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responsabilidade limitada, diante da ausência de uma regra proibitiva, a presença
deles  era  admitida,  desde  que  preenchidos  certos  requisitos  que  afastavam
qualquer  possibilidade  de  vinculação  pessoal  do  incapaz  por  atos  da  sociedade,
eliminando  maiores  riscos  de  dilapidação  do  seu  patrimônio.  Nesses  casos,
tratava­se  de  um  ato  de  mera  administração  permitido  aos  representantes  dos
incapazes  (art.  386  do  Código  Civil  de  1916).  Ademais,  evitava­se  que,  no
momento  de  um  acerto  com  a  sociedade,  terceiros  fossem  prejudicados  pela
presença  de  incapazes,  que  não  podem  praticar  atos  que  danifiquem  seu
patrimônio.13
No  regime  do Código Civil  de  2002,  não  há  expressamente  a  proibição  dos
sócios  incapazes, mas o artigo 1.691 estabelece que os pais não podem contrair,
em  nome  de  seus  filhos,  obrigações  que  ultrapassem  os  limites  da  simples
administração,  salvo  por  necessidade  ou  evidente  interesse  da  prole,  mediante
prévia  autorização  do  juiz.  Diante  de  tal  regra,  acreditamos  ser  mantida  a
orientação  doutrinária  e  jurisprudencial,  consagrada  no  regime  anterior,
restringindo­se  a  possibilidade  do  incapaz  assumir  a  condição  de  sócio  de
sociedade  empresária  aos  casos  em  que  não  haja  risco  de  sua  responsabilização
direta,  porquanto  a  assunção  da  condição  de  sócio  deve  ser  sempre  considerada
um ato de administração extraordinária.14
Em  suma,  o  incapaz  não  pode  ser  sócio  em  uma  sociedade  na  qual  assuma
responsabilidade  ilimitada  pelo  cumprimento  das  obrigações  sociais.  Há  que  se
ressaltar que esta questão não se confunde com a assunção direta pelo incapaz do
exercício da empresa, que é disciplinada nos artigos 972 a 980 do Código Civil
de 2002.
Ricardo  Negrão  entende  que  seria  possível  o  ingresso  de  menores  em
qualquer  sociedade,  na  medida  em  que  o  próprio  Código  Civil  permite  que  os
incapazes continuem o exercício de empresa já anteriormente exercida.15
Ousamos discordar desse entendimento, porquanto o artigo 974, que permite a
continuação  da  atividade  anteriormente  exercida  por  incapazes,  é  uma  norma
excepcional que visa a preservar a continuidade da atividade exercida, o que não
se  aplica  no  caso  de  ingresso  em  uma  sociedade,  uma  vez  que  a  atividade
continuará sendo exercida mesmo sem o ingresso do menor. Nossa opinião não é
alterada  com  a  introdução  do  artigo  974,  §  3o  do CC. A possibilidade  de  sócio
incapaz  desde  que  ele  seja  representado  ou  assistido,  não  tenha  poder  de
administração e todo o capital social esteja integralizado só tem algum sentido na
sociedade limitada, pois nas demais sociedades a  integralização de todo o capital
social não afeta  a  responsabilidade  individual do  sócio. Tal dispositivo deve  ser
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3.1.2
interpretado com cuidado, apesar da sua colocação nas disposições mais gerais do
livro  do  Direito  de  Empresa.  Ele  deve  ser  compatibilizado  com  a  proteção  ao
patrimônio dos incapazes, de modo que ele não seja estendido para sociedades de
responsabilidade ilimitada.
Além  da  capacidade,  a  vontade  deve  ser  livremente  manifestada,  pois  a
existência de vícios de vontade (erro, dolo, coação) pode conduzir à invalidade do
ato, nos termos da legislação civil.
A incapacidade de uma das partes, bem como a presença de vícios de vontade,
não acarreta necessariamente a dissolução da sociedade, mas, via de regra, apenas
conduz à invalidade do ato de adesão viciado, permanecendo íntegra a sociedade.
