Prévia do material em texto
ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 689 ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA – LE FORT I REVISTA DA LITERATURA * MAXILLARY TOTAL OSTEOTOMIES STUDY – LE FORT I LITERATURE REVIEW Leandro Páttaro ZANON ** Cláudio Maldonado PASTORI *** Clóvis MARZOLA **** João Lopes TOLEDO FILHO ***** ____________________________________________ * Monografia apresentada para conclusão do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela APCD Regional de Bauru. ** Autor da monografia para conclusão do Curso e como parte dos requisitos da Disciplina de Metodologia de Ensino e Pesquisa. *** Professor do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela APCD Regional de Bauru. Orientador da Monografia. **** Professor Titular de Cirurgia da FOB-USP e professor do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela APCD Regional de Bauru. Coordenador da Disciplina de Metodologia de Ensino e Pesquisa. *** Professor Titular de Anatomia da FOB-USP e professor do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela APCD Regional de Bauru. Coordenador da Residência e Orientador da Monografia. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 690 RESUMO O homem ao longo de toda sua existência tem buscado um bom convívio na comunidade e nos ambientes que o cercam. Os avanços na medicina, odontologia e cosmética proporcionaram melhor aceitação, porque estas áreas da saúde preocupam-se em oferecer aos seus pacientes, além da cura de determinadas enfermidades, também, uma estética satisfatória, melhorando consideravelmente sua qualidade de vida e convívio social. A Cirurgia ortognática altera a relação maxilo-mandibular, levando-a para uma posição adequada, estável e funcional, melhorando muitas vezes além da estética e função, também a dicção. Houve uma grande evolução das técnicas cirúrgicas da osteotomia Le Fort I no decorrer dos anos, principalmente após os estudos de BELL sobre revascularização. Porém é de fundamental importância que o profissional esteja totalmente apto a realizar tais procedimentos, além de um perfeito conhecimento anatômico da região a ser operada, pois apesar de ser um assunto amplamente estudado e esclarecido, tanto no trans-cirúrgico como no pós-operatório podem ocorrer complicações graves, trazendo grandes transtornos ao paciente e ao cirurgião. ABSTRACT The human being, throughout all its existence, has searched for a good conviviality in the community and the environments that surround it. The advances in the Medicine, Dentistry and Cosmetic provided a better acceptance to it, since the concern of these areas of health beyond offering to its patients the cure of some diseases, also aesthetic a satisfactory one, improving substantially its quality, life and social conviviality. The orthognathic surgery modifies the maxilomandibular relation, taking it for an adjusted, steady and functional position, improving many times not only aesthetic and function but the diction too. There was a great evolution of the surgical techniques of osteotomy Le Fort I during the years, mainly after the BELL studies on revascularization. However it is extremely important that professionals are absolutely apt to accomplish such procedures, beyond a good anatomical clarification of the region to be operated, since, although it is studied and a widely elucidated subject, as much in the trans- surgical as in the postoperative one when severe complications can occur, bringing great upheavals to the patient. Unitermos: Osteotomia; Le Fort I; Cirurgia ortognática; Deformidade dentofacial. Uniterms: Osteotomy, Le Fort I; Orthognathic surgery; Dentofacial deformity. INTRODUÇÃO Nosso organismo é visto como uma complexa máquina devendo funcionar em perfeita harmonia, coordenando sempre suas atividades e funções. Quando o assunto é harmonia facial deve-se definir o Sistema Estomatognático, como sendo uma entidade integrada por um conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, cuja biologia e fisiopatologia são completamente independentes, tendo como função tarefas como a mastigação, a deglutição, auxiliando outros ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 691 mecanismos ainda como a fonação e a respiração. Para seu correto funcionamento está na dependência de estruturas musculares, articulações, ligamentos, propiocepção nervosa, além dos órgãos dentais (BEHSNILIAN, 1974). Os problemas que influem no seu funcionamento, podendo até levar seu portador a desenvolver uma sociopatia, são as más oclusões dentárias, de etiologia multifatorial, anomalias de desenvolvimento da maxila e mandíbula, que também podem levar às alterações dentárias com relação maxilomandibular, podendo até provocar assimetria facial (REISCHENBACH, 1970 e BELL, 1980). Existem casos que não podem ser solucionados com tratamentos conservadores e incruentos e, desta forma, o procedimento cirúrgico é a conduta mais adequada nestas situações. A cirurgia ortognática entra com a finalidade de corrigir estas discrepâncias faciais, devolvendo ao paciente a função e consequentemente a estética (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). A maxila é responsável por uma série de más oclusões acentuadas, de etiologias variadas, e quando o tratamento ortodôntico não pode resolver, a cirurgia é o meio mais rápido e seguro que os pacientes encontram para corrigir tais deformidades (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). Na ausência de desproporções notáveis, pode-se lançar mão de diversas técnicas permitindo o reposicionamento cirúrgico de grupos dentais ou a reposição total da maxila. Estas técnicas variam desde corticotomias unitárias e seriadas, osteotomias anteriores, posteriores, até as totais da maxila para correção da má oclusão e das deformidades dentofaciais (KOLE, 1959 e MOHNAC, 1966). É importante que o cirurgião esteja familiarizado com a anatomia da região, por ser uma área altamente vascularizada com diversas estruturas importantes que devam ser estudadas minuciosamente (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). Mesmo com o grande desenvolvimento no instrumental e na técnica cirúrgica, o risco de lesões a importantes estruturas anatômicas na região posterior da maxila ainda existe, tendo sido uma das complicações mais relatadas no uso dessa técnica (BELL, 1992 e ARAÚJO, 1999). Lamentavelmente, a correção cirúrgica da maxila ainda não é muito frequente e, provavelmente pela falta de indicação por parte dos ortodontistas sem uma formação ideal, sua grande complexidade, ou o receio de alguns cirurgiões em atingirem os dentes, além das possíveis complicações com o seio maxilar, cavidade nasal e regiões pterigomaxilares (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). Embora o seccionamento da maxila possa resultar numa perda temporária de resposta aos testes de vitalidade pulpar, normalmente a sensibilidade do dente não é destruída, quando tratados com o cuidado necessário (KOLE, 1959 e SCHUCHARDT, 1959). O sucesso clínico e as falhas ocasionais no uso das várias técnicas permaneceram pouco divulgados até a década de 70. As questões básicas eram concernentes à cura das feridas cirúrgicas das osteotomias da maxila e, dos vasos sangüíneos que manteriam seu suprimento ao segmento ósseo, além da viabilidade, mantendo íntegros os dentes na arcada (BELL, 1992 e ARAÚJO, 1999). O uso da osteotomia do tipo Le Fort I cresceu muito nas últimas duas décadas devido aos trabalhos de microcirculação óssea (BELL, 1969) ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 692 demonstrando a possibilidade de mobilizar a maxila tridimensionalmente sem comprometer a vascularização e a reparaçãoóssea (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). Propôs-se neste trabalho, através de uma revista de literatura, que o cirurgião Bucomaxilofacial familiarize-se com a evolução das técnicas de osteotomia total da maxila – Le Fort I, até os dias atuais, fazendo assim, sua melhor aplicação nos diferentes casos. Além disso, enfatizam a importância de um conhecimento anatômico detalhado da região, a revascularização, as alterações teciduais que a aplicação desta técnica proporcionará ao indivíduo e, as possíveis complicações inerentes à técnica. Desta forma, justifica-se a realização deste trabalho por esclarecer ao Cirurgião Buco Maxilo Facial a responsabilidade e a importância da aplicação minuciosa de todos os requisitos necessários para atingir o sucesso ao final de seus tratamentos, trazendo um grande benefício a toda sociedade. REVISTA DA LITERATURA A cirurgia ortognática tem como objetivo restabelecer a função e a estética às pessoas que apresentam deformidades dentofaciais, agindo em conjunto com a ortodontia, vindo a possibilitar maiores movimentações no complexo maxilomandibular (TOLEDO-FILHO, MARZOLA, TOLEDO- NETO, 1998). Desta forma, quando o indivíduo apresenta problemas ortodônticos com um grau de complexidade tal que a ortodontia simplesmente não oferece uma solução, seja através de uma alteração no crescimento, ou mesmo uma camuflagem, ocorre a necessidade da intervenção cirúrgica seja com o realinhamento cirúrgico dos maxilares, ou ainda do reposicionamento dos segmentos dentoalveolares (PROFFIT, 1991). Em pacientes que ainda estão em fase de desenvolvimento, há a possibilidade de ser aplicado o tratamento ortodôntico que ocasionará a modificação do crescimento e, o problema da má oclusão vai sendo corrigido no decorrer do crescimento do indivíduo. A camuflagem da discrepância esquelética dos maxilares é possível em casos menos severos, realizando a exodontia e, promovendo a correta relação dos molares e incisivos. Entretanto o paciente continuará a ser classe II ou classe III, dependendo da situação (PROFFIT, 1991). As deformidades dentofaciais, muitas vezes envolvem também alterações estéticas, podendo trazer profundas implicações psicológicas ao paciente sendo necessário, por parte do cirurgião, esclarecer todas as alterações que o procedimento trará ao paciente. A cirurgia traz ao indivíduo melhorias estéticas dentais e faciais, além da função e, consequentemente melhoria psicossocial proporcionando uma melhor qualidade de vida (CUNNINGHAM; HUNT; FEINMANN; 1995 e HUNT; CUNNINGHAM, 1997). Há uma alteração da relação maxilomandibular, possibilitando uma posição adequada, estável e funcional, melhorando muitas vezes além da estética e função também a dicção. Para obter os resultados esperados, muitas vezes é necessário realizar movimentos maxilares e mandibulares (PETERSON, 2000). Porém, no presente trabalho abordaram-se apenas os movimentos na maxila, com as diferentes técnicas de osteotomia do tipo Le Fort I. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 693 Em alguns casos, as alterações maxilo-mandibulares apresentam associação com alterações nasais, havendo necessidade de associar à osteotomia, a rinoplastia e a rinoseptoplastia, para que ao final do tratamento seja obtido um melhor resultado estético (MIRANDA, 1996). Outro ponto que deve ser observado é seu potencial para a solução de alguns casos de disfunção temporomandibular (DTM), pois é possível, para casos em que a causa for esquelética, seu reposicionamento promovendo um estímulo à matriz funcional por rearranjar a relação músculo-esquelética e, por estimular a remodelação (CORTEZZI, 1996). As indicações para osteotomia total da maxila são várias se destacando aquelas de pacientes portadores de excesso vertical, quando expõem excessivamente os incisivos superiores e gengiva, além da incompetência labial, nariz estreito, mordida aberta e alongamento do terço inferior da face. Estes fatores podem ou não somarem-se ou mesmo apresentarem-se isoladamente. Ainda, em pacientes com mordida aberta anterior, que tenham contato prematuro dos dentes posteriores, a cirurgia ortognática irá elevar a posição posterior da maxila, promovendo uma correta oclusão, após a retirada do contato prematuro posterior, além de elevar a região anterior, melhorando a exposição gengival e dos dentes anteriores (PETERSON, 2000). Há duas principais indicações para a reposição cirúrgica da maxila, quando os dentes anteriores são excessivamente expostos e, quando existe a deformidade da mordida aberta com hiperplasia alveolar posterior, determinando uma desarmonia entre lábio superior e os dentes (EPKER, 1981). O excesso horizontal da maxila, manifestado com mordida cruzada unilateral ou bilateral, está normalmente associado a uma deficiência vertical da maxila. Assim, nota-se a distância entre o assoalho nasal e o ápice dos dentes da maxila contra indicando a osteotomia transantral, que poderá lesar os ápices radiculares, frequentemente localizados ao nível do assoalho nasal (BELL, 1968). Outra indicação é para pacientes portadores de excesso ântero- posterior, apresentando face com perfil convexo e, sempre associado com a protrusão dos incisivos. Paciente com excesso transversal também tem indicação para execução da técnica, possuindo palato ogival, estreitamento do arco e mordida cruzada posterior (PETERSON, 2000). Pode-se citar também como indicações aqueles pacientes Classe I de Angle com mordida cruzada posterior, com excesso vertical maxilar e mordida aberta; classe II de Angle com excesso vertical maxilar, com mordida aberta anterior e, a Classe III de Angle com prognatismo mandibular, com deficiência maxilar, com mordida aberta, além de deformidades complexas do terço médio da face (MARZOLA, 2005). CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS E DESENVOLVIMENTO DA MAXILA No desenvolvimento pós-natal imediato, os ossos palatinos podem se mover livremente em relação à maxila e ao processo pterigóide do osso esfenóide. Durante o processo de crescimento, da infância para a adolescência, as superfícies articulares dos ossos consistem de osso medular e, o remodelamento ocorre principalmente na porção medial da sutura entre a maxila, o osso palatino e o processo pterigóide. A adolescência (16 a 18 anos de idade) está associada com ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 694 as formações de pequenas pontes ósseas (sinostoses), que se tornam mais pronunciadas em todas as suturas (MELSEN, 1987). O processo piramidal do osso palatino está localizado entre a tuberosidade maxilar e o processo pterigóide, agindo como um tampão entre os diferentes padrões de crescimento desses dois ossos. Uma osteotomia do tipo Le Fort I realizada numa criança é complicada pelo desenvolvimento dos molares, bem como pelo crescimento do complexo maxilar. A separação pterigomaxilar nesse estágio poderia causar dano a tecidos importantes para o crescimento da região. A sutura previne a separação dos ossos devido a forças externas, ao mesmo tempo em que permitiria a ocorrência de movimento entre os vários ossos durante o crescimento. Se o crescimento sutural for rompido, o único crescimento subsequente será o do processo alveolar, com o irrompimento dentário (HERFORD, 2001). Em adolescentes com menos de 16-18 anos, o processo piramidal do osso palatino ainda não se fusionou com a tuberosidade da maxila e o processo pterigóide do osso esfenóide. Desta forma, osteotomias realizadas nesse momento poderiam interferir no futuro crescimento facial. Sugere-se então o adiamento da cirurgia até que os ossos estejam fusionados e a separação possa ser alcançada via fratura, com a utilização de um osteótomo (WIKKELING, KOPPENDRAAIER, 2001). Entretanto, em estudos envolvendo 16 pacientes com idade entre 10 e 16 anos submetidos à cirurgia com osteotomia total da maxilapara correção de deformidades faciais, constatou-se que é possível reposicionar a maxila em pacientes que se encontram em fase de crescimento, sendo favorável para o crescimento normal da face (WASHBURN; SCHENDEL; EPKER, 1982). MAXILA A maxila é um osso par, simétrico, formando com o lado oposto um complexo ósseo chamado esqueleto facial superior (Fig. 1). Fig. 1 – Aspecto anatômico do osso maxilar Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 695 Este conjunto relaciona-se, internamente, com as fossas nasais e inferiormente com a cavidade bucal. Posteriormente, limita-se com as apófises pterigóides concorrendo para formar as fossas pterigopalatinas. Superiormente, completa as cavidades orbitárias, constituindo suas paredes inferiores (SHICHER; TANDLER, 1981). SEIO MAXILAR O seio maxilar possui uma forma nitidamente piramidal, de base quadrangular (Fig. 2). Tem altura média de 3,5 cm, largura de 2,5 cm e profundidade de 3,0 cm. Porém essas dimensões podem variar dentro de limites muito amplos, sendo encontrados seios maxilares pequenos em contraposição àqueles de dimensões superiores. A diversidade de dimensões tem grande importância médico-cirúrgico e, principalmente odontológica devido às relações entre os ápices radiculares dos caninos, pré-molares e molares (SHICHER; TANDLER, 1981). Fig. 2 – Seio maxilar, estrutura anatômica de fundamental importância, por ser diretamente atingida pela osteotomia. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. PALATO DURO Constitui a parede superior da cavidade bucal sendo formado nos seus terços anteriores pela abóbada palatina e no seu terço posterior pelo véu do paladar. A abóbada palatina compõe-se de três camadas, a óssea, a glandular e a mucosa. A camada óssea é constituída pelos processos palatinos dos maxilares e lâminas horizontais dos ossos palatinos. Os forames palatinos abrem-se nos ângulos póstero-laterais destas lâminas horizontais e, o forame incisivo na região anterior atrás dos incisivos centrais (Fig. 3) (SHICHER, TANDLER, 1981). PALATO MOLE Não apresenta parte óssea, sendo de constituição músculo- membranosa, onde se inserem vários músculos importantes (Fig.3) (SHICHER, TANDLER, 1981). ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 696 Fig. 3 – Aspecto anatômico do palato duro e palato mole. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. VÔMER O vômer possui duas faces e quatro bordas. As faces direita e esquerda são recobertas pela mucosa nasal com alguns sulcos para vasos e nervos. A borda inferior aloja-se na ranhura formada pelos dois ossos palatinos e os dois maxilares, superiormente, entra em contato com a crista esfenóide, posteriormente forma o bordo posterior, livre do septo nasal e, sua porção anterior mais alongada, articula-se superiormente com a lâmina perpendicular do etmóide e, inferiormente, com a cartilagem do septo nasal (Fig. 4) (CASTRO, 1976). Fig. 4. – Cavidade nasal e osso Vômer, relacionando-se com a maxila, sutura que será solta no trans-cirúrgico para realizar as movimentações necessárias para o reposicionamento maxilar. O conjunto dos ossos Etmóide, Esfenóide e Vômer formam a cavidade nasal. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 697 CAVIDADE NASAL A cavidade nasal é o início do trato respiratório e onde se localiza o orgão da olfação, estando intercalada entre a cavidade craniana acima, a cavidade oral abaixo e, as cavidades orbitárias lateralmente. Em sua porção anterior comunica-se com o meio externo pelas narinas e posteriormente pelas coanas. Está dividida em duas pelo vômer e pela lâmina perpendicular do etmóide. Limita-se superiormente com a lâmina crivosa e posteriormente com a parte anterior do corpo do esfenóide. Por sua borda ântero-superior a lâmina perpendicular do etmóide articula-se com a espinha nasal do frontal e, mais inferiormente com a face interna da sutura unindo os dois ossos nasais (Fig. 4) (CASTRO, 1976). ARTÉRIAS As artérias que irrigam a maxila são ramos da artéria maxilar que são ramos da artéria carótida externa. A artéria infra-orbitária irrigando as partes moles profunda da superfície anterior da maxila e, se anastomosando com os ramos da artéria facial (Fig. 5). Fig. 5 – Trajeto, das artérias na face, com fundamental importância devido ao risco de hemorragia no trans-cirúrgico, com destaque para a artéria Maxilar e artéria Palatina descendente. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. Através da passagem da artéria infra-orbitária pelo canal de mesmo nome pode-se destacar a artéria alveolar superior anterior seguindo pelos finos canalículos escavados na maxila e, unindo-se com os ramos da artéria alveolar superior posterior que correm pela face posterior da tuberosidade maxilar. A artéria alveolar superior origina em seu trajeto ramos antrais, pulpares e ósseos. A rede anastomótica do espaço alvéolo-dental assegura suprimento sangüíneo à ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 698 região do periodonto mesmo quando ocorre a necessidade de se fazer uma apicoplastia, pulpectomia ou outra manobra cirúrgica na qual o feixe vásculonervoso apical é extirpado (LASCALLA; MOUSSALLI, 1980). O suprimento sangüíneo dos dentes superiores e tecidos de suporte seria proveniente dos ramos arteriais alveolares superiores e vasos palatinos. Em estudos da vascularização do periodonto em macaco Rhesus, mostram que, na região vizinha à aderência epitelial, há numerosos capilares enovelados formando uma coroa vascular (BELL, 1969). Provavelmente a pressão gerada pelo líquido circulante, nesta densa rede capilar, seria um dos fatores na manutenção da aderência epitelial (LASCALLA; MOUSSALLI, 1980). Na abóbada palatina, as artérias procedem da artéria esfenopalatina, na região anterior e, das artérias palatinas superiores na região posterior. Os ramos terminais da artéria maxilar são a artéria palatina descendente e a esfenopalatina (principal artéria da fossa nasal). A artéria palatina maior chega ao palato pelos forames palatinos maiores e, seus ramos irrigam o palato mole e tonsilas palatinas, fornecendo ramos que irrigam também a mucosa palatina. Em seu ramo terminal, a artéria nasopalatina penetra na fossa nasal pelo canal incisivo (FÁVERO, 1986). VEIAS As veias na região maxilar caminham juntamente com as artérias, porém no sentido contrário, dirigindo-se para o plexo pterigóide e posteriormente para as veias maxilar, retromandibular e, por fim para a jugular externa (Fig. 6) (FÁVERO, 1986). Fig. 6 – Trajeto do retorno sanguíneo pelas veias, com destaque para o Plexo Pterigóide, responsável por grande parte das complicações hemorrágicas durante a liberação do Processo Pterigóide da Maxila. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 699 NERVOS A divisão maxilar do nervo trigêmeo tem uma função totalmente sensitiva. Penetra pela fossa pterigopalatina após deixar a fossa craniana, percorrendo este espaço e enviando ramificações para o gânglio esfenopalatino, nervo alveolar superior posterior e o ramo zigomático. A divisão maxilar transmite impulsos sensitivos da pele sobre a parte anterior da região temporal, do maciço zigomático, da pálpebra inferior, das porções laterais do nariz e do lábio superior, dentes superiores e gengiva na mesma região. Sensibiliza também grande parte da mucosa da cavidade nasal, palato duro e palato mole, partes daregião tonsilar e da região da faringe (SHICHER, TANDLER, 1981). Em seu trajeto, a partir do gânglio semilunar, a divisão maxilar do trigêmeo percorre quatro regiões, a fossa cranial mediana, a fossa pterigopalatina, o canal infra- orbitário e a face (ramos terminais). O maior interesse do cirurgião que realizará a osteotomia Le Fort I refere-se às três últimas regiões (FÁVERO, 1986). O Nervo infraorbitário dá origem aos nervos alveolares superiores durante seu trajeto no canal infraorbitário. O nervo alveolar superior posterior inerva a gengiva vestibular e os molares; o nervo alveolar superior médio inerva a região dos pré-molares e, finalmente o ramo anterior inerva porção anterior das fossas nasais, dentes anteriores superiores e gengiva. O nervo infraorbitário emerge pelo forame infra-orbitário dividindo-se em três ramos terminais, os nervos palpebrais inferiores inervando a pálpebra inferior, os nervos nasais externos e laterais, que se destinam à pele para região nasal e aqueles que emitem sensibilidade ao lábio superior (Fig. 7) (FÁVERO, 1986). Fig. 7 – Inervação facial, com destaque para a divisão maxilar do trigêmeo, de maior interesse para o cirurgião que realizará a osteotomia Le Fort I. Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 2000. OSTEOTOMIA LE FORT I - EVOLUÇÃO DA TÉCNICA VON LANGENBECH (1859) foi o primeiro autor a descrever a osteotomia maxilar, sendo, inicialmente modificada por WASSMUND e SCHUCHARDT e, mais tarde por WEST e EPKER, além de outras alterações no decorrer do tempo (FÁVERO, 1986). ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 700 As primeiras técnicas desenvolvidas para a osteotomia do tipo Le Fort I não separavam a maxila dos platôs pterigóides, requerendo tração elástica pós-operatória para sua separação. Apenas a partir dos anos 30 AXHAUSEN e SCHUCHARDT recomendaram a separação pterigomaxilar e, a técnica vem sendo utilizada com poucas modificações desde então (MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). AXHAUSEN (1934) usou o método para corrigir fraturas dos maxilares mal consolidadas, usando divisão do palato duro. Uma das primeiras intervenções Le Fort I foi de WASSMUND (1935), quando descreveu a osteotomia realizada em 1927, sendo efetuada por meio dos pilares caninos e zigomáticos e, a secção parcial da parede lateral da cavidade e do septo nasal (ARAÚJO, 1999). BELL; FONSECA; KENNEDY et al., (1975), demonstraram que poderia ser realizada a osteotomia total da maxila sem que houvesse maiores prejuízos ao suprimento sanguíneo da região, apenas preservando-se um “pedículo” de tecido mole nas regiões de palato e maxila. A osteotomia total da maxila foi desenvolvida em dois tempos cirúrgicos (KOLE, 1959). Foi relatado um procedimento semelhante, porém com a cirurgia em apenas um tempo cirúrgico (PAUL, 1969). Outro procedimento seguindo a mesma técnica para reposicionar uma fratura maxilar consolidada (MOHNAC, 1967). Modificação foi relatada nos casos de Le Fort I para a correção das deficiências congênitas ou adquiridas no terço médio da face quanto ao uso de fórceps de Rowe para desimpacção da maxila (WESSBERG; SCHENDEL; EPKER, 1982). A partir dos anos 70 houve uma grande evolução do tratamento das deformidades dento faciais uma vez que a osteotomia Le Fort I permite a realização de quase todos os movimentos, respeitando as limitações de cada caso. Anomalias transversas, ântero-posteriores e verticais da maxila podem ser solucionadas usando-se esta técnica. Há indicações também para recuo ou avanço da maxila, além do aumento ou diminuição da dimensão vertical (GRAZIANI, 1986). Esta técnica é executada trabalhando-se com a maxila num único bloco, após a separação do septo nasal, das paredes mediais e laterais do seio maxilar, além do processo pterigóide. Assim, a maxila poderá ser movimentada completamente em várias direções. Há alguns casos específicos ainda que a maxila possa ser partida em segmentos menores permitindo maiores movimentações (GRAZIANI, 1986 e SÁ JÚNIOR, 2001). As técnicas sofreram modificações no decorrer dos anos, visando suprir as necessidades de cada caso. Na seqüência o presente trabalho mostra as técnicas descritas inicialmente e, também aquelas preconizadas na atualidade. TÉCNICA CIRÚRGICA 1. OSTEOTOMIA LE FORT I QUADRANGULAR OBWEGESER (1969) É indicada para pacientes com deficiência horizontal, zigomáticomaxilar, com uma projeção nasal exacerbada. A incisão é feita a aproximadamente 4 mm acima da junção muco gengival até a altura dos pré- ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 701 molares. Expõe-se a porção anterior da maxila e posteriormente disseca-se o periósteo até a tuberosidade posterior bilateral e forame infraorbitário (assim como é feito para realização da osteotomia Le Fort II). Isola-se completamente o nervo infra-orbital. É necessário tomar muito cuidado para não violar a periórbita ou o nervo infraorbitário. A mucosa da parede lateral do nariz é elevada para expor uma porção maior da maxila. É importante manter a integridade da mucosa nasal, especialmente nos pacientes no qual um alargamento cirúrgico significativo seja realizado. Neste momento, o septo cartilaginoso e o vômer são separados da linha mediana do palato por uma cureta anteriormente e, com um cinzel posteriormente. A parede nasal lateral e a porção posterior do assoalho nasal são expostas por uma dissecção subperiostal e frequentemente é realizada turbinectomia, onde será exposta a espinha nasal posterior e após o “downfracture” localiza-se a artéria palatina. Para a realização da osteotomia são feitos movimentos oscilatórios com a serra a partir da abertura piriforme ao nível do nervo infraorbital estendendo lateralmente abaixo do forame infraorbital até região da tuberosidade- pterigóide na região posterior. Um degrau inferior na osteotomia é frequentemente necessário na margem anterior da proeminência maxilar. Devido a posição elevada, a osteotomia posterior pode precisar ser realizada com cinzel. É efetuada a “downfracture” com pressão digital ou fórceps, dependendo do caso. É realizado o bloqueio intermaxilar e reposicionada a maxila no local planejado após a remoção de possíveis interferências (Fig. 8). Fig. 8 – Localização da osteotomia quadrangular. Fonte: BELL, W. H. Modern practice in orthognathic and reconstructive surgery. 