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Licenciatura em ciências · USP/ Univesp material complementar 1.1 introdução 1.2 o Universo, Seus constituintes e as interações Fundamentais 1.2.1 partículas elementares, atributos e interações 1.3 as quatro interações fundamentais 1.3.1 interações eletromagnéticas 1.3.2 interações Gravitacionais 1.3.3 a interação Forte 1.3.4 a interação Fraca 1.4 os constituintes do nosso mundo e Suas interações 1.4.1 o elétron 1.4.2 prótons e nêutrons 1.4.3 Fótons 1.5 núcleos 1.6 Átomos e moléculas 1.7 eletromagnetismo no Universo 1.8 planetas e estrelas 1.9 Sobre a composição Química do Universo 1 Gil da costa marques eletromaGnetiSmo no noSSo mUndo e no UniverSo el et ro m ag ne tis m o O material desta disciplina foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) para o projeto Licenciatura em Ciências (USP/Univesp). créditos Coordenação de Produção: Beatriz Borges Casaro. Revisão de Texto: Marcia Azevedo Coelho, Marina Keiko Tokumaru e Paulo Barroso. Revisão Técnica: Paulo Yamamura. Design Instrucional: Érika Arena, Fernanda Diniz Junqueira Franco, Gezilda Balbino Pereira, Juliana Moraes Marques Giordano, Marcelo Alves da Silva, Michelle Carvalho, Roberta Takahashi Soledade e Vani Kenski. Projeto Gráfico e Diagramação: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira, Priscila Pesce Lopes de Oliveira e Rafael de Queiroz Oliveira. Ilustração: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso Roberto Lourenço, João Costa, Lidia Yoshino, Mauricio Rheinlander Klein e Thiago A. M. S. Fotografia: Jairo Gonçalves. 3 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.1 Introdução Hoje entendemos que uma pequena parte do Universo (uma fração de cerca de 5% dele) é constituída de matéria. Entre as quatro categorias de matéria (matéria escura, antimatéria, matéria bariônica e matéria ordinária) a que nos interessa, pois o nosso mundo é constituído dela, é a matéria ordinária ou, simplesmente, matéria. A matéria, tanto aqui na Terra quanto no restante do Universo, nada mais é do que aglo- merados de objetos, os quais são denominados núcleos e elétrons. Os núcleos são aglomerados compostos por nêutrons e prótons. Nessa visão, o próton é o núcleo mais simples entre todos. Átomos, por sua vez, são aglomerados de núcleos e elétrons de tal sorte que o número de prótons no interior do núcleo é igual ao número de elétrons que os constitui. Íons são átomos com falta ou excesso de elétrons. Os átomos formam, entre outros objetos, moléculas. Assim, a matéria ordinária (ou apenas matéria) é formada por objetos que, entre outros, são dotados de dois atributos denominados carga elétrica e spin. Tais atributos serão discutidos no pró- ximo tema. O eletromagnetismo é a área da física que se preocupa em entender os fenômenos que decorrem, ou estão associados, a esses dois atributos dos constituintes da matéria. Nessa ótica, entender os átomos, as moléculas, os gases, os líquidos e sólidos é uma tarefa pertinente a esta área de estudo. A vida é um fenômeno inteiramente associado ao eletromagnetismo. Consideremos, a título de exemplo, o caso de uma célula. Grosso modo, uma célula é composta por água, íons inorgâ- nicos e moléculas orgânicas. Para entender os muitos processos que ocorrem no nível celular, os livros fazem uma abordagem molecular. No entanto, pelo menos em princípio, todos eles poderiam ser entendidos como resultado das interações entre núcleos e elétrons. Isso, tendo em vista a enorme complexidade nesse tipo de abordagem, ainda não é possível. O fato é que, tendo em vista que o próton é o íon do hidro- gênio, no nível mais elementar possível, deveríamos considerar os seres humanos como se fossem compostos por núcleos e elétrons. O número de elétrons num indivíduo de 70 kg é estimado em 2,3 × 1028 e igual número de prótons. O fato é que somos feitos de cargas elétricas. Para entender o corpo humano, no entanto, recorremos à análise dos fenômenos decorrentes das interações eletromagnéticas dos seus agrupamentos mais conhecidos: átomos, Figura 1.1: Uma visão microscópica do ser humano. 4 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 íons e moléculas. Todos esses objetos interagem eletromagneticamente com os demais, o mesmo valendo para tudo que existe no nosso planeta e nas partes do Universo constituídas pela matéria. 1.2 O Universo, Seus Constituintes e as Interações Fundamentais Conquanto muitas vezes nos preocupemos apenas com a descrição dos fenômenos ele- tromagnéticos que ocorrem no nosso mundo, é importante lembrar que as interações eletro- magnéticas são também relevantes no entendimento de todo o Universo, bem como de vários fenômenos associados às suas muitas partes. Assim, levando-se em conta a cosmologia, vale a pena fazer um apanhado das implicações do eletromagnetismo para o entendimento de vários aspectos da evolução do Universo. As intervenções das interações eletromagnéticas ao longo da história do Universo se refletem na forma que ele ostenta hoje, bem como no seu mutante conteúdo ao longo da história de tudo. De acordo com as teorias modernas sobre a origem e a evolução do Universo, o seu início o seu início teria sido sob a forma de uma sopa - a sopa cósmica, contendo cerca de 60 partículas elementares. É bom lembrar que as partículas elementares são os constituintes últimos da matéria. São objetos indivisíveis (seriam os átomos no sentido dos atomistas gregos), que participam da composição de todas as coisas. As interações entre as partículas elementares que compunham a sopa cósmica primordial moldaram - e continuam moldando - o Universo em que vivemos. A análise das interações nos propicia um bom entendimento daquilo que observamos ainda nos dias de hoje. É bom lembrar que existem apenas quatro interações fundamentais ocorrendo entre os constituintes básicos do Universo - as Partículas Elementares, e essas interações entre eles teriam dado lugar aos fenômenos que teriam ocorrido no passado, e àqueles ocorrendo ainda nos dias atuais. Figura 1.2: No início, o Universo era composto por uma sopa de partículas elementares. 