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RESENHA DO FILME O VENENO ESTÁ NA MESA
O Veneno Está na Mesa, documentário do cineasta Silvio Tendler, traz o relato de especialistas e agricultores e coloca em xeque o atual modelo de produção de alimentos. “O que me motivou a falar sobre o tema foi ter descoberto que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos. Cada brasileiro consome, em média, 5,2 litros por ano”, diz o documentarista.
Tendler nunca foi ligado à causa agroecológica. Um alerta do escritor uruguaio Eduardo Galeano há cerca de dois anos o fez ter maior interesse pelo tema. Depois de percorrer o Brasil, recolhendo depoimentos em Estados como Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, o cineasta faz defesa ardorosa de um novo modelo de agricultura. “A grande conclusão do filme é que se a gente quer continuar vivendo e salvar o planeta temos que buscar outro modelo, de agricultura orgânica, temos que abandonar os transgênicos e os defensivos agrícolas, que nada mais são do que agrotóxicos”, afirma.
O cineasta revela que “estamos sujeitos a um envenenamento” e chamou atenção para o fato de que, muitas vezes, o consumidor pensa no agrotóxico apenas quando vai escolher verduras ou legumes. “Por estar no trigo e na soja, o agrotóxico está em muitos outros produtos, como pães e pizzas”.
Entre os depoimentos mais estarrecedores do documentário, destaca o que ocorreu com uma agricultora que sofreu uma esclerose múltipla gravíssima com apenas 32 anos de idade. Desde os doze anos, ela trabalhava na lavoura de fumo no Rio Grande do Sul.
Segundo Tendler, é bem mais difícil estabelecer quais são os efeitos dos agrotóxicos para os consumidores do que nos agricultores que manejam estes produtos. Mas ele afirma que o crescimento da incidência de algumas doenças como o Mal de Alzheimer e o câncer indicam uma relação, defendida por especialistas, embora não haja provas. “Acho que não vale a pena pagar para ver”, sentencia.
O filme mostra ainda uma pesquisa realizada com 62 mulheres no Mato Grosso, demonstrando que todas elas tinham agrotóxico no leite. E apresenta alternativas ao atual modelo de produção, como a história de um pequeno agricultor e a experiência da Argentina, onde a presidente Cristina Kirchner abriu investigação oficial sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde.
Silvio Tendler acredita que o documentário, não ficará restrito a um grupo pequeno de militantes das causas ecológicas e de esquerda. “Acho que este filme não tem clivagem entre direita e esquerda. Todos podem se interessar por este tema, ninguém apenas por ser de direita vai querer gerar um monstro”, diz. Para que a divulgação do tema seja efetiva, ele concorda que O Veneno Está na Mesa seja disponibilizado na internet e distribuído gratuitamente. “O importante é que as pessoas assistam”, resume.
Pequena análise do documentário "O veneno está a mesa"
Passamos por um processo de urbanização muito grande, o campo vem perdendo seu valor, não digo que a população do campo esteja menor, mas que as das cidades crescem em ritmo muito maior. Claro que isso tem relação com o desenvolvimento da tecnologia e de facilidades para a sociedade, mas tem criado uma sociedade doente, onde o número de mendigos, de favelas, de crimes, e outros problemas crescem de forma exponencial.
            Temos uma escolha, podemos fazer uso dos agrotóxicos e reduzir a quantidade de trabalhadores no campo, ou parar com ele, e dividir terrar e ter uma população mais sadia. Penso que os interesses do capital estão em primeiro lugar.
            O mais interessante é que o documentário fala de governo progressistas que defendem o uso dos agrotóxicos, como o PCdoB por exemplo que defende no senado que eles alimentam a população. O PT também tem dado grandes contribuições para tanto, inclusive tem crescido a ação do agronegócio sob o governo do PT. De fato, se pararmos de usar os agrotóxicos haverá uma queda na produção, porém se levarmos em conta apenas os trabalhadores que hoje estão no agronegócio, mas se houver uma distribuição de terras a quantidade de produtores aumentaria e consequentemente a produção, além disso, isso daria trabalho e renda, além de desinchar cidades.
            Em vários países produtos químicos foram proibidos, mesmo onde os interesses do capital são maiores como nos EUA, existe um forte controle sobre o uso de alguns agentes. No Brasil não existe preocupação com isso, o agronegócio tem mais poder que povo aqui. O fato é que esses produtos afetam a vida das pessoas. O aumento do câncer tem relação com isso. Além disso, esses produtos degradam o ambiente, estamos preparando uma sociedade mais doente para as próximas gerações, estamos jogando os problemas para o futuro.
            As corporações têm agido de forma bastante violenta para com os agricultores, constituindo verdadeiros monopólios e estados paralelos. A Monsanto tem uma polícia própria que vai às plantações na Índia conferir se os agricultores estão usando as sementes transgênica. Eles fabricam as sementes e o herbicida, ambos funcionam juntos, e somente juntos, assim o agricultor precisa comprar os dois ao mesmo tempo, e o que é pior, são sementes suicidas, elas não podem dar origem a outras plantas. O agricultor é obrigado a comprar novamente junto a Monsanto. O mais interessante é que não é só as sementes que cometem suicídio, os agricultores também. Eles estão sendo sobrecarregados com dívidas e ficando escravizados.
            No Oaxaca os indígenas, descobriram que suas sementes estavam morrendo, não estavam germinando, houve suspeita que o caráter suicida das sementes da Monsanto poderia ser passado pelo solo, ou seja, uma contaminação do solo. Isso é apresentado no documentário O Mundo Segundo a Monsanto.
Nesse filme de Sílvio Tendler, com a participação de vários líderes sindicais, professores e intelectuais, é explicada a lógica capitalista neoliberal por trás do processo de privatização e desmonte do Estado brasileiro. Em uma série de entrevistas, é demonstrado como as privatizações contribuíram para desmantelar os serviços brasileiros, trazendo apagões, crises e desemprego.
A lógica da privatização veio junto da ascensão do neoliberalismo mundial, o qual chegou aqui a partir dos anos 90 com Fernando Collor, sendo continuado por Fernando Henrique Cardoso. O Estado, apresentado como o elefante na sala, era tido como ineficiente e caro, e a privatização foi vendida como uma maneira de se obter serviços mais eficientes, mais baratos e mais competitivos.
No entanto, algumas décadas depois desse processo, não temos como dizer que isso se deu de maneira concreta. O serviço de telefonia brasileiro, por exemplo, é extremamente ineficiente, caro, trata muito mal o consumidor, além de ser campeão no número de reclamações nas agências reguladoras.
Temos observado que esse processo de desmonte do Estado tem afetado também os serviços públicos essenciais, como a saúde: muitos dos funcionários são contratados ou terceirizados, ou seja, não estão ali por causa de um concurso público; isso significa uma perda de controle enorme e uma ineficiência no serviço, pois como se cobra resultados de um trabalhador privado em uma empresa pública?
Milton Santos disse, e o filme cita, que o jovem vive em exílio na periferia. A lógica do capital tem influenciado enormemente na maneira com que se dá a urbanização nas cidades grandes do nosso país. O acesso a serviços, educação, trabalho, cultura e lazer é difícil, e a tarifa de transporte é cara, além do serviço ser ineficiente. É possível haver tarifa zero e transporte mais eficiente, mas para isso é necessário que haja uma mobilização social enorme para isso. As jornadas de junho, contestando o valor da tarifa e pedindo, inclusive, tarifa zero, provaram que tal mudança é possível.
Como disse Milton Santos, a qualidade dos serviços públicos é o que assinará a carta de alforria daqueles que vivem em exílio na periferia.

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