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80 A progressão dos valores orçamentários e financeiros destinados aos programas geridos pela autarquia – ou mesmo a ampliação do rol de programas sob sua responsabilidade –, em análise isolada, caracteriza um cenário positivo, o que não pretendo de modo algum contestar. Por outro lado, também não se pode entender que esta evolução positiva implica em resultados proporcionalmente positivos. O que se quer é perceber se há meios de certificar-se de que tais recursos têm sido utilizados em convergência com o interesse público. Assim, interessa-nos perceber se os preceitos necessários à efetivação da accountability estão presentes neste contexto. O próprio FNDE, como já se viu, detém competência de controle sobre a execução de tais recursos, o que pode indicar a modalidade horizontal de accountability. Porém, um dos grandes desafios a autarquia consiste em exercer efetivamente esta competência, cuja carência se materializa no expressivo estoque de documentação de prestação de contas cujas análises não foram concluídas no tempo devido. Também neste campo, há agravantes herdados da extinção da FAE e das DEMECs cujos reflexos são até hoje sentidos pelo FNDE. Exemplo disso nos traz Franco (2008, p. 50), quando, ao analisar o impacto nas auditorias “in loco” do FNDE pela extinção dessas últimas, aponta que: Com a extinção das DEMECs, os processos de prestação de contas, aproximadamente 40 mil, foram remetidos ao FNDE, sem que os mesmos tenham sido analisados. Somou-se ao montante, outras 7 mil contas enviadas à Autarquia, referentes a convênios cuja vigência expirava em fevereiro de 1999. (FRANCO, 2008, p. 50) E esse cenário, característico do Novo FNDE e cujo enfrentamento era desafiador, agravou-se progressivamente à medida que o governo central aposta na descentralização e direciona os olhos do controle para a execução que ocorre em outras esferas, sem que a autarquia detenha capacidade suficiente de análise das prestações de contas sob sua responsabilidade. Desta forma, embora todas as transições tenham sido balizadas por princípios da administração gerencial e na busca de maior governança, fica prejudicada a avaliação de resultados e, portanto, da eficiência do Estado na oferta de educação de qualidade. Tal criticidade considera que a essência da Autarquia está associada à captação e repasse de recursos, destacando-se a estratégia da descentralização 81 para execução dos programas sob sua alçada. Esse cenário, associado às previsões do art. 70 da Constituição Federal e aos preceitos discutidos no capítulo anterior levam à conclusão de que o FNDE responsabiliza-se pela análise das prestações de contas dos recursos por ele transferidos, sempre que há vinculação. O rol de programas que, em 2010, se enquadravam nesse modelo é: Tabela 1: Relação de transferências automáticas realizadas em 2010 TRANSFERÊNCIAS AUTOMÁTICAS EM 2010 Programa Valor (R$) Quantidade Programa Nacional de Alimentação Escolar 3.034.269.003,80 5.528 Brasil Alfabetizado 175.296.818,31 1.360 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) 624.855.365,67 4.914 PDDE – Funcionamento da Escola nos Finais de Semana 38.153.905,00 107 PDDE/PDE-ESCOLA 465.038.500,00 2.629 PDDE-EDUCAÇÃO ESPECIAL 5.825.924,00 1.221 PDDE-EDUCAÇÃO INTEGRAL 379.902.335,89 346 PEFEM 800.000.000,00 11 Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar 597.999.208,57 5.195 PROJOVEM 297.107.354,85 119 REESTRUTURAÇÃO FÍSICA 449.996.213,02 28 Totais 6.868.444.629,11 21.458 Fonte: SISPCO, 2012 Isso significa dizer que, apenas em 2010, o FNDE gerou para si a obrigação de acompanhar e analisar as prestações de contas de mais de 21 mil transferências obrigatórias, que alcançam a expressiva monta de quase 7 bilhões de reais. Além disso, em 2010 registra-se a celebração de 4.097 convênios, cujos projetos totalizam R$ 2.311.960.440,1614, o que implica também em prestações de contas, cujas análises, da mesma forma, competem à Autarquia. Em números totais, são mais de 25 mil processos, que tratam da avaliação do uso de mais de 9 bilhões de reais, apenas ao longo de 2010. Esse panorama expressa sua criticidade quando considerado que, no mesmo ano de 2010, Relatório de Gestão da autarquia (FNDE, 2011), as unidades competentes pela análise das prestações de contas foram capazes de analisar conclusivamente um total de menos de 1 mil processos, ou seja, cerca de 5% das obrigações assumidas ao longo do ano – sendo que a quase totalidade das análises é feita em prestações de contas de anos pretéritos, e praticamente todo o trabalho _______________ 14 Fonte: SIAFI Gerencial, consulta realizada outubro de 2012. 