5 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.2.1 Partículas Elementares, Atributos e Interações As partículas elementares resultam ser objetos muito estranhos e isso pelas seguintes razões: Partículas elementares “normais” só existem duas: o elétron e o fóton. O critério de normalidade seria a de que elas sejam estáveis (ou eternas, no sentido dos gregos), não sofram transmutação, e que possam ser observadas individualmente. Nesse sentido, com exceção das já mencionadas, as partículas elementares são muito, muito estranhas. A luz, bem como toda radiação eletromagnética, é composta de partículas elementares. Estamos aqui falando de fótons, os quais são partículas destituídas de carga elétrica e massa. Os neutrinos são partículas neutras, uma delas provavelmente sem massa e que viajam (se não têm massa) pelo Universo com velocidades iguais ou próximas à velocidade da luz. É uma outra forma de radiação. Os neutrinos são abundantes no Universo, mas interagem de uma maneira muito débil com a matéria ordinária. Os quarks (outras partículas elementares) participam da composição de uma série muito grande de outras partículas, como os prótons, os nêutrons e os mésons. Poucas são eternas. Algumas partículas elementares sobrevivem um lapso curtíssimo de tempo. Elas são instáveis. A maioria jamais será encontrada livre. Essas partículas elementares, a maioria na realidade, só são encontradas em asso- ciação com outras. Algumas passam por processos de transmutação de um tipo em outro. A metade dos léptons - os neutrinos - são verdadeiras metamorfoses ambulantes. Passam, continuamente, por um processo de transmutação de um tipo em outro. As partículas instáveisdecaem, dando lugar a diferentes objetos. O resultado final ocorre com as mais diversas probabilidades. 6 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Os elétrons são fundamentais na constituição de todos os átomos no nosso mundo físico. Eles estão presentes, portanto, em todos os corpos celestes no Universo. As partículas elementares, as substâncias básicas do Universo, diferem entre si em relação ao que denominamos atributos ou propriedades. A seguir, apresentaremos os atributos que diferenciam as diversas substâncias básicas. Pode-se dizer que cada partícula é caracterizada exatamente por esse conjunto de atributos. Entre eles, os mais conhecidos são a massa e a carga elétrica. Menos conhecido é o spin de uma partícula. E menos conhecidos ainda são os atributos como estranheza ou hipercarga. Não temos uma explicação (ou seja, uma teoria convincente) para a origem da massa, da carga elétrica ou do spin das partículas elementares. Sabemos, no entanto, que a matéria tem massa e que as partículas elementares têm carga elétrica. Como tomamos conhecimento da existência da massa, da carga elétrica e do spin? De uma forma muito simples: experimentalmente. Assim, algumas grandezas físicas são encaradas como parâmetros fundamentais, parâmetros que não podem ser deduzidos de outros. Assim, as partículas elementares são caracterizadas pelo fato de não serem compostas por outros objetos e se distinguem umas das outras por meio de um conjunto de atributos que lhes são próprios. Esses atributos são: massa, carga elétrica, spin, cor, hipercarga, estranheza etc. Os atributos dão origem às interações entre as partículas elementares. No entanto, cada conjunto de atributos dá origem a diferentes interações. Assim, as interações fortes são aquelas que resultam do atributo cor. O atributo massa é res- ponsável pelas interações gravitacionais. Os atributos carga elétrica e spin dão origem às interações eletromagnéticas. Algumas partículas (os quarks) têm todos os atributos. Interagem, portanto, por meio de todas as quatro interações fundamentais. Outras há que exibem apenas alguns atributos. Por exemplo, os elétrons, não têm o atributo cor. Os fótons não têm a carga elétrica, a massa e a cor. Figura 1.3: As partículas elementares, os objetos dos quais todas as coisas são constituídas. 7 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.3 As quatro Interações fundamentais As interações fundamentais operam no nível mais fundamental, ou seja, são as interações ocorrendo entre as partículas elementares. Consequentemente, pode-se afirmar que elas são respon- sáveis pela forma, pelas transformações e pela composição do Universo hoje. Compreender tais aspectos é um dos grandes objetivos da ciência. As interações fundamentais recebem os nomes de gravitacional, forte, fraca e eletromagnética. A ciência do eletromagnetismo dedica-se ao estudo desta última. A interação eletromagnética teve um papel essencial em alguns estágios, especialmente os mais avançados, da evolução do Universo. No entanto, ela está presente em cada recanto do Universo ainda hoje. Faremos, a seguir, uma breve descrição das quatro interações. 