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Geovana Sanches, TXXIV 
FISIOLOGIA RENAL 
 
ANATOMIA RENAL 
 
 Os rins possuem de 11 a 13 cm de 
comprimento, 5 a 7.5 cm de largura e 2.5 a 3 cm 
de espessura. Pesam aproximadamente 125 a 
170g no homem (média de 150g) e de 115 a 155 
gramas na mulher (média de 130g). É importante 
que saibamos os tamanhos normais dos rins pois 
algumas doenças renais, especialmente DRC, 
cursam com a diminuição do órgão. 
 Apresentam formato de grão de feijão, 
com duas faces (anterior e posterior), duas bordas 
(medial e lateral) e dois polos/extremidades 
(superior e inferior). Na borda medial encontra-se 
o hilo, por onde passam o ureter, artéria e veia 
renal, vasos linfáticos e nervos. 
 Em toda sua superfície, os rins estão 
envolvidos por um tecido fibroso fino denominado 
cápsula renal. Ao redor do rim existe um acúmulo 
de tecido adiposo chamado gordura perirrenal, 
que por sua vez está envolvida por uma 
condensação de tecido conjuntivo denominada 
fáscia de Gerota ou fáscia renal. 
A cápsula renal é inervada, de forma que 
quando ela sofre comprometimento há dor; isso 
pode ocorrer em casos de nefrolitíase, em que há 
obstrução do fluxo urinário e acúmulo de urina nos 
rins, promovendo hidronefrose, distensão da 
fáscia e dilatação da cápsula. Outra gênese comum 
de dor renal são casos de pielonefrite, doença 
inflamatória infecciosa que causa inflamação da 
fáscia, gerando dor. 
 Ao corte frontal que divide o rim em duas 
partes é possível reconhecer o córtex renal, 
camada mais externa e pálida, e a medula renal, 
camada mais interna e escura. Na camada cortical 
predominam glomérulos, enquanto na camada 
medular predominam os túbulos renais. 
 É possível identificar as camadas cortical e 
medular através da ultrassonografia. Em algumas 
doenças, como na insuficiência renal crônica, há 
 
perda de função renal progressiva com a troca de 
néfrons por fibrose. Dessa forma, a camada 
cortical, que normalmente tem cerca de 2 cm, fica 
mais estreita, sendo a perda da relação entre 
medula e córtex um dos critérios de cronicidade 
da afecção. 
Irrigação 
Os rins consomem cerca de 25% de todo o 
débito cardíaco. Eles são perfundidos pelas 
artérias renais direita e esquerda, sendo que 
ambas são ramos da parte abdominal da artéria 
aorta. Quando a artéria renal penetra no rim, ela 
se divide, acompanhando os segmentos renais até 
formar as arteríolas, as quais perfundem os 
glomérulos. 
 A perfusão renal é muito importante pois a 
pressão arterial é responsável pela pressão 
hidrostática nos glomérulos, a qual é essencial 
para a filtração. Cada arteríola aferente penetra 
em um glomérulo, fazendo com que o sangue 
chegue a membrana basal glomerular e ocorra a 
filtração. O ultrafiltrado chega à cápsula de 
Bowman e segue para os túbulos renais; o restante 
do sangue retorna ao sistema circulatório através 
da arteríola eferente. 
 
NÉFRON 
 Os néfrons são a unidade funcional dos 
rins, sendo que um indivíduo jovem sem doença 
renal tem aproximadamente dois milhões deles, 
um milhão em cada órgão. 
Cada um dos néfrons é composto por um 
glomérulo, porção onde ocorre a filtração, e um 
sistema tubular, onde ocorre a reabsorção e 
secreção. 
 