“Nulidade e anulabilidade atuam sobre a relação particular, não se comunicam ao
negócio  inteiro e, por conseguinte,  aos outros  sócios  sobre os quais o vício não
atuou.”16
Objeto lícito
Outro elemento a ser destacado é o objeto lícito, não entendido aqui objeto do
ato  constitutivo, que é  a  contribuição dos  sócios, mas o objeto da  sociedade em
si.17 Este, por sua vez, é o conjunto de atos que a sociedade se propõe a praticar.
Nas  palavras  de  Antonio  Brunetti,  “aquele  conjunto  de  operações  que  esta  se
propõe  a  realizar  para  exercer  em  comum  uma  determinada  atividade
econômica”.18
Tal objeto deve ser explicitado no ato constitutivo da sociedade de forma clara
e  determinada,  devendo  tratar­se  de  um  atividade  econômica  idônea,  vale  dizer,
objeto  possível,  lícito  e  determinado,19  sob pena de  ser  obstado o  arquivamento
do ato constitutivo (art. 35, I, da Lei 8.934/94).
A  atividade  econômica  a  ser  desenvolvida  pela  sociedade  pode  ter  as  mais
variadas  feições,  desde que  as  operações  sejam possíveis  física  e  juridicamente,
isto é, compatíveis com as leis da natureza e com o ordenamento jurídico.20 Além
disso, deve  tratar­se de objeto  lícito em sentido mais amplo, ou  seja, deve estar
em conformidade com a lei, a moral e os bons costumes.21
Por  fim, é oportuno  ressaltar que a mera determinabilidade do objeto não  se
coaduna  com  as  sociedades,  exigindo­se  a  presença  de  objeto  determinado  e
precisamente delimitado (art. 35, III, da Lei 8.934/94). Tal individuação concreta
do  objeto  social  serve  para  definir  a  natureza  da  sociedade,  se  empresária  ou
simples, serve ainda para analisar se sobreveio ou não causa de encerramento da
sociedade  pela  inexequibilidade  do  objeto  ou  seu  exaurimento,  ou  ainda  para
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3.1.3
3.2
3.2.1
definir os limites dos poderes dos administradores.22
Forma
O último elemento geral da sociedade é a forma, forma esta que era prescrita,
a princípio, em lei, como escrita, mas não imposta de forma inafastável.
Com  efeito,  no  regime  anterior,  o  Código  Comercial,  no  seu  artigo  300,
afirmava  que  é  da  essência  da  sociedade  comercial  a  forma  escrita,  seja  este
escrito  público  ou  particular.  Entretanto,  na  sequência,  o  artigo  304  do mesmo
Código  afirmava  que  a  existência  da  sociedade  poderia  provar­se  por  qualquer
meio, inclusive por meio de presunção.
No  regime  do  Código  Civil  de  2002,  estabelece­se  a  obrigação  de  registro
para  o  empresário  (arts.  967­968),  o  que  denotaria  a  obrigatoriedade  da  forma
escrita. Todavia,  o mesmo Código  prevê,  em  relação  à  sociedade  em  comum,  a
possibilidade  dos  terceiros  provarem  sua  existência  por  qualquer meio  (art.  987
do Código Civil de 2002). O confronto dos  referidos dispositivos nos apresenta
uma situação de aparente incompatibilidade, mas tão somente aparente, na medida
em que deve ser feita uma interpretação que mantenha a unidade do diploma legal.
Solucionando  as  dúvidas  porventura  existentes,  o  Prof.  Rubens Requião  afirma
que a forma escrita é exigida apenas para a sociedade gozar de certas vantagens na
órbita tributária e mercantil.23
À  guisa  de  conclusão,  podemos  afirmar  que  a  forma  das  sociedades
comerciais  é  livre,  sendo  imposta  a  forma  escrita  tão  somente  para  o  gozo  de
certas vantagens. Portanto, a constituição de uma sociedade pode decorrer de um
acordo  expresso  ou  tácito,  verbal  ou  escrito,  desde  que  presentes  os  elementos
específicos da configuração de uma sociedade.24
Elementos específicos
Além  dos  elementos  gerais,  atinentes  aos  atos  jurídicos  em  geral,  nas
sociedades  devem  estar  presentes  elementos  específicos,  que  darão  o  tom
societário ao ato jurídico. Tais elementos são a contribuição para o capital social,
a  participação  nos  lucros  e  nas  perdas  e  a  affectio  societatis.  Alguns  autores25
indicam ainda como elemento essencial das sociedades a pluralidade de partes.
