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2024-Epica-Aula 3

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FLC-0452 – Literatura Latina: Épica – 2024 Diurno Turma 2024102 – Prof. João Angelo Oliva Neto 
Horário: 6ª feira das 8:00h às 9:40h – Sala 109 
 
1/5 
Aula 3 – 15 de março 
I. Espécies de épica heroica 
Homero, Ilíada. Tradução de Carlos Alberto Nunes 
Μῆνιν ἄειδε θεὰ Πηληϊάδεω Ἀχιλῆος 
οὐλομένην, ἣ μυρί' Ἀχαιοῖς ἄλγε' ἔθηκε, 
πολλὰς δ' ἰφθίμους ψυχὰς Ἄϊδι προΐαψεν 
ἡρώων, αὐτοὺς δὲ ἑλώρια τεῦχε κύνεσσιν 
οἰωνοῖσί τε πᾶσι 
Canta-me a cólera – ó deusa! – funesta de Aquiles Pelida, 
causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos inúmeros 
e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos 
e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados 
e como pasto das aves. 
Homero, Odisseia. Tradução de Carlos Alberto Nunes 
 Ἄνδρα μοι ἔννεπε, Μοῦσα, πολύτροπον, ὃς μάλα πολλὰ 
πλάγχθη, ἐπεὶ Τροίης ἱερὸν πτολίεθρον ἔπερσε· 
πολλῶν δ' ἀνθρώπων ἴδεν ἄστεα καὶ νόον ἔγνω, 
πολλὰ δ' ὅ γ' ἐν πόντῳ πάθεν ἄλγεα ὃν κατὰ θυμόν, 
ἀρνύμενος ἥν τε ψυχὴν καὶ νόστον ἑταίρων. 
Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso que muito 
peregrinou, dês que esfez as muralhas sagradas de Tróia; 
muitas cidades dos homens viajou, conheceu seus costumes, 
como no mar padeceu sofrimentos inúmeros na alma, 
para que a vida salvasse e de seus companheiros a volta. 
Apolônio de Rodes, Argonáuticas. Tradução de José Maria da Costa e Silva (1852) 
Ἀρχόμενος σέο Φοῖβε παλαιγενέων κλέα φωτῶν 
μνήσομαι οἳ Πόντοιο κατὰ στόμα καὶ διὰ πέτρας 
Κυανέας βασιλῆος ἐφημοσύνῃ Πελίαο 
χρύσειον μετὰ κῶας ἐύζυγον ἤλασαν Ἀργώ. 
Com teus auspícios, cantarei, ó Febo, 
os antigos Heróis, que aventurosos 
por Pélias demandando o velo d’ouro, 
do Ponto pela foz e Ciâneas rochas 
Argo, não bem travada, pilotaram. 
 Lucano (39-65 d.C.), Farsália (Guerra Civil). Tradução de Brunno Vinícius Gonçalves Vieira 
Bella per Emathios plus quam ciuilia campos 
iusque datum sceleri canimus, populumque 
potentem 
in sua uictrici conuersum uiscera dextra 
cognatasque acies, et rupto foedere regni 
certatum totis concussi uiribus orbis 5 
in commune nefas, infestisque obuia signis 
signa, pares aquilas et pila minantia pilis. 
As guerras, sobre o Emátio chão, mais que civis 
e a lei, cantamos, dada ao crime, e o povo altivo 
que ao ventre seu voltou a destra vencedora, 
e hostes irmãs, e, à ruína do pacto regente
1
, 
o combate violento de um mundo caduco 
por um nefas total, e estandartes adversos 
serem águias iguais, e pilos contra pilos
2
. 
Valério Flaco (?-c. 90 d.C.), Argonaúticas. Tradução de Márcio Meireles Gouveia 
Prima deum magnis canimus freta peruia natis 
fatidicamque ratem, Scythici quae Phasidis oras 
ausa sequi mediosque inter iuga concita cursus 
rumpere flammifero tandem consedit Olympo. 
Primo mar canto aberto por divinos filhos 
e a nau profética que ousou buscar na Cítia 
o Fase e, em meio às pedras móveis, romper curso, 
e que assentou-se, enfim, no Olimpo constelado. 
Estácio (c. 45-c.96 d.C.), Tebaida. Tradução de João Angelo Oliva Neto 
Fraternas acies alternaque regna profanis 
decertata odiis sontesque euoluere Thebas 
Pierius menti calor incidit. Vnde iubetis 
ire, deae? 
O estro da Piéria toca-me a mente para que eu conte as 
lutas fraternas, o reino alternado, disputado com ódio 
ímpio e as culpas de Tebas. De onde me ordenais partir, 
5. ó deusas? 
1) Estácio, Aquileida. Tradução de João Angelo Oliva Neto 
Magnanimum Aeaciden formidatamque Tonanti 
progeniem et patrio uetitam succedere caelo, 
Conta, deusa, o magnânimo eácida e a formidável raça, 
proibida de subir ao pátrio céu pelo Tonante3. Embora 
as ações do varão sejam muito famosas pelo canto 
 