1992. 2. OSTEOTOMIA LE FORT I ALTA KUFNER (1971) Quando a projeção nasofrontal e a posição do globo ocular são anormais, os componentes estéticos principais a ser endereçados são a desproporção maxilomandibular, o osso zigomático e a região infra-orbitária. Embora uma combinação da osteotomia Le Fort I e procedimentos auxiliares fossem usados frequentemente para corrigir estas deformidades, o ideal seria uma ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 702 osteotomia que conseguisse amenizar estas deformidades por si só. Devido ao fato do epicentro estético do osso zigomático situar-se aproximadamente 2 cm lateralmente e 1,5 cm inferiormente ao canto lateral do olho, a extensão horizontal e posterior desta osteotomia no zigoma deve ser posterior e superiormente posicionados em relação a esta área. A porção horizontal anterior desta osteotomia deve localizar-se superiormente o bastante para incluir a parcela paranasal do osso maxilar. A osteotomia horizontal, iniciando no osso maxilar estende-se para posterior no arco zigomático, abaixo da sutura zigomáticotemporal e, aproximadamente 6 a 10 milímetros da região anterior do arco zigomático. A extensão superior e posterior desta técnica não somente fornecerá uma base estética, mas fará também com que tenha uma boa estabilidade e fixação pelo fato do zigoma ser um osso denso (Fig. 9). Fig. 9 - A. Localizaçãoda osteotomia Le Fort I alta. B. Maxila reposicionada e fixada com placa e parafuso. C. Aspecto frontal após a fixação. Fonte: BELL, W. H. Modern practice in orthognathic and reconstructive surgery. 1992. 3. OSTEOTOMIA LE FORT I TRADICIONAL BELL (1975) Através desta técnica é possível reduzir a altura facial, a exposição dos dentes incisivos e o espaço interlabial, movimentando-se a mandíbula para uma oclusão classe I. Na execução desta técnica, acrescenta que o excesso horizontal da maxila manifestado com mordida cruzada uni ou bilateral, está classificadamente associada com uma deficiência vertical da maxila. Assim observa-se que há uma aproximação do assoalho nasal e dos ápices dentais da maxila, contra-indicando a osteotomia transantral, pois poderá lesar os ápices dos dentes que frequentemente estão localizados ao nível do assoalho nasal (Fig. 10). A incisão horizontal é feita através do mucoperiósteo do vestíbulo da maxila, acima da dobra mucogengival e do segundo molar até o correspondente do lado oposto. Nas osteotomias horizontais anteriores e verticais posteriores, as linhas de referência são marcadas na parede lateral da maxila com brocas esféricas de fino calibre. Com um retrator colocado para proteger o mucoperiósteo nasal na secção horizontal do osso pela parede lateral da maxila da abertura piriforme e, posteriormente até a fissura pterigomaxilar. Anteriormente o corte ósseo horizontal é conduzido através das paredes lateral e medial da maxila. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 703 O assoalho medial do seio maxilar é seccionado acima das raízes palatais e assoalho nasal através de uma osteotomia do lado bucal. A porção posterior da parede antral é seccionada com deliberadas batidas com um osteótomo. Fig. 10 – Aspecto frontal, após realização da osteotomia na parede lateral e medial da maxila. Fonte: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. 1980. A parede posterior do seio maxilar é separada a cinzel, bem como o septo nasal, afastando a porção superior da maxila com um cinzel. A maxila é separada da apófise pterigóide com um cinzel curvo dirigido medial e anteriormente, posteriormente é fraturada para baixo com um mucoperiósteo separado do lado nasal da maxila no plano horizontal e do osso palatal (Fig. 11). Fig. 11 – Aspecto lateral com a separação do processo pterigóide com cinzel curvo. Fonte: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. 1980. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 704 A dimensão vertical nasal lateral e paredes posteriores do seio são reduzidas com broca para osso. Posteriormente, o mucoperiósteo é separado do septo nasal, a altura do septo é reduzida, facilitando a movimentação superior da maxila. Após movimentar o plano superior da maxila, um encaixe é feito no assoalho da fossa nasal para acomodar o septo. A altura do septo nasal é reduzida para facilitar o reposicionamento no assoalho da fossa nasal sem dobrar o septo. A maxila é fixada, um bloqueio interdental é feito com fio entre as barras interdentais ou aparelhos ortodônticos. A mucosa será reposicionada e suturada com pontos contínuos. 4. OSTEOTOMIA LE FORT I EM DEGRAU BENNET E WOLFORD (1985) Num esforço para melhorar a exatidão e a previsibilidade da cirurgia de avanço da maxila e, para eliminar os efeitos de rampa da osteotomia tradicional, foi apresentada a técnica em forma de degrau. Nesta técnica, a osteotomia maxilar lateral é feita paralela ao plano horizontal ou natural de Frankfort. Inicia-se no alto do pilar zigomático onde uma etapa vertical é feita. A osteotomia horizontal é continuada posteriormente até o processo pterigóide, paralela a anterior. É importante manter as osteotomias anterior e posterior paralelas para minimizar interferências durante o reposicionamento maxilar (Fig.12). Fig. 12 - A. Localização da osteotomia em degrau, destacando ser paralela ao plano de Frankfort. B. Movimentação já realizada e fixada com placas e parafusos. C. Osteotomia em degrau realizada mais superiormente. Fonte: BELL, W. H. Modern practice in orthognathic and reconstructive surgery. 1992. 5. OSTEOTOMIA LE FORT I EM RAMPA REYNEKE E MOSUREIK (1985) A técnica em rampa é uma variação da Le Fort I alta. Pacientes com deficiência vertical e ântero-posterior são passíveis da aplicação desta técnica. Quando a deficiência maxilar ântero-posterior é associada com a deficiência maxilar vertical, o planejamento cirúrgico deve incluir o avanço maxilar, além da correção da discrepância vertical (Fig.13). ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 705 Em alguns casos, ambas as correções podem ser conseguidas pela movimentação deslizante descendente e para frente da maxila. A osteotomia da parede lateral da maxila deverá ser individualizada para cada caso, ou seja, a inclinação do seccionamento deve variar dependendo do que será necessário obter em dimensão vertical. O comprimento da borda da abertura piriforme à porção lateral do zigoma é medido através da telerradiografia lateral. A partir desta medida a inclinação angular descendente da osteotomia e a posição do seccionamento vertical são calculadas. Na região anterior, um corte angulado estende-se da porção lateral do zigoma à porção inferior da abertura piriforme. Posteriormente, a osteotomia é dirigida 45 graus verticalmente, da porção lateral do zigoma, em direção à abertura piriforme. Em casos mais severos de discrepância vertical pode-se realizar enxerto interposicional. Fig. 13 – A. Ângulo da osteotomia, no qual irá variar dependendo da dimensão vertical que o cirurgião precisa para o caso. B. Enxerto interposicional utilizado para casos mais severos. Fonte: BELL, W. H. Modern practice in orthognathic and reconstructive surgery. 1992. 6. TÉCNICA PRECONIZADA POR KRUGER (1984) Realiza-se a incisão a 2 mm acima das mucosas que formam o fundo de sulco partindo da região dos molares, através da linha mediana até o lado oposto da mesma região, descolamento mucoperiostal no sentido superior, sendo exposto o processo zigomático da maxila e a abertura piriforme. Realiza osteotomia com broca de fissura desde o processo zigomático da maxila, em direção anterior, até um ponto aproximadamente 1 cm acima do assoalho da cavidade nasal continuamente para o lado oposto. As lâminas pterigóides são fraturadas na posição posterior da maxila por meio de um cinzel curto de Obwegeser. A cartilagem do septo nasal e as inserções do vômer são separadas da maxila por meio de cinzel fino. Deve-se tomar cuidado para proteger a região nasofaríngea com um dedo, pela possibilidade de perfuração do tubo nasotraqueal. A parede lateral da cavidade nasal é seccionada num nível inferior à inserção do corneto inferior por meio de um cinzel fino. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 706 A maxila pode ser liberada de suas ligações remanescentes por qualquer um dos métodos, através do fórceps de Rowe, cinzéis curvos ou instrumentos de Tessier inseridos posteriormente às tuberosidades maxilares fraturando-as para liberação. Em alguns casos a maxila pode ser totalmente liberada, colocando-se uma compressa de gaze sobre os dentes e manipulando o segmento em todas as direções por pressão manual. Finalmente a maxila é colocada em sua posição planejada no pré- operatório utilizando-se elásticos intermaxilares para ser mantida esta oclusão. As incisões são fechadas com sutura contínuas horizontais. 