Contribuição para o capital social
As  sociedades  existem  para  o  exercício  de  uma  atividade  econômica  e,  por
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isso, necessitam de um patrimônio inicial, que será compostopelas contribuições
dos  sócios.  Tal  fundo  inicial  é  o  chamado  capital  social,  para  o  qual  todos  os
sócios devem contribuir (art. 1.004 do Código Civil de 2002). A existência de tal
fundo  é  pressuposto  necessário  de  qualquer  tipo  de  sociedade,26  na  medida  em
que  representa  o  patrimônio  inicial  da  sociedade,  indispensável  para  o  exercício
da atividade comum e para dar aos  terceiros, potenciais contratantes ou credores
da sociedade, a necessária confiança.27
Deve  ser  ressaltado,  desde  já,  que  o  capital  social,  que  é  constituído  tão
somente pela soma das contribuições dos sócios vinculadas ao objeto social, não
se  confunde  com  o  patrimônio  da  sociedade,  que  representa  o  conjunto  de
relações jurídicas economicamente apreciáveis da sociedade, o qual está sujeito a
oscilações a  todo  instante, compreendendo não apenas o capital  social, mas  tudo
que  a  sociedade  possui  ou  adquire  na  sua  existência.28  Esses  dois  conceitos
coincidem apenas no momento da constituição da sociedade.29
Em suma, a contribuição desempenha três papéis: formar o fundo patrimonial
inicial, definir a participação de cada sócio e constituir o capital social.30
Essa  contribuição,  cuja  medida  será  dada  pelo  ato  constitutivo,  poderá  ser
feita em dinheiro, bens ou  trabalho,31 no momento da constituição da sociedade,
ou  após  a  sua  existência.  “Ninguém  pretende  que  as  contribuições  sejam
equivalentes.  O  que  interessa  é  que  as  contribuições  dos  sócios  sejam  aptas  a
criar aquela base econômica, sem a qual a sociedade não pode funcionar, porque
não é possível o exercício da atividade econômica.”32
Normalmente  a  contribuição  é  feita  em  dinheiro,  mas  nada  impede  sua
efetivação  em  outras  espécies  de  bens  que  saiam  do  patrimônio  do  sócio  e
ingressem no fundo social.33 Tais bens devem ser patrimoniais, isto é, suscetíveis
de avaliação em dinheiro, podendo ser materiais ou imateriais, desde que aptos a
produzir  uma  utilidade.  No  caso  de  contribuição  em  outros  bens  que  não  o
dinheiro,  o  sócio  responde  pela  evicção  e  pela  solvência  do  devedor  no  caso  de
transferência de crédito (art. 1.005 do Código Civil de 2002), vale dizer, para as
coisas  transferidas  a  título  de  propriedade  a  garantia  do  sócio  é  a  mesma  do
vendedor.
A transferência dos bens se faz normalmente a título de domínio, aplicando­se
as regras da compra e venda. Todavia, essa regra não é absoluta, de modo que a
contribuição  pode  ser  feita  a  título  de  uso,  transferindo­se  apenas  uma  das
faculdades da propriedade, aplicando­se as regras do arrendamento,34 inclusive no
que  diz  respeito  à  garantia  e  aos  riscos  da  coisa.35  Corroborando  tal
entendimento, o artigo 9o da Lei 6.404/76 afirma que, se não se indicar o título da
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transferência,  presume­se  a  transferência  a  título  de  domínio,  demonstrando  a
possibilidade da transferência a outro título.
Qualquer  que  seja  o  título  da  transferência,  o  sócio  deixa  de  ter  alguns  ou
todos  os  direitos  sobre  os  bens  transferidos,  passando  a  ter  direitos  sobre  uma
cota­parte do capital social. Este direito recebido possui a natureza de um direito
pessoal e patrimonial.36
Também pode ser  feita a contribuição em trabalho, vale dizer, a contribuição
pode consistir nos conhecimentos técnicos especiais que o sócio põe a serviço da
sociedade.37  Neste  caso,  o  sócio  não  poderá  se  empregar  em  atividade  alheia  à
sociedade,  salvo  disposição  em  contrário,  sob  pena  de  perder  o  direito  à
participação nos lucros (art. 1.006 do Código Civil de 2002).