1 Com a morte de Crasso (53 a. C) houve a dissolução do primeiro triunvirato (cf. I, 98-120), o que acabou por deixar César e Pompeu frente a 
frente. 
2 As águias eram as insígnias da infantaria Romana e o pilo (uma espécie de dardo), a sua arma. 
3 Júpiter (o Tonante) soubera que o filho de Tétis seria mais poderoso do que ele, razão pela qual a deusa se uniu a um moral, Peleu, pai de Aquiles. 
FLC-0452 – Literatura Latina: Épica – 2024 Diurno Turma 2024102 – Prof. João Angelo Oliva Neto 
Horário: 6ª feira das 8:00h às 9:40h – Sala 109 
 
2/5 
diua, refer. Quamquam acta uiri multum inclita cantu 
Maeonio (sed plura uacant), nos ire per omnem – 
sic amor est – heroa uelis Scyroque latentem 5 
Dulichia proferre tuba nec in Hectore tracto 
sistere, sed tota iuuenem deducere Troia. 
meônio, mais ainda, porém, estão faltando: 
percorrermos toda a vida do herói – 5. assim é nosso 
desejo – e narrarmos com trombeta Dulíquia4 que ele 
em Ciros se ocultou em véus e não pararmos em Heitor 
arrastado, mas despojarmos de Tróia inteira a 
juventude. 
1) Sílio Itálico (28-103 d.C.) Guerra Púnica. Tradução de João Angelo Oliva Neto 
Ordior arma, quibus caelo se gloria tollit 
Aeneadum, patiturque ferox Oenotria iura 
Carthago. 
Começo a cantar as armas, pelas quais a glória dos 
Enéadas se ergueu ao céu e feroz Cartago suportou as 
leis da Enótria. 
II. Em suma: as espécies e subespécies do epos 
 gesta guerreira 
 mitológico 
 heroico retorno 
epos histórico 
 
 didático 
 
III. Fonte antiga 
 
 
4 DULÍQUIA: da ilha de Dulíquio, pertencente a Ulisses; por extensão “épico”. 
FLC-0452 – Literatura Latina: Épica – 2024 Diurno Turma 2024102 – Prof. João Angelo Oliva Neto 
Horário: 6ª feira das 8:00h às 9:40h – Sala 109 
 
3/5 
 
(Tradução de Adriano Scatolin, inédita) 
IV. Etiologia 
A Serra do Rola-Moça 
(Mário de Andrade)
 
A Serra do Rola-Moça 
Não tinha esse nome não... 
 
Eles eram do outro lado, 
Vieram na vila casar. 
E atravessaram a serra, 
O noivo com a noiva dele 
Cada qual no seu cavalo. 
 
Antes que chegasse a noite 
Se lembraram de voltar. 
Disseram adeus pra todos 
E se puserem de novo 
Pelos atalhos da serra 
Cada qual no seu cavalo. 
 
Os dois estavam felizes, 
FLC-0452 – Literatura Latina: Épica – 2024 Diurno Turma 2024102 – Prof. João Angelo Oliva Neto 
Horário: 6ª feira das 8:00h às 9:40h – Sala 109 
 
4/5 
Na altura tudo era paz. 
Pelos caminhos estreitos 
Ele na frente, ela atrás. 
E riam. Como eles riam! 
Riam até sem razão. 
 
A Serra do Rola-Moça 
Não tinha esse nome não. 
 
As tribos rubras da tarde 
Rapidamente fugiam 
E apressadas se escondiam 
Lá embaixo nos socavões, 
Temendo a noite que vinha. 
 