82 de avaliação do ano corrente é postergado. Além disso, percebe-se que o tempo médio de análise das prestações de contas foi de aproximadamente cinco anos. Ou seja, lapso temporal superior ao de um mandato eletivo do poder executivo. A sucessão de anos com resultados de similar desproporcionalidade desenhou ao longo dos últimos anos um panorama insustentável, caracterizado por mais de 90 mil processos pendentes de análise ao final de 2010, nos quais é tratada a regularidade do uso de mais de 16 bilhões de reais (FNDE, 2011). A tabela 2 sintetiza o cenário: Tabela 2: Demonstrativo sintético das situações de prestação de contas de Transferências Automáticas DEMONSTRATIVO SINTÉTICO DAS SITUAÇÕES DE PRESTAÇÃO DE CONTAS15 ANO TRANSFERÊNCIAS PENDENTES DE ANÁLISE QTDE VALOR QTDE % VALOR % 1999 10.102 1.165.932.426,19 80 0,8% 18.971.517,45 1,6% 2000 10.579 1.213.831.165,03 102 1,0% 51.250.862,30 4,2% 2001 11.242 1.390.032.133,90 54 0,5% 28.147.106,74 2,0% 2002 12.105 1.461.092.806,20 78 0,6% 62.234.847,20 4,3% 2003 16.262 1.550.324.601,75 432 2,7% 93.217.497,80 6,0% 2004 21.062 2.069.182.889,51 2.588 12,3% 377.876.032,26 18,3% 2005 23.217 2.369.108.371,24 5.384 23,2% 685.182.655,69 28,9% 2006 23.980 2.679.899.209,54 8.535 35,6% 900.869.721,87 33,6% 2007 21.996 2.400.549.439,17 16.073 73,1% 1.098.403.697,50 45,8% 2008 19.817 2.827.692.265,07 18.055 91,1% 2.405.299.138,29 85,1% 2009 20.465 3.783.775.202,85 19.385 94,7% 3.520.374.002,46 93,0% 2010 21.458 6.868.444.629,11 21.446 99,9% 6.866.399.330,73 100,0% TOTAL 212.285 29.779.865.140 92.212 16.108.226.410,29 Fonte: SISPCO, 2012; SIAFI Gerencial, 2012. Além dos expressivos números demonstrados na tabela 2, há registro de mais de quase 15 mil transferências voluntárias (convênios), cujos prazo para prestar contas encerrou-se até 2010 e cujas análises seguem pendentes de conclusão. Veja-se a tabela 3: _______________ 15 Até 2012 é estimado na autarquia o acúmulo de cerca de 140 mil processos de prestações de contas pendentes de análise. Optei por tratar dos números até 2010 por ser este o marco de transição entre a antiga e a nova sistemática de prestação de contas. 83 Tabela 3: Demonstrativo sintético das situações de prestação de contas de Transferências Voluntárias TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS ANO BASE Nº Convênios Valor pendente de análise (R$) 1994 189 2.294.931,34 1995 66 34.324.989,77 1996 64 63.608.999,45 1997 139 94.564.457,70 1998 123 57.384.024,79 1999 895 444.127.659,69 2000 38 5.262.106,44 2001 142 35.384.533,53 2002 1749 198.267.536,51 2003 1945 143.427.653,03 2004 198 61.981.727,85 2005 334 115.229.261,85 2006 1832 302.323.083,65 2007 2189 435.259.753,96 2008 1865 664.180.860,42 2009 979 809.249.670,14 2010 1802 1.647.874.429,30 TOTAL 14.549 5.114.745.679,42 Fonte: SIAFI Gerencial, 2012. Quando analisados conjuntamente os dados das tabelas 2 e 3 percebe-se que o estoque de prestação de contas do FNDE, ao final de 2010, alcançava um total de quase 100 mil processos, nos quaisestava pendente de conclusão a análise acerca da regularidade no uso de mais de R$ 20 bilhões, sendo que em alguns casos o tempo de espera para análise é de quase 20 anos. Considerando que a sistemática de recebimento e análise das prestações se ressente de evoluções significativas no histórico da instituição, a construção do cenário recém delineado explica-se, em parte, pela relação entre a fatia orçamentária e os recursos humanos imbuídos da análise, pois enquanto já se viu que entre 2003 e 2012 os recursos orçamentários foram ampliados na ordem de 630%, o número de pessoal ativo permanente na autarquia ampliou-se de 404 em 2003 para 444 em 2012, ou seja, o incremento foi de 10%. Contudo, não pretendo afirmar que as ampliações devam ser proporcionais, pois há outros fatores dos quais havemos de tratar. De todo modo, a insuficiente disponibilidade de pessoal tem sido apontada como causa do problema desde a 84 década de 1990, sendo que o impasse reconhecido estende-se por mais de uma década e o direcionamento não tem andado no sentido de solver o problema. Isto posto, a superação do desafio exige uma postura similar a que aponta Motta, para quem buscar soluções “significa suspeitar do