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HEMATOLOGIA 1) Explicar a cascata de coagulação e hemostasia. Coagulação: ● A etapa que dá início à coagulação ocorre em resposta ao dano vascular, que expõe o subendotélio ao sangue. ● O fator de von Willebrand (FvW), que normalmente circula no plasma, pode ligar-se ao colágeno exposto da matriz extracelular e à Glicoproteína (Gp) Ib, presente na superfície plaquetária Próximas ao subendotélio, as plaquetas se ligam ao colágeno pela GpVI Essa ligação promove uma sinalização em cascata e ativação das integrinas plaquetárias, que mediam a ligação das plaquetas com o subendotélio (adesão plaquetária). ● O Fator Tecidual (FT), presente no subendotélio, é exposto e se liga ao FVII circulante no plasma. O FT é uma glicoproteína transmembrana com altos níveis de expressão no coração, cérebro, pulmão, testículos, placenta e rins. ● O FT atua como receptor e cofator para o FVII. Uma vez complexados, o FVII é rapidamente convertido a FVII ativado (FVIIa) e o complexo FT/ FVIIa resultante ativa os fatores IX e X. ● O FXa se liga ao FVa e converte pequenas quantidades de protrombina em trombina Essa quantidade é suficiente para retroalimentar a coagulação através da ativação dos fatores V, VIII e XI e de receptores da superfície plaquetária. Amplificação ● Inicia-se a partir do efeito de pequenas quantidades de trombina gerada na etapa de iniciação sobre os receptores plaquetários e fatores da coagulação. ● A trombina liga-se avidamente a GpIb, sofrendo uma alteração conformacional, que permite a clivagem dos receptores Ativadores de Protease Plaquetária (PAR) pela trombina. ● PAR são proteínas transmembranas presentes nas plaquetas. ● A interação da trombina com o PAR-1 engatilha um processo de sinalização em cascata, que resulta na ativação plaquetária, levando a alterações, como: ● mudança no citoesqueleto plaquetário com modificação da forma da plaqueta; ● aumento da expressão de Fosfatidilserina (FS) na superfície externa da plaqueta, fato crucial para o incremento da atividade coagulante. Quando as plaquetas são ativadas, a FS migra para a porção externa da membrana, permitindo a formação dos complexos de amplificação da coagulação, os complexos tenase e protrombinase. ● desgranulação plaquetária com liberação dos conteúdos dos grânulos α e denso. O FV parcialmente ativado, presente nos grânulos α, é rapidamente convertido para a forma completamente ativa por ação da trombina ou do FXa. ● Na etapa de amplificação, a trombina age principalmente através da ativação do FVIII e do FV plaquetário ou FV plasmático ligado a plaquetas. ● A ação da trombina sobre o FVIII ativa-o e promove sua dissociação do FvW. Assim, a etapa de amplificação resulta na geração de plaquetas ativadas que possuem os cofatores Va e VIIIa ligados em sua superfície. Propagação ● As plaquetas ativadas juntamente com os cofatores Va e VIIIa ligados em sua superfície funcionam como plataforma para o ancoramento de proteínas e formação dos complexos tenase e protrombinase na superfície plaquetária. ● O FIXa, formado durante a etapa de iniciação, liga-se às plaquetas ativadas de duas formas: dependente e independente do FVIIIa. Na ação dependente do FVIII, ocorre a formação do complexo FIXa/VIIIa (complexo tenase), que ativa o FX na superfície plaquetária. O FXa ligado a plaqueta forma um complexo com o FVa também ligado a plaqueta (complexo protrombinase), que é capaz de converter protrombina em trombina. ● A trombina cliva o fibrinogênio e, ao liberar dois pequenos radicais aminados das subunidades a e b (fibrinopéptides A e B), converte o fibrinogênio em monômeros de fibrina Esses monômeros se agregam espontaneamente em protofibrilas. ● Por fim, a trombina ativa o FXIII que estabiliza essas protofibrilas e torna o coágulo estável. Adicionalmente, a trombina ativa o FXI na superfície plaquetária através de retroalimentação positiva O FXIa pode ativar o FIXa aumentando, assim, a geração de FXa. Fibrinólise ● Processo de lise do coágulo. ● Ocorre pela ação do sistema fibrinolítico, que atua sobre a fibrina formada, envolvendo várias proteínas: a proenzima inativa, Plasminogênio (Pg); seus respectivos ativadores: o ativador do plasminogênio tecidual (t-PA) e o ativador de Plasminogênio urocinase (u-PA); os inibidores da ativação de plasminogênio: Inibidor do Ativador de Plasminogênio-1 (PAI-1) e o Inibidor do Ativador de Plasminogênio-2 (PAI2); os inibidores da plasmina: a α2 -antiplasmina (α2 -AP) e a α2-Macroglobulina (α2-MG); o inibidor do sistema fibrinolítico, denominado inibidor Fibrinolítico Ativado pela Trombina (TAFI). Tipo de hemostasia Componentes Finalidade Hemostasia primária Endotélio vascular, plaquetas, fator de Von willebrand Formação do trombo plaquetário Hemostasia secundária Fatores da coagulação Formação da rede de fibrina p/ estabilizar o trombo Hemostasia terciária Sistema fibrinolítico Lise do coágulo para controle da formação de fibrina e trombina. 2) Caracterizar a hemofilia (epidemiologia, fatores de risco e fisiopatologia). Hemofilia: As hemofilias são distúrbios hemorrágicos hereditários comuns causados por deficiências dos fatores de coagulação VIII ou IX. A extensão da deficiência do fator determina a probabilidade e a gravidade da sangramento. Sangramento em tecidos profundos ou articulações normalmente se desenvolve dentro de horas após o trauma. Suspeita-se do diagnóstico em pacientes com tempo de tromboplastina parcial (PTT) elevado e tempo de protrombina (TP) e contagem de plaquetas normais; é confirmado por ensaios específicos para o fator. O tratamento engloba a reposição do fator deficiente, se houver suspeita, confirmação ou probabilidade de sangramento agudo (p. ex., antes da cirurgia). A hemofilia A (deficiência do fator VIII), que afeta cerca de 80% dos pacientes hemofílicos, e a hemofilia B (deficiência do fator IX) apresentam manifestações clínicas idênticas e anormalidades nos testes de triagem. Ambas são doenças genéticas ligadas ao X. Análises específicas do fator são necessárias para distingui-las. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/t%C3%B3picos-especiais/princ%C3%ADpios-gerais-da-gen%C3%A9tica-m%C3%A9dica/defeitos-de-um-%C3%BAnico-gene Epidemiologia: Estima-se que no mundo existam cerca de 350.000 (trezentos e cinquenta mil) casos. A hemofilia é uma doença hereditária, isto é, transmite-se de pais para filhos. Em cerca de 70% dos casos há uma história familiar de hemofilia, mas em 30% dos casos a hemofilia é esporádica, ou seja, há uma mutação de novo. ● A hemofilia A corresponde a 80% dos casos e sua prevalência é de cerca de 1/5.000 nascimentos do sexo masculino. -A prevalência da hemofilia B é estimada em 1/30.000 nascimentos do sexo masculino. Não existe um grupo étnico que apresente uma maior ou menor incidência dessa doença. ● De acordo com o Registro de Coagulopatias Hereditárias do Ministério da Saúde, no ano de 2007, 8.172 pacientes hemofílicos (6.881 hemofílicos A e 1.291 hemofílicos B) estavam cadastrados no Brasil. Fatores de risco ● história familiar de hemofilia (hemofilia congênita) ● sexo masculino (hemofilia congênita) ● >60 anos de idade (hemofilia adquirida) ● doenças autoimunes, doença inflamatória intestinal, diabetes, hepatite, gestação, pós-parto ou neoplasia maligna (hemofilia adquirida) Etiologia: A hemofilia consiste em distúrbio hereditário que resulta de mutações, deleções ou inversões afetando o gene do fator VIII ou IX. Como esses fatores estão localizados no cromossomo X, a hemofilia afeta quase exclusivamente homens. As filhas de homens hemofílicos são portadoras obrigatórias, mas os filhos são normais. Cada filho de uma portadora tem 50% de probabilidade de ter hemofilia e cada filha tem 50% de probabilidade de ser uma portadora. Fisiopatologia: A hemostasia normal (ver figura Vias na coagulação sanguínea ) requer níveis normais > 30% dos fatores VIII e IX. A maioria dos pacientes com hemofilia tem níveis < 5%; alguns pacientes gravemente comprometidos têm níveis muito baixos (< 1%). Onível funcional (atividade) do fator VIII ou IX na hemofilia A e B e, assim, https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-de-coagula%C3%A7%C3%A3o/hemofilia#v27826293_pt na gravidade do sangramento, varia de acordo com a mutação específica no gene do fator VIII ou IX. Vias de coagulação do sangue: Os portadores têm, em geral, níveis em torno de 50%; raramente, a inativação aleatória de seu cromossomo X normal, no início da vida embrionária, resulta em um portador com níveis de fator VIII ou IX < 30%. A maioria dos pacientes com hemofilia tratados no início dos anos de 1980 foi infectada pelo HIV como resultado da transfusão de concentrados de plasma ou dos fatores VII ou IX contaminados (antes da descoberta de inativadores virais eficazes). Pacientes ocasionais desenvolvem trombocitopenia imunitária secundária à infecção do HIV que pode exacerbar o sangramento. 