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Grafia dos nomes próprios estrangeiros – As ciências, as artes, a cultura, em geral, e o contato intenso entre nações fazem circular uma multiplicidade de nomes próprios estrangeiros, quer antropônimos, quer topônimos. A tradição literária – mais lusitana que brasileira – prefere, quando possível, aportuguesar, nos antropônimos, o prenome, deixando intacto o sobrenome: Emílio Zola, Ernesto Renan, Renato Descartes, Antônio Meillet, Frederico Diez. Todavia, também é possível a manutenção integral do nome estrangeiro: Antoine Meillet, John Milton, Juan de Mena. Há outros que tradicionalmente são mantidos intactos: William Shakespeare , Johann Wolfgang von Goethe, Giovanni Boccaccio, Wolfgang Amadeus Mozart. Particular atenção merecem os nomes latinos que, por imitação francesa, aparecem com a terminação -us do nominativo, quando deveriam ter -o: Bruto (e não Brutus) , Júnio (e não Junius), Quintílio (e não Quintilius) [MBa.7, 252 - 253]. Maiores adeptos do aportuguesamento, especialmente em Portugal, angariam os topônimos, principalmente quando já correram entre escritores desde os séculos XV e XVI. Assim, é pacífica nos dois países (já que os países independentes de expressão oficial portuguesa acertam o passo com a lição e prática dos lusitanos) a aceitação de Londres (e não London), Viena (e não Wien), Florença (e não Firenze), Colônia (e não Köln), Mogúncia (e não Mainz o u Mayence), ao lado de outras de difícil aportuguesamento, como Washington, Windsor, Civitàvecchia, St. Etienne. Para brasileiros soam estranhos aportuguesamentos como Moscovo, Aquisgrano (Aix-la- Chapelle ou Aachen), Bona (Bonn), Vratislávia (Breslau), Cambrígia (Cambridge), Francoforte (Frankfurt), Glásgua (Glasgow), entre outros, embora várias propostas tenham aceitação unânime: Antuérpia (para Anvers) , Avinhão (Avignon) , Basileia (Bâle ou Basel), Berna (Berne) , Cornualha (Cornwall) , Cracóvia (Kraków) , Leida (Leyden) , Nimega (Nijmegen), Nova Iorque (New York), Zurique (Zurich). 2 – Adjetivo Adjetivo Adjetivo – é a classe de lexema que se caracteriza por constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo, orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado. O adjetivo pertence a um inventário aberto, sempre suscetível de ser aumentado. A estrutura interna ou constitucional do adjetivo consiste, nas línguas flexivas, na combinação de um signo lexical expresso pelo radical com signos morfológicos expressos por desinências e alternâncias, ambas destituídas de existência própria fora dessas combinações. No português, entre as desinências está a marca de gradação, isto é, o grau absoluto ou relativo da parte, ou aspecto (“qualidade”) significado no radical, (belo – belíssimo), bem como afixos de gênero e de número. A relação gramatical instaurada entre o signo delimitador e o signo delimitado é geralmente expressa pela “concordância”. A delimitação apresenta distinções; pode ser explicação, especialização e especificação, expressas por instrumentos verbais correspondentes: os explicadores, os especializadores e o s especificadores. Os explicadores destacam e acentuam uma característica inerente do nomeado ou denotado. Os especializadores marcam os limites extensivos ou intensivos pelos quais se considera o determinado, sem isolá-lo nem opô-lo a outros determináveis capazes de caber na mesma denominação. Os especificadores restringem as possibilidades de referência de um signo, ajuntando-lhe notas que não são inerentes a seu significado. Junto a virtuais, os especificadores delimitam dentro das classes correspondentes outras classes menos amplas (p. ex. homem / homem branco). Aplicados a atuais, apresentam os objetos denotados como pertencentes a classes que, por sua vez, se consideram incluídas em classes mais extensas (cf. um