 O túbulo proximal é a primeira porção do 
sistema tubular. Nele há reabsorção de cerca de 
85% do bicarbonato filtrado, o que é importante 
Geovana Sanches, TXXIV 
para a manutenção do pH. Também ocorre 
secreção de H+ (principal componente ácido do 
organismo). 
 Depois que o ultrafiltrado passa pelo 
túbulo proximal, ele segue para a porção 
descendente fina e ascendente fina da alça de 
Henle, locais onde há reabsorção passiva em 
decorrência do mecanismo de contracorrente. 
 Seguindo, ele sobe pela porção 
ascendetente espessa da alça de Henle, túbulo 
distal, e termina no túbulo coletor. 
Arteríolas 
A arteríola aferente é responsável por levar 
o sangue até o glomérulo, sendo que este penetra 
na membrana basal glomerular e é filtrado. 
Forma-se, então, o ultrafiltrado, que cai no espaço 
de Bowman e segue via sistema tubular. O que não 
foi filtrado deixa o sistema via arteríola eferente, 
voltando para a circulação. 
 
 O aparelho justaglomerular faz parte da 
mácula densa e está em íntimo contato com a 
arteríola aferente, sendo a queda da pressão de 
chegada a ela o seu principal sistema de ativação. 
Ele é responsável pela produção de renina, enzima 
que estimula o SRAA ao transformar o 
angiotensinogênio (produzido no fígado) em 
antiotensina I. A angiotensina I, por sua vez, é 
transformada em angiotensina II (peptídeo ativo) 
pela ECA. A angiotensina II se liga então ao 
receptor AT1, produzindo seus efeitos, tais como: 
• Reabsorção de sódio, especialmente no 
túbulo proximal; 
• Vasoconstrição da arteríola eferente; 
• Produção de aldosterona; 
• Efeitos pró-inflamatórios; 
• Efeitos pró-apoptóticos; 
• Efeitos pró-fibróticos; 
• Efeito arritmogênico 
 
Glomérulo 
 
 A membrana basal glomerular é semi-
permeável, ou seja, permite que alguns elementos 
passem para o espaço de Bowman e outros não. 
Há 2 bloqueios nessa membrana que impedem 
como proteínas e hemácias atravessem: 
• Bloqueio elétrico: a membrana basal tem é 
composta por proteoglicanos que a 
conferem carga elétrica negativa. Isso é 
responsável por repelir outros elementos 
de carga negativa, como a albumina; 
• Barreira mecânica: a membrana basal 
possui fendas, as quais fazem a barreira 
mecânica por impedirem que elementos 
maiores que 7000 Daltons ultrapassem 
para o espaço. 
o A albumina, além de possuir carga 
negativa, possui 70mil Daltons. 
Sendo assim, em condições 
normais, ela não deve ser 
encontrada na urina. 
 
DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA CORPORAL 
 Cerca de 2/3 do organismo humano é 
composto por água. Sendo assim, um indivíduo de 
70kg possui 42L de água, os quais são distribuídos 
como na imagem. 
 
Geovana Sanches, TXXIV 
 A maior parte da água do organismo está 
no espaço intracelular e o principal íon deste é o 
potássio, que tem grande importância no processo 
de repolarização celular. O armazenamento total 
do potássio no interior da célula gira em torno de 
3000 MEq (miliequivalentes), enquanto no sangue 
encontram-se concentrações de apenas 3,5 a 5 
MEq/L. 
 Por outro lado, o principal íon do meio 
extracelular é o sódio. Quando esse íon é retido no 
organismo por algum motivo, ele puxa água 
consigo, gerando grande ganho ponderal em 
decorrência do edema. 
 A regulação entre Na+ e K+ é realizada pela 
bomba Na+/K+/ATPase, que através do gasto de 
energia é capaz de colocar o potássio para dentro 
da célula e o sódio para fora, contra o gradiente de 
concentração. Esse transporte ativo tem papel 
fundamental na reabsorção tubular do sódio para 
o interstício. 
Composição química dos meios intracelular e 
extracelular 
 
