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Patologia do Esófago Caso Clínico – A.S.S, masculino, 45 anos, motorista Motivo da consulta Disfagia para alimentos moles e sólidos. História da Doença Desde há cerca de um ano que tem ardência retrosternal, sobretudo no início da manhã. Por vezes, acorda bruscamente com dispneia e tosse que desaparece quando se senta ou se levanta do leito. Progressivamente, começou com dificuldade de engolir alimentos sólidos e há cerca de três meses deixou de poder engolir alimentos moles. Atualmente só consegue engolir alimentos líquidos. Perdeu cerca de 15kg, desde o início da sua sintomatologia. Hábitos alcoólicos 1.5 litro de vinho/dia Hábitos tabágicos 30 cigarros/dia. Esófago – sintomas Disfagia – significa dificuldade em deglutir, podendo o doente referir inclusivamente sensação de paragem do bolo alimentar Disfagia verdadeira – sensação de dificuldade de deglutição, ocorrendo até 10 a 20 segundos, após o início desta; Pseudo-disfagia – sensação de dificuldade de deglutição que não impede a ingestão de quaisquer alimentos ou líquidos e que ocorre para além de 10 segundos, após o início da deglutição. Exames Complementares de Diagnóstico - Radiologia esofagogastroduodenal; - Endoscopia digestiva alta; Alterações da motilidade 1. Acalasia – é uma alteração primaria da motilidade esofágica de etiologia clínica. A acalasia caracteriza-se pela ausência de peristalse esofágica e um relaxamento insuficiente do esfíncter esofágico inferior, devido à perda seletiva dos neurónios pós-ganglionares inibidores; Quadros clínicos: - Disfagia de sólidos; - Disfagia de líquidos; - Dificuldade de eructar (arrotar); - Dor torácica; - Regurgitação noturna; - Aspiração; - Queimar. 1. Espasmo difuso – é caracterizado por diferentes contrações não propulsivas, contrações hiperdinâmicas ou pressão elevada do esfíncter esofágico. Cirurgia do esófago - esofagomiotomia por acalasia; Operação de Heller. Doenças inflamatórias e estruturais Divertículos Consiste na exteriorização das mucosas através da camada muscular do esófago. Pode ser assintomático ou causar disfagia e regurgitação. O diagnóstico é feito por exame contrastado com bário, o reparo cirúrgico é raramente necessário. Hérnias Diafragmáticas Hérnia do hiato esofágico é uma protrusão de uma porção do estômago da sua posição abdominal normal, através do diafragma, para a região mediastínica. Existem dois tipos: a hérnia do hiato por deslizamento e a paraesofágica. A hérnia do hiato por deslizamento consiste na protusão, acima do diafragma, da junção entre o esófago e o estômago e uma porção do estômago, que estão normalmente localizadas abaixo do diafragma. Tratamento – Operação de Nissen - Colocar o esófago intra-abdominal; - Aproximar os pilares do diafragma; - Reduzir a hérnia hiatal; - Efetuar a fundoplicação. Na hérnia do hiato paraesofágica, a junção entre o esófago e o estômago encontra-se no local normal, abaixo do diafragma, mas uma porção do estômago é empurrada para cima, atravessa o diafragma, e localiza-se ao lado do esófago. Estenoses esofágicas – estreitamento anormal de um orifício Etiologia: 1. Péptica; 1. Caustica; 1. Pós-cirúrgica; 1. Pós-radioterapia; 1. Tumoral. Tratamento: 1. Velas de mercúrio; 1. Dilatador de Eder-Puestow; 1. Dilatador de balão; Refluxo gastroesofágico Corresponde à passagem de conteúdo gástrico para o esófago, caracteriza-se por sintomas clinicamente relevantes e/ou lesões esofágicas relacionadas com esse refluxo. Sintomas mais frequentes: 1. Queimor retrosternal ou pirose – é descrita como uma sensação d ardor estroesternal, que ocorre tipicamente no período pós-pandrial, especialmente quando o paciente se inclina após uma refeição abundante e rica em gordura; 1. Regurgitação – é a expulsão pela boca de conteúdo esofágico ou gástrico. Diferencia-se