menino louro pertence à classe “menino louro”, que é membro da classe “menino”). Este tipo de determinação Coseriu chama especificação distintiva. Formalmente análoga à especificação distintiva, mas muito diferente no que toca ao funcional, é a especificação informativa ou identificação, que é um tipo autônomo de determinação, expresso pelos instrumentos identificadores. Consiste a identificação na especificação do significado de uma forma “multívoca” para garantir sua compreensão por parte do ouvinte atual ou eventual. Não é a identificação um processo que se realiza com significados, como a delimitação, mas com formas, e com vista à atribuição do significado, isto é, é um processo para que as formas se tornem inequívocas ao ouvinte. Instrumentos gramaticais da determinação nominal Instrumentos gramaticais da determinação nominal – Os instrumentos verbais da determinação nominal são expressos por palavras dotadas de significado categorial e léxicos compreendidas pelos adjetivos, locuções adjetivas, orações adjetivas e nomes em aposição, que se aplicam tanto a nomes virtuais quanto a atuais. São exemplos de: a) delimitadores explicadores: o vasto oceano, as líquidas lágrimas b) delimitadores especializadores: a vida inteira, o sol matutino, o dia no ocaso, o céu austral, o homem como sujeitos pensantes, Camões como poeta. c) delimitadores especificadores (especificação distintiva): castelo medieval, menino louro, aves aquáticas, o presidente da República, o médico de família. São exemplos de determinação identificadora: folha de papel, folha de zinco, quadro de futebol, quadro de parede, língua-idioma, língua-órgão, o real moeda, homem homem (e não homem ser humano). Os identificadores podem ser ocasionais (Caxias, Maranhão), usuais (São Lourenço do Sul), ou constantes (Nova York, Porto Alegre). Os identificadores usuais e constantes, como partes integrantes de um signo, constituem, com seus determinados, verdadeiros nomes compostos, embora normalmente dissociáveis, no caso dos identificadores usuais, em virtude de circunstâncias do falar a que Coseriu chama entornos. Assim, se o falante estiver no Maranhão, escusará dizer Caxias, Maranhão, mas tão somente Caxias, como o habitante de São Lourenço do Sul usará apenas São Lourenço, dentro do mesmo entorno. Observação: Outros instrumentos verbais podem, sozinhos ou acompanhados de adjetivo, exercer a função de delimitadores nominais. Entretanto, com os adjetivos propriamente ditos não se confundem, porque não possuem significação lexical (ou, como vimos atrás, quando a apresentam, têm significado lexical genérico, o que ocorre com certos pronomes), e integram um inventário fechado: são pronomes adjuntos (a que a gramática tradicional chamava “adjetivos determinativos”: possessivos, demonstrativos, indefinidos) e, intimamente relacionados com estes últimos, os numerais. Nota de nomenclatura: Os gramáticos antigos gregos e latinos reuniam substantivos e adjetivos numa só classe, a dos nomes, como ainda fazem alguns gramáticos de línguas estrangeiras (ingleses, por exemplo). Só na Idade Média se fez a distinção entre nomes substantivos e nomes adjetivos. Isto porque um mesmo objeto pode ser apreendido ou como objeto absoluto e independente (isto é, substância afetada por um acidente: o forte amor), ou como objeto dependente (inerente a um sujeito: o homem amoroso). Daí, com frequência, poder o mesmo significante ocorrer com um ou outro desses valores: alto monte – o alto do monte. Assim também expressões inteiras, inclusive orações, podem “substantivar-se”, vale dizer, podem passar a exercer funções que os substantivos exercem; daí as chamadas orações subordinadas substantivas: Desejo teu progresso / Desejo que progridas [ECs.1, 291-308; HVc.1, 427-428]. Por outro lado, uma oração adjetiva não introduzida pelos conectores