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SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL Introdução: ➜Crise epiléptica ao longo da vida → 5-10% ➜Causa identificável → 25% - Distúrbios hidroeletrolíticos ou ácido-básicos - Intoxicação por drogas que baixam o limiar convulsígeno - Abstinência de drogas sedativas - Insulto neurológico agudo (vascular, infeccioso...) Conceitos iniciais: ➜Crise epiléptica → expressão clínica decorrente da descarga anormal, excessiva e síncrona do tecido cerebral. Área do córtex cerebral que está sendo ativada sem motivo; ➜Crise aguda sintomática / crise provocada → crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada; ➜Crise única (isolada) → uma OU MAIS crises que recorrem no período de 24h.: - Crise aguda sintomática X primeira manifestação de epilepsia; - Após a primeira crise → 26-40% de chance de recorrência; - Após a segunda crise → 60-87%; ➜Epilepsia → síndrome neurológica caracterizada pela predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas espontâneas e recorrentes, além de suas consequências neurobiológicas, cognitivas e psicossociais. - Uma crise + condição que predisponha o cérebro a gerar crises: anomalia eletroencefalográfica ou lesão cerebral (displasia, infarto cortical, calcificação...); ➜Operacional (prática)- Diagnóstico de uma síndrome epiléptica: - 2 crises não provocadas ocorrendo em um intervalo superior a 24h; - Uma crise não provocada e chance de ocorrência de uma nova crise >60%; ➜Epidemiologia: - Prevalência 0,5% (EUA) x 1,5-2% (América latina) → São Paulo 11,9/1.000 habitantes. Questões: 1. Foi uma crise convulsiva? - 20% possuem um diagnóstico errado no primeiro evento. 2. Foi realmente o primeiro episódio? - 30% das CTGC possuem eventos prévios não reconhecidos. 3. Existe um fator secundário para esta crise? - Hipoglicemia / Hiponatremia / Hipocalcemia -> distúrbios hidroeletrolíticos - Ingestão de álcool. 4. Indicado início de tratamento? - Chance de recorrência → investigação; - Identificação do tipo de crise / síndrome epiléptica. Crise convulsiva X Síncope: ➜Pródromos: aura (crise focal) x pré-síncope ● Crise focal (aura) pode levar a uma crise generalizada. ➜Pré-síncope: sensação que vai desmaiar, visão vai apagando, escurecimento da vista, sudorese, taquicardia,... ➜Aura: mão tremendo, começar a sentir cheiros estranhos, liberação de esfíncter, morder a língua… -> crise convulsiva ➜Evento -> duração mais prolongada ~ 2-3 minutos (crise convulsiva) ➜Período pós-ictal (pós crise convulsiva): - Mordedura de língua: lateral (crise) x ponta (síncope); SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL - Confusão mental -> só acontece na crise convulsiva; - Liberação esfincteriana -> mais comum na crise convulsiva; - Cefaleia, dor no corpo -> mais comum na crise convulsiva; - Paralisia de Todd (paralisia transitória = mão fica tremendo) -> só acontece na crise convulsiva. ➜Síncope: - Duração breve ~10 segundos; - Paciente em ortostase; - Flacidez; - Pele fria e úmida; - Paciente fica inconsciente e não se lembra de nada depois. Investigação: ➜EEG (eletroencefalograma): - 50% de chance de encontrar anormalidades nas primeiras 24h; - Localização da descarga; ➜Neuroimagem (RM): - Possibilidade de lesão estrutural → déficit neurológico, alteração de nível de consciência, trauma, febre, história de neoplasia, imunossuprimidos... ➜Rastreamento laboratorial ➜Punção lombar ➜EEG e RM -> Ambos normais = 30% de chance -> pode ou não começar a tratar o paciente -> paciente caso não queira tratar, deve assinar um termo de comprometimento! ● Medicamentos anti-convulsivantes podem causar perda cognitiva. ● A cirurgia só é indicada diante de grande refratariedade ao tratamento clínico. Classificação das crises: 1. Crises focais/ parciais: ● Grupo específico de neurônios que estão em curto ➜Sem comprometimento da consciência / simples (fica pouco responsivo): - Motoras -> membro correspondente vai ter perda motora; - Sensitivas -> parestesia (formigamento),... ; - Visuais -> escotomas, pontos brilhantes, alucinações,...; - Autonômicas -> diarreia,... ; - Psíquicas -> crises de risos; ➜Com comprometimento da consciência / complexas (perde interação com o meio): - Movimentos de mastigação, mandar beijo,... -> automatismo presente nesse período que o paciente fica fora do ar. SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL ➜Com generalização secundária: comprometimento generalizado do córtex. 