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Programa de Pós-Graduação em Design (PPGD) DOUTORADO EM DESIGN PAULA GLÓRIA BARBOSA CRÍTICA AO ENSINO DA PRÁTICA PROJETUAL EM DESIGN DE INTERIORES Belo Horizonte 2020 ii Programa de Pós-Graduação em Design (PPGD) DOUTORADO EM DESIGN PAULA GLÓRIA BARBOSA CRÍTICA AO ENSINO DA PRÁTICA PROJETUAL EM DESIGN DE INTERIORES Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de doutora em Design, na linha de pesquisa Cultura, Gestão e Processos em Design. Orientador: Prof. Dr. Edson José Carpintero Rezende Belo Horizonte 2020 G562c Barbosa, Paula Glória. Crítica ao ensino da prática projetual em Design de Interiores / Paula Glória Barbosa. – Belo Horizonte, 2020. 327 p. : il. color. Orientador: Edson José Carpintero Rezende. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado de Minas Gerais, Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design, 2020. 1. Design de Interiores. 2. Ensino. 3. Competências profissionais mínimas. I. Rezende, Edson José Carpintero. II. Universidade do Estado de Minas Gerais. Escola de Design. III. Crítica ao ensino da prática projetual em Design de Interiores. CDU: 747 Ficha elaborada pela Biblioteca do IFMG campus Santa Luzia i ii Ao Henrique, minha melhor companhia, minha maior inspiração. iii AGRADECIMENTOS Ao Henrique, meu marido, pelo companheirismo, pela cumplicidade e pelo apoio incondicional. Obrigada por revisar os meus textos com tanto carinho, zelo e dedicação. Obrigada por ter sido sempre ombro amigo e colo acolhedor nos incontáveis altos e baixos ao longo desses quatro anos. Obrigada por estar sempre disponível para me ouvir e discutir sobre esta pesquisa. Obrigada por caminhar ao meu lado nesta vida. Aos meus pais, por me darem a vida e por, com amor e dedicação, me proporcionarem todas as condições e me ensinarem valores morais para que eu pudesse chegar até aqui. Me sinto um ser de sorte por ter tido a honra e o privilégio de ter nascido de vocês e ter sido criada por vocês. Vocês são sinônimo de humanidade, de trabalho, de integridade e de determinação. Eu amo infinitamente os dois, Celeste e Willian, e serei eternamente grata por tudo o que já fizeram por mim. Esse trabalho também é de vocês. À minha querida Mara Penna que, com seu carinho e sua sabedoria, me presenteou com duas esculturas metálicas de formigas quando soube que eu havia sido aprovada para cursar o doutorado; e me disse: “isso é para você sempre se lembrar que o caminho será lento e trabalhoso, mas que as recompensas irão fazê-lo valer a pena”. E como você tinha razão! Você não tem ideia do quanto essas formiguinhas foram minhas companheiras ao longo desses 4 anos lendo folha por folha, escrevendo palavra por palavra. Você me inspira, Mara. Sou muito feliz por ter você em minha vida. Obrigada por ser minha segunda mãe. Ao Edson Carpintero, meu querido orientador e professor de longa data, pelo carinho, pela disponibilidade e por sempre me estimular em nossos encontros. Sou sua fã desde 1996, ano em que fui sua aluna de Matemática na 7ª série do Ensino Fundamental. Hoje, depois desse feliz reencontro e dessa possibilidade de trabalharmos juntos, te admiro ainda mais. Obrigada por confiar em mim e por conseguir extrair o melhor de mim. Às quatro professoras e às cinco alunas colaboradoras que, de forma atenciosa e solidária, me doaram tempo para compartilhar comigo as suas experiências com os processos de ensino e aprendizagem da prática projetual em Design de Interiores. Sem a preciosa ajuda de vocês esse trabalho não seria possível. Eu não tenho palavras para expressar a minha gratidão e a minha admiração pelo gesto de vocês. Vocês me ajudaram sem pedir nada em troca; me ajudaram com o único propósito de contribuir para um melhor ensino do Design de Interiores. Que possamos colher esses frutos. iv À minha irmã Ester, por ter me apresentado ao Mendeley. À minha irmã Luiza, por ter angariado muitos compilados sobre educação para mim e por me emprestar o seu acesso remoto ao portal de periódicos da CAPES. Ao amigo Felipe, pelo incentivo e por me ajudar a organizar as ideias após a banca de qualificação. À Samantha, por ter me apresentado Zabala e Arnau, por ter me emprestado diversos livros seus e por ser ouvido amigo. Aos queridos amigos e familiares, pelas palavras de estímulo e de carinho e, principalmente, pelos encontros felizes que trouxeram leveza a esse tempo. Ao professor Eduardo Romeiro, por ter me acolhido e orientado o início deste trabalho. Aos queridos Rodrigo e Janaína, nossos secretários acadêmicos, por sempre receberem as nossas demandas com solicitude e um grande sorriso. E ao IFMG – campus Santa Luzia, por me conceder 22 meses de afastamento para dedicação exclusiva a esta pesquisa, possibilitando que muitas dessas páginas fossem escritas com a tranquilidade e o tempo que merecem. Foram 22 meses de extremo aprendizado. Com eles, me tornei uma pessoa melhor e uma professora melhor. Depois dessa experiência, tenho a certeza de que a política de estímulo à capacitação é essencial para que consigamos conquistar um ensino de qualidade. v RESUMO Inicialmente, a atividade de Decoração de Interiores destinava-se ao embelezamento e à organização de, sobretudo, espaços residenciais, com o principal objetivo de espelhar a elevada posição social de seus proprietários. Ao decorador bastava, em essência, conhecer os estilos históricos e possuir talento natural, bom gosto, bom senso e uma boa rede de contatos. Após alguns séculos de transformações, hoje, sob a denominação de Design de Interiores, além da justa preocupação com a beleza e a organização, o planejamento estético e funcional dos espaços visa influenciar positivamente a qualidade de vida das pessoas, contribuindo para sua saúde, segurança e bem-estar. Ao mesmo tempo, diante de um desafiador dilema da contemporaneidade, é preciso considerar uma abordagem projetual que atente para o desenvolvimento sustentável. Face a uma maior complexidade projetual, a prática do Design de Interiores passou a requerer um processo sistematizado de desenvolvimento de projetos, um vasto conhecimento especializado e tornou-se indispensável o desenvolvimento de pesquisas com a finalidade de embasar as decisões projetuais, exigindo do designer de interiores competências profissionais que ultrapassam a noção de bom senso, bom gosto e talento natural, compreendidas aqui como a capacidade criativa, o domínio da linguagem do Design, o trânsito interdisciplinar, a visão sistêmica, o domínio da metodologia projetual, a visão setorial, a capacidade crítica para gerenciar, a visão histórica e prospectiva e a capacidade de pesquisar. Todavia, e em se tratando da formação profissional na área, acredita-se que o ensino do Design de Interiores ainda não esteja em conformidade com a atual perspectiva posta ao campo. Em outros termos, acredita-se que os cursos de formação profissional em Design de Interiores não estejam conferindo a seus estudantes a oportunidade de desenvolver com plenitude referidas competências profissionais mínimas. Frente a essa hipótese, e estabelecendo o recorte da disciplina de prática projetual – já que essa é a disciplina que oportuniza professores e estudantesvivenciarem a relação entre a teoria e a prática no campo profissional do Design de Interiores, ou seja, é por meio dela que os estudantes aprendem a desenvolver projetos de Design de Interiores –, avaliou-se, por intermédio dos procedimentos metodológicos típicos de um estudo de caso, em que medida a disciplina contribui para o desenvolvimento das competências profissionais mínimas almejadas para os designers de interiores. Para tanto, coletaram-se evidência documental (Projeto Pedagógico de Curso) e evidências do que planejaram (programas de disciplina), disseram (entrevistas), escreveram (diários de bordo) e produziram (trabalhos práticos) professores e estudantes das três disciplinas de prática projetual que compõem a matriz curricular do curso superior de tecnologia em Design de Interiores objeto de estudo desta investigação. As evidências foram sistematizadas e analisadas para posterior discussão, realizada a partir da estrutura teórica desenvolvida e considerada modelo para fins de comparação. Os resultados indicam que o ensino da prática projetual em Design de Interiores tem contribuído para a formação de profissionais híbridos, uma espécie de decorador designer de interiores ou designer de interiores decorador. Daí a urgente necessidade de se repensar o ensino da matéria. Palavras-chave: Design de Interiores. Ensino. Competências profissionais mínimas. Prática projetual. vi ABSTRACT At the beginning, the Interior Decoration activity ended with the beautification and organization of, notably, residential spaces, with the main objective of mirroring the high social status of its owners. The decorator simply needed to know the historical styles and have natural talent, good taste, common sense and a good network. Today, under the name of Interior Design, in addition to the just concern for beauty and organization, the aesthetic and functional planning of spaces aims to positively influence people's quality of life, implying the need to consider promoting health, safety and well-being of individuals in the design process. At the same time, faced with a challenging dilemma of contemporaneity, it is necessary to consider a design approach oriented towards the promotion of sustainable development. In the face of design complexity, the practice of Interior Design started to require a systematic process of project development, a vast specialized knowledge and it became essential to develop research that supports design decisions, requiring interior designer skills professionals who surpass the notion of common sense, good taste and natural talent, understood here as the ability to create, the domain of the language of Design, the interdisciplinary transit, the systemic view, the domain of the project methodology, the sector view, the capacity critical to manage, the historical and prospective view and the ability to research. However, and when it comes to professional training in the area, it is believed that the teaching of Interior Design is not yet aligned with the current perspective put on the field. In other words, it is believed that professional courses in Interior Design are not giving their students the opportunity to fully develop such minimum professional skills. Faced with this hypothesis, and establishing the outline of the discipline of studio – since this is the discipline that allows teachers and students to experience the relationship between theory and practice in the professional field of Interior Design, that is, it is through it that students learn to develop Interior Design projects –, it was evaluated, through the methodological procedures typical of a case study, to what extent this discipline contributes to the development of the minimum professional competences desired for interior designers. Therefore, documental evidence was collected, as well as evidence of what teachers and students planned (discipline programs), said (interviews), wrote (logbooks) and produced (practical work) from the three disciplines of studios that make up the curriculum matrix of the Interior Design course object of study of this investigation. The evidence was systematized and analyzed for further discussion, based on the theoretical framework developed and considered a model for comparison purposes. The results indicate that the teaching of studio in Interior Design has contributed to training hybrid professionals, a kind of interior designer decorator or decorator interior designer. Thus, the urgent need to rethink the teaching of the subject. Keywords: Interior Design. Teaching. Minimum professional skills. Studios. vii LISTA DE QUADROS Quadro 1 Da Decoração ao Design de Interiores: síntese dos principais tópicos. 25 Quadro 2 Sistematização dos conceitos de Design de Interiores apresentados pelas associações de classe consultadas. 39 Quadro 3 Etapas do projeto de Design de Interiores e suas situações profissionais típicas. 80 Quadro 4 Competências profissionais mínimas do designer de interiores. 88 Quadro 5 Competências profissionais mínimas do designer de interiores e possíveis situações de uso. 103 Quadro 6 A disciplina de prática projetual e as competências profissionais mínimas relacionadas. 127 Quadro 7 Parâmetro de pesquisa: competências profissionais específicas do designer de interiores organizadas conforme suas típicas etapas de trabalho. 135 Quadro 8 Escala de avaliação das competências específicas. 140 Quadro 9 Evidências coletadas para o estudo de caso. 142 Quadro 10 Competências profissionais do designer de interiores: comparativo entre o levantamento teórico e o caso da IES-X. 152 Quadro 11 Síntese das informações sobre os trabalhos práticos desenvolvidos em Projetos I, II e III. 157 Quadro 12 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa preliminar: negociação. 171 Quadro 13 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa 1: elaboração do programa de projeto. 172 Quadro 14 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa 2: desenvolvimento da solução projetual. 200 Quadro 15 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa 3: elaboração da documentação de construção. 242 Quadro 16 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa 4: gestão da implementação do projeto. 250 viii Quadro 17 Avaliação das competências profissionais específicas da etapa 5: avaliação pós- ocupação. 252 Quadro 18 Diferentes nomenclaturas das etapas de desenvolvimento de projetos: revisão de literatura e estudo de caso. 257 Quadro 19 Quantitativo das competências profissionais específicas avaliadas. 270 Quadro 20 Síntese dos resultados da pesquisa. 272 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Definição do Design de Interiores apresentada de forma esquemática. 44 Figura 2 Desmembramento de competências gerais em indicadores de obtenção. 114 Figura 3 Desmembramento das competências profissionais gerais em competências profissionais específicas do designer de interiores. 139 Figura 4 Matriz curricular do curso de Design de Interiores da IES-X. 154 Figura 5 Notas de A2 sobre metodologia de projeto (Projetos I). 158 Figura 6 Notas de A5 sobre metodologia de projeto (Projetos I). 158 Figura 7 Notas de A2 sobre processo projetual (Projetos I). 159 Figura 8 Notas de A3 sobre processo projetual (Projetos II). 159 Figura 9 Painel de estilo de vida elaborado por A1 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 160 Figura 10 Mapa de percepção elaborado por A1 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 161 Figura 11 Notas de A3 do processo projetual do TP4 (Projetos II). 161 Figura 12 Setorização elaborada por A5 para o TP1 (Projetos I). 162 Figura 13 Análise de fluxo elaborada por A3 para o TP3 (Projetos II). 163 Figura 14 Notas de A1sobre processo projetual (Projetos I). 164 ix Figura 15 QDP elaborado por A5 para o TP6 (Projetos III). 164 Figura 16 Notas de P2 sobre processo projetual (Projetos I). 165 Figura 17 Notas de A3 sobre processo projetual (Projetos I). 165 Figura 18 Notas de P1 sobre percepção de aprendizagem dos estudantes no TP1 (Projetos I). 166 Figura 19 Notas de A4 sobre processo projetual do TP1 (Projetos I). 168 Figura 20 Notas de A2 sobre processo projetual do TP3 (Projetos II). 168 Figura 21 Notas de A3 sobre processo projetual do TP5 (Projetos III). 168 Figura 22 Notas de A2 sobre o briefing do TP4 (Projetos II). 173 Figura 23 Tópico do briefing: objetivo de projeto identificado por A3 e A4 para o TP1 (Proj. I). 174 Figura 24 Notas de A1 sobre tópico do briefing do TP3: objetivo de projeto (Projetos II). 175 Figura 25 Notas de A5 sobre tópico do briefing do TP6: objetivo de projeto (Projetos III). 175 Figura 26 Tópico do briefing: problema projetual identificado por A5 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 175 Figura 27 Notas de A3 sobre tópico do briefing do TP5: problema projetual (Projetos III). 175 Figura 28 Slide de apresentação: problema projetual identificado por A1 e equipe para o TP4 (Projetos II). 176 Figura 29 Notas de A2 sobre tópico do briefing do TP4: problema projetual (Projetos II). 176 Figura 30 Slide de apresentação: problema projetual identificado por A3, A4 e parceiro para o TP4 (Projetos II). 177 Figura 31 Tópico do briefing: informações sobre o cliente descritas por A1 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 178 Figura 32 Tópico do briefing: informações sobre os clientes descritas por A3, A4 e parceiro para o TP2 (Projetos I). 178 Figura 33 Notas de A5 sobre tópico do briefing do TP1: perfil dos clientes (Projetos I). 180 x Figura 34 Notas de A3 sobre tópico do briefing do TP5: perfil dos clientes (Projetos III). 180 Figura 35 Painel de estilo de vida elaborado por A3 e A4 para o TP1 (Projetos I). 181 Figura 36 Notas de A5 sobre tópico do briefing do TP5: perfil do público-alvo (Projetos III). 182 Figura 37 Notas de A1 sobre tópico do briefing do TP6: perfil do público-alvo (Projetos III). 183 Figura 38 Tópico do briefing: informações sobre o público-alvo descritas por A1 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 183 Figura 39 Tópico do briefing: informações sobre o público-alvo descritas por A2 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 183 Figura 40 Tópico do briefing: informações sobre o público-alvo descritas por A3, A4 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 183 Figura 41 Tópico do briefing: informações sobre o público-alvo descritas por A5 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 184 Figura 42 Notas de A1 sobre o briefing do TP5 (Projetos III). 184 Figura 43 Tópico do briefing: informações sobre localização e entorno descritas por A2 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 185 Figura 44 Tópico do briefing: informações sobre localização e entorno descritas por A5 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 185 Figura 45 Tópico do briefing: informações sobre localização e entorno descritas por A2 e parceiro para o TP5 (Projetos III). 185 Figura 46 Notas de A2 sobre tópico do briefing do TP1: análise do uso do espaço e das necessidades materiais relacionadas (Projetos I). 186 Figura 47 Notas de A1 sobre tópico do briefing do TP3: análise do uso do espaço e das necessidades materiais relacionadas (Projetos II). 186 Figura 48 Notas de A1 sobre tópico do briefing do TP6: análise do uso do espaço e das necessidades materiais relacionadas (Projetos III). 187 Figura 49 Notas de A1 sobre tópico do briefing do TP1: edificação, localização e entorno (Projetos I). 188 xi Figura 50 Tópico do briefing: informações sobre o entorno descritas por A2 e equipe para o TP4 (Projetos II). 188 Figura 51 Notas de A5 sobre tópico do briefing do TP1: edificação, localização e entorno (Projetos I). 188 Figura 52 Notas de P2 sobre o briefing do TP2 (Projetos I). 191 Figura 53 Notas de A4 sobre suas percepções em relação ao TP2 (Projetos I). 191 Figura 54 Notas de A3 sobre tópico do briefing do TP4: pesquisa (Projetos II). 192 Figura 55 Notas de A2 sobre tópico do briefing do TP5: pesquisa (Projetos III). 193 Figura 56 Notas de P4 sobre o TP5 de A2 (Projetos III). 193 Figura 57 Notas de A3 sobre tópico do briefing do TP3: pesquisa (Projetos II). 195 Figura 58 Informações de pesquisa de campos realizada por A3 para o TP3 (Projetos II). 195 Figura 59 Notas de A2 sobre tópico do briefing do TP6: normatização aplicável (Projetos III). 197 Figura 60 Notas de P2 sobre levantamento métrico para o TP2 (Projetos I). 198 Figura 61 Notas de P4 sobre levantamento métrico para o TP6 (Projetos III). 199 Figura 62 Notas de P2 sobre processo projetual do TP1 (Projetos I). 203 Figura 63 Notas de P4 sobre processo projetual do TP5 de A1 e parceiro (Projetos III). 204 Figura 64 Tópico do briefing: QDP elaborado por A2 e equipe para o TP4 (Projetos II). 206 Figura 65 Perspectivas eletrônicas da solução projetual de A2 e equipe para o TP4 (Projetos II). 206 Figura 66 Perspectivas eletrônicas da solução projetual de A5 e parceiro para o TP6 (Proj. III). 208 Figura 67 Planta de layout humanizada da solução projetual de A5 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 209 Figura 68 Planta de layout da solução projetual de A3, A4 e parceiro para o TP2 (Projetos I). 210 Figura 69 Perspectiva eletrônica da solução projetual de A1 e equipe para o TP4 (Projetos II). 211 xii Figura 70 Setorização proposta por A5 e parceiro para o TP5 (Projetos III). 211 Figura 71 Planta de layout da solução projetual de A5 e parceiro para o TP5 (Projetos III). 212 Figura 72 Perspectiva eletrônica da solução projetual de A2 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 213 Figura 73 Perspectivas eletrônicas da solução projetual de A3, A4 e parceiro para o TP5 (Projetos III). 213 Figura 74 Notas de P2 sobre processo projetual do TP1 (Projetos I). 214 Figura 75 Geração de alternativas de layout de A4 para o TP3 (Projetos II). 214 Figura 76 Notas de P2 sobre processo projetual do TP1 (Projetos I). 217 Figura 77 Notas de P2 sobre processo projetual do TP1 (Projetos I). 218 Figura 78 Notas de P2 sobre processo projetual do TP2 (Projetos I). 219 Figura 79 Notas de P4 sobre processo projetual do TP6 (Projetos III). 229 Figura 80 Mapa de percepção elaborado por A5 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 230 Figura 81 Estudo de setorização de A1 para o TP2 (Projetos I). 231 Figura 82 Cartaz utilizado por A3 e A4 para apresentação do TP1 (Projetos I). 232 Figura 83 Perspectivas manuais da solução projetual de A1 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 233 Figura 84 Notas de A2 sobre apresentação do TP3 (Projetos II). 233 Figura 85 Prancha resumo apresentada por A3, A4 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 234 Figura 86 Slide de apresentação de A1 e equipe para o TP4 (Projetos II). 234 Figura 87 Slide de apresentação de A5 e equipe para o TP4 (Projetos II). 234 Figura 88 Slide de apresentação de A3, A4 e parceiro para o TP5 (Projetos III). 235 Figura 89 Slides de apresentação de A5 e parceiro para o TP6 (Projetos III). 235 xiii Figura 90 Notas de P2 sobre apresentação do TP1 (Projetos I). 236 Figura 91 Notas de A2 sobre apresentação do TP1 (Projetos I). 237 Figura 92 Notas de A4 sobre apresentação do TP1 (Projetos I). 238 Figura 93 Notas de A2 sobre apresentação do TP3 (Projetos II). 238 Figura 94 Notas de P4 sobre processo projetual do TP5 de A3 e A4 (Projetos III). 240 Figura 95 Notas de A2 sobre processo projetual do TP6 (Projetos III). 241 Figura 96 Notas de P4 sobre processo projetualdo TP6 (Projetos III). 241 Figura 97 Notas de P2 sobre processo projetual do TP2 (Projetos I). 241 Figura 98 Notas de A3 sobre visita técnica (Projetos I). 245 Figura 99 Notas de P2 sobre visita técnica (Projetos I). 245 Figura 100 Especificação de material elaborada por A5 e parceiro para o TP1 (Projetos I). 246 Figura 101 Especificação de material elaborada por A5 e parceiro para o TP3 (Projetos II). 247 Figura 102 Notas de A4 sobre viabilidade econômica do TP3 (Projetos II). 249 Figura 103 Nota de P1 sobre orçamento (Projetos I). 251 Figura 104 Trecho da planilha orçamentária elaborada por A5 e parceiro para o TP3 (Proj. II). 251 Figura 105 Resultados da pesquisa apresentados de forma esquemática: expectativa e realidade. 271 xiv LISTA DE SIGLAS ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ADDIP Asociación de Diseñadores Interioristas Profesionales del Uruguay AIPi Associazione Italiana Progettisti d’interni - interior designers APD Associação Portuguesa de Designers ASID American Society of Interior Designers [Estados Unidos] BIID British Institute of Interior Design CAU/BR Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CFAI Conseil Français des Architectes d’intérieur CGCODDI Consejo General de Colegios Oficiales de Decoradores y Diseñadores de Interior da España CIDA Council for Interior Design Accreditation [Estados Unidos] CIDQ Council for Interior Design Qualification [Estados Unidos] CNE/CEB Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica [Brasil] CNE/CES Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior [Brasil] CNE/CP Conselho Nacional de Educação / Conselho Pleno [Brasil] DArA Diseñadores de Interior Argentinos Asociados DIA Design Institute of Australia Enade Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes [Brasil] EPT Educação Profissional e Tecnológica MEC Ministério da Educação [Brasil] HDII Indonesian Society of Interior Designers HKIDA Hong Kong Interior Design Association IDAN Interior Designers Association of Nigeria IDC Interior Designers of Canada IDCS Interior Design Confederation Singapore IDEC Interior Design Educators Council [Estados Unidos] IDLNY Interior Designers for Legislation in New York IFI International Federation of Interior Architects / Designers IIDA International Interior Design Association [Estados Unidos] INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira NCIDQ National Council for Interior Design Qualification [Estados Unidos] PIID Philippine Institute of Interior Designers SETEC/MEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação [Brasil] xv SUMÁRIO CAPÍTULO 1 Problematização e objetivos 01 CAPÍTULO 2 Ensaio epistemológico sobre o Design de Interiores 08 2.1 Um brevíssimo panorama histórico 09 2.1.1 Do decorador ao designer de interiores 09 2.1.2 Profissionalização do Design de Interiores 26 2.2 Conceituando o Design de Interiores 34 2.2.1 O que é o Design de Interiores? 35 2.2.2 Considerações sobre a ideia de promoção da saúde, da segurança e do bem-estar 45 2.2.3 Considerações sobre a ideia de sustentabilidade 51 2.3 Corpo de conhecimento do Design de Interiores 54 CAPÍTULO 3 Competências profissionais mínimas do designer de interiores 62 3.1 O significado de competência 63 3.2 Etapas típicas do trabalho de um designer de interiores 65 3.3 Competências profissionais mínimas necessárias à práxis do Design de Interiores 82 3.3.1 As competências profissionais mínimas do designer de interiores segundo as normativas do Ministério da Educação 82 3.3.2 As competências profissionais mínimas do designer de interiores segundo estudiosos do campo 91 CAPÍTULO 4 Aspectos do processo de ensino e aprendizagem 107 4.1 Como ensinar e aprender competências 107 4.1.1 Definindo as competências desejadas para os estudantes 111 4.1.2 Elaborando estratégias didáticas orientando-se por competências 115 4.2 Caracterização da disciplina de prática projetual 120 4.2.1 A ambiguidade dos problemas de Design de Interiores 121 4.2.2 Aprender a projetar projetando 123 4.2.3 A disciplina de prática projetual como meio para o desenvolvimento de competências profissionais mínimas do designer de interiores 126 xvi CAPÍTULO 5 Estudo de caso – procedimentos metodológicos 129 5.1 Componentes de pesquisa 130 5.1.1 A questão de estudo (problema de pesquisa) 130 5.1.2 As proposições (hipóteses) 131 5.1.3 As unidades de análise (amostra) 132 5.1.4 A lógica que une os dados à proposição 133 5.1.5 Os critérios para interpretar as descobertas 134 5.2 O processo de coleta de dados 141 5.3 O processo de análise dos dados 143 CAPÍTULO 6 Um olhar crítico sobre as disciplinas de prática projetual 147 6.1 Sobre o curso de Design de Interiores – perfil do egresso, competências profissionais mínimas e organização curricular 147 6.2 Breves considerações sobre o processo de ensino e aprendizagem das disciplinas de prática projetual 155 6.3 Avaliação do desenvolvimento de competências profissionais mínimas por meio das disciplinas de prática projetual 170 6.3.1 Etapa preliminar: negociação 171 6.3.2 Etapa 1: elaboração do programa de projeto 171 6.3.3 Etapa 2: desenvolvimento da solução projetual 200 6.3.4 Etapa 3: elaboração da documentação de construção 242 6.3.5 Etapa 4: gestão da implementação do projeto 249 6.3.6 Etapa 5: avaliação pós-ocupação 252 CAPÍTULO 7 Discussões sobre o ensino da prática projetual em Design de Interiores 254 7.1 Sobre os processos de ensino e aprendizagem das disciplinas de prática projetual 255 7.2 Sobre o desenvolvimento de competências profissionais mínimas por meio das disciplinas de prática projetual 258 7.2.1 A etapa de negociação 258 7.2.2 A etapa de elaboração do programa de projeto 260 7.2.3 A etapa de desenvolvimento da solução projetual 262 7.2.4 A etapa de elaboração da documentação de construção 267 7.2.5 A etapa de gestão da implementação do projeto 268 xvii 7.2.6 A etapa de avaliação pós-ocupação 268 7.3 À guisa de uma conclusão 269 CAPÍTULO 8 Conclusões 273 REFERÊNCIAS 279 APÊNDICE 298 ANEXOS 301 1 CAPÍTULO 1 Problematização e objetivos It is important to define the direction interior design education will take in the twenty-first century to promote continued growth and development in this multifaceted field (GUERIN, 1992, p. 9). A consolidação de cursos dedicados à formação de decoradores no Brasil é uma realidade de meados do século XX. Como exemplo, o decênio de 1940 registrou a criação do primeiro curso de graduação em Arte Decorativa do país, ofertado pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) da então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (VIANA, 2015). Na década de 1950, fundou-se o Instituto de Artes Decorativas (Iade) em São Paulo, primeira escola brasileira criada com a finalidade específica de formar o profissional de Decoração (DANTAS; NEGRETE, 2015). Nos anos 1960, inaugurou-se o curso de Decoração oferecido pela Escola de Artes Plásticas (ESAP) em Belo Horizonte, primeiro curso do tipo em Minas Gerais (AGUIAR, 2006; BAHIA, 2017). Passado mais de meio século da inauguração dos primeiros cursos de Decoração no país, e apesar da visível expansão do campo profissional – o que compreende uma ampliação dos seus limites de atuação, o fortalecimento de um corpo de conhecimento que subsidie o exercício da profissão, o interesse por pesquisas que confiram base científica à atividade e a consolidação da alteração nominal para Design1 de Interiores –, o ensino do Design de Interiores é um tema pouco discutido em publicaçõesem português. Essa situação se afigura preocupante uma vez que se registrou, nos últimos anos, um grande crescimento do número de cursos ofertados no Brasil – dos 2782 cursos de graduação em Design de Interiores em atividade no país, 3 bacharelados foram criados antes dos anos 1990, 1 tecnológico e 1 bacharelado foram criados 1 Neste trabalho, quando o uso do termo design fizer referência à ideia de designar (concepção, intenção, desígnio, atribuição, projeto de um produto) ou desenhar (registro, configuração, arranjo, estrutura, produto de uma concepção), sua grafia se dará com inicial minúscula. Por outro lado, o Design, na sua acepção de substantivo que determina um campo profissional ou área do conhecimento, será grafado com inicial maiúscula. Já o substantivo utilizado para determinar o profissional do Design será grafado com inicial minúscula – designer. E, apesar de Houaiss (2020) indicar a grafia do design/Design/designer em itálico, em virtude do estrangeirismo do vocábulo, optou-se, neste trabalho, por escrevê-los sem destaque. Por fim, nas citações diretas em que esses termos forem utilizados, manter-se-á a grafia do texto original. 2 Cursos de graduação em Design de Interiores em atividade no Brasil: 272 tecnológicos e 06 bacharelados; desses últimos, 02 são denominados Design de Interiores, 02 recebem o nome de Design de Ambientes, 01 é intitulado Decoração e 01 possui a nomenclatura Composição de Interior (E-MEC, 2020). Não foram computados os cursos denominados Design com objetivo de formação generalista. 2 entre 1991 e 2000, 67 tecnológicos e 1 bacharelado foram criados entre 2001 e 2010 e 204 tecnológicos e 1 bacharelado foram criados entre 2011 e 2020 (MEC, 2020). Como se não bastasse, não há dúvidas de que “educadores do Design de Interiores devem revisar e avaliar constantemente métodos e currículos pedagógicos para acompanhar as mudanças nas exigências tecnológicas e profissionais” (CURRY; SHROYER; GENTRY, 1993, p. 69, tradução nossa3). Compreendidos como caixas de ressonância das demandas sociais e de mercado, espera-se que os cursos de formação profissional estejam em constante alinhamento com o que se espera do Design de Interiores, transformando-se ao passo que o campo profissional se transforma e, ainda, contribuindo com a sua transformação (GUERIN; THOMPSON, 2004). De início – e, aqui, fazemos menção especial aos séculos XVIII e XIX –, a atividade limitava-se ao decorar de, notadamente, espaços residenciais, visando impressionar por meio de aparência luxuosa e comunicar o status da posição social privilegiada de seus proprietários. Almejava-se, também, extremo conforto (DEJEAN, 2012; MASSEY, 2008; PILE; GURA, 2014). Nesse contexto, a Decoração de Interiores era uma atividade exercida por artesãos, estofadores, marceneiros, varejistas, arquitetos e entusiastas, não havendo necessidade de educação formal para a sua prática. Ao decorador bastava possuir uma boa rede de contatos, ter conhecimento sobre os estilos históricos e possuir bom gosto, bom senso, talento natural e autoconfiança (BROOKER; STONE, 2014; EDWARDS, 2010; GIBBS, 2013; MASSEY, 2008; WHITE, 2009). Na primeira metade do século XX, com o progresso da industrialização, a oferta de um grande volume de bens de consumo e o surgimento de tecnologias como telefone, iluminação elétrica e banheiros e cozinhas sofisticados, houve a transformação do modo de se fazer Decoração. Fez- se necessário treinamento formal para que o decorador fosse capaz de orquestrar aparência, conforto e todas as novas tecnologias, então ao alcance de um número bem maior de pessoas (GIBBS, 2013; MASSEY, 2008; PILE; GURA, 2014). Em meados do século XX, como parte do processo de profissionalização, concretizou-se a alteração nominal de Decoração de Interiores para Design de Interiores. Para Guerin e Martin (2004; 2010), a separação consciente entre referidos termos foi consequência da expansão do foco da atividade para espaços não residenciais nos anos 1950. White (2009) acredita que o surgimento de diversas escolas e associações de classe tenha consagrado, nos anos 1960, a 3 Texto original: “Interior design educators must constantly revise and evaluate pedagogical methods and curricula to keep up with changes in technology and professional requirements” (CURRY; SHROYER; GENTRY, 1993, p. 69). 3 mudança de nomenclatura. Já Lees-Maffei (2008) explica que o Design de Interiores se configurou como uma especialidade do Design no pós-Segunda Guerra Mundial, tal como o Design de Moda, o Design Gráfico e o Design Automotivo. Fato é que a mudança de nome implicou, também, mudança de significado. “Essa profissão evoluiu de uma predominantemente preocupada com a ornamentação de superfície para uma baseada no design para o comportamento humano” (GUERIN; THOMPSON, 2004, p. 1, tradução nossa4). O Design de Interiores, na condição de profissão, teve a sua essência modificada na transição para o século XXI (PILE; GURA, 2014). Agora, o foco da atividade estava nas pessoas, mais especificamente em compreender o modo como o arranjo e a ambiência dos espaços influenciam o comportamento dos indivíduos, buscando melhorar-lhes a qualidade de vida. Estética e funcionalidade continuaram premissas do projeto de Design de Interiores, mas a necessária contribuição para a saúde, a segurança e o bem-estar das pessoas por meio dos seus ambientes de vivência exigiu que o designer de interiores passasse a integrar beleza, função e significado em suas soluções projetuais (GUERIN; MARTIN, 2004; 2010). É que o espaço físico se transforma em espaço humano por ser uma construção de símbolos que influenciam fortemente o comportamento do(s) indivíduo(s) que o experiencia(m) (TAN, 2011). Ademais, o Design de Interiores, no final do século XX, assumia uma outra responsabilidade: a de contribuir para o desenvolvimento sustentável. Isso porque qualquer projeto executado consome recursos naturais e gera poluição e resíduos durante as suas etapas de construção, uso e descarte. A ideia da sustentabilidade ambiental promovida pelo Design de Interiores associa- se, portanto, ao compromisso de minimizar os impactos negativos causados ao meio ambiente (BROOKER, STONE, 2014; MOXON, 2012; PILE; GURA, 2014). Diante de uma maior complexidade projetual, a prática do Design de Interiores passou a requerer um processo sistematizado de desenvolvimento de projetos e um vasto conhecimento especializado adquirido por meio de educação formal e experiência, vez que talento natural, bom gosto, bom senso e autoconfiança não seriam mais suficientes para o seu exercício (GUERIN; MARTIN, 2004; PILE; GURA, 2014). Além disso, tornou-se indispensável à prática do Design de Interiores o desenvolvimento de pesquisas que conferissem ao designer substrato para a tomada de decisões (DICKINSON; ANTHONY; MARSDEN, 2012; GUERIN; THOMPSON, 2004; NUSSBAUMER, 2019) – afinal, existem duas responsabilidades sociais imbricadas com o projetar ambientes de vivência humana. Exatamente por isso, reiteramos, as soluções de Design 4 Texto original: “This profession has evolved from one predominantly concerned with surface ornamentation to one based on designing for human behavior” (GUERIN; THOMPSON, 2004, p. 1). 4 de Interiores não poderiam mais ser idealizadas e planejadas levando-se em conta apenas a intuição e insights criativos, fazendo-se necessário conjugar ciência e arte, pesquisa aplicada e poesia, racionalidade e sensibilidade. Em consequência, e como processo natural da transformação de um campo profissional que se adequa às constantes transformações sociais e de mercado, fez-se preciso formar profissionais do Design de Interiores com perspectiva de ação diferente da que se tinha para a Decoração de Interiores. Para tanto, observou-se a necessidade de o designer de interiores desenvolver competências profissionais queminimamente o habilitassem à práxis do Design de Interiores do século XXI, compreendidas aqui como a capacidade de criar, o domínio da linguagem do Design, o trânsito interdisciplinar, a visão sistêmica, o domínio da metodologia projetual, a visão setorial, a capacidade crítica para gerenciar, a visão histórica e prospectiva e a capacidade de pesquisar. Entretanto, acredita-se – e aqui apresenta-se a hipótese deste trabalho –, essa não é uma realidade amplamente concretizada. Em outros termos, acredita-se que o atual ensino do Design de Interiores ainda precisa se alinhar com a perspectiva posta ao campo profissional no início do século XXI. Nesta investigação, então, buscou-se avaliar em que medida o ensino do Design de Interiores contribui para o desenvolvimento das competências profissionais mínimas almejadas para os designers de interiores. Como primeiro recorte, elegeu-se a disciplina de prática projetual – projetos ou studio, como é conhecida no exterior – como enfoque da investigação. É que ela é um componente curricular obrigatório dos cursos de formação profissional em Design de Interiores por oportunizar docentes e discentes vivenciarem a relação entre a teoria e a prática no campo profissional do Design de Interiores (ANKERSON; PABLE, 2008; CENNAMO et al., 2011). Ou seja, é por meio das disciplinas de prática projetual que os futuros designers de interiores aprendem a desenvolver projetos de Design de Interiores. Como segundo recorte, e considerando a opção pelo estudo de caso como metodologia de pesquisa, elegeu-se o curso superior de tecnologia em Design de Interiores de uma instituição de ensino superior brasileira, aqui denominada IES-X5. Essa escolha justifica-se pelo fato de essa ser uma modalidade da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) que faz parte do contexto de 97,9% dos cursos de formação profissional superior em Design de Interiores no país (MEC, 2020), representando uma amostra do que pode ser realidade em diversas outras instituições. 5 O nome da instituição de ensino superior que oferta o curso eleito para investigação foi ocultado neste texto com vistas a observar o princípio da confidencialidade. 5 Desse curso, elegeu-se uma turma e acompanhou-se o desenvolvimento de seu processo de ensino e aprendizagem durante os semestres em que as disciplinas de prática projetual foram lecionadas – nosso terceiro recorte. Com o entendimento de que os atores envolvidos nesse processo – professores e estudantes – possuem igual importância, evidências do que eles planejaram (programas de disciplina), disseram (entrevistas), escreveram (diários de bordo) e produziram (trabalhos práticos) foram coletadas, sistematizadas e analisadas, somadas à evidência documental proveniente do Projeto Pedagógico de Curso. Antes disso, e com vistas a analisar essas evidências, desenvolveu-se uma estrutura teórica que, em síntese, foi utilizada como modelo com o qual os resultados foram comparados, tornando- se parâmetro para o desenho de conclusões e a visualização de oportunidades de melhoria no ensino da prática projetual em Design de Interiores. Trata-se dos capítulos 2, 3 e 4 da tese, descritos brevemente nos próximos parágrafos. No capítulo 2, apresenta-se um ensaio epistemológico sobre o Design de Interiores. Essa abordagem se fez necessária em virtude da praticamente ausência de discussões sobre a temática em publicações em português e da necessidade de se trazer à tona essa discussão para possibilitar o tratamento consistente do significado desse campo profissional, suas origens e os limites de atuação do designer de interiores. Sem os devidos esclarecimentos sobre essas questões, seria impossível estabelecer uma crítica ao atual ensino da prática projetual em Design de Interiores, já que não há como avaliar o ensino de determinado campo profissional sem compreendê-lo. No capítulo 3, aborda-se as competências profissionais mínimas almejadas para o designer de interiores brasileiro. Para tanto, fez-se necessário compreender o significado de competências, decompor analiticamente as etapas típicas de trabalho do designer de interiores e compreender o que o Ministério da Educação brasileiro e estudiosos da área entendem sobre o tema, trazendo a lume as nove já citadas competências profissionais mínimas desejáveis para os egressos dos cursos superiores de Design de Interiores no Brasil. Se o objetivo deste estudo é avaliar em que medida essas competências profissionais mínimas são desenvolvidas por meio das disciplinas de prática projetual, é preciso, antes, compreendê-las. No capítulo 4, buscou-se compreender os fundamentos do ensino orientado por competências, o que possibilitou a construção do parâmetro de pesquisa que, no estudo de caso, conduziu a avaliação do ensino da prática projetual com enfoque no desenvolvimento de competências profissionais mínimas. Buscou-se, ainda, caracterizar a disciplina de prática projetual, visando 6 compreender a sua estrutura, o principal método de ensino empreendido e a tipologia dos problemas abordados no processo de projetação em Design de Interiores. Dando sequência à descrição dos elementos textuais da tese, no capítulo 5 estão detalhados os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento do estudo de caso – as questões do estudo, as suas proposições, as unidades de análise, a lógica que une os dados às proposições e os critérios para interpretar as descobertas –, bem como a descrição dos processos empreendidos para a coleta e a análise dos dados. Já o capítulo 6 é dedicado à apresentação e à análise dos dados obtidos com o estudo de caso, o que possibilitou compreender a estrutura do curso superior de tecnologia em Design de Interiores da IES-X e o perfil de egresso traçado para os seus alunos, analisar relevantes aspectos do processo de ensino e aprendizagem das suas disciplinas de prática projetual e avaliar em que medida essas disciplinas contribuem para o desenvolvimento das competências profissionais mínimas almejadas para os futuros designer de interiores. No capítulo 7, fez-se possível, a partir da estrutura teórica construída, estabelecer uma discussão sobre os resultados obtidos na pesquisa de campo. Esse processo aclarou os pontos em que o ensino da prática projetual em Design de Interiores atendem às expectativas postas e os pontos que demandam maior atenção por parte dos professores da área. O oitavo e último capítulo apresenta a conclusão deste trabalho: as disciplinas de prática projetual têm contribuído para a formação de profissionais híbridos, uma espécie de decorador designer de interiores ou designer de interiores decorador, confirmando a hipótese apresentada. A implicação disso é clara: precisamos reaprender a ensinar a projetação em Design de Interiores. Por fim, cabe explicar que a principal motivação deste trabalho foi a possibilidade de contribuir para a melhoria do ensino do Design de Interiores – em particular, o ensino da sua prática projetual. A crítica que aqui se desenvolve tem o único intuito de identificar pontos fortes e pontos fracos do ensino da prática projetual em Design de Interiores para elucidar oportunidades de melhoria e incitar ações de professores para melhor formarmos os designers de interiores brasileiros. O que se espera é que qualquer interessado na temática que leia este trabalho possa fazer associações entre a realidade apresentada e a sua realidade, comparando, analisando, refletindo e se orientando para implementação de mudanças. A seguir, são expostos os objetivos desta investigação. 7 Objetivo Geral Avaliar em que medida as disciplinas de prática projetual contribuem para a formação do perfil profissional almejado para os designers de interiores na contemporaneidade, especialmente no que se refere ao desenvolvimento de competências profissionais mínimas. Objetivos Específicos1. Estruturar um conceito de Design de Interiores, evidenciando o perfil profissional globalmente almejado para o designer de interiores; 2. Identificar e compreender as competências profissionais indispensáveis à prática profissional do Design de Interiores; 3. Caracterizar o ensino orientado por competências; 4. Caracterizar a disciplina de prática projetual em Design de Interiores; 5. Elaborar um parâmetro de pesquisa que possibilite avaliar o ensino da prática projetual em Design de Interiores, com enfoque no desenvolvimento de competências profissionais mínimas; e 6. Avaliar, por meio de estudo de caso, as disciplinas de prática projetual de uma turma de um curso superior de tecnologia em Design de Interiores. 8 CAPÍTULO 2 Ensaio epistemológico sobre o Design de Interiores Apresenta-se, neste capítulo, uma discussão sobre questões relacionadas à epistemologia do Design de Interiores. Não se pretende, com este texto, esgotar o assunto. Justamente por ser um tema pouco (ou quase nada) explorado em textos em português, este ensaio se justifica por representar uma busca por respostas ao que é o Design de Interiores e sua origem, seu objeto de trabalho, sua abrangência e seu corpo de conhecimento. Na medida em que nos propomos a investigar o ensino do Design de Interiores, as respostas a essas questões se fazem premissas. Primeiro, porque não é possível ensinar o exercício da prática profissional do Design de Interiores sem antes entendê-lo. Conhecer a sua origem, ter clareza sobre o seu objeto de trabalho, compreender a sua abrangência e estudar o seu corpo de conhecimento são pressupostos básicos para o professor que leciona uma disciplina de prática projetual em Design de Interiores. E tornam-se igualmente pressupostos para o pesquisador que se propõe a investigar o processo de ensino e aprendizagem dessa prática. Segundo, porque se, por meio da pesquisa e da educação formal, pretende-se contribuir para a evolução do campo do Design de Interiores, é preciso minimamente compreendê-lo. Entretanto, essa não é a realidade das publicações científicas da área no Brasil. Aqui, pouco se discute sobre a gênese e o significado do Design de Interiores. Há, por outro lado, grande preocupação com o fazer, com o resultado do ato de projetar, deixando-se à margem desse processo importantes fundamentos epistemológicos que lhe dão substância. Também por isso, tais conteúdos merecem a atenção que lhes é dada neste capítulo. Para tanto, buscou-se, inicialmente, conhecer as origens e as transformações vivenciadas pelo Design de Interiores ao longo do tempo, por meio de um breve panorama histórico. Após, procurou-se verificar como diversas associações de classe de diferentes países compreendem o Design de Interiores, bem como o fazem estudiosos da área, na tentativa de defini-la e de estabelecer o seu objeto de trabalho, os limites do campo e o seu corpo de conhecimento. 9 2.1 Um brevíssimo panorama histórico To look at our future, it is imperative that we consider our past (WHITE, 2009, p. xii). A história do Design de Interiores pode ser narrada sob diferentes aspectos. Pode ser contada focando-se na biografia de profissionais de relevo, na produção das Artes Decorativas, na relação com a Arquitetura e as Artes Plásticas, entre tantas outras possibilidades (HINCHMAN, 2013). Este trabalho analisa as principais transformações vivenciadas pela atividade em seu processo de profissionalização. Para tanto, fez-se indispensável compreender, mesmo que brevemente, o contexto histórico em que essa evolução se deu, destacando-se o francês dos séculos XVII e XVIII, o inglês dos séculos XVIII e XIX e o estadunidense do século XX, que fizeram com que esses países, cada qual em seu tempo, liderassem a profissionalização do Design de Interiores. Esses influentes contextos tornaram-se espelho para o desenvolvimento da profissão em diversos países, do que não escapou o Brasil. Há, também, que se destacar o forte e influente contexto histórico da Europa continental, sobretudo o alemão, cujas produções, especialmente na primeira metade do século XX, alavancaram a profissionalização do campo do Design de Produto, influenciando fortemente o campo do Design de Interiores. 2.1.1 Do decorador ao designer de interiores In short, interior designers may decorate, but decorators do not design (NCIDQ, 2017, on line). I A experiência francesa do final do século XVII até meados do século XVIII O contexto socioeconômico francês que se estabeleceu no reinado de Luís XIV, “o Rei Sol” (1643- 1715), e Luís XV, “o Bem Amado” (1715-1774), constituiu-se terreno propício para mudança de paradigma sem precedentes na história da aristocracia: do viver com suntuosidade visando à exibição pública de riqueza e poder – dando-se extremo valor às aparências e aos protocolos comportamentais – para o viver com conforto a partir da ideia de privacidade – com intensa preocupação com o bem-estar e a informalidade. Resultado marcante dessa transposição foram as grandes transformações implementadas na configuração dos ambientes de moradia, 10 colocando Paris, na virada do século XVIII, como centro mundial da vanguarda das Artes Decorativas (DEJEAN, 2012; MASCARENHAS, 1979). Para compreensão da grande mudança que se concretizava nas primeiras décadas do século XVIII, é preciso entender que a ideia do conforto como premissa para o viver cotidiano praticamente inexistia. A ornamentação, ao contrário, sempre esteve presente nos espaços de vivência dos aristocratas, sendo elaborada unicamente com o intuito de ser admirada e de reforçar o status de uma posição social privilegiada. Para obter o resultado majestoso e imponente proporcionado pela profusão de ornatos, recorria-se a um detalhado trabalho com os elementos arquitetônicos, tais como paredes, tetos, pisos, portas, janelas, escadas e guarda- corpos, cenário em que os poucos móveis de que se dispunha exerciam uma função secundária na composição dos cômodos. De modo geral, os interiores eram muito amplos, interconectados e não diferenciados, consequência dessa Arquitetura que visava impressionar, que dedicava muito esforço para elaborar fachadas imponentes, edificações grandiosas e ambientes de recepção deslumbrantes. Nada era pensado para promover a privacidade, para ser útil ou para proporcionar conforto (DEJEAN, 2012; GIBBS, 2013; MASCARENHAS, 1979). Em tempos de mudança de paradigma, os interiores passaram a influenciar o projeto da edificação. Começaram a ser entendidos como ambientes de vivência do cotidiano familiar, que possuem uma função determinada e que precisam ser ornamentados e mobiliados visando ao conforto de quem os utiliza e oferecendo-lhes privacidade. A Arquitetura, assim, precisou ser repensada em função da necessidade de conforto, de informalidade e de privacidade, bem como de higiene, dando forma ao lar moderno: aquele capaz de proporcionar tudo isso (DEJEAN, 2012). A abertura à casualidade6 e a adoração aos objetos que mobíliam e adornam uma casa, promovendo bem-estar aos indivíduos, são frutos do desejo coletivo pelo conforto que em Paris nascia e ali se tornava possível em larga escala, no seio de uma sociedade moderna que prosperava economicamente. No processo de concretização desse cenário, DeJean (2012) destaca a influência de duas personagens obcecadas por Decoração e Arquitetura: a marquesa de Montespan, mulher que convenceu o seu amante, o Rei Sol – monarca historicamente conhecido por sua paixão em construir e por sua obsessão pela magnificência e pela pompa –, 6 A casualidade deve ser entendida como a informalidade, ou seja, a não obediência às regras de etiqueta e aos protocolos rígidos que ritualizavam o dia a dia da aristocracia que precisava preservar o seu status perante o olhar da sociedade. Pode-se dizer que a ritualizaçãoestava para a valorização da vida pública (os que almejassem status jamais poderiam se portar de maneira informal; ideia da constante observação do olhar do outro) assim como a casualidade está para a valorização da vida privada (DEJEAN, 2012). 11 a considerar e a experimentar as vantagens de uma vida mais informal, confortável e privada; e a marquesa de Pompadour, amante do Bem Amado – monarca também historicamente conhecido por sua paixão em construir – e sua parceira na construção de inúmeras edificações onde a suntuosidade foi ofuscada pelo conforto, pela intimidade e pelo aconchego. Segundo DeJean (2012), a personalidade dessas duas mulheres e as suas alianças, respectivamente, com Luís XIV e Luís XV as possibilitaram influenciar comportamentos, ditar moda e patrocinar a criação de uma Arquitetura moderna, contribuindo para introjetar na sociedade parisiense de então esse novo conjunto de valores. Mascarenhas (1979), por outro lado, é enfática ao afirmar que o século XVII foi um século dos homens e que o reinado do Rei Sol – monarca de caráter egocêntrico, com amor à glória, vaidade e orgulho imensos – e todos os desenvolvimentos artísticos e culturais do período não tiveram nenhuma influência feminina. Entretanto, a autora corrobora a ideia de que, no final do reinado de Luís XIV, já era perceptível uma reação para menor pompa, maior alegria e simplicidade, contrapondo-se, em certa medida, com os valores de grande disciplina, ordem, exagerada etiqueta de corte, solenidade e luxo pomposo que lhe eram característicos. Fato é que o desejo por uma moradia confortável e por uma vida informal se proliferou na Paris do início do século XVIII e se fez realidade em razão das possibilidades econômicas da nova elite financeira que surgia. Pela primeira vez, os nouveaux riches – pessoas sem antecedentes aristocratas com alto poder de compra em função de uma riqueza adquirida dentro de sua própria geração (e não por herança familiar) – podiam morar e viver como as famílias mais tradicionais da nação. Nessa época de efervescência e criação, manufatureiros dedicavam-se a imaginar a vida das pessoas e a idealizar objetos que atendessem às suas necessidades. Nesse pano de fundo, surgiram, entre outros, a cômoda, o criado mudo, a penteadeira e o sofá, e os móveis deixaram de exercer uma função secundária e começaram a adquirir o status de Artes Decorativas (DEJEAN, 2012). Em 1735, a arte de tornar os espaços elegantemente convenientes e confortáveis – então denominada Decoração de Interiores – já estava adquirindo importância e tornando-se necessária. Afinal, em meio a tamanha profusão de objetos para o lar, nascia a demanda por um indivíduo capaz de articular harmoniosamente os diversos aspectos do mundo da Decoração. De início, os arquitetos, que já estavam envolvidos com o projeto da edificação, passaram a assumir também a ideação dos interiores. À medida que a Decoração se tornava independente da Arquitetura, um novo trabalhador se despontava: o decorador. Com essa possibilidade em mente, comerciantes do ramo, marceneiros e estofadores também passaram a orientar os seus 12 clientes – e o faziam por menos dinheiro que os arquitetos – sobre a decoração de suas casas (DEJEAN, 2012). [...] em meados do século XVIII a decoração de interiores havia se tornado o que chamamos de campo. Pela primeira vez, objetos eram valorizados não por serem deslumbrantes, mas por sua capacidade de se adequar a um contexto e, assim, fazer de um cômodo tanto um reflexo do gosto pessoal quanto um lugar que melhorava e facilitava a vida diária. Pela primeira vez havia pessoas cujo trabalho era ajudar os outros a escolher sua decoração e criar objetos que se encaixassem nos espaços interiores de seus clientes, além de arrumá-los em suas residências. Pela primeira vez, o mundo do estilo se abriu para o design em um novo sentido da palavra, um que incluía a ideia de arte do design, que unia forma e função. O novo campo também dava reconhecimento oficial ao fato de que artesãos e designers franceses estavam criando a indústria das artes decorativas (DEJEAN, 2012, p. 218). Nessa França da primeira metade do século XVIII, a atividade de Decoração de Interiores atingiu o seu ápice, utilizando, soberanamente, o estilo hoje conhecido por Rococó. E Paris, então centro de vanguarda, influenciou fortemente a Europa, com única exceção notável para a Inglaterra, que se mantinha fiel ao Neoclassicismo (DEJEAN, 2012; GIBBS, 2013). Movimento artístico que pretendia retomar os ideais estéticos da Antiguidade Clássica – em suma, a pureza da forma e da expressão da produção greco-romana que fora renegada pelo Rococó –, o Neoclassicismo se desenvolveu nas décadas de 1750 e 1760 e dominou o gosto europeu no final do século XVIII (FORTY, 2007). Nesse final de século, a França não mais ditava os gostos da Europa. Estava enfraquecida e perdia influencia em função de sua situação política e econômica. A Inglaterra, ao contrário, começava a se tornar influente como líder comercial e como potência colonial dominante no mundo, vivenciando grande prosperidade em função, também, da riqueza gerada pelas suas fábricas (DEJEAN, 2012; MASSEY, 2008). II A experiência inglesa de meados do século XVIII até o final do século XIX Em contraste à lógica e à rigidez greco-romano expressas no Neoclassicismo, a Era Vitoriana – assim denominado o período de prosperidade e paz no Reino Unido durante o reinado (1837- 1901) da rainha Vitória (1819-1901) –, foi marcada pelo uso excessivo do ornamento a partir de uma mistura de estilos do passado, fazendo proliferar diversos tipos de ornamentação decorativa. O estilo Vitoriano, caracterizado por sua profusão, energia e vitalidade, foi percebido por muitos contemporâneos como “o mau gosto em excesso” (PILE; GURA, 2014). 13 No final do século XIX, contudo, eclodiu, na Inglaterra – com destaque para William Morris7 (1834-1896), cujas ideias foram difundidas por meio do Arts and Crafts –, uma mentalidade de reação aos estilos do passado e uma vontade de criar um estilo novo, diferente de tudo o que já havia sido feito. Ademais, os ideais do Arts and Crafts iam de encontro à indústria e às suas produções. É que o uso excessivo do ornamento era também consequência de uma indústria que conseguia produzir de forma mais rápida e mais barata o que até então era produzido manualmente. Porém, faltava a essa produção industrializada o refinamento e o apuro estético de outrora (PEVSNER, 2001; PILE; GURA, 2014; FORTY, 2007). Para Pile e Gura (2014), essa falta de refinamento e apuro estético explica-se pela mudança no modo de produção dos objetos. Antes da mecanização, o trabalho era manual e o artesão dominava todo o processo de produção, possuía tradição no ofício e olhar apurado. Quando o maquinário e a linha de produção se tornaram realidade, o operário não dominava todo o processo de produção e, muito menos, os conteúdos estéticos. Nesse cenário, o responsável pela forma do produto (desenho do ornamento) era o dono da fábrica ou outro encarregado – que, igualmente, não possuíam tradição no ofício nem apuro estético –, e que se preocupava, acima de tudo, em entregar o que o mercado pedia: o máximo de ornamentação possível. E assim o fizeram, de uma maneira mais fácil, mais barata e mais lucrativa que o modo de fazer artesão. Em complemento, Forty (2007) explica que a falta de refinamento e apuro estético dos objetos produzidos em série não era consequência direta da introdução da mecanização no processo de produção, mas sim da ganância dos industriários, que, visando a maiores lucros, estimulavam a diminuição da qualidade dos produtos e exigiam uma produção cada vez mais veloz (ideia da quantidade e do lucro acima da qualidade). Para esse autor, os reformadores do Design que atribuíam o mau gosto vigente ao uso da máquina não questionavam esse sistemaporque 7 John Ruskin (1819-1900) é também uma figura importante nesse contexto. Suas ideias influenciaram o pensamento de Morris. Aquele defendia a volta do estilo Gótico medieval por ser uma prática honesta no uso dos materiais (que expressavam a função do objeto e as técnicas de produção empreendidas) e por enfatizar a manufatura de alta qualidade como única forma de alcançar referida honestidade. Seu objetivo era banir o excessivo e feio ornamento. Morris almejava unir arte e ofício e desejava que a arte fizesse parte do dia a dia das pessoas, exercendo uma importante função nos interiores. Para ele, a produção industrial era indesejável, especialmente porque alienava o trabalhador de qualquer contribuição criativa nos produtos por ele produzidos. Morris defendia a concepção de uma produção feita para todos, na qual o ornamento é sinônimo de excesso e o significado de funcionalidade é muito forte – os produtos devem ser aceitáveis por todos, sendo o seu “bom funcionamento” uma necessidade básica. Assim, o belo deveria ser consequência da perfeita adequação do objeto ao material e ao uso. Entretanto, ao mesmo tempo em que idolatrava o artesanato criativo como uma alternativa à produção em massa e ao fim da distinção entre artesão e artista, o raciocínio da produção para muitos mostrava-se contraditório, pois, devido ao processo artesanal de produção, não conseguia atender à demanda, fazendo com que os produtos fossem mais caros (MASSEY, 2008; PEVSNER, 2001; PILE; GURA, 2014). 14 também lucravam com ele. Morris, ao contrário, foi um dos poucos contemporâneos que se aprofundou na questão e acusou a cobiça humana pelo mau gosto produzido por meio das máquinas. Para Adolf Loos (1980), esse ornamento que impregnava as manifestações artísticas com inspiração no passado era incapaz de expressar o cenário cultural que se vivenciava e não mais estaria coerente com o modo de viver do homem do início do século XX. O contexto era de consolidação da Revolução Industrial. Liderada pela Inglaterra desde a metade do século XVIII, referida revolução havia imprimido uma nova estrutura social e econômica no país e nos de sua influência8, diferente de qualquer maneira de viver experimentada até então (MASSEY, 2008; PEVSNER, 2001; PILE; GURA, 2014). Em meados do século XIX, a economia agrícola estava gradualmente sendo substituída pela economia industrial, impulsionando o desenvolvimento de muitas cidades (COLEMAN, 2002). Os avanços no campo das ciências e das tecnologias propiciaram a oferta de educação, lazer, transporte e saúde orientado para as massas. Também nesse sentido, as modificações nas relações de produção se voltaram para uma lógica de consumo de massa (PEVSNER, 2001). Atinente aos interiores domésticos, eram muitas as novidades em termos tecnológicos que visavam ao conforto dos moradores, como a modernização dos sistemas de encanamento de água, de iluminação e de aquecimento (PILE; GURA, 2014). Somado a isso, grandes lojas de departamento na Inglaterra e nos Estados Unidos começaram a oferecer seções destinadas à venda de objetos para o lar, como tapetes, papéis de parede, tecidos, luminárias, vasos e outros itens de decoração (COLEMAN, 2002). Se, havia bem pouco tempo, as pessoas comuns possuíam poucos objetos em seus lares – lembrando que esses poucos objetos eram de origem manufatureira –, muitas já eram as opções de artefatos industrializados disponíveis para a configuração das casas (PILE; GURA, 2014). Produzidos em massa, sem apuro estético e com baixa qualidade, referidos objetos contribuíram para a percepção de falta de gosto e de refinamento do novo estrato social que os consumia: a classe média (MASSEY, 2008). As pessoas com poder aquisitivo eram cada vez menos aristocratas e cada vez mais produtores industriais autônomos ou profissionais ligados à indústria. Além da riqueza gerada pelas fábricas, novos profissionais com poder de compra surgiram com os negócios modernos, como vendedores, bancários, agentes de seguros e contadores (PILE; GURA, 2014). Essa classe média 8 França, Alemanha, Estados Unidos e outros países também cresceram em riqueza e status à medida que o processo de industrialização avançava (PILE; GURA, 2014). 15 queria viver com mais conforto e, por meio da decoração dos interiores de suas residências, queria também aparentar prosperidade e luxo, sem, contudo, possuir o bom gosto e o refinamento tradicionalmente inerentes à aristocracia (MASSEY, 2008). Socioeconomicamente acima da classe média estavam os nouveaux riches, donos das novas fortunas do final do século XIX. Se a classe média desejava aparentar luxo e prosperidade, eles queriam, ainda, demonstrar poder por meio da decoração de suas casas (BROOKER; STONE, 2014). Como de costume, comerciantes do ramo, artesãos, marceneiros e estofadores ofereciam sugestões para decoração e layout das casas e, diante dessa situação, passaram também a dar atenção às residências da classe média. Os arquitetos, à época, estavam mais interessados em edifícios públicos e comerciais, e como era de costume, trabalhavam com projetos em que assumiam o controle total da construção, responsabilizando-se pela estrutura arquitetônica e por seus interiores (BROOKER; STONE, 2014; EDWARDS, 2010). Ademais, muitos aristocratas em situação de decadência perceberam a oportunidade de utilizar o seu bom gosto e a sua sofisticação de berço para auxiliar os novos ricos na decoração de suas casas (GIBBS, 2013). Como esses aristocratas, diversos entusiastas, especialmente mulheres, cada vez mais ofereciam os serviços de Decoração de Interiores. III A experiência estadunidense do início do século XX Nos Estados Unidos, em especial, havia o entusiasmo pelo Ecletismo9, ou seja, pela imitação e pela mistura de estilos antigos conforme conveniência (MASSEY, 2008). A onda de construção de edifícios ecléticos demandou especialistas que soubessem produzir os interiores em coerência com a Arquitetura da edificação, visando alcançar o desejado efeito de cultura, prosperidade e status (PILE; GURA, 2014). O contexto socioeconômico norte-americano – e também o inglês – do final do século XIX e início do século XX possibilitou a contratação de decoradores de interiores, impulsionando a 9 Nos Estados Unidos da América, onde não havia tradição em estilos históricos, a prática de copiar os estilos do velho mundo trazia consigo cultura, prosperidade e status tradicionalmente associados à aristocracia europeia. O Ecletismo foi venerado nesse país, sendo abundantemente empregado em universidades, catedrais, edifícios governamentais, entre outros. Na Europa, entretanto, parece que a cópia fiel a estilos antigos não era atraente devido à existência de reais exemplares históricos, apesar de o Classicismo ter sido fortemente empregado como estilo oficial de construções governamentais, transparecendo formalidade, tradição e solidez (PILE; GURA, 2014). 16 atividade e a figura do decorador. Esse decorador, contando com senso estético e uma grande autoconfiança, era responsável pela seleção e coordenação de tecidos, revestimentos de piso e paredes, mobiliário, iluminação e um esquema global de cores para o(s) cômodo(s) em questão, criando cenários suntuosos (BROOKER; STONE, 2014; MASSEY, 2008). Além disso, O decorador típico era treinado para conhecer os estilos históricos, para ser hábil em reunir os muitos elementos que compõe um interior e, muitas vezes, ser um especialista em aquisição de antiguidades, obras de arte e tudo o que fosse necessário para concluir um projeto. […] A capacidade de encantar, persuadir e ajustar-se aos caprichos dos clientes ricos eram habilidades essenciais (PILE; GURA, 2014, p. 314, tradução nossa10). De modo geral, pode-se dizer que, desde o início do século XVIII, artesãos, estofadores, marceneiros, varejistas, arquitetos e entusiastas exerceram a atividade de Decoraçãode Interiores, oferecendo aconselhamentos sobre o arranjo e a composição dos espaços a partir da noção de bom gosto, de bom senso e de um talento natural (DEJEAN, 2012; EDWARDS, 2010; GIBBS, 2013; MASSEY, 2008; WHITE, 2009). No entanto, como explicam Avery (2008), Brooker e Stone (2014), Gibbs (2013) e Massey (2008), antes do século XX, a profissão de Decoração de Interiores não existia; foram as mudanças sociais e as circunstâncias econômicas desse século que possibilitaram a ascensão do decorador de interiores. Lees-Maffei (2008), entretanto, acredita que o processo de profissionalização da Decoração de Interiores tenha se iniciado na década de 1870, impulsionado especialmente pela presença social feminina. Na Grã-Bretanha, dentre outros indícios, destaca-se a publicação do livro House Decoration in Painting, Woodwork and Furniture, das primas Agnes (1845-1935) e Rhoda Garrett (1841-1882), datado em 1876, em que já se registrava a aspiração dessas mulheres de serem vistas como decoradoras profissionais. Durante a década de 1880, a norte-americana Candace Wheeler (1827-1923), considerada por Edwards (2010) a mãe da profissão de Decoração de Interiores, foi uma das primeiras mulheres a trabalhar profissionalmente em uma área até então dominada por homens. Ela se empenhou muito para promover a ideia da empregabilidade profissional feminina. Dentre outras iniciativas, Wheeler fundou, em 1877, na cidade de Nova York, a Society of Decorative Art – organização dedicada a treinar artistas e artesãs para as artes aplicadas e a comercialização dos 10 Texto original: “The typical decorator was trained to know period styles, to be skillful in assembling the many elements that go into an interior, and, often, to be an expert in acquisition of antiques, art works, and whatever else might be required to complete a project. […] The ability to charm, cajole, and adjust to the whims of wealthy clients were essential skills" (PILE; GURA, 2014, p. 314). 17 seus produtos –, e, em 1895, publicou o artigo Interior Decoration as a Profession for Women (EDWARDS, 2010; MASSEY, 2008). Em 1897, a também norte-americana Edith Wharton (1862-1937) e seu compatriota Ogden Codman Jr (1863-1951) publicaram o livro The Decoration of Houses, obra que permaneceu relevante por mais de quarenta anos e em que Wharton e Codman defenderam a ideia de que a verdadeira base da atividade estava na adequação do mobiliário e de artefatos aos interiores da tradicional e robusta Arquitetura europeia, utilizando-se de estilos clássicos com simetria e proporção (COLEMAN, 2002; EDWARDS, 2010). No início do século XX, ainda nos Estados Unidos – que começava a se consolidar como potência mundial econômica –, destaca-se Elsie de Wolfe (1865-1950), que, contemporânea de Wharton e discípula de sua abordagem, é considerada por muitos autores como pioneira na profissão de Decoração de Interiores no país (COLEMAN, 2002; EDWARDS, 2010; GIBBS, 2013; HINCHMAN, 2013; LEES-MAFFEI, 2008; MASSEY, 2008; PILE; GURA, 2014; TURPIN, 2007). Atriz e socialite, Wolfe decorou a própria casa valendo-se de estilos mais simples para transformar típicos quartos vitorianos, o que chamou a atenção das pessoas de seu círculo de convivência. Interessadas em seu talento, essas pessoas começaram a pedir à amiga ajuda para decorar suas casas e, dada a influência social que muitas delas tinham, Wolfe ganhou projeção na área da Decoração (PILE; GURA, 2014). Profissionalizando-se, Elsie de Wolfe, segundo Massey (2008), estabeleceu um padrão para o exercício da atividade, que posteriormente seria replicado por outros decoradores. Tratava-se de um trabalho comissionado com 10% de todo o custo empreendido na decoração, viagens à Europa para coletar informações sobre móveis e tecidos, a manutenção de um extensivo contato social com clientes em potencial e o uso do antigo estilo francês11. Edwards (2010), contudo, explica que Wolfe [...] estava entre os primeiros “decoradores” a receber um pagamento por seus serviços de decoração, em vez de uma comissão sobre a venda de móveis comprados por meio de um varejista. Essa mudança no processo de pagamento significou uma revisão da percepção de uma atividade diletante para uma abordagem profissional (EDWARDS, 2010, p. 55, tradução nossa12). 11 Interessante pontuar que o historicismo não era a preferência de Wolfe. Entretanto, a natureza dos seus clientes e de suas casas projetadas por arquitetos ecléticos conduziu o trabalho de Wolfe em direção à imitação de estilos do passado (PILE; GURA, 2014). 12 Texto original: “[...] was amongst the first ‘decorators’ to receive a fee for her design services rather than a commission on the sale of furniture purchased via a retailer. This change in the payment process signified a revision of perceptions from the dilettante to the professional” (EDWARDS, 2010, p. 55). 18 Seja como for, nos decênios de 1920 e 1930, a Decoração de Interiores atingiu o seu auge e registrou-se um aumento significativo no número de decoradores, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, interessados em se aventurar na área, inspirados por Wolfe (MASSEY, 2008). “Parece provável que todas as grandes cidades americanas e muitas ao redor do mundo tiveram pelo menos uma mulher, se não muitas, que, inspiradas por Elise [sic] de Wolfe ou Dorothy Draper, se voltaram para os interiores e lá encontraram uma vocação e uma carreira” (HINCHMAN, 2013, p. x, tradução nossa13). Elsie de Wolfe exercia a Decoração de Interiores a partir de seu bom gosto, de seu bom senso e de seu talento natural. E, assim como ela, muitos dos primeiros decoradores de interiores não receberam treinamento formal para exercer a atividade. Todavia, nos anos 1930, uma nova geração de decoradores encontrava seu espaço, com maior treinamento formal e maior abordagem comercial (MASSEY, 2008). Nancy McClelland (1877-1959) – importante figura no processo de profissionalização da atividade, com destaque para o fato de ter sido membro fundador do American Institute of Interior Decorators e a primeira mulher a assumir a sua presidência (1941-1944) – recomendava, para os interessados em atuar na área, um curso em uma escola de artes aplicadas, onde a pessoa teria a oportunidade de aprender a desenhar, receber um treinamento em Arquitetura e desenvolver um conhecimento técnico sobre cores. Para mais, seria importante que o aspirante a decorador de interiores buscasse conhecimentos relacionados à iluminação, materiais, história, móveis, tapetes, pinturas e ornamentos, conhecimentos esses, segundo ela, facilmente adquiríveis por meio de viagens (EDWARDS, 2010; LEES-MAFFEI, 2008). Importante frisar que a produção industrial e as inovações tecnológicas das primeiras décadas do século XX – tais como o telefone, banheiros e cozinhas sofisticados, elevadores e iluminação elétrica (GIBBS, 2013) – modificaram substancialmente o modo de viver de muitas sociedades, exigindo que os interiores luxuosos fossem adaptados a elas. Além disso, exigiram dos decoradores de interiores uma capacitação que os possibilitasse integrar esses novos produtos e tecnologias aos seus projetos (PILE; GURA, 2014). 13 Texto original: “It seems likely that every major American city and many across the globe had at least one woman, if not many, who, inspired by Elise de Wolfe or Dorothy Draper, turned to interiors and there found a calling and a career” (HINCHMAN, 2013, p. x). 19 IV A influência das produções da Europa continental A segunda metade do século XIX é marcada por importantes acontecimentos na Arte, na Arquitetura e na cultura em geral. No que compete aos estilos decorativos, devem ser destacados os movimentos Arts and Crafts (Artes e Ofícios) e o Art Nouveau. Reagindo aos efeitos da industrialização que teriam causado a queda na qualidade dos bens produzidos, o Movimento Arts and Crafts defendia