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Chikungunya - Epidemiologia É uma doença de notificação compulsória. Esta notificação deve ser semanal, exceto nos casos de óbito, manifestações “atípicas” ou ocorrência em área não endêmica, quando a notificação passa a ser imediata (em até 24h). Atinge mais pessoas na faixa etária de 30 a 39 anos e do sexo feminino (60%) - Fisiopatologia A fisiopatologia da chikungunya é pouco compreendida e envolve mecanismos predominantemente periféricos A fase aguda está associada à viremia, isto é, sintomas clínicos que refletem a carga viral e o início da imunidade inata, estando relacionada com elevado nível de citocinas pro-inflamatórias tais como alfa-interferon e IL-6, IL 1Ra, IL-12, IL-15, IP-10 e MCP-1. Após esse período inicial, que dura até 4 dias, observa-se uma rápida redução da viremia e do quadro de dor articular, com consequente melhora. Nos 5 a 14 dias subsequentes, período conhecido como de convalescença, os pacientes não apresentam mais viremia detectável, entretanto alguns indivíduos persistem com sintomas. Os mecanismos fisiopatológicos da dor musculoesquelética e da artrite crônica após infecção pelo vírus da chikungunya são parcialmente conhecidos. Acredita-se que esses sintomas sejam decorrentes do escape precoce do vírus da chikungunya do interior dos monócitos e consequente relocação nos macrófagos sinoviais - Etiologia O Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus de RNA fita única pertencente ao gênero Alphavirus, da família Togaviridae. Em nosso meio, seus principais vetores são os mesmos mosquitos que transmitem a dengue: Ae. aegypti e Ae. albopictus. Em seu ciclo natural o homem é o hospedeiro definitivo, enquanto os primatas não humanos e outros vertebrados como roedores, pássaros e pequenos mamíferos representam hospedeiros intermediários. No meio urbano, o vetor transmite a doença de pessoa a pessoa, sem precisar do hospedeiro intermediário. O CHIKV parece não alterar o curso da gravidez nem ser teratogênico, porém, pode ser transmitido para o concepto se a mãe desenvolver viremia no período perinatal. A realização de parto cesáreo não altera o risco de transmissão. A maioria (90%) dos recém-natos expostos desse modo evolui com doença grave. O vírus não é transmitido pelo leite materno. - Quadro clínico O período de incubação varia de 1 a 12 dias. A fase aguda é marcada pelo início abrupto de febre alta (até 40ºC), que dura no máximo dez dias (média de sete dias). Por volta do 2º ao 5º dia sobrevém um quadro de intensa poliartralgia, que predomina em mãos, punhos e tornozelos. O acometimento tende a ser simétrico e distal, e em 30-50% das vezes o esqueleto axial também é envolvido. O exame físico costuma revelar edema periarticular (30-95% dos casos), sendo os derrames sinoviais volumosos menos frequentes (cerca de 15% apenas). A dor articular associada à chikungunya pode ser intensa e incapacitante. Queixas gastrointestinais e linfadenopatia (principalmente cervical) são outras manifestações que podem ser encontradas. Um rash eritematoso maculopapular aparece em 40-75% dos pacientes, iniciando-se por volta do 3º dia e durando entre três a sete dias. Pode haver prurido e formação de bolhas (principalmente em crianças). Após o término da fase aguda febril é comum a persistência de queixas articulares (fase subaguda), como rigidez matinal, dor e edema, geralmente nas mesmas articulações anteriormente afetadas. A duração é variável, com a maioria dos casos regredindo em até três meses. Uma pequena parcela experimenta poliartralgia/artrite por mais de 3 meses, entrando na fase crônica da doença. Estes pacientes podem evoluir com deformidades (artropatia crônica destrutiva), semelhante à artrite reumatoide ou artrite psoriásica, mas a maioria se recupera sem sequelas. Cerca de 20% desenvolve fenômeno de Raynaud, que aparece no segundo ou terceiro mês após a fase aguda. Outras queixas descritas na fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, dor neuropática, alterações cerebelares, distúrbios do sono, deficit de atenção e memória, depressão e turvação visual. A fase crônica pode durar até três anos. - Diagnóstico ➢ Laboratorial • Comum leucopenia e aminotransferases podem estar altas • Níveis de VHS e proteína C reativa costumam ficar aumentados por semanas ➢ RT-PCR (ou isolamento viral em cultura de células) ➢ Sorologia (ELISA antichikungunya IgM e IgG) - Tratamento Medidas de suporte clínico, como o uso de antitérmicos/analgésicos para alívio da febre e da poliartralgia. A droga de escolha é o paracetamol, podendo-se associar dipirona ou mesmo codeína em casos refratários. Deve-se evitar o uso de AINEs durante a fase aguda, pelo risco de coinfecção pelo vírus da dengue e consequente aumento no risco de hemorragias. Após fase aguda, se uma ou poucas articulações apresentarem artrite, pode-se optar por injeções intra-articulares de glicocorticoide. Não há tratamento antiviral específico comprovadamente eficaz, assim como não há vacina. Na vigência de sintomas refratários e intensos, imunossupressores, como o metotrexate, devem ser tentados. Pacientes que evoluem com artralgia crônica incapacitante podem receber analgesia com morfina ou derivados. - Bibliografia VERONESI, Ricardo; FOCACCIA, Roberto - Tratado de Infectologia - 2 Volumes - 4ª Edição, Editora Atheneu, 2010.