cujo e o qual pode voltar a substantivar-se mediante a anteposição do artigo, se se elide o substantivo antecedente: Não sei o que tem de verdade nisso, onde a oração transposta de adjetivo passa a substantivo para exercer a função de objeto direto em relação ao predicado não sei. Chamar ao o (a, os, as) pronome demonstrativo é mascarar asubstantivação. Locução adjetiva Locução adjetiva – é a expressão formada de preposição + substantivo ou equivalente com função de adjetivo: Homem de coragem = homem corajoso Livro sem capa = livro desencapado “Era uma noite medonha, Sem estrelas, sem luar” [GD] Homem de cor Escritores de hoje Note-se que nem sempre encontramos um adjetivo de significado perfeitamente idêntico ao de locução adjetiva: Colega de turma A língua poética é mais receptiva ao emprego do adjetivo que exprime matéria em lugar da locução adjetiva: áureas estátuas – estátuas de ouro nuvens plúmbeas – nuvens de chumbo colunas marmóreas – colunas de mármore Substantivação do adjetivo Substantivação do adjetivo – Certos adjetivos são empregados sem qualquer referência a nomes expressos como verdadeiros substantivos. A esta passagem de adjetivos a substantivos chama-se substantivação: “A vida é combate que os fracos abate, que os fortes, os bravos, só pode exaltar” [GD]. Nestas substantivações, o adjetivo prescinde do substantivo que o podia acompanhar, ou então é tomado em sentido muito geral e indeterminado, não marcado, caso em que se usa o masculino (à maneira do neutro latino, mas não do neutro em português, que não existe):33 O bom da história é que não houve fim. O engraçado da anedota passou despercebido. O triste do episódio está em que a vida é assim. Flexões do adjetivo Flexões do adjetivo – O adjetivo se combina com certos signos gramaticais para manifestar o número, o gênero e o grau. O grau, entretanto, não constitui, no português, um processo gramatical e, assim, deve ser excluído da nossa descrição como tal, à semelhança do que já fazem gramáticas de outras línguas românicas. O grau, com estas reservas, figura aqui, por ter sido ainda contemplado pela NGB. A gradação em português, tanto no substantivo quanto no adjetivo, se manifesta por procedimentos sintáticos, e não morfológicos, como o era em latim, ou por sufixos derivacionais. Número do adjetivo Número do adjetivo – O adjetivo acompanha o número do substantivo a que se refere: aluno estudioso, alunos estudiosos. O adjetivo, portanto, conhece os dois números que vimos no substantivo: o singular e o plural. Formação do plural dos adjetivos Formação do plural dos adjetivos – Aos adjetivos se aplicam, na maioria dos casos, as mesmas regras de plural dos substantivos. Alguns poucos adjetivos, como já ocorreu nos substantivos, se mostram indiferentes à marca de número, servindo indistintamente para a indicação do singular ou plural: simples, isósceles, assim: critério simples / solução simples caráter assim / coragem assim Quanto aos adjetivos compostos, lembraremos que normalmente só o último varia, quando formados por dois adjetivos: amizades luso-brasileiras, reuniões lítero-musicais saias verde-escuras, folhas azul-claras Variam ambos os elementos, entre outros exemplos, surdo-mudo: surdos-mudos. Com exceção dos casos mais gerais, não tem havido unanimidade de uso no plural dos adjetivos compostos, quer na língua literária, quer na variedade espontânea da língua. A dificuldade fica ainda acrescida pelo fato de uma mesma forma poder ser empregada como adjetivo ou como substantivo, e a cada uma dessas funções são atribuídos plurais distintos, especialmente nos dicionários. As denominações de cores é que mais chamam a nossa atenção neste particular. Assim, para verde-claro como substantivo, se atribui o plural verdes-claros e, como adjetivo, verde-claros; já verde-azul, substantivo ou adjetivo, é assinalado com o plural verde-azuis. Se o 2.