3) Caracterizar (Manifestações clínicas, diagnóstico, exames complementares, diagnóstico diferencial). https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/trombocitopenia-e-disfun%C3%A7%C3%A3o-plaquet%C3%A1ria/trombocitopenia-imunit%C3%A1ria-tpi Quadro clínico: A principal característica clínica de um quadro de hemofilia é o surgimento de sangramentos após eventos de intensidade mínima ou, por vezes, sem nenhum gatilho traumático (ex.: hemartrose e sangramento muscular). Não são observados sangramentos após pequenos ferimentos cortantes, pois hemofílicos não possuem alterações plaquetárias. Pacientes com hemofilia sangram dentro dos tecidos (p. ex., hemartrose, hematomas musculares, hemorragia retroperitoneal). O sangramento pode ser imediato ou ocorrer lentamente, dependendo da extensão do trauma e nível do fator VIII ou fator IX no plasma. A dor acontece, com frequência, quando o sangramento começa, algumas vezes antes de se desenvolverem outros sinais. As hemartroses crônicas ou recorrentes podem causar sinovite e artropatia. Mesmo um balançar trivial da cabeça pode provocar sangramento intracraniano. Sangramento na base da língua pode ocasionar grave compressão da passagem de ar potencialmente fatal. Na hemofilia leve (níveis dos fatores de 5 a 25% do normal), sangramento excessivo pode ocorrer após cirurgia ou extração de dente. Hemofilia moderada (níveis dos fatores de 1 a 5% do normal) quase sempre causa sangramento após trauma mínimo. Hemofilia grave (nível < 1% do normal do fator VIII ou IX) causa sangramento grave durante a vida, começando geralmente logo depois do nascimento (p. ex., hematoma no couro cabeludo após nascimento ou sangramento excessivo após circuncisão). Diagnóstico: A confirmação do quadro de hemofilia fundamenta-se na avaliação da atividade dos fatores VIII (tipo A) e IX (tipo B), realizada após a suspeita clínica, pontuada por histórico familiar e antecedentes hemorrágicos. De modo geral, é possível classificar as hemofilias quanto ao grau de deficiência do fator de coagulação, podendo ser: Leve: atividade entre 5 e 40% dos valores normais; Moderada: há atividade do fator correspondente a 1 a 5% do normal; Grave: a atividade do fator de coagulação em questão é inferior a 1% dos níveis normais. 4) Entender o tratamento para hemofilia e coagulopatias. ● Reposição do fator deficiente ● Às vezes, antifibrinolíticos Se os sintomas sugerirem sangramento, o tratamento deve começar imediatamente, mesmo antes de estarem completos os testes de diagnóstico. Por exemplo, o tratamento para cefaleia que pode indicar hemorragia intracraniana deve começar antes de o exame por TC estar concluído. ● A reposição do fator deficiente é o tratamento primário. ● Em hemofilia A, o nível do fator VIII deve estar aumentado temporariamente em ● Cerca de 30% do normal para evitar sangramento após extração de dente ou para interromper hemorragia articular incipiente ● 50% do normal se já houver evidência de sangramento em grande articulação ou intramuscular ● 100% do normal antes de cirurgia grande ou em caso de sangramento intracraniano, intracardíaco ou potencialmente fatal As infusões repetidas em 50% da dose inicial calculada devem ser administradas a cada 8 a 12 h para manter os níveis > 50% durante 7 a 10 dias após cirurgia grande ou hemorragia com risco de morte. Cada U/kg do fator VIII aumenta o nível deste em cerca de 2%. Dessa maneira, para elevar o nível de 0 para 50%, são necessárias aproximadamente 25 U/kg. O fator VIII pode ser administrado como fator VIII concentrado purificado, que é derivado de doadores múltiplos. Ele é submetido à inativação viral, mas pode não eliminar o