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Portos e Vias Navegáveis Rodrigo Marques Beneveli Sistema Operacional Portuário – Teoria das Filas Introdução Qualquer pessoa sabe exatamente o que são filas em decorrência das experiências que o dia-a-dia nos coloca. Nós entramos em uma fila para utilizar um banco, para pagar pelas compras em um supermercado, para comprar ingresso em um cinema, para pagar o pedágio em uma estrada e tantas outras situações. Certamente não é agradável entrar em uma fila e esperar pelo serviço (o ideal é chegar ao local de serviço e ser imediatamente atendido) e, quando a espera é longa, ficamos aborrecidos (algumas pessoas ficam profundamente irritadas). Como consequência de nossas amargas experiências tomamos algumas atitudes, tais como não mais comprar em um determinado supermercado, mudar a conta bancária para outra agência (ou banco), etc. Visto pelo ângulo das empresas, estas atitudes significam perda de negócio. Introdução As filas são dispendiosas, isto é válido em qualquer ambiente, indo de fábricas a um supermercado e não de forma diferente nos sistemas de transporte. A espera em filas nada mais é que o aumento nos custos e atrasos no atendimento as embarcações. Há muito tempo tem se falado no Brasil em exportação, equilíbrio da balança comercial dentre outros assuntos do gênero e é sabido, que o desenvolvimento do comércio internacional está ligado diretamente à questão portuária, uma vez que a maioria das mercadorias comercializadas no mundo transporta-se em navios e são movimentadas em portos. Os portos são os lugares centrais dessa conexão com a troca internacional, permitindo que cada país introduza, não apenas mercadorias, mas também as mais-valias resultantes da passagem das mesmas por essa conexão, portanto, sendo visto como uma porta de entrada, uma abertura para a constituição de negócios, criando um amplo campo de oportunidades industriais e comerciais para um país. Modelagem do Sistema – Teoria das Filas A modelagem de sistemas pode ser feita por duas abordagens inteiramente diferentes entre si: Teoria das Filas e Simulação. A Teoria das Filas é um método analítico que aborda o assunto através de fórmulas matemáticas. Já a simulação é uma técnica que, usando o computador digital, procura montar um modelo que melhor represente o sistema em estudo. A modelagem de filas tem sido usada no transporte ferroviário, rodoviário, aeroviário e marítimo. Especificamente no transporte marítimo, as aplicações se referem à confecção da tabela de horários em função do dimensionamento de portos. A Teoria das Filas surgiu no início do século XX (1908), em Copenhague, Dinamarca, pelo matemático Agner Krarup Erlang, quando desenvolveu fórmulas de matemática para estudar o problema de redimensionamento de uma companhia telefônica de Copenhague devido ao congestionamento nas centrais telefônicas. A teoria das filas cuida dos pontos de estrangulamentos (congestionamentos) e dos tempos de espera, ou seja, das demoras verificadas em algum ponto do serviço prestado. Modelagem do Sistema – Teoria das Filas Os componentes de um sistema de fila de espera são a população ou fonte de potenciais embarcações e o sistema de fila de espera. O sistema é constituído pela fila de espera propriamente dita e pelo mecanismo de serviços que serve os elementos na fila de espera. O mecanismo de serviço, que pode compreender um ou mais servidores, posiciona as embarcações numa ordem determinada pela disciplina de serviços. Uma embarcação é uma unidade contável originária de determinada população, que espera pela sua vez para ser servido na fila de espera, considerando que já entrou no sistema, ocupa um servidor durante um certo tempo e por fim sai do sistema. O exemplo tradicional de fila compõe-se de dois elementos, como mostra a figura a seguir. As embarcações que chegam ao sistema de fila esperam em linha até serem atendidas, ou se o sistema estiver vazio, o recém- chegado poderá ser atendido imediatamente. Uma vez completado o atendimento, a embarcação deixa o sistema. Modelagem do Sistema – Teoria das Filas Características de um Sistema de Filas No geral, são seis características básicas do processo de filas, designadamente: Processo de chegada; Distribuição do tempo de serviço; Número de servidores; Capacidade do sistema; População de utilizadores; Disciplina da fila. Características de um Sistema de Filas Processo de Chegada O processo de chegada indica qual o padrão de chegada das embarcações