 
FUNÇÕES DO RIM 
Balanço hídrico e salino 
O rim é o principal órgão que controla a 
quantidade de água e de sódio do organismo, 
excretando o excesso e retendo-os quando 
necessário. É importante lembrar que 
hipervolemia é sinônimo de hipertensão arterial 
sistêmica, o que não é adequado para o 
organismo. 
!" = $%	'	()! 
$% = *%	'	)+ 
Excreção de compostos nitrogenados 
 Conforme o metabolismo proteico atua, 
são produzidos compostos nitrogenados que 
devem ser excretados para não levar à toxicidade. 
Na prática, dosa-se apenas a ureia e a creatinina, 
mas mais de 90 substâncias são produzidas e 
excretadas. A perda de função renal leva ao 
acúmulo desses compostos. 
Regulação do equilíbrio ácido-base 
Os rins têm papel fundamental no 
equilíbrio ácido-base, tendo em vista que 
eliminam o ácido produzido diariamente pelo 
metabolismo, tais como ácido sulfúrico e ácido 
clorídrico (são fixos ou não voláteis, necessitando 
da excreção tubular do hidrogênio). Para tal, eles 
secretam hidrogênio na forma de amônia e 
reabsorvem bicarbonato. 
A partir disso, o pH sanguíneo normal tem 
valores entre 7,35 e 7,45. Em compensação, 
devido a excreção de amônia, o pH urinário varia 
entre 5 e 5,5. Éimportante lembrarmos que 
pacientes com perda de função renal devem ter o 
pH sérico avaliado, visando corrigi-lo em casos de 
acidose metabólica. 
Metabolismo ósseo 
A vitamina D3 (colecalciferol) é produzida 
pela pele quando exposta ao sol, devendo passar 
pelo fígado e pelos rins para sua ativação. Uma das 
etapas consiste na hidroxilação pela enzima 1-α-
hidroxilase nos rins, formando o calcitriol. O 
calcitriol, por sua vez, tem como principal função 
a absorção do cálcio da dieta nos enterócitos. 
Em casos de diminuição da função renal, há 
acúmulo de fósforo no organismo em decorrência 
da sua não eliminação. Essa hiperfosfatemia quela 
o cálcio, diminuindo a oferta do Ca++ livre. 
Isso gera estímulo para a secreção do PTH, 
cursando com hiperparatireoidismo secundário. 
Assim, há osteoclase, ou seja, ativação de 
osteoclastos que fazem a retirada do cálcio do 
osso, podendo levar a fraturas patológicas. 
Ademais, pode ocorrer calcificação em tecido 
vascular, aumentando a pressão arterial sistêmica 
e o risco de microfissuras e, consequentemente, o 
risco de eventos cardiovasculares (principal causa 
de morte em pacientes com insuficiência renal 
crônica). 
Atividade eritropoiética 
Os rins produzem eritropoietina, hormônio 
liberado na dependência da baixa oxigenação, que 
atua na medula óssea estimulando a produção das 
hemácias. Em casos de insuficiência renal crônica 
o paciente pode cursar com anemia multifatorial, 
a qual está relacionada a falta de produção da 
eritropoietina (principal causa), falta de ferro e 
diminuição do tempo de vida da hemácia. 
Controle da pressão arterial 
O rim controla a volemia e, portanto, tem 
papel importante no controle da pressão arterial. 
A perda de função renal promove diminuição do 
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volume urinário, o que cursa com hipervolemia e 
hipertensão arterial sistêmica. Com isso, há 
aumento da pressão hidrostática nos capilares, 
gerando edema. 
 
 Como visto em cada tópico, a perda da 
função renal implica no comprometimento dessas 
funções, sendo que o grau variará de acordo com 
a lesão. 
 
FILTRAÇÃO GLOMERULAR 
 Para que haja filtração glomerular, é 
necessária pressão arterial adequada, a qual 
regula a pressão hidrostática do capilar 
glomerular. 
Estrutura do glomérulo 
 
 
• Podócitos: dão sustentação; 
• Frenestras/poros: conferem à membrana a 
característica de semipermeabilidade. 
 
