicação: (aumenta o limiar convulsivo) parada respiratória / ausência de reflexo patelar / parada renal interromper o uso ou dar antídoto (gluconato de cálcio). · Monitoramento da toxidade: FR < 16 iom / arreflexia patelar / diurese < 25 ml/h ou < 100 ml em 4h. · Anti-hipertensivos – hidralazina 5 mg a cada 15 min IV (dose máxima 30 mg); nifedipina VO de ação rápida é uma opção. · Avaliar a vitalidade fetal. O parto: não há contraindicação ao parto normal, desde que a mãe esteja estável clínica e laboratorialmente e feto com boa vitalidade. Prevenção Antes de 16 semanas · AAS 150 mg 1x por dia; suspender após 36 semanas – indicado para todas as pacientes com fatores de risco · Cálcio 1,5 a 2g/dia manter até o fim da gestação – para gestantesem fator de risco e baixa ingesta de cálcio. Conclusão · No Brasil, a pré eclampsia incide em 10% das grávidas, principalmente primíparas, sendo uma das maiores causas de mortalidade materna e perinatal; · Na etiopatogenia sobressaem a placentação defeituosa e a disfunção endotelial; · Não é sempre que a paciente irá apresentar sintomas, trata-se de uma doença lábil que pode evoluir sem prenúncio. Importância de rastrear medindo a PA em todas as consultas; · A pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade pode ser acompanhada em consultas semanais para avaliar as condições clínicas, laboratoriais da mãe e a vitalidade fetal; · O tratamento de pré-eclâmpsia grave/eclampsia é realizado pela sulfatação, hidralazina IV e interrupção da gravidez, após a estabilização do quadro por 4 a 6h; · O tratamento definitivo é o parto. benefícios na prevenção parto; benefícios potenciais estatinas; sem benefícios repouso absoluto; ômega 3; aspirina; cálcio metformina; exercícios físicos de baixo impacto. ácido fólico; alho; restrição de sódio; vitaminas C, D e E image1.png image2.png