no sistema. Apresenta comportamento estocástico, ou seja, as chegadas ocorrem no tempo e no espaço de acordo com as leis da probabilidade. Assim sendo, é preciso conhecer qual a distribuição de probabilidade que descreve os tempos entre as chegadas das embarcações. A distribuição mais comum é a de Poisson, esta teoria foi descoberta por Siméon Denis Poisson (1781-1840) e publicada, conjuntamente com a sua teoria da probabilidade, em 1838. Na teoria da probabilidade e na estatística a distribuição de Poisson é uma distribuição de probabilidade de variável aleatória discreta, que expressa a probabilidade de uma série de eventos ocorrer num certo período de tempo se estes eventos ocorrem independentemente de quando ocorreu o último evento, ou seja, os tempos entre as chegadas das embarcações são exponencialmente distribuídos. Características de um Sistema de Filas Processo de Chegada O padrão de chegada de embarcações em função do tempo pode ser permanente; nesse caso o padrão não muda no tempo, ou seja, a distribuição de probabilidade que descreve as chegadas é independente do tempo. Também pode ser não permanente, isto é, o padrão de chegada muda com o tempo. Além de sabermos se o modelo de chegada é determinístico ou é uma variável aleatória, precisamos também saber a taxa de chegada, 𝝀. A constante 𝝀 é a taxa média de chegadas dos usuários por unidade de tempo e 𝟏/𝝀 é o tempo médio entre chegada. Características de um Sistema de Filas Distribuição do Tempo de Serviço O modelo de serviço é normalmente especificado pelo tempo de serviço, isto é, o tempo requerido pelo atendente para concluir o atendimento. Da mesma forma que o modelo de chegada, pode ser determinístico (constante) ou uma variável aleatória (quando o tempo de atendimento é variável e segue uma distribuição de probabilidades presumivelmente conhecida). Neste último caso, valem as mesmas considerações feitas à distribuição de probabilidades associada ao modelo de chegada dos usuários ao serviço. A constante μ é a taxa média de atendimentos por unidade de tempo e 𝟏/𝛍 e o tempo médio de serviço a uma embarcação. Características de um Sistema de Filas Número de Servidores Esse componente é também conhecido como número de canais de serviço. Indica a quantidade de "pontos de atendimento" do sistema, de forma a servir as embarcações paralelamente. Quando um sistema possui mais de um servidor (multiservidor ou multicanal), ele pode apresentar duas variações. Em um sistema de fila única, existe uma única fila para todos os servidores, como em um caixa de banco. Em um sistema de múltiplas filas, existe uma fila para cada servidor, como em um caixa de supermercado. Quando existirem infinitos servidores, ou seja, toda embarcação que chega é atendida imediatamente, temos um caso especial conhecido como "Centro de atraso". Características de um Sistema de Filas Capacidade do Sistema Representa o número máximo de embarcações que o sistema suporta, incluindo os que estão em espera e os que estão sendo atendidos. A capacidade pode ser infinita ou finita. Se a capacidade for finita, quando o sistema estiver lotado nenhuma embarcação pode entrar até que uma embarcação saia do sistema, liberando espaço. Características de um Sistema de Filas População de Utilizadores A população em que dá origem, ou gera as embarcações do sistema. Essa população pode ser finita ou infinita. Considera-se população infinita quando a probabilidadede ocorrer uma nova chegada, num dado intervalo de tempo, não for influenciada pelo número de embarcações que já se encontram no sistema. A população diz-se finita quando o número de embarcações no sistema (fila mais atendimento) é, ou pode ser, uma parte significativa da população. Características de um Sistema de Filas Disciplina da Fila A disciplina de filas refere-se a maneira como as embarcações são escolhidas para entrar em serviço após uma fila ser formada. A maioria das disciplinas comuns que podem ser observadas na vida diária é FIFO (First In First Out), ou seja, o primeiro a chegar é o primeiro a ser atendido. Entretanto, existem outras disciplinas, tais como, LIFO (Last In First Out), ou seja, último a chegar é o primeiro a ser atendido; os casos ALEATÓRIOS, isto é, os atendimentos são feitos sem qualquer preocupação com a ordem de chegada; e os casos COM PRIORIDADE, quer dizer, os atendimentos são feitos de acordo com prioridades estabelecidas. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Tendo em conta que o tempo perdido em filas de espera pode constituir um custo para as organizações, entende-se a preocupação dos gestores em melhorar as características dos sistemas de fila de espera considerando diversas alternativas. Para isso é útil quantificar o desempenho de cada sistema através de medidas de desempenho que constituirão uma valiosa informação para quem decide. Em uma situação estável, na qual embarcações chegam e entram em fila, existindo X servidores para atendê-los, sendo λ o ritmo médio de chegada e μ o ritmo médio de atendimento de cada atendente. Dentre as medidas de todo este sistema, estudaremos, algumas que serão frequentemente citadas e as chamaremos de “variáveis randômicas fundamentais”. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Para as variáveis randômicas fundamentais, existe um valor médio e uma distribuição de probabilidades, que mostra as chances de ocorrências dos valores. Quando se afirma que o tamanho médio de uma fila é de 5 embarcações, não está dizendo que o tamanho da fila é sempre de 5 embarcações. Em diferentes momentos de observação você pode, por exemplo, constatar que o tamanho é de 10, 7, 3 ou que não existe fila. O valor médio 5 significa uma média aritmética ponderada dos tamanhos da fila durante consecutivos intervalos de tempo. Estas variáveis fundamentais são as seguintes: Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Número médio de Embarcações na Fila (Lq) Número médio de embarcações que aguardam o atendimento, ou seja, é o que determina o tamanho da fila. É a característica mais relevante ao se defrontar com a opção de escolher uma fila. A meta é não ter fila, chegar e ser atendido. Supondo que os ritmos médios de chegada e atendimento sejam constantes, o tamanho da fila irá oscilar em torno de um valor médio, representado pela seguinte formulação: sendo: Lq = número médio de embarcações na fila (navios); 𝜆 = taxa de chegada; 𝜇 = taxa média de atendimentos por unidade de tempo. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Número Médio de Embarcações no Sistema (L) Número de embarcações aguardando na fila mais os que estão sendo atendidos. Pode ser entendido também como sendo o tamanho médio na fila mais o número médio de embarcações no atendimento, representado pela seguinte formulação: sendo: L = número médio de embarcações no sistema; 𝜆 = taxa de chegada; 𝜇 = taxa média de atendimentos por unidade de tempo. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Tempo Médio que a Embarcação Espera na Fila (Wq) Tempo médio de espera pela embarcação na fila esperando para ser atendido, representado pela seguinte formulação: sendo: Wq = tempo médio que a embarcação espera na fila (horas); 𝜆 = taxa de chegada; 𝜇 = taxa média de atendimentos por unidade de tempo; 24 = horas de um dia. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Tempo Médio que o Embarcação Fica no Sistema (W) Tempo médio de espera pela embarcação na fila esperando para ser atendido mais o tempo de atendimento. A partir do número médio de embarcações no sistema ou na fila, é possível calcular o tempo médio de permanência da embarcação no sistema (TS) e na fila (TF), representado pela seguinte equação: sendo: W = tempo médio que a embarcação fica no sistema; 𝜆 = taxa de chegada; 𝜇 = taxa média de atendimentos por unidade de tempo; 24 = horas de um dia. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Probabilidade de que o Sistema Esteja Ocupado (ρ) A razão ρ é chamada de “Fator de Utilização do Servidor”, o qual representa a fração média do tempo em que o servidor (sistema) esteja ocupado. Este fator é a base de cálculo da probabilidade de haver um número K de embarcações no sistema, o qual definirá o tamanho da fila e o tempo médio que as embarcações permanecem nela e no sistema, este fator é obtido pela seguinte formulação: sendo: ρ = probabilidade de que o sistema esteja ocupado; 𝜆 = taxa de chegada; 𝜇 = taxa média de atendimentos por unidade de tempo. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Probabilidade de que o Sistema esteja Desocupado (P0) Refere-se a probabilidade de logo após a chegada da embarcação, o mesmo seja atendido, situação ideal, representada pela seguinte formulação: sendo: P0 = probabilidade que o sistema esteja desocupado; ρ = probabilidade de que o sistema esteja ocupado. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Probabilidade de Existirem n Embarcações no Sistema (Pn) Refere-se a probabilidade de existência de embarcações no sistema, quando a chegada de uma nova embarcação na fila, representada pela seguinte formulação: sendo: Pn = probabilidade de existirem n embarcações no sistema; ρ = probabilidade de que o sistema esteja ocupado. Características de um Sistema de Filas Medidas de Desempenho Outras medidas que os gestores podem utilizar para tomar decisões que são mais pormenorizadas mas igualmente úteis: Probabilidade de existirem no sistema k ou mais embarcações → P(n ≥ k) = 𝑛=𝑘 ∞ 𝑃𝑛 Probabilidade de o tempo de espera na fila seja zero → P (Wq = 0); Probabilidade de o tempo de espera na fila exceder t → P (Wq > t); Probabilidade de o tempo gasto no sistema exceder t → P (W > t). Modelos de Fila de Espera Modelos de Fila de Espera A notação de processos de filas mais utilizada atualmente foi proposta pelo matemático inglês David George Kendall, em 1953, e é descrita por um série de símbolos, A/B/c/K/m/Z, conforme mostrada no quadro a seguir, em que: A descreve a distribuição dos intervalos entre chegadas; B descreve a distribuição do tempo de serviço; c é o número de canais de serviços ou capacidade de atendimento; K é o número máximo de clientes permitidos no sistema; m é o tamanho da população que fornece clientes e Z é a disciplina da fila. Modelos de Fila de Espera Modelos de Fila de Espera Modelos de Fila de Espera Modelos de Fila de Espera Modelo M/M/1 Este modelo é baseado em processos sem memória na distribuição negativa que, aplicados às filas de espera associam “vida” a uma chegada à fila e “morte” à saída de uma embarcação depois de atendido”. M/M/1 corresponde ao modelo básico onde o sistema tem uma distribuição das chegadas de Poisson e dos tempos de atendimento exponencial e contém um só servidor, a capacidade do sistema e da população são infinitas e a disciplina é FIFO (mais comum), correspondendo a quem entra primeiro no sistema é o primeiro a ser atendido. Modelos de Fila de Espera Modelos de Fila de Espera Modelo M/M/S Este modelo difere do anterior apenas no número de servidores disponíveis: S. Temos assim um modelo em que o número de servidores é S, o sistema tem uma distribuição das chegadas de Poisson e dos tempos de atendimento exponencial, a capacidade do sistema eda população são infinitas e a disciplina corresponde a quem entra primeiro no sistema ser o primeiro a ser atendido e a sair. Gerenciando Filas Estudam-se filas para poder modificar sistemas nos quais existem problemas no atendimento, com o objetivo de prestar um melhor atendimento ou uma redução de custos. O conhecimento do comportamento de uma fila, quando alteramos algumas de suas características, pode ser fundamental para atingirmos os objetivos citados de qualidade de atendimento e custos. Em situações nas quais o tempo de atendimento pode variar dentro de uma larga faixa de valores não recomenda o uso de diversas filas. É o caso, por exemplos, de centros de distribuição de produtos, em que existem diversos tipos de caminhões, desde os menores até os maiores, sendo que alguns apresentam uma carga de serviço muito grande em relação a outros, portanto, o tempo de atendimento para estes casos será exageradamente maior que a média. Neste caso uma fila única com diversos atendentes é a melhor solução. Gerenciando Filas Em outras situações, é conveniente modificar dinamicamente a quantidade de atendentes conforme aumente ou diminua o fluxo de chegada de clientes, como por exemplo, tornar disponíveis atendentes extras no horário de pico de chegada de caminhões em um centro de distribuição. Às vezes a fila é impraticável, como no caso de praças de pedágio. Aqui a existência de “passagens expressas” representa uma maneira de se prestar um bom serviço, se levar em consideração inclusive que alguns usuários desistem da viagem em dias e horários de pico. Exercício Proposto Supondo-se que a chegada de um navio ao cais portuário siga a distribuição de Poisson, com uma taxa de 6 navios por dia. As durações médias de atendimento por navio são de 3 horas, seguindo-se a distribuição exponencial. Calcule os seguintes valores: a. Qual a probabilidade de um navio chegar ao porto e não esperar para atracar? b. Qual é a quantidade média de navios na fila do porto? c. Qual é a quantidade média de navios no sistema portuário? d. Qual é a quantidade média de navios utilizando o porto? e. Qual é o tempo médio de um navio na fila? f. Qual deve ser a taxa de chegada de um navio para que o tempo médio na fila seja de 3 horas? g. Qual a probabilidade de já existirem navios no sistema?