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O Humanismo na Identidade Cultural

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Faculdade São Luís de Jaboticabal
Curso de Letras
O HUMANISMO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
Prof. (nome do orientador)
JABOTICABAL
2024
O HUMANISMO E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL
Projeto de trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade São Luís de Jaboticabal, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Letras.
Orientador: Prof. (nome do orientador)
JABOTICABAL
2024
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	5
1.	HUMANISMO GERAL	7
1.1.	Humanismo na Europa	7
1.1.2.	Humanismo em Portugal	8
1.1.3.	Humanismo no Brasil	8
1.1.4.	A Educação Humanista	9
2. O TEATRO NO HUMANISMO	10
2.1.	O Teatro no Humanismo Europeu	10
2.2.	O Teatro no Humanismo em Portugal	11
2.2.1.	Gil Vicente e o Teatro Humanista	11
2.2.2.	Outros Influentes do Teatro Humanista Português	12
2.3.	Visão Sistêmica do Teatro Humanista	12
3. GIL VICENTE: UMA VISÃO CRÍTICA DO HOMEM E DA SOCIEDADE	13
3.1.	O Contexto Histórico e Cultural: Influências Humanistas na Obra de Gil Vicente	13
3.2.	A Crítica Social e Moral em Gil Vicente: Reflexões Humanistas sobre a Sociedade	14
3.2.1.	"Auto da Barca do Inferno": Crítica Social e Moral na Obra de Gil Vicente	15
3.2.2.	"Farsa de Inês Pereira": Crítica à Superficialidade e à Ganância na Sociedade	15
3.3.	A Condição Humana e a Moralidade nas Obras de Gil Vicente	15
3.3.1.	Influências Humanistas na Abordagem de Gil Vicente	16
CONCLUSÃO	17
REFERÊNCIAS	19
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo explorar a influência do Humanismo na construção da identidade cultural, com um foco especial na literatura e no teatro português. O estudo se divide em três capítulos: o primeiro aborda o conceito geral de Humanismo e sua manifestação em Portugal; o segundo analisa a importância do teatro como veículo de ideias humanistas; e o terceiro oferece uma visão crítica sobre a obra de Gil Vicente, destacando sua contribuição para a compreensão do homem e da sociedade. Através dessa análise, busca-se compreender como o Humanismo moldou a cultura e a identidade de forma geral.
INTRODUÇÃO
O Humanismo, movimento cultural e intelectual que emergiu no final da Idade Média e floresceu durante o Renascimento, representou uma mudança paradigmática na forma como o ser humano percebia a si mesmo e o mundo ao seu redor. Fundamentado na redescoberta dos clássicos greco-romanos e na valorização do potencial humano, o Humanismo promoveu uma ruptura com a visão teocêntrica medieval, colocando o homem no centro das atenções. Em Portugal, o Humanismo encontrou um ambiente particularmente propício devido às transformações sociais, políticas e culturais que marcaram o país durante o século XV e XVI. A expansão marítima e o contato com novas culturas enriqueceram o cenário intelectual português, facilitando a incorporação das ideias humanistas.
Este trabalho tem como objetivo investigar como o Humanismo influenciou a construção da identidade cultural portuguesa, com uma ênfase especial na literatura e no teatro. A análise se concentrará em três áreas principais: a definição e o desenvolvimento do Humanismo em Portugal, o papel do teatro como meio de disseminação das ideias humanistas, e a obra de Gil Vicente, cuja produção teatral é emblemática da interação entre Humanismo e cultura.
O primeiro capítulo oferecerá uma visão geral do Humanismo, discutindo suas origens, princípios e impacto geral na Europa. Em seguida, o capítulo se aprofundará na maneira como o Humanismo se manifestou em Portugal, examinando a influência de figuras-chave como os escritores e eruditos portugueses que promoveram a nova visão de mundo.
O segundo capítulo abordará a importância do teatro no contexto humanista. O teatro renascentista não apenas refletiu os valores humanistas, mas também serviu como um veículo poderoso para sua disseminação, explorando questões morais, sociais e filosóficas através de narrativas envolventes e acessíveis ao público.