do vómito uma vez que não está associada a náuseas, nem a contratura abdominal. Sintomas menos frequentes: 1. Dor torácica; 1. Rouquidão; 1. Tosse; 1. Asma; 1. Erosão gengival; 1. Odinofagia. Pirose Alimentos: - Chocolate; - Sumo de laranja; - Menta; - Gorduras. Medicamentos: - Teofilina; - Antagonistas dos canais de cálcio; - Beta2- adrenérgicos; - Derivados nitrogenados; - Anticolinérgicos; - Antiparkinsónicos; - Benzodiazepinas. Raio X Endoscopia pH Manometria Disfagia +++ ++ - + Lesão Mucosa + +++ - - Quantificação do refluxo + - +++ - Sintomas atípicos + + +++ - Esofagite – classificação Tipo A Mucosa congestionada e com vascularização acentuada. Tipo B Lesões erosivas e exsudativas que se desenvolvem em paralelo com o eixo longitudinal; Tipo C Lesões ulceradas, exsudativas e hemorrágicas, separadas ou confluindo para a porção distal do esófago e estenoses. Esófago de Barrett (Metaplasia da mucosa). Tratamento Modificação dos hábitos alimentares e do estilo de vida 1. Dieta pobre em gorduras; 1. Refeições pequenas; 1. Evitar o decúbito dorsal a seguir às refeições; 1. Evitar os movimentos de flexão do tronco a seguir às refeições; 1. Dormir com o leito em plano inclinado no dorso, tendo como altura máxima na cabeça cerca de 20 cm; 1. Diminuir a ingestão de álcool; 1. Evitar o tabaco. Esofagite – Cura em 8 semanas Medicamento Eliminação dos sintomas Antigénio RH2 – 150 mg x2/dia 50% Antigénio RH2 + Procinético 60% Antigénio RH2 maior 70% Inibidores da Bomba de protões 90% Cancro do esófago Hematémeses é sinónimo de vómito hemático. O vomito pode ser de sangue vivo ou escuro, de acordo com o caráter recente ou mais antigo do evento. A degradação de hemoglobina pelo ácido gástrico, nos casos em que o sangue permanece algum tempo no lúmen gástrico, dá o típico aspeto do vómito tipo “borra de café”. Melenas é a expulsão pelo ânus de fezes de cor negra, tipo alcatrão, muito aderentes e de cheiro desagradável. A coloração negra da melena deve-se à degradação bacteriana do sangue, com formação de hematina. Patologia do estômago e duodeno Dispepsia é a sensação de dor ou desconforto na parte superior do abdómen Causas dos sintomas: 1. Úlcera peptídica; 1. Refluxo gastroesofágico (DRGE); 1. DRGE não erosivo; 1. Neoplasia gástrica; 1. Dispepsia funcional. Gastrite: - Autoimune; - Infeciosa (ex.: helicobacter pylorii); - Química (ex.: antiflamatórios, bile). Possível evolução da Gastrite Crónica com infeção persistente e inflamação por Helicobacter Pylori Gastrite crónica superficial: - Linfoma gástrico (MALT); - Úlcera péptica; - Adenocarcinoma gástrico. Mucosa gástrica normal (infetada por H. Pylori) – Gastrite crónica – Gastrite atrófica – Metaplasia intestinal – Displasia – Adenocarcinoma gástrico Úlcera péptica pode dividir-se em úlcera gástrica e úlcera duodenal. Epidemiologia da Úlcera Péptica Incidência global – 3 a 10% da população; Relação H/M – Úlcera duodenal – 4:1; Úlcera gástrica – 2:1 Úlcera duodenal/úlcera gástrica – 4 – 5:1; Estação do ano: Predomínio – Primavera e Outono. Equilíbrio Fisiológico do Meio Gastroduodenal Fatores Agressores: 1. Ácido clorídrico; 1. Pepsina; 1. Refluxo Biliar. Fatores Protetores: 1. Muco; 1. Renovação epitelial; 1. Impermeabilidade. Classificação de Johnson – úlcera gástrica Variações de secreção gástrica Os indivíduos com úlcera do tipo III apresenta, níveis mais elevados de secreção gástrica, seguidos pelos de tipo II, indivíduos de controlo e tipo I. Diagnósticos – úlcera 1. Diagnóstico radiológico; 1. Biopsia. Úlcera duodenal – mais fatores agressores do que protetores 1. Redonda; 1. Estrelada; 1. Linear; 1. Salame. Tratamento médico Repouso físico - Internamento (se necessário); - Ambulatório. Dieta - Álcool – não; - Tabaco – não; - Café e/ou chá – não. Devem ser ingeridos alimentos de digestão e evacuação gástrica fáceis. Nunca se encontrou em nenhum tipo de dieta a capacidade de modificar a evolução da doença ulcerosa. Assim: - É melhor deixar para o doente o critério da sua dieta; - Não desmoralizar o doente com dietas pouco apetitosas; - A dieta na terapêutica da úlcera pode desviar a atenção para medidas mais eficazes. Convencional - Eliminação de agentes ulcerogénicos e/ou agressivos;- Refeições regulares; - Repouso; - Antiácidos; - Inibidores de secreção; - Ansiolíticos e/ou antidepressivos. Ação sobre: - Sistema nervoso central (ansiolíticos e antidepressivos); - Mucosa gástrica; - Esvaziamento gástrico; - Secreção gástrica. Ação sobre a mucosa gástrica: Sucralfato – ação - Forma complexos com as proteínas da úlcera, elaborando uma película aderente protetora; - Impede a retrodifusão dos H+; - Liga-se à pepsina e aos sais biliares, inibindo a sua ação; - Efeitos colaterais – obstipação. Ação sobre o esvaziamento gástrico: - Metoclopramida; - Domperidona. Ação sobre a secreção gástrica: Neutralizadores: - Antiácidos. Inibidores - Inibidores dos recetores de H2 (Ranitidina); - Inibidores da bomba de protões (Omeprazol, Lanzoprazol, Pantoprazol, Rabeprazol, Esomeprazol). Ação sobre a irradicação da Helicobacter Pylorii: Antibioterapia 1. Amoxilina – 1g de 12h em 12h; 1. Claritromicina – 500 mg de 8h em 8h; 1. Metronidazol – 500 mg de 8h em 8h; 1. Ciprofloxacina – 500 mg de 8h em 8h. Úlcera gástrica refratária - Recorrência no 1º ano; - Persistência após 4 meses de tratamento ativo; - Exacerbação clínica e endoscópica repetida. Cirurgia Gástrica e Duodenal Preparação Pré-Operatória 1. Banho higiénico; 1. Tricotomia da parede abdominal, desde a raiz das coxas até acima do apêndice xifoide; 1. Lavar esta área, se possível com um antisséptico e protegê-la; 1. Se não existirem contraindicações, introduzir uma sonda nasogástrica até ao estômago e coloca.la em drenagem contínua. Fixá-la ao nariz; 1. Se não existirem contraindicações, algaliar o doente, ligando a algália a um saco coletor de urina; 1. Duas horas antes da intervenção, colocar uma solução polieletrolítica em perfusão endovenosa, no braço contra lateral aquele que ficará o cirurgião; 1. Administrar o antibiótico prescrito á hora indicada pelo cirurgião. Anastomose gastroduodenal Anastomoses gastrenterais Cirurgia duodenal Cirurgia do Cancro gástrico - Gastrectomia total; - Gastrectomia total com esofagojejunostomia terminolateral com ansa em Y de Roux. Patologia do Intestino Delgado Diarreia Aumento da quantidade de dejeções diárias e/ou aumento da quantidade de matéria fecal do intestino delgado. Diarreia do intestino delgado – aumento da quantidade de vezes; Diarreia do cólon – aumento da frequência de dejeções. Etiologia da Diarreia – Infeções Protozoários: - Giardia Lamblia; - Entamoeba Histolytica. Parasitoses. Bactérias; - Salmonella; - Shigella; - Campulobacter; - Mycobacterium tuberculosis; - Clostridium difficile Diagnóstico 1. Exame bacteriológico de fezes; 1. Rectorragias e/ou tenesmo; - Colonoscopia com biópsia da mucosa; - Exame cultural de tecido retal. Se a diarreia e perda de peso persistir: 1. Endoscopia digestiva alta com: - Aspiração de secreções para a pesquisa de Parasitas e exame cultural bacteriológico. Tratamento - Antimicrobianos específicos; - Antidiarreicos: Lomotil e opiáceos; - Hidratação; - Suporte nutricional. Parasitoses Enterobius Vermiculares (Oxiúro) Os minúsculos ovos do oxiúro podem ser transportados para a roupa da cama e para o chão onde se misturam com o pó. Os mesmos podem contaminar os dedos (especialmente devido ao coçar da região perineal) ou ser transportados pelo pó da cada, inalados e deglutidos. O ciclo de vida do oxiúro e bastante simples mas pode levar a infestações crónicas (familiares, escolares ou comunitárias). Sintomas: - Prurido anal; - Irritabilidade e cansaço; - Dificuldade em dormir – pesadelos; - Anorexia; - Ranger dos dentes. Taenia saginata e taenia solium A vaca ou o porco ingerem os ovos da ténia que se encontram nos pastos. Os ovos desenvolvem-se no intestino, as larvas entram na corrente sanguínea penetrando nos músculos e tecidos do animal desenvolvendo-se em quistos. O homem infesta-se ao comer carne de porco ou vaca malcozinhada, contendo quistos. Os quistos medem cerca de 5 mm e podem ser vistos na carne sob a forma de pontos brancos. Sintomas - Segmentos de ténia nas vezes; - Prurido na região perineal; - Perda de peso; - Perturbações intestinais e dor; - Devido ao seu tamanho, o verme adulto pode causar obstrução intestinal. Divertículo de Meckel É uma protuberância semelhante a uma pequena bolsa que sai da parede do intestino delgado e que está presente em algumas crianças desde o. nascimento. Oclusão intestinal Balanço diário de fluidos intestinais - Alimentação – 1.500 ml - Saliva – 1.500 ml - Secreção gástrica – 1.500 ml - Secreção pancreática – 1.500 ml - Secreção biliar – 1.500 ml - Secreção duodenal – 500 ml Total – 7.500 ml Absorção – 7.000 ml Obstrução do lume intestinal O aumento do peristaltismo e da secreção leva à distensão progressiva, que por sua vez desencadeia um edema da parede intestinal que tem como consequência a desidratação (hipocloremia, alcalose metabólica e hipocalimia), causada anteriormente também pela transdução abdominal e vómitos. Se a desidratação não for tratada pode levar a choque. Exames Complementares de Diagnóstico - Radiografia abdominal simples de pé, de face e perfil; - Radiografia abdominal em decúbito dorsal, com incidência lateral; - Radiografia pulmonar de pé, face e perfil. Exames Complementares Sangue - Hemograma: Hematócrito, hemoglobina/100 ml; - Doseamento de ureia e/ou creatinina; - Ionograma (Na+, K+, Cl-) Urina - Densidade Diagnóstico Diferencial Ílio paralítico Oclusão intestinal Dor abdominal Mínima Intensa Náuseas e vómitos + + Paragem de gases e fezes + + Distensão abdominal + + Ruídos intestinais - ++ Tratamento Pré-operatório 1. Correção do desequilíbrio hidroeletrolítico; 1. Intubação nasogástrica em drenagem permanente; 1. Algaliação em drenagem permanente controlada; 1. Antibioterapia profilática para Gram e Anaeróbios. Cirurgia - Remoção da causa de obstrução (brida, tumor, etc.); - Ressecação da ansa intestinal por necrose, gangrena, tumor etc. Taxa de mortalidade – 1 a 30% Cirurgia do Intestino delgado Enterotomia Diérese e abertura do intestino delgado para: - Exploração; - Retrair um corpo estranho; - Ressecar um tumor; - Fazer a ligação a outro segmento do tubo digestivo. Ressecção de um segmento do intestino delgado: - Jejunctomia; - Ilectomia. Indicações - Feridas extensas que comprometem uma parte da parede intestinal ou da circulação; - Doenças inflamatórias do intestino; - Gangrenas ou esfacelos por estrangulamento, enfarte ou torsão; - Tumores; - Divertículos. Enteroanastomoses Indicações: - Complemento de enterectomia; - By-pass (paliativa, hiperlipemia, obesidade mórbida); - Interposição de ansa 8isoperistáltica, ansioperistáltica) Exemplos de cirurgias: - Jejunostomias laterais; Complicações – incontinência, oclusão intestinal e peritonite. - Ileostomia terminal incontinente (Sequela, maceração da pele adjacente); Doença de Crohn ou colite granulomatosa Envolvimento transmural por processo inflamatório com lesão da mucosa, presença de granulomas e fissuras com formação de fístulas. Epidemiologia - Mais elevada em países ocidentais; - Idade > 10 anos; - Mais elevado no sexo feminino; - Mais elevado na raça branca; - Mais elevado em fumadores. Quadro clínico Surtos de: - Diarreia; - Febre; - Dor abdominal; - Períodos de Stress; - Anemia por perdas de sangue oculto nas fezes. image4.jpeg image5.jpeg image1.png image2.jpeg image3.jpeg