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Inventário e planejamento sucessório Prof. Gilberto Fachetti Silvestre Profa. Bruna Figueira Marchiori false Descrição Abordagem conceitual e prática de institutos fundamentais do Direito de Sucessão e seus impactos patrimoniais mais importantes nas relações familiares no Brasil. Propósito Essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande viés prático e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas. Preparação Tenha o Código Civil e o Código de Processo Civil atualizados em mãos, pois você precisará consultá-los para compreender como é a disciplina jurídica da matéria. Objetivos Módulo 1 Procedimentos de inventário Reconhecer os procedimentos de inventário. Módulo 2 Regimes de partilha Identificar os regimes da partilha. Módulo 3 Principais formas de planejamento sucessório Analisar as principais formas de planejamento sucessório. A aquisição da propriedade está na base do direito sucessório sobre a herança e tem importância nas entidades familiares, célula da sociedade. Daí a importância de compreender em detalhes como se dá a divisão da herança entre os herdeiros e, também, quais são as suas características, pois as consequências sociais e jurídicas que podem advir dessas situações servem de campo fértil para o desenvolvimento profissional do aluno que está sendo formado. O regime jurídico da sucessão implica uma consequência prática e em alguns conceitos próprios e peculiares que permitem melhor compreender como funcionam as formas de aquisição do direito de herança e como problemas deles decorrentes devem ser resolvidos. Introdução 1 - Procedimentos de inventário Ao �nal deste módulo, esperamos que você reconheça os procedimentos de inventário. O inventário De�nição de inventário Morto o autor da herança (o de cujus) abre-se a sucessão (saisine). Por ela, a herança é transmitida desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários. Porém, os herdeiros recebem quotas sobre a herança, e não bens específicos, como ocorre no legado. O conjunto de bens, créditos e dívidas deixados pelo de cujus constitui o chamado espólio. É o espólio que passa a agir nas posições antes ocupadas pelo morto. Mas não basta receber a quota; é preciso averiguar: Quem são, de fato, os herdeiros (legítimos e testamentários). Assim, aqui se pretende apresentar conceitos e demonstrar como eles se aplicam para a solução de problemas que resultam dos danos decorrentes de inventários e partilhas malconduzidos. Quais bens foram deixados pelo de cujus e que constituem a herança. Quais as dívidas que o de cujus deixou e pagá-las. Qual pessoa (chamada inventariante) administrará, representará o espólio e coordenará o processo até a partilha, quando os herdeiros receberão bens de acordo com sua quota. Esse procedimento é o inventário, o qual pode ser judicial ou extrajudicial (feito em cartório). Assim, inventário é o processo destinado a levantar os ativos (bens e créditos) e os passivos (dívidas) que o de cujus deixou. Um inventário deve ser instaurado dentro de dois meses (ou 60 dias), a contar da abertura da sucessão. Deve terminar nos 12 meses subsequentes. Se for um inventário judicial e este prazo for insuficiente, o juiz pode prorrogar esses prazos. O atraso no início do inventário é punido com a aplicação de multas: Multa de 10% sobre o valor do ITCMD Se o inventário judicial ou extrajudicial não for aberto dentro de 60 dias, contados a partir da data da abertura da sucessão (falecimento). Multa de 20% sobre o valor calculado do ITCMD Caso o inventário (judicial ou extrajudicial) não tiver iniciado em até 180 dias, contados a partir da data da abertura da sucessão. Saiba mais ITCMD é a sigla para Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens e Direitos. Se o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a mil salários mínimos, então, o inventário será processado na forma de arrolamento comum. No arrolamento, cabe ao inventariante apresentar, por simples declaração sua, a atribuição de valor aos bens do espólio e qual é o plano da partilha. Veja que o arrolamento, nos casos de herança com valor de menor monta, simplifica a fase de inventário, sendo realizado com menos complexidade, ou seja, simplifica os atos. Estando adequado o arrolamento e não sofrendo qualquer impugnação e provada a quitação dos tributos relativos à herança e às rendas, passa- se diretamente à partilha dos bens. O requerimento de inventário e de partilha pode ser feito por quem estiver na posse e na administração do espólio, no prazo estabelecido. Obviamente, o requerimento deverá conter a certidão de óbito do autor da herança. Além da legitimidade do administrador, também há a legitimidade de outras pessoas para requerer a abertura do inventário. São os seguintes: O cônjuge ou o companheiro supérstite do de cujus (obs.: supérstite é aquele que sobreviveu ao de cujus). Qualquer um dos herdeiros ou todos eles em conjunto. O legatário (pessoa que não recebe quota da herança, mas um bem específico do patrimônio deixado pelo de cujus). O herdeiro testamenteiro (instituído em testamento). O cessionário do herdeiro ou do legatário (obs.: cessionário é a pessoa que adquiriu o direito de herança do herdeiro, ou seja, adquiriu sua quota, ou que adquiriu o bem que estava destinado ao legatário; herdeiro e legatário podem alienar/ceder seus direitos a terceiros). O credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança, para ter garantia de receber sua dívida. O Ministério Público, atuando em favor de herdeiros incapazes. A Fazenda Pública, quando tiver interesse, ou seja, o município da herança ou o Distrito Federal, pois se houver herança jacente, esses entes podem receber a herança vacante, caso não apareçam herdeiros. O administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite, como forma de garantir o pagamento da sua dívida. Todos os bens, ativos e passivos deixados pelo de cujus devem ser levados ao inventário. Não podem ser omitidos. A omissão de bens a serem inventariados constitui a sonegação ou os sonegados. O herdeiro sonega bens da herança quando: Não os descreve no inventário, quando estejam em seu poder. Consente que outra pessoa que está com os bens não os descreva. Omite na colação a que os deva levar. Deixa de restituí-los, quando os têm em sua posse. Praticando sonegação, o herdeiro perderá o direito que teria sobre os bens sonegados. Essa é a chamada pena de sonegados. A pena de sonegados só se pode requerer e impor em ação judicial proposta com este fim pelos herdeiros ou pelos credores da herança. Além disso, supondo que os bens sonegados não possam ser restituídos, pois o sonegador, por exemplo, não os têm mais em seu poder, então o herdeiro sonegador pagará ao espólio (para ser distribuído aos demais herdeiros) os valores dos bens que ocultou, mais perdas e danos. Os tipos de inventário Classi�cação de inventário No Brasil, um inventário pode ser: Judicial Extrajudicial Espécies de inventário Conheça a seguir as diferentes espécies de inventário. Inventário judicial O inventário judicial pode, ainda, ser dividido em três procedimentos: Arrolamento sumário Arrolamento comum Ação de inventário Vamos desmembrar cada um desses procedimentos: A partilha amigável, celebrada entre herdeiros capazes e que depende apenas de uma homologação de plano (simples) pelo juiz. Esse arrolamento independe de valores, pois exige, apenas, que os herdeiros: sejam plenamente capazes; estejam de comum acordo quanto ao inventário e à partilha, ou seja, promovam um inventário amigável. Não se procede avaliação dos bens do espólio para qualquer finalidade. A simples declaração de valores dos herdeiros na petição do inventário será suficiente. A existência de credores do espólio não impedirá a homologação dapartilha, desde que sejam reservados bens suficientes para o pagamento das dívidas. Arrolamento sumário É um procedimento baseado no valor da herança e não importa se os herdeiros sejam ou não plenamente capazes. Tem lugar quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 salários mínimos. É um procedimento mais simples, cabendo ao inventariante nomeado apresentar, com suas primeiras declarações, o valor que atribui aos bens do espólio e qual o plano da partilha que pretende aplicar. O juiz somente nomeará um avaliador se alguma parte interessada (herdeiro, Fazenda Pública, Ministério Público, credores) impugnar a avaliação feita pelo inventariante. Para todos os casos em que não cabe o arrolamento sumário ou o arrolamento comum. Trata-se de um procedimento mais formal e demorado, com várias fases. Enquanto os arrolamentos são conduzidos pelas próprias partes, atuando o juiz como um fiscalizador e um homologador, no inventário é o juiz quem conduz as fases do processo e determina a prática dos