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É uma limitação persistente do fluxo aéreo das vias aéreas inferiores devido à mistura de doença das pequenas vias aéreas e destruição do parênquima. É não reversível e provocada por uma resposta inflamatória a toxinas inalatórias, principalmente a fumaça do cigarro. Esse processo inflamatório pode provocar alterações nos brônquios (bronquite crônica), nos bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e no parênquima pulmonar (enfisema pulmonar). • Pacientes com asma geralmente apresentam obstrução reversível do fluxo de ar. Asma só é considerada subtipo de DPOC quando causa obstrução não reversível após uso de broncodilatadores. FATORES DE RISCO E EPIDEMIOLOGIA Cerca de 15% dos tabagistas desenvolver DPOC no decorrer da vida. Os principais fatores de risco incluem: tabagismo, poluição do ar, exposição ocupacional e fatores genéticos como a deficiência de alfa-1-antitripsina (enfisema) ou fibrose cística (bronquite crônica). É a 4ª causa mais comum de morte no mundo. Acomete mais homens do que mulheres, na faixa dos 50-60 anos. FISIOPATOLOGIA A exposição inalatória leva à inflamação nas vias respiratórias e nos alvéolos, mediada por aumento da atividade da protease, liberadas por neutrófilos, macrófagos e linfócitos CD8+, além da diminuição da atividade da antiprotease. As proteases pulmonares provocam lise de elastina e tecido conjuntivo. • Inflamação → estreitamento e obstrução das vias respiratórias → hipersecreção de muco → espasmo brônquico → fibrose peribrônquica e destruição das pequenas vias respiratórias. • ↑ resistência das vias respiratórias ↑ o trabalho de respiração. • Hiperinsuflação pulmonar ↓ a resistência das vias respiratórias ↑ o esforço respiratório. A força expiratória depende da elasticidade pulmonar, diminuída na DPOC. Trata-se do fenômeno do aprisionamento de ar, que promove aumento do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total. Esse aprisionamento ocorre devido à degradação da elastina alveolar por proteases. A elastina é responsável por resistir à insuflação, auxiliando o esforço expiratório. Os espaços alveolares dilatados podem se fundir em bolhas, formando espaços aéreos ≥ 1 cm de diâmetro. As bolhas podem estar vazias ou ter filamentos de tecido pulmonar que as atravessam em áreas de enfisema localmente grave e, ocasionalmente, ocupam todo o hemitórax. A troca gasosa está comprometida tanto pela lesão enfisematosa quanto pela lesão bronquítica. • Os alvéolos ficam mal ventilados, porém, bem perfundidos (↑ do espaço morto pulmonar). Sangue venoso passa recebendo pouco O2, shunt parcial. Com isso, a mistura de sangue mal oxigenado produzirá hipoxemia e dessaturação da hemoglobina. Em estágios tardios, esses trechos mal ventilados do pulmão se tornam também mal perfundidos, resultado da hipóxia crônica. Com o tempo, o centro respiratório desses pacientes está hipossensível ao CO2 e hipersensível à hipoxemia. Eles começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória), sendo que o rim compensa retendo HCO3- (alcalose metabólica compensatória), aumentando o base excess na gasometria. Assim, esses pacientes têm uma PCO2 alta, mas um pH não muito baixo (7,32 a 7,37). Porém, um novo insulto sobre os pulmões (como pneumonia) pode descompensar a acidose, promovendo retenção aguda de CO2 e queda expressiva do pH. Alterações histopatológicas: • Bronquite crônica: tosse produtiva por > 3 meses do ano por 2 anos consecutivos. Irritação crônica promove hiperplasia de células da glândula mucosa, hipersecreção de muco, dano aos cílios e infiltração de neutrófilos e células TCD8+. ▫ Hipertrofia e hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a aumento de células caliciformes da mucosa presente principalmente nas vias aéreas proximais. ▫ Redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose. • Enfisema pulmonar: destruição e dilatação da parede alveolar. Ocorre danos às vias aéreas distais ao bronquíolo terminal, dilatação anormal dos espaços aéreos e destruição das paredes dos alvéolos devido a proteinases (elastases), além de diminuições da área de superfície alveolar e capilar, o que diminui a troca gasosa. Elastases vão destruindo tudo e vai gerando um acúmulo das substâncias destruídas, gerando cirrose Pode se apresentar de 2 formas: ▫ Centrolobular: quase sempre devido ao tabagismo. ▫ Panlobular ou panacinar: raro causado por deficiência de alfa-1-antripsina (AAT). AAT normalmente inibe a elastases. Na ausência de AAT, a elastases está super ativa e destrói os tecidos elásticos que podem se acumular em hepatócitos e causar cirrose. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Dispneia, tosse, fadiga, hiperventilação. • Respiração com lábios franzidos. • No enfisema: Pink Puffers, acianótico, caquético, uso de músculos acessórios, tórax em barril (aumento do diâmetro anteroposterior do tórax), sons respiratórios diminuídos ou sibilância expiratória final ou expiração prolongada. Sinais de cirrose se associada à deficiência de AAT. • Na bronquite crônica: Blue Bloater, tosse produtiva que piora pela manhã podendo ser acompanhada de hemoptise, cianose, edema periférico, hipóxia, roncos grossos (maior quantidade de muco) ou sibilância expiratória final ou expiração prolongada, sons respiratórios diminuídos, se caso avançado e sinais de hipertensão pulmonar -> hipertrofia ventricular direita com sinais de insuficiência cardíaca direita -> distensão da veia jugular (JVD), hepatomegalia e edema de membros inferiores. É mais associada com sintomas de insuficiência cardíaca direita. • Perda de peso indica mal prognóstico do caso. DIAGNÓSTICO • Na anamnese devem chamar atenção presença de sintomas respiratórios em pacientes tabagistas ou com história de exposição à fumaça. • Espirometria (prova de função pulmonar): obtenção da curva expiratória volume-tempo é obrigatória na suspeita de DPOC. Realizada antes e após administração de broncodilatador, de preferência em fase estável da doença. Os parâmetros avaliados incluem capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e a relação entre esses parâmetros (VEF1/CVF). ▫ A limitação permanente ao fluxo aéreo é definida quando esta relação é < 0,70 pós broncodilatador. Essa limitação permanente é necessária para estabelecer o diagnóstico de DPOC. Padrão obstrutivo irreversível. ▫ Decréscimo na % VEF1 (critério GOLD) -> usado para categorizar a gravidade com base na iniciativa global para doenças crônicas – doença pulmonar obstrutiva - Leve: > 80% - Moderada: 50-79% - Grave: 30-49% - Muito grave: < 30% ▫ CVF normal ou reduzida. ▫ Aumento da capacidade pulmonar total (CPT) -> enfisema >>> bronquite crônica. • DLCO: capacidade de difusão dos pulmões do monóxido de carbono no sangue. Vai estar diminuído na doença por enfisema (destrói alvéolos e diminui troca gasosa) e normal na bronquite crônica. • Exames de imagem: para afastar outras doenças pulmonares como neoplasias e avaliar complicações em exacerbações da doença. Deve ser solicitada na incidência posteroanterior e perfil, ela pode indicar bolhas com possível indicação cirúrgica. A TC é indicada em suspeita de bronquiectasias ou bolhas. ▫ A radiografia possui baixa sensibilidade diagnóstica para DPOC, não é necessária para o diagnóstico de rotina. Os achados conforme a evolução incluem: - Hiperinsuflação pulmonar e diafragma achatado (arcos costais parecem aumentados e pulmões ficam bem escurecidos), aumento da radiotransparência pulmonar. - No enfisema: presença de bolhas e marcas pulmonares reduzidas. - Na bronquite crônica: aumento das marcas brônquicas e cardiomegalia. - Cor pulmonale -> hilo pulmonar congesto, artéria pulmonar proeminente e dilatação do VD. ▫ A TC apresenta maior sensibilidade e especificidade,principalmente em pacientes enfisematosos, mas não é um exame indicado para estabelecer diagnóstico e não é necessária para o tratamento. Pode determinar a classificação de enfisema (centrolobular ou panacinar). • Gasometria: indicada se saturação de O2 < 92%, estado mental alterado ou exacerbação aguda. ▫ Hipoxemia: PO2 diminuído levando à maior produção de hemoglobina, gerando uma Policitemia. ▫ Acidose respiratória aguda ou crônica: aumento de PCO2 (hipercapnia) devido à retenção de CO2. Pode ser acompanhada de alcalose metabólica compensatória. • ECG e ECOCARDIO: em suspeita de hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Taquicardia multifocal. • Dosagem de alfa-1-antitripsina: deficiência se nível sérico inferior a 80 mg/dl. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Asma: espirometria com padrão obstrutivo reversível após administração de broncodilatador inalado. • Bronquiectasia: TC é o padrão ouro para seu diagnóstico, grande diâmetro brônquico interno, parede brônquica espessada e geometria alterada das vias aéreas -> sinais de “pista de bonde” e anel de sinete”. • Doença pulmonar intersticial (DPI): espirometria com padrão pulmonar restritivo. TRATAMENTO Tratamento conservador – 1ª linha de tratamento: • Cessação do tabagismo -> maior impacto na mortalidade. • O2 domiciliar indicado se PaO2 em repouso < 55 mmHg ou SaO2 < 89%. • Vacinação contra gripe e pneumocócica (13 e 23). Tratamento farmacológico: depende da classificação GOLD de gravidade da doença. A maioria dos pacientes se encontra em estágios mais avançados. • Leve – grupo A (>80%): ▫ Broncodilatadores inalados de curta ação (salbutamol, fenoterol, brometo de ipratrópio). ▫ Beta-agonista inalado de curta ação (albuterol) conforme