º elemento é um substantivo (verde-abacate, verde-água), o composto admite dois plurais: verdes-abacates e verdes-abacate; verdes-águas e verdes-água. O melhor, nestes casos, será apelar para as nossas tradicionais maneiras de adjetivar, com o auxílio da preposição de ou das locuções de cor, de cor de ou, simplesmente, cor de [SS.3, 74]: olhos de verde-mar, ramagens de cor verde-garrafa, luvas de cor de pele, olhos cor de safira, olhos verdes da cor do mar. Mário Barreto, lembrando a possibilidade da elipse da preposição de ou da locução cor de, recomenda a invariabilidade do substantivo empregado adjetivamente, em fitas creme, luvas café, isto é, fitas de cor de creme, e rejeita fitas cremes, luvas cafés [MBa.1, 375-377]. Ensina ainda que, sendo frequente o emprego do nome do objeto colorido para expressar a cor desse mesmo objeto: o lilá pálido, um violeta escuro, aplicando-se aos nomes lilá, violeta o gênero masculino na acepção da cor: “Prefiro o rosa ao violeta”, em vez de “Prefiro a rosa à violeta”, oração que pode ser entendida de maneira ambígua. Gênero do adjetivo Gênero do adjetivo – O adjetivo concorda também em gênero com o substantivo a que se refere. Conhece, assim, os gêneros comuns ao substantivo: masculino e feminino. Todavia, esta distinção (em gênero e em número) tem diferente valor referencial no substantivo e no adjetivo; no substantivo, o gênero e o número modificam a referência, enquanto no adjetivo designam sempre a mesma qualidade e só se explicam como simples repercussão da relação sintática (concordância) que se instaura entre o determinado e o determinante, nada acrescentando semanticamente. Diferente de menino / menina, o adjetivo estudioso / estudiosa não assinala menino como da classe dos machos nem menina da classe das fêmeas. Formação do feminino dos adjetivos Formação do feminino dos adjetivos – Os adjetivos uniformes são os que apresentam uma só forma para acompanhar substantivos masculinos e femininos. Geralmente estes uniformes terminam em -a, -e, -l, -m, -r, -s e -z: povo lusíada – nação lusíada breve exame – breve prova trabalho útil – ação útil objeto ruim – coisa ruim estabelecimento modelar – escola modelar homem audaz – mulher audaz conto simples – história simples Exceções principais: andaluz, andaluza; bom, boa; chim, china; espanhol, espanhola. Quanto aos biformes, isto é, que têm uma forma para o masculino e outra para o feminino, os adjetivos seguem de perto as mesma regras que apontamos para os substantivos. Lembraremos aqui apenas os casos principais: a) Os terminados em –ês, -or, e –u acrescentam no feminino um a, na maioria das vezes. chinês, chinesa; lutador, lutadora; cru, crua. Exceções: 1) cortês, descortês, montês e pedrês são invariáveis; 2) incolor, multicor, sensabor, maior, melhor, menor, pior e outros são invariáveis. Outros em -dor ou -tor apresentam-se em -triz: motor, motriz (a par de motora, conforme vimos nos substantivos); outros terminam em -eira: trabalhador, trabalhadeira (a par de trabalhadora). Superiora (de convento) usa-se como substantivo. 3) hindu é invariável; mau faz má. b) Os terminados em -eu passam, no feminino, a -eia: europeu, europeia; ateu, ateia. Exceções: judeu – judia; sandeu – sandia tabaréu – tabaroa; réu – ré. c) Alguns adjetivos, como já ocorreu nos substantivos, apresentam uma forma teórica básica do feminino singular com vogal aberta que estará presente também no plural; no masculino esta vogal aberta passa a fechada: laborioso (ô), laboriosa (ó); disposto (ô), disposta (ó). Este procedimento de partir do timbre da vogal tônica aberta do feminino para o fechamento da vogal do masculino, e não o inverso, explica-se pelo fato de que há adjetivos em que a vogal tônica fechada do masculino se mantém fechada também no feminino: encantada, encantadora, português, portuguesa. Gradação do adjetivo Gradação do adjetivo – Há três tipos de gradação na qualidade expressa pelo adjetivo: positivo, comparativo e superlativo, quando se procede a estabelecer relações entre o que são ou se mostram duas ou mais pessoas. Como já dissemos, a gradação em português se expressa por mecanismo sintático ou derivacional: O Positivo, que não se constitui a rigor numa gradação, enuncia simplesmente a qualidade: O rapaz é cuidadoso. O Comparativo compara qualidade entre dois ou mais seres, estabelecendo:a) uma igualdade: O rapaz é tão cuidadoso quanto (ou como) os outros. b) uma superioridade: O rapaz é mais cuidadoso que (ou do que) os outros. c) uma inferioridade: O rapaz é menos cuidadoso que (ou do que) os outros. O Superlativo pode: a) ressaltar, com vantagem ou desvantagem, a qualidade do ser em relação a outros seres: O rapaz é o mais cuidadoso dos (ou dentre os) pretendentes ao emprego. O rapaz é o menos cuidadoso dos pretendentes. b) indicar que a qualidade do ser ultrapassa a noção comum que temos dessa mesma qualidade: O rapaz é muito cuidadoso. O rapaz é cuidadosíssimo. No primeiro caso, a qualidade é ressaltada em relação ou comparação com os outros pretendentes. Diz-se que o superlativo é relativo. Forma-se o superlativo relativo do mesmo modo que o comparativo de superioridade ou inferioridade antecedido sempre do artigo definido e seguido de sintagma preposicional iniciado por de (ou dentre): o mais... de (ou dentre), o menos... de (ou dentre). No segundo caso, a superioridade é ressaltada sem nenhuma relação com outros seres. Diz- se que o superlativo é absoluto ou intensivo. O superlativo absoluto pode ser analítico ou sintético. Forma-se o analítico com a anteposição de palavra intensiva (muito, extremamente, extraordinariamente, etc.) ao adjetivo: muito cuidadoso. Na modalidade espontânea, mesmo em literatura, pode-se obter a manifestação afetiva do superlativo mediante a repetição do adjetivo: Ela é linda linda. Ou do advérbio: Ela é muito muito linda. O sintético é obtido por meio do sufixo derivacional -íssimo (ou outro de valor intensivo) acrescido ao adjetivo na forma positiva, com a supressão da vogal temática, quando o exigirem regras morfofonêmicas: cuidadosíssimo. Quanto ao aspecto semântico, cuidadosíssimo diz mais, é mais enfático do que muito cuidadoso. O sufixo -íssimo é recente na longa história do português e se deve a um empréstimo do latim, durante o Renascimento, com o auxílio do italiano, responsável pela recuperação do sufixo. Na linguagem coloquial, se desejamos que o superlativo absoluto analítico seja mais enfático, costumamos repetir a palavra intensiva: Ele é muito mais cuidadoso, ou se buscam efeitos expressivos mediante a ajuda de criações sufixais imprevistas como -ésimo. O meio termo entre estes dois superlativos (muito cuidadoso – cuidadosíssimo) é obtido com a fórmula: mais do que cuidadoso, menos de: “Estas e outras arguições, complicadas com os procedimentos mais do que ásperos da expulsão do coleitor Castracani em 1639, não concorreram pouco para alienar de todo o ânimo das populações...” [RS.2, IV, 75-6]. “Tomou o estudante uma casa menos de modesta, fora de portas em Santo Antônio dos Olivais” [CBr.6, 107]. Alterações gráficas no superlativo absoluto Alterações gráficas no superlativo absoluto – Ao receber o sufixo intensivo, o adjetivo pode sofrer certas modificações na sua forma: a) os terminados em -a, -e, -o perdem essas vogais: cuidadosa – cuidadosíssima elegante – elegantíssimo cuidadoso – cuidadosíssimo b) os terminados em -vel mudam este final para -bil: terrível – terribilíssimo amável – amabilíssimo c) os terminados em -m e -ão passam, respectivamente, a -n e -an: comum – comuníssimo são – saníssimo d) os terminados em -z passam esta consoante a -c: feroz – ferocíssimo sagaz – sagacíssimo Há adjetivos que não alteram sua forma, como é o caso dos terminados em -u, -l (exceto -vel), -r: cru – cruíssimo; fácil – facílimo – facilíssimo; regular – regularíssimo Afora estes casos, outros há onde os superlativos se prendem às formas latinas. Apontemos os mais frequentes: acre – acérrimo magnífico – magnificentíssimo amargo – amaríssimo magro – macérrimo amigo – amicíssimo malédico – maledicentíssimo antigo – antiquíssimo malévolo – malevolentíssimo áspero – aspérrimo maléfico – maleficentíssimo benéfico – beneficentíssimo mísero – misérrimo benévolo – benevolentíssimo miúdo – minutíssimo célebre – celebérrimo negro – nigérrimo célere – celérrimo nobre – nobilíssimo cristão – cristianíssimo parco – parcíssimo cruel – crudelíssimo pessoal – personalíssimo difícil – dificílimo pobre – paupérrimo doce – dulcíssimo pródigo – prodigalíssimo fiel – fidelíssimo público – publicíssimo frio – frigidíssimo provável – probabilíssimo geral – generalíssimo sábio – sapientíssimo honorífico – honorificentíssimo sagrado – sacratíssimo humilde – humílimo salubre – salubérrimo incrível – incredibilíssimo soberbo – superbíssimo inimigo – inimicíssimo simples – simplicíssimo íntegro – integérrimo tétrico – tetérrimo livre – libérrimo Ao lado do superlativo à base do termo latino, pode circular o que procede do adjetivo acrescido da terminação –íssimo: agílimo – agilíssimo humílimo – humildíssimo, humilíssimo antiquíssimo – antiguíssimo macérrimo – magríssimo crudelíssimo – cruelíssimo nigérrimo – negríssimo dulcíssimo – docíssimo parcíssimo – parquíssimo facílimo – facilíssimo paupérrimo – pobríssimo Observação: Chamamos a atenção para as palavras terminadas em -io que, na forma sintética, apresentam dois is, por seguirem a regra geral da queda do -o final para receber o sufixo: cheio Õ cheiíssimo, cheiinho feio Õ feiíssimo, feiinho frio Õ friíssimo, friinho necessário Õ necessariíssimo precário Õ precariíssimo sério Õ seriíssimo, seriinho sumário Õ sumariíssimo vário Õ variíssimo Observação: A tendência da língua à fuga ao hiato leva a que apareçam formas com fusão dos dois ii, embora num ou noutro adjetivo a eufonia impede a mudança: *fríssimo, *varíssimo, por exemplo, embora Dias Gomes (séc. XVIII) escrevesse propríssimo. Ainda que escritores usem formas com um só i (cheíssimo, cheinho, feíssimo, seríssimo, etc.), a língua padrão insiste no atendimento à manutenção dos dois ii.34 Comparativos e superlativos irregulares Comparativos e superlativos irregulares – Afastam-se dos demais na sua formação de comparativo e superlativo os adjetivos seguintes: Comparativo de superioridade Superlativo Positivo absoluto relativo bom melhor ótimo o melhor mau pior péssimo o pior grande maior máximo o maior pequeno menor mínimo o menor Não se diz mais bom nem mais grande em vez de melhor e maior; mas podem ocorrer mais pequeno, o mais pequeno, mais mau, por menor, o menor, pior. Também se podem empregar bom e grande nas expressões mais ou menos grande, mais ou menos bom, pois que os tais adjetivos se regulam pela última palavra: “Os poemas completos do desterrado do Ponto, todas as literaturas europeias os ambicionavam, e os meteram em si, com mais ou menos boa mão” [AC apud MBa.1, 249]. Note-se o jogo de alternância de mais pequeno e menor em: “Em matéria de amor-próprio o mais pequeno inseto não o tem menor que a baleia ou o elefante” [MM.1, 151]. É ainda oportuno lembrar que às vezes bom e mau constituem com o substantivo seguinte uma só lexia, uma só unidade léxica, de modo que, nesta situação, podem ser modificados pelos advérbios mais, menos, melhor, pior, que passam a referir-se a toda a expressão: homem de mais mau-caráter, pessoa de menos más intenções, palavras da melhor boa-fé: “Pode ser que ele ainda venha para ti com o coração purificado, e o tributo da mocidade avaramente pago. Mais bom marido será então” [CBr apud MBa.5, 241-242]. Ao lado dos superlativos o maior, o menor, figuram ainda o máximo e o mínimo que se aplicam a ideias abstratas e aparecem ainda em expressões científicas, como a temperatura máxima, a temperatura mínima, máximo divisor comum, mínimo múltiplo comum, nota máxima, nota mínima. Em lugar de mais alto e mais baixo usam-se os comparativos superior e inferior; por o mais alto e o mais baixo, podemos empregar os superlativos o supremo ou o sumo, e o ínfimo. Comparando-se duas qualidades ou ações, empregam-se mais bom, mais mau, mais grande e mais pequeno em vez de melhor, pior, maior, menor: É mais bom do que mau (e não: é melhor do que mau). Aescola é mais grande do que pequena. Escreveu mais bem do que mal. Ele é mais bom do que inteligente. Por fim, assinalemos que, depois dos comparativos em -or (superior, inferior, anterior, posterior, ulterior), se usa a preposição a: Superior a ti, inferior ao livro, anterior a nós Repetição de adjetivo com valor superlativo Repetição de adjetivo com valor superlativo – Na linguagem coloquial, pode-se empregar, em vez do superlativo, a repetição do mesmo adjetivo: O dia está belo belo (= belíssimo). Ela era linda linda (= lindíssima). Proferindo-se estas orações, dá-se-lhes um tom de voz especial para melhor traduzir a ideia superlativa expressa pela repetição do adjetivo. Geralmente consiste na pausa demorada na vogal da sílaba tônica. Comparações em lugar do superlativo Comparações em lugar do superlativo – Para expressarmos mais vivamente o elevado grau de uma qualidade do ser, empregamos ainda comparações que melhor traduzem a ideia superlativa: Pobre como Jó (= paupérrimo), feio como a necessidade (feiíssimo), claro como água , escuro como breu , esperto como ele só, malandro como ninguém. Usam-se ainda certas expressões não comparativas: podre de rico, feio a mais não poder, grande a valer. Adjetivos diminutivos Adjetivos diminutivos – As formas diminutivas de adjetivos podem (precedidas ou não de muito, mais, tão, bem) adquirir valor de superlativo: Blusa amarelinha, garoto bonitinho; “É bem feiozinho, benza-o Deus, o tal teu amigo!” [AAz]. No estilo coloquial não é raro o reforço deste emprego do diminutivo mediante as locuções da Silva, da Costa (cf. BF, XVII, 1 – 2, 197). 3 – Artigo Artigo Artigo – Chamam-se artigo definido ou simplesmente artigo o, a, os, as que se antepõem a substantivos, com reduzido valor semântico demonstrativo e com função precípua de adjunto desses substantivos. A tradição gramatical tem aproximado este verdadeiro artigo de um, uns, uma, umas, chamados artigos indefinidos, que se assemelham a o, a, os, as pela mera circunstância de também funcionarem como adjunto de substantivo, mas que do autêntico artigo diferem pela origem, tonicidade, comportamento no discurso, valor semântico e papéis gramaticais. Pela origem, porque o, a, os, as se prendem a antigo demonstrativo latino (illum, illa) – o que lhes garante o valor de demonstrativo atenuado –, enquanto um, uma, uns, umas representam emprego especial de generalização do numeral um. Pela tonicidade, porque, sendo um vocábulo eminentemente átono, não pode funcionar sozinho na oração, como o faz o chamado artigo indefinido que, neste papel, só não se confunde com o pronome indefinido As Unidades no Enunciado A� 2 – Adjetivo Adjetivo Instrumentos gramaticais da determinação nominal Locução adjetiva Substantivação do adjetivo Flexões do adjetivo Número do adjetivo Formação do plural dos adjetivos Gênero do adjetivo Formação do feminino dos adjetivos Gradação do adjetivo Alterações gráficas no superlativo absoluto Comparativos e superlativos irregulares Repetição de adjetivo com valor superlativo Comparações em lugar do superlativo Adjetivos diminutivos 3 – Artigo Artigo