Permeabilidade seletiva para proteínas 
 Do total de proteínas plasmáticas, menos 
do que 0,1% é filtrado. 
• Elementos < 1,8 nm (7000 d) são filtrados; 
• Elementos > 4,4 nm (70.000 d) não são 
filtrados; 
• Elementos entre 1,8 e 4,4 nm serão 
filtrados de acordo com a carga elétrica. 
o Ânions são pobremente filtrados. 
 A albumina, principal proteína do plasma, 
além de possuir 70.000d, tem carga elétrica 
negativa. Quando ela entra em contato com a 
membrana glomerular, ela é repelida devido a 
carga também negativa desta. Isso é importante 
pois, se encontrarmos albumina no exame de 
urina (proteinúria), isso significa que ela venceu a 
barreira elétrica e mecânica da membrana 
glomerular, o que indica agressão ao glomérulo. 
 Casos de hematúria podem sugerir 
problemas renais e extrarrenais, assim como 
podem ser decorrentes do rompimento de 
capilares glomerulares. 
Determinantes da filtração glomerular 
 A filtração glomerular é determinada 
principalmente por dois fatores: permeabilidade 
seletiva (Kf) e pressão efetiva de filtração (PEF). 
*, = -.	'	!/* 
Permeabilidade seletiva (Kf) 
 A permeabilidade seletiva refere-se a 
características da membrana de filtração. A 
constante de permeabilidade (Kf) representa a 
superfície disponível para a filtração, ou seja, qual 
o volume a membrana basal consegue retirar do 
capilar sanguíneo para o espaço de Bowman em 
um minuto; seu valor estimado para o homem é 
de 12,5 ml/min x mmHg. 
Pressão efetiva de filtração (PEF) 
A PEF refere-se a diferença entre as 
pressões no glomérulo e no espaço na cápsula de 
Bowman. Ela é calculada a partir das forças de 
Starling e normalmente, em um paciente 
normotenso, seu valor é de 10 mmHg. 
 
• PHC (pressão hidrostática do plasma): é a 
pressão responsável pela retirada do 
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líquido do capilar sanguíneo. É 
diretamente proporcional à pressão 
arterial e está na direção do espaço de 
Bowman; 
• Pob (pressão oncótica no espaço de 
Bowman): é nula, tendo em vista que no 
espaço de Bowman não há proteínas; 
• Poc (pressão oncótica do capilar): é dado 
principalmente pela albumina; 
• PHB (pressão hidrostática do espaço de 
Bowman). 
 
 A partir disso vemos o quanto o controle da 
pressão arterial sistêmica é importante, pois caso 
a PHC supre as forças de entrada, não haverá 
filtração glomerular. 
Taxa de filtração glomerular 
 
 A taxa de filtração glomerular (TGF) 
corresponde à função renal, sendo que os valores 
normais são de 125ml/min – a cada 1 minuto, os 
glomérulos são capazes de filtrar 125mL de 
sangue. Considera-se uma função renal normal 
quando a TGF está acima de 90mL; caso esteja 
abaixo disso, utilizamos os valores para estratificar 
os pacientes de acordo com os valores 
encontrados. 
 Se a cada 1 minuto, filtram-se 125ml de 
sangue, em 24h, 180L de ultrafiltrado formado. 
Todavia, um indivíduo não urina essa quantidade, 
sendo o normal, para um paciente com 70kg, uma 
taxa de 70 mL/h – em 24h, 1.5L de urina. 
A diferença entre o ultrafiltrado e a 
quantidade de urina formada é decorrente da 
função de reabsorção dos túbulos renais, o que 
ocorre principalmente de forma ativa pela bomba 
Na+/K+/ATPase. Devido a isso, cerca de ¼ do débito 
cardíaco é direcionado aos rins; qualquer situação 
que cursa com baixa perfusão renal ou toxicidade 
na mitocôndria, ocasiona grande impacto na 
função tubular. 
 O clearence de creatina é utilizado na 
prática para estimar a função renal. As células 
musculares estriadas produzem creatina, a qual é 
metabolizada à creatinina no fígado; cerca de 25% 
desse produto é eliminado pela secreção tubular. 
A elevação da creatinina sérica indica uma TFG 
abaixo de 60 mL/min. 
Variação da TFG na alteração da PA 
 
 A pressão hidrostática do capilar é 
diretamente proporcional a pressão arterial 
sistêmica. Sendo assim, quanto mais baixa a PA, 
mais baixa a pressão hidrostática capilar e menor 
a taxa de filtração glomerular. 
 
REABSORÇÃO TUBULAR 
 A reabsorção é a principal função dos 
túbulos, sendo a outra função a de secreção. Cada 
porção do túbulo tem uma característica própria, 
mas com exceção das porções finas descendente 
e ascendente da alça de Henle, todo o restante é 
dependente da bomba Na+/K+/ATPase. 
 
Reabsorção de sódio no néfron 
• Túbulo contorcido proximal ≅ 67% 
• Porção espessa da alça de Henle ≅ 25% 
• Túbulo distal ≅ 4% 
• Ducto coletor ≅ 3% 
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TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL 
 O túbulo contorcido proximal é composto 
por três segmentos: S1, S2 e S3. 
 Dentre os túbulos, o túbulo contorcido 
proximal é o local em que há maior reabsorção de 
do sódio e água, com aproximadamente 67%. A 
água acompanhada o sódio em decorrência da 
osmolaridade, e isso se dá por meio das 
aquaporinas tipo 1 (principalmente no primeiro 
segmento do túbulo). 
 Além disso, tem papel fundamental na 
manutenção do equilíbrio ácido-base, visto que 
85% do bicarbonato retorna à circulação por meio 
dessa porção, e há importante secreção de 
hidrogênio. 
 Outra função importante é a reabsorção de 
glicose e aminoácidos da luz tubular para o 
sangue. 
 
 O ultrafiltrado cai na luz tubular e, como 
sempre há muito mais sódio (íon extracelular)na 
luz do que na célula, por gradiente de 
concentração, o Na+ passa para o espaço 
intracelular. Tendo em vista que o sódio é um 
cátion, toda vez que ele entra, é necessário que 
entre um ânion conjuntamente ou que saia um 
cátion para manter o equilíbrio de cargas. 
Para tal, encontramos nas células do 
túbulo proximal um contratransportador Na+H+, a 
partirdo qual troca-se uma molécula de sódio por 
uma molécula de hidrogênio. A partir desse 
transporte, aumenta-se a concentração de sódio 
intracelular, o que ativa a bomba Na+/K+/ATPase 
da membrana basolateral, responsável por 
transportar o sódio para o interstício e o potássio 
para o interior da célula. 
Essa bomba Na+/K+/ATPase tem 
importante papel na função tubular de 
reabsorção. Como ela trabalha contra o gradiente 
de concentração, há gasto energético, o que 
depende da quebra do ATP. Com isso, explica-se a 
necessidade de alta perfusão renal, a partir da 
qual chegam a glicose e o oxigênio (respiração 
aeróbica). 
O hidrogênio que foi secretado a partir do 
contratransportador Na+H+ se une com o 
bicarbonato proveniente da filtração glomerular. 
Isso ocorre, pois a borda em escova produz 
anidrase carbônica, enzima responsável por 
catalisar a união do H+ com HCO3-, formando o 
H2CO3. O ácido carbônico, por sua vez, dissocia-se 
em H2O e CO2 também pela ação da anidrase. 
O CO2, por ser um gás, retorna para o 
interior do túbulo de forma passiva e se une com 
a água presente no citoplasma, ainda por ação da 
anidrase carbônica, formando ácido carbônico. 
Esse ácido se dissocia em hidrogênio e 
bicarbonato: o bicarbonato chega ao interstício 
por meio do cotransportador HCO3-/Na+ presente 
na membrana basolateral; o hidrogênio, por sua 
vez, é novamente enviado à luz por meio do 
contratransportador Na+H+ (formação de um 
ciclo). 
O Cl-, que está no filtrado, volta à circulação 
através do espaço juncional, independente de 
outras moléculas. A água, por sua vez, passa 
através das aquaporinas 1, estrutura canalicular; 
para isso, ela segue o movimento do sódio 
(aumento da osmolaridade transcelular). 
 
 A bomba Na+/K+/ATPase está presente em 
várias outras células teciduais, e é essencial para 
o controle da concentração desses íons, 
especialmente no potássio. A angiotensina II é 
uma potente estimuladora da bomba, sendo 
que o estímulo adrenérgico e a aldosterona 
também exercem esse papel. 
 
PORÇÃO FINA DA ALÇA DE HENLE 
 A porção fina da alça de Henle é dividida 
em ascendente e descendente. A reabsorção de 
Na+ e H2O ocorre de forma passiva, em 
decorrência do gradiente de concentração entre a 
medula renal e a luz tubular. 
• Porção descendente fina: reabsorção 
predominante de H2O (da luz ao interstício) 
o Segmento concentrador 
• Porção ascendente fina: reabsorção 
predominante de sódio (passivo) 
o Segmento diluidor 
Nas regiões mais aprofundadas da medula 
(maior penetração dos néfrons em direção a 
pelve), maior a osmolaridade da região medular 
(em decorrência principalmente de sódio e ureia). 
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A maioria dos néfrons são tubulares, ou 
seja, não penetram tanto em direção à pelve 
(superficiais), enquanto a minoria são néfrons 
justamedulares (profundos). 
 
 
 
PORÇÃO ESPESSA DA ALÇA DE HENLE 
 A porção espessa da alça de Henle 
reabsorve cerca de 25% do Na+. Tendo em vista 
que esse segmento do túbulo não possui 
aquaporinas, não há reabsorção de água. 
 
 Na membrana basomedial se encontra a 
bomba Na+/K+/2Cl-, a partir da qual entram um 
sódio, um potássio e dois cloros. Ao aumentar a 
concentração de sódio intracelular, há estímulo 
para a bomba Na+/K+/ATPase, a qual manda o 
sódio para o interstício. 
 É o local de ação dos diuréticos de alça, 
como a furosemida, que bloqueia a bomba 
Na+/K+/2Cl- , impedindo a reabsorção de Na+. O 
fármaco chega carreada no sangue pela albumina 
e, para adentrar ao túbulo proximal, a albumina se 
solta, sendo a furosemida secretada no segmento 
S2 do túbulo proximal; ela percorre os túbulos até 
atingir a porção espessa, bloqueando a bomba em 
questão. 
São medicamentos de alta potência, tendo 
em vista que bloqueiam local de grande 
reabsorção de sódio e que o excesso não será 
reabsorvido nas demais porções. São utilizados em 
situações de hipervolemia, como DRC, IC, 
insuficiência hepática com ascite, edema agudo de 
pulmão, etc. 
TÚBULO CONVOLUTO DISTAL 
 O túbulo distal reabsorve cerca de 4% do 
sódio filtrado, o que se dá a partir do co-
transportador Na+/Cl-; o aumento do sódio 
intracelular estimula a bomba Na+/K+/ATPase, a 
qual manda o sódio para o interstício. Não há 
reabsorção de água, tendo em vista a ausência de 
aquaporinas. 
 
 É o local de ação dos diuréticos tiazídicos, 
os quais bloqueiam o transportador Na+/Cl-. São 
usados para tratamento da hipertensão arterial 
sistêmica (primeira linha de tratamento) e 
hipercalciúria (diminuem perda urinária de cálcio). 
DUCTO COLETOR 
 O ducto coletor é responsável pelo ajuste 
fino do sódio e da água, tendo em vista que pode 
reabsorver mais ou menos de acordo com as 
necessidades do organismo; ele reabsorve cerca 
de 3% do Na+. Apresenta dois tipos celulares: 
• Células intercaladas: importante papel na 
manutenção ácido-base, tendo em vista 
que promovem secreção de H+ e 
reabsorção de HCO3-. 
o O H+ se liga ao NH3, formando NH4+ 
(forma pela qual o hidrogênio é 
liberado) 
o Célula intercalada tipo α: troca de 
bicarbonato (da célula para o 
interstício) com cloro (do interstício 
para a célula). 
 
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• Células principais: responsáveis pela 
reabsorção de sódio e secreção de potássio 
(para a luz). É o local de ação da 
aldosterona e vasopressina (receptores 
V2). 
A acidificação urinária distal ocorre 
principalmente nos túbulos coletores. 
 
Células principais 
 As células principais sofrem ação da 
vasopressina e da aldosterona, com ajuste fino das 
concentrações de sódio e água. 
A reabsorção de sódio é feita por um canal 
denominado ENaC (canal específico de Na+); é 
unidirecional, da luz para o interior da célula. No 
espaço intracelular, o aumento da concentração 
de sódio ativa a bomba Na+/K+/ATPase, fazendo 
com que o sódio retorne para o interstício. 
Para manter a eletroneutralidade da 
célula, quando o Na+ entra, é necessário que outro 
cátion saia ou entre um ânion. Nesse caso, a cada 
sódio que entra, uma molécula de potássio sai por 
canais ROONK (transporte da célula para a luz). 
Ao chegar mais sódio na luz tubular, haverá 
maior entrada desse íon e, consequentemente, 
maior secreção de potássio. Esse é um dos 
mecanismos pelos quais os diuréticos podem 
causar hipocalemia. 
 
O papel da aldosterona 
 A aldosterona é liberada via SRRA, sistema 
ativado a partir do estímulo ao aparelho 
justaglomerular por baixa pressão de chegada na 
arteríola aferente. Nessa situação, há liberação de 
renina, responsável por transformar angio-
tensinogênio em angiotensina I. A enzima 
conversora de angiotensina (ECA), por sua vez, 
promove a formação de angiotensina II, a qual se 
liga a receptores AT1 gerando os seus efeitos. 
 Dentre os efeitos da angiotensina II, está o 
estímulo à produção e liberação de aldosterona 
das células da suprarrenal. A aldosterona tem os 
seguintes papeis: 
• Estimula a bomba Na+/K+/ATPase de todas 
as células do organismo; 
• Aumenta a quantidade e atividade dos 
canais ENaC 
o Facilita passagem de sódio de luz 
para a célula e da célula para o 
interstício. 
§ Conservadora de sódio 
§ Espoliadora de potássio 
• Alguns estudos sugerem que outra função 
é o estímulo para aumento dos canais 
RONNK. 
 
Situações práticas 
• O hiperaldosteronismo primário consiste 
no aumento da produção de aldosterona 
de forma rápida. Esses pacientes 
conservam sódio, gerando hipervolemia e 
hipertensão secundária. Além disso, entre 
30 e 40% ainda cursam com hipo-
potassemia. 
• Dieta com excesso de sódio leva a 
hipervolemia à bloqueio na liberação de 
renina e, consequentemente, de 
aldosterona à perda de sódio na urina. 
• Dieta hipossódica, hipotensão, 
hipovolemia à ativação do SRAA e 
aumento dos níveis de aldosterona, a fim 
de conservar o sódio no organismo, 
aumentar a volemia e corrigir a 
hemodinâmica. 
 
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Ajuste da água 
 O ajuste fino de água no ducto coletor 
ocorre nas células principaise é dependente da 
vasopressina (ADH), hormônio liberado pela 
neurohipófise quando há estímulos: 
• Aumento da osmolaridade plasmática 
captada pelos osmorreceptores; 
• Baixa da pressão arterial em 20 a 30%, o 
que é captado por barorreceptores 
presentes no arco aórtico e seio carotídeo. 
Ao ser liberada, a vasopressina atuará nos 
receptores V1 das artérias, gerando 
vasoconstrição; e V2 na membrana basolateral das 
células principais do ducto coletor, estimulando a 
produção de aquaporinas (principalmente 2 e 3), 
canalículos especializados na reabsorção de água. 
Quando o ADH se liga ao receptor V2 e há 
formação das aquaporinas, puxa-se água da luz 
tubular para o interstício, retendo água no 
organismo (abaixa osmolaridade e aumenta 
volemia). 
 
Resumidamente... 
• Resposta à privação de água: aumento da 
osmolaridade do plasma à ativação de 
osmorreceptores à neurohipófise à ADH 
à V2 à segura água no interstício 
o Urina se torna mais concentrada e 
em pouca quantidade 
• Resposta à ingestão excessiva de água à 
inibe osmorreceptores à diminui ADH à 
diminui reabsorção de água à eliminação 
pela urina à aumento da osmolaridade 
plasmática 
o Urina menos concentrada e em 
maior volume. 
Vale lembrar que em condições como 
diabetes insipidus, não há produção de ADH. 
Outra condição importante é a ingestão de álcool, 
o qual inibe a ação desse hormônio.

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