Com a contribuição se forma a sociedade e surge para os que contribuíram um
direito pessoal ao status de sócio e suas decorrências. Trata­se de direito pessoal,
na  medida  em  que  se  refere  basicamente  à  condição  de  sócio  e  não  a  uma
prestação patrimonial de qualquer parte. “Não há, portanto contrato de sociedade,
se  os  sócios  não  contribuem,  nem  se  adquiriu  a  qualidade  de  sócio,  sem  a
contribuição.”38  Tal  direito,  além  do  status  de  sócios,  abrange  direitos
eminentemente pessoais,  como a  fiscalização da gestão dos negócios  sociais  e  a
participação na mesma gestão.
A par deste direito pessoal, surge também um direito patrimonial, um direito
eventual de crédito contra a sociedade consistente na participação nos lucros e na
participação no acervo social em caso de liquidação. Trata­se de direito eventual,
na  medida  em  que  condicionado  à  existência  de  lucros,  ou  à  extinção  da
sociedade, com a subsistência de patrimônio após o pagamento dos credores.
Participação nos lucros e nas perdas
Nas  sociedades,  exerce­se  uma  atividade  econômica,  que  gera  resultados.
Nada mais lógico do que dividir esses resultados entre os sócios, entre todos eles.
Não  é  essencial  que  todo  o  resultado  seja  dividido  entre  os  sócios,  mas  é
essencial  que  todos  os  sócios  participem  dos  resultados.  No  Código  Civil  de
2002, considera­se nula apenas a cláusula que exclua algum sócio da participação
nos  lucros  ou  nas  perdas. Vejamos  o  texto  do  artigo  1.008  do Código Civil  de
2002:
“Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio
de participar dos lucros e das perdas.”
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Trata­se  de  dispositivo  relativo  às  sociedades  simples,  mas  que  se  aplica
subsidiariamente  aos  demais  tipos  societários.  Neste  particular,  segue­se  a
orientação  do  direito  italiano,  que  mantém  a  salvo  o  contrato  de  sociedade,
gerando a nulidade apenas para a cláusula leonina.39
Destinando­se  à  produção  do  lucro,  nada  mais  lógico  que  a  divisão  desse
lucro  entre  todos  os  membros.  Tal  divisão  não  precisa  ser  igualitária,  pode  e
normalmente é  feita de  forma desigual, mas deve abranger  todos os sócios, vale
dizer,  não  pode  ser  feita  apenas  em  benefício  de  alguns.  “Pôr  como  requisito
essencial  a  divisão  dos  lucros,  significa  afirmar  que  o  resultado  da  atividade
social  deve  ser  em  benefício  de  todos  os  sócios  e  não  de  alguns  somente.  À
comunhão de meio e da atividade deve corresponder a comunhão dos resultados:
não é permitida a exclusão de um sócio dos lucros.”40
Tal  participação não deve  ser  necessariamente  igualitária,  competindo  ao  ato
constitutivo  determinar  a  forma  de  tal  divisão,  e,  em  caso  de  silêncio,  tal
distribuição será feita de forma proporcional à participação no capital social (art.
1.007  do  Código  Civil  de  2002).  No  caso  de  contribuição  para  o  capital  em
serviços, o sócio deve participar dos lucros pela média do valor das quotas.
