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P á g i n a | 1 Epilepsia Conceito Podemos dividir o conceito em 4 tópicos: Crises epiléticas Crises epiléticas são o sintoma de uma alteração súbita da eletricidade cerebral e se caracterizam por manifestações motoras, sensoriais, cognitivas e autonômicas ou por uma sequência delas. Mecanismo Ocorre em uma região do cérebro onde houve um súbito ou excessivo de atividade elétrica em um grupo de neurônios. Pode ser em uma região bem delimitada ou difusa. Isabela Terra Raupp Motoras •Movimento do rosto •Movimento da cabeça •Movimento dos membros Sensoriais •Sensações súbitas de dormência •Modificação de visão Cognitivas •Episódios súbitos de sentir-se desconectado do ambiente •estar subitamente confuso •Ter Ilusão ou memória •subitamente não conseguir falar e/ou entender o que foi dito Autonômicas •sentir que algo sobe no estômago ou na garganta •começar a salivar •taquicardia P á g i n a | 2 Recorrência Pode ser provocada por um medicamento, desequilíbrio hidroeletrolítico, abstinência alcoólica. Não são portadores de epilepsia, mas tem crise epilética provocada por alteração aguda e reversível da atividade elétrica cortical. Então... Epidemiologia 1% das pessoas tem epilepsia Bimodal: mais elevada em crianças menores de 5 anos (70/100.000) e em > 75 anos (200/100.000). Crises epiléticas Fisiologicamente, cara área cerebral tem sua função principal e contribui para uma rede neuronal com essa função. A apresentação clínica da crise epilética depende da área que teve aumento de atividade: Regiões frontocentrais – áreas motoras e pré- motoras Córtex sensitivo primário Transição temporo-parietal – regiões da fala (Wernicke) que se comunica com a área de Brocá no lobo frontal. Lobo temporal: regulação emocional e formação e evocação das memórias. Ínsula: regulação autonômica e vegetativa, ligados a movimento de vísceras, FC e salivação. Giro temporal superior: audição (área auditiva primária). Lobos occipitais: córtex visual. Propagação: Como cada região conecta-se com muitas outras, a expressão clínica das crises poderá espelhar o fenômeno da propagação das crises, que podem iniciar-se em uma região e espalhar-se para outras, com as quais estão conectadas. É um problema cerebral que se manifesta por crises epilépticas, geradas em função de um aumento súbito e excessivo da atividade elétrica de alguma região ou de algumas regiões do cérebro, causado por alguma doença que afeta neurônios e altera sua atividade elétrica, sendo que essa alteração se mantém, criando uma tendência à recorrência das crises Insulto cerebral Estímulo ao aumento de atividade elétrica Mal funcionamento dos neurônios Epilepsia Pelo videoeletroencefalograma podemos identificar a característica da crise epilética e inferir a via acometida. P á g i n a | 3 Principais tipos de crises epiléticas Crises parciais complexas de origem no lobo temporal Aura (sensação subjetiva): Visceral → sensação epigástrica que vai subindo por dentro, salivação ou taquicardia súbita. Ilusão de memória → sensação de intensa familiaridade ou de total estranheza com o que está acontecendo (“deja-vu ou jamais-vu”). Medo súbito Alucinações olfativas e gustatórias → cheiro estranho ou gosto estranho na boca. Após essa sensação, o paciente “sai fora do ar”: Fica com o olhar parado Automotismo: Movimentos automáticos, discretos, involuntários: o Mexe lábios, boca e língua como se estivesse mastigando, lambendo ou engolindo. o Esfrega-se com as mãos, mexe em roupas. P á g i n a | 4 Distonia: Endurecimento de um dos braços ou mãos O paciente não se lembra depois da crise. Duram de 40 a 90 segundos. No pós-ictal (pós-crise) o paciente apresenta um grau de confusão, sonolência e desorientação. Fisiopatologia: São associadas ao aumento súbito de atividade elétrica em regiões profundas do lobo temporal: amigdala (medo súbito), hipocampo (memórias), córtex entorrinal. Essas regiões são próximas a insula, por isso tem sensações viscerais. Se espalha para áreas do córtex temporal e frontal, inibindo organização de automotismos. EEG: Descargas epileptiformes em um ou ambos os lobos temporais fora das crises Durante as crises, mostra o início das descargas em uma região temporal. Crises parciais motoras Manifestação: Um ou mais tipos de movimentos. Manifestações motoras clônicas ou tônicas Se iniciadas no córtex motor primário (responsável por movimentos finos da face, mãos e pés), se manifestam como movimentos clônicos (contrações repetidas e rítmicas da língua, boca, mãos e pés). Propagam-se para o córtex pré-motor, fazendo movimentos amplos e tônicos, como endurecimento da face, braço ou perna. Podem acontecer ao contrário, começando no córtex pré-motor, com movimentos clônicas de toda a extremidade e evoluir para manifestações tônicas intensas de extremidade. Crises de ausência Manifestações: Súbito desligamento do ambiente Olhar parado com breve piscar ou breves movimentos de face. Não tem aura! (diferencia das outras crises) Os episódios duram 5-10 segundos. Pós ictal: recupera o que estava fazendo rapidamente. Crises mioclônicas Mioclonias: mini-crises que duram 1 segundo, mas que são seguidas uma da outra. o Movimentos bruscos, irregulares, ultra-rápidos de uma parte do corpo. o Disfunção elétrica difusa do córtex cerebral. Crises generalizadas tônico-clônicas Manifestações: O corpo é acometido por uma contração tônica (fica endurecido, rígido). o Incluindo cordas vocais → pode gritar o Musculatura ventilatória → cianose. o Músculos da mastigação → morder a língua e fechar a boca. Córtex motor primário → Movimentos cônicos Córtex pré-motor → movimentos tônicos P á g i n a | 5 As contrações mantidas são substituídas por contrações clônicas. Paciente fica torporoso por vários minutos, com sonolência. Tipos: Primária: iniciam generalizadas - Podem iniciar ao mesmo tempo em várias regiões corticais, propagando-se rapidamente para núcleos subcorticais que projetam de volta para o córtex cerebral. Secundária: iniciam como crise parcial que evolui para generalizada - iniciar em um ponto do córtex e se propagar para múltiplas regiões corticais. Crises generalizadas tônicas e atônicas Casos mais graves de epilepsia. Súbito aumento ou perda global de tônus muscular, levando a quedas ao solo. Envolvem súbita hiperexcitablidade difusa do córtex cerebral que se propaga para estruturas do tronco que controlam o tônus. Manifestações clínicas: Queda súbita Lesões corporais pela queda Classificação das crises epiléticas Crises parciais: indicam a ativação inicial de um sistema de neurônios limitado a uma parte de um hemisfério cerebral. o Simples: sem responsividade ao ambiente. Envolvem auras e crises parciais motoras. O paciente segue consciente. Uma crise simples pode evoluir para uma complexa, como acontece na epilepsia do lobo temporal. o Complexa: alteração da resposta. Crises generalizadas: primeiras manifestações clínicas indicam o envolvimento inicial de ambos os hemisférios cerebrais. P á g i n a | 6 Mecanismo Fisiologicamente, cada neurônio produz a sua própria eletricidade, à medida que o contínuo fluxo de íons carregados eletricamente atravessam a membrana, gerando potenciais elétricos (sódio, potássio, cálcio e cloreto). Quando um insulto (lesional ou molecular) interfere no mecanismo de controle da atividade elétrica, há uma derregulação, a atividade elétrica aumenta súbita e excessivamente, pela atividade do glutamato. Há um predomínio de sinapses excitatórias sobre as inibitórias. Essa atividade elétrica deve ocorrer ao mesmo tempo, de forma síncrona.Nas crises mioclônicas e crises de ausência há um mecanismo distinto: ocorre aumento súbito da atividade elétrica cortical difusa, mas a hiperexcitação se propaga imediatamente para regiões inibitórias no tálamo, que projetam estímulos inibitórios para o córtex cerebral. Oscilação leva a um padrão eletrencefalográfico muito típico, denominado de complexos ponta-onda, oscilando ao redor de 3 Hz. Acontece por um breve momento de excitação (ponta) e maciça e muito mais pronunciada em inibição (onda lenta). As epilepsias Diagnósticos diferenciais Crises não-epilépticas psicogênicas (conversivas), síncopes (que às vezes podem ser acompanhadas de movimentos convulsivos, não-relacionados a alterações elétricas corticais), crises de perda de fôlego em crianças pequenas, ataques de pânico e alguns quadros de enxaqueca. P á g i n a | 7 Status epilepticus É uma emergência! Crise que dure mais do que 30 minutos ou que recorra por mais de 30 minutos, sem que haja recuperação completa da consciência entre os episódios.