2. Crises primariamente generalizadas: ➜Crises tônico-clônicas generalizadas -> período inicial de aumento do tônus (todo a musculatura fica contraída), pode durar até 2 min -> após começa a crise clônica (período de relaxamento da musculatura); ➜Crises tônicas; ➜Crises atônicas; ➜Crises de ausência; ➜Crises mioclônicas → preservação da consciência Ausência típica: - Breves perdas de contato: 10 segundos - Automatismos - Alta frequência no dia: melhora com a idade - Desencadeada por hiperpnéia - Complexo ponta-onda 3Hz SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL Crises não-epiléticas psicogênicas (CNEP): - Mais prevalente em mulheres - Movimentos assíncronos de MMSS e MMII, opistótono ou propulsão da pelve - Não se iniciam durante o sono - “Epilepsia de difícil controle com RM e EEG repetidamente normais” - Prolactina normal Tratamento: Objetivo: - Controle completo das crises sem efeitos adversos; - Máxima efetividade com mínimos efeitos adversos; - Tratamento da causa, caso identificada Diretrizes: ➜Iniciado em monoterapia: - Doses baixas → aumentar até controle das crises ou aparecimento de efeitos adversos (dose máxima tolerada) - 10-15% dos pacientes sem resposta a uma droga em monoterapia podem ter resposta à monoterapia com outra DAE (droga anti-epilética); - 20-30% permanecem com crises mesmo em politerapia. ➜Considerar DAE eficaz para o tipo de crise ➜Observar comorbidades ➜Demais fatores (desejo de engravidar, acessibilidade à DAE...) ● A maioria consegue tratar somente com um medicamento, sem precisar associar; ● A maioria dessas drogas são teratogênicas -> risco para gestantes. ➜Combinação de fármacos: - Estabelecer a dose máxima eficaz em monoterapia; - Acrescentar DAE com mecanismo de ação diferente; - Titulação lenta do novo agente; - Considerar interação entre drogas: ● Primeira geração → indutoras P450 -> carbamazepina (não indicadas para crises generalizadas e as não provocadas), fenitoína,... ->aumentam o metabolismo de outras drogas. Interage com anticoagulantes. ● Valproato → inibidor P450 -> deixa as drogas circulando mais tempo no corpo -> cuidado com toxicidade. ● Considerar múltiplas combinações de terapias duplas antes de adicionar uma terceira. ● Esses medicamentos podem abaixar sódio. SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL Estado de mal epilético (EME): ➜Duração média de uma crise convulsiva ~2 minutos - 30 minutos → lesão neuronal secundária ao desbalanço metabólico -> apoptose dos neurônios -> pode levar a uma doença degenerativa. ➜Diversos tipos de EME: - Tônico-clônico generalizado → 20% de mortalidade ➜Dois picos de incidência → extremos de idade (crianças e idosos) ➜Consumo cerebral de O2 x 2-3 -> aumento da atividade metabólica ➜Comprometimento respiratório: - Distúrbios da mecânica respiratória -> sialorreia e secreção brônquica - Inibição dos centros da respiração ➜Descargas autonômicas → aumento de secreção brônquica Critérios diagnósticos: - Crise convulsiva com duração > 30 minutos - Crises mais curtas sem reestabelecimento do nível de consciência entre elas - Início → 5 minutos - Duas ou mais crises reentrantes (sem recobrar a consciência entre elas) Tratamento: ➜Estabilização / proteção contra quedas ➜Avaliar e tratar possíveis causas de EME: 40 - 60 mL IV de glicose 50% + 100mg de tiamina (prevenir um possível Wernick) ➜ 1o → usar um benzodiazepínicos: - Lorazepam (não disponível no Brasil) - Diazepam → 0,15mg/kg (~10mg) ou midazolam -> usados no Brasil ● Repetir em 15 minutos → não ultrapassar 40mg ➜ 2o → fenitoína: - 20mg/kg IV (50mg/minuto) ● Sempre em soro fisiológico→ precipita em soro glicosado ➜ 2o → fenobarbital: - 10mg/kg IV (100mg/minuto) - Após controle, 14% dos pacientes podem permanecer em EMNCP (EM não convulsivo persistente) SAÚDE MENTAL- EPILEPSIA: GABRIELA NUNES PASCOAL