necessário. ▫ Anticolinérgico inalado de curta ação (ipratrópio) conforme necessário. • Moderado – grupo B (50-79%): ▫ Broncodilatador inalado de longa ação. ▫ Beta-agonista de longa ação (salmeterol ou formoterol). ▫ Anticolinérgico de longa ação (tiotrópio). ▫ Pode ser usados em combinação. • Grave – grupo C (30-49%): ▫ Corticosteroide inalatório (budesonida ou fluticasona) + broncodilatador de ação prolongada. • Muito grave – grupo D (< 30%): ▫ Corticosteroide inalatório + anticolinérgico de ação prolongada + beta-agonista de ação prolongada. ▫ Pode requerer roflumilaste – inibidor da fosfodiesterase (PDE). ▫ Inibidor de teofilina – inibidor da PDE e bloqueador do receptor de adenosina -> indicado para doença grave e refratária, possui baixo índice terapêutico. EXACERBAÇÃO AGUDA DA DPOC Agravamento agudo dos sintomas respiratórios de um paciente, levando a mudança no tratamento. Os fatores de risco são idade avançada, duração da DPOC, história de antibioticoterapia, FEV1 piorado, tosse produtiva, eosinofilia periférica. Os sintomas cardinais dessa mudança incluem: • Aumento da frequência e gravidade da tosse. • Aumento do volume de expectoração ou alteração da coloração da secreção. • Aumento ou alteração do padrão da dispneia. Entre as etiologias temos infecções respiratórias, sendo mais comumente os pacientes de H. influenzae, M. catarrhalis e S. pneumoniae. O risco é aumentado para infecção por P. aeruginosa quando passaram por múltiplas hospitalizações no passado, DPOC avançada, isolamento prévio de pseudomonas de escarro, bronquiectasia concomitante, tratamento frequente com antibióticos e uso de glicocorticoides sistêmicos. Além das infecções temos insuficiência cardíaca congestiva e tromboembolismo pulmonar. A apresentação clínica do paciente será com agravamento da dispneia e tosse, aumento da produção de expectoração ou alteração no caráter da expectoração, sibilância, taquipneia, dificuldade para falar devido ao esforço respiratório, uso de músculos respiratórios acessórios, assincronia entre os movimentos torácicos e abdominais e confusão secundária a hipercapnia e hipoxemia. Os exames complementares incluem radiografia de tórax como modalidade de imagem inicial de escolha, é usada para determinar a etiologia da exacerbação da DPOC (pneumonia ou insuficiência cardíaca congestiva). Gasometria arterial mostrará hipercapnia, hipoxemia e acidose e oximetria de pulso. O tratamento inclui: A = antibiótico, B = broncodilatador, C = corticosteroide, D = dar O2. • Suplementação de 02: para melhorar a saturação de O2 para 88-92% ou PaO2 de aproximadamente 60-70 mmHg. É o único tratamento para melhorar a mortalidade em pacientes com DPOC. • Ipratrópio e albuterol: usados em combinação para pacientes com exacerbação da DPOC • Magnésio: relaxa o músculo liso. • Corticosteroides sistêmicos: Prednisolona oral ou metilprednisolona intravenosa >> uso em pacientes que não toleram medicamentos orais. Diminui a falha no tratamento e a permanência no hospital. • Antibióticos: • Pacientes com alto risco de P. aeruginosa tratar com levofloxacina, piperacilina-tazobactam, cefepima ou ceftazidima. • Pacientes com baixo risco de P. aeruginosa tratar com moxifloxacina, ceftriaxona ou cefotaxima. NÓDULOS PULMONARES E CÂNCER DE PULMÃO Câncer de pulmão é uma doença maligna, afeta o parênquima pulmonar ou as vias aéreas. A maioria pode ser dividida em: ▫ Câncer de pulmão de pequenas células ▫ Câncer de pulmão de células não pequenas • É o 2º câncer mais comum e a principal causa de morte relacionada ao câncer. • Fatores de risco: tabagismo, exposição ao fumo passivo, amianto, radônio, hx familiar de CA pulmonar. • O prognóstico depende do tipo e da gravidade do câncer. • A triagem é feita com TC e é indicada em pacientes de 55-80 anos com história de tabagismo de 30 maços-ano e qualquer um dos seguintes hábitos: fumante, parou de fumar nos últimos 15 anos. • Os sintomas incluem tosse, respiração ofegante, perda de peso não intencional, hemoptise, dor no peito, dispneia, rouquidão >> envolvimento do nervo laríngeo recorrente. • Exames complementares: radiografia de tórax, TC de tórax, PET Scan, biópsia ou cirurgia toracoscópica, broncoscopia flexível. • Avaliação de um nódulo pulmonar solitário incidental: características benignas (difuso, central, pipoca, concêntrico) ou malignas (vidro fosco, excêntrico). • Exames laboratoriais: hemograma, teste de função hepática (podem sugerir metástase hepática se anormalidades), fosfatase alcalina, gama-GT, cálcio. • Diagnóstico diferencial: tuberculose. • Tratamento: no câncer de pequenas células geralmente é irresecável, requer quimioterapia, já no câncer de células não pequenas, cirurgia, biópsia, dissecção de linfonodos, radiação e quimioterapia.