Finalmente, o terceiro capítulo se concentrará na obra de Gil Vicente, considerado o pai do teatro português. Através de uma análise crítica de suas principais peças, será possível observar como Vicente utilizou o teatro para questionar a sociedade, a moralidade e a condição humana, refletindo os ideais humanistas de seu tempo. Ao final, espera-se demonstrar que o Humanismo foi uma força motriz na formação da identidade cultural portuguesa, deixando um legado duradouro que ainda ressoa na cultura contemporânea.
Capítulo 1: Humanismo Geral
O primeiro capítulo apresenta uma visão abrangente do Humanismo, suas origens e princípios fundamentais. Este movimento, que se desenvolveu durante o Renascimento, pregava a valorização do ser humano, a redescoberta dos textos clássicos e a promoção da educação e da razão.
1.1 Humanismo em Portugal
O Humanismo, surgido na Europa durante o Renascimento, trouxe uma nova perspectiva sobre o ser humano e sua relação com o mundo. O movimento caracterizou-se pela redescoberta e valorização dos textos clássicos da antiguidade greco-romana, pela promoção da educação e do pensamento crítico, e pela ênfase no potencial humano. Esta nova visão contrastava fortemente com a visão teocêntrica predominante na Idade Média, que colocava Deus e a religião no centro de todas as coisas. Em Portugal, o Humanismo encontrou um terreno fértil para seu desenvolvimento, influenciado por vários fatores sociais, culturais e políticos.
1.1.1 O Humanismo na Europa
O Humanismo europeu foi marcado por figuras como Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio e Desiderius Erasmus. Esses pensadores promoveram a ideia de que o estudo dos clássicos poderia iluminar o caminho para uma vida melhor e mais virtuosa. Petrarca, conhecido como o "Pai do Humanismo", acreditava que a literatura clássica poderia ensinar sabedoria e virtude. Sua abordagem focava na redescoberta dos textos antigos e na sua aplicação à vida contemporânea (BURKE, 1998).
Boccaccio, por sua vez, contribuiu para o Humanismo através de suas obras literárias, que incorporavam uma nova visão sobre o indivíduo e a sociedade. Seu trabalho mais famoso, "Decameron", explora temas humanos de maneira realista e crítica, refletindo as preocupações e valores do Humanismo (BOCCACCIO, 1982).
Erasmus, outro grande humanista, enfatizou a importância da educação e da reforma religiosa. Sua obra "Elogio da Loucura" critica as superstições e abusos da Igreja, propondo uma abordagem mais racional e humanista para a religião e a vida cotidiana (ERASMUS, 2001).
1.1.2 Humanismo em Portugal
Em Portugal, o Humanismo teve um impacto profundo e duradouro, especialmente a partir do século XV. A expansão marítima portuguesa abriu novas fronteiras culturais e intelectuais, facilitando o intercâmbio de ideias e conhecimentos. Um dos primeiros e mais influentes humanistas portugueses foi João de Barros, conhecido por suas obras históricas e pedagógicas. Sua "Crónica do Imperador Clarimundo" e "Décadas da Ásia" demonstram uma clara influência dos ideais humanistas, com uma ênfase na valorização da história e da moralidade (BARROS, 1628).
Outro nome de destaque é o de Sá de Miranda, que introduziu em Portugal as formas poéticas italianas, como o soneto, e os temas renascentistas. Sua obra reflete uma profunda admiração pela cultura clássica e uma busca pela harmonia e equilíbrio, características centrais do Humanismo (MIRANDA, 1978).
António Ferreira, discípulo de Sá de Miranda, é também uma figura central no Humanismo português. Sua tragédia "Castro" é um exemplo da influência humanista, abordando temas como a justiça, a virtude e o destino humano com uma profundidade que reflete os ideais clássicos (FERREIRA, 1988).
1.1.3 Humanismo no Brasil
A chegada do Humanismo ao Brasil ocorreu através da colonização portuguesa e da influência cultural europeia. No Brasil, o Humanismo se manifestou de maneira particular, adaptando-se às condições locais e influenciando o desenvolvimento da literatura e da educação. Um dos primeiros exemplos da presença humanista no Brasilé a "Carta de Pero Vaz de Caminha", que, embora não seja uma obra humanista em si, reflete a curiosidade e o desejo de conhecimento característicos do Humanismo (CAMINHA, 1999).
José de Anchieta, jesuíta e escritor, é outra figura significativa no contexto do Humanismo brasileiro. Sua produção literária, que inclui poemas e peças teatrais, revela a influência dos ideais humanistas de educação e evangelização. Anchieta utilizou o teatro como ferramenta pedagógica e evangelizadora, incorporando elementos culturais indígenas e europeus, o que demonstra um diálogo intercultural importante (ANCHIETA, 2006).
Gregório de Matos, conhecido como o "Boca do Inferno", é um exemplo da influência humanista na literatura brasileira do século XVII. Suas sátiras e poemas líricos refletem uma crítica social mordaz e um profundo conhecimento da literatura clássica, evidenciando a interação entre o Humanismo e a realidade colonial brasileira (MATOS, 1990).
1.1.4 A Educação Humanista
A educação foi um dos pilares do Humanismo, e em Portugal, várias instituições e figuras contribuíram para a sua promoção. D. João III, por exemplo, foi um grande patrono do Humanismo e da educação, convidando eruditos estrangeiros para ensinar nas universidades portuguesas e promovendo a fundação do Colégio das Artes em Coimbra (LOURENÇO, 1996).
O humanista André de Resende, conhecido como o "Cícero português", teve um papel fundamental na promoção da educação humanista. Suas obras e atividades pedagógicas refletiam a crença humanista na importância do estudo dos clássicos para o desenvolvimento moral e intelectual (RESENDE, 1746).
O Humanismo teve um impacto significativo em Portugal e no Brasil, influenciando a literatura, a educação e a cultura em geral. Através da obra de escritores como João de Barros, Sá de Miranda e António Ferreira em Portugal, e José de Anchieta e Gregório de Matos no Brasil, o Humanismo se enraizou profundamente, contribuindo para a formação de identidades culturais ricas e complexas. Esse legado humanista continua a ressoar na cultura contemporânea, demonstrando a importância duradoura desse movimento intelectual.
Capítulo 2: O Teatro no Humanismo
O teatro renascentista desempenhou um papel crucial na difusão das ideias humanistas. Este capítulo investiga como o teatro se tornou um meio eficaz para a disseminação dos valores humanistas, abordando temas como a condição humana, a moralidade e a crítica social. Através das peças teatrais, as ideias humanistas puderam alcançar um público mais amplo, contribuindo para a formação de uma consciência coletiva. Esta análise será apoiada por exemplos de escritores humanistas europeus e portugueses, demonstrando a influência e a prática do Humanismo no teatro.
2.1 O Teatro no Humanismo Europeu
No contexto europeu, o teatro renascentista foi profundamente influenciado pelos princípios do Humanismo. A redescoberta das obras teatrais clássicas, como as tragédias de Sófocles e as comédias de Aristófanes, serviu de inspiração para dramaturgos renascentistas. William Shakespeare, por exemplo, incorporou em suas peças a complexidade da condição humana, explorando temas como o poder, a ambição, a traição e a redenção. Em "Hamlet", Shakespeare mergulha nas profundezas da psique humana, refletindo sobre a existência e a moralidade (SHAKESPEARE, 1992).
O teatro de Molière, por sua vez, reflete o Humanismo na França. Em suas comédias, Molière criticava os costumes e a hipocrisia da sociedade de seu tempo, promovendo uma visão mais racional e crítica do comportamento humano. Obras como "Tartufo" e "O Misantropo" expõem a falsidade e a pretensão humanas, incentivando uma reflexão crítica (MOLIÈRE, 1998).
2.2 O Teatro no Humanismo em Portugal
Em Portugal, o teatro também foi um veículo importante para a disseminação das ideias humanistas. Gil Vicente é a figura central dessa tradição teatral humanista. Suas peças, tanto religiosas quanto profanas, abordam a condição humana e as questões sociais de sua época, refletindo os princípios do Humanismo.
2.2.1 Gil Vicente e o Teatro Humanista
Gil Vicente, frequentemente considerado o pai do teatro português, utilizou o teatro como uma ferramenta para educar e entreter, alinhando-se aos ideais humanistas. Em suas obras, Vicente explorava a moralidade, a justiça e a hipocrisia social, utilizando a sátira para criticar as instituições e os comportamentos de seu tempo. Suas peças são ricas em diálogos que revelam a complexidade da condição humana e a diversidade das experiências humanas.