atos. A ação de inventário caberá quando houver: testamento (ver decisão do STJ mais a frente no conteúdo); herdeiro incapaz; credor incapaz do de cujus; discordância entre os herdeiros; impugnação de valores; ou valores de grande monta. Inventário extrajudicial Mas se todos os herdeiros forem plenamente capazes e estiverem de acordo quanto a todos os elementos do inventário, então o inventário e a partilha não precisarão ser feitos na via judicial, por arrolamento ou ação de inventário e partilha. Trata-se do chamado inventário Arrolamento comum Ação de inventário extrajudicial, pelo qual o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, ou seja, em um cartório (logo, por um tabelião). A escritura pública de inventário e partilha é documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras. Assim, com a escritura pública o herdeiro poderá transferir um imóvel do de cujus para seu nome junto ao Registro Geral de Imóveis. Para o tabelião lavrar a escritura pública, os seguintes requisitos devem ser atendidos: Como é feito fora das vias judiciais em um órgão público (cartório), diz- se que o inventário extrajudicial é aquele feito na via administrativa. Foi criado pela Lei nº 11.441/2007 e é regulado pela Resolução nº 35/2007, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Existia a dúvida se poderia ser feito um inventário extrajudicial se houvesse testamento. A dúvida era razoável, pois o art. 610 do Código de Processo Civil diz: “Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”. Ou seja, se houvesse testamento, o inventário deveria ser judicial. Pagamento dos impostos Todos os herdeiros e demais interessados assistidos por advogado ou por defensor público Todos os herdeiros são plenamente capazes Não há divergências entre os herdeiros quanto à inventariação e à partilha O Código Civil, por sua vez, no art. 2.015, diz que se os herdeiros forem capazes, poderão fazer “partilha amigável” por escritura pública (inventário extrajudicial) ou termo nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz. Em 2019 a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que: “uma leitura sistemática do caput e do § 1° do art. 610 do CPC/2015, c/c os arts. 2.015 e 2.016 do CC/2002, mostra-se possível o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se os interessados forem capazes e concordes e estiverem assistidos por advogado, desde que o testamento tenha sido previamente registrado judicialmente ou haja a expressa autorização do juízo competente” (STJ, Recurso Especial nº 1.808.767/RJ, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2019). Assim, para o Superior Tribunal de Justiça, é possível um inventário extrajudicial quando há testamento do de cujus, desde que os herdeiros sejam maiores, capazes e estejam de acordo quanto à partilha, além de devidamente acompanhados de seus advogados. O passo a passo de um inventário extrajudicial pode variar de acordo com o entendimento de cada tabelião, mas, basicamente, estas são as suas fases: Contratação de advogado: pode ser um advogado em comum para todos os herdeiros, ou advogados diferentes, se um herdeiro quiser ser assistido por d d d f ê i ã seu advogado de preferência; na procuração, o advogado pode receber poderes especiais para nomear o inventariante. Escolha do cartório de notas onde tramitará o inventário e será lavrada a escritura pública: esse cartório pode ser qualquer um do país que tenha competência notarial (cartório de notas); não precisa ser cartório do último domicílio do de cujus nem da localização dos bens imóveis. Nomeação do inventariante. Inventariação dos bens: é a elaboração de documento com o levantamento de todos os bens e dívidas deixadas pelo de cujus; são as primeiras declarações do inventariante. Pagamento das dívidas aos credores. Avaliação dos bens por órgão público, se necessária. Mesmo optando pelo inventário extrajudicial, será necessário que os herdeiros obtenham autorização judicial (o chamado “alvará”) para levantar dinheiro depositado em banco ou outra instituição (FGTS, por exemplo) ou vender algum bem. Existe, ainda, a figura do inventário negativo, que não tem previsão, mas é praticado no dia a dia. Ele tem lugar quando o de cujus não deixa bens a partilhar e consiste no comparecimento daqueles que herdariam algo (se houvesse) perante o juízo para declararem que o de cujus não deixou bens. Podem comparecer, ainda, perante o tabelião, para lavratura de escritura pública. O objetivo é obter uma certidão judicial ou extrajudicial de inexistência de bens a serem inventariados e partilhados. Saiba mais Esse inventário não é obrigatório, de modo que não haverá cobrança de multa se não for apresentado em até 60 dias após a morte do de cujus. É uma faculdade das pessoas interessadas para, talvez, precaverem-se de problemas futuros. Pagamento do imposto (ITCMD). Confecção da escritura pública do inventário pelo tabelião. Assinatura da escritura pública. Pagamento do valor da escritura ao tabelião. O inventariante Requerida a abertura do inventário, será nomeado o inventariante, que é a pessoa responsável por administrar e por representar o espólio. Sua função dura até a realização da partilha, quando são atribuídos os bens que cabem aos herdeiros ou legatários. Além disso, o inventariante é responsável pela inventariação (identificação, levantamento), arrolamento, avaliação, administração e partilha dos bens da herança. O inventariante é nomeado: No inventário judicial Pelo juiz. No inventário extrajudicial Pelos herdeiros. Saiba mais No inventário extrajudicial, além da nomeação ser realizada pelos herdeiros, também pode ser feita pelo advogado do inventário, caso este tenha recebido poderes na procuração para nomear o inventariante. No caso do inventário judicial, o juiz nomeará o inventariante a partir da seguinte ordem de preferência: O cônjuge ou o companheiro sobrevivente, desde que este não estivesse separado de fato ou judicialmente do de cujus à época da abertura da sucessão, ou seja, desde que o de cujus e seu cônjuge ou seu companheiro estivessem convivendo um com o outro ao tempo da morte do de cujus. O herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados (exemplo: o filho que morava com o de cujus ou trabalhava junto deste). Qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio. O representante legal do herdeiro menor. O herdeiro testamenteiro. O cessionário do herdeiro ou do legatário. O inventariante judicial, se houver, que é uma pessoa nomeada previamente pelo juiz para dar início ao processo de inventário. Um terceiro (pessoa estranhaidônea), quando não houver inventariante judicial (é o chamado inventariante dativo). Ao ser informado da nomeação para ser inventariante e aceitá-la, o inventariante prestará um compromisso de bem e fielmente desempenhar sua função. Esse compromisso deve ser prestado em até cinco dias após o inventariante tomar ciência de sua nomeação. São poderes e deveres do inventariante: Representar o espólio em processos judiciais nos quais o espólio seja autor (ativamente) ou réu (passivamente). Representar o espólio em processos administrativos. Representar o espólio em situações extrajudiciais e não administrativas. Administrar o espólio, cuidando dos bens com a mesma diligência que teria se seus fossem. Prestar as primeiras e as últimas declarações, pessoalmente ou por procurador. Exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame pelos herdeiros, os documentos relativos ao espólio. Juntar a certidão do testamento, se houver. Trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro renunciante ou excluído. Prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar. Requerer a declaração de insolvência, ou seja, uma declaração de que os bens do espólio são insuficientes para pagar todas as dívidas deixadas pelo de cujus. Alienar bens de qualquer espécie do espólio, ouvidos os herdeiros e demais interessados e com autorização do juiz. Transigir (negociar dívidas, por exemplo) em juízo ou fora dele, ouvidos os herdeiros e demais interessados e com autorização do juiz. Pagar dívidas do espólio, ouvidos os herdeiros e demais interessados e com autorização do juiz. Fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio, ouvidos os herdeiros e demais interessados e com autorização do juiz. As primeiras declarações Em até 20 dias após prestar o compromisso, o inventariante fará as primeiras declarações. Primeiras declarações é o ato no qual haverá o efetivo início do processo de inventário e partilha, pois nele serão identificados o de cujus, seus herdeiros, seu patrimônio etc. Ou seja, primeiras declarações é a identificação da herança e de seu autor. As primeiras declarações são redigidas em documento oficial e conterão: O nome, o estado civil, a idade e o domicílio do autor da herança (de cujus). O