1.3.1 Interações Eletromagnéticas Embora não pareça óbvio, o fato é que este mundo, bem como tudo que há nele, é regido pelas interações eletromagnéticas, isto é, todos os fenômenos naturais, desde a formação das tempestades até a manutenção da vida, estão intimamente ligados a tais interações. A atração gravitacional e a transmutação dos elementos naturais (o fenômeno da radioatividade) são as únicas exceções. Uma das primeiras intervenções significativas das interações eletromagnéticas no Universo foi no sentido de propiciar a formação de átomos a partir dos objetos formados (prótons, nêutrons e, posteriormente, núcleos) em estágios anteriores. Num estágio inicial das interações entre as partículas que compunham a sopa cósmica, só dois elementos foram formados em grandes quantidades: o Hidrogênio e o Hélio. A formação de moléculas, devido igualmente às forças eletromagnéticas, ocorreu num estágio posterior. A formação da matéria do nosso mundo, também devido às interações eletromagnéticas, ocorreu muito tempo depois. A vida se originou e se mantém graças a incessantes interações eletromagnéticas, que ocorrem tanto na membrana quanto no citoplasma e no núcleo da célula. Toda comunicação entre as células é de natureza eletromagnética. Assim, o sistema nervoso e o cérebro, em particular, funcionam como resultado das interações eletromagnéticas. Graças a elas, os seres humanos se constituem em algo mais do que apenas uma grande coleção de átomos. 8 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.3.2 Interações Gravitacionais Essa é a força responsável pela forma arredondada dos corpos celestes. Ela é também respon- sável pela evolução dinâmica do Universo e pela curvatura do espaço. A força gravitacional atua de uma forma constante, débil, mas atinge os obje tos independentemente de sua localização no espaço. Não há como blindá-la. A força gravitacional é atrativa. Como resul tado, ela procura sempre juntar as coisas existentes no Universo. Essa atração entre as partes produz o colapso gravitacional de grandes aglomerados Assim, considerando-se o ser humano e o planeta no qual vivemos, as interações eletromagnéticas desempenham um papel essencial. Em relação aos primeiros, podemos afirmar que elas desempenham todo o papel. Figura 1.4: A primeira intervenção relevante das interações eletromagnéticas no Universo foi a formação de uns poucos elementos químicos. A interação gravitacional é aquela que ocorre como resultado de um dos atributos da matéria denominado massa. Como a maior parte dos objetos no Universo têm massa, depreende-se que, do ponto de vista do Universo como se apresenta hoje, a interação gravitacional é a mais importante entre todas. Ela é a força aglutinadora do Universo e a única, entre as quatro interações conhecidas, que atinge cada ponto do Universo. Assim, a força gravitacional aglutina a matéria formando objetos densos, procura aglutinar o próprio Universo e responde pela dinâmica dos objetos que ela aglomera. Figura 1.5: As Interações Gravitacionais regem os movimentos do Sistema Solar. 9 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 de matéria, acarretando, por vezes, os maiores espetáculos pirotécnicos no Universo. Com isso, as estrelas se transformam em fábricas de elementos químicos mais pesados a partir da fusão dos elementos mais leves. A gravitação é uma interação que alcança os objetos onde quer que estejam. Dize mos, em linguagem científica, que o alcance dessa força é infinito. Em virtude do seu alcance e de sua capacidade única de agir sobre todos os objetos no Universo, essa força é a mais importante para o entendimento da formação e do destino de todos esses objetos. 1.3.3 A Interação Forte As interações fortes ocorrem apenas entre partículas dotadas do atributo cor. A interação forte é a mais curiosa de todas. Ela age apenas sobre algumas partículas e de forma a impedi-las de se livrarem umas das outras. Por isso, as forças fortes obrigam todas as partículas que têm um atributo denominado cor a viverem sempre juntas. Tais partículas nunca serão encontradas isoladamente. A força forte é, assim, a força do aprisionamento. O aspecto mais marcante das interações fortes é o aprisionamento das partículas coloridas. Isso implica que todas as partículas com o atributo cor nunca serão detectadas em laboratório. Assim, todos os 36 quarks; por terem esse atributo, nunca serão encontrados, por melhor que seja o detector. Esse aprisionamento, por ouro lado, leva ao surgimento de novas partículas - as partículas compostas. Os prótons e os nêutrons devem a sua existênciaa esse tipo de interação, a interação forte. A força forte atua apenas no nível subatômico. Ela é responsável pela atração entre prótons e nêutrons dentro do núcleo atômico. Ela leva à coesão do núcleo. Essa coesão, por outro lado, é responsável pela estabilidade da matéria, já que os elétrons estáveis. Ao contrário da interação gravitacional, o seu alcance é bastante limitado. Os oitos glúons interagem exclusivamente por meio da força forte. Os quarks, por outro lado, além da interação forte, têm interações fracas, eletromagnéticas e gravitacionais. As demais partículas não interagem fortemente. É o caso, por exemplo, do elétron e do fóton. Figura 1.6: Prótons e nêutrons são compostos por 3 quarks. 10 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.3.4 A Interação Fraca A interação fraca é a força transformadora do Universo. Transforma partículas elementares em outras. Assim, quase todas as partículas conhecidas se desfazem como se fosse uma transfor- mação mágica. Com isso, transforma também partículas compostas em outras. Resulta daí que átomos são transformados em outros. É o fenômeno da transmutação dos elementos. A força fraca, assim como a força forte, ocorre no nível subatômico (no núcleo do átomo, por exemplo) e, como visto antes, ela é a causa da transmutação dos elementos químicos. A radiação beta, que indica uma transmutação, resulta desse tipo de interação. Poucas são as par- tículas elementares que não interagem fracamente. É, depois da interação gravitacional, aquela que age sobre o maior número de partículas. 