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Reflexões sobre a Sociabilidade Burguesa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
REITOR
Angelo Roberto Antoniolli
VICE-REITORA
Iara Maria Campelo Lima
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
COORDENADOR DO PROGRAMA EDITORIAL
Péricles Morais de Andrade Júnior
COORDENADORA GRÁFICA
Germana Gonçalves de Araújo
CONSELHO EDITORIAL
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Aurélia Santos Faroni
Fabiana Oliveira da Silva
Germana Gonçalves de Araujo
Luís Américo Bonfim 
Mackely Ribeiro Borges
Maria Leônia Garcia Costa Carvalho
Martha Suzana Nunes
Péricles Morais de Andrade Júnior (Presidente)
Rodrigo Dornelas do Carmo
Samuel Barros de Medeiros Albuquerque
Sueli Maria da Silva Pereira
Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos
CEP 49.100 - 000 – São Cristóvão - SE.
Telefone: 3194 - 6922/6923.
E-mail: editora.ufs@gmail.com
Site:www.editora.ufs.br
Organizadores 
 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS 
EVERTON MELO DA SILVA 
LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
São Cristóvão / 2019
Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização 
escrita da Editora.
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, 
adotado no Brasil em 2009.
PROJETO GRÁFICO, CAPA E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Rafael Jesus de Oliveira
IMAGEM DE CAPA
Foto por Yolanda Sun, diposnível no site da Unsplash
Ficha Catalógrafia elaborada pela Biblioteca Central -
Universidade Federal de Sergipe
R312r 
Reflexões sobre a sociabilidade burguesa / Paulo Roberto Félix dos Santos, Everton Melo da 
Silva, Laryssa Gabriella Gonçalves dos Santos, orgs. – São Cristóvão : Editora UFS, 2019.
 220 p. ; il.
 
 ISBN: 978-85-7822-649-7
 1. Sociologia política. 2. Classe média. 3. Capitalismo. 4. Serviço social – Estudo e 
ensino. I. Santos, Paulo Roberto Félix dos. II. Silva, Everton Melo da. III. Santos, Laryssa 
Gabriella Gonçalves dos. 
 CDU: 316.275:323.3-058.13
ESTADO
E SUAS EXPRESSÕES NO CAPITALISMO
CONTEMPORÂNEANA CENA
EDUCAÇÃO E SERVIÇO SOCIAL
SUMÁRIO
7
 
APRESENTAÇÃO
13
 
O FETICHE DA CIDADANIA 
análise de seus fundamentos a partir do desenvolvimento mercantil-capitalista
Paulo Roberto Félix dos Santos
29
 
PROPRIEDADE PRIVADA E ESTADO NAS SOCIEDADES DE CLASSES
Everton Melo da Silva
48
 
O ESTADO MODERNO EM PERSPECTIVA
Fernando de Araújo Bizerra
66
 
ESTADO, REPRODUÇÃO DO CAPITAL E A CONSTRUÇÃO 
DE BARRAGENS NO BRASIL
Milena Barroso e Yanne Angelim
83
 
CRISE DO CAPITAL 
Estado e sindicalismo no Brasil
Albany Mendonça Silva
99
 
ÉTICA E ONTOLOGIA 
elementos introdutórios para uma interpretação ontológica 
materialista oposta à ética burguesa
Débora Rodrigues Santos
116
 
A EDUCAÇÃO ENQUANTO POLÍTICA SOCIAL NO CAPITALISMO 
reflexões sobre a educação para o trabalho no contexto brasileiro
Maria Auxiliadora Silva Moreira Oliveira e Maria da Conceição Almeida Vasconcelos
134
 
SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO 
elementos para o debate sobre o exercício profissional de assistente social
Ingredi Palmieri Oliveira
150
 
SERVIÇO SOCIAL E EXERCÍCIO PROFISSIONAL NOS ANOS 1990 
notas sobre a noção de competência na Lei de Regulamentação da Profissão
Laryssa Gabriella Gonçalves dos Santos e Maria Lúcia Machado Aranha
169
 
DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES 
E ESCOLHAS PROFISSIONAIS DAS JUVENTUDES DO IFS
Ana Paula Leite Nascimento e Maria Helena Santana Cruz
184
 
O CAMPO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ALGUNS DESAFIOS 
AO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO
Carla Alessandra da Silva Nunes, Josiane Soares Santos e Ticiane Pereira dos Santos Vieira
202
 