Na "Auto da Barca do Inferno", por exemplo, Vicente oferece uma crítica ácida da sociedade portuguesa, representando diversas figuras sociais que, após a morte, devem justificar suas ações para entrar na barca que os levará ao Paraíso ou ao Inferno. A peça destaca a corrupção, a avareza e a hipocrisia, características negativas que o Humanismo busca transformar através da valorização da virtude e do comportamento ético (VICENTE, 2002).
Outra peça significativa é "Farsa de Inês Pereira", onde Vicente critica a superficialidade e a ganância através da história de Inês, uma jovem que se casa por interesse e acaba por enfrentar as consequências de suas escolhas. A peça reflete a ênfase humanista na liberdade individual e na responsabilidade moral (VICENTE, 2002).
2.2.2 Outros Influentes do Teatro Humanista Português
Além de Gil Vicente, outros escritores portugueses contribuíram para o desenvolvimento do teatro humanista. António Ferreira, por exemplo, trouxe para o teatro português influências clássicas e humanistas. Sua tragédia "A Castro" é um exemplo de como o teatro pode servir para explorar temas profundos e complexos, como a justiça, o amor e o destino. Ferreira utilizou o teatro para questionar e refletir sobre a condição humana e as questões sociais, alinhando-se com os princípios humanistas de seu tempo (FERREIRA, 1988).
O teatro humanista, tanto na Europa quanto em Portugal, serviu como um poderoso veículo para a disseminação dos valores e ideias do Humanismo. Através das obras de Shakespeare, Molière, Gil Vicente e António Ferreira, podemos observar como o teatro foi utilizado para explorar a condição humana, criticar a sociedade e promover a educação moral e ética. O teatro humanista não apenas refletiu os ideais do Humanismo, mas também desempenhou um papel ativo na formação da consciência coletiva e na transformação social. Em Portugal, Gil Vicente e António Ferreira são exemplos brilhantes de como o teatro pode incorporar e promover os valores humanistas, contribuindo para a construção de uma identidade cultural rica e complexa.
2.3 Visão Sistêmica do Teatro Humanista
O teatro humanista, tanto na Europa quanto em Portugal, não apenas refletiu os ideais do Humanismo, mas também desempenhou um papel ativo na formação da consciência coletiva e na transformação social. O teatro serviu como uma plataforma para a discussão de ideias e valores, permitindo que os dramaturgos abordassem temas relevantes de maneira acessível e envolvente.
A prática teatral no contexto humanista visava educar e moralizar o público, utilizando o entretenimento como meio para promover a reflexão crítica. Através da sátira e da tragédia, os dramaturgos humanistas questionavam a moralidade e a ética da sociedade, incentivando os espectadores a reconsiderar suas próprias crenças e comportamentos.
O teatro humanista também desempenhou um papel crucial na preservação e na disseminação do conhecimento clássico. Ao incorporar elementos das obras antigas, os dramaturgos renascentistas não apenas homenageavam os grandes pensadores do passado, mas também asseguravam que suas ideias continuassem a influenciar as gerações futuras.
Em Portugal, o teatro humanista foi particularmente eficaz em abordar questões sociais e políticas contemporâneas. Através das obras de Gil Vicente e António Ferreira, o teatro português se tornou uma ferramenta poderosa para a crítica social e a educação moral, refletindo a complexidade da condição humana e a diversidade da experiência cultural.Capítulo 3: Gil Vicente: Uma Visão Crítica do Homem e da Sociedade
Gil Vicente, um dos mais importantes dramaturgos do Renascimento português, é frequentemente considerado o pai do teatro em Portugal. Suas obras oferecem uma visão crítica e profundamente humanista da sociedade de seu tempo. Este capítulo analisa como Vicente utilizou o teatro para explorar e criticar a condição humana e a sociedade, refletindo as teorias e práticas do Humanismo. Através de suas peças, Vicente abordou questões sociais, morais e políticas, promovendo a reflexão e a reforma social.
3.1 O Contexto Histórico e Cultural: Influências Humanistas na Obra de Gil Vicente
Para compreender a obra de Gil Vicente, é fundamental contextualizá-la dentro do panorama cultural e intelectual do Renascimento europeu. Nesse período de renovação e redescoberta dos valores clássicos, o Humanismo desempenhou um papel central, influenciando tanto a produção literária quanto as artes. No caso de Gil Vicente, a presença das ideias humanistas é marcante em suas obras, onde ele reflete e critica a sociedade de sua época.
Dentro desse contexto, é válido mencionar o impacto de teóricos humanistas como Erasmo de Rotterdam. Em sua obra "Elogio da Loucura", Erasmo critica a hipocrisia e os abusos da Igreja, promovendo a ideia de que a verdadeira sabedoria está na simplicidade e na aceitação de nossas imperfeições (ERASMUS, 2001). Essa visão, que enfatiza a importância da autocrítica e da reflexão, ecoa na abordagem de Gil Vicente em suas peças teatrais.
Além disso, autores humanistas como Francesco Petrarca e Giovanni Boccaccio também exerceram influência sobre a obra de Vicente. Petrarca, conhecido como o "Pai do Humanismo", defendia a ideia de que a literatura clássica poderia ensinar sabedoria e virtude. Boccaccio, por sua vez, explorava temas humanos de maneira realista e crítica em suas obras, contribuindo para a renovação da literatura italiana (BURKE, 1998). Essas influências se fazem presentes na abordagem de Vicente em suas peças, onde ele busca retratar a complexidade da condição humana e questionar os valores e costumes de sua sociedade.
Assim, ao considerar o contexto histórico e cultural do Renascimento europeu, percebemos que a obra de Gil Vicente está imersa nas ideias e valores humanistas que caracterizaram esse período. Sua abordagem crítica e reflexiva reflete não apenas as influências de teóricos e escritores humanistas, mas também sua própria busca por uma compreensão mais profunda do ser humano e da sociedade em que vivia.
3.2 A Crítica Social e Moral em Gil Vicente: Reflexões Humanistas sobre a Sociedade
A obra de Gil Vicente é permeada por uma profunda crítica social e moral, refletindo as preocupações e ideais humanistas de sua época. Ao explorar os vícios e virtudes da sociedade portuguesa do século XVI, Vicente utiliza o teatro como uma ferramenta para expor as injustiças e hipocrisias de seu tempo, promovendo a reflexão e a mudança.
Nessa abordagem, é pertinente destacar a influência de teóricos humanistas como Thomas More. Em sua obra "Utopia", More critica as desigualdades sociais e políticas de sua época, propondo uma sociedade ideal baseada na justiça e na igualdade (MORE, 2016). Essa preocupação com a injustiça social e a busca por uma sociedade mais justa ecoa na obra de Vicente, onde ele denuncia a corrupção e a opressão presentes na sociedade portuguesa de sua época.
Além disso, autores humanistas como Erasmo de Rotterdam também influenciaram a abordagem de Vicente. Em suas obras, Erasmo criticava a hipocrisia religiosa e a moralidade superficial, promovendo a ideia de uma fé verdadeira baseada na humildade e na simplicidade (ERASMUS, 2001). Essa crítica à falsa religiosidade e a busca por uma moralidade autêntica ressoam nas peças de Vicente, onde ele expõe as contradições e ambiguidades do comportamento humano.
3.2.1 "Auto da Barca do Inferno": Crítica Social e Moral na Obra de Gil Vicente
Uma das peças mais emblemáticas de Gil Vicente, "Auto da Barca do Inferno", exemplifica sua abordagem crítica e moralista, refletindo os ideais humanistas que permearam o Renascimento europeu. Nessa obra, Vicente utiliza alegorias e personagens simbólicos para expor as fraquezas e vícios da sociedade portuguesa de sua época, promovendo a reflexão e a mudança. Autores humanistas como Erasmo de Rotterdam e Thomas More influenciaram sua visão crítica da sociedade, que ecoa na mensagem moral de suas peças.
3.2.2 "Farsa de Inês Pereira": Crítica à Superficialidade e à Ganância na Sociedade
Outra obra significativa de Gil Vicente, "Farsa de Inês Pereira", reflete sua crítica à superficialidade e à ganância presentes na sociedade portuguesa do Renascimento. Inspirado pelos ideais humanistas de Erasmo de Rotterdam e Thomas More, Vicente denuncia a busca desenfreada por status e riqueza em detrimento dos valores morais. Através de personagens e situações satíricas, ele promove a reflexão sobre o significado da vida virtuosa e a importância da honestidade e da integridade.
3.3 A Condição Humana e a Moralidade nas Obras de Gil Vicente
A obra de Gil Vicente é profundamente enraizada na exploração da condição humana e na reflexão sobre questões morais e éticas, refletindo os ideais humanistas que caracterizaram o Renascimento europeu. Inspirado por teóricos humanistas como Erasmo de Rotterdam e Thomas More, Vicente apresenta personagens complexos e situações que questionam os valores e princípios que orientam nossas ações. Suas peças teatrais servem como instrumentos de reflexão sobre a natureza humana e a busca por uma vida moralmente significativa.
3.3.1 Influências Humanistas na Abordagem de Gil Vicente
A abordagem de Gil Vicente em relação à condição humana e à moralidade reflete as influências dos ideais humanistas que permearam o Renascimento europeu. Inspirado por teóricos como Erasmo de Rotterdam e Thomas More, Vicente apresenta em suas obras uma visão crítica da sociedade, promovendo a reflexão sobre os valores morais e éticos. Sua análise da natureza humana e da busca por uma vida virtuosa ecoa nos temas e personagens de suas peças teatrais, demonstrando sua preocupação com as questões fundamentais da existência humana.
Gil Vicente utiliza o teatro como uma ferramenta para promover o pensamento crítico e a reforma social, refletindo os ideais humanistas que permearam o Renascimento europeu. Inspirado por teóricos humanistas como Erasmo de Rotterdam e Thomas More, Vicente aborda uma variedade de temas em suas peças, desde a justiça e a moralidade até a crítica das instituições sociais e religiosas. Sua obra reflete não apenas suas próprias preocupações e valores, mas também o contexto intelectual e cultural de sua época, onde o Humanismo desempenhou um papel central na renovação das artes e das letras.
CONCLUSÃO
Neste trabalho, exploramos a influência do Humanismo na construção da identidade cultural portuguesa, com foco na literatura e no teatro. Ao longo dos capítulos, examinamos o surgimento e desenvolvimento do Humanismo, tanto na Europa quanto em Portugal, destacando suas características e influências em figuras-chave como Gil Vicente. Observamos como o teatro renascentista serviu como um veículo para disseminar os valores humanistas, promovendo reflexões sobre a condição humana e a sociedade. Através da análise da obra de Gil Vicente, pudemos observar como o teatro foi utilizado para explorar criticamente questões sociais, morais e políticas, refletindo os ideais humanistas da época.
No primeiro capítulo, abordamos o conceito geral de Humanismo e sua manifestação em Portugal, destacando figuras importantes como João de Barros, Sá de Miranda e António Ferreira. Exploramos como o Humanismo influenciou não apenas a literatura, mas também a educação e a cultura em geral, deixando um legado duradouro na formação da identidade cultural portuguesa.
No segundo capítulo, investigamos o papel do teatro como meio de disseminação das ideias humanistas, tanto na Europa quanto em Portugal. Através de exemplos de dramaturgoscomo Shakespeare, Molière e Gil Vicente, pudemos observar como o teatro foi utilizado para explorar questões sociais e morais, promovendo a reflexão e a transformação social.
No terceiro capítulo, nos aprofundamos na obra de Gil Vicente, analisando como suas peças refletem as preocupações e ideais humanistas de sua época. Observamos como Vicente utilizou o teatro como uma ferramenta para promover o pensamento crítico e a reforma social, abordando uma variedade de temas, desde a justiça e a moralidade até a crítica das instituições sociais e religiosas.
Em suma, este trabalho demonstra como o Humanismo moldou a cultura e a identidade nacional portuguesa, deixando um legado duradouro que ainda ressoa na cultura contemporânea. Através da análise da literatura e do teatro renascentistas, pudemos observar como o Humanismo influenciou a forma como os portugueses se percebem e se relacionam com o mundo ao seu redor, contribuindo para a construção de uma identidade cultural rica e complexa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANCHIETA, José de. Poemas. Belo Horizonte: Itatiaia, 2006.
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BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
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VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno. São Paulo: Ática, 2002.
VICENTE, Gil. Farsa de Inês Pereira. São Paulo: Ática, 2002.
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