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Tópico 09 Química Geral e Inorgânica Soluções 1. Introdução Você já reparou que a maioria das “coisas” que usamos no nosso dia a dia é mistura? Pense aí… Comidas, bolos, pudins, o cafezinho, o refrigerante, os sucos, pastas, pomadas, cremes, cimento, bijuterias, aços, plásticos, o soro, a água mineral, entre outras coisas. Sabia? Dentro deste universo de misturas, existem misturas homogêneas, aquelas “realmente” misturadas e as misturas heterogêneas, que não ficam perfeitamente misturadas, separando os componentes. Deste modo, buscando explicar as misturas, este Tópico abordará conceitos bem aplicados e muito importantes no universo da Farmácia. Está preparado(a)? Então, vamos começar! 2. Soluções A palavra solução vem da palavra latina solutio, cujo significado é decompor, dissolver, derreter ou dissipar. Daí o porquê de utilizarmos esta palavra no dia a dia, em um contexto de resolução de problema, pois, para resolvermos um problema, há todo um trabalho de análise e divisão (“decomposição”), para que ele seja compreendido e, por fim, resolvido, ou seja, chegue- se à solução do problema. Mas, para nós, no “mundo da Química”, tecnicamente falando, solução é o nome dado a dispersões cujo tamanho das moléculas dispersas é menor que 1 nanômetro (10 centímetros), ou, ainda, uma solução é caracterizada por ser um sistema perfeitamente homogêneo (tanto a olho nu quanto ao microscópio), por ser impossível separar o disperso (soluto) do dispersante (solvente) por processos físicos. Ilustração típica do preparo de uma solução, no qual se faz a mistura de um soluto (disperso) em um solvente (dispersante). > Antes de começarmos a falar nas soluções propriamente ditas, é importante que você relembre algumas definições. Termos importantes no estudo das soluções Vamos usar alguns termos neste Tópico que você, provavelmente, já conhece, mas é bom dar uma relembrada. Misturas São constituídas de dois ou mais tipos de substâncias, mecanicamente misturados em qualquer proporção, que podem ser separados. As substâncias constituintes de uma mistura conservam suas propriedades originais. Existem dois tipos de mistura: -7 Mistura homogênea – na qual os constituintes estão uniformemente misturados, em uma única fase, e, desta forma, as propriedades e composição da mistura homogênea são as mesmas em qualquer parte ou porção da mistura. É chamada de SOLUÇÃO! Exemplo: água + sal de cozinha. Mistura heterogênea – na qual as substâncias constituintes não estão uniformemente misturadas (se encontram em mais de uma fase). Deste modo, as propriedades e composição de uma mistura heterogênea não são as mesmas através da mistura. Exemplo: água + óleo de soja. Fase É o nome dado a cada parte homogênea de uma mistura heterogênea (ou sistema heterogêneo). Por exemplo, na mistura heterogênea água e óleo de soja, a água representa uma fase e o óleo representa outra fase. Neste caso, o sistema é bifásico. Existem sistemas trifásicos, tetrafásicos, polifásicos. Fique sabendo! Muito cuidado com as chamadas “soluções falsas”. São aquelas misturas que parecem homogêneas, mas não são! Os principais exemplos de soluções falsas do nosso dia a dia são o leite, os sucos e o nosso sangue. Parecem que são homogêneos, mas não são. Por isso, as soluções são também chamadas de “soluções verdadeiras”. Vale ressaltar que misturas homogêneas, por definição, são sempre monofásicas. Solvente É um dos componentes de uma solução. É a substância que solubiliza, dissolve. É quem faz a ação de solvatar, a solvatação (solubilização). De maneira geral, é a substância presente em maior quantidade em uma solução. Soluto É o outro componente de uma solução. É a substância solubilizada, dissolvida. É quem sofre a ação, é solvatada. Geralmente, o soluto está presente em menor quantidade que o solvente em uma solução. Importante esclarecer que uma solução pode ter mais de um soluto. Exemplo: a água do mar. Diferenciação de mistura homogênea (monofásica) e mistura heterogênea. Ressaltando que a mistura homogênea é uma solução. Classificação das soluções É muito importante você perceber que as propriedades físicas e químicas de uma mesma solução são constantes em toda sua extensão e irão depender da composição, que varia de solução para solução. As substâncias químicas presentes nos organismos de animais e vegetais estão dissolvidas em água, constituindo, deste modo, soluções. No cotidiano, a maioria das soluções é líquida. Porém, não existem apenas soluções líquidas. As soluções são classificadas utilizando três critérios diferentes: O estado de agregação da solução; A proporção entre soluto e solvente; O limite de solubilidade do soluto no solvente. Vamos ver cada uma destas classificações! a) Quanto ao estado de agregação da solução Solução sólida: os componentes desse tipo de solução se encontram no estado sólido. Exemplos: ligas metálicas de “bronze” (cobre e estanho), “latão” (cobre e zinco), o “ouro 18” (liga que contém 75% de ouro e 25% de outros metais [geralmente, cobre e/ou prata]) e os vários tipos de aço. Solução líquida: é uma solução formada por solventes no estado líquido e solutos que podem estar no estado gasoso, líquido ou sólido, de modo que a mistura homogênea resultante seja líquida. Exemplos: oxigênio dissolvido em água, etanol solubilizado na gasolina e sal de cozinha solubilizado em água. Lembrando que, para ser uma solução verdadeira, o soluto sólido tem que ser perfeitamente solúvel no solvente e o soluto líquido tem que ser perfeitamente miscível com o solvente. Vale salientar que sempre que o solvente é a água, chamamos a solução resultante de solução aquosa, independentemente de quem são os solutos. As soluções aquosas serão nosso principal objeto de estudo neste Tópico. Solução gasosa: será toda mistura formada exclusivamente por substâncias gasosas. Como os gases se dispersam uns nos outros, eles sempre se misturam. Deste modo, toda e qualquer mistura entre gases é homogênea, se constituindo em uma solução gasosa. O grande exemplo é o “nosso” ar atmosférico. b) Quanto à proporção entre soluto e solvente Solução diluída: a quantidade de soluto é pequena, comparada a uma outra solução (que será, deste modo, uma solução mais concentrada). Solução concentrada: quando a quantidade de soluto é maior, comparada a uma outra solução (que será, deste modo, uma solução mais diluída). Esta classificação é relativa. Ou seja, é sempre comparativa. Observe a Figura a seguir, para facilitar seu entendimento. Comparação entre três soluções: soluções diluídas e concentradas. Observe que, quando temos valores explícitos, fica mais fácil para definirmos se uma solução é mais diluída ou mais concentrada que a outra. No exemplo mostrado, a solução “1” tem menor quantidade de soluto (1 g) que as soluções “2” e “3” (2 e 3 g, respectivamente). Por isso, é a mais diluída. Por outro lado, A solução “3” tem maior quantidade de soluto que as soluções “1” e “2”. Por isso, é a mais concentrada. Para você entender como esta classificação é relativa, observe a solução “2”. Podemos dizer que ela é mais concentrada que a solução “1”, não é? Porém, podemos dizer também, sem errar, que a solução “2” é mais diluída que a solução “3”. Quando temos soluções de solutos coloridos, a intensidade da cor pode ser um indicativo da maior ou menor concentração, facilitando a classificação. Vale salientar que esta comparação ficou mais fácil no exemplo anterior, porque as quantidades de solvente eram as mesmas nas três soluções. Mas e se as quantidades de solventes forem diferentes? Veja o próximo exemplo. Comparação entre duas soluções com volumes diferentes. Observe que, neste exemplo, as duas soluções apresentam volumes diferentes de solvente. Na solução “1”, temos 50 mililitros de água e, na solução “2”, temos 25 mililitros do mesmo solvente. Deste modo, mesmo tendo mais soluto na solução “1” (3 gramasx 2 gramas), a solução “2” é a mais concentrada, pois, proporcionalmente, há maior quantidade de solvente na solução “2” do que na solução “1”. Para você enxergar isto, basta “transformar matematicamente” a solução “1” para comparar com a solução “2” (ou vice-versa). Olha só: se dividirmos a solução “1” pela metade (50 ÷ 2), teremos os mesmos 25 mililitros da solução “2”. Como pegamos só a metade da solução “1”, proporcionalmente, só pegamos a metade do soluto também (3 g ÷ 2), ou seja, 1,5 gramas. Deste modo, a solução “1” é equivalente a uma solução que contém 1,5 gramas de NaCl em 25 mililitros de água. Como a solução “2” tem 2,0 gramas de NaCl, neste mesmo volume (25 mL), a solução “2” é mais concentrada que a solução “1”. Processos de diluição e concentração É muito comum no nosso cotidiano fazermos diluições ou concentrações sem perceber que estamos fazendo um destes processos. Por exemplo: ao fazer um suco e perceber que ele ficou muito forte (concentrado), colocamos mais água (solvente) no suco. Isto é um exemplo de diluição. Quando compramos um produto de limpeza concentrado e diluímos na água, trata-se também de uma diluição. Por outro lado, quando fazemos um molho e o aquecemos, para dar uma “reduzida”, estamos evaporando a água (solvente) do molho, removendo-a. Isto é um exemplo de concentração. Quando vamos tomar um suco e o achamos pouco doce, com pouco açúcar, e colocamos mais açúcar (soluto), isto também é uma concentração. De modo geral, então, podemos definir que diluir uma solução é adicionar solvente e concentrar uma solução é adicionar soluto ou remover solvente (por evaporação, sem remover o soluto). Podemos ilustrar assim: c) Quanto ao limite de solubilidade do soluto no solvente A maioria das substâncias dissolve-se, em certo volume de solvente, em quantidade limitada. Solubilidade é a quantidade máxima de um soluto que pode ser dissolvida em um determinado volume de solvente, a uma dada temperatura, formando um sistema estável (a temperatura é uma variável muito importante para a solubilidade; de maneira geral, quanto maior a temperatura, maior a capacidade do solvente em solubilizar o soluto). Quanto à solubilidade, as soluções podem ser classificadas em: Solução insaturada (ou não saturada): quando a quantidade de soluto está abaixo da quantidade máxima permitida para certa quantidade de solvente (está abaixo do limite de solubilidade), em determinada temperatura. Solução saturada: neste caso, a quantidade de soluto é a máxima permitida para certa quantidade de solvente (está exatamente no limite de solubilidade), em determinada temperatura. Solução saturada com precipitado (“ppt”) (ou corpo de fundo): neste caso, a quantidade de soluto está acima do limite solubilidade. O excesso se deposita no fundo do recipiente (precipita), não fazendo parte da solução. Entenda que, neste caso, a solução é a quantidade de soluto dissolvida no solvente (no caso, a solução saturada). O precipitado não compõe a solução, pois não está dissolvido. Para ilustrar estas classificações, observe o exemplo a seguir. Comparação entre quatro soluções: soluções insaturadas e saturadas (as cores são só ilustrativas. As soluções de cloreto de sódio são incolores). Observe no exemplo anterior a classificação das quatro soluções. As duas primeiras são soluções insaturadas e as duas últimas são soluções saturadas. Por quê? Temos que usar um pouquinho de matemática. Foi informado no exemplo que o limite de solubilidade do NaCl é de 36 g para cada 100 mL de água. Como colocamos 50 mL de água, o limite é de 18 g de NaCl. Entendeu? Olha o raciocínio matemático (“regra de três”): Logo, o limite de solubilidade do NaCl, considerando 50 mililitros de água, é de 18 gramas. Entendeu? Voltando às quatro soluções, as soluções “1” e “2” são insaturadas, porque a quantidade de soluto (NaCl) está abaixo do limite (15 g e 17,99 g estão abaixo de 18 g, que é o limite para 50 mL). Se o limite é de 18 gramas em 50 mililitros, qualquer quantidade menor que 18 g caracterizará uma solução insaturada. Mesmo sabendo que a solução “2” é mais concentrada que a solução “1”, ambas são insaturadas. Já as soluções “3” e “4” são saturadas. Elas são iguais, igualmente saturadas, pois, nas duas soluções, a quantidade de soluto dissolvida é a mesma (18 g). 50 mililitros de água “só” conseguem solubilizar 18 gramas de NaCl. O excesso de soluto (quantidade acima do limite) precipita, não ficando dissolvida na água. Logo, não faz parte da solução. Lembrando a definição, solução é uma mistura homogênea. O que não está dissolvido não pertence à solução. Podemos calcular a massa do precipitado, do excesso. Se o limite, neste exemplo, é de 18 g e colocaram-se 20 g, a massa do precipitado seria de 2 g. Um detalhe prático: para prepararmos uma solução saturada, basta colocarmos soluto até que observemos que começa a não haver dissolução, começa a dar precipitado. Neste momento, sabemos que a solução está saturada. Ok? Fique sabendo! Solução supersaturada – um caso especial Por definição, uma solução supersaturada é uma solução que contém uma quantidade de soluto superior ao limite de solubilidade, a uma dada temperatura, mas o soluto está dissolvido. A solução supersaturada é instável e a mínima perturbação do sistema faz com que o excesso de soluto dissolvido precipite, tornando-se uma solução saturada com presença de corpo de fundo. Em geral, podem-se obter soluções supersaturadas aquecendo uma solução saturada que tenha parte do É muito importante ressaltar que existem inúmeros solventes além da água, como o etanol (que chamamos popularmente apenas de “álcool”), a acetona, o éter etílico (que chamamos popularmente apenas de “éter”), o clorofórmio, o hexano, a benzina, o tíner, etc., mas, como via de regra, as reações em laboratório e no nosso organismo acontecem em meio aquoso, ou seja, tendo a água como solvente, daremos ênfase ao estudo das soluções aquosas. soluto não dissolvido. O aquecimento deve ser realizado até que todo o soluto presente se dissolva. Um resfriamento lento, com a solução em repouso, até a temperatura inicial, pode permitir a obtenção da solução supersaturada, desde que o soluto não tenha cristalizado. O mel, o melado de cana de açúcar e os xaropes são alguns exemplos de soluções supersaturadas usadas no dia a dia. Aprendendo! No “universo das soluções aquosas”, existe um critério de classificação com base na capacidade da solução de conduzir ou não corrente elétrica. As soluções aquosas capazes de conduzir corrente elétrica são chamadas de soluções eletrolíticas ou soluções iônicas, pois a condutividade deve-se à presença de íons no meio aquoso. Esses íons podem ser provenientes de dois processos: a dissociação iônica (quando o soluto é iônico – uma base ou um sal) ou a ionização (quando o soluto é molecular, mas é Concentração das soluções Por definição, uma solução é mistura homogênea entre um solvente e um ou mais solutos. Deste modo, para conhecermos uma solução, precisamos de duas informações: quem são os componentes desta solução (composição qualitativa) e a composição quantitativa, ou seja, as quantidades de solvente e soluto(s). Muitas vezes, no nosso dia a dia, só precisamos saber a composição qualitativa. No entanto, em variadas ocasiões, a quantidade de soluto e de solvente presente na solução deve ser exata, como, por exemplo, no caso de injeções intravenosas (como o soro fisiológico), de medicamentos e de soluções usadas em laboratórios e indústrias químicas. Deste modo, os cientistas criaram o termo “concentração de soluções”, que é definida como a quantidade de soluto que existe em uma quantidade padrão de solução ou em uma quantidade padrão de solvente. Nós vamos estudar aqui as principais formas de se expressar as concentrações. Prepare-se para um pouco de matemática. capaz de ionizar – um ácido ou o hidróxido de amônio (NHOH)). Como exemplo do cotidiano, temos a água do mar e a água mineral. Por outro lado, as soluções aquosas que não possuem a capacidade de conduzir corrente elétrica são chamadas de soluções não eletrolíticas ou soluções moleculares. Esse tipo de solução é proveniente da dissolução de alguma substância molecular que não é capaz de sofrer ionização. Um bom exemplo é uma solução de sacarose (“açúcar comum”) em água. 4 Para facilitar seu entendimento, lembre-se que soluções são misturas homogêneas, ou seja, quando pegamos uma parte (uma porção) de uma solução, pegamos uma quantidade de solvente e soluto(s) proporcionais ao todo. Por exemplo: imagine que você tenha uma garrafa de dois litros de um “refrigerante de cola”, que contém 220 gramas de açúcar. Você, com muita sede, toma meio litro deste refrigerante. Quanto de açúcar você terá ingerido? A resposta é incríveis 55 gramas! Percebeu a lógica matemática na resposta? Meio litro (0,5 L) é a 4ª parte (1/4) de dois litros (2 L). Como em dois litros de refrigerante (a solução), tínhamos 220 gramas de açúcar (o soluto), quando você tomou 1/4 do refrigerante, você ingeriu, proporcionalmente, a 4ª parte do açúcar que estava presente no refrigerante, pois se trata de uma mistura homogênea. Ou seja, 220 g ÷ 4, que dá 55 gramas de açúcar. Olha o raciocínio matemático (“regra de três”): Como as relações matemáticas envolvendo soluções são proporcionais, podemos usar a “regra de três” como ferramenta matemática nos problemas que virão à frente, ou as fórmulas, mas sempre observando as diferentes unidades das grandezas a serem utilizadas. UNIDADES DE CONCENTRAÇÃO DAS SOLUÇÕES Um fato importante é que as concentrações das soluções podem ser medidas usando-se diferentes unidades ou relações numéricas, que dependem das grandezas que estão sendo relacionadas. As grandezas mais utilizadas envolvem a massa (m) e o volume (V). Estas diferentes formas de exprimir as concentrações das soluções são chamadas de “unidades de concentração”. Vamos ver as quatro principais unidades de concentração, que são: – Concentração comum ou Concentração g/L (C); – Concentração molar ou Molaridade ou Concentração mol/L (M); – Concentração percentual ou Percentagem (%); – Partes por milhão (ppm). a) Concentração comum ou concentração g/L (C) A concentração comum é a relação entre a massa de soluto, em gramas, e o volume de solução, em litros (NÃO é o volume de solvente). Onde: C = concentração (g/L); m = massa do soluto (g); V = Volume de solução (L). Significado: a concentração comum nos indica a quantidade de soluto, em gramas, que existe em um litro de solução. Ou seja, uma solução 2,0 g/L possui dois gramas de soluto dissolvidos em um litro de solução; uma solução 15 g/L possui 15 gramas de soluto dissolvidos em um litro de solução. Veja o exemplo: num recipiente de volume máximo de dois litros, foram adicionados 30 gramas de sal de cozinha (NaCl). Se, após este procedimento, for adicionada uma quantidade de água para encher todo o recipiente, qual será a concentração comum da solução? O cálculo é feito seguindo o raciocínio: Ou seja, nesta solução há 15 gramas de soluto por litro de solução. (Pode se resolver também por uma regra de três!) b) Concentração molar ou Molaridade ou Concentração mol/L (M) A concentração molar de uma solução de um soluto X é o número de mols deste soluto contido em 1 L de solução (NÃO em 1 L de solvente). Sua unidade é M ou mol L (ou mol/L). Onde: M = concentração molar (mol/L); n = número de mols do soluto (mol); V = Volume de solução (L). -1 Vale relembrar que o n° de mols (n) de uma substância está relacionado à sua massa, em gramas, e à sua massa molar (MM), assim: Veja o exemplo: qual a concentração molar de uma solução aquosa que contém 13,68 g de açúcar (C H O ) em 2,0 litros de solução (dado: MM = 342 g mol )? Primeiro, temos que calcular o n° de mols de açúcar equivalente aos 13,68 g: n = m/MM ⇒ n = 13,68 g/342 g mol ⇒ n = 0,04 mol de açúcar. Daí podemos determinar a concentração molar de açúcar nesta solução; M = n/V ⇒ M = 0,04 mol/2 L ⇒ M = 0,02 mol/L ou 0,02 mol L ou 0,02 molar. Ou seja, nesta solução, há 0,02 mol de açúcar por litro de solução. (Pode se resolver também por regra de três!) 12 22 11 C12H22O11 -1 -1 -1 Aprendendo mais uma! Ou seria relembrando? Cálculo das massas molares (MM): Para determinarmos as massas molares (MM) das substâncias, utilizamos as massas dos átomos (Tabela c) Concentração percentual ou percentagem ou porcentagem (%) A percentagem de uma substância em uma solução é a relação entre a quantidade de soluto em “100” de solução. Existem três formas de se exprimir a percentagem: em massa, em volume ou em massa/volume: – % em massa (% m/m): Periódica) que compõem a substância e a quantidade dos mesmos. Observe os exemplos: Ex. 1. H O: (H = 1 g/mol e O = 16 g/mol). MM H O = (2 x 1) + (1 x16) = 18 g/mol. Ex. 2. KNO : (K = 39 g/mol, N = 14 g/mol e O = 16 g/mol). MM KNO = (1 x 39) + (1 x 14) + (3 x 16) = 101 g/mol. Ex. 3. C H O : (C = 12 g/mol, H = 1 g/mol e O = 16 g/mol). MM C H O = (12 x 12) + (22 x 1) + (11 x 16) = 342 g/mol. Ex. 4. Ca (PO ) : (Ca = 40 g/mol, P = 31 g/mol e O = 16 g/mol). MM Ca (PO ) = (3 x 40) + (2 x 31) + (8 x 16) = 310 g/mol. 2 2 3 3 12 22 11 12 22 11 3 4 2 3 4 2 Usada para soluções sólidas ou soluto sólido com a massa do solvente, pois trabalha com as massas de soluto e solução. Por exemplo: o soro fisiológico é uma solução 0,9% (m/m) de NaCl em água. Ou seja, contém 0,9 g de NaCl (soluto) em 100 g (NÃO mL) de solução. Para se preparar o soro, mistura-se 0,9 g de NaCl com 99,1 g de água. É importante salientar que, neste caso, as massas, tanto do soluto quanto a do solvente, devem ter as mesmas unidades. – % em volume (% v/v): Usada para soluções gasosas ou soluto e solvente líquidos, pois trabalha com os volumes de soluto e solução. Por exemplo: a ar atmosférico é uma solução gasosa que contém 20 % (v/v) de oxigênio. Isto significa que existem 20 litros de oxigênio (soluto) em cada 100 litros de ar atmosférico (solução). Ou seja, 100 L de ar atmosférico contém 20 L de oxigênio e 80 L de outros gases. É importante salientar que, neste caso, os volumes, tanto do soluto quanto do solvente, devem ter as mesmas unidades. – % massa/volume (% m/v): Neste caso, usa-se para soluções que tenham soluto sólido e solvente líquido, pois trabalha com a massa do soluto e o volume da solução. Por exemplo, o vinagre é uma solução líquida que contém 4 % (m/v) de ácido acético. Isto significa que existem 4 g de ácido acético (soluto) em cada 100 mililitros de vinagre (solução). Neste caso, é muito importante verificar as unidades, pois como se trata de grandezas diferentes (massa de soluto e volume de solução), as unidades têm que ser relativas. Se a massa do soluto for dada em gramas, deve-se usar o volume em mililitros. Se a massa for dada em quilos, o volume tem que ser trabalhado em litros, caso contrário, haverá erro. Então, para concentração percentual, as unidades de massa (m) e/ou volume (v) sempre devem ser especificadas. Quando não se especifica, assume-se que a unidade é em massa (m/m). d) Concentração em partes por milhão ou ppm (ppm) Em situações nas quais a quantidade de soluto é muito pequena, podemos exprimir a concentração em partes por milhão (ppm). Na verdade, o uso da unidade “ppm” é para evitarmos de usar a percentagem para exprimir concentrações muito pequenas, pois há a inconveniência de usar zeros ou potencias de 10 para rastrear a vírgula decimal. O que se faz é mudar o multiplicador à razão da massa ou volume. Se chamarmos a percentagem de “partes por cem”, fica óbvio perceber a relação matemática com ppm (“partes por milhão”): A concentração em partes por milhão segue exatamente o mesmo raciocínio da percentagem com relação às grandezas e unidades. Existem também três formas de se exprimirppm: em massa, em volume ou em massa/volume: – ppm em massa (ppm m/m): – ppm em volume (ppm v/v): – ppm massa/volume (ppm m/v): Porém, há uma variação importante nesta concentração. Em soluções aquosas bem diluídas (concentração do soluto da ordem de uns poucos ppm ou menor), nas quais o soluto é sólido, a densidade da solução é praticamente igual à da água. Deste modo, sua densidade será de 1,00 g solução/mL solução. Isto significa que 1 L de solução pesará 1,0 kg ou 1000 g. Sendo assim, a concentração em ppm será igual a mg/L. Por exemplo: uma solução com concentração de 25 ppm (m/v) contém 25 miligramas de soluto em 1 L de solução. Diluição de soluções Com frequência, é necessário preparar uma solução diluída de um reagente a partir de uma solução mais concentrada. Fazemos isto com a adição de solvente. Fundamentalmente, a diluição de uma solução é o processo de diminuição da concentração da solução pela adição de solvente. Para fazermos os cálculos envolvendo a diluição de soluções, utilizamos equações simples e muito úteis (que variam apenas de acordo com a unidade de concentração que se está estudando), para calcular o volume de reagente concentrado (solução inicial – V ) ou o valor da concentração final da solução (C ou M ou % ). As fórmulas são: para Conc. comum (C) para Conc. molar (M) para Percentagem (%) C x V = C x V M x V = M x V % x V = % x V Diluição de solução com remoção de soluto: prática inviável Observe que, quando falamos em diminuir a concentração de uma solução, não falamos em remover o soluto. Por quê? Ora, porque ele está disperso no solvente, não tendo como removê-lo sem alterar a quantidade de solvente também, o que não alteraria o valor da concentração, pois se estaria removendo soluto e solvente proporcionalmente. Para se remover apenas soluto, teríamos que, primeiro, remover todo o solvente, por evaporação, e depois retirarmos a quantidade desejada de soluto. Em seguida, ressuspenderíamos o soluto com o volume correto de solvente. O que se mostra um procedimento praticamente inviável… 1 2 2 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 2 Estas equações simplesmente usam o conhecimento de que a quantidade de soluto permanece a mesma, não importando a unidade (permanece a mesma em massa, em mol ou em volume). Deste modo, ao se definir que a quantidade inicial e final é a mesma, podemos entender que a diluição ocorre porque o volume é aumentado. Vamos ver um exemplo: imagine que temos uma solução inicial (muito chamada de “solução-estoque”) contendo 25 gramas de NaCl em 100 mL de solução. A esta solução adicionamos 400 mL de água. Qual a concentração comum desta nova solução (“solução final”)? Observe a Figura. Exemplo de diluição de uma solução de cloreto de sódio. Na solução “1” (solução inicial), tínhamos 25 g de NaCl para um volume de 100 mL. Calculando a conc. comum desta solução, tem-se: C = 25 g/0,1 L. Logo C = 250 g/L. Veja que a adição de água não alterou a quantidade de NaCl na solução. Deste modo, a conc. comum da solução “2” (solução final) será: C = 25 g/0,5 L. Logo C = 50 g/L. Resolvido! 1 1 2 2 Mas, poderíamos ter usado uma fórmula geral de diluição para achar a concentração final (C ). Neste caso seria: C x V = C x V . O cálculo ficaria: 250 g/L x 0,1 L = C x 0,5 L ⇒ C = 50 g/L. Ainda pensando neste exemplo, podemos observar uma lógica matemática. Observe que o volume passou de 100 mL para 500 mL. Ou seja, aumentou cinco vezes. O processo de diluição é um processo de diminuição da concentração inversamente proporcional (aumentando o volume da solução final – pela adição de solvente – diminui-se a concentração da solução). Deste modo, dá para pensar assim: se o volume final aumentou 5 vezes em relação ao volume inicial, a concentração da solução diminuirá 5 vezes também. Logo, se C era 250 g/L, C será 5 vezes menor, ou seja, C = 250 ÷ 5 ⇒ C2 = 50 g/L. Resumindo: Diluição ⇒ V aumenta “x” vezes ⇒ Conc. diminui “x” vezes. 3. Estudo do pH: Escala de acidez e basicidade e cálculos de pH e pOH Antes de discutirmos sobre um conceito muito legal, muito aplicado e que você já ouviu falar, chamado “pH” (Potencial Hidrogeniônico), vamos falar da água, porque este importante parâmetro chamado pH só existe em meio aquoso. A água é uma molécula pequena (H O) e que se encontra no estado líquido, o que não é “normal”, tendo ainda, para seu tamanho, um alto ponto de ebulição (100 °C). Outra característica especial da água é o fato de, ao contrário da grande maioria das substâncias, sua densidade ser menor no estado sólido (gelo) do que no estado líquido (“normalmente”, é o 2 1 1 2 2 2 2 1 2 2 2 contrário). Sorte a nossa e a do nosso planeta, pois, graças a este fato, a vida é viável, pois se fosse o contrário (ou seja, d > d ), como é para a grande maioria das substâncias, os lagos e os rios congelariam por inteiro, impossibilitando a vida aquática que conhecemos. Outra característica muito importante da água, que é o início da explicação do “pH”, é que ela sofre um pequeno processo de autoionização (também chamado de autoprotólise), no qual a água atua como ácido e base de Brönsted (a água tem caráter anfótero, ou seja, pode se comportar como ácido e/ou como base), simultaneamente, gerando íons H (caráter) e OH (caráter básico) em muito pequena quantidade, conforme a equação: Deste modo, a água pura é neutra (nem ácida nem básica), pois a concentração molar de H – [H ] – é igual à concentração molar de OH ([OH ]). Mas, como a quantidade de H e de OH é muito baixa na água pura (10 molar para cada íon = 0,0000001 mol/L!), a adição de qualquer substância, com caráter ácido ou básico, desequilibra esta neutralidade, alterando a sua acidez ou a sua basicidade/alcalinidade. Em 1909, o bioquímico dinamarquês S. P. L. Sørensen, com o objetivo de fazer medidas envolvendo o nível de acidez, para facilitar seu trabalho no controle de qualidade de cerveja, propôs o termo pH, (potencial hidrogeniônico), utilizando a concentração molar de H – [H ] – para expressar este importante parâmetro e definiu a seguinte equação: pH = – log [H ] sólido líquido + – + + – – + – -7 + + + Ou seja, a medida conhecida como pH é o cologaritmo decimal (ou seja, o logaritmo negativo) da concentração de íons H de uma solução aquosa. Para entender a lógica matemática, observe os exemplos: Exemplo 1: se a concentração de H de uma solução for 10 mol L , então, o pH desta solução será igual a 2,0. Veja: [H ] = 10 mol L ⇒ pH = – log 10 ⇒ pH = 2,0 Exemplo 2: se a concentração de H de uma solução for 0,0001 mol L , então, o pH desta solução será igual a 4,0. Veja: [H ] = 0,0001 mol L = 10 mol L ⇒ pH = – log 10 ⇒ pH = 4,0 Uma dica: a calculadora científica faz este cálculo para você. O pH serve como informação para sabermos se algo é ácido, neutro ou básico. As medidas de pH são importantes em diversas áreas de conhecimento, como no tratamento e na purificação de água, na agricultura, na aquicultura, na biologia, na bioquímica, nas engenharias (alimentícia, ambiental, civil, florestal, química, materiais), na medicina e em muitas outras aplicações. Vale ressaltar que se trata de um parâmetro exclusivo para soluções aquosas. Veja a Figura a seguir relacionando materiais do cotidiano e suas faixas de pH. + + - 2 -1 + -2 -1 -2 + -1 + -1 -4 -1 -4 Materiais do nosso cotidiano e suas faixas de pH. Os valores de 0 a 14 são os valores da escala de pH. Escala de pH As medidas de pH foram definidas em uma temperatura de 25 °C e variam de 0 a 14, onde o valor 7,0 é considerado pH neutro, abaixo de 7,0 é ácido e acima de 7,0 é básico. Veja o esquema a seguir. Esquema com a escala de pH e a relação entre as concentrações de H e OH . Detalhe: quanto menor o pH, mais ácido. Quanto maior o pH mais básico. Podemos concluir que quanto menor o valor de pH de uma solução, mais ácida esta solução será (maiorconc. molar de H ). E vale o inverso, ou seja, quanto maior o valor de pH de um material, mais básico este material será (maior conc. molar de OH ). + – + – Observe agora estes raciocínios: Considerando uma solução de concentração hidrogeniônica – [H ] – igual a 0,1 mol L , seu pH é igual a 1,0. Veja: 0,1 mol L = 10 mol L ⇒ pH = – log 10 ⇒ pH = 1,0 (muito ácido) Se considerarmos outra solução de concentração hidrogeniônica igual a 0,01 mol L , seu pH é igual a 2,0. Veja: 0,01 mol L = 10 mol L ⇒ pH = – log 10 ⇒ pH = 2,0 (menos ácido que o exemplo anterior) Observe que o aumento do pH informa uma diminuição na acidez. Mas, além disto, podemos quantificar e perceber que a 1ª solução ([H ] = 10 M – pH = 1,0) é 10 vezes mais ácida que a 2ª solução ([H ] = 10 M – pH = 2,0). Observe que 10 (0,1) é um numeral 10 vezes maior que 10 (0,01). Isto quer dizer que cada unidade de pH equivale a um fator “10” (pois a fórmula de pH envolve um logaritmo decimal, ou seja, de base 10). Deste modo, se temos uma solução com pH igual a 1,0 e a outra solução com pH igual a 2,0, podemos afirmar que a 1ª solução possui dez vezes mais íons hidrônio (H ) que a segunda, sendo 10 vezes mais ácida. Logo, uma solução pH 2,0 é 1000 vezes mais ácida que uma solução pH 5,0! pH 2,0 ⇒ [H ] = 10 e pH 5,0 ⇒ [H ] = 10 (ou seja [H ] = 10 ). Observe que 10 (0,01) é um numeral 1000 vezes maior que 10 (0,00001). + -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -2 -1 -2 + -1 + -2 -1 - 2 + + -2 + -5 + - pH -2 - 5 Aprendendo mais uma! O cálculo do pOH Quando temos soluções básicas, ricas no íon hidroxila (OH ), podemos calcular o “pOH” para, em seguida, determinarmos o pH da solução. O pOH é o potencial hidroxiliônico e se refere à concentração dos íons OH em uma solução aquosa. Analogamente ao cálculo do pH, podemos utilizar a seguinte equação para o pOH: pOH = – log [OH ] Ou seja, a medida do pOH é o cologaritmo decimal (ou seja, o logaritmo negativo) da concentração de íons hidroxila (OH ) de uma solução aquosa. Como as concentrações de H e OH são inversamente proporcionais (quando uma aumenta a outra diminui), sempre mantendo a escala de pH entre 0 e 14 (a 25 °C), podemos afirmar que: pH +pOH = 14 Logo, podemos calcular o pH de uma solução tendo a concentração hidroxiiônica – [OH ]. Observe o exemplo: Qual seria o pH de uma solução cuja [OH ] é de 0,001 mol L ? Veja: [OH ] = 0,001 mol L = 10 mol L ⇒ pOH = – log 10 ⇒ pOH = 3,0 – – – – + – – – -1 – -1 -3 -1 -3 Para fazermos as medidas de pH, utilizamos um aparelho chamado pHmetro (lê-se “peagâmetro”), que é constituído de um potenciômetro com um eletrodo acoplado. Para se determinar o pH, basta colocar o eletrodo na solução a ser analisada e fazer a leitura. pHmetro de bancada Kasvi®. O visor registra pH neutro (7,0) (T = 25 °C). Um jeito mais simples de termos medidas aproximadas de pH é o uso de fitas (ou tiras) indicadoras de pH, que, por imersão na solução e alteração nas cores da fita, nos dá, por comparação, a faixa aproximada do pH da solução testada. Observe a Figura a seguir. Então, se pH +pOH = 14 ⇒ pH = 14 – pOH ⇒ pH = 14 -3,0 ⇒ pH = 11,0 (solução básica) Tira indicadora de pH. Nesta Figura, a fita teste, fora da caixa, indica pH igual a 5,0, por comparação com a escala de referência da caixa. Substâncias indicadoras de pH Dentro deste universo de acidez e basicidade/alcalinidade das soluções aquosas, percebe-se a importância de se conhecer o caráter (ácido, neutro ou básico) de um material, daí a necessidade de se criar uma escala de medida (o pH) e até de aparelhos para medir tais valores. Além disto, existem substâncias que mudam de cor conforme o caráter do meio e podem ser usadas como indicativas do pH de uma solução. Estas substâncias “especiais” são chamadas de “substâncias indicadoras de pH” ou “indicadores ácido-base” ou, ainda, “indicadores de pH” e é muito comum nos referirmos a elas apenas como “indicadores”. Os indicadores ácido-base são substâncias naturais ou sintéticas que apresentam a capacidade de alteração da cor de acordo com o pH do meio. Ou seja, quando essas substâncias indicadoras são colocadas em uma solução ácida, elas adquirem determinada coloração, e quando colocadas em meio básico, apresentam outra cor. Estes indicadores de pH apresentam propriedades halocrômicas, isto é, eles têm a capacidade de mudar de cor em função do pH do meio. Uma das substâncias mais usadas como indicador ácido-base é a fenolftaleína, cuja variação de cor envolve do incolor, em meio ácido ou neutro, ao rosa, em meio básico. Veja a Figura a seguir. Mudança da cor do indicador fenolftaleína em função do pH. Os indicadores de pH, quando adicionados a uma solução, são capazes de ligar aos íons H ou OH presentes. Estas ligações a estes íons provocam alteração da estrutura destas substâncias indicadoras e, como consequência, ocorre a alteração da cor. Variação da estrutura da fenolftaleína conforme a variação de pH, gerando a variação da cor. Existem muitos indicadores que podem ser utilizados para determinação de faixas de pH. Para se escolher o melhor indicador, é preciso considerar as substâncias presentes no meio + – (ácidos e/ou bases) e a “faixa de viragem” do indicador, que é a faixa de pH na qual há a mudança da cor do indicador. No Quadro a seguir, tem-se cinco indicadores bastante utilizados como indicadores de pH. Indicadores ácido-base e intervalos de pH nos quais ocorre variação de cor (“viragem”) Indicador Intervalo de pH para a mudança de cor (“viragem”) Mudança de cor correspondente Azul de bromofenol 3,0 – 4,6 Amarelo – Violeta Verde de bromocresol 4,0 – 5,6 Amarelo – Azul Vermelho de metila 4,4 – 6,2 Vermelho – Amarelo Azul de bromotimol 6,2 – 7,6 Amarelo – Azul Fenolftaleína 8,0 – 10,0 Incolor – Rosa Vale ressaltar que a cor dentro da faixa de viragem será uma cor intermediária. Por exemplo: o indicador verde de bromocresol (viragem de amarelo para azul), dentro da faixa de viragem, terá a cor verde, que é a mistura das cores amarelo e azul. Para você entender um pouco melhor, observe o próximo Quadro. Exemplos de Indicadores ácido-base e suas faixas de viragem/cor Azul de bromotimol Fenolftaleína Faixa de viragem: pH = 6,2 – 7,6 Faixa de viragem: pH = 8,0 – 10,0 Em meio ácido: Cor amarela Em meio ácido: Incolor Em meio neutro: Cor verde Em meio neutro: Incolor Azul de bromotimol Fenolftaleína Em meio básico: Cor azul Em meio básico: Cor rosa a carmim A maior aplicação dos indicadores é na técnica chamada titulometria (análises volumétricas) do tipo ácido-base. 4. Titulações ácido-base Titulação é uma importante técnica de laboratório que consiste em adicionar lentamente uma solução a outra até o término da reação entre seus solutos, com a finalidade de determinar a concentração de uma das soluções a partir da concentração já conhecida, da outra solução. As reações de neutralização podem ser utilizadas como fundamento para um procedimento de titulação, chamado de “titulação ácido-base”, que se trata de uma análise volumétrica (usa a variável “volume” para a determinação). Este método é usado para determinar a concentração desconhecida de uma solução básica a partir da concentração conhecida de uma solução ácida ou vice-versa. A solução de concentração conhecida é chamada de “solução-padrão”. Na prática, este procedimento é feito adicionando-se, gota a gota, uma das soluções à outra, por intermédio de uma vidraria chamada bureta (veja a Figura a seguir), bastando, então, determinar o ponto final da reação que, teoricamente, é aquele no qual a solução titulada se torna neutra, isto é, com pH 7,0. Para isto, utilizamos um indicador ácido-base escolhido previamente (observando a faixa de viragem). Deste modo, o ponto de viragem do indicador (a faixa de pH na qual há a mudança de cor) é denominado “ponto final da titulação”. Pode- se também usar o pHmetro paratal fim. Esquema prático de uma titulação ácido-base, indicando as duas vidrarias principais (bureta e erlenmeyer) e as soluções titulante e titulada. As titulações ácido-base são utilizadas, por exemplo, para a determinação da acidez do leite e de produtos lácteos, além da determinação da acidez do vinagre, de azeites e demais óleos vegetais (para os óleos não se tem a medida de pH, pois é uma medida para soluções aquosas). Cálculo da concentração de uma solução em uma titulação ácido-base O objetivo de fazermos as titulações é a determinação da concentração de soluções. Para determinarmos a concentração molar de uma solução em uma titulação ácido-base, usamos cálculos semelhantes aos de uma diluição de solução. Veja só o raciocínio: como em uma titulação ácido-base ocorre uma reação de neutralização: Ao final da titulação (quando o indicador muda de cor e fechamos a torneira da bureta), teremos a neutralização completa. Neste momento, o número de mols dos íons H é igual ao número de mols dos íons OH . Deste modo: Como: Deste modo, podemos afirmar que: Na qual: M = Molaridade do ácido; V = Volume da solução do ácido; M – = Molaridade da base; V – = Volume da solução básica. A partir desta equação, podemos determinar a concentração do ácido ou da base, de acordo com o experimento feito. Veja o exemplo: em uma titulação ácido-base, uma estagiária do curso de Farmácia titulou uma amostra de 20 mL de solução de hidróxido de sódio (NaOH), contendo o indicador fenolftaleína, com solução padrão de ácido clorídrico (HCl) 0,50 mol/L. Qual a + – H + H + OH OH concentração molar da solução de NaOH, sabendo-se que o volume de HCl gasto na titulação foi de 30 mL? A titulação ácido-base em nível macroscópico Antes do ponto final, a solução básica contendo o indicador fenolftaleína é rósea. À medida que se aproxima do ponto final, a cor rósea desaparece onde o ácido é adicionado, mas reaparece com a agitação. No ponto final, a solução fica incolor após agitação. Ocorreu a viragem do indicador. Resolução: A reação será: HCl + NaOH ⇒ NaCl + H O Ao final da titulação: n = n ⇒ M x V = M – x V – Pelos dados do exemplo: M = Concentração do HCl = 0,50 M (mol/L) V = Volume da solução do ácido = 30 mL = 0,030 L (volume em litros) M – = Concentração desconhecida da base V – = Volume da base = volume gasto na bureta = 20 mL = 0,020 L Logo: 0,50 mol/L x 0,030 L = M x 0,020 L ⇒ M = 0,75 mol/L A titulação ácido-base em nível microscópico Ilustração mostra a titulação ácido-base em nível microscópico. 2 H + OH – H + H + OH OH H + H + OH OH OH – OH – 5. Conclusão Este Tópico abordou dois conceitos fundamentais do nosso dia a dia, as soluções e o pH. Lidamos todos os dias com misturas homogêneas, as soluções e, no universo das Ciências Farmacêuticas, é um conceito importantíssimo. Já o pH é um parâmetro definido como referência em análises de água e de materiais aquosos e de sistemas biológicos, sendo de extrema importância seu conhecimento. Deste modo, cabe a você rever estes importantes conceitos e os cálculos envolvidos. Este Tópico exige muitos exercícios, pois é o que mais envolve conceitos matemáticos. Veja agora o vídeo com o experimento de uma titulação de um ácido de concentração desconhecida por uma base de concentração conhecida. Será utilizado o mesmo indicador. Você entenderá a técnica e verá a mudança de cor do indicador fenolftaleína. Será que você é capaz de determinar a concentração do ácido? Titration (using phenolphthalein)Titration (using phenolphthalein) https://www.youtube.com/watch?v=8UiuE7Xx5l8 6. Referências ATKINS, P., JONES, L. Princípios de química: Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001. BROWN, T.L., LeMAY, Jr., H.E., BURSTEN, B.E. Química: ciência central. 9ª ed., São Paulo: Pearson, 2005. MAIA, D. J., BIANCHI, J. C. de A. Química Geral – Fundamentos. São Paulo: Pearson Prentice hall, 2007. YouTube. (2011, Março, 04). Science Xperiments | sXp. Titration (using phenolphthalein). 3min14. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8UiuE7Xx5l8>. Acesso em: 04 Ago. 2018. Parabéns, esta aula foi concluída! O que achou do conteúdo estudado? https://www.youtube.com/watch?v=8UiuE7Xx5l8 Mínimo de caracteres: 0/150 Péssimo Ruim Normal Bom Excelente Deixe aqui seu comentário Enviar