CRUZANDO A TRAVESSIA 
retrocessos no Licenciamento Ambiental em tempos de Golpe no Brasil
Maria das Graças e Silva e Iris Pontes Soares
7
APRESENTAÇÃO
Vivemos tempos difíceis, tempos de retrocessos, de desafios e de 
incertezas. Tempos em que a mais aguda crise do capital incide como uma 
avalanche sobre nossa sociabilidade, produzindo escombros e ruínas, que 
impactam os modos de ser e reproduzir do conjunto dos indivíduos sociais. 
Tempos em que a volúpia dessa forma social mercantil-burguesa parece 
dragar tudo e todos/as, traduzindo-se em quadra histórica que coloca a hu-
manidade diante do dilema da sua própria existência.
Se, por um lado, o desenvolvimento sociometabólico do capital encer-
ra processo em que se manifesta de forma perversa sua lógica destrutiva, por 
outro, esse processo não passa incólume pelas manifestações antagônicas 
dos segmentos representativos do trabalho. Isso porque, também, conforme 
nos adverte Iasi (2008) “vivemos tempos de dizer que não são tempos de 
calar”1. É nessa esteira que esta coletânea, Reflexões sobre a sociabilidade 
burguesa, que ora apresentamos ao público, se põe, como voz dissonante 
que ousa ecoar, mesmo em tempos de barulho conservador.
A iniciativa de elaborar esta obra não poderia surgir em momento 
mais oportuno. Os artigos aqui reunidos se dedicam à análise da cena con-
temporânea, cujas marcas indeléveis, via crise capitalista, nos abarcam a 
todos/as, e à consolidação de proposta de construção de espaço de pensa-
mento crítico, empreendida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas, 
vinculado à Universidade Federal de Sergipe (GEPEM/UFS). Nessa medida, 
a presente coletânea congrega a articulação de rigorosa análise acadêmica 
com o necessário compromisso político.
É no enfretamento da ideologia do pensamento único, que este con-
junto de artigos encontra guarida, passando em revista a falácia que tende a 
conformar uma ambiência apologética de vitória inconteste da sociabilidade 
mercantil-capitalista, atentos/as à dinâmica contemporânea, os/as autores/
as assumem a disposição para o debate, apresentando sólidos elementos 
de contestação.
Como poderá ser percebido na leitura do material, os/as autores/
as não hesitam “em não se calar”. A partir de pesquisas concluídas, e em 
1 IASI, M.L. MetaAmorFases – coletânea de poemas. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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andamento, traduzindo-se em universo plural de temas e sujeitos, um veio 
comum costura o conjunto de artigos que compõem essa coletânea: o res-
gate da teoria social crítica. É assim que, a partir da “arma da crítica”, o/a 
leitor/a terá acesso à produção de pesquisadores/as – alguns/as jovens e 
outros/as com consolidada carreira acadêmica –, que representa o esforço 
científico de diversas instituições do país – UFS, IFS, UFAL, UFPE, UFRB, 
UFAM – em afirmar seu compromisso com uma produção do conhecimento 
socialmente referenciada e acolhedora das diferenças regionais do país.
Como o título anuncia, não se trata de uma abordagem asséptica, mas 
de uma que se nutre de perspectiva nítida e com alvo bem determinado e que 
busca tematizar os fundamentos da sociabilidade burguesa e seus impac-
tos na cena contemporânea. Reúne, para isso, perspectivas de análise que 
se preocupam com temas denotadores desse cenário, e cuja originalidade 
e relevância, no trato com conceitos e categorias, se põem como bússola 
necessária para a apreensão do conjunto de transformações societárias em 
curso, bem como para a leitura das principais tendências recentes.
Para mais bem organizar o temário que dá corpo a essa produção, 
subdividimos a coletânea em dois eixos que, apesar dessa escolha, não estão 
cindidos, mas, ao contrário, elaboram uma tessitura que confere unidade ao 
conjunto de artigos. Constituem, portanto, respeitadas as diferentes aborda-
gens, mosaico de problemas e temas que se articulam na crítica à sociabili-
dade burguesa, seus fundamentos, seu ethos e suas implicações, a partir da 
crise do capital, nos âmbitos da Educação e do Serviço Social.
Inserimos no eixo 1, Estado e suas Expressões no capitalismo, seis 
artigos que refletem sobre os fundamentos ontológicos da sociabilidade 
burguesa com foco nas temáticas: propriedade privada, Estado, cidadania, 
reprodução do capital e ética, propondo discussões que contribuam no des-
velamentodo real das relações sociais capitalistas.
O primeiro artigo, O fetiche da cidadania: uma análise de seus funda-
mentos a partir do desenvolvimento mercantil-capitalista, de Paulo Roberto 
Félix dos Santos, nos traz reflexão sobre os resultados preliminares dos seus 
estudos de doutoramento em Serviço Social na UFRJ acerca dos fundamen-
tos, da estrutura e dos determinantes que consubstanciam a cidadania na 
sociedade regida pelo capital, alinhando o rigor da crítica ontológica da eco-
nomia política proposta pela Teoria Social de Marx com os problemas postos 
pela realidade social no capitalismo contemporâneo.
Com base na literatura histórico-crítica do pensamento marxiano e 
da tradição marxista, o doutorando em Serviço Social/UFAL, Everton Melo 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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da Silva, traz, em seu artigo Propriedade privada e Estado nas sociedades de 
classes, reflexão sobre a gênese, o desenvolvimento e os determinantes só-
cio-históricos da propriedade privada e do Estado nos processos de produção 
e reprodução social na história da humanidade. Essa reflexão é produto dos 
resultados de pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Gra-
duação em Serviço Social da UFAL.
Empenhado em responder, pela via da perspectiva histórico-crítica 
marxiana e de pensadores da tradição marxista, a indagação “o que é o Esta-
do tal qual constituído em sua modalidade moderna?”, o teórico Fernando de 
Araújo Bizerra, professor e doutorando em Serviço Social/UFAL, traz, em seu 
artigo O Estado moderno em perspectiva, alguns delineamentos teóricos so-
bre os fundamentos ontológico e histórico do Estado moderno e sua relação 
de complementaridade com a reprodução sócio-metabólica do capital.
No quarto artigo do primeiro eixo desta coletânea, Estado, reprodução 
do capital e a construção de barragens no Brasil, de autoria de Milena Barroso 
e Yanne Angelim, doutorandas em Serviço Social pela UERJ, temos o debate 
sobre a apropriação capitalista da natureza, especificamente por meio da 
construção de barragens, enquanto estratégia de acumulação capitalista no 
âmbito do capitalismo no Brasil, com a participação vital do Estado cumprin-
do função social de garantir a reprodução do capital.
A autora Albany Mendonça Silva, professora da UFRB e doutoranda 
em Serviço Social pela UFRJ, em seu artigo Crise do capital: Estado e sin-
dicalismo no Brasil, reflete sobre as mudanças estruturais, no contexto de 
crise de reprodução do capital, que impactaram no processo de organização 
sindical da classe trabalhadora, como o “refluxo do movimento sindical” e a 
“contrarreforma sindical legitimadora do sindicalismo de Estado”.
Alinhada ao pensamento marxiano e ao filósofo húngaro György Luká-
cs, Débora Rodrigues Santos, professora da UFRB e doutoranda em Serviço 
Social pela UFRJ, traz,em seu artigo Ética e ontologia: elementos introdutó-
rios para uma interpretação ontológica materialista oposta à ética burguesa, 
alguns elementos introdutórios sobre o complexo da ética e a ontologia do 
ser social contrapondo-se à hegemonia do pensamento burguês dominante.
No segundo eixo, Educação e Serviço Social na Cena Contemporânea, 
a coletânea apresenta mais seis artigos, todos alinhados com rigor da Teoria 
Social de Marx, sobre temáticas atuais e pertinentes, como educação, edu-
cação ambiental, questão ambiental, Serviço Social, juventude e profissões e 
formação profissional.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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O primeiro artigo desse eixo, de autoria da egressa do Programa 
de Pós-Graduação em Serviço Social/UFS, Maria Auxiliadora Silva Morei-
ra Oliveira, e da professora Dr.ª Maria da Conceição Almeida Vasconcelos 
(UFS), intitulado A educação enquanto política social no capitalismo: refle-
xões sobre a educação para o trabalho no contexto brasileiro. faz análise da 
educação enquanto política social que tem contribuído com a reprodução 
do capital por meio da socialização e disseminação de ideias, princípios e 
diretrizes geradas no interior do capitalismo.
O segundo artigo, da egressa do Programa de Pós-Graduação em 
Serviço Social/UFS, Ingredi Palmieri Oliveira, intitulado Serviço Social e Edu-
cação: elementos para o debate sobre o exercício profissional de assisten-
te social, trata da necessidade do profissional do Serviço Social na esfera 
da educação, uma vez que expressões da questão social, como violência, 
trabalho infantil, discriminação, gravidez na adolescência, entre outros, se 
apresentam no âmbito escolar, com interferência nos processos de ensino 
e de aprendizagem, o que demanda a intervenção desse profissional, para 
encaminhar soluções adequadas.
Ainda na perspectiva do exercício profissional do assistente social, 
a egressa do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/UFS, Laryssa 
Gabriella Gonçalves dos Santos, e a professora Dr.ª Maria Lúcia Machado 
Aranha (UFS) abordam em Serviço Social e exercício profissional nos anos 
1990: notas sobre a noção de competência na lei de regulamentação da pro-
fissão, as transformações na formação e no exercício profissional na década 
de 1990, considerando a inovação no aparato legal da profissão (Diretrizes 
da ABEPSS/1996, Lei de Regulamentação/1993 e Código de Ética/1993). O 
foco recai na Lei de Regulamentação da profissão, mais precisamente nas 
competências profissionais consideradas a partir da noção de competência 
apropriada pelo capitalismo em sua fase contemporânea.
O quarto artigo desse eixo, de autoria da doutoranda do Programa 
de Pós-Graduação de Educação/UFS Ana Paula Leite Nascimento e da pro-
fessora Dr.ª Maria Helena Santana Cruz (UFS), intitulado Divisão sexual do 
trabalho e construção das identidades e escolhas profissionais das juventu-
des do IFS, analisa a divisão sexual do trabalho e os seus rebatimentos na 
construção das identidades e escolhas profissionais, trazendo à tona retrato 
das escolhas profissionais das juventudes do Instituto Federal de Educação, 
Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS).
No que refere à área da educação ambiental, o artigo O campo da 
Educação Ambiental e alguns desafios ao Serviço Social brasileiro, de autoria 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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da professora do DSS/UFS e doutorando em Serviço Social/UFRJ Ms. Carla 
Alessandra da Silva Nunes, da professora Dr.ª Josiane Soares Santos (UFS) 
e da egressa do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/UFS Ticiane 
Pereira dos Santos Vieira, debate as possibilidades de intervenção dos as-
sistentes sociais nas expressões da chamada “questão ambiental”, enten-
dendo-se que esta inclui elementos necessariamente relacionados ao modo 
vida e de produção das relações sociais. Entre possibilidades, se encontra 
o campo da educação ambiental como política pública capaz de socializar 
informações e potencializar o controle social pelos sujeitos afetados em 
distintos processos de apropriação da natureza, na defesa do direito cons-
titucional ao meio ambiente.
Nessa direção do debate da questão ambiental, no artigo que encerra 
a coletânea, intitulado Cruzando a travessia: os retrocessos no Licenciamento 
ambiental em tempos de golpe no Brasil. das autoras convidadas da Universi-
dade Federal de Pernambuco (UFPE), professora Dr.ª Maria das Graças e Silva 
e da mestranda do Programa de Pós-graduação em Serviço Social/UFPE Iris 
Pontes Soares, refletem sobre os rumos do licenciamento ambiental no Brasil 
em tempos de crise estrutural do capital e do processo de financeirização do 
meio ambiente. Pretendem as autoras apontar os impasses que enfrenta o 
licenciamento ambiental no país, apontando o processo de desmonte desde 
a chamada era Lula-Dilma, bem como a intensificação desse processo, na me-
dida em que o Governo Federal pós-golpe se alinha radicalmente aos ideários 
neoliberais mais conservadores impostosaos países periféricos.
Esta obra, aqui brevemente apresentada, é um convite à leitura, e, sobre-
tudo, à reflexão acerca dos dilemas contemporâneos que impõem ao conjunto 
da humanidade urgência na construção de estratégias de superação desse es-
tado de coisas que conformam a sociabilidade burguesa e as consequências 
dela derivadas. Que os leitores desta coletânea façam muito boa leitura dos 
artigos nela contidos e que desse exercício resultem reflexões, polêmicas e 
debates que permitam avançar na perspectiva da emancipação humana.
São Cristóvão, julho de 2017
Paulo Roberto Félix dos Santos
Everton Melo da Silva
Laryssa Gabriella Gonçalves dos Santos
ESTADO
E SUAS EXPRESSÕES NO
CAPITALISMO
13
O FETICHE DA CIDADANIA 
análise de seus fundamentos a partir 
do desenvolvimento mercantil-capitalista
Paulo Roberto Félix dos Santos1
As relações econômicas são reguladas por con-
ceitos jurídicos, ou, ao contrário, são as relações 
jurídicas que derivam das relações econômicas? 
(Marx)
INTRODUÇÃO
O contexto hodierno, sobretudo a partir dos reflexos de profunda crise 
do capital – em seu âmbito estrutural, conforme indica Mészaros (2009) –, 
tem colocado desafios para pensarmos a luta por direitos e a pretensa am-
pliação da cidadania. A despeito desses desafios, parece existir ambiência 
teórica e cultural, de diferentes matizes, de que a cidadania se coloca como 
campo político-estratégico de garantia do que a modernidade empreendeu 
de conquistas civilizatórias. Destarte, no campo político e social cria-se de-
terminado aggiornamento, do qual resultam interesses conflitantes em torno 
da defesa dessas conquistas. É muito difícil alguém assumir – pelo menos 
publicamente – que é contrário à ampliação da cidadania, ainda que essa 
defesa seja tensionada desde a propositura de uma “cidadania de consumo” 
ou de uma “cidadania social”. 
Em face dessas constatações, muito antes de entendermos de qual 
cidadania se fala, a questão que nos parece nodal é: a partir de quais funda-
mentos se estrutura a própria cidadania. Por isso, tentaremos apontar alguns 
1 Professor Assistente do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe; 
Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas; Doutorando em Serviço Social 
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas 
Marxistas/UFS.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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elementos que acreditamos delinear esses fundamentos, a partir da crítica 
da economia política desenvolvida por Marx. Temos por suposto que essas 
dimensões soldam a possibilidade de determinar os fundamentos que engen-
dram não só a emergência, a consolidação e o desenvolvimento da sociabili-
dade burguesa, mas a própria natureza da cidadania ligada a esse processo.
Desse modo, buscando perquirir alguns elementos indicados na crí-
tica da economia política elaborada por Marx, intentamos relacionar como 
a cidadania não pode ser concebida senão como uma mediação entre as 
formas jurídica e política(Estado) que, por sua vez, está embrincada com a 
forma mercantil delineada pelos condicionantes do Modo de Produção Ca-
pitalista (MPC). É nessa perspectiva que buscamos, neste texto, apresentar, 
em linhas gerais, quais os determinantes que consubstanciam a cidadania.
A hipótese que temos é que se a cidadania moderna é uma categoria 
própria da formação social regida pela ordem do capital, portanto necessária 
ao próprio movimento do capital, lutar pela sua plena realização, sem que 
disso derive uma ruptura radical com seus fundamentos, é lutar pelo pleno 
desenvolvimento do modo de produção capitalista e todas as consequências 
dele decorrentes. Por isso, a luta pela ampliação da cidadania numa perspec-
tiva emancipatória só faz sentido se ela – a cidadania – constituir-se como 
momento possível em direção à emancipação humana e não a própria eman-
cipação, através da sua realização plena. Ou seja, cidadania e emancipação 
humana correspondem a processos e momentos – ainda que imbricados – 
radicalmente diferentes.
No primeiro item, buscamos apontar alguns dos elementos que, a nos-
so ver, na trilha deixada por Marx, delineiam os determinantes fundamentais 
acerca da constituição da forma jurídica e de sua vinculação com a forma 
mercantil como momentos de uma mesma relação, sendo esse último o mo-
mento predominante do primeiro. Optamos pela análise marxiana, dado que, 
concordando com Pachukanis (2017, p.119), “os pressupostos materiais da 
comunicação jurídica, ou a comunicação entre os sujeitos de direitos, foram 
elucidados por Marx no Livro I d’O Capital”2.
Pela crítica marxiana e marxista, pressupomos, pois, que a cidadania 
moderna, sob os auspícios do capital, assume particularidade radical em re-
lação às similares formas precedentes. Com isso, buscaremