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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO
RECEITA PÚBLICA - AULA 10
Conceito
“Receita pública é a entrada que, integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo” (Aliomar Baleeiro).
Ingressos e Receitas
Existem ingressos que representam meras “entradas de caixa” (ex: empréstimos contraídos pelo Poder Público), são entradas provisórias que devem ser devolvidas.
Para que seja considerada receita, deve haver a transferência da titularidade para o Estado (aumento de patrimônio), em caráter definitivo.
Classificação
Quanto à Natureza:
- Orçamentária: recursos incorporados ao Estado (ex: receitas tributárias).
- Extraorçamentária: ingressos transitórios, passíveis de restituição (ex: operações de crédito por antecipação de receita).
Quanto à Periodicidade:
- Ordinárias: ingressam com regularidade (ex: tributos).
- Extraordinárias: caráter excepcional e temporário (ex: empréstimos compulsórios).
Quanto à Origem (Coercitividade):
- Originárias: advém da exploração, pelo Estado, de atividade econômica (ex: aluguéis). Tarifa e Preço Público.
- Derivadas: decorrem do poder estatal (“ius imperii”), exigida compulsoriamente, por meio de lei (ex: tributos).
- Transferidas: transferência de receitas entre os entes federativos; são obrigatórias (ex: repartição de receitas tributárias) ou voluntárias (ex: auxílio em desastres ambientais).
 