7. TÉCNICA PRECONIZADA POR PEDERSEN COM MODIFICAÇÕES DE OBWEGESER (1972) Obwegesser diz haver duas situações anatômicas que devemser levadas em consideração. A “retromaxila” que é uma condição na qual a maxila localiza-se muito posteriormente em relação à base do crânio e a “micromaxila” onde a maxila é muito pequena em relação à mandíbula. A técnica cirúrgica preconiza incisão estendendo-se circunferencialmente da superfície distal dos segundos molares bilateralmente da junção mucogengival. Incisões de alívio de 1 cm de comprimento podem ser realizadas nas porções distais direita e esquerda da incisão circunferencial primária. O mucoperiósteo é rebatido expondo a parede lateral total da maxila até as cristas zigomáticas, expondo forames infra-orbitais, anteriormente e o terço ínfero-lateral da abertura piriforme. Realiza-se osteotomias com broca horizontalmente ligando as fendas pterigomaxilares com as margens laterais da abertura piriforme. Os platôs pterigóides são separados das tuberosidades maxilares com um osteótomo curvo. O septo nasal e o vômer são divididos da parte superior da maxila e dos ossos palatinos com osteótomo. Após a mucosa nasal é rebatida das paredes laterais, e estas são seccionadas abaixo do corneto inferior com brocas. A maxila então é mobilizada com pressão manual e colocada em sua nova posição. Usa-se sutura horizontal contínua para fechar a incisão. 8. TÉCNICA PRECONIZADA POR KAMINISH (1983) A técnica consiste em estender o corte ósseo superior da abertura piriforme até a porção do arco zigomático, com um corte alto e após descendo até a apófise pterigóide pela lateral da maxila. O autor firma que tal procedimento tem maior estabilidade do segmento depois de reposicionado (KAMINISH; DAVIS; HOCHWALD et al., 1983). 9. TÉCNICA PRECONIZADA POR MANGANELLO-SOUZA (1999) Faz- se uma incisão em fundo de sulco vestibular de maxila, cerca de 2 mm acima da gengiva inserida, de segundo molar superior de um dos lados até o segundo molar superior oposto. Descola-se o retalho mucoperiostal até expor os pilares zigomáticos, as fossas caninas e a abertura piriforme. Nesta fase, ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 707 procede-se um descolamento bilateral da região posterior da maxila em direção à fossa pterigomaxilar, formando um túnel por onde se introduzirá posteriormente o cinzel curvo. Com o uso de brocas ou serra promove-se a osteotomia da tábua vestibular da maxila. O uso de cinzel nesta região pode levar à fratura da parede anterior do seio maxilar. A demarcação deve ser feita cerca de 3 a 5 mm acima das raízes dentais usando como referência os caninos. Completa-se a osteotomia anterior da maxila com cinzel fino de região de pilar zigomático, fossa canina e abertura piriforme bilateralmente. Estende-se o corte na região posterior até se encontrar o processo pterigóide do osso esfenóide. A osteotomia da região posterior é feita com um cinzel curvo adaptado na fossa pterigomaxilar. Na separação entre a maxila e o pterigóide bilateralmente deve-se ter cuidado todo especial com a artéria palatina e os vasos do plexo venoso pterigóide, mantendo-se a osteotomia posterior ao mesmo nível da anterior e, nunca acima desta. O cirurgião deve introduzir o cinzel por vestibular através do túnel descolado anteriormente e, com a outra mão palpando por palatino a junção pterigomaxilar, evitando assim que o cinzel ultrapasse a mucosa palatina. Após a osteotomia vestibular e das lâminas pterigóides, descola-se o assoalho nasal através da abertura piriforme, evitando-se romper a mucosa nasal, que provocará sangramento indesejável. Após a exposição do septo nasal e assoalho nasal, com um cinzel reto corta-se a parede medial da maxila e o septo nasal, separando-se toda a maxila. Para isto, podem-se utilizar fórceps de Rowe ou tração por meio de ganchos afastadores na região piriforme. 10. TÉCNICA PRECONIZADA POR SÁ JÚNIOR (2001) Esta técnica deve ser iniciada com uma incisão em fundo de vestíbulo maxilar estendendo-se até a região de primeiro molar bilateralmente. Não deverá estender-se além dos primeiros molares, com o intuito de evitar deficiência na irrigação da maxila. Feita a incisão corretamente, todo o mucoperiósteo que recobre as paredes anterior, lateral da maxila até a porção posterior e mucosa nasal deve ser afastado com um descolador de periósteo. Iniciando a osteotomia da parede lateral da maxila, deve se estender da abertura piriforme até o pilar zigomático, podendo ser utilizado um instrumento rotatório com uma broca carbide 702 ou uma serra reciprocante. Na parede lateral posterior pode ser efetuada com osteótomo fino do tipo “espátula”. Para a separação do septo nasal é utilizado um osteótomo contendo guias e, a junção da tuberosidade da maxila com o processo pterigóide com osteótomo curvo e, finalmente após a execução de todos estes processos, realiza- se o “downfracture”, posicionando assim, a maxila na posição desejada conforme o planejado no pré-operatório. REVASCULARIZAÇÃO DA MAXILA O suprimento sangüíneo da face é profuso, com uma circulação colateral abundante. O principal suprimento é através de ramos das artérias carótidas externas (Fig. 14) (GERHARDT DE OLIVEIRA, 1998). Na região anterior, é irrigada principalmente pelos vasos apicais, artéria labial, plexos palatino, periodontal e gengival (Fig.15) (BELL, 1975). ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 708 Fig. 14 – Composição esquemática para ilustrar o suprimento sanguíneo da maxila. Fonte: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. 1980. Fig. 15 – Irrigação da porção anterior da maxila. Fonte: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. 1980. Estudo foi efetuado sobre a revascularização e reparação óssea após osteotomia total da maxila realizada em 12 macacos Rhesus e, três deles tiveram as artérias palatinas ligadas intencionalmente. Após sacrifício dos animais foi realizado um exame microangiográfico em diferentes intervalos, observando-se que um dia após a cirurgia áreas isquêmicas foram notadas nos pilares caninos e na região das osteotomias. Após uma semana, houve um aumento do preenchimento vascular endostal e periosteal, além de tecido fibroso que já ocupava o espaço das osteotomias. Na segunda semana, vasos advindos do ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 709 periósteo penetravam nas corticais vestibulares se anastomosando com os vasos endostais. Em ambos os lados da osteotomia, tecido ósseo neoformado podia ser identificado. Depois de 4 a 6 semanas, notou-se aumento da vascularização e a presença de tecido ósseo maduro. Foi então constatado que não houve diferenças entre os macacos que tiveram a artéria palatina ligada e aqueles que não a tiveram (BELL, 1975). Após relevantes estudos afirmam alguns autores que para diminuir o risco de necrose avascular da maxila, devem ser preservados os vasos palatinos descendentes, além de serem mantidas as inserções musculares (LANIGAN; HEY; WEST, 1990). A isquemia intra-óssea e a necrose dos segmentos osteotomizados foram significantemente reduzidas quando o mucoperiósteo e a inserção dos músculos pterigóideo medial e masseter foram mais preservados (BELL; FONSECA; KENNEDY et al., 1975). Após a osteotomia Le Fort I, a irrigação sangüínea é derivada do pedículo vascular palatino através da artéria palatina descendente e dos ramos palatinos das artérias faríngea ascendente e facial e, também, a partir do pedículo vascular vestibular através da artéria alveolar póstero-superior. Dentre essas fontes, a artéria palatina descendente é o maior vaso, com diâmetro médio de 1,7 mm, sendo uma das principais responsáveis pelo sangramento durante as osteotomias. Danos a esses vasos geralmente não mostram nenhuma sequela devido à rápida revascularizaçãoe à boa circulação colateral (MENUCCI- NETO; POLIDO; MAZOLENI et al., 2004). ALTERAÇÕES NOS TECIDOS MOLES Desde a década de 50, os ortodontistas têm mostrado uma crescente preocupação não só com a estética facial, mas também com a oclusão (BLOOM, 1961 e PASTORI; MARZOLA; MENDES et al., 2005). A necessidade de quantificar as mudanças no tecido mole da face e prever os resultados cirúrgicos, pesquisadores tentaram estabelecer métodos de avaliação desses resultados obtidos por meio de comparações radiográficas ou até mesmo de programas de computador. Objetivaram criar uma previsão da inter- relação entre as mudanças de tecido mole e ósseo da face, para auxiliar na obtenção da maior harmonia facial e da previsibilidade possível para cada paciente (Fig. 16) (BELL; PROFFIT; WHITE, 1980). Em estudos foram analisadas as alterações do perfil facial no tratamento ortodôntico de 60 pacientes leucodermas em fase de crescimento e, tratados por meio de cirurgia ortognática. Através de medidas cefalométricas pré e pós-cirúrgicas de seis meses, mostrou-se a existência de uma relação muito próxima entre a movimentação ortodôntico pura dos tecidos e, as respostas dos tecidos moles, com possibilidade de previsão dessas mudanças (BLOOM, 1961). Trabalho usando telerradiografias laterais no pré e pós-operatório de 21 pacientes puderam constatar que a elevação do ápice nasal e a base do lábio superior foram as mais notadas. Em 40 % dos casos, houve uma redução da largura do vermelhão do lábio superior, ocorrendo uma alteração vertical superior de todos os pontos dos tecidos moles, desde o ápice nasal até o lábio inferior. O ângulo nasolabial aumentou em retrusão da maxila, diminuindo em avanço e, em ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 710 análise de perfil não houve alteração significativa na ponta do nariz (MANSOUR; BURSTONE; LEGAN, 1983). Sobre as mudanças do tecido mole associadas com um avanço total da maxila, usando telerradiografias cefalométricas pré-cirúrgicas e pós-cirúrgicas imediatas, com seis meses de pós-operatório, de oito pacientes, observou-se que algumas medidas foram estatisticamente insignificantes porque a amostragem era muito pequena. Uma alta correlação positiva na mudança horizontal foi notada e o lábio superior teve uma proporção média de 0,5:1 + 0,09 em relação ao incisivo superior, no eixo horizontal. No eixo vertical observou-se média 0,3:1 + 0,14, com pequena correlação entre alteração do lábio superior e incisivo, havendo, também, uma diminuição do ângulo nasolabial, que tem relação próxima com o incisivo superior, com proporção média de -1,2º:1.0 mm + 0,26. Foi notada, também, uma diminuição uniforme na espessura do lábio, com média de -1.9mm, e, uma uniformidade não foi observada entre os pacientes até os seis meses pós- operatórios, ocorrendo somente depois desse período, com os lábios tendendo a manter certa estabilidade (DANN; FONSECA; BELL, 1976). Fig. 16 - Pontos de referência, em tecido mole e ósseo Fonte: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. 1980. Estudos da estabilidade da maxila e da relação do tecido mole e ósseo no seu reposicionamento superior, utilizando uma análise morfológica de um traçado feito à mão e analisado pelo computador em 30 pacientes foi efetuado. A média de pós-operatório de 14 meses foi obtida como resultado satisfatório, nos pacientes com excesso vertical de maxila, uma correlação de 0,76 na relação entre lábio superior e incisivo superior. Além disso, foi constatado um encurtamento do ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 711 lábio com correlação de 0,38 sem alteração nenhuma no contorno, mas com uma rotação ao redor do ponto subnasal. O ápice nasal foi suavemente elevado pela cirurgia. Ao longo dos 14 meses, os autores notaram pequenos movimentos, especialmente no ponto A da maxila. Nos pacientes com bi-protrusão maxilar, obteve-se uma correlação de 0,66 entre o movimento posterior do lábio superior em relação ao incisivo superior, uma correlação de 0,51 entre o movimento, para cima, do lábio superior e incisivo superior. O perfil não mudou, apenas girou ao redor do ponto subnasal após a cirurgia. Ao longo dos 14 meses de pós- operatório desse grupo não foi observada mudança na posição da maxila (SCHENDEL; EISENFELD; BELL et al., 1976). Análise cefalométrica da morfologia nasal após osteotomia Le Fort I foi realizada em 50 pacientes que tinham telerradiografias cefalométricas pré- operatórias e pós-operatórias de seis meses no mínimo. Constatou-se que o ápice nasal moveu-se para cima, junto ao movimento anterior e superior do ponto A da maxila e, para baixo com movimento posterior e inferior do ponto A. Apesar de ser pequena, essa correlação é responsável por apenas 20% das alterações pós- operatórias no ápice nasal. A rotação da maxila não mostrou relação significante com as mudanças do ápice nasal. Foi observado também, em sua análise estatística, que não havia alterações nos tecidos moles quando estes eram suturados por técnicas diferentes, ou quando a espinha nasal anterior era removida (GASSMANN et al., 1989). As repercussões nos tecidos moles da face são vistos principalmente nas estruturas nasais e labiais, fornecendo suas correlações em coeficientes de alteração; entretanto uma variação significativa pode ser vista nos resultados e conclusões da grande maioria deles (BELL; PROFFIT; WHITE, 1980). Avaliando a movimentação dos tecidos moles juntamente com os tecidos duros após osteotomias de maxila em telerradiografias laterais foi constatado ser possível, no pré-operatório, prever-se as mudanças que ocorrerão nos tecidos moles (DANN; FONSECA; BELL, 1976). As mudanças associadas à intrusão cirúrgica total da maxila em pacientes com faces longas, caracterizadas pelo excesso vertical de maxila, foram estudadas em 10 casos, com um mínimo de seis meses de acompanhamento, onde traçados manuais foram realizados pré e pós-operatório em telerradiografias laterais de face. Foram obtidos como resultado que a mudança vertical dos pontos em tecidos moles da maxila estava relacionada de maneira significativa com as mudanças verticais das porções do tecido ósseo e, com a mudança da posição do incisivo superior como suporte, havendo ainda mudanças do lábio superior e do nariz. Os autores verificaram que, caso venha a ocorrer a intrusão do incisivo superior, o lábio superior vem a ocupar uma posição também superior em relação à pré-operatória (RADNEY; JACOBS, 1981). Foi também avaliada a estabilidade e alterações nos tecidos moles da face em correções da deficiência vertical da maxila, em 13 pacientes. Suas telerradiografias cefalométricas de pré, pós-operatório imediato, seis semanas, 12 e com seis meses de pós-operatório, com traçados feitos manualmente, foram estudadas, concluindo os autores que quantidades variáveis de recidivas ocorreram na maioria dos casos, nos primeiros dois ou três meses após a cirurgia. Não havia qualquer correlação entre a quantidade de movimento realizado e a recidiva. O comprimento do lábio superior não foi alterado significativamente com a quantidade de movimento realizado na maxila. Foi também notado que a ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 712 exposição do incisivo superior aumentou nos pacientes, tendo repercussão positiva na estética. No movimento horizontal da maxila foi vista uma porcentagem de 66% de acompanhamento do tecido mole em relação ao tecido ósseo, com grande variabilidade de resultados dentro da amostra (BELL; SCHEIDEMAN, 1981). Buscando a previsibilidade dos tecidos moles no reposicionamento maxilar em cirurgia ortognática com a técnica Le Fort I, estudo foi acompanhado em 46 pacientes. Em suas telerradiografias cefalométricas pré-operatóriase pós- operatórias imediatas, traçadas manualmente e depois digitalizadas, nenhuma diferença significante foi encontrada entre os pontos da previsão e os pós- cirúrgicos, sendo assim, considerada uma cirurgia previsível. Em outra análise, a média das diferenças entre as medidas foi muito próxima de zero e apenas o ponto localizado no molar, em movimento vertical, tendeu a ser inferior ao do planejamento, mostrando diferença estatisticamente significante entre o planejado e o pós-operatório (JACOBSON; SARVER, 2002). Quanto à orientação muscular após osteotomia total da maxila, estudos mostram que em qualquer cirurgia orofacial a alteração da forma, função e estética pode ser reconhecida. Os músculos podem ser manipulados para vantagem dos cirurgiões e, com isso, os efeitos indesejáveis possíveis de ocorrer na área perioral após as osteotomias da maxila podem ser evitados. A previsão pós-operatória do lábio em repouso pode ser encontrada (SCHENDEL; EISENFELD; BELL et al., 1976). Os profissionais não devem se esquecer, entretanto, de que existem limitações na busca pela melhoria da estética e que os pacientes muitas vezes não têm consciência delas, para evitarem-se assim as falsas expectativas transmitidas ao paciente (JACOBSON; SARVER 2002). COMPLICAÇÕES Várias complicações já foram descritas na literatura em relação à osteotomia Le Fort I e as que apresentam uma ocorrência maior são hemorragias e o mau posicionamento da maxila. Porém, com menor frequência pode ocorrer também fístulas artério-venosas, oro e nasoantrais, desvios de septo, incompetência velofaringeana, sinusite maxilar, necrose isquêmica, pseudo- artroses da maxila, fraturas indesejadas, danos ao sistema nervoso, danos ao sistema nasolacrimal e ocular e disfagia (ARAÚJO, 1999). As fístulas artério-venosas possivelmente são causadas pela ruptura de uma artéria junto a um plexo venoso, com anastomose espontânea. O paciente pode relatar zumbido e sensações pulsáteis na face e nos olhos. Seu tratamento consiste na embolização seletiva dos vasos que alimentam a fístula. A necrose asséptica é estabelecida devido a uma interrupção da vascularização, podendo ser devastadora para o paciente e para o profissional, uma vez que é muito difícil alcançar a reabilitação (ALMEIDA-JÚNIOR; CAVALCANTE, 2004). A ocorrência do mau posicionamento maxilar tem uma maior frequência por ser um problema de ordem técnica. Realizando um planejamento adequado, com “splints” sem distorções e uma correta cirurgia de modelos, esta complicação pode ser minimizada (ARAÚJO, 1999). A hemorragia trans-operatória é uma das complicações mais frequentemente relatadas na osteotomia Le Fort I, sendo a causa mais comum de ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 713 hemorragia associada à cirurgia ortognática. Consiste na falta de hemostasia trans-operatória e, na maioria dos casos, se deve a uma falha do cirurgião em conhecer detalhadamente a anatomia relevante da área em que está trabalhando. Porém, uma anatomia óssea, vascular ou de tecidos moles alterados ou incomuns pode apresentar problemas mesmo para os cirurgiões mais experientes (LANIGAN, 1997). Os vasos mais comumente associados com hemorragias arteriais são os ramos terminais da artéria maxilar, especialmente a artéria palatina descendente e a esfenopalatina, embora a própria artéria maxilar e a carótida interna possam também estar envolvidas. As anastomoses entre os ramos das artérias carótida interna e externa ou entre ramos correspondentes contralaterais da carótida externa podem perpetuar o sangramento, apesar da ligadura cirúrgica do vaso principal. A artéria maxilar e seus ramos ficam mais vulneráveis às injúrias durante a disjunção pterigomaxilar ou ainda durante a fratura inferior da maxila. A artéria palatina descendente é o vaso mais vulnerável durante esses momentos cirúrgicos, devido ao relacionamento entre os vasos palatinos descendentes e as osteotomias posteriores e medial da Le Fort I. Por isso, a maioria dos estudos relacionados à região posterior da maxila fala sobre o padrão de separação do processo pterigóide da maxila durante a osteotomia (RENICK; SYMINGTON, 1991 e LANIGAN; GUEST, 1993). O sangramento venoso após as osteotomias do tipo Le Fort I envolve principalmente o plexo venoso pterigóide, que corresponde a uma rede venosa justaposta aos músculos pterigóideos. É importante salientar que este plexo se comunica com o seio cavernoso, de localização intracraniana, drenando o sangue saturado em dióxido de carbono das meninges através do forame oval. Para este plexo converge a drenagem das veias que correspondem aos ramos das duas partes anteriores da artéria maxilar, a meníngea média, a palatina maior, a esfenopalatina, a bucal, a alveolar e, a oftálmica inferior (GERHARDT, 1998). É apresentado um caso de Le Fort I onde ao ser realizada a desimpacção da maxila, ocorreu o rompimento de vasos fazendo-se necessário ligar as artérias carótida externa e interna (NEWHOUSE; SCHOW; CRAUT et al., 1982). O sangramento pode variar de leve a intenso, podendo chegar até ao choque hipovolêmico e assim, é muito importante no pré-operatório serem tomadas algumas medidas preventivas em relação à hemorragia, como obtenção de suprimento sanguíneo adequado para uma eventual transfusão e, também, a possibilidade de realizar a cirurgia em hipotensão induzida e controlada (LANINGAM; HEY; WEST, 1991). A escola alemã não preconiza ligar ou cauterizar os vasos sangüíneos, visando uma menor fibrose e reação tecidual, pois as perdas sanguíneas podem ser diminuídas através da hipotensão reduzida e controlada, proporcionando assim uma melhor visualização do campo operatório e, diminuindo o tempo cirúrgico (GRANDO; PURICELLI; CHIAO et al., 1990). A hipotensão controlada foi induzida tendo um grande impulso (ENDERBY; ARMSTRONG, 1960) quando houve a introdução do Nitroprussiato de Sódio (NPS) (MORACA, 1962). Esta “modalidade” na anestesia geral baseia-se na posição do paciente e na vasodilatação causando alterações da pré-carga e da pós-carga. O débito cardíaco e a resistência vascular sistêmica são as variáveis manipuladas sem alterações reais da volemia, ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 714 possibilitando a realização da cirurgia com níveis de frequência cardíaca diminuídos, evitando maiores sangramentos. É importante frisar que o cirurgião promova uma correta ligadura vascular, caso contrário, ao restabelecer a pressão e a freqüência cardíaca normal, podem ocorrer sangramentos no pós-operatório (GRANDO; PURICELLI; CHIAO et al., 1990). Na ocorrência de desvio de septo, pode haver problemas funcionais e estéticos, muito desagradáveis no pós-operatório. Podem ocorrer pela remoção insuficiente da crista septal da maxila e do septo cartilaginoso no trans-operatório, ou mesmo durante a colocação de cânulas e/ou aspiração da cavidade nasal, ou ainda durante a extubação. Alguns desvios oferecem a possibilidade de redução, porém, há aqueles que podem necessitar de uma septoplastia posterior (ARAÚJO, 1999). Estudos mostram que podem ocorrer sinais e sintomas no pós- operatório como as secreções nasais posteriores, congestão nasal, febre e dores de cabeça. Visando evitar estas intercorrências, caso o paciente apresente alguma enfermidade no pré-operatório deve-se usar descongestionantes nasais para promover a rápida saída do sangue do seio maxilar no pós-operatório (YOUNG; EPKER, 1972). A ocorrência da sinusite maxilar é uma complicação mais rara na utilização desta técnica, entretanto ocorrendo deve ser administrada terapêutica medicamentosa com o uso de descongestionantes nasais, antibióticos e anti- histamínicos (ARAÚJO, 1999). Dentre as lesões oftálmicas, podem ser relatadas a xeroftalmia, cegueira com a lesão do II par craniano, óculomotor com o III par craniano, além de lesão dos nervosabducentes com o VI para craniano. A xerose corneana ou xeroftalmia consiste numa afecção do globo ocular, promovendo desaparecimento da secreção lacrimal e, desta forma, o globo ocular torna-se seco, áspero, sem brilho e, com aspecto de pergaminho (NEWLANDS; DIXON; ALTMANM, 2004). DISCUSSÃO A literatura é unânime em dizer que a cirurgia ortognática fornece ao paciente harmonia facial, além de restabelecer a função e, trazendo assim uma melhoria psicossocial, vindo a proporcionar uma melhor qualidade de vida (CUNNINGHAM; HUNT; FEINMANN; 1995 e HUNT; CUNNINGHAM, 1997 e PETERSON, 2000). A ortodontia pode resolver o problema em algumas situações, proporcionando aos pacientes até uma camuflagem, porém quando há uma discrepância nas bases ósseas, o tratamento ortodôntico não consegue suprir, havendo necessidade da intervenção cirúrgica. Lembrando que a cirurgia deve ser sempre precedida de tratamento ortodôntico descompensatório, como concordam alguns autores. (PROFFIT, 1991 e TOLEDO-FILHO, MARZOLA, TOLEDO-NETO, 1998). MIRANDA (1996) e CORTEZZI (1996) concordam ao afirmar que os pacientes com alterações maxilo-mandibulares, podem apresentar, concomitantemente, alterações nasais ou até mesmo disfunção temporomandibular. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 715 São muitas as indicações para a execução da técnica da osteotomia total da maxila com diversos relatos na literatura concordando com tais indicações como a exposição excessiva dos incisivos anteriores, o excesso horizontal, o excesso ântero-posterior, o excesso vertical, a mordida cruzada uni ou bilateral e, a hipoplasia maxilar (BELL, 1968; EPKER, 1981; PETERSON, 2000 e MARZOLA, 2005). O profundo conhecimento anatômico da região maxilar, além do seu desenvolvimento, tem fundamental importância para o sucesso do cirurgião e da manobra cirúrgica (WASHBURN; SCHENDEL; EPKER, 1982; MELSEN, 1987; HERFORD, 2001 e WIKKELING, KOPPENDRAAIER, 2001). Determinados autores concordam que osteotomia Le Fort I realizada em criança pode ser complicada pelo desenvolvimento dos molares além do crescimento do complexo maxilar, podendo interferir no futuro desenvolvimento ósseo (HERFORD, 2001 e WIKKELING, KOPPENDRAAIER, 2001). Porém, existe uma discordância de autores, afirmando que, após estudos em 16 pacientes entre 10 e 16 anos, não foram constatadas alterações no desenvolvimento facial (WASHBURN; SCHENDEL; EPKER, 1982). Dentre os ossos e estruturas anatômicas envolvidas diretamente na execução das técnicas citadas no presente trabalho autores afirmam como principais, além da maxila, o seio maxilar, o palato duro/mole, os ossos vômer, etmóide, esfenóide (CASTRO, 1976 e SHICHER, TANDLER, 1981). FÁVERO (1986) afirma ser de grande interesse ao cirurgião a divisão maxilar do trigêmeo que percorre a fossa ptérigopalatina, canal infra- orbitário e face sendo estes os ramos terminais. Porém são citados vastamente na literatura todos os ramos do nervo Trigêmeo que estão diretamente ligados às diversas técnicas e manipulações possíveis de serem realizadas no complexo maxilomandibular (SHICHER, TANDLER, 1981). Na literatura encontra-se a primeira técnica da osteotomia total da maxila descrita (VON LANGENBECH, 1859) e, até então a maxila não era separada dos platôs pterigóides, o que passou a ocorrer a partir da década de 30 com AXHAUSEN, utilizando-a para corrigir fraturas maxilares e, também, por WASSMUND, realizando a osteotomia dos pilares caninos, sendo os autores revisados unânimes ao afirmar tal pioneirismo (AXHAUSEN, 1934; FÁVERO, 1986; ARAÚJO, 1999; MENUCI-NETO; POLIDO; MAZZOLENI et al., 2004). Inicialmente a osteotomia era realizada em dois tempos cirúrgicos (KOLE, 1959), porém, com a evolução da técnica, encontra-se descrito o mesmo procedimento realizado em apenas um tempo cirúrgico (MOHNAC, 1967 e PAUL, 1969), situação esta seguida por grande parte dos autores na atualidade. Após os estudos elucidando a revascularização da maxila (BELL, 1969), diversos autores na literatura afirmam que a osteotomia Le Fort I vem sendo amplamente utilizada pelo fato de proporcionar uma variedade enorme de movimentações. Assim, são citados avanços, aumento/diminuição de dimensão vertical, havendo ainda a possibilidade de realização de uma segmentação da maxila, promovendo ainda maiores movimentações (GRAZIANI, 1986 e SÁ JÚNIOR, 2001). OBWEGESER (1969) descreveu a técnica de osteotomia Le Fort I quadrangular, indicando para pacientes com deficiência horizontal e, ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 716 zigomáticomaxilar com uma projeção nasal exacerbada. Hoje esta técnica já não é tão utilizada devido à chegada implantes aloplásticos, como o medpore (Porex), podendo restabelecer alguma deficiência na região do osso zigomático. A técnica da osteotomia alta é muito defendida usando também como argumento, o fato do osso zigomático ser denso, trazendo uma maior estabilidade e fixação (KUFNER, 1971). Apesar de ocorrer uma grande estabilidade encontram-se na literatura, até os dias atuais, poucos e restritos casos com esta indicação. A osteotomia tradicional (BELL, 1975), hoje é utilizada pela maioria dos autores, devido à sua indicação para diversos tipos de casos. Através desta técnica é possível reduzir a altura facial, a exposição dos dentes incisivos e o espaço interlabial e, assim, movimentar a mandíbula para uma oclusão classe I (PEDERSEN, 1972; KRUGER, 1984; BARROS; MANGANELLO-SOUZA, 1999 e SÁ-JÚNIOR 2001). Para pacientes com deficiências horizontal e ântero-posterior combinadas, a osteotomia em rampa pode ser aplicada, obtendo-se um avanço maxilar e ao mesmo tempo um descenso (REYNEKE; MOSUREIK, 1985). Porém grande parte dos autores utiliza a técnica tradicional de BELL, fazendo o descenso após realizar a osteotomia reta, com o argumento de obter maior exatidão no movimento realizado (PEDERSEN, 1972; KRUGER, 1984; MANGANELLO-SOUZA e SÁ-JUNIOR, 2001). Estudos afirmam que a maxila durante o processo de mobilização sofre grande