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Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A Síndromes edematosas Definição Edema é uma condição clínica caracterizada por inchaço palpável produzido pelo acúmulo anormal de líquido no espaço intersticial, que pode ser localizado ou generalizado. Fisiopatologia Troca de líquidos plasmático e intersticial Cerca de dois terços da água corporal total está em nível intracelular, enquanto um terço é extracelular; → Cerca de um quarto do líquido extracelular está no plasma, enquanto o restante compreende o líquido intersticial; Há trocas constantes de fluidos entre os dois compartimentos de líquido extracelular; → A pressão hidrostática dentro dos capilares e a pressão coloidal oncótica no líquido intersticial promovem o movimento de água e solutos passíveis de difusão do plasma para o interstício; O movimento é mais proeminente na origem arterial dos capilares, caindo progressivamente com o declínio na pressão intracapilar e com a elevação na pressão oncótica em direção à extremidade venular; O líquido retorna do espaço intersticial para o sistema vascular em grande parte através do sistema linfático; As trocas de fluidos são normalmente equilibradas de maneira que os volumes dos compartimentos intravascular e intersticial permaneçam constantes; O movimento resultante de fluidos do espaço intravascular para o intersticial que pode ser responsável pelo desenvolvimento de edema sob as seguintes condições: → Aumento na pressão hidrostática intracapilar; → Drenagem linfática inadequada; → Redução da pressão oncótica no plasma; → Dano à barreira endotelial capilar; → Aumentos na pressão oncótica no espaço intersticial. Redução de volume arterial efetivo Em diversos tipos de edema, o volume efetivo do sangue arterial encontra-se reduzido; O preenchimento insuficiente da árvore arterial pode ser causado por uma redução de débito cardíaco e/ou resistência vascular sistêmica, por acúmulo de sangue nas veias esplâncnicas (como na cirrose) e por hipoalbuminemia; Como consequência desse procedimento insuficiente, é acionada uma série de respostas fisiológicas voltadas para restabelecer o volume arterial efetivo normal; → Um elemento importante dessas respostas é a retenção renal de sódio e, portanto, de água, restaurando, dessa forma, o volume arterial efetivo, porém, algumas vezes, também ocasionando ou intensificando o edema. Fatores renais e o sistema renina-angiotensina-aldosterona O fluxo sanguíneo renal diminuído, característico dos estados nos quais o volume de sangue arterial efetivo está reduzido, é traduzido pelas células justaglomerulares renais em um sinal para maior liberação de renina; A renina é uma enzima que age no seu substrato, o angiotensinogênio, para liberar angiotensina I, que, por sua vez, é convertido em angiotensina II; A angiotensina II possui propriedades vasoconstritoras generalizadas, particularmente nas arteríolas eferentes renais; → Esse efeito reduz a pressão hidrostática nos capilares peritubulares, enquanto a fração de filtração aumentada eleva a pressão coloidal osmótica nesses vasos, aumentando, assim, a reabsorção de sal e água nos túbulos proximais, assim como no ramo ascendente da alça de Henle; Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) leva à retenção de sódio e água e, portanto, contribui para a formação do edema; → O bloqueio da conversão da angiotensina I em AII e o bloqueio do receptor de AII aumentam a excreção de sódio e água e reduzem vários tipos de edema; A AII que penetra na circulação sistêmica estimula a produção de aldosterona pela zona glomerulosa do córtex suprarrenal; → Essa aldosterona aumenta a reabsorção de sódio (e a excreção de potássio) pelo túbulo coletor, favorecendo a posterior formação de edema; O bloqueio da ação da aldosterona pela espirolactona ou eplerenona (antagonistas da aldosterona) ou pela amilorida (um bloqueador dos canais epiteliais de sódio) em geral induz uma diurese moderada nos estados edematosos. Arginina-vasopressina A secreção de arginina-vasopressina (AVP) pela glândula hipofisária posterior ocorre em resposta a um aumento da concentração osmolar intracelular e, mediante a estimulação dos receptores V2, a AVP aumenta a reabsorção de água livre nos túbulos distais e ductos coletores dos rins, aumentando, assim, a água corporal total; A AVP circulante fica elevada em muitos pacientes com insuficiência cardíaca, secundariamente a um estímulo não osmótico associado à diminuição do volume arterial efetivo e à complacência reduzida do átrio esquerdo; Esses pacientes deixam de apresentar a redução normal de AVP com uma redução da osmolalidade, contribuindo para a formação de edema e hiponatremia. Endotelina-1 É um potente peptídeo vasoconstritor liberado pelas células endoteliais; Sua concentração no plasma é elevada em pacientes com insuficiência cardíaca grave e contribui para vasoconstrição renal, retenção de sódio e edema. Peptídeos natriuréticos A distensão atrial causa a liberação de peptídeo natriurético atrial (ANP), um polipeptídeo, na circulação; Um precursor do ANP de alto peso molecular é armazenado em grânulos secretórios dentro de miócitos atriais; Um peptídeo natriurético (BNP) intimamente relacionado é armazenado primariamente nos miócitos ventriculares e é liberado quando a pressão diastólica ventricular aumenta; ANP e BNP liberador se ligam ao receptor-A natriurético, que causa: → Excreção de sódio e água pelo aumento da taxa de filtração glomerular, inibindo a reabsorção de sódio no túbulo proximal e inibindo a liberação de renina e aldosterona; → Dilatação de arteríolas e vênulas antagonizando as ações vasoconstritoras da AII, AVP e estimulação simpática; Sendo assim, níveis elevados de peptídeos natriuréticos possuem a capacidade de se contrapor à retenção de sódio nos estados hipervolêmicos e edematosos; Nos estados edematosos, a resistência às ações de peptídeos natriuréticos poderá estar aumentada, reduzindo ainda mais a sua eficácia. Diagnósticos diferenciais Insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica complexa que resulta do comprometimento estrutural ou funcional do enchimento ventricular ou da ejeção sanguínea; O esvaziamento sistólico deficiente do(s) ventrículo(s) e/ou o comprometimento do relaxamento ventricular promovem um acúmulo de sangue na circulação venosa às custas do volume arterial efetivo; Além disso, a ativação do sistema nervoso simpático e do SRAA agem em conjunto causando vasoconstrição renal, redução da filtração glomerular e retenção de sal e água; Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A → A retenção de sódio e água continua, e o incremento do volume sanguíneo acumula-se na circulação venoso, aumentando a pressão venosa e intracapilar, resultando em edema; A presença de cardiopatia manifesta, com cardiomegalia e/ou hipertrofia ventricular, junto com evidências clínicas de falência cardíaca (dispneia, estertores basais, distensão venosa e hepatomegalia) geralmente indica que o edema resulta de insuficiência cardíaca; O edema ocorre nas porções dependentes do corpo; Testes não invasivos, como o cardiograma, a ecocardiografia e as medidas de BNP (ou NT-pró-BNP) são úteis para estabelecer ao diagnóstico de doença cardíaca. Cirrose hepática Caracteriza-se em parte por obstrução do fluxo venoso hepático, que, por sua vez, expande o volume sanguíneo esplâncnico e aumenta a formação hepática de linfa; A hipertensão intra-hepática atua como um estímulo à retenção renal de sódio e causa uma redução do volume sanguíneo arterial efetivo; Essas alterações são frequentemente complicadas pela hipoalbuminemia secundária à redução da síntese hepática de albumina,assim como pela vasodilatação arterial periférica; Esses efeitos reduzem o volume sanguíneo arterial efetivo, levando à ativação dos mecanismos de retenção de sódio e água; A concentração de aldosterona circulante mostra-se frequentemente elevada pela incapacidade do fígado de metabolizar esse hormônio; Inicialmente, o excesso de fluido intersticial se localiza preferencialmente em nível proximal em relação ao sistema venoso portal congestionado, causando ascite; Nos estágios avançados, particularmente quando há hipoalbuminemia grave, pode ocorrer edema periférico; Um acúmulo considerável de líquido ascítico pode aumentar a pressão intra-abdominal e impedir o retorno venoso dos membros inferiores e contribuir para o acúmulo de edema. Edema de doença renal O edema que ocorre durante a fase aguda da glomerulonefrite é normalmente associado a hematúria, proteinúria e hipertensão arterial; Na maioria dos casos, o edema resulta da retenção primária de sódio e água pelos rins devido à disfunção renal; Esse estado diferencia-se da maioria das formas de insuficiência cardíaca pelo fato de caracterizar por um débito cardíaco normal (ou, algumas vezes, ainda aumentado); Os pacientes com insuficiência renal crônica também podem desenvolver edema devido à retenção renal primária de sódio e água. Síndrome nefrótica A alteração primária na síndrome nefrótica é uma diminuição da pressão coloidal osmótica devido às perdas de grandes quantidades de proteína (≥ 3,5 g/dia) na urina e hipoalbuminemia (< 3,0 g/dL); Com a redução na pressão coloidal osmótica, o sódio e a água que são retidos não podem ser mantidos no interior do compartimento vascular, e os volumes total e efetivo do sangue arterial diminuem; Esse processo inicia a sequência de eventos formadores do edema, incluindo a ativação do sistema SRAA; A síndrome nefrótica pode ocorrer durante o curso de uma variedade de doenças renais, que incluem glomerulonefrite, glomeruloesclerose diabética e reações de hipersensibilidade; O edema é difuso, simétrico e mais significativo nas áreas dependentes; O edema periorbital é mais notável durante a manhã. Edema de origem nutricional Uma dieta pobre em calorias e particularmente em proteínas durante um período prolongado pode produzir hipoproteinemia e edema; O edema pode ser intensificado pelo desenvolvimento da cardiopatia por beribéri, que também é de origem nutricional, em que múltiplas fístulas arteriovenosas periféricas reduzem a perfusão sistêmica e o volume Alice Bastos Módulo XVII – F, PDP & A sanguíneo arterial efetivos, aumentando, desse modo, a formação de edema; O edema ocorre ou pode agravar-se quando indivíduos desnutridos recebem pela primeira vez uma dieta adequada; A ingestão de mais alimentos pode aumentar a quantidade de sódio ingerida, que é, então, retida em conjunto com a água; O edema de realimentação também pode estar relacionado com um aumento da liberação de insulina, que aumenta diretamente a reabsorção tubular de sódio.