*Transferência Obrigatória: 
CF, Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao DF e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos.
§ 1º. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de condicionarem a entrega de recursos (EC 113/2021):
I - ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias;
II - ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III. (se o ente político não tiver colocado na área da saúde os recursos devidos - LC 141/2012).
§ 2º. Os contratos, os acordos, os ajustes, os convênios, os parcelamentos ou as renegociações de débitos de qualquer espécie, inclusive tributários, firmados pela União com os entes federativos conterão cláusulas para autorizar a dedução dos valores devidos dos montantes a serem repassados relacionados às respectivas cotas nos Fundos de Participação ou aos precatórios federais (EC 113/2021). 
A transferência obrigatória materializa-se de 2 formas:
(1) Transferência Obrigatória Direta (ex: Estados e Municípios retêm na fonte o IR de seus servidores).
(2) Transferência Obrigatória Indireta: Fundos (Fundo de Participação do Estado e Fundo de Participação do Município).
*Transferência Voluntária:
LRF, Art. 25. Para efeito desta LC, entende-se por transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao SUS.
§ 1º. São exigências para a realização de transferência voluntária, além das estabelecidas na LDO:
I - existência de dotação específica;
II - vetado;
III - observância do disposto no inciso X do art. 167 da CF; (vedada a transferência voluntária para pagamento com despesa de pessoal).
IV - comprovação, por parte do beneficiário, de:
a) que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos;
b) cumprimento dos limites constitucionais relativos à educação e à saúde;
c) observância dos limites das dívidas consolidada e mobiliária, de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, de inscrição em restos a pagar e de despesa total com pessoal;
d) previsão orçamentária de contrapartida.
§ 2º. É vedada a utilização de recursos transferidos em finalidade diversa da pactuada.
§ 3º. Para fins da aplicação das sanções de suspensão de transferências voluntárias constantes desta LC, excetuam-se aquelas relativas a ações de educação, saúde e assistência social.
*Vedação à Transferência Voluntária - Responsabilidade da Gestão Fiscal
LRF, Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação.
Parágrafo Único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.
A responsabilidade fiscal está vinculada ao pleno exercício da competência tributária, o ente federativo deve criar todos os tributos que a CF permite. Não há “facultatividade”.
Quanto à Fonte:
- Receitas Correntes: resultam da atividade do Estado.
Lei 4.320/64, Art. 11, § 1º. São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes.
- Receita Tributária (impostos, taxas e contribuições de melhoria). - Receita de Contribuições (contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais e econômicas). - Receita Patrimonial (exploração dos bens estatais). - Receita Agropecuária. - Receita Industrial. - Receita de Serviços (prestações de serviços pelo Estado). - Transferências Correntes (receitas recebidas de outro ente, pagam despesas correntes). - Outras Receitas Correntes.
- Receitas de Capital:
Lei 4.320/64, Art. 11, § 2º. São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente.
- Operações de Crédito (assunção de dívidas, empréstimos, financiamentos). - Alienação de Bens. - Amortização de Empréstimos (pagamentos efetuados por terceiros). - Transferências de Capital. - Outras receitas de Capital.
Fases do Ingresso da Receita nos Cofres Públicos
- Previsão: estimativa do que os governos esperam arrecadar. - Lançamento: ato que reconhece o crédito e inscreve o débito. - Arrecadação: pagamento dos contribuintes. - Recolhimento: entrega da arrecadação ao Tesouro Nacional.
Previsão de Receitas
LRF, Art. 12. Asprevisões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos 3 anos, da projeção para os 2 seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas.
O dispositivo estabelece regras para a estimativa de receita realizada na LOA, a qual deve estar pautada na realidade econômica do país.
A forma como a previsão da receita deve alcançar tal desiderato:
(1) Observância das normas técnicas e legais.
(2) Consideração dos efeitos das alterações na legislação, na variação de preços, no crescimento econômico ou em qualquer outro fator relevante.
(3) Demonstrativo de sua evolução nos últimos 3 anos e da projeção para os 2 seguintes.
Reestimativa de Receita:
§ 1º. Reestimativa de receita por parte do Poder Legislativo só será admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal.
Portanto, não depende da simples vontade dos agentes públicos, ainda que decorrente de necessidades, urgências, calamidades etc.
Previsão das Receitas Decorrentes de Operações de Crédito:
§ 2º. O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária. (“regra de ouro”).
CF, Art. 167. São vedados:
III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta (EC 106/2020).
Assim, tanto na CF quanto na LRF há limite para as receitas decorrentes de operações de crédito que é o montante das despesas de capital.
Exceção: autorização expressa do Poder Legislativo para operações de créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa. O instrumento pelo qual essa autorização é concedida é chamado de “crédito adicional”, cujas espécies são: crédito suplementar, crédito especial e crédito extraordinário.
§ 3º. O Poder Executivo de cada ente colocará à disposição dos demais Poderes e do MP, no mínimo 30 dias antes do prazo final para encaminhamento de suas propostas orçamentárias, os estudos e as estimativas das receitas para o exercício subsequente, inclusive da corrente líquida, e as respectivas memórias de cálculo.
Metas de Arrecadação
LRF, Art. 13. No prazo previsto no art. 8º (até 30 dias da publicação dos orçamentos), as receitas previstas serão desdobradas, pelo Poder Executivo, em metas bimestrais de arrecadação, com a especificação, em separado, quando cabível, das medidas de combate à evasão e à sonegação, da quantidade e valores de ações ajuizadas para cobrança da dívida ativa, bem como da evolução do montante dos créditos tributários passíveis de cobrança administrativa.
Obriga o Poder Executivo a desdobrar as receitas previstas em metas bimestrais de arrecadação.
Providências a serem tomadas para o atingimento das metas:
- Combate à Evasão e à Sonegação: são ilícitos tributários.
Evasão: distorção do negócio, visando escapar à incidência tributária (ex: simulação).
Sonegação: não pagamento do tributo já ocorrido o fato gerador.
- Ajuizamento da Dívida Ativa:
Inscrito o débito tributário em dívida ativa, legitima-se o credor a propor a ação de execução fiscal, com base na Lei 6.830/80.
- Evolução dos Créditos Tributários (Cobrança Administrativa):
Busca-se o montante a ser arrecadado.
Renúncia de Receita
LRF, Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos 2 seguintes, atender ao disposto na LDO e a pelo menos 1 das seguintes condições:
I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da LOA, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da LDO;
II - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da BC, majoração ou criação de tributo ou contribuição.
Há necessidade de lei para a renúncia de receita.
Além disso, são necessários:
(1) Estimativa do impacto orçamentário no exercício financeiro e nos 2 seguintes.
(2) Atendimento à LDO.
(3) Atendimento de pelo menos 1 das condições (requisito alternativo):
a) Demonstração pelo proponente (Chefe do Poder Executivo) de que a renúncia de receita foi considerada na LOA e que não afeta as Metas de Resultados Fiscais previstas no anexo da LDO; (no momento da confecção do orçamento, o Presidente já contou com a possibilidade de entrarem menos recursos e fixou despesas em patamar menor) ou
b) Medidas de compensação por meio do aumento da receita de tributos ou contribuições (ex: União prevê isenção de IR, porém aumenta a COFINS) (caso o Presidente não tenha tomado as providências do inciso I, a medida compensatória é consequência).
LRF, Art. 14, § 2º. Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo decorrer da condição contida no inciso II (medidas compensatórias), o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas no mencionado inciso. (ex: elevação de alíquotas).
Exceções:
LRF, Art. 14, § 3º. O disposto neste artigo não se aplica:
I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V, § 1º do art. 153 da CF; (impostos extrafiscais - II, IE, IPI e IOF) (Extrafiscalidade).
II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.
Modalidades de Renúncia de Receita:
LRF, Art. 14, § 1º. A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de BC que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado.
- Anistia: exclusão do crédito tributário que perdoa a multa ainda não aplicada.
- Remissão: extinção do crédito tributário que consiste no perdão da dívida pelo credor.
- Subsídio: demanda contrapartida do beneficiário (particulares) que deve ostentar performance econômica favorável.
- Crédito Presumido: destinado a ressarcir o ônus do imposto sobre determinadas operações (ex: desenvolvimento de regiões).
- Isenção em Caráter Não Geral (Específico): dispensa do pagamento de tributo, quando houver hipótese de não incidência tributária (art. 179, CTN). Decorre de lei e depende do despacho da autoridade competente.
- Alteração de Alíquota ou Modificação da BC: há redução do quantum tributado.
- Outros Benefícios: rol exemplificativo.
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO
 
RECEITA PÚBLICA 
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AULA 10
 
Conceito
 
“Receita pública é a entrada que, integrando
-
se no patrimônio público sem quaisquer 
reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como 
elemento novo e 
positivo” (
Aliomar Baleeiro
).
 
Ingressos e Receitas
 
Existem ingressos que representam meras “entradas de caixa” (ex: 
empréstimos 
contraídos pelo Poder Público), são entradas provis
órias que devem ser de
volvidas.
 
P
ara que seja considerada receita, deve haver a transferência da 
titulari
dade 
para o 
Estado (aumento de patrimônio), em caráter definitivo.
 
Classificação
 
Quanto à Natureza
:
 
-
 
Orçamentária
: 
recursos 
incorporad
o
s 
ao 
Estado
 
(ex: receitas tributár
ias
)
.
 
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Extraorçamentária
: 
ingressos 
transitórios
, passíveis de restituição
 
(ex: 
operações de 
crédito por antecipação de receita
).
 
Quanto à Periodicidade
:
 
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Ordinárias
: ingressam com regularidade
 
(ex: tributos).
 
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Extraordinárias
: 
caráter excepcional e temporário(
e
x
:
 
empréstimos compul
sórios
).
 
Quanto 
à Origem
 
(Coercitividade)
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Originárias
: advém da exploração, pelo Estado, de atividade econômica (ex: aluguéis
)
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Tarifa e 
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úblico.
 
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Derivadas
: decorrem do poder estatal (“
ius imperii
”), exi
gida compulsoriamente
,
 
por 
meio de lei (ex: tributos
).
 
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Transferidas
: 
transferência de rece
itas entre os entes federativos
;
 
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obrigatórias
 
(ex: 
repartição de rec
e
itas tributárias
) ou 
voluntárias
 
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ex: 
auxílio
 
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m
 
desastres ambientais).

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