1.4 Os Constituintes do Nosso Mundo e Suas Interações É interessante lembrar, a propósito do que se segue, que Empédocles (494 - 434 a.C.) foi o primeiro sábio da Antiguidade a sugerir que fossem quatro os elementos básicos que explicam todas as coisas. Essas quatro “raízes” (por ele assim designados) seriam: o ar, a água, a terra e o fogo. A combinação dessas quatro raízes em proporções adequadas geraria tudo à nossa volta. Apesar da evolução do pensamento desde então, o fato é que, salvo raras exceções como o fenômeno da radioatividade, podemos descrever os fenômenos observados no nosso mundo tomando como base apenas quatro constituintes. Para a constituição da matéria basta conside- rarmos os constituintes do átomo: prótons, nêutrons e elétrons. A luz, por sua vez, é constituída por fótons. Figura 1.7: A radiação beta resulta da interação fraca. Ela é a responsável pela transmutação dos elementos químicos. Levando-se em conta a alteração do conteúdo de partículas, a integração fraca foi a primeira força a atuar no Universo . Mas continua atuando no interior das estrelas e de outros grandes aglomerados nele existentes. 11 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Temos assim que os quatro elementos básicos hoje, análogos aos de Empédocles, são os quatro apresentados na figura abaixo. Conquanto na origem do Universo os seus constituintes fossem em número relativamente grande, o fato é que bem pouco tempo depois os constituintes da sopa cósmica já haviam sido reduzidos a um número bem menor. Finalmente, apontamos para o fato de que, com exceção de alguns fenômenos raros, podem os entender todo o nosso mundo físico recorrendo a apenas duas interações: a eletromagnética e a gravitacional. Entendemos, a partir delas, desde a queda da maçã (Gravitação) até a sua cons- tituição e sua bela cor. Para os dois últimos recorremos à interação eletromagnética. Em algum momento ao longo da história do Universo, ele era constituído dessas quatro partículas e de outro conjunto de partículas elementares denominadas neutrinos. Os quatro constituintes fundamentais do nosso mundo são os apresentados a seguir. 1.4.1 O elétron O elétron é uma partícula cuja origem remonta aos tempos em que o Universo foi formado há cerca de 13,7 bilhões de anos (eles existem desde o início do Universo). Ademais, por ser o agente central do eletromagnetismo, é uma partícula muito presente no nosso cotidiano. Figura 1.8: Os quatro elementos fundamentais de acordo com Empédocles. Figura 1.9: Nosso mundo pode ser explicado utilizando apenas quatro constituintes básicos: elétrons, prótons, nêutrons e fótons. 12 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 O elétron tem uma carga elétrica negativa e uma massa diminuta. Seu valor é: 1.1 Tem uma das menores massas entre as partículas. Só os neutrinos têm massas menores do que os elétrons. A corrente elétrica, tão útil nos vários dispositivos utilizados nas sociedades modernas, nada mais é do que elétrons colocados em movimento. Eles podem ser movimentados por causa da existência de uma diferença de potencial ou por causa da variação do fluxo de campos magnéticos numa região do espaço, ou por uma combinação de ambas. A descoberta do elétron usualmente é creditada a Joseph John Thompson o qual, em 1897, determinou a carga elétrica e a massa de uma partícula subatômica conhecida hoje como elétron. As experiências de Thompson demonstravam claramente que o elétron era um dos constituintes da matéria. Portanto, deveria ser um dos constituintes do átomo. Assim, a existência do elétron colocava claramente em questão a estrutura dos átomos. O uso dos elétrons faz a diferença entre o modo de vida dos dias de hoje e o de cerca de 100 anos atrás. Assim é que podemos utilizar um feixe de elétrons para produzir as cores num monitor de vídeo ou numa TV. Um televisor antigo, hoje descartado, pode ser pensado como um grande tubo de raios catódicos. Quando aquecido, o catodo emite elétrons. Os elétrons são então acelerados, aplicando-se uma diferença de potencial, em direção ao anodo. O anodo permite aos elétrons adentrar uma região onde existe um campo magnético, de forma tal a defletir os raios para uma posição pretendida na tela do computador ou da TV. A tela, localizada atrás do anodo, contém material fosforescente, que emite luz. No tubo, deve reinar o alto vácuo para evitar que os elétrons colidam com moléculas (o que provocaria a frenagem desses elétrons). Um campo magnético variável faz com que o feixe de elétrons percorra toda a região da tela, movendo-se horizontal e verticalmente. O grande avanço na área médica diz respeito a efetuar diagnósticos com grande precisão nos dias de hoje. Em muitos diagnósticos fazemos uso da radiação produzida a partir da aceleração de elétrons. Num tipo de aceleradores, os elétrons seguem uma trajetória linear (acelerador linear). A radiação proveniente do acelerador linear é hoje utilizada para tratamento médico, especialmente o tratamento do câncer. Neste caso, o uso do acelerador linear permite a aplicação de doses de radiação de forma controlada e muito precisa. Assim, além de serem empregados na pesquisa científica, os aceleradores lineares são hoje utilizados em grandes hospitais. me = 9,10938 ∙ 10 −31 kg 13 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1.4.2 