Em contrapartida à participação nos  lucros,  todos os sócios devem participar
também nas perdas,  expressão  essa  a  ser  entendida  com atenção. A participação
nas  perdas  não  significa  que  o  sócio  seja  obrigado  diante  de  um  prejuízo  a
desembolsar  novas  quantias,  mas  significa  tão  somente  que  pelo  menos  a  sua
contribuição  para  o  fundo  social  deve  entrar  para  cobrir  as  perdas,  vale  dizer,
todos os sócios devem assumir os riscos inerentes à atividade comercial, podendo
perder ao menos sua contribuição. A participação nas perdas pode ser limitada.41
“Se o fim da sociedade é a conjugação de bens e de esforços para a obtenção de
um fim comum que, em termos pecuniários, é sempre um lucro a partilhar, esse
fim deve  ser perseguido mediante  a participação de  todos nos  riscos  inerentes  a
qualquer atividade econômica ou comercial.”42
Fábio Ulhoa Coelho,43  apesar  de  se  utilizar  de  uma organização diferente  da
matéria,  não  trata  da  participação  nas  perdas  como  requisito  específico  de
validade da  sociedade. Na mesma  linha, Giuseppe Ferri nega expressamente que
tal elemento seja essencial às sociedades.44Gladston Mamede, por sua vez, nega
tal elemento no que tange aos sócios que contribuem em serviços.45
Ousamos  discordar  dos  referidos mestres,  para  reafirmar  a  participação  nas
perdas como elemento essencial  e específico das  sociedades,  como contrapartida
necessária  à  participação  nos  lucros.  Não  se  trata  de  uma  não  limitação  da
responsabilidade,  mas  apenas  da  possibilidade  de  perda  da  sua  contribuição,
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3.2.3
presente  inclusive  quando  a  contribuição  for  em  indústria.  Neste  caso,  o  risco
assumido  é  a  perda  da  remuneração  do  trabalho  prestado  em  benefício  da
sociedade.46
A vedação do pacto  leonino (art. 1.008 do Código Civil brasileiro de 2002 e
no mesmo  sentido  o  art.  2.265  do Código Civil  italiano)  deve  abranger  tanto  a
participação nos lucros quanto a participação nas perdas, uma vez que as duas são
correlativas.47 A participação nas perdas é a outra face da participação nos lucros.
“É contraditório que um sócio seja excluído da participação nos ganhos, e corra o
risco  de  perder  sua  contribuição  sem uma  utilidade  correspondente,  ou  que  seja
completamente  excluído  das  perdas,  de  modo  que  possa  conseguir  lucros  sem
arriscar nada.”48
Affectio societatis
O  traço mais  específico  de  uma  sociedade  é  a  chamada affectio  societatis,  a
vontade de cooperação ativa dos sócios, a vontade de atingir um fim comum. Não
se  trata  do  simples  consenso  comum  aos  contratos  em  geral,  mas  de  uma
manifestação  expressa  de  vontade  no  sentido  do  ingresso  na  sociedade  e  na
consecução de um fim comum.49 Exige­se um plus em relação à simples vontade
de conclusão do contrato.
Para a existência de uma sociedade, não é suficiente a contribuição de duas ou
mais  pessoas  para  a  realização  de  um  determinado  resultado  econômico,  é
necessário  que  o  resultado  seja  perseguido  conjuntamente.50  Estamos  diante  de
um contrato de colaboração ou de um ato institucional, no qual as partes têm um
interesse  comum.  O  ganhos  de  uma  parte  não  podem  se  dar  em  detrimento  da
outra, devem se dar em conjunto.51
“Affectio  societatis  significa  confiança  mútua  e  vontade  de  cooperação
conjunta,  a  fim  de  obter  determinados  benefícios”;52  em  outras  palavras,  é  o
“propósito  comum  aos  contratantes  de  se  unirem  para  alcançar  um  resultado
almejado”,53  a  “Intenção  de  contribuir  para  o  proveito  comum”,54  “uma vontade
de  colaboração  ativa  para  a  realização  do  objeto  social”.55  Sem  tal  vontade,  não
podemos falar em sociedade.