déficit de suprimento sangüíneo, porém esta isquemia transitória não causa prejuízos à região, pois há uma rápida revascularização após a estabilização. Este fato sugere que se houver necessidade de ser realizada a ligadura das artérias palatinas descendentes, não haverá problemas com a cicatrização (BELL, 1975). No entanto, há discordâncias, onde autores afirmam haver grande risco de ocorrência de necrose avascular da maxila caso haja a ligadura, recomendando que os vasos palatinos descendentes devam ser preservados, o que aumentaria a segurança da osteotomia Le Fort I (LANIGAN, HEY; WEST, 1990). Porém concordam ao afirmar que a manutenção das inserções musculares é fundamental para diminuir o risco de necrose avascular da maxila (BELL; FONSECA, KENNEDY et al., 1975 e LANIGAN, HEY; WEST, 1990). Autores concordam ao dizer que os ortodontistas têm mostrado um maior interesse em proporcionar aos pacientes um quadro melhor da harmonia e função facial, aumentando as indicações cirúrgicas, quando são necessárias (BLOOM, 1961 e PASTORI; MARZOLA; MENDES et al., 2005). Muitos trabalhos foram realizados visando prever as alterações dos tecidos moles em relação às movimentações ósseas, porém os autores afirmam ocorrer grandes variações nos resultados (BELL; PROFFIT; WHITE, 1980). Discordando dos autores supracitados, alguns afirmam que a cirurgia ortognática é um procedimento totalmente previsível em relação às alterações dos tecidos moles faciais (JACOBSON; SARVER, 2002). Dentre os autores pesquisados para realização do presente trabalho, todos concordam, quando se referem ao mínimo de seis meses para que se obtenham resultados mais precisos nas alterações dos tecidos moles (BLOOM, 1961; DANN; FONSECA; BELL, 1976; SCHENDEL; EISENFELD; BELL et al., 1976; BELL; PROFFIT; WHITE, 1980 e MANSOUR; BURSTONE; LEGAN, 1983).ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 717 Em estudos sobre a movimentação dos tecidos moles juntamente com os duros após osteotomias da maxila em telerradiografias laterais constataram ser possível, no pré-operatório, prever as mudanças que ocorrerão nos tecidos moles (DANN; FONSECA; BELL, 1976). Em análise de telarradiografias laterais no pré e pós-operatório são vastos os autores afirmando que as estruturas que sofreram maiores movimentações após osteotomia foram o lábio superior e o ápice nasal, reduzindo o vermelhão do lábio superior em grande parte dos casos (PEDERSEN, 1972; DANN; FONSECA; BELL 1976; SCHENDEL; EISENFELD; BELL et al., 1976 e MANSOUR; BURSTONE; LEGAN, 1983). Todos os autores relatam a hemorragia com sendo a complicação mais comum de ocorrer ao ser realizada a osteotomia, relacionadas à artéria maxilar, em seus ramos terminais e, mais especificamente a artéria palatina descendente e a artéria esfenopalatina (NEWHOUSE; SCHOW; CRAUT et al., 1982; GRANDO; PURICELLI; CHIAO et al., 1990; RENICK; SYMINGTON, 1991; LANIGAN; GUEST, 1993; LANIGAN, 1997 e ARAÚJO, 1999). Entram em acordo quando afirmam haver outras complicações graves como as lesões oftálmicas, a xeroftalmia, a cegueira, a lesão do nervo óculomotor e abducentes, podendo ocorrer com maior frequência e, com menor ocorrência a sinusite maxilar, as fistulas artério-venosas oro e nasoantrais, os desvios de septo, as pseudo-artroses, a incompetência velofaringeana, além de dano ao sistema nervoso e necrose isquêmica (YOUNG; EPKER, 1972; ARAÚJO, 1999 e NEWLANDS; DIXON; ALTMANM, 2004). CONCLUSÕES Embasado na revista da literatura, desde os primórdios da utilização da técnica da osteotomia total da maxila – Le Fort I pode-se concluir que: 1. A cirurgia ortognática é um tratamento positivo quando se busca restabelecer a estética facial, harmonia dental e melhorias psicossociais. 2. São vastas as possibilidades para a realização da osteotomia Le Fort I, com fundamental importância para a indicação correta para cada tipo de caso. 3. Um conhecimento minucioso da anatomia da região maxilar é necessário, evitando assim maiores complicações no trans-cirúrgico. 4. São diversas as técnicas desenvolvidas até hoje, visando atender as diferentes formas de deformidades dentofaciais. 5. Após os estudos relacionados à microcirculação, a execução da técnica pode ser realizada com maior segurança pelos cirurgiões, uma vez que a revascularização é obtida totalmente. 6. Os tecidos moles que sofrem maiores alterações pela execução desta técnica cirúrgica são o lábio superior e o ápice nasal. 7. A hemorragia é a principal complicação, principalmente advinda da artéria maxilar e seus ramos terminais, especialmente a artéria palatina descendente e esfenopalatina. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 718 REFERÊNCIAS * ALMEIDA-JUNIOR, J. C.; CAVALCANTE, J. R. Osteotomia sagital do ramo mandibular e osteotomia total de maxila: Uma revisão de literatura. Pesq. bras. Odontoped. Clin. Integr., v. 4, n. 3, p. 249-58, 2004. ARAÚJO, A. Cirurgia Ortognática. São Paulo: Ed. Santos, 1999. AXHAUSEN, G. Zur Behandlung veralteter disloziert verheite oberkiefer bruche. Deust. Zahn Mund. Kief., v. 1, p. 332-8, 1934. BEHSNILIAN, V. Occlusión e rehabilitación. Montevideo: Ed. Montevideo Papelera, 1974. BELL, W. H.; ALESSANDRA, P. A. CANDIT, C. L. Surgical orthodontic correction of class II malocclusion. J. oral Surg., p. 265-72, 1968. BELL V. H. Revascularization and bone healing after anterior maxillary osteotomy: a study using adult rhesus monkeys. J. oral Surg., v. 27, p. 249-55, 1969. BELL, W. H. Le Fort I osteotomy for correction of maxillary deformities. J. oral Surg., v. 33, p. 412-26, 1975. BELL, W. H.; FONSECA, R. J.; KENNEDY, J. W. et al., Bone healing and revascularization after total maxillary osteotomy, J. oral Surg., v. 33, n. 4, p. 253- 60, 1975. BELL, W. H.; SCHEIDEMAN, G. B. Correction of vertical maxillary deficiency: stability and soft tissue changes. J. oral Surg., v. 39, p. 666-70, 1981. BELL, W. H. Modern practice in orthognathic and reconstructive surgery. Philadelphia: Ed. W. B. Saunders Company, 1992. BENNET, M. A.; WOLFORD, L. M. The maxillary step osteotomy and Steinmann pin stabilization. J. oral Maxillofac. Surg., v. 43, p. 307-11, 1985. BLOOM, L. A. Perioral profile changes in orthodontic treatment. Am. J. Orthod., v. 47, n. 5, p. 371-8, 1961. CASTRO, S. U. Anatomia fundamental. 2ª ed., São Paulo: Ed. Mcgraw-Hill do Brasil, 1976. CORTEZZI, W. Cirurgia ortognática e desordens temporomandibulares. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol., v. 83, p. 177-83, 1996. CUNNINGHAM, S. J; HUNT, N. P; FEINMANN, C. Psychological aspects of orthognathic surgery: a review of the literature. J. Adult Orthodon. Orthognath. Surg., v. 10, n. 3, p. 159-72, 1995. DANN, J. J.; FONSECA, R. J.; BELL, W. H. Soft tissue changes associated with total maxillary advancement: a preliminary study. Am. J. Orthod., v. 34, n. 1, p. 19-23, 1976. EPKER, B. N. Superior surgical repositioning of the maxilla: long term results. J. oral Maxillofac. Surg., v. 9, p. 237-46, 1981. FÁVERO, V. H. Estudos das técnicas cirúrgicas nas osteotomias de maxila. Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul da cidade de Porto Alegre, 1986. __________________________________________ * De acordo com as normas da ABNT. ESTUDO DAS OSTEOTOMIAS TOTAIS DA MAXILA - LE FORT I REVISTA DA LITERATURA 719 GASSMANN, C. J.; NISHIOK, G. J.; THRAS, W. J. et al., A lateral cephalometric analysis of nasal morphology following Le Fort I osteotomy applying photometric analysis techniques, J. oral Maxillofac. Surg., v. 47, p. 926- 30, 1989. GERHARDT DE OLIVEIRA, M. Manual de anatomia da cabeça e do pescoço. 3ªed., Porto Alegre: Ed. EDIPUCRS, 1998. GRANDO, T. A.; PURICELLI, E.; CHIAO, I. U. et al., Hipotensão induzida e controlada pelo halotano e nitroprussiato de sódio na cirurgia ortognática. Rev. bras. de Anestesiol., v. 40, n. 5, p. 325-30, 1990. GRAZIANI, M. Cirurgia buco-maxilo-facial. 7ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara / Koogan, 1986. HERFORD, A. S.; THARANON, W.; FINN, R. A. The pterygopalatomaxillary region in relation to the Le Fort I osteotomy. Oral Maxillofac. Surg., v. 9, p. 1-10, 2001. HUNT, N. P; CUNNINGHAM, S. J. The influence of orthognathic surgery on occlusal force in patients with vertical facial deformities. Int. J. oral Maxillofac. Surg., v. 26, n. 2, p. 87-91, 1997. JACOBSON, R.; SARVER, D. M. The predictability of maxillary repositioning in Le Fort I orthognathic surgery. Am. J. Orthodon. Dentofac. Orthop., v. 122, n. 2, p. 142-54, 2002. KAMINISH, R. M.; DAVIS, H. W.; HOCKWALD, D. A. et al., Improved maxillary stability with modified Le Fort I technique. J. oral Maxillofac. Surg., v. 41, p. 203-5, 1983. KOLE, H. Surgical operations on the alveolar ridge to correct occlusal abnormalities. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol., v. 12, n. 3, p. 277-88, 1959. KRUGER, G. O. Cirurgia oral e maxilo-facial. 5. ed. Ed. Guanabara / Koogan, 1984. KUFNER, J. Four year experience with major maxillary osteotomy for retrusion. J. oral Surg., v. 29, p. 549-53, 1971 In: BELL, W. H.; PROFFIT, W. R.; WHITE, R. P. Surgical correction of dentofacial deformities. Phiadelphia: Ed. W. B. Saunders Company, 1980. LANGENBECH, B. V. Beitrage zur osteoplastikdie osteoplastische resektion des oberkiefers. In: Goshen, A. Deustche Klinik. Berlin: Ed. Reimer, 1859. LANIGAN, D. T.; HEY, J.; WEST, R. A. Hemorrhage following mandibular osteotomies: a report of 21 cases. Int. J. oral Maxillofac. Surg., v. 49, n. 7, p. 713- 24, 1991. LANIGAN, D. T. GUEST, P. Alternative approaches to pterygomaxillary separation. Int. J. oral Maxillofac. Surg., v. 22, p. 131-8, 1993. LANIGAN, D. T.