comumente praticado e questionar todas as dimensões administrativas para dar margem ao inusitado” (MOTTA, 2008, p. 39), pois: De forma geral, a administração contemporânea é profundamente ligada à emergência de uma nova sociedade de mudanças velozes e exigentes de novidade [...] Novas formas organizacionais, julgadas fantasiosas, rapidamente tornam-se realidade [...] a mudança aparece não só como inevitável, mas necessária à sobrevivência e ao progresso organizacionais. (MOTTA, 2008, p. 40) É na perspectiva de que o comumente praticado tornou-se incapaz de superar as dificuldades postas, sob pena de ver as ações tornando-se inócuas enquanto o mesmo problema agrava-se, que imerge a proposta de uma nova sistemática de gestão das prestações de contas a cargo do FNDE. O elemento chave para isso foi o projeto do SiGPC – Contas Online, o qual será discutido nos capítulos seguintes. 85 5 O SISTEMA DE GESTÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS DO FNDE Neste ponto, já temos traçada a matriz conceitual de accountability, resultado das discussões constantes do Capítulo II. No passo seguinte, sintetizamos a estrutura de controle existente na administração pública federal brasileira e, no Capítulo IV, conhecemos o histórico institucional do FNDE, bem como sua função predominante na execução das PPEs, onde direcionamos nosso foco para o problema enfrentado pela autarquia em relação à gestão das prestações de contas geradas em razão das transferências de recursos para estados, municípios ou instituições privadas sem fins lucrativos. Com isso, estamos agora em condições de analisar detidamente a recente inovação na sistemática de prestação de contas implantada pela Autarquia, visando responder a questão primordial desta pesquisa: Pode o Sistema de Gestão de Prestação de Contas do FNDE ser considerado um instrumento que favorece o fortalecimento da accountability? Para isso, neste capítulo traçaremos o seguinte trajeto: 1) Contextualização do Advento do SiGPC; 2) O SiGPC – Contas Online: Finalidade e Objetivos 3) Análise do SiGPC – Contas Online, contendo: a. Cronologia da implantação do sistema e extensão de seu alcance; b. Sistematização das principais funcionalidades do sistema em pontos de avaliação; c. Análise dos pontos de avaliação, com enquadramento de na matriz de classificação conceitual; d. Classificação do SiGPC – Contas Online na matriz conceitual; 5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ADVENTO DO SIGPC – CONTAS ONLINE Com os elementos trazidos no Capítulo IV é possível ter claro que a gestão das prestações de contas no FNDE configurava um problema crônico a ser superado 86 pela autarquia. Neste capítulo, será discutido de forma detida o advento do SiGPC – Contas Online como meio para superação deste problema. Entretanto, como se verá a seguir, a implantação de sistema informatizado é uma solução cuja adoção também se tornou crônica, haja vista esta tentativa estar em voga a mais de uma década, ao longo da qual ao contrário da superação do problema percebeu-se sua acentuação. Desta vez, porém, há indicativos de que a nova sistemática será de fato levada a efeito. A evidência mais contundente é que, em 18 de janeiro de 2012, publicou-se a Resolução CD/FNDE nº 02/2012, que “estabelece orientações, critérios e procedimentos para a utilização obrigatória a partir de 2012 do Sistema de Gestão de Prestação de Contas (SiGPC – Contas Online), desenvolvido pelo FNDE para a gestão do processo de prestação de contas”. Com isso, oficializou-se um novo modelo, que antes do seu advento teve longo curso interno, do qual havemos de tratar brevemente, no especial intuito de identificar, se houver, diferencial entre o SiGPC – Contas Online e as iniciativas anteriores, também focadas na implantação de sistemas de informação como estratégia norteadora. Pelo exposto até o momento, pode-se dizer que o SiGPC – Contas Online configura o modelo atual de enfrentamento ao problema desvelado muito antes do advento deste sistema. Porém, a iniciativa não se reveste de total novidade, conforme se depreende da Decisão nº 274/1999 – Plenário, que trata do: Relatório de Auditoria de Desempenho realizada com o objetivo de verificar a possibilidade de melhorar a produtividade e a efetividade da análise das prestações de contas realizada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. (BRASIL, 1999) À época – mais de uma década atrás – a Auditoria dedicou-se a “identificar as causas da insuficiente capacidade de análise de prestação de contas pelo FNDE, avaliar suas consequências e buscar possíveis soluções para o problema, no sentido de melhorar a produtividade e a efetividade da análise das prestações de contas”. Dentre as principais constatações apontadas, vale destacar: Grande número de prestações de contas deixam de ser analisadas anualmente, estimulando a inadimplência dos convenentes e a má utilização dos recursos públicos, fazendo ainda com que expressivo volume de recursos deixem de ser recuperados em razão da ausência de controles e cobranças por parte do FNDE. 87 Deficiências de informatização na área de prestação de contas, implicando em inexistência de controles e informações fundamentais, tais como: registros de prestações de contas devidas, identificação das omissões de prestações de contas, controle dos prazos estipulados para resposta das diligências. (BRASIL, 1999) O TCU, em relatório assinado pelo Ministro Relator, Homero Santos, consolida ainda importante resgate histórico de trabalhos similares e, com isso, desvela que as precariedades atinentes ao controle de forma geral e à prestação de contas de forma particular perduram por mais duas décadas na autarquia: Conforme apontado pela equipe, grande número de prestações de contas deixa de ser analisado anualmente, não havendo efetivos mecanismos de controle e de cobrança por parte do FNDE, o que pode vir a favorecer a má utilização dos valores transferidos e impedir a recuperação de significativo volume de recursos desviados. [...] No Relatório de Auditoria Operacional realizada em 1991 [...], com a finalidade de avaliar a eficácia e a eficiência dos controles mantidos sobre os convênios em todos os seus estágios, a equipe consignou: '[...] que o FNDE ao longo dos últimos anos preocupou-se muito mais com a liberação dos recursos do que propriamente com os objetivos a serem alcançados e executados, transformando-se, assim, exclusivamente em um simples repassador de recursos. Posteriormente, no Relatório de Auditoria Operacional realizada em 1993 [...], na área de Prestação de Contas de Convênios, a equipe responsável pelos trabalhosregistrou: Até mesmo entre alguns técnicos da Autarquia e, principalmente, do MEC, o FNDE é visto como um simples banco, que troca dinheiro por prestações de contas, as quais nem sempre têm, sequer, sua fidedignidade aferida. Nesse sentido, seu desempenho é avaliado não pelos resultados concretos obtidos, mas sobretudo pelo número de convênios celebrados e pelos valores repassados. Ou seja, a razão de ser do Fundo - o desenvolvimento da educação no País - perdeu seu lugar para o meio utilizado para alcançar esse objetivo: a transferência de recursos mediante a celebração de convênios. Se, antes este Tribunal constatou a ausência, no FNDE, de informações básicas sobre sua atuação, indispensáveis até mesmo para justificar a razão de ser daquela Entidade, tais como o número de salas de aulas construídas em determinado exercício, o número de escolas recuperadas, os quantitativos de equipamentos e materiais didáticos adquiridos ou o número de professores submetidos a algum tipo de treinamento patrocinado pela Autarquia, hoje, os técnicos desta Corte constatam uma significativa piora naquele quadro, a ponto de não se saber, ao certo, sequer o número de prestações de contas devidas, o número de prestações de contas apresentadas, o número de convenentes omissos ou o número de prestações de contas aprovadas ou rejeitadas pela Instituição. […] Como já se disse em outras oportunidades, não basta ao FNDE a mera distribuição dos recursos a seu cargo. É imperioso assegurar que esse dinheiro efetivamente atinja os propósitos para os quais foi destacado. E isso somente será possível com a implantação de um sistema confiável de controle e exame dos resultados alcançados pelos convenentes, de 88 modo que se possa, efetivamente, aquilatar o quanto têm os preciosos recursos transferidos contribuído para o desenvolvimento da educação no País. (BRASIL, 1999) Nessa exposição fica evidente não apenas o fato de que o problema perdura por longo período, mas também a preocupação explícita do TCU, na qualidade de controle externo, com a avaliação dos resultados gerados para a educação do país com os recursos transferidos, o que demonstra um viés do modelo gerencial sendo adotado pela Corte. Com base no relatório, o Tribunal decide: 8.2. recomendar à mencionada Entidade, no tocante à análise das prestações de contas, que: [...] 8.2.9. implante, com urgência, o módulo de Prestação de Contas do Sistema de Financiamento da Educação - SFE/PC e alimente neste Sistema todas as análises já realizadas e pendentes de registro; 8.2.10. incorpore, no módulo SFE/PC, todos os sistemas que registram prestações de contas, unificando as bases de dados existentes; 8.2.11. adapte o SFE/PC para permitir a pronta identificação dos convenentes omissos no dever de prestar contas, expedindo, de forma automática, ofícios de diligência cobrando a apresentação das contas; 8.2.12. crie um módulo no SFE/PC para registro e controle das diligências, identificando as diligências vencidas e informando a necessidade de reiteração, quando for o caso; 8.2.13. alimente automaticamente o SIAFI a partir do SFE, eliminando mecanismos de registro manual; 8.2.14. interligue os módulos SFE/PC e SFE/Financeiro, de forma a possibilitar a suspensão automática de remessa de novas parcelas aos convenentes omissos ou cujas contas não foram aprovadas, nos casos de prestações de contas anuais parciais; 8.2.15. emita relatórios gerenciais definidos segundo a necessidade do setor responsável pela análise das prestações de contas e das gerências dos programas do FNDE; [...] (BRASIL, 1999) O teor do relatório e a decisão da Corte demonstram que, indubitavelmente, não se trata nesta pesquisa de precariedades incipientes, mas de insuficiências que passaram a fazer parte da cultura organizacional do FNDE: note-se que a situação era encontrada no Antigo FNDE e acentuou-se no Novo FNDE, ou seja, após incorporação da FAE. Neste rápido resgate, percorreu-se um período que se estende do início ao final da década de 1990. Além disso, pelos dados que tratamos anteriormente, sobre o atual panorama de prestação de contas do FNDE, percebe- se que em 2010 o quadro havia sofrido, ao invés de melhora, significativo agravamento quantitativo. Pois, enquanto à época do relatório do TCU discutido acima, o orçamento do FNDE girava em torno de 2 bilhões de reais, atualmente trata-se de um valor muitas vezes superior, como já discutido. 89 O sistema mencionado diversas vezes nas recomendações é citado pelo fato de que, em 1999, o FNDE trabalhava na implantação do Sistema de Financiamento da Educação (SFE), e especificamente o módulo de prestação de contas (SFE/PC) como solução para o problema apresentado. Isto significa dizer que a proposta de superar o problema com a implantação de um novo sistema já possui, no mínimo, 14 anos. Atualmente, não há indícios da existência do SFE/PC na gestão das prestações de contas do FNDE. E evidência inconteste de que as recomendações não foram levadas a efeito tempestivamente é que, em 2005 – isto é, 6 anos após a deliberação do TCU –, publicou-se a Portaria nº 204, que tratava da constituição de Grupo de Trabalho no âmbito do FNDE para elaboração de Projeto de Sistema Informatizado de Prestação de Contas. No Relatório de Gestão relativo a 2006, o FNDE sinalizava que sua investida para superação dos problemas de gestão das prestações de contas estava sendo tratado com: [...] desenvolvimento, em conjunto com a Coordenação Geral de Tecnologia de Informática (Cgeti), do Sistema Informatizado de prestação de contas (Sigap). Este sistema vai agregar elementos que favoreçam a análise físico- financeira e a apuração de irregularidades na aplicação de recursos, por CPF de gestores e CNPJ de órgãos parceiros, bem como promover melhor racionalização dos recursos humanos e materiais no desenvolvimento de tarefas, principalmente quanto às instaurações de Tomadas de Contas Especiais (TCEs), cujos valores serão agrupados por CPF gerando uma única Tomada por gestor responsável. No Relatório de Gestão relativo a 2007, o cenário era colocado como favorável, pois era acenada a: Conclusão, em junho, da consultoria para a definição e implantação da metodologia de desenvolvimento de sistemas de informações do FNDE. O projeto Sigap (Sistema de Gestão e Acompanhamento da Prestação de Contas) está sendo desenvolvimento totalmente dentro da nova metodologia. Em 2008 entra em vigor uma nova sistemática imposta para todo o governo federal na gestão de transferências voluntárias – notadamente, convênios – e com isso os relatórios de gestão relativos a 2008 e 2009 pouco abordam a sistemática de prestação de contas do FNDE ou sistema que visasse a otimizá-la. O assunto cede