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Fichamento 11 - Marx - O Capital (Capítulo 4 A transformação do dinheiro em capital)

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Victor Rodrigues de Freitas – Nº USP 11239445 
Fichamento 11 - Capítulo 4 – A transformação do dinheiro em capital. 
MARX, Karl (1983) O Capital - Crítica Da Economia Política. Coleção “Os Economistas”, São 
Paulo, Abril Cultural 
1. Objetivo do texto 
Nessa seção Marx tem como objetivo analisar o movimento D-M-D ao contrapô-lo ao 
movimento simples de circulação de mercadorias e identificar como que ele gera mais-valor. 
Marx aponta a mercadoria força de trabalho como a responsável pela criação da mais-valia e 
descreve as suas características. 
2. Pontos principais 
O autor contextualiza o surgimento do capital: a circulação de mercadorias e o comércio 
produziram um embasamento material e histórico para o surgimento do capital. Assim, o dinheiro 
é a primeira forma de manifestação do capital. É a partir do processo de transformação que o 
dinheiro sofre no movimento de trocas que o capital se insere no mercado. 
Marx explica e diferencia os processos de venda-compra (Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria) e 
compra-venda (Dinheiro-Mercadoria-Dinheiro): o movimento M-D-M tem o dinheiro como 
mediador do processo de trocas e possui finalidade no valor de uso; o movimento D-M-D tem a 
mercadoria como mediadora do processo de trocas e possui finalidade no valor de troca. Por esses 
motivos, o processo de venda-compra (M-D-M) apresenta uma distinção qualitativa entre o 
momento inicial e o momento final e o processo de compra-venda (D-M-D) apresenta uma 
distinção quantitativa entre o momento inicial e o momento final, uma vez que o material é o 
mesmo - dinheiro – e pretende-se acabar com mais dinheiro do que possuía no início. 
O autor aponta que o movimento de compra-venda (D-M-D) implica na finalidade de 
transformar dinheiro em dinheiro (D-D). Essa finalidade só faz sentido se houver um ganho a mais 
de dinheiro no final do processo, caso contrário seria melhor entesourar o dinheiro inicial para não 
o colocar em risco no processo de trocas. 
O autor apresenta a fórmula geral do capital, que inicialmente dá-se por D-M-D, mas, na 
realidade, é D-M-D’, onde D’ = D + d. O incremento do dinheiro final (d) é chamado de mais-
valor. A presença de mais-valor nesse processo determina o aparecimento do capital. Nas palavras 
do autor: “Esse incremento, ou o excedente sobre o valor original, chamo de — mais-valia (surplus 
value). O valor originalmente 
adiantado não só se mantém na circulação, mas altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta 
mais-valia ou se valoriza. E esse movimento transforma-o em capital.” 
Logo, para Marx, o conceito de capital é, na verdade, o processo de valorização de um valor 
inicial. Portanto, nem todo dinheiro é considerado capital, apenas o dinheiro que está em um 
processo de criar mais valor a partir dele, isto é, mais dinheiro. O autor determina o agente central 
desse processo: o capitalista. Este caracteriza-se como um agente consciente do movimento do 
dinheiro em capital. Isso acontece apenas quando busca-se interminavelmente a valorização do 
valor já conquistado, incitando um incessante movimento do lucro. 
O autor conclui que no movimento de compra-venda (D-M-D’) tanto a mercadoria quanto o 
dinheiro representam, de formas diferentes, valor. Com isso, uma vez que eles apresentam a 
finalidade de obter mais valor, ambos são formas do capital. Então, o capital pode ser conceituado 
como valor em processo de valorização dentro do movimento de D-M-D’, seja como dinheiro, seja 
como mercadoria. Assim, o capital é um processo. 
Na segunda parte, Marx retoma que, mesmo com a consolidação do processo de compra-venda 
(D-M-D), a circulação simples de mercadorias (M-D-M) ainda existe. Isso porque, na perspectiva 
de um indivíduo não capitalista, a compra e a venda são apenas processos pontuais. Procura-se, 
então, investigar se existe o processo de valorização na forma simples de circulação. 
Para construir essa investigação, o autor analisa que a troca, na perspectiva de uma pessoa, 
nada mais é do que uma metamorfose da forma de mercadoria: ora dinheiro, ora mercadoria dotada 
de valor de uso, mas sempre representa a mesma quantidade de trabalho social objetivado. Portanto, 
no que diz valor de uso, ambos os lados da troca saem ganhando. 
Porém, no que diz valor de troca, isso não é verdade, uma vez que “onde há igualdade não 
há lucro” O autor conclui que o capital não pode ter origem na circulação de mercadorias — já que 
a circulação não produz mais-valor — e, ao mesmo tempo, o capital tem que ter origem nela — já 
que é na ação do capitalista retirar mais valor do que inseriu na circulação que o capital se 
consolida. 
Na última parte do capítulo, Marx aponta que a mudança de valor do dinheiro não pode 
correr nesse mesmo dinheiro. Assim, essa mudança de valor tem que ocorrer na primeira iteração 
do processo de circulação (D-M), a partir da compra de uma mercadoria que seu próprio valor de 
uso tenha uma característica peculiar de produzir mais valor. Essa mercadoria é a força de 
trabalho. Para a força de trabalho ser encontrada no mercado como mercadoria, o autor cita duas 
características essenciais: (1) O vendedor da força de trabalho (trabalhador) tem que ser uma 
pessoa livre, dona de sua própria força de trabalho; ou seja, não escravizada ou em regime de 
servidão; (2) O vendedor da força de trabalho (trabalhador) está em uma situação que não possui 
outra mercadoria para vender, restando-lhe apenas a força de trabalho como mercadoria para 
alcançar outras mercadorias que lhe tenham valor de uso, a fim de satisfazer suas necessidades. 
Em outras palavras, o trabalhador encontra-se privado de ter os meios de produção. 
Marx aponta que a diferença entre possuidores de dinheiro e mercadorias e possuidores 
de força de trabalho não se dá naturalmente, mas é fruto de um processo histórico que destruiu 
uma série de “formas anteriores de produção social”. A partir dessa análise histórica, Marx 
afirma que o capital só surge a partir do momento que há um detentor dos meios de produção e 
um vendedor da sua força de trabalho. 
O autor examina especificamente a mercadoria força de trabalho: o valor da mercadoria 
força de trabalho é determinado como todas as mercadorias: pelo tempo de trabalho necessário 
para sua produção e reprodução. Como o vendedor da força de trabalho é um indivíduo que 
possui necessidades de subsistência, o valor da força de trabalho é igual ao valor dos meios de 
subsistência necessários para a manutenção do trabalhador e de seus dependentes (filhos). 
O valor de uso que o possuidor do dinheiro recebe na troca só será concretizado ou 
usufruído no consumo da força de trabalho. Esse processo de consumo da força de trabalho é 
o momento que sintetiza a produção da mercadoria e do mais-valor.

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