E mais,  sem que  tal vontade seja exteriorizada de  forma expressa no sentido
do  ingresso  na  sociedade,  e  sem  que  haja  a  vontade  de  atingir  uma  finalidade
comum,  não  podemos  vislumbrar  uma  sociedade. Na  expressão  de Carvalho  de
Mendonça, “os sócios devem manifestar a vontade de cooperar ativamente para o
resultado  que  procuram  obter,  reunindo  capitais  e  colocando­se  na  mesma
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3.2.4
situação de igualdade”.56
Trata­se de requisito eminentemente subjetivo, mas que deve ser vislumbrado
diante  das  manifestações  exteriores  da  vontade  dos  sócios.  Esta  deve  ser
manifestada de  forma expressa, no  sentido do  ingresso na  sociedade,  e deve  ser
dirigida  a  um  fim  comum,  que  é  o  exercício  próspero  da  atividade  social,  vale
dizer, não se limita ao momento de criação da sociedade, mas deve estar presente
por  toda  a  vida  da  sociedade.  A  propósito,  é  oportuno  transcrever  a  lição  de
Moacir Adiers:
“A  affectio  societatis  se  desenvolve  também  através  de  deveres
comuns  e  recíprocos,  impostos  à  observância  dos  sócios  no  plano
dinâmico  do  efetivo  desenvolvimento  da  atividade  da  sociedade,  na
realização  do  seu  objeto  e  para  a  permanência  do  espírito  societário  e  da
própria sociedade”.57
Caso haja a quebra da affectio societatis, dada a sua importância, não há outra
solução, a não ser a dissolução da sociedade, ou, ao menos, a exclusão do sócio
que  não  possui  mais  essa  vontade  comum,58  sob  pena  de  se  inviabilizar  o
prosseguimento normal da sociedade.
A pluralidade de partes
Do próprio conceito de sociedade pode­se extrair a necessidade de pelo menos
duas partes, uma vez que é contraditório ser sócio de si mesmo. Assim, prevalece
como regra geral a obrigatoriedade da existência de pelo menos dois sócios para a
configuração de uma sociedade, em oposição ao empresário individual que exerce
a atividade sozinho.
Entretanto, tal regra é excepcionada pelo atual direito brasileiro, que admite a
figura da sociedade subsidiária integral (art. 251 da Lei 6.404/76), uma sociedade
tendo  por  única  sócia  uma  sociedade  brasileira.  Além  disso,  admite­se
temporariamente  a  unipessoalidade  nas  sociedades  anônimas  (art.  206  da  Lei
6.404/76), e nas demais sociedades (art. 1.033, IV, do Código Civil de 2002), a
fim de preservar a atividade que vinha sendo desenvolvida, evitando a extinção da
empresa  e,  consequentemente,  protegendo  os  vários  interesses  envolvidos
(trabalhadores, comunidade, fisco...).
Na busca de uma limitação de responsabilidade para o comerciante individual,
a  qual  já  é  inerente  à  maioria  das  sociedades,  há  uma  tendência  no  direito
estrangeiro  no  sentido  da  admissão  da  sociedade  unipessoal  como  situação
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4
4.1
comum, e não como exceção, como, por exemplo, no direito alemão,59  tendência
esta que tem ganhado força no cenário pátrio.60
No direito  brasileiro,  já  existe,  em  termos gerais,  a EIRELI para  permitir  o
exercício  individual das atividades por meio de uma pessoa  jurídica. Contudo, a
nosso  ver,  a  EIRELI  não  representa  uma  sociedade.  Além  disso,  com  as
alterações introduzidas pela Lei no 13.247/2016 na Lei no 8.906/94, passou a ser
admitida  a  sociedade unipessoal  de  advocacia,  uma pessoa  jurídica  constituída  a
partir  do  registro  dos  seus  atos  constitutivos  no  Conselho  Seccional  da  OAB.
Esta  sociedade  unipessoal  de  advocacia  pode  ser  constituída  originariamente  ou
em razão da transformação de uma sociedade simples de advogados em que houve
a  concentração  das  quotas  nas  mãos  de  um  único  sócio.  Trata­se  de  pessoa
jurídica  que  seguirá  as  regras  das  sociedades  simples  normalmente,  mas  sua
denominação  será  obrigatoriamente  formada  pelo  nome  do  advogado  titular,
completo ou parcial, com a expressão “Sociedade Individual de Advocacia”.
Ato constitutivo: natureza jurídica
A sociedade se forma pela manifestação de vontade de duas ou mais pessoas
(art.  981  do  Código  Civil  de  2002).  Tal  manifestação  é  o  ato  constitutivo  das
sociedades,  imprescindível  para  sua  formação. Caio Mário  da  Silva  Pereira  nos
define  o  ato  constitutivo  como  o  “instrumento  continente  da  declaração  da
vontade criadora e a bem dizer é a causa geradora primária do ente jurídico”.61
Normalmente,  é  um  ato  reduzido  a  escrito,  assinado  por  todos  os  sócios,  que
define  a  configuração  da  sociedade:  sede,  capital  social,  nome,  gerência,
responsabilidades, tipo societário etc.