parvovírus ou o vírus da hepatite A. O fator VIII recombinante é livre de vírus e é normalmente preferido, a menos que pacientes já sejam soropositivos para HIV ou vírus da hepatite B ou C. Na hemofilia B, o fator IX pode ser administrado como um produto viral desativado purificado ou recombinante a cada 24 h. Os níveis-alvo de correção do fator são os mesmos da hemofilia A. No entanto, para atingi-los, a dose deve ser maior do que em hemofilia A porque o fator IX é menor que o fator VIII e, em contraposição ao VIII, tem distribuição extravascular extensa. O plasma fresco congelado contém fatores VIII e IX. Contudo, a menos que seja efetuada a plasmaférese total, geralmente ele não pode ser administrado em quantidade suficiente aos pacientes com hemofilia grave para aumentar as concentrações do fator VIII ou IX a níveis que evitem ou controlem o sangramento. O plasma fresco congelado só deve, então, ser utilizado se a terapia de reposição rápida for necessária, caso o fator concentrado esteja indisponível ou que o paciente tenha coagulopatia que ainda não esteja precisamente definida. Para conter os episódios de sangramento, é recomendada a reposição de fator VIII/IX até 30 a 50% dos valores normais, podendo chegar até 100% quando o sangramento atinge locais perigosos, é fruto de trauma ou precede grandes cirurgias. A reposição profilática desde a infância pode impedir a formação de artropatias, buscando manter a concentração específica sempre acima de 1%. → Pacientes hemofílicos podem vir a desenvolver anticorpos inibidores para o fator VIII transfundido. Nesse grupo, o controle das hemorragias pode ser alcançado pela infusão de fator VIIa (independe do VIII para hemostasia). A desmopressina (DDAV) pode ser utilizada de forma alternativa a preparados plasmáticos em pacientes menos graves. Nessa situação, as concentrações prévias se elevam de 3 a 4 vezes, indicando ação sobre reservatórios endoteliais do fator. Diagnóstico diferencial: ● A diferenciação da hemofilia A com a B é feita através das dosagens dos fatores VIII e IX. ● O diagnóstico diferencial entre a hemofilia A e a doença de von Willebrand é feito através do estudo da atividade antigênica e funcional do fator von Willebrand. ● As hemofilias A e B devem ser diferenciadas das outras deficiências da via intrínseca, que causam prolongamento do TTPa. ● A deficiência do fator XI acomete homens e mulheres, apresentando diátese hemorrágica mais leve do que as 5) Compreender as indicações e riscos para utilização de Hemoderivados e hemocomponentes. Hemoderivados: é constituído por produtos desse mesmo sangue, mas que foram separados por outros processos, como os físico-químicos ou os biotecnológicos. A albumina, as imunoglobulinas, os complexos protrombínicos e os fatores de coagulação são alguns exemplos de hemoderivados. Tanto os hemocomponentes quanto os hemoderivados são amplamente empregados em procedimentos que vão desde uma transfusão para tratar uma hemorragia até uma terapia para um doente com hepatite B ou para um hemofílico. Hemocomponentes: é formado pelo sangue coletado de um doador em um hemocentro e pelas unidades provenientes desse sangue, quandoseparadas por processos físicos, tais como centrifugação e sedimentação. São hemocomponentes o sangue total (coletado do doador), o plasma, os concentrados de hemácias e os crioprecipitados (esses três últimos, conseguidos por processos físicos a partir do sangue do doador). A diferença do plasma fresco congelado e do crioprecipitado: O plasma fresco congelado é separado por centrifugação. O criopreciptado é a parte que decanta depois do congelamento do plasma. 6) Descrever a política de saúde em relação a hemoderivados. Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o desenvolvimento de sistemas regulatórios institucionalmente estabelecidos na área de sangue com mecanismos legítimos de fiscalização reconhecendo as atividades e produtos do sangue como de alta vigilância. As reações alérgicas aos hemoderivados são comuns e em geral resultam de uma substância estranha presente no sangue. Por exemplo, o paciente pode desenvolver uma reação alérgica, caso receba sangue de um doador alérgico a determinado medicamento.