Prótons e Nêutrons O próton teve a sua massa determinada experimentalmente em 1925 pelo físico inglês Patrick M. S. Blackett. No entanto, evidências de que o núcleo liberava prótons, quando bombardeado por partículas Beta, foram obtidas por Ernest Rutherford em 1919. O próton é uma partícula estável. Ele existe em quantidades aparentemente iguais às dos elétrons no Universo. Como sabemos, isso vale para o nosso mundo. Atribuem-se a Rutherford conjecturas sobre a existência do nêutron. Coube, no entanto, a James Chadwick, discípulo de Rutherford, comprovar experimentalmente a existência do nêutron em 1932. Assim, em 1932, obtivemos a evidência que faltava para que nos déssemos conta de que o núcleo é composto de prótons e nêutrons. O nêutron é uma partícula neutra e de massa quase igual à do próton. Hoje sabemos que os prótons e os nêutrons surgiramno Universo logo no seu início (uma fase conhecida como bariogênese) e isso porque os prótons e nêutrons são compostos por 3 quarks cada um deles. 1.4.3 Fótons Em 1905, Albert Einstein propôs, para explicar o efeito fotoelétrico, que a radiação eletromagnética seria composta por diminutas partículas, por ele denominadas quanta de luz. Arthur Compton, em 1923, descobriu outro efeito, conhecido hoje como efeito Compton. A explicação para ele exigia que a luz fosse composta pelos quanta de luz, tal como sugerido por Einstein. Ou seja, nesse particular fenômeno, a luz exibe uma natureza corpuscular. Desde então, mais e mais evidências se acumularam em favor da natureza corpuscular da luz. Algo imaginado por Isaac Newton muitos séculos atrás. Os fótons formam a radiação eletromagnética que permeia todo o Universo. No entanto, sentimos os efeitos em caráter permanente, apenas com aqueles provenientes do Sol. Nós os vemos, e isso no sentido literal da palavra. 14 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Fótons têm tudo a ver com o eletromagnetismo, pois todas as partículas dotadas de carga elétrica interagem entre si por intermédio da emissão e absorção de fótons (Figura 1.10). Com isso queremos dizer que os fótons são as partículas responsáveis pela intermediação das interações eletromag- néticas, ou seja, os fótons são as partículas intermediárias das interações eletromagnéticas. 1.5 Núcleos Os núcleos foram formados, ao longo da história do Universo, logo em seguida à formação das partículas compostas. Todo o processo de formação dos núcleos demorou muito pouco tempo, uma fração de minutos. No entanto, nesse início, teve lugar a formação, em quantidades apreciáveis, de apenas um núcleo - o núcleo de Hélio. Os prótons já existiam desde a primeira fase, ou seja, a fase da formação das partículas compostas. Ao formarem aglomerados, os nêutrons escaparam do destino das demais partículas compostas, qual seja, o seu desaparecimento puro e simples em questão de minutos. Quando se iniciou o processo de formação de núcleos restava no Universo cerca de 1 nêutron para cada 7 prótons nele existentes. Núcleos são, depois dos prótons e nêutrons, os menores objetos compostos. Boa parte deles tem uma massa compa- rável à massa das partículas mais pesadas. Pode-se pensar na constituição dos núcleos como se estivéssemos fazendo um jogo de legos. Temos peças azuis (os nêutrons) e peças vermelhas (os prótons). Poderíamos começar o jogo explicando apenas algumas regras, regras genéricas e extraídas de dados experimentais ou de complicados cálculos teóricos. A partir dessas regras poderíamos montar, em principio, todos os possíveis núcleos. Infelizmente, não conhecemos tais regras muito bem. O problema maior é a ausência de regras claras para a montagem de núcleos. Figura 1.10: Fótons são as partículas trocadas (intermediárias) nas interações eletromagnéticas. Figura 1.11: Núcleos foram os primeiros agregados de partículas no Universo. Agregados de prótons e nêutrons. Figura 1.12: Analogia entre jogo de legos e constituição dos núcleos. 15 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Por exemplo, quantos núcleos podemos montar ou criar artificialmente. Algumas regras e definições desse jogo são as seguintes: 1. O núcleo deve conter pelo menos um próton. O número de prótons recebe o nome de número atômico (símbolo Z). Cada elemento químico é caracterizado pelo seu número atômico. 2. Os prótons se repelem. Assim, para assegurar a estabilidade do núcleo, é melhor sempre colocarmos mais nêutrons do que prótons. Essa regra vale especialmente para elementos com muitos prótons. O número de prótons mais o número de nêutrons define o número de massa (símbolo A). Denominamos isóbaros os núcleos que têm o mesmo número de massa. 3. Quando construímos um núcleo que é capaz de sobreviver sem se desmilinguir, dizemos que temos um núcleo estável. Se ele sobreviver um certo intervalo de tempo, dizemos que temos um núcleo, mas nesse caso dizemos que ele é um núcleo instável. Núcleos instáveis decaem, produzindo outros núcleos e mais radiação. 4. Um mesmo elemento químico pode ter mais de um núcleo. Tais elementos recebem o nome de isótopos. Os isótopos podem ser estáveis (aqueles que duram para sempre) ou instáveis. Alguns têm uma duração de frações de segundo, sendo portanto, muito efêmeros. 