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1 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO ENTOMOLOGIA Entomologia é o estudo dos insetos. Os insetos possuem grande importância na economia humana devido as perdas que ocasionam durante a produção de alimentos. Além disso, poucos insetos são parasitos do homem, porem muitas espécies estão envolvidas na transmissão patógenos. Filo athropoda O filo Arthropoda tem a maior variedade de animais, dentro do reino Animalia. − Simetria bilateral − Corpo segmentado matamericamente (metâmeros: divisão anatômica de alguns animais) − Possuem apêndices articuladas em pelo menos uma fase de seu ciclo de vida. O tipo de apêndice varia de espécie para espécie e podem possuir função de locomoção (como patas e asas), alimentação (peças bucais) e percepção (antenas e palpos). − Exoesqueleto composto de quitina, que confere sustentação física e proteção contra predação e traumas. Devido a existência do exoesqueleto os artrópodes têm o desenvolvimento corporal em mudas (ou ecdises). − Cabeça: presença dos órgãos sensoriais e apêndices bucais Classe Insecta − Divisão corpo em cabeça, tórax e abdômen, pelo menos na fase adulta. − Cabeça: par de antenas, olhos, peças bucais (mastigador, lambedor ou picador-sugador) − Tórax: subdividido em três partes (protoráx, mesotórax e metatórax)e, em cada uma delas, origina-se uum par de patas, totalizando, portanto, três pares de pernas. Possuem também dois pares de asas (asas podem estar modificadas ou ausentes) − Excreção por meio do tubo de Malpighi − Sexos separados ORDEM DÍPTERA − Insetos com cabeça, tórax e abdome bem definidos. − O mesonoto (ou mesotórax, segundo segmento do tórax) é desenvolvido e com um par de asas transparentes. o Possuem obrigatoriamente um par de asas funcionais e podem ter o segundo par de asas com função de balancins. A mosca tem o par de asas vestigiais, que não tem função de voo. Podem servir para ajudar no equilíbrio. − Aparelho bucal picador-sugador (dípteros hematófagos) ou lambedor − São holometábolos (fazem metamorfose completa), sendo que suas larvas não possuem pernas Classe insecta Hemiptera Diptera Siphonaptera Anoplura Ordem Diptera Subordem Nematocera Subordem Brachycera Subordem Cyclorrhapha 2 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO MUSCOMORPHA As moscas são insetos dípteros, suas antenas apresentam três segmentos, sendo que o terceiro possui uma estrutura cerdiforme. A eclosão do inseto adulto do seu pupário se dá através de uma fenda circular em uma das extremidades do pupário. Moscas: tempo seco e frio tem poucas moscas, elas preferem ambientes secos e úmidos. Ciclo de vida/ Ciclo biológico: Holometabólico, ou seja, passa pela metamorfose completa, e ocorre todo no ambiente terrestre. Os criadouros podem variar de acordo com a espécie, mas será sempre em local que haja condições necessárias à sua sobrevivência (calor, umidade e matéria orgânica). O tempo necessário para o ciclo completo varia de acordo com a temperatura e umidade ambiental. No verão (30°c), por exemplo, o ciclo se completa em cerca de 11 dias, já em dias mais frios (16°c) pode chegar a 45 dias. Em geral, as moscas adultas vivem cerca de 30 dias, possuem atividade diurna. Elas podem voar por até 10.000 metros em busca de alimentos. São atraídas por substâncias voláteis percebidas pelas antenas. Quando encontram um criadouro é feita a postura de uma massa de ovos de número variável (75 a 150 ovos). Passado um tempo, as larvas eclodem e logo passam a se alimentar. Existem três estádios larvais, uma vez que as larvas sofrem duas mudas de exoesqueleto. A larva possui formato vermiforme e coloração amarela esbranquiçada, na parte anterior está o aparelho bucal e na posterior as placas espiraculares, por onde as trocas gasosas ocorrem. A pupa necessita de menos umidade que a larva para que se enrijeça o seu casulo. Por isso, ao atingir L3 as larvas abandonam o local onde se alimentam e deslocam até um local mais seco. O pupário se forma a partir do tegumento de L3, que sofre retração e escurecimento progressivo. Após o término da metamorfose, eclode um inseto adulto alado de sexo definido. Durante todo ciclo de vida é tudo mosca, por exemplo. Ovo de mosca é mosca. Deve-se falar: mosca em fase adulta, mosca em fase larval e etc. Durante a fase larvária ela basicamente só se alimenta, faz o acúmulo de nutrientes. Filo Artrophoda Classe insecta Ordem Diptera Subordem Cyclorrapha Infraordem muscomurpha Familia calliphoridae Familia Sarcophagidae Familia Muscidae Familia Oestridae 3 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO A mosca atua como vetor na fase adulta, mas é parasita na fase larval. Berne é a larva da mosca. Miíase é uma doença causada por moscas. Pupa é a “casquinha” formada a partir do enrijecimento e retração do tegumento da larva madura (terceiro estágio) Importância ecológica das moscas: − Vetor mecânico de patógenos: principalmente pelas espécies mais sinantrópicas (vivem junto ao ser humano). Por deambularem muito, exercem uma contaminação cruzada de microrganismos (ovos de vermes e cistos de protozoários intestinais, bactérias e vírus). Os protozoários ficam presos à superfície do corpo, ou são depositados com a regurgitação alimentar (espécies com aparelho bucal lambedor), ou pelas fezes dos insetos