Porém os dois continuavam 
Cada qual no seu cavalo, 
E riam. Como eles riam! 
E os risos também casavam 
Com as risadas dos cascalhos, 
Que pulando levianinhos 
Da vereda se soltavam, 
Buscando o despenhadeiro. 
 
Ali, Fortuna inviolável! 
O casco pisara em falso. 
Dão noiva e cavalo um salto 
Precipitados no abismo. 
Nem o baque se escutou. 
Faz um silêncio de morte, 
Na altura tudo era paz ... 
Chicoteado o seu cavalo, 
No vão do despenhadeiro 
O noivo se despenhou. 
 
E a Serra do Rola-Moça 
Rola-Moça se chamou.
 
V. A Eneida como reflexo especular da Ilíada e da Odisseia 
Ilíada, 1, 85-101 
 
85 Por seu lado se levantaram e obedeceram ao pastor do povo 
os reis detentores de cetro; e por seu lado se apressava o povo. 
Tal como se lançam as raças das abelhas enxameantes 
de uma côncava rocha saindo uma atrás da outra sem cessar 
e esvoaçam em cachos sobre as flores da primavera, 
90 voando algumas por aqui, outras porém por ali — 
assim das naus e das tendas muitas raças 
marchavam em frente pela areia funda em grupos 
até à assembleia. Entre eles lavrava como fogo o Rumor, 
mensageiro de Zeus, impelindo-os a se reunirem. 
 
Tradução Frederico Lourenço 
Eneida, 1, 148-155 
 
Como por vezes ocorre em cidades de muitos vizinhos, 
quando rebenta revolta e dispara o povinho sem brio, 
150 já voam pedras e fachos, as armas a luta improvisa; 
mas, se de súbito surge um varão de aparência tranquila 
e comprovado valor, todos calam e atentos escutam; 
com seu discurso as vontades compõe, o furor dulcifica: 
da mesma formacessou o barulho das vagas, a um gesto 
155 da divindade, ao olhar para as ondas. 
 
 
 
Tradução Carlos Alberto Nunes 
VI. Eneida, 1, 1-37 
Eu sou aquele que outrora canções modulei ao compasso 1* 
da doce avena e, saindo das selvas, os campos vizinhos 2* 
a obedecer obriguei à avidez do colono remisso, 3* 
nas gratas fainas da terra: ora os feitos horrendos de Marte,5 4* 
As armas canto e o varão que, fugindo das plagas de Troia6 1 
por injunções do Destino, instalou-se na Itália primeiro 
e de Lavínio nas praias. A impulso dos deuses por muito 
tempo nos mares e em terras vagou sob as iras de Juno, 
guerras sem fim sustentou para as bases lançar da Cidade 5 
e ao Lácio os deuses trazer — o começo da gente latina, 
 
 
 
 
 
 
5 Os versos de 1 a 4 assinalados com asterisco foram conservados pelos gramáticos Donato e Sérvio, do século IV. Autênticos, mas 
supostamente supérfluos, teriam sido eliminados dos códices. A tradução constava nos originais do tradutor, mas foi suprimida das 
edições de 1981 e 1983. Avena designa a flauta rústica dos pastores bucólicos, numa alusão às Bucólicas, a primeira obra poética 
notória de Virgílio. O sentido dos vv. 2 e 3 é “fiz germinar a terra fecundada pelo colono não indolente e ambicioso”. No v. 4, entenda-
se os “compensadores trabalhos da terra”, alusão às Geórgicas, o segundo poema célebre de Virgílio, que trata da agricultura; já os 
feitos horrendos de Marte alude à guerra, atividade que o deus preside. 
6 O varão: Eneias, filho da deusa Vênus e do mortal Anquises. 
FLC-0452 – Literatura Latina: Épica – 2024 Diurno Turma 2024102 – Prof. João Angelo Oliva Neto 
Horário: 6ª feira das 8:00h às 9:40h – Sala 109 
 
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dos pais albanos primevos e os muros de Roma altanados. 7 
Musa!, recorda-me as causas da guerra, a deidade agravada; 
por qual ofensa a rainha dos deuses levou um guerreiro 8 
tão religioso a enfrentar sem descanso esses duros trabalhos?9 10 
Cabe tão fero rancor no imo peito dos deuses eternos? 
Cidade antiga existiu, dos colonos de Tiro povoada, 10 
forte Cartago, distante da Itália e das bocas do Tibre, 
rica de todo comércio, de grande maldade na guerra. 
Contam que Juno a habitava e por ela especial preferência 15 
manifestara, até mesmo em confronto com Samos dileta. 
Lá teve as armas, o carro guardava, e o projeto ambicioso 
de fazer dela a senhora dos povos, se os Fados anuíssem. 
Porém ouvira falar numa raça provinda dos troas11 
que, andando o tempo, as muralhas dos tírios ao chão lançariam,12 20 
da qual um povo haveria nascer, belicoso e arrogante, 
para desgraça da Líbia. Isso as Parcas já haviam tecido.13 
De medo, então, e lembrada a Satúrnia da guerra primeira 
que contra Troia movera a favor dos seus caros argivos,14 
ainda guardada no peito bem viva a lembrança das causas 25 
do seu rancor, sofrimento indizível de ofensas passadas, 
o julgamento de Páris, a injúria à sua forma impecável,15 
o ódio aos troianos e as honras ao belo escanção Ganimedes:16 
por isso tudo exaltada, mantinha afastados do Lácio 
como joguete das ondas os teucros escapos dos gregos17 30 
e do terrível Aquiles, os quais, acossados dos Fados,18 
vinham cortando sem rumo desde anos o mar infinito. 
Tão grande empresa era as bases lançar da progênie romana! 
Mal a Sicília perderam de vista e contentes rumavam 
para o alto mar, apartando com as quilhas as ondas salobres, 35 
Juno potente, a sangrar-lhe no peito a ferida, conversa 
consigo mesma: “Aceitar o fracasso no início da empresa, 
 
Tradução Carlos Alberto Nunes 
 
 
 
 
 
 
 
Tradução de Nicolau Firmino 
 
 
7 Albanos primevos: os primeiros habitantes de Alba Longa, fundada por Ascânio. São chamados “pais” (patres) por serem ancestrais 
dos romanos. 
8 Vertendo uir por “guerreiro”, como é possível, em vez de “varão”, como no v. 1, o tradutor ressalta o que Virgílio apenas sugere no 
singular heroísmo de Eneias. 
9 Tão religioso: no original, insignem pietate, “notável pela piedade”. A piedade, entendida como estrita observância religiosa, não só 
comiseração, é o traço principal de Eneias. 
10 Tiro: cidade da Fenícia, norte da África, cujos habitantes, segundo Virgílio, fundaram Cartago. Sídon (“Sidão” para Carlos Alberto 
Nunes, XI, v. 74) é outra cidade fenícia. Assim “fenício” (v. 343), “peno” (v. 303), “púnico” (v. 338), “sidônio” (v. 446) e “tírio” (v. 20) 
são equivalentes. 
11 Troas: os troianos, de quem os romanos descendem; também chamados dardânidas, dardânios, frígios e teucros. 
12 As muralhas dos tírios: Cartago. 
13 Líbia é termo genérico para norte da África; no contexto, designa Cartago. As Parcas são as três deusas irmãs (Átropo, Cloto e 
Láquesis), fiandeiras que controlavam a vida dos homens: uma fiava, outra enrolava e a última cortava o fio da vida humana. 
Correspondem às Moiras gregas. 
14 Argivos: os inimigos dos troianos. “Gregos”, embora consagrada, é designação imprópria, pois os troianos também eram gregos. 
Assim argivo equivale a acaio, aqueu, aquivo, dânao, dório, graio, grego, pelasgo. Para pelasgo, ver adiante, v. 624, cabos da Grécia. 
15 Páris julgou Vênus mais bela que Minerva e Juno, esposa de Júpiter e deusa da união conjugal, que passou a odiar todos os troianos. 
16 Ganimedes: jovem troiano muito belo que, raptado por Júpiter, dele enamorado, servia o néctar à mesa dos deuses. 
17 Teucros escapos: troianos que escaparam. Os troianos descendem de Teucro, que, originário da ilha de Creta, emigrou para a 
Tróade, planície onde estabeleceu as bases do que seria Troia. 
18 Fados, ou também Fado (Fatum) no singular, é o deus dos destinos humanos. O termo liga-se ao verbo fari, “falar”, que designa a 
palavra decisiva e irrevogável da divindade.

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