A  natureza  jurídica  de  tal  manifestação  suscita  as  maiores  controvérsias  na
doutrina.
Teorias anticontratualistas
Nas sociedades, conforme já visto, é essencial a existência de uma finalidade
comum, vale dizer, as vontades dos membros da sociedade devem estar dirigidas
no mesmo sentido, normalmente o desenvolvimento da atividade e a produção de
lucros. Tal unidade de escopo dificultou o enquadramento do ato constitutivo da
sociedade  na  categoria  dos  contratos  bilaterais  ou  de  permuta,62  pois,  nestes,  as
vontades são contrapostas, não se dirigem ao mesmo fim.
A partir disso,  tendo em vista a dificuldade de adequação do ato constitutivoCurso de Direito Empresarial - Vol. 1 279
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das sociedades às realidades típicas do contrato bilateral, vários autores, fugindo
da  natureza  contratual,  buscaram  definir  a  natureza  jurídica  do  ato  constitutivo
como  um  ato  unilateral,  desenvolvendo  as  teorias  do  ato  coletivo  e  do  ato
complexo.
Para  a  teoria  do  ato  coletivo,  o  ato  constitutivo  das  sociedades  seria  um  ato
unilateral formado pela união de várias vontades, dirigidas no mesmo sentido, as
quais  ficariam  visíveis  individualmente.  Todas  as  vontades  parciais,  que
formariam  o  ato  constitutivo,  manteriam  sua  individualidade  e  se  manteriam
paralelas,  vale  dizer,  nunca  se  cruzariam,  ao  contrário  do  que  ocorreria  no
contrato.  Vale  ressaltar  que  tal  posicionamento  sustenta  que,  em  tal  ato,  seria
possível vislumbrar cada uma das vontades parciais formadoras da vontade total.
A  teoria do ato  complexo não é muito diferente,  porquanto  afirma que o  ato
constitutivo  seria  um  ato  unilateral  formado  pela  união  de  vontades  dirigidas  à
mesma  finalidade,  vontades  estas  que  se  fundem,  perdendo  sua  individualidade.
“No  ato  complexo  as  partes  apresentam­se  animadas  por  idêntico  interesse;
encontram­se,  por  assim  dizer,  do  mesmo  lado;  justamente  por  isso,  o  ato
complexo  está  sujeito  a  uma  disciplina  diversa  daquela  dos  contratos.”63  As
vontades  parciais  se  mantêm  paralelas,  mas  perdem  sua  individualidade,
formando  um  ato  unilateral  único,  vale  dizer,  não  se  pode  vislumbrar  cada  uma
das vontades parciais, o que se veria seria uma manifestação única de vontade.
Tais teorias são passíveis das mesmas críticas.
No  ato  constitutivo  das  sociedades,  as  vontades  dos  sócios  não  são  sempre
paralelas,  elas  se  entrecruzam,  discutem­se  a  participação,  o  valor  dos  bens
quanto à cota do capital social, a distribuição dos lucros, o rateio dos prejuízos, a
responsabilidade de cada um, os deveres. “Quando as partes contratam, cada uma
quer  obter  o  máximo  de  lucros  com  o  mínimo  de  contribuição  e,  portanto,
subsiste  uma  relação  de  conflito,  se  reencontra  também  um  escopo  comum,
porque é claro que todos têm interesse em evitar perdas e maximizar os lucros.”64
Há uma finalidade comum, mas o antagonismo está presente na formação e no
correr  de  toda  a  vida  da  sociedade.  “O  conflito  de  interesse  –  evidente  na
constituição e subsistente durante a vida da sociedade – permite falar de contrato
e excluir o ato complexo.”65
Ademais,  se  as  vontades  nunca  se  entrecruzassem,  como  se  explicaria  a
formação  de  relações  jurídicas  entre  os  sócios?66  Sem  um  cruzamento  destas
vontades, qual seria a origem dos deveres de um sócio para com os outros?
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