dia e o lugar em que faleceu o autor da herança. Se o autor da herança deixou testamento. O nome, o estado civil, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos herdeiros. Se houver cônjuge ou companheiro supérstite, além dos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união estável. A qualidade dos herdeiros (necessários, legítimos, testamentários) e o grau de parentesco com o inventariado. A relação completa e individualizada de todos os bens do espólio e dos bens de outras pessoas que tenham sido encontrados no patrimônio do de cujus. Quanto à relação dos bens que tenham sido encontrados no patrimônio do de cujus informado no último item da lista acima, descrevem-se: Os imóveis, com as suas especificações, local em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam (ex.: penhora judicial ou hipoteca). Os móveis, com suas caracterizações para melhor identificação. Os semoventes (animais), seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais distintivos. O dinheiro, identificando o tipo de moeda e o valor. As joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas, individualizando a qualidade, o peso e a importância. Os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de sociedade, identificando o número, o valor e a data. As dívidas ativas e passivas, indicando as datas, os títulos, a origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores. Os direitos e ações (por exemplo, se o de cujus tinha proposto uma ação de dano moral enquanto vivo, os herdeiros poderão ter o direito de receber a indenização). O valor corrente de cada um dos bens do espólio. As declarações podem ser prestadas mediante petição, assinada por procurador com poderes especiais para isso, no caso, o advogado. Não realizando corretamente as primeiras declarações, ou seja, ocultando informações importantes, o inventariante pratica a chamada sonegação. A sonegação ou os sonegados é quando o herdeiro ou o inventariante omitem informação que deveria ser levada ao inventário. Exemplo: omitem a existência de determinado bem. Mas só se pode arguir sonegação ao inventariante depois de encerrada a descrição dos bens, com a declaração, por ele feita, de não existirem outros bens por inventariar. A função de inventariante não é perpétua. Dura até a partilha ou, então, até ser removido da função pela prática de má-gestão. São causas de remoção do inventariante: Não prestar no prazo legal as primeiras declarações. Não prestar no prazo legal as últimas declarações. Não der andamento regular ao inventário, como praticar atos meramente protelatórios para que o inventário e a partilha não terminem em tempo hábil. Deixar se deteriorarem bens do espólio. Deixar que o patrimônio do de cujus seja dilapidado. Deixar que os bens do espólio sofram dano. Não defender o espólio nas ações judiciais em que for citado. Não cobrar dívidas ativas. Não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos. Não prestar contas ou, se as que prestar, não forem julgadas boas. Sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio. O inventariante removido deverá entregar imediatamente os bens do espólio ao substituto. Se não os entregar, o juiz determinará a busca e apreensão (bens móveis) ou a imissão na posse (bens imóveis). Além disso, pode ser aplicada uma multa, a ser fixada pelo juiz, de até 3% do valor dos bens inventariados. Outros aspectos procedimentais Avaliação dos bens e pagamento de dívidas Após o levantamento dos bens pelo inventariante, passa-se à fase de avaliação desses bens. A avaliação consiste em atribuir a um perito ou a um representante da Fazenda Pública a tarefa de atribuir valores pecuniários de mercado aos bens que compõem a herança. Também devem ser avaliadas as quotas sociais em empresas, as ações de mercado e a apuração dos haveres (dívidas). No inventário extrajudicial, esse avaliador é funcionário de algum ente público ou um perito contratado em comum acordo pelos herdeiros. A partir disso, as etapas são as seguintes: Se todos os herdeiros forem capazes, não será necessária a avaliação se a Fazenda Pública concordar de forma expressa com o valor atribuído aos bens do espólio pelo inventariante nas primeiras declarações. Também não é necessária a avaliação por perito se os herdeiros concordarem com o valor dos bens declarados pela Fazenda Pública. O principal imposto, quando se fala de herança, é o ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens e Direitos), que é de competência dos estados e do Distrito Federal. Sua alíquota varia de estado para estado, pois cada um tem o poder de estipular sua própria alíquota. A alíquota tem variado de 2% a 8% do valor dos bens do espólio. Mas a maioria dos estados estabeleceu a alíquota de 4%. Essa alíquota é cobrada sobre o valor da avaliação dos bens feita pela Fazenda Pública. Exemplo Se uma pessoa deixa um patrimônio de R$100 mil para inventaria e partilhar pelos herdeiros, os herdeiros deverão pagar ITCMD dos bens ao estado em que se localiza no valor de R$4 mil (supondo que a alíquota do ITCMD naquele estado seja de 4%). E mais: caso o ITCMD não seja pago no prazo estabelecido pelo juiz (inventário judicial) ou pelo oficial do registro (inventário extrajudicial), os herdeiros poderão pagar multa no valor de até 20% do valor do imposto, além de juros e outros encargos, a depender do estado que cobra o ITCMD. Somente após pagar as dívidas e impostos é que os herdeiros poderão dividir entre si o remanescente. Assim: 1. Se restar algum valor, é dividido de acordocom as quotas. Aceito o laudo, o inventariante entregará o termo de últimas declarações. Nesse termo, o inventariante poderá emendar, adicionar ou completar as informações que prestou nas primeiras declarações, quando deu início ao inventário. Se ninguém impugnar as últimas declarações, passa-se ao cálculo dos tributos que incidem sobre a herança. Os impostos não são da herança, mas dos herdeiros. Obviamente, os herdeiros podem reservar parte da herança para pagamento dos impostos, mas eles são devidos pelos herdeiros. 2. Se o ativo for todo utilizado para pagar as dívidas, nada será partilhado. 3. Se o passivo for superior ao ativo, o ativo é utilizado para o pagamento das dívidas e os credores ficarão no prejuízo, pois os herdeiros não são juridicamente obrigados a pagar as dívidas do de cujus (podem pagar por uma obrigação moral, mas não jurídica). A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido. Antes de iniciada a partilha, poderão os credores do espólio requerer o pagamento das dívidas vencidas e exigíveis. Dívidas vencidas são aquelas que já deveriam ter sido pagas; dívidas exigíveis são aquelas que não prescreveram durante a vida do autor da herança. Havendo concordância entre os herdeiros e os credores, os herdeiros irão separar dinheiro ou, na falta deste, bens suficientes para o pagamento, tantos quantos forem necessários para o pagamento dos credores. Se o inventário for judicial, o juiz mandará alienar os bens e o dinheiro da alienação será utilizado para o pagamento dos credores. Mas o credor, se os herdeiros concordarem, pode optar que, em vez de serem vendidos, os bens sejam reservados para o pagamento da dívida, e entregue o dinheiro, sejam os bens transferidos para tornarem-se de propriedade do credor. Não havendo concordância entre credores e herdeiros sobre o pagamento da dívida, a questão será resolvida nas vias judiciais, visando à condenação judicial. O juiz mandará reservar bens suficientes para pagar o credor ao final do processo, que ficarão em poder do inventariante. Quanto ao credor de dívidas líquidas e certas ainda não vencida, ou seja, aquelas cujo objeto da prestação e os valores patrimoniais já estão predeterminados e não geram dúvidas, mas ainda não se pode exigir seu pagamento, pode ele requerer habilitação no inventário, ou seja, participará do procedimento de inventário para assegurar a reserva de bens e de dinheiro para o pagamento da sua dívida, quando esta vencer. Haverá a separação de bens para o futuro pagamento. Aplicando o conhecimento A fim de entendermos a relevância prática de um procedimento de inventário bem-feito e de sabermos identificar suas diferentes espécies, vamos analisar um case para aprofundarmos os estudos. Rodrigo foi, por 20 anos, casado com Patrícia. Da união, nasceram Lucas e Felipe. Quando os dois filhos atingiram a maioridade, Rodrigo e Patrícia, entendendo que o casamento não ia bem resolveram se divorciar. Apesar de dolorosa, a separação, ocorrida em janeiro de 2019, deu-se de forma amigável e, por isso, foi realizada extrajudicialmente. Rodrigo decidiu que nunca mais se casaria de novo e resolveu aproveitar ao máximo a vida, já que, além de divorciado, também estava aposentado e não possuía filhos menores para cuidar. Dois anos após o divórcio, Rodrigo sofreu um acidente em um passeio de lancha em sua viagem a Porto de Galinhas e, não suportando os ferimentos, veio a óbito. Lucas e Felipe, os únicos herdeiros legais do pai, decidem que não vão deixar esse momento de luto ainda mais difícil de lidar e, por isso, vão consensualmente realizar o inventário de Rodrigo. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Questão 1 A partir das informações apresentadas pelo enunciado, é possível dizer que o inventário de Rodrigo: Parabéns! A alternativa C está correta. São requisitos para o inventário extrajudicial: i) se herdeiros forem plenamente capazes; ii) que estejam de acordo quanto a todos os elementos do inventário e iii) que sejam representados por, pelo A apenas poderá ser realizado judicialmente, visto que, diferentemente do que ocorre com o divórcio, o casamento não pode ser realizado em cartório. B poderá ser realizado de forma judicial ou extrajudicial; todavia, se feito de forma extrajudicial, deverá ser realizado em Porto de Galinhas ou no Rio de Janeiro, visto que esses locais são, respectivamente, o local do óbito e último domicílio do de cujus. C poderá ser realizado extrajudicialmente pelos irmãos, e a escritura pública lavrada representará documento hábil para o levantamento dos valores depositados nas contas bancárias do de cujus. D poderá ser realizado de forma extrajudicial, mas ainda que haja consenso entre os irmãos, é necessário que cada um deles seja representado por um advogado diferente. E poderá ser realizado em cartório, se os irmãos quiserem. Todavia, depois eles deverão homologar judicialmente o inventário, para que ele produza efeito. menos, um advogado. Além disso, a escritura pública de inventário extrajudicial é título hábil para levantamento de valores em instituições financeiras. Questão 2 Supondo que Rodrigo tivesse deixado um inventário, no qual legava bens para a ex-esposa. Seria correto dizer que: Parabéns! A alternativa A está correta. Segundo decisão do STJ, no bojo do Recurso Especial 1.808.767/RJ, não haveria óbice ao inventário extrajudicial, ainda que Rodrigo tivesse deixado testamento. Nesse sentido, conforme dispôs o STJ, a partir de uma leitura sistemática do caput e do § 1º do art. 610 do CPC/15, c/c os arts. 2015 e 2016 do CC/02, o inventário extrajudicial é possível, mesmo que exista testamento, se os interessados forem capazes, concordarem e estiverem assistidos por advogado. Além disso, é A ainda assim seria possível que o inventário fosse realizado de forma extrajudicial. B não seria possível a realização do inventário extrajudicial, visto que, se há um testamento, o inventário deve ser realizado de forma judicial. C ele poderia ser realizado extrajudicialmente apenas se o testamento expressamente autorizasse. D ainda que seja possível o inventário extrajudicial, é necessário que previamente sejam cumpridas judicialmente das disposições testamentárias deixadas por Rodrigo. E o inventário poderia ocorrer de forma extrajudicial se Patrícia renunciasse o cumprimento judicial do inventário. necessário o testamento tenha sido registrado judicialmente ou haja a expressa autorização do juízo competente. Questão 3 Suponha que os herdeiros tenham decidido, consensualmente, realizar o inventário judicial, por meio de arrolamento sumário. Após a apresentação de partilha por Lucas, inventariante, o juízo exigiu a apresentação da prova de quitação do imposto de transmissão causa mortis e doação, referente aos bens integrantes do espólio, antes de eventual homologação da partilha. Lucas, discordando da decisão judicial, argumenta que, por haver prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio, o pedido de comprovação do pagamento do imposto de transmissão causa mortis e doação seria indevida. Para ter certeza se sua tese estava correta, ele procura um advogado (você, no caso) para uma consultoria jurídica. Digite sua resposta aqui Chave de resposta A tese de Lucas está correta. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça, sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 1.074), estabelece que, no arrolamento sumário, a homologação da partilha ou da adjudicação, bem como a expedição do formal de partilha e da carta de adjudicação, não depende do prévio recolhimento do imposto sobre transmissão causa mortis e doação (ITCMD). Assim, conforme a decisão do colegiado, é necessário demonstrar o pagamento dos tributos referentes aos bens e às rendas do espólio, conforme estabelecem o artigo 659, parágrafo 2°, do Código de Processo Civil (CPC), e o artigo 192 do Código Tributário Nacional (CTN). Consoantevoto da Ministra relatora, o Código de Processo Civil de 2015, ao disciplinar o arrolamento sumário, transferiu para a esfera administrativa fiscal as questões referentes ao ITCMD. O artigo 659, parágrafo 2°, do diploma processual, ao resgatar a essência simplificada do arrolamento sumário, delegou à esfera administrativa fiscal o lançamento e a cobrança do tributo, postergando a apuração para um momento posterior. Isso não isenta a incidência do imposto, mas permite sua apuração em momento específico. Dessa forma, a decisão do juízo no processo de inventário de Rodrigo não está correta, pois não se alinha ao entendimento firmado em 2022 pelo Superior Tribunal de Justiça. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Se alguém morrer sem deixar ativo patrimonial, os possíveis herdeiros poderão promover Parabéns! A alternativa E está correta. A arrolamento comum. B arrolamento simples. C arrolamento sumário. D ação de inventário e partilha. E inventário negativo. O arrolamento comum e a ação de inventário e partilha se destinam aos casos em que o de cujus deixa patrimônio. Quando não há patrimônio, os herdeiros podem pedir ao juiz que declare a inexistência de bens do de cujus para ser partilhado. Por isso, é um inventário “negativo”, para dizer que o de cujus não deixou bens. Questão 2 Para que os herdeiros utilizem o procedimento do arrolamento comum, a herança deverá ter um valor até Parabéns! A alternativa A está correta. Veja o caput do art. 664 do Código de Processo Civil: “Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 (mil) salários mínimos, o inventário processar-se-á na forma de arrolamento, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente de assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio e o plano da partilha”. A 1.000 salários mínimos. B R$1.000,00. C 10.000 salários mínimos. D R$10.000,00. E R$100.000,00. 2 - Regimes de partilha Ao �nal deste módulo, esperamos que você identi�que os regimes da partilha. Partilha de bens Espécies de partilha Saiba a seguir o que é partilha e quais são as suas espécies. De�nição e espécies de partilha A partilha é a fase final do inventário, quando bens da massa hereditária ou valores pecuniários são divididos e entregues individualmente para cada herdeiro. Com a abertura da sucessão (morte do autor da herança), cada herdeiro (legítimo e testamentário) se torna proprietário de toda a herança. Forma-se um condomínio indivisível, em que todos se tornam proprietários do todo. A partilha existe para, justamente, decidir o que cabe, individualmente, a cada herdeiro sobre o todo da herança. Ao partilhar os bens, será observada a maior igualdade possível quanto ao seu valor, à natureza e à qualidade. Quando não for possível a divisão igualitária de determinado bem, por causa de valores ou da meação, o bem será vendido e o valor será dividido entre os herdeiros. Não haverá partilha, porém, nos casos de inventários: Em que haja somente um herdeiro Não há o que partilhar; então, haverá apenas a adjudicação, ou seja, a transferência de propriedade dos bens do de cujus para o único herdeiro. Em que sejam negativos O de cujus não deixa qualquer bem a ser partilhado. Em que o espólio é insolvente Como todos os bens do espólio serão usados para pagar as dívidas deixadas pelo de cujus, então, não haverá o que dividir (obs.: insolvente significa que há mais dívidas que patrimônio que possa pagar). Em que a decisão dos herdeiros é a de manter o condomínio indivisível Os herdeiros preferem encerrar o inventário e continuar proprietários do todo; deixam para outro momento a realização da partilha definitiva, pois esta não é obrigatória para fins de encerramento do inventário; às vezes, os herdeiros concordam com uma “divisão” de fato, não oficial, por exemplo: a filha ficará residindo no apartamento e o filho morará na casa de praia; neste caso, haverá uma distribuição da posse, e não da propriedade. Existem as seguintes espécies de partilha: Será sempre judicial a partilha, se: os herdeiros divergirem entre si quanto ao inventário e/ou quanto à partilha; se algum dos herdeiros for incapaz. A decisão final da partilha cabe ao juiz, que montará o plano de partilha. É aquela em que concordância dos herdeiros quanto a todos os termos da partilha, sem contestações. É necessário que todos os herdeiros sejam capazes. Essa partilha é feita em: Inventário extrajudicial. Inventário judicial, quando, na ação de inventário e partilha, os herdeiros apresentam escritura pública, termo nos autos do inventário ou escrito particular um plano de partilha, para ser homologado pelo juiz. Essa partilha amigável comporta dois tipos: Por ato inter vivos: o próprio autor da herança, em vida, celebrando um testamento já organiza o plano de partilha que beneficiará seus futuros herdeiros, podendo estabelecer doações e usufruto. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os quinhões hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se o valor dos bens não corresponder às quotas estabelecidas. Desse modo, é válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. Por ato causa mortis: serão os próprios herdeiros que, amigavelmente, elaborarão um plano de partilha dos bens, que será utilizado no inventário extrajudicial ou no Judicial Amigável inventário judicial (neste último caso, devendo ser homologado pelo juiz). Imagine, agora, que, após a partilha, sejam descobertos bens sonegados ou desconhecidos. Nesses casos, deverá ser realizada uma nova partilha, porém, sobre a partilha já realizada. Trata-se da sobrepartilha, que consiste em uma nova divisão dos bens ou a divisão do bem descoberto ou sonegado. Sistematizando, são sujeitos à sobrepartilha os seguintes bens: Sonegados. Descobertos após a partilha, desde que pertencentes à herança. Litigiosos, ou seja, que estavam sendo discutidos judicialmente. Situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o inventário. A sobrepartilha dos bens segue as mesmas regras e procedimento do processo de inventário e de partilha. Inclusive, sendo judicial, a sobrepartilha correrá nos autos do inventário do autor da herança. Uma partilha pode ser anulada por causa da presença de contrariedades com a lei ou por causa de omissões que forem feitas ao juiz. Nesse caso, a partilha poderá ser anulada no prazo de um ano. Colação O que é a colação? Pode ocorrer de, em vida, o autor da herança beneficiar financeiramente ou doar bens para alguém que pode vir a ser seu herdeiro no futuro. Exemplo O pai “dá de presente” (doação) um apartamento para um de seus filhos. Nesses casos, considera-se esses favorecimentos como sendo adiantamento da parte legítima da herança. Quando o doador (autor da herança) falecer, o valor do bem doado deverá ser descontado da quota do herdeiro favorecido. Esse ato é chamado de colação. A colação, assim, é uma obrigação do descendente de conferir o valor das doações que recebeu em vida do seu ascendente, para igualar sua legítima com as legítimas dos outros descendentes. Ainda sobre a colação, faz-se necessário saber que: Não levar o bem à colação é uma forma de sonegação; logo, o herdeiro pode ser punido com a pena de sonegados (multa). Esta também é obrigação dos herdeiros beneficiados (donatários) que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados. A colação tem por fim igualar, proporcionalmente, as legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente. Se, computados os valores das doações feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens suficientes para igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge, o descendente favorecido pela doação deverá restituiro bem. O valor de colação dos bens doados será aquele que constar no instrumento da doação. Contudo, só o valor dos bens doados entrará em colação; não entram os valores das benfeitorias acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro favorecido. Há, porém, uma forma de afastar a colação: são dispensadas da colação as doações que o autor da herança (doador) determinar que sejam consideradas como integrantes da parte disponível. Essa dispensa da colação pode ser feita pelo doador em testamento ou no próprio instrumento de doação. Mas há uma condição para essa exclusão de colação: os valores dos bens doados não podem exceder o valor da parte disponível, calculado com base no valor do bem e da parte disponível na época da doação. Ultrapassando essa parte, ocorrerá a redução, ou seja, o valor excedido da doação deverá retornar aos demais herdeiros. São sujeitas à redução as doações em que se apurar excesso quanto ao que o doador poderia dispor, no momento da doação. A redução é feita por meio da restituição à herança do excesso apurado. Tal restituição deve ser feita em espécie ou, se não mais existir o bem em poder do herdeiro, em dinheiro, segundo o seu valor ao tempo da abertura da sucessão. Mesmo aquele que renunciou a herança ou dela foi excluído, deve levar à colação as doações recebidas, para averiguar se deve repor o que exceder a parte disponível. Não devem ser levados à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente menor de idade. São considerados gastos ordinários: educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento de enfermidades, enxoval. Também estão excluídas as despesas com o casamento dos filhos. Realização da partilha Como é feita a partilha Entre os filhos do de cujus, não há qualquer discriminação na herança quanto à origem, se consanguíneo, adotivo ou socioafetivo. Todos receberão a mesma coisa. Lembre-se do direito de representação, em que netos sucedem na quota do pai pré-morto ao avô. Veja no exemplo a seguir: Toda pessoa tem em seu patrimônio uma parte legítima (50%) e uma parte disponível (50%). A parte legítima é dos filhos e deve, obrigatoriamente, ser reservada aos herdeiros necessários. A parte disponível, por sua vez, pode ser destinada a qualquer pessoa, livremente, em vida ou através de testamento. Pense na seguinte família: o patriarca tem três filhos, João, Maria e Ana. Os três filhos (herdeiros necessários) têm reservada para si a parte legítima. Caso o de cujus não tenha deixado testamento ou legado, a parte disponível será dividida entre esses herdeiros. No caso deste exemplo, porém, o autor da herança deixou a metade da parte disponível para sua filha Maria, o que corresponde a 25% do total da herança. A outra metade da parte disponível é dividida entre todos os herdeiros igualmente, inclusive Maria. Veja como seria a partilha: No caso do cônjuge ou companheiro, a sucessão dependerá do regime de bens. Observe o caso concreto descrito a seguir: João é casado com Maria. Ambos têm dois filhos em comum: Ana e Carlos. João, porém, tem um outro filho do primeiro casamento, Luiz. O patrimônio da família é de R$500 mil. João falece e tem início o inventário e a partilha. Veja agora como seria a partilha, dependendo do regime de bens: Se os cônjuges ou companheiros optaram pelo regime da comunhão universal, então, o cônjuge ou companheiro sobrevivente (supérstite) não é herdeiro, mas meeiro do seu marido ou companheiro. Comunhão universal Assim, a viúva Maria tem direito a R$250 mil, referentes aos 50% a que tem direito como meeira sobre o patrimônio da família. Porém, esse valor não é herança, mas a meação a que tem direito por ser casado na comunhão universal. Os outros R$250 mil, que correspondem à meação de João, é o que constitui sua herança para ser dividida entre seus herdeiros. Então, Ana, Carlos e Luiz irão dividir esses R$250 mil entre si. Neste regime, o cônjuge ou companheiro tem direito à meação sobre o patrimônio comum (se houver) e direito de herança sobre o patrimônio individual do cônjuge ou companheiro morto. No caso contado, imagine que o patrimônio de R$500 mil esteja assim disposto: R$ 300 mil: patrimônio comum (comunhão); R$ 100 mil: patrimônio particular de Maria; R$ 100 mil: patrimônio particular de João. Sobre o patrimônio comum (a chamada comunhão), Maria não é herdeira, mas tem direito à meação, ou seja, tem direito a R$150 mil. A meação que caberia a João será dividida entre seus herdeiros, mas Maria não participa dessa partilha. Já com relação aos R$100 mil que constituem o patrimônio particular de João, esse valor tem como herdeiros Ana, Carlos e Luiz (filhos) e Maria, pois o cônjuge é herdeiro sobre o patrimônio individual do outro. Assim, o patrimônio deixado por João e que constitui sua herança é: Parte 1: R$150 mil referentes à meação; Parte 2: R$100 mil referentes ao patrimônio individual. Os filhos de João serão herdeiros nas Partes 1 e 2; e Maria será herdeira somente sobre a Parte 2. Pelo art. 1.832, em concorrência com os descendentes, caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça. Assim, quanto aos R$100 mil (Parte 1) do patrimônio individual deixado João, tem-se: Maria: R$25 mil; Ana: R$25 mil; Carlos: R$25 mil; Comunhão parcial Luiz: R$25 mil. Já a meação de João (Parte 2, de R$150 mil), sobre a qual Maria não é herdeira e não tem direito, tem-se o seguinte: Ana: R$50 mil; Carlos: R$50 mil; Luiz: R$50 mil. Ao final, cada herdeiro receberá: Maria: R$25 mil + R$150 mil (meação) = R$175 mil (além dos R$100 mil que são seu patrimônio particular e que não estão em discussão); Ana: R$25 mil + R$50 mil = R$75 mil; Carlos: R$25 mil + R$50 mil = R$75 mil; Luiz: R$25 mil + R$50 mil = R$75 mil. Aqui não há patrimônio comum; somente existem os patrimônios individuais dos cônjuges ou companheiros. Nesse caso, o cônjuge ou companheiro será herdeiro sobre o patrimônio individual. No caso acima, imagine que João e Maria sejam casados na separação de bens. Suponha que aquele patrimônio familiar esteja assim dividido: patrimônio individual de João: R$400 mil; patrimônio individual de Maria: R$100 mil. Morto João, os R$ 400 mil do seu patrimônio individual serão herança, a ser distribuída entre seus herdeiros: Maria, Ana, Carlos e Luiz. (Lembre-se: na separação de bens, o cônjuge sobrevivente é herdeiro). Não há meação porque não há patrimônio comum entre João e Maria (por causa do regime de bens). Assim, a partilha da herança de João será esta: Maria: R$100 mil; Ana: R$100 mil; Carlos: R$100 mil; Luiz: R$100 mil. Separação total Participação final dos aquestos Esse regime é híbrido: na constância do casamento ou da união estável, o regime de bens é regido pelas normas da separação total; na dissolução do casamento ou da união estável (morte ou divorciou dissolução), por sua vez, a partilha é disciplinada pelas regras da comunhão parcial. Então, quanto à herança, vigora a mesma sistemática da comunhão parcial, já descrita. O inciso I do art. 1.829 do Código Civil prescreve que os cônjuges ou companheiros cujo regime de bens seja a separação obrigatória não são herdeiros um do outro. Por causa da Súmula nº 377 do Supremo Tribunal Federal, entende-se que este regime tem as nuances do regime da comunhão parcial. Logo, pela súmula, é possível que exista meação. Porém, o cônjuge na separação obrigatória nada recebe na herança. Aplicando o conhecimento A fim de entendermos a relevância prática das espécies de partilha e do conceito de colação, vamos analisar um case para aprofundarmos os estudos. Márcio é viúvo e tem três filhas: Ana, Aline e Amanda. Ele trabalha como contador em uma grande empresa farmacêutica. Quanto aos bens que possui, ele tem um carro, um imóvel avaliado em R$ 500.000,00 e valores financeiros em conta, estimados em R$ 800.000,00. Para auxiliar nos estudos de sua filha mais velha, Ana, que pretendia realizar intercâmbio durante afaculdade de direito, Márcio realizou doação de R$ 50.000,00 para Ana. Desse modo, ela gerenciaria o dinheiro durante seus estudos, além de que seria mais fácil para ela realizar o intercâmbio. Separação obrigatória Porém, para não desagradar as demais filhas, Márcio doou dinheiro para elas comprarem um carro, dando para cada uma o valor de R$ 90.000,00. Assim, cada uma escolheria o carro desejado e ele asseguraria que o valor para ambas seria igual. Quando Ana voltou do intercâmbio, Márcio já estava aposentado e não mais usava seu veículo, e como a filha precisava de um, ele doou para ela o seu. Nessa época, o carro de Márcio estava avaliado em R$ 70.000,00. O pai optou por não comprar um novo automóvel, pois conseguia fazer tudo a pé e não sentia mais a necessidade de usar um veículo, razão que inicialmente motivou sua doação. Após todos os custos que teve, bem com a valorização do imóvel que possuía, o patrimônio de Márcio ficou da seguinte forma: o imóvel passou a valer R$ 850.000,00 e os valores em conta passaram para R$ 650.000,00. Márcio faleceu subitamente, não deixando testamento conhecido e apenas as três filhas como herdeiras. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Questão 1 Analise todas as doações de Márcio feitas em vida para as filhas quanto ao aspecto da validade. Podemos dizer que: A as doações foram válidas, exceto quanto ao carro doado para Ana, pois a legislação veda a doação de bens móveis. B as doações foram integralmente válidas, visto que observam a legítima, devendo apenas serem levadas à colação por se tratar de adiantamento de herança. C apenas a doação do veículo para Ana é válida, visto que a legislação permite apenas a doação de bens móveis, sendo vedada a doação de pecúnia. D as doações são válidas e dispensam a realização de colação por não se tratar de adiantamento de herança. Parabéns! A alternativa B está correta. O art. 1.846 do Código Civil estabelece que “Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.” Observando a situação, não houve desrespeito à legítima, de modo que todas as doações são válidas. Contudo, considerando o art. 2.002 do Código Civil, “Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação.” Ou seja, todo o valor que receberam a título de doação deve ser computado em colação para fins de cálculo do quinhão de cada uma, de modo que é correta a alternativa que prevê que as doações devem ser levadas à colação. Questão 2 Supondo que Aline tivesse falecido antes de Márcio e fosse mãe de dois filhos. Eles seriam, quanto a Márcio e à sua herança: E as doações são inválidas, pois não houve a autorização dos demais filhos. A herdeiros pelo direito de representação de Aline, recebendo o quinhão integral da mãe. B não seriam herdeiros, visto que, pelo art. 1.829 do Código Civil, eles não estão na lista de concorrência com as filhas de Márcio. C seriam herdeiros, desde que a morte de Aline tivesse ocorrido até um ano e um dia antes do falecimento de Márcio. D não seriam herdeiros, pois Aline recebeu antecipação de herança em vida. E Parabéns! A alternativa A está correta. O Código Civil expressamente prevê o direito de representação nos arts 1.851 e seguintes. Desse modo, de acordo com a legislação, é um direito concedido a determinados parentes de pessoa falecida que teria direito sucessório se viva fosse. Os requisitos para ter o direito de representação encontram-se previstos nos arts. 1.852-1.854. Como os filhos de Aline encontram-se na linha descendente, observam o critério do art. 1.852, de modo que possuem esse direito e sucedem a Márcio, representando o quinhão da mãe. Questão 3 Você foi contratado pelas filhas de Márcio para uma consultoria e para apresentar um cálculo de como ficaria a quantia devida a cada uma. Diante do caso narrado, apresente a divisão adequada para a partilha. Digite sua resposta aqui Chave de resposta O valor total dos bens do espólio é de R$ 1.500.000. Não há registro de dívidas no caso narrado. Considerando que apenas Ana, Aline e Amanda são as herdeiras de Márcio, o quinhão de cada uma é equivalente a 1/3 da monta do espólio; ou seja, R$ 500.000,00. Contudo, é necessário realizar a colação, deduzindo os valores recebidos em vida. Ana recebeu um total de R$ 120.000,00. Aline e Amanda igualmente receberam R$ 90.000,00 cada. Nessa conta, observa-se que há um excedente de Ana em comparação às suas irmãs. Para igualar o que já receberam com o que ainda devem receber, deduzimos os valores percebidos do quinhão e temos o seguinte valor para cada: Ana tem a receber R$ 380.000,00; Aline e Amanda tem a receber R$ 410.000,00, cada. seriam herdeiros apenas, pois Aline recebeu antecipação de herança em vida. No entanto, se somarmos todos esses valores notaremos que totaliza apenas R$ 1.200.000, faltando ainda R$ 300.000,00 para chegar à monta da herança. Dividiremos o valor restante igualmente entre as herdeiras (R$ 100.000,00) e somaremos na quota de cada uma, ficando: R$ 480.000,00 para Ana e R$ 510.000,00 para Amanda e Aline. Desse modo, asseguramos que todas receberam igualmente a herança (tanto em adiantamento como post mortem), pois, somando a colação com a quota de cada uma, chegamos ao mesmo valor para as três filhas: R$ 600.000,00. Com essa confirmação podemos assegurar que a conta realizada está correta e que a colação foi devidamente contabilizada na partilha. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Assinale a alternativa correta. A Cabe ao inventariante requerer a partilha. B Um ano após a partilha, bens que sejam descobertos não poderão ser partilhados. C Pode o testador deliberar ele próprio a partilha. D Ao partilhar os bens, os herdeiros terão direito aos bens mais valiosos. Parabéns! A alternativa C está correta. Conforme o art. 2.014 do CC, pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os quinhões hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá, salvo se o valor dos bens não corresponder às quotas estabelecidas. Questão 2 A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos. Extingue-se o direito de anular a partilha no prazo de Parabéns! A alternativa A está correta. De acordo com o art. 2.027 do CC, a partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos, extinguindo-se em um ano o direito de anular a partilha. E Ficam sujeitos à sobrepartilha os bens que se deteriorarem. A 1 ano. B 2 anos. C 4 anos. D 10 anos. E 20 anos. 3 - Principais formas de planejamento sucessório Ao �nal deste módulo, esperamos que você analise as principais formas de planejamento sucessório. Planejamento sucessório O que é o planejamento sucessório? Conheça a seguir o conceito de planejamento sucessório e a sua importância. De�nição de planejamento sucessório O planejamento sucessório ou plano sucessório é a adoção de medidas para organizar a futura sucessão de um familiar, geralmente o ascendente. O planejamento sucessório evita conflitos entre os herdeiros e a burocracia dos processos judicial e extrajudicial de inventário e partilha, que gera atraso na partilha. A sucessão é situação jurídica na qual os bens de alguém que faleceu (o chamado “de cujus” ou “de cuius”, ou “autor da herança”) são transmitidos para outras pessoas, os chamados herdeiros ou legatários. Trata-se da sucessão ou transmissão causa mortis (por causa da morte). Existem os seguintes tipos de sucessão: A título universal O(s) sucessor(es) adquirem a propriedade sobre todo conjunto de bens (herança) deixado pelo de cujus. Todos os herdeiros se tornam proprietários de toda a herança, constituindo um condomínio (propriedadecomum, donos do todo). A herança constitui, assim, uma universalidade: todos os herdeiros têm direito sobre a toda a herança. Havendo mais de um herdeiro, cada um deles se torna proprietário de uma proporção sobre a universalidade. O beneficiário é o herdeiro, que tem direito a uma quota sobre toda a herança. A título singular Alguém, identificado pelo falecido quando este estava em vida, adquire um bem individualizado e especificado pelo de cujus. O beneficiário não tem direito a uma quota sobre toda a herança deixada. Um bem específico é retirado da universalidade para ser entregue ao beneficiário. O restante dos bens constituirá a universalidade da herança, para ser dividido entre os herdeiros universais. O beneficiário é chamado de “legatário” e a destinação e especificação do bem é feita em um testamento ou em um legado. O beneficiário é o legatório, que tem direito a um bem especificado da herança. É nesse contexto de administração da herança e divisão dos bens que podem surgir conflitos e desentendimentos entre os herdeiros. Tais con�itos podem provocar a necessidade de judicialização do inventário e da partilha, o que prolonga os con�itos e provoca a demora na consumação da partilha. Outrossim, há um custo alto com o pagamento de custas processuais, honorários advocatícios e pagamento do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos), cuja alíquota pode chegar a 8% sobre o valor da herança. Assim, esses tipos de sucessão remetem a conflitos, burocracia, desentendimentos e altos custos. O planejamento sucessório sempre é feito antes do falecimento do autor da herança. Se feito acordo entre os herdeiros após a morte do autor da herança, será plano de partilha, e não planejamento sucessório. Dessa maneira, o planejamento é uma medida de prevenção de conflitos e de desperdício de tempo, favorecendo, principalmente, os herdeiros. O planejamento sucessório não diz respeito somente ao patrimônio do autor da herança; também questões pessoais podem ser planejadas. Assim, o plano sucessório pode abranger: Situações patrimoniais Neste caso, o plano antecipa a divisão dos bens ou a destinação dos bens do autor da herança. Situações pessoais O autor da herança estabelece diretivas quanto a direitos de ordem extrapatrimonial, ou seja, aqueles que não têm valor econômico. Por isso, o planejamento sucessório pode dispor sobre: funeral ( por exemplo, onde o autor da herança deseja ser sepultado ou se deseja ser cremado); reconhecimento de filhos; homenagens que deseja receber; e destinação da “herança digital” (senhas, cadastros em sites, e-mail, redes sociais, sites e blogs pessoais etc.). São intenções do planejamento sucessório, dentre outros de caráter de eficiência: Antecipar a herança para os herdeiros. Antecipar a meação para o cônjuge ou companheiro, se for o caso. Evitar a judicialização do inventário e da partilha e escapar da morosidade do Judiciário. Evitar a burocracia do inventário e da partilha. Tonar definitiva a partilha. Otimizar a divisão da herança entre os herdeiros. Diminuir os custos com o inventário, como taxas e impostos, como o ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos). Evitar conflitos e inimizades entre os herdeiros. O planejamento sucessório é muito utilizado nos casos de empresas familiares. Garante que a empresa sobreviva e continue, porque ficam estabelecidas regras para a administração do negócio. Meios de planejamento sucessório O planejamento sucessório pode utilizar instrumentos jurídicos dos seguintes tipos: Sucessória Testamento, codicilo, legado e deserdação. Real Usufruto, uso, habitação, reconhecimento de usucapião, cessão de posse. Empresarial Constituição de sociedade, como empresa familiar e holding; incorporação, transformação, cisão e fusão de empresas; governança corporativa; composição de conselhos na empresa. Contratual Doações, comodato, compra e venda e seguro de vida. Planejamento �nanceiro Fundos de investimento e previdência privada. Esses são os instrumentos disponíveis e mais comuns. A seguir, a descrição dos tipos de instrumentos mais utilizados no planejamento sucessório: O contrato de doação assume as feições de uma “partilha em vida”, pois o autor da herança transfere seus bens aos herdeiros, antecipando a partilha que dependeria de um inventário e partilha prévia. O imposto cobrado pela transmissão de propriedade por meio da doação é o mesmo da divisão da herança, o ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos). Contudo, em alguns Doação estados, a alíquota do imposto nas doações é menor que na transmissão da herança. (Lembre-se: o ITCMD é um imposto de competência estadual). Trata-se de aposentadoria não vinculada ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Com a aposentadoria, o beneficiário receberá valores e pensões. É um investimento para renda futura, baseado em resgates do dinheiro investido, totalmente ou em forma de prestações mensais (“aposentadoria”). De acordo com o plano escolhido, é possível que, após a morte do beneficiário, seus herdeiros possam resgatar o saldo ou continuar recebendo as prestações mensais. Uma vantagem é que não será cobrado ITCMD, mas será cobrado o IR (Imposto de Renda). É um valor a ser recebido por beneficiários indicados pelo titular da apólice. No seguro de vida, haverá o pagamento de um montante de dinheiro a beneficiários após a morte do contratante. O planejamento sucessório com base no seguro de vida permite que os herdeiros recebam valores pecuniários logo que o contratante (autor da herança) faleça. Esse valor é recebido após a morte do titular da apólice, no caso, o autor da herança. Tem como vantagem o fato de não incidir sobre o valor o ITCMD e o Imposto de Renda. Tem a mesma função da doação e é operacionalizado da mesma maneira. É como se fosse uma “doação para depois da morte”. Pode ser feito em um testamento ou em um instrumento chamado legado. O autor da herança determina qual herdeiro receberá qual bem específico da herança. Com isso, o autor da herança pode manter a propriedade, a posse, o uso e o usufruto dos bens enquanto estiver vivo. Previdência Privada Seguro de vida Legado Por esse instrumento, o autor da herança faz a divisão de quotas e de bens de acordo com seu desejo. É utilizado, principalmente, para distribuir quotas da parte disponível da herança (50% do patrimônio do autor da herança). Também no testamento o autor da herança pode elaborar um plano de partilha, o qual deverá ser respeitado pelos herdeiros. Consiste na criação de uma pessoa jurídica (“empresa”) que terá os herdeiros como sócios. A quota hereditária de herdeiro corresponderá a uma quota do capital social da pessoa jurídica. Uma holding, geralmente, não tem atividades operacionais; seu objeto social é ser dona de outras empresas ou de uma concentração de bens, ou seja, possui como atividade a participação como acionista majoritária em outras pessoas jurídicas e controla as atividades dessa empresa. As empresas controladas pela holding são chamadas de “empresas subsidiárias”. Com a holding, o autor da herança transfere seu patrimônio para ela com o plano futuro de seus herdeiros se tornarem proprietários da holding, proporcionalmente às suas quotas da herança. Aplicando o conhecimento Você está familiarizado com sucessão patrimonial? Entende o funcionamento da antecipação da herança e seus benefícios? Vamos analisar um case para averiguar uma situação na prática. Roberta é engenheira, casada em regime de separação total de bens com Otávio e tem quatro filhos: Pedro, Francisco, Juliana e Maria. A família reside na capital do Rio de Janeiro. Ao ouvir falar dos benefícios do planejamento sucessório, Roberta passou a interessar-se em antecipar essa questão para otimizar sua sucessão, visto que possui amplo patrimônio: três imóveis(dois são Testamento Holding utilizados para aluguel), valores em conta bancária e as quotas da sociedade da empresa de construção que tem com seu esposo. Os valores dos três imóveis são similares, em torno de R$ 800.000,00. O valor das quotas da empresa que Roberta possui também tem valor aproximado de R$ 800.000,00. Francisco está cursando engenharia e pretende dar seguimento à empresa da família, ao passo que os demais filhos optaram por outras áreas. Além disso, Otávio já expressou desejo de aposentar-se e não continuar atuando na empresa. Ele possui patrimônio independente de Roberta, com quem partilha apenas as quotas da empresa em que trabalham. Ele também indicou que pretende morar no interior quando se aposentar, junto com Roberta, não tendo o desejo de residir em quaisquer dos imóveis que ele ou ela possuem. Juliana, uma das filhas, expressou o desejo de permanecer residindo na casa da família, por questão afetiva. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Questão 1 Imagine que Roberta queira realizar agora a doação das quotas da empresa para Francisco. Podemos dizer que essa doação seria: Parabéns! A alternativa E está correta. A nula, pois fere a legítima. B válida, pois o casamento de Roberta e Otávio ocorreu em separação total de bens. C anulável, pois depende da anuência dos herdeiros. D inexistente, pois é ausente o requisito para sua configuração. E válida, pois não ofende normas legais. O art. 1.846 do Código Civil estabelece que “pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.”. No caso, a disposição dos bens está inferior ao limite legal, sendo válida a doação, desde que posteriormente levada à colação, conforme determina o art. 2.002 do Código Civil. Questão 2 Imagine que Roberta realizou o planejamento sucessório por meio da constituição de holding familiar, doando quotas para Francisco e os imóveis para cada filho, sendo tudo realizado com cláusula de usufruto vitalício. Após isso, Maria deseja vender o imóvel que recebeu. Essa venda seria: Parabéns! A alternativa B está correta. O usufruto é direito real de gozo e fruição da coisa e, nos termos do art. 1.394 do Código Civil, “o usufrutuário tem direito à posse, uso, administração e percepção dos frutos”. Não há determinação legislativa que conceda ao usufrutuário o direito de impedir a venda do imóvel sobre o qual possua o direito de usufruto. Contudo, como a cláusula é de usufruto vitalício e por tratar-se de direito real, o usufruto A válida, pois ao receber a doação, Maria tem total disposição do imóvel por ser dona da coisa. B válida, pois o usufruto não veda a venda; contudo, não retira o direito de usufruto vitalício de Roberta. C inválida, pois Roberta tem direito de usufruto vitalício sobre o imóvel. D válida, e retira o direito de usufruto, pois esse só valia em face de Maria. E válida, desde que os demais herdeiros concedam anuência. persiste independentemente de o bem ser vendido, inexistindo alteração do direito de usufruto de Roberta no caso. Questão 3 Você foi procurado por Roberta para realizar um planejamento sucessório que tanto atenda aos desejos expressos por todos os familiares como esteja dentro da legalidade. Qual seria sua indicação? Digite sua resposta aqui Chave de resposta A partilha deve seguir o que preza o art. 1.829 e o art. 1.846 do Código Civil, observando a ordem sucessória e o quinhão de cada parte. No caso, os herdeiros de Roberta são apenas os filhos, posto que o regime de comunhão é o da separação universal de bens. Considerando que Francisco tem interesse em seguir com a empresa, poderia haver a antecipação de herança com doação em vida com cláusula de usufruto em favor de Roberta para que já se antecipasse a situação patrimonial, mas sem superar o limite do art. 1.846 e mantendo o controle das quotas em favor da mãe para fins de administração empresarial e retirada do lucro. Desse modo, caso a empresa valorize no futuro, o valor pago a título de ITCMD será menor, além de evitar potenciais problemas de discussões sobre a herança, já deixando um bem específico com quem tem o interesse. O caso de Juliana é o mesmo, podendo ser feita doação com o usufruto, aproveitando que o imóvel provavelmente se valorizará, economizando, assim, no ITCMD. Pela descrição, o imóvel tem valor equânime aos demais apartamentos, e isso não interferirá no quinhão dos outros filhos. Sobre os demais filhos, como nenhum expressou interesse específico, ficaria a cargo de Roberta o desejo de antecipar a herança dos outros imóveis que possui para talvez constituir uma holding familiar com cotas, que tem cláusula de usufruto para antecipar um ITCMD mais barato. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A empresa criada em planejamento sucessório, com objetivo de administrar os bens da pessoa a ser sucedida ou sua família é a Parabéns! A alternativa B está correta. Para fazer o planejamento sucessório por meio de holding familiar, é criada uma empresa na qual os herdeiros serão sócios da organização. Cada ação da holding equivale a uma quota da herança. O patrimônio da família será o patrimônio da empresa. Questão 2 A sociedade individual. B holding familiar. C empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). D sociedade por quotas de participação. E sociedade limitada unipessoal. É finalidade do planejamento sucessório Parabéns! A alternativa A está correta. O planejamento sucessório pode ser compreendido como um conjunto de medidas empreendidas para organizar a sucessão hereditária de bens e direitos previamente ao falecimento do titular dos bens. Consiste em instrumentos que permitam a utilização de estratégias voltadas para a transferência eficiente e eficaz do patrimônio. Considerações �nais Este conteúdo foi destinado a demonstrar quais são as principais regras da divisão da herança entre os herdeiros, em especial o papel do inventário e da partilha na aquisição de propriedade. A partir daí, demonstrou-se como devem ser entendidas tais tendências e quais são suas consequências. A otimizar o processo de transmissão dos bens na sucessão hereditária. B antecipar o pagamento de ITCMD com valores menores. C estimular a atividade cartorária no Brasil. D antecipar as primeiras declarações do futuro inventário e partilha. E reconhecer filhos havidos fora do casamento ou da união estável. A abordagem realizada foi destinada a apresentar não somente aspectos teóricos, mas, também, e principalmente, os aspectos práticos. É preciso ter em mente que os assuntos aqui abordados são matérias discutidas em ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação profissional. Podcast Para encerrar, ouça sobre o processo de inventário e suas espécies. Explore + Confira agora o que separamos especialmente para você! Leia: Planejamento sucessório - Holding familiar, por Carla Simone de Carvalho, em IBDFam. O artigo analisa as vantagens do planejamento sucessório nos casos de holding familiar, para garantir uma sucessão pacífica, a manutenção da estrutura patrimonial, a gestão eficiente dos bens da família, a redução em custos tributários, e também se presta a definir a sucessão. Por que devo fazer o inventário?, por Lôbo Cavalcanti, em IBDFam. O artigo analisa a situação comum na qual o inventário tem início tardio muitas vezes por desconhecimento do prazo legal ou pelo alto custo que envolve o inventário. Planejamento sucessório, por Rolf Madaleno, no IX Congresso Brasileiro de Direito de Família. Famílias: Pluralidade e Felicidade. O artigo aponta a importância de tratar da sucessão em vida, que sempre representou um tabu, comumente postergado para o infinito da existência da pessoa. Da possibilidade de realização de inventário extrajudicial mesmo diante da existência de testamento, por Veridiana Toczeki Santos, em IBDFam. Oartigo analisa a possibilidade de que o inventário extrajudicial, mesmo havendo testamento deixado pelo falecido, seja realizado em cartório, destacando qual será a forma do procedimento a ser realizado. Referências DIAS, M. B. Manual das sucessões. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 6 – Direito das Sucessões. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 7 – Sucessões. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2022. GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. Vol. 6 – Direito das Sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. TEIXEIRA, A. C. B.; RIBEIRO, G. P. L. (Orgs.). Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. 3ª ed. Rio de Janeiro: Processo, 2017. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? javascript:CriaPDF() Relatar problema