adultos. − Hematofagia: moscas com aparelho bucal picador-sugador são hematófagas na vida adulta. Podem atuar concomitantemente como vetores de patógenos (são inoculados com a picada). − Agentes etiológicos de miíase: algumas espécies na fase larval alimentam-se de tecidos vivos ou necrosados de hospedeiros. − São polinizadoras − Decompositoras de matéria orgânica (atuação da larva) − Servem alimento para outros animais, predadoras de larvas e de pupas e besouros (controle biológico). − Importunação de seres humanos e outros animais (deambulação) Família Muscidae Compreende moscas não picadoras, como a Musca domestica, e as moscas picadoras, como as do gênero Stomoxys. Os representantes dessa família, são, no geral, de cores escuras e foscas, tamanho médio, com corpo glabro ou com cerdas, e possuem quatro faixas negras longitudinais no tórax Musca domestica Importância parasitológica: veiculação de patógenos (febre tifoide, diarreias infantis, carbúnculo, cólera, ascaridiose, coccidioses, poliomielite). É uma espécie cosmopolita (grande distribuição mundial), possui alta sinantropia (capacidade de algumas moscas frequentarem o ambiente rural, urbano e silvestre) e endofilia (possui o hábito de frequentar o interior de habitações). A densidade populacional depende das condições sanitárias do local. A M. domestica adulta geralmente varia entre 6 e 9 mm, tem coloração cinza escuro, mas com abdome amarelado e uma mancha dorsal longitudinal difusa, no tórax possui as quatro faixas negras longitudinais, característica da família. Família Muscidae Espécie Musca domestica Espécie Stomoxys clcitrans Espécie Haematobia irritans Espécie Glossina morsitans 4 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Aparelho bucal: adaptado para ingerir materiais previamente amolecidos pela saliva lançada sobre o substrato, que será depois aspirada pela labela. − Labela ou Aparelho bucal lambedor ou probócida. − Alimentam-se de substancias animais vegetais (açúcares): amolecimento (por meio da saliva) e absorção. Ela encosta a labela, regurgita saliva (que vai amolecer o alimento), encosta a labela novamente e se alimenta daquilo que foi amolecido A amônia é um atrativo para fêmeas. Os ovos são postos em massas (75-100)sobre matéria orgânica fermentável (lixos, fezes e etc). Aproximadamente 800 ovos por mosca. Em uma lata de lixo são geradas cerca de 20 mil larvas em 7 dias. Adultos voam até 3km/dia. Formas de veiculação de patógenos aos humanos e outros animais: − mecânica, por meio das patas e cerdas. É a deambulação. Ela transmite patógenos quando para em alguns lugares. Pode ter pousado, antes de pousar no alimento em algum lugar como fezes de boi. − regurgitação alimentar − deposição das fezes. Alguns dos patógenos transmitidos são: − Helmintos intestinais (ex: Ascaris e Taenia) − Protozoários (Giardia e Entamoeba) − Vírus (Poliomielite) − bactérias (disenterias e cólera) Vetor biológico: parte do ciclo de vida do microrganismo acontece dentro do vetor biológico. Stomoxys calcitrans É uma mosca hematófaga. Aparelho bucal picador-sugador: probóscida longa e rígida adaptada para a hematofagia. A mosca adulta é menor e mais clara que a M. domestica. Tem o abdome acinzentado e com manchar arredondadas. Essa mosca costuma picar equinos e bovinos, sendo conhecida como “mosca dos estábulos”, mas pode picar homens e cães eventualmente. Atua como vetora de protozoários, vermes e bactérias em cães e equinos. Para o homem, a importância parasitológica é a hematofagia. Deve-se controlar a quantidade de moscas, porque se tiver mais mosca que animais, por exemplo, elas podem passar a picar o humano. Criadouros: colocam ovos em montes de esterco acumulados nos pastos, palha vegetal, restos de ração e grama cortada 5 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Cada mosca suga sangue mais de 30 vezes por dia. Sua picadas é dolorosas e pode gerar grandes feridas, que serão porta de entrada para patógenos. Pode chegar a ter de 200 a 10 mil moscas por animal (quando se tem 500 moscas por animal tem-se uma perda de 60 mL sangue por dia, o que resulta em uma perda de 40kg por ano), gerando prejuízos econômicos de milhões de dólares por ano no Brasil. Glossina morsitans É uma importante espécie hematófaga e vetora na África. Causa incomodo pelas picadas e transmite Trypanossoma brucei; agente causador da tripanossomíase africana (“doença do sono”). Na primeira fase o protozoário atinge os linfonodos. Já na segunda fase, ou fase avançada, ele afeta o Sistema Nervoso central, causando meningocefalite, que pode ser fatal. Atinge de 30 a 150 mil pessoas anualmente e 20 milhões vivem em área de risco. Família Syrphidae Algumas são agentes causadoras de pseudomiíase em humanos, como Eristalis tenax e Ornidia obesa. Os sirfídeos atuam como polinizadores (adultos) e decompositores (larvas). As larvas se criam em materia orgânica em decomposição (frutos, lixo, ou lama em chiqueiro). Os adultos se alimentam do néctar e às vezes de suor. Família Tephrotidae São conhecidas como “bichos de goiaba”, uma vez que se alimentam de frutas como a goiaba. Quando ingeridas podem causar pseudomiíase. Deve ser feita uma inspeção e seleção dos frutos a serem consumidos. Família Piophilidae São moscas pequenas (<5mm), escuras, que vivem sobre matéria orgânica em decomposição. A espécie Piophila casei, conhecida como “mosca dos queijos e carnes”, pode causar pseudomiíase quando ingerida. Família Calliphoridae Possuem várias espécies que são importantes ectoparasitas (agentes causadores de miíases), além de serem disseminadores de patógenos. 6 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO As moscas dessa família apresentam, no geral, corpo metálico, variando do verde ao azulado, e possuem aparelho bucal lambedor. Cochliomyia hominivorax Está espécie é a principal causadora de miíase obrigatória em seres humanos e animais domésticos no Brasil. É popularmente conhecida como “mosca varejeira”. Como possuem aparelho bucal lambedor, podem se alimentar de substâncias açucaradas de origem vegetal ou podem ser atraídos pelo odor do corpo de hospedeiros com baixo nível de higiene, por excreções, ou por ferimentos contendo tecido saudável. Como os ambientes supracitados são criadouros apropriados as fêmeas ovipõem ali cerca de 180 a 400 ovos por vez (massas de ovos). As larvas eclodem em menos de 24 horas e penetram em aberturas naturais do corpo ou pela ferida (nesse caso, sendo uma miíase traumática), onde se alimentam por quatro a oito dias, sofrem duas mudas e alcançam a fase L3, quando abandonam a ferida e caem no solo (começa o ciclo biológico em vida livre). As larvas dessa espécie são bastante vorazes, acarretando perdas significativas de tecidos, que algumas vezes precisam de enxertos. Chrysomya Espécies: Chrysomya putoria, Crysomya megacephala e Chrysomya albiceps. Estas espécies chegaram no brasil por volta de 1975, e são hoje amplamente dispersas e com hábitos sinantrópicos e endofílicos. A mosca adulta tem cerca de 8mm, cor metálica (variam em tons de verde, amarelo e azul). Possuem duas faixas negras transversais no tórax e três no abdome. Possuem labelas e buscam locais com material orgânico em decomposição (peixarias, abatedouros, lixões...), para se alimentarem e fazer a postura de ovos. Causam miíase facultativa em mamíferos. Alto grau de sinantropia. Alimentam-se principalmente de fezes animais e humanas: vetores mecânicas de patógenos intestinais. Aspecto traumático da lesão. A Chrysomya spp, apresenta grande importância de disseminação de microrganismos que podem ser patógenos ao ser humano, além de serem importantes causadoras de miíase, sendo bastante agressivas ao desbridar o tecido necrosado em feridas de difícil cura. 7 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Família Sarcophagidae As moscas podem atingir grandes tamanhos (de 6 a 16mm). Possuem coloração acinzentada, possuem cinco listras negras no tórax (três delas bem evidentes), e manchas escuras no abdome, que confere a ela aspecto xadrez. No macho sua genitália é bem desenvolvida e pode ser vista a olho nu. Em alguns casos apresenta coloração avermelhada. A distinção entre as espécies da família, porém, é complexa. As fêmeas são larvíparas, ou seja, liberam as larvas diretamente no substrato (matéria orgânica em decomposição), uma a uma, totalizando cerca de 50 ao longo de sua vida. Quando as larvas são postas sobre o humano em uma ferida contendo tecido necrosado, alimentam-se, causando miíase facultativa. Atuam no ciclo da matéria uma vez que decompõem cadáveres e vegetais. Suas lavras são muito vorazes, pois necessitam, na sua breve fase larval, acumular muitos nutrientes. Familia Oestridae Dermatobia hominis É conhecida como “mosca berneira” – causadora de miíase obrigatoria. Causa a miíase furuncular, em que a larva penetra na pele sem a necessidade de lesão prévia. A miíase furuncular é sempre miíase obrigatória O inseto adulto é grande (12 a 15 mm). A cabeça possui aspecto triangulado, castanha, sendo a face dorsal mais escura que a ventral. Os olhos são castanho-avermelhados. Tórax cinza amarronzado, asas castanhas e pernas amarelas. O abdome é azul escuto metálico, que contrasta com a cor fosca de todo resto do corpo. Os adultos vivem em ambientes florestais, não sendo vistos em áreas urbanas (coincide com área rural. Quando acontece em área urbana é possivelmente devido a foresea – um animal de associa a outro para transporte, a Dermatobia agarra outro artrópode e deposita dezenas de ovos na parte traseira desse artrópode). Os adultos não se alimentam, são por isso efêmeros (aproximadamente 10 dias de vida adulta), (possuem aparelho bucal atrofiado). Este tempo é suficiente apenas para copular e dispersar seus ovos (300 a 400 ovos), para garantir a dispersão da prole a fêmea colocaaproximadamente 20 ovos em cada inseto. Após a incubação dos ovos, que pode chegar a seis dias, a larva emerge por estímulo do calor que emana do hospedeiro. A larva geralmente penetra por um folículo piloso do animal. A larva é a única que se alimenta, por isso ela cresce muito de tamanho. Há relatos de humanos com lesão cutânea (mais comum), ocular e no couro cabeludo. 8 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO A larva (conhecida como berne) aprofunda na pele, ficando a parte anterior penetrada (dois ganchos orais) na derme, e a extremidade posterior voltada para a superfície, para realizar as trocas gasosas pelos espiráculos. Na fase L1 a larva tem cerca de 1,5 mm, mas pode chegar a L3 com 18 a 24 mm (ao final de cerca 40 dias). Em L3 a larva abandona a lesão e busca solo para virar pupa. Patologicamente, a lesão furuncular caracteriza-se como um processo inflamatório causado pelas ações patogênicas mecânicas (ação dos ganchos orais e dos espinhos de fixação) e salivar exercidas pelas larvas (enzimas digestivas). A lesão possui bordas avermelhadas. Sinais e sintomas: prurido intenso, dor, vermelhidão e edema. Tratamento: retirada mecânica precoce das larvas (passar álcool, cobrir com esparadrapo durante cerca de 5h. espreme igual espinha. Como a larva morreu os espinhos dela vão se retrair. Depois da retirada deve passar um antisséptico e fazer um curativo). Complicações das miíase em geral: destruição de tecidos cutâneos e cavitários. Podem ocorrer intensas inflamações e infecções, uma vez que o orifício aberto serve de porta de entrada para larvas de outras moscas e/ou bactérias. MIÍASE “infestação de vertebrados vivos por larvas de moscas que, pelos menos por certo período do ciclo biológico, se alimentam de tecidos vivos ou mortos do hospedeiro vivo, de suas substâncias corporais líquidas ou do alimento por ele ingerido.” É uma exoparasitose causada por lavras de certas espécies de moscas que precisam se alimentar de tecido vivo (miíase obrigatória) ou necrosado (miíase facultativa) sobre hospedeiros vivos. Começa com moscas pousando no paciente, que se alimenta de secreções, restos alimentares e etc., esta mosca vai depositar seus ovos sobre o hospedeiro, que eclodem em cerca de 4h, liberando larvas. As larvas vão se alimentar de aberturas naturais do corpo (tecidos como mucosas) ou feridas. As miíases podem ser classificadas: − Quanto ao tipo de hábito alimentar da mosca: o biontófago (miíase obrigatória ou primaria, aquela mosca na fase de larva que só se alimentam por tecidos vivos), o necrobiontófago (miíase segundara ou facultativa, aquelas moscas que quando na fase adulta são atraídas por odores putrefaço). − Quando ao aspecto da lesão: o miíase traumática (lesão que a pessoa já tinha, a mosca pousa na lesão e põe seus ovos que eclodem liberando larvas. É a “bicheira”) o Miíase furunculoide (é sempre obrigatória. Vai sempre se instalar em um tecido vivo). − Quanto a localização das larvas o miíase cutânea ou subcutânea o cavitária (ex: boca ou nariz), ocular, anal, vaginal e etc. 9 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Miíase obrigatória É a miíase primária As larvas se desenvolvem obrigatoriamente sobre ou dentro de tecidos vivos de vertebrados. Espécies causadoras: − Cochlioma hominivorax (Familia Calliphoridae) − Dermatobia hominis (Familia Oestridae) Miíase facultativa É a miíase secundária. As larvas se desenvolvem em matéria orgânica em decomposição (animais mortos, vegetais, fezes) e possuem vida livre. Porém, elas podem atingir tecidos necrosados de hospedeiros vivos (relação de parasitismo) Espécies causadoras: − Chrysomya spp. (Familia Calliphoridae) − Sarcophaga (família Sarcophagidae) Pseudomiíase Quando pessoas ingerem acidentalmente larvas (que estão em alimentos improprios para o consumo, como frutos muito maduros), podem desenvolver um quadro clinico conhecido como pseudomiíases, e queixam-se de colicas leves ou fortes dores abdominais, fezes pastosas não sanguinolentas, febre, nauseas, cefaléia, vômitos, etc. Normalmente as larvas causadoras da pseudomiiase não se desenvolvem dentro do TGI e saem nas fezes diarreias antes e/ou depois do tratamento medicamentoso. Tratamento: feito via oral como fármaco anti-helmintico, como o Mebendazol, que pode ser associados a outro medicamento com ação contra artropodes como a Invermectina. Os sinais clinicos desaparecem em cerca de dois dias após o tratamento. Os casos de pseudomiíase que tem sua etiologia diagnosticada se devem ao encontro das larvas nas fezes, uma vez que os sintomas são muito inespecificos sendo impossivel concluir um diagnóstico baseado apenas nas queixas do paciente. Famílias: − Syrphidae (mosca verde metálica) − Momento Tephritidae (“bicho de goiaba”) − Piophilidae (“mosca de queijo”) Tratamento das miíases traumáticas: São as miíases em lesões pré-existentes, porém, podem ser obrigatórias ou facultativas O tratamento é baseado na catação das larvas. Podem ser utilizadas substancias que causam irritação nas larvas (auxiliam na saída da larva em direção à superfície da lesão) favorecendo a coleta com uma pinça. Existem sprays que que matam as larvas e estimulam a cicatrização. Pode ser feito também o abafamento da larva (cobrir a lesão para que a larva fique sem oxigênio, o que faz com que ela tente ir para a superfície da lesão. Como ela não vai conseguir respirar ela morre). É importante sempre aplicar um bacteriostático local e fazer curativos até a completa cicatrização para evitar infecções secundarias. 10 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO ORDEM HEMÍPTERA São os popularmente conhecidos por percevejos. Família Cimicidae Cimex spp. Conhecidos popularmente como “percevejos de cama” Na fase adulta tem cerca de 5 a 6,5 mm, possuem cor marrom avermelhada, pernas curtas e não possuem asas. Seu ciclo biológico é paurometábolo, são hematófagos em todas as fases evolutivas e se alimentam principalmente à noite (quando as pessoas estão dormindo. Se escondem nas frestas das mobílias e dos colchões durante o dia. Infestações tem acontecido com mais frequência devido ao aumento da população e à resistência aos inseticidas. Os locais de aglomerados são os mais predisponentes à uma infestação por percevejos de cama, devido às más condições de higiene. Em laboratório transmitem Trypanosoma cruzi, Borrelia recurrentis e Yersinia pestis porém sua capacidade vetorial nunca foi comprovada em condições naturais. Portanto a importância médica destes percevejos está na espoliação sanguínea, no incomodo das picadas e nas infecções secundárias que podem ocorrer. As reações às picadas, além do prurido, que é a queixa mais comum dos parasitados, a resposta aos antígenos salivares pode ser preocupante em algumas pessoas que apresentam hipersensibilidade alérgica. O controle pode ser feito com: − Superaquecimento dos móveis e ambientes por cerca de 2h − Uso de aspirador de pó nos moveis e frestas − Lavagem das roupas de cama com água muito quente − Catação dos percevejos − Uso de inseticidas 11 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO ORDEM SIPHONAPTERA Nesta ordem estão os insetos conhecidos popularmente como pulgas e bichos-de-pé. Estes podem atuar como parasitos propriamente ditos, devido à hematofagia, e como vetores e/ou hospedeiros intermediários de patógenos. Morfologia dos sifonápteros As pulgas são insetos pequenos (1 a 3 mm quando adultos) Ápteros (sem asas). Achatamento lateral do corpo, o que facilita a locomoção na pelagem do hospedeiro. Aparelho bucal picador-sugador.Terceiro par de pernas adaptadas para o salto. Antenas curtas. Exoesqueleto que recobre o corpo é bem quitinizado e confere aos insetos a cor castanho escuro. Machos: menores que fêmeas, possuem órgão copulador e a extremidade posterior do corpo voltada para cima. Fêmeas: possuem espermatéca (reservatório de espermatozoides) e extremidade posterior arredondada. Ciclo biológico Desenvolvimento holometábolo: ovo, larva (L1-L3), pupa e adulto, que dura cerca de 30 dias. Criadouros: ninhos, trilhas e abrigos dos hospedeiros (onde tenha sombra, umidade e matéria orgânica) São hematófagas na fase adulta e casa espécie tem seus hospedeiros preferenciais (mas não possuem exclusividade parasitária, ou seja, podem sugar sangue de outros hospedeiros) A fase larval é de vida livre, aparelho bucal mastigador, alimenta-se de detritos orgânicos, fecais ou de restos de fezes secas de pulgas adultas. A sobrevida das pulgas na fase adulta é muito variável (entre 30 e 500 dias), podendo chegar a mais de um ano, dependendo do clima, da espécie, disponibilidade de alimento, ausência de predadores. Dentre as principais espécies: − Xenopsylla: aproximadamente 100 dias* − Ctenocephalides: aproximadamente 200 dias − Pulex: aproximadamente 500 dias. *X. cheopis vive cerca de 100 dias, mas quando infectada pela bactéria causadorada peste bubônica este período cai para cerca de 10 dias. 12 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Importância parasitológica das pulgas − Como ectoparasitas (agentes infestantes) o Ação espoliadora: hematofagia (machos e fêmeas adultas). ▪ Sugam entre 2 a 3 vezes por dia durante aproximadamente 15 minutos. ▪ Devido às ações patogênicas que exercem para obter sangue, desencadeiam irritações de pele (dermatites) e reações alergias aos antígenos salivares. ▪ Em animais de pequeno porte com altas infestações em animais pequenos. o Tunga: a fêmea penetra o seu corpo na pele, levando ao quadro de tungiase. Podem ser múltiplas e haver complicações (como veiculação de bactérias e fungos; gangrenas gasosas ; perda de anexos, como a unha; dificuldade na marcha e postura corporal; deformidade dos dedos e necrose tecidual importante) − Como hospedeiros invertebrados de: o Protozoários (Trypanosoma lewisi) o Cestódes (Dipyilidium caninum) o Nematódes (Dipetalonema reconditum) − Como vetores (transmissores de patógenos) o Yersinia pestis (biológico) – É a bactéria causadora da peste bubônica o Clostridium tetani, Clostridium perfrigens (mecânico) o Leishmania – pesquisadores levantaram a hipótese de existir outro vetor além do flebótomo, pensaram na pulga como vetor. Ainda não esta comprovado. Já fizeram a detecção de DNA de Leishmania em TA NO LIVRINHO. Controle da população de pulgas Coleiras impregnadas com inseticidas. Xampu e sabão inseticida para animais domésticos. Borrifação de inseticida no domicílio e Peri domicílio. Catação manual dos insetos. Família Pulicidae Pulex irritans A pulga “do homem ou das casas” − Cosmopolita − Altamente adaptada às habitações humanas onde pode ser abundante. − Fases imaturas (vida livre): junto à poeira do chão. Só se associa ao hospedeiro para se alimentar. − Antropofílica: prefere o sangue humano, raramente se alimenta em cães ou em outros animais − As ações das peças bucais e da saliva causam dermatite local − Risco eventual: Pulicose: ectoparasitose causada pela pulga que é um parasito infestante na fase evolutiva adulta que é hematófaga. As ações exercidas pela pulga, como a picada (perfuração da pele) e a inoculação da saliva na pele humana, desencadeiam uma dermatite (resposta inflamatória da pele) Ctenocephalides sp. 13 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO São pulgas de carnívoros domésticos e silvestres. É a pulga dos cães e gatos: encontradas indistintamente nestes hospedeiros. Picam humanos e gambas C. canis: mais encontrada onde a temperatura e a umidade são mais elevadas (nordeste). Transmissor de helmintos, pela ingestão ou esmagamento da pulga. C. felis: predomina em climas subtropicais (sudeste). É a espécie mais prevalente. Prolifera dentro das casas e tambem sobre os animais. Xenopsylla cheopis Parasita de ratos domésticos. Possui importância primaria na transmissão da peste bubônica (a principal transmissora da Yersinia pestis, bacilo causador da peste bubônica) entre roedores domésticos e pode atingir os seres humanos. A infecção pela Yersinia pestis reduz a longevidade da pulga de aproximadamente 100 para 3 a 11 dias, mas aumenta sua capacidade vetorial. A bactéria se multiplica e bloqueia o proventrículo, impedindo que todo sangue sugado vá para o intestino da pulga. Com isso, a pulga fica desnutrida e pica vários hospedeiros em um curto intervalo de tempo, a fim de se saciar. Ao pica-los, ela regurgita sangue contaminado com a bactéria diretamente no vaso sanguíneo. É, então, levada pelos vasos linfáticos aos linfonodos reacionais (principalmente inguinais e axilares) que inflamam e formal os bubões. É a pulga mais encontrada em ratos domésticos no Brasil, está presente em regiões tropicais e em algumas regiões temperadas . Família Tungidae Tunga penetrans “Pulga da areia”, “pulga do porco”, ou “Bicho de pé” É a menor das pulgas, com aproximadamente 1 mm de comprimento. Possui mandíbulas longas, largas e serrilhadas. A Tunga precisa dessa adaptação para se alojar dentro da pele e nunca ficar sem sangue. Machos e fêmeas são hematófagos, porém apenas as fêmeas penetram na pele, depois de fecundadas, onde alimentam-se de líquido tissular e sangue até encherem-se de ovos. Ciclo de vida da tunga: a pulga fêmea penetra quase completamente (2/3 anteriores) na epiderme, deixando apenas a extremidade abdominal exposta ao ar, esta parte fica fora da pele para defecar e respirar. Após aproximadamente 7 dias o abdome fica repleto de ovos. Entre 100 e 200 ovos são expelidos por vez, chegando a 3000 em aproximadamente 15 dias. A fêmea murcha e é expulsa pela reação inflamatória em torno dela. Tungiase Localização mais frequente: planta dos pés, sob as unhas, nos dedos e entre eles. 14 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Sinais e sintomas: prurido, edema e eritema. Complicações da tungiase: dificuldade ou impedimento da locomoção, infecções secundárias (ex: clostridium tetani ou clostridium perfringens), perda de anexos da pele ou partes dos dedos Tratamento: fazer a antissepsia local, esterilizar a agulha, fazer dilaceracoes e retirar o neosoma intacto. Realizar nova antissepsia local e curativo. Antibiótico se necessário. 15 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO ORDEM PHTHITAPTERA SUBORDEM ANOPLURA São os piolhos sugadores de sangue em mamíferos. Possuem aparelho bucal picador-sugador. Na fase adulta possuem entre 1,5 e 3,5 mm Possuem corpo achatado dorsoventralmente. São ápteros. Suas pernas são fortes com garras tarsal recurvada (pinças), para se agarrar aos pelos do humano. Possui cabeça mais estreita que o tórax. Possuem alta especificidade quanto ao hospedeiro (em partes restritas do corpo), ou seja, piolho de ser humano parasita apenas humanos. Ciclo biológico: Paurometábolo (metamorfose incompleta). Desenvolvimento incompleto: ovo, ninfas (N1-N3) e adulto. A fêmea, ao ovipor, cola cada ovo no pelo do hospedeiro. As lêndeas possuem cor branco-amarelada e tem cerca de 1mm. O ciclo leva cerca de 25 dias para se completar. Longevidade do adulto é de aproximadamente um mês. Todo desenvolvimento do piolho ocorre sobre o corpo do hospedeiro. São hematófagos obrigatórios, tanto os machos quandoas fêmeas. Desde ninfa até adulto. E fazem, geralmente, 2 repastos (alimentações) por dia. Família Pediculidae Pediculus capitis É popularmente conhecido como “Piolho da cabeça”. Possui o corpo mais longo do que largo, e os três pares de pata com o mesmo comprimento e largura. Tem cerca de 3 mm (a fêmea é maior que o macho) Habita o couro cabeludo do humano, preso aos fios de cabelo. A lêndea é colada bem próxima ao couro cabeludo para que receba o calor corporal, essencial para a formação da ninfa e sua eclosão. 16 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Lêndeas a distância superior a 0,7cm da raiz do cabelo estão mortas ou eclodidas. É um inseto cosmopolita. Tem uma grande distribuição mundial, uma vez que o habitat dele é o mesmo no mundo inteiro. Pediculose do corpo cabeludo: − A faixa etária mais infestada é na infância: de 1 a 5 anos, e aos 8 anos. − Período com maiores índice de infestação: agosto (durante as férias as crianças interagem com os vizinhos, com os amigos, que podem estudar em outra escola que, por exemplo, poderia estar com uma infestação de piolho. Portanto, na volta as aulas, as crianças podem ter pegado piolho do amido e passar para os colegas da escola, gerando nova infestação) − Maiores infestações no sexo feminino, com a cor da pele clara e com comprimento do cabelo variado (não foi encontrada preferência por comprimento do fio). − A transmissão é por contato direto (O piolho literalmente precisa andar de um cabelo ao outro, ele não voa) e por compartilhamento de objetos pessoais. − Em BH a prevalência é de 5 a 10% − A preferência é por fios mais espessos e implantação mais densa (aqueles cabelos que são mais cheios. Pessoas que tem mais cabelo) “É mais comum de surgir em crianças, sobretudo as do sexo feminino e de cabelos longos. O principal sintoma é a coceira, que de tão intensa, pode provocar pequenos ferimentos na cabeça, atrás das orelhas e nuca. Ainda é possível visualizar o parasita e seus ovos (lêndeas) no couro cabeludo do paciente acometido. Na pediculose do couro cabeludo é comum o aparecimento de ínguas atrás das orelhas e nuca” (SBD). Pediculus humanus “Piolho do corpo” ou“Muquirana” É bastante semelhante ao P. capitis, porém pode atingir 3,5 mm. Este inseto suga o sangue da pele do corpo humano, se abriga nas vestes, mantendo-se preso às fibras das roupas por meio de suas pinças. Pode também ser visto infestando roupas de cama. Quando vai realizar hematofagia se aproxima da pele para picar e retorna às roupas para colar os ovos as fibras. Infestam principalmente adultos e idosos com baixa higiene (corporal e do vestuário). Há maior prevalência em regiões de clima frio e temperado (menos trocas de roupas), e na população adulta, na faixa marginalizada da sociedade (prostitutas e mendigos), refugiados e prisioneiros. A principal forma de transmissão deste piolho é o compartilhamento de roupas. Causa a pediculose do corpo. “Na pediculose do corpo são encontradas escoriações, pápulas (“bolinhas”), pequenas manchas hemorrágicas e pigmentação, principalmente no tronco, na região glútea e abdome” (SBD). Sinais flogísticos: tumor (edema), rubor (hiperemia), dor, calor. 17 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Família Pthiridae Phthirus pubis São popularmente conhecidos como “Piolho do púbis” ou “Chato”. É uma espécie cosmopolita É a menor espécie que parasitam o ser humano. Cerda de 1,5 mm. Seu corpo é um pouco mais longo que largo e o primeiro par de patas é menor e mais delgado que os outros. Os primeiros segmentos abdominais apresentam-se fundidos, aproximando os espiráculos respiratórios. Tórax e abdome fundidos em peça única, mais larga ao nível do tórax. A principal forma de transmissão é o contato sexual, desta forma, a faixa etária mais infestada é a adulta. Pode afetar crianças, causando infestações em cílios e sobrancelhas. Mais frequente na região do púbis e períneo, mas pode ocorrer nos pelos axilares, barba, cílios e sobrancelhas. Ftiríase ou pediculose do púbis: Na pediculose pubiana há prurido e são encontradas manchas violáceas, escoriações e crostas hemorrágicas na região. Pode ocorrer também infecção secundária em qualquer região. Blefarite, conjuntivite, crostas, descamação palpebral IMPORTÂNCIA PARASITOLÓGICA DOS PIOLHOS 1 – Ectoparasitos hematófagos: São agentes de pediculoses e ftiríase − Os sinais e sintomas das pediculoses se devem à injeção de saliva durante a hematofagia. Produzem muito incomodo por ação das moléculas salivares que, juntamente com a ação perfurante da probóscida, causam uma resposta inflamatória na pele, ou seja, uma dermatite, caracterizada pelo halo eritematoso e um prurido considerável, tanto maior quanto por a carga parasitária. Dermatite: a saliva induz pequenas lesões com pápulas e intenso prurido − Pediculose do corpo: os aspectos patogênicos da pediculose do corpo são semelhantes aos relatados para a pediculose do couro cabeludo, porém os sinais da patologia diferem, pois é relatado o desenvolvimento de um Tratamento pediculoses: Sociedade Brasileira de Dermatologia 1. Roupas e utensílios pessoais de pano usados nas últimas 48 horas devem ser lavados com água em temperatura acima de 50° e/ou secados em máquinas de secar roupas nas mais altas configurações de calor 2. Pediculicidas tópicos constituem o método mais efetivo, sendo a permetrina a mais usada 3. Pentear o cabelo molhado com pente fino 4. Medicação oral (ivermectina) 18 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO quadro de melanodermia. Este sinal é caracterizado uma área de pigmentação azul acinzentada na pele, provavelmente devido a uma reação entre componentes da saliva do inseto e o sangue do hospedeiro, ou à conversão da bilirrubina em biliverdina. Complicações a partir da pediculose: − O ato de coçar (prurido) provoca escoriações que pode se infectar (infecções estafilococicas secundárias, impetigo) − Alopecia, que é a perda de pelos em indivíduos com alta carga parasitaria − Normalmente a perda de sangue não é capaz de provocar anemia, mas em um quadro de alta carga parasitária (centenas de insetos) pode contribuir para o agravo de quadros de subnutrição pré-existentes. Pode provocar anemia, caso a infestação esteja associada a dieta deficiente, na infância e más condições sociais. 2 – Veiculação de patógenos P. Humanus − Tifo exantemático (Rickettsia prowazeki): a bactéria está viável nas fezes do inseto por aproximadamente 60 dias. Ocorre principalmente em regiões de altas altitudes da África, América Central e Sul, e nas regiões frias e altas da Ásia. o Febre com calafrios, cefaleia, dores pelo corpo e prostração; grangrena das extremidades; edema; insuficiência renal. A doença dura de 2 a 3 semanas, com letalidade entre 10 a 40% dos casos. Existem casos assintomáticos. − Febre recorrente (Borrelia recurrentis): acontece na Étiopia, Sudão, com focos na América Central e do Sul. TRATAMENTO DAS INFESTAÇÕES E CONTROLE Pediculose do corpo: alvo são as vestes e as roupas de cama − Mergulhar as roupas infestadas da família em água fria com formol ou Lysoform por 3 horas. Repetir a cada 3 dias por 2 semanas. − Aquecer roupas infestadas por 1h a 70° para matar os P. humanus. Pode passar a ferro também. − Inseticidas: Malathion, Lindane, BHC, DDT. − Sabonete a base de benzila. Pediculose do couro cabeludo: Métodos naturais de controle − Catação manual − Pentear frequentemente com pente-fino (injúria às lêndeas) − Raspagem da cabeça − Solução salina (exosmose das lêndeas) − Secador de cabelos (dessecação das lêndeas) Controle químico: consideraçõesquanto ao uso de medicamentos inseticidas para o tratamento (formulação, dose, idade, lesões). Loções ou xampus a base de inseticidas. − Monossulfiram (sabonete); compostos sulforados (Tetmosol); piretroides sintéticos (loção). Mais utilizados atualmente (deltametrina – deltacid), bioaletrina (vapio). − Repetir o tratamento contra ninfas recém eclodidas por 2x com intervalo de aproximadamente 7 dias − Invermectina tópico 0,5% ou sistêmico − Alcool benzílico 5% − Ácido acético e água 1:1 – remoção da cementante das lêndeas + pente fino. 19 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Classe Arachnida ORDEM ACARI De forma geral os pertencentes a esta ordem têm importância como agentes infestantes e/ou por atuarem como vetores de patógenos. Seus representantes são conhecidos popularmente como carrapatos. Morfologia geral dos ácaros Possuem corpo achatado dorsoventralmente e todo fundido. É feita uma divisão traçando-se linhas imaginárias pelo corpo dos ácaros, formando-se: − Gnatossoma (ou capítulo ou falsa cabeça): parte anterior do corpo onde estão as estruturas de fixação e alimentação. − Idiossoma: parte posterior. São os pares de patas e as aberturas anal e genital. Subordem Sarcoptiformes Sarcoptes scabiei É o agente etiológico da sarna ou escabiose. Doença inflamatória da pele, contagiosa, que afeta os seres humanos e outros animais. Tem o corpo globoso e medem aproximadamente 0,4 x 0,3 mm. As pata estão dispostas aos pares: dois anteriores (mais desenvolvidos) e posteriores (menores). No ciclo biológico os adultos perfuram túneis na epiderme, sob a camada córnea, onde vivem e fazem exsudar linfa, seu principal alimento. Após a cópula as femeas põem os ovos dos quais eclodem larvas, ninfas hexápodas, que evoluem para ninfas octópodes e depois para a fase adulta. A transmissão é por contato direto, mas pode ser feita por fômites (qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infecciosos, de germes a parasitas, de um indivíduo a outro). A doença e seu diagnóstico: A perfuração da epiderme e a liberação de metabólitos pelo ácaro desencadeiam resposta inflamatória que podem acometer várias áreas do corpo. Áreas principalmente afetadas: mãos, axilas, região escapular, epigastro, flancos posteriores, cotovelos, região pubiana e nadegas, joelhos e planta dos pés. Sinais e sintomas: descamação eritematosa, crostas, prurido que leva a escoriações. Classe Archnida Ordem Acari Ordem Scorpiones Ordem Araneida 20 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO Escoriações são sempre porta de entrada para infecções secundárias. Diagnóstico: início na anamnese, complementado pelo exame clínico (aspecto das lesões). Confirmação por exame laboratorial do raspado da pele ou da fita gomada aplicada sobre as lesões (observa-se a morfologia do ácaro) Subordem Ixodides Família Ixodidae Ectoparasitos hematófagos Transmitem vários patógenos (protozoários, bactérias (espiroquetas e riquétsias) vírus e filarias. A morfologia se assemelha à descrita para os ácaros em geral. Porém, nos ixodides, os quatro pares de patas se originam da parte anterior do gnatossoma. Ciclo biológico Os carrapatos se mantem fixado à pele do hospedeiro por meio de uma substancia cementante. As fêmeas: quando alimentadas e cheias de ovos saem da pele do hospedeiro e procuram abrigo próximo ao solo, onde realizam a ovoposição de milhares de ovos. Morrem logo após a ovoposição. Possuem as fazes de ovo, ninfa hexápoda (larva), ninfa octópode e adultos. Transmissão de patógenos Depois de fixados a pele secretam substancias bioativas com ações anti-hemostáticas, anti-nflamatórias e imunossupressoras, que garantem a fluidez do sangue e a inibição de prurido e dor (provocam a reação de defesa do hospedeiro). A resposta às ações patogênicas podem ser imediatas ou demorar horas. O quadro clinico resultante é caracterizado pelo eritema, vesículas e prurido. Controle de carrapatos Manejo da vegetação e aplicação de acaricidas. Utilização de repelentes. Manejo do animal com aplicação de carrapaticidas. Amblyomma cajannense É o carrapato mais comum no Brasil. É o carrapato dos cavalos, porém tem pouca especificidade parasitária. São relativamente grandes. Placa quitinizada em cima do corpo (dorsalmente), para 21 PARASITOLOGIA – JÚLIA GALUPPO proteção do carrapato. Nos machos é um escudo longo (cobre quase todo corpo), nas fêmeas é um escudo curto (foto abaixo). Possuem grande resistência ao jejum (longos tempos sem se alimentar) Importante na transmissão de Rickettsia rickettsii (febre maculosa) e de Borrelia sp (doença de Lyme). A transmissão da Rickettsia rickettsii se da no momento da liberação da saliva contaminada. Febre maculosa: pode ser assintomática e até fatal. Doença febril que pode ser tratada com antibiótico. Ciclo biológico: O ciclo do Amblyomma é trioxeno, ou seja, exige três hospedeiros para se completar. As mudas acontecem no solo.