5. Os núcleos dos diversos elementos são obtidos agregando, a um número Z de prótons, um certo número de nêutrons. O que chamamos de jogo anteriormente consiste em montar os diversos núcleos a partir de 1, 2, 3, ....N prótons. A cada conjunto de prótons corresponde um elemento. Esse número N é o número máximo de prótons e nêutrons que conseguimos juntar e manter juntos por um lapso de tempo, ainda que esse intervalo de tempo seja extremamente curto. Esse número N hoje é 118. A descoberta dos últimos 6 elementos é tão recente que eles não têm ainda nomes definitivos. Assim, o número de núcleos já ultrapassa 3.000 e continua crescendo. A criação de um núcleo novo em laboratório depende da habilidade de acrescentarmos mais um próton ou mais um nêutron a um núcleo já conhecido. Comecemos pelo átomo de Hidrogênio, o mais simples de todos. Temos 6 núcleos possíveis: Apenas os dois primeiros são estáveis. Figura 1.13: Núcleos formados a partir de apenas um próton. 16 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 A massa dos núcleos é, milhares de vezes, superior à dos elétrons. Os núcleos concentram, portanto, a maior parte da massa do átomo. Isso se deve ao fato de que o próton é quase duas mil vezes mais pesado que o elétron. Aprendemos, portanto, no início deste século, que o átomo é divisível. Ele é composto por um núcleo e vários elétrons em movimento em torno desse núcleo. O nêutron interage com o próton através das interações fortes. Ela é a responsável pela atração entre as partes que compõem o núcleo. Assim, como veremos depois, a mesma interação que é responsável pela existência dos prótons e nêutrons - a interação forte - é responsável também pela atração entre ambos. 1.6 Átomos e Moléculas O átomo existe por causa da interação eletromagnética. Ela permite a formação de estados ligados, uma estrutura que envolve partículas compostas de prótons e nêutrons formando o núcleo, e partículas elementares (os elétrons). Apesar de o átomo, em princípio, ser uma estru- tura mais complexa do que os núcleos, sua descrição é mais simples e, por isso somos capazes hoje de entender os átomos muito bem. Moléculas, por outro lado, são aglomerados de átomos. Sua origem é de natureza eletro- magnética. As menores moléculas contêm apenas dois átomos (as moléculas de oxigênio (O 2 ) e hidrogênio H 2 , por exemplo). A molécula da água contém 3 átomos (H 2 O). Existem moléculas contendo um número incrivelmente grande de átomos, milhões, bilhões de átomos. Muita matéria do Universo ainda se encontra na forma molecular, formando grandes nuvens. Todos os fenômenos observados no dia a dia no nosso pequeno mundo podem ser expli- cados à luz das propriedades dos átomos, moléculas e de seus aglomerados, ou seja, podem ser entendidos à luz do eletromagnetismo. 1.7 Eletromagnetismo no Universo A relevância do eletromagnetismo para o entendimento de alguns aspectos do Universo (como a radiação eletromagnética conhecida como radiação cósmica de fundo) e da sua evolução 17 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 ocorre bem depois da sua gênese. A manifestação mais sensível das interações eletromagnéticas no Universo, no sentido de alterar os seus constituintes só ocorreram cerca de 400.000 anos depois do seu início. A partir daí, a intervenção das interações eletromagnéticas se tornou mais e mais presente, especialmente no que tange à evoluçãodas suas várias partes. Após a formação dos núcleos teve início, decorrido um intervalo de tempo muito longo, a formação de átomos. Na realidade, a partir dos elétrons existentes desde o início do Universo, foram formados apenas pequenos aglomerados de elétrons e núcleos. Esses aglomerados eram relativamente simples. No início, tivemos a formação de aglomerados contendo um próton e um elétron (a grande maioria dos aglomerados), ou de dois prótons e dois nêutrons juntando-se a dois elétrons. Estamos falando dos elementos mais leves, o Hidrogênio e o Hélio. Não sabemos ainda por que razão havia exatamente um elétron, ou quase exatamente isso, para cada próton no Universo. Os demais átomos da tabela periódica foram sendo produzidos em grandes fábricas de elementos químicos conhecidas como estrelas. No entanto, estima-se que as primeiras estrelas tenham surgido cerca de 100 milhões de anos após o Big Bang. Portanto, os elementos come- çaram a ser formados muito tempo depois da gênese do Universo. A luz solar, bem como a luz proveniente das demais estrelas, é sem dúvida alguma a manifestação dos efeitos da interação eletromag- nética mais presente no dia a dia. Tendo em vista o número relativo inicial entre nêutrons e prótons, no início foram formados 12 átomos de Hidrogênio para cada átomo de Hélio. Partimos, assim, de um Universo no qual 25% da sua massa seria composta por Hélio e 75% seria de átomos de Hidrogênio. Figura 1.14: Átomos de Hidrogênio e Hélio foram formados a partir dos núcleos e elétrons da sopa. Essa foi a primeira intervenção significativa das forças eletromagnéticas, em se tratando do Universo. 18 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 A formação dos primeiros átomos representa a primeira manifestação relevante do eletro- magnetismo no Universo. A partir deles são formadas algumas moléculas. As primeiras moléculas a se formarem no Universo foram moléculas de Hidrogênio (de longe, o elemento mais abundante). Assim, a formação dessas moléculas simples pode ser pensada como a segunda manifestação relevante do eletromagnetismo, no sentido de alterar os constituintes do Universo. 1.8 Planetas e Estrelas As interações eletromagnéticas desempenham papéis distintos em relação a aglomerados densos de matéria. Para analisarmos essas questões, classificaremos tais aglomerados levando em conta as suas massas. Tomamos como referência a massa do Sol, representada por MS. A nomenclatura a seguir não é padrão na Astronomia. 1. Pequenos aglomerados são aqueles que satisfazem a condição: M < 0,085 MS 2. Aglomerados médios são aqueles para os quais suas massas satisfazem: 0,085 MS ≤ M ≤ 1,44 MS O limite superior é conhecido como massa de Chandrasekhar. 3. Aglomerados grandes seriam aqueles cujas massas satisfazem: 1,44 MS ≤ M ≤ 3MS Figura 1.15: Moléculas de Hidrogênio, constituindo as nuvens moleculares, foram formadas a partir dos átomos de hidrogênio formados no estágio denominado “era da recombinação”. Outra intervenção importante das interações eletromagnéticas no Universo. 19 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 4. Aglomerados muito grandes têm massas tais que M ≥ 3MS O limite de 3MS aqui adotado não é consensual, porquanto se trata de uma estimativa. Em todos os aglomerados classificados como pequenos e médios, quer sejam estrelas ou não, a interação eletromagnética desempenha um papel essencial ao longo de todo o processo evolutivo. No entanto, no caso dos aglomerados grandes e muito grandes, as interações eletromagnéticas desempenham um papel cada vez menos relevante à medida que analisamos as etapas finais do processo evolutivo. Em todos eles, as interações eletromagnéticas desempenham papéis impor- tantes, mas distintos. Consideraremos como pequenos aglomerados aqueles cuja massa seja inferior à massa da menor estrela conhecida. A menor estrela parece ser AB Doradus C com uma massa de cerca de 8,5% da massa do Sol. A massa teórica mínima de uma estrela é aquela que permite a fusão do hidrogênio em seu núcleo. Esse valor está entre 0,07 e 0,08 da massa solar. Assim, os pequenos aglomerados não produzem e nunca chegarão a produzir luz em profusão. No entanto, a palavra “em profusão” é essencial nesse contexto, uma vez que qualquer objeto a uma dada temperatura sempre emitirá radiação eletromagnética. Pode-se afirmar que o pico da intensidade da radiação nesse caso não se situa, dentro do espectro eletromagnético, na região associada à luz. Assim, a distinção aqui feita entre pequenos aglomerados e grandes aglomerados está em que os primeiros não produzem luz, ou seja, não possuem luz própria. Nos pequenos aglomerados, o papel da interação eletromagnética fica restrito ao de conferir estabilidade a tais objetos. Por meio da interação eletromagnética, os átomos exercem forças uns sobre os outros de forma a conseguirem equilibrar a força gravitacional exercida pelos cons- tituintes da matéria, localizados nas partes mais externas dos pequenos aglomerados. A parte repulsiva das forças interatômicas (resultantes do spin dos elétrons que compõem os átomos) equilibra, nesses objetos, as forças gravitacionais. O fato é que a interação eletromagnética tem o papel, no caso de pequenos aglomerados, de fazer com que eles não encolham, não fiquem cada vez menores quando sob o efeito da interação gravitacional. A Terra e os demais planetas são exemplos de corpos celestes que devem sua estabilidade às forças interatômicas. http://en.wikipedia.org/wiki/AB_Doradus 20 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Objetos com massas superiores a 8,5% da massa do Sol produzem luz a partir de um certo ponto no processo evolutivo. É o que denominamos luz própria. A luz - e as ondas eletro- magnéticas em geral - é a manifestação mais evidente da ação das forças eletromagnéticas agindo sobre os constituintes desses aglomerados. As forças eletromagnéticas são responsáveis pelo brilho (enquanto houver) das estrelas, e este se relaciona com a temperatura na superfície de tais aglomerados. Independentemente do seu tamanho, uma estrela emite radiação aproxi- madamente como um corpo negro. Segundo a Lei de Planck , a radiância espectral é função do comprimento de onda e da temperatura do corpo negro. Pequenos aglomerados, por outro lado, podem ser entendidos apenas à luz das interações gravitacionais e eletromagnéticas. Além de produzir luz, as interações eletromagnéticas são capazes de conferir estabilidade às estrelas. Mas essa garantia de estabilidade é válida dentro de certos limites, os quais dependem da massa e do tempo decorrido desde quando a estrela deu início à queima do seu combustível. Um mecanismo análogo ao caso dos pequenos aglomerados é responsável, igualmente, pela estabilidade dos aglomerados médios (ou seja, as estrelas menores), as estrelas cuja massa no núcleo seja inferior a 1,44 massas solares (a massa de Chandrasekhar). Também nesse caso, a forca resultante do spin dos elétrons consegue contrabalançar a força gravitacional. Esse é caso das anãs brancas. No entanto, a estabilidade ocorre não mais por conta da impenetra- bilidade dos átomos, mas por conta de um fenômeno análogo ocorrendo com os elétrons. Consequentemente, tanto para pequenos quanto aglomerados médios, os atributos aos quais associamos às interações eletromagnéticas são importantes ao longo de todo o processo evo- lutivo. No entanto, o comportamento dos aglomerados médios pode ser entendido, de forma completa, apenas à luz de três interações: gravitacional, eletromagnética e fraca. E isso se torna especialmente verdadeiro quando levamos em conta que o spin do elétron é um atributo que é também compartilhado pelas interações fracas. Figura 1.16: O Telescópio Hubble identificou 75 Anãs brancas (em destaque nos círculos) no aglomeradoglobular M4 (à esquerda). / Fonte: NASA, 1995. http://www.nasa.gov/ 21 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Os grandes aglomerados terminam sob a forma de estrelas de nêutrons, ou seja, os consti- tuintes dessas estrelas, no seu último estágio evolutivo, são nêutrons. O sumiço dos prótons e elétrons, dando lugar a nêutrons, pode ser entendido à luz de processos resultantes das interações fracas. Em se tratando de uma sopa de nêutrons, as interações fortes devem ter um papel importante no último estágio desse tipo de aglomerado. Assim, grandes aglomerados podem ser entendidos, considerando-se todas as etapas do processo evolutivo, à luz das quatro interações fundamentais: gravitacionais, eletromagnéticas, fracas e fortes. Nas estrelas de nêutrons ocorre um tipo de força entre eles que é análoga à força de repulsão de elétrons. Uma vez que tal força resulta do spin dos nêutrons, ela pode ser entendida a partir do princípio de exclusão de Pauli. Essa força provê a estabilidade das estrelas de nêutrons. Tem a ver, portanto, com um dos atributos das partículas elementares associado às interações eletromagnéticas. No entanto, como apontado antes, o spin não é relevante apenas nessas interações, porquanto partículas dotadas de tal atributo interagem por meio das interações fracas e fortes. Assim, a rigor deve-se creditar a um atributo das partículas -, o spin - a estabilidade das estrelas de nêutrons. Grandes aglomerados de estrelas, como as galáxias, têm alguns aspectos que são entendidos exclusivamente à luz da interação gravitacional. Esse é o caso do movimento de suas partes. 1.9 Sobre a Composição Química do Universo O estágio final de um aglomerado muito grande é um buraco negro. Entendemos muito pouco sobre a dinâmica desse processo. Sabemos pouco sobre o comportamento da matéria em condições tão extremas. E isso limita o nosso entendimento sobre a última etapa do processo evolutivo de tais aglomerados e o papel de cada uma das interações nessa etapa final. Quando um aglomerado se transforma em buraco negro, isso marca a vitória da interação gravitacional sobre as demais interações. Nesse caso, a interação eletromagnética é capaz de prover a estabilidade de tais aglomerados só até certo ponto ao longo do processo de evolução estelar. Sabemos que, para estrelas dotadas de massa acima de 3 massas solares, o processo de evolução estelar é tal que à medida que a estrela evolui, ela é capaz de produzir elementos com números atômicos que crescem em função da massa da estrela. Esses elementos são concentrados numa ordem crescente de números atômicos a partir do centro da estrela. 22 1 eletromagnetismo no nosso mundo e no Universo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Ao atingir o estágio no qual a composição dos elementos é alterada, devemos levar em conta as interações fracas, pois só elas transformam os elementos. O fato é que os aglomerados muito grandes se transformam em grandes fábricas de elementos químicos e graças a elas alteramos continuamente a composição química do Universo. Assim, o enriquecimento da composição química se dá como resultado da explosão de estrelas dotadas de grandes massas, produzindo com isso grandes espetáculos pirotécnicos. Apesar de tais explosões não ocorrerem com muita frequência, elas ocorrem com frequência suficientemente grande para fazer toda a diferença do ponto de vista da composição química do Universo todo. É bom lembrar que o Universo se iniciou, quase exclusivamente, com átomos de Hélio e Hidrogênio. Com o passar do tempo , no entanto, a composição química do Universo foi se alterando. Essas alterações ocorreram principalmente como resultado de grandes explosões às quais damos o nome de Novas e Supernovas. Ao longo do processo de evolução estelar, tais objetos formam átomos de elementos mais pesados do que o Hélio. No estágio final da evolução estelar esses objetos, dotados de grandes massas, explodem. Ao explodirem, elas ejetam no espaço os átomos de elementos pesados produzidos ao longo do processo de evolução estelar. Essa é a origem de elementos químicos como carbono, silício, até mesmo ferro, que encontramos no nosso planeta. Figura 1.17: A história do Universo pode ser analisada à luz dos seus constituintes. Dos pequenos aos muito grandes. Figura 1.18: Toda a matéria no Universo está em expansão. 23 eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Glossário Anodo: Um metal carregado positivamente. Citoplasma: O meio mais dinâmico da célula. Formação de núcleos: Fase conhecida como da nucleosíntese. Glúons: Um conjunto de oito partículas que se distinguem pelo atributo Cor. Elas interagem exclusi- vamente através das interações fortes. São as partículas intermediárias dessas interações. Não são mais encontradas soltas, livres, viajando pelo Universo. Hoje elas estão aprisionadas em sacolas denominadas partículas compostas. Material fosforescente: Metais de transição ou terras raras. Partícula estável: Dura a vida toda. Partícula neutra: Sem carga. Quark: Termo utilizado para nos referirmos a qualquer uma das 36 partículas elementares dotadas do atributo Cor. São as mais numerosas e mais pesadas entre todas. Os quarks são as únicas partículas capazes de interagir por meio das quatro interações fundamentais. Hoje em dia estão aprisionadas em sacolas, as quais são denominadas partículas compostas. Tipicamente, tais sacolas têm dois ou três quarks. Os prótons e nêutrons são constituídos a partir de 3 quarks. citoplasma: citoplasma_Q: citoplasma_X: quark: glúon: quark_Q: quark_X: gluon_Q: gluon_X: empedocles: empedocles_Q: empedocles_X: thompson: anodo: mat_fosforescente: thompson_Q: thompson_X: anodo_Q: anodo_X: mat_fosf_Q: mat_fosf_X: Blackett: rutherford: particula_est: chadwick: particula_neutra: einstein: compton: newton: einstein_Q: einstein_X: compton_Q: compton_X: newton_Q: newton_X: blackett_Q: blackett_X: part_est_Q: part_est_X: part_neutra_Q: part_neutra_X: rutherford_Q: rutherford_X: chadwick_Q: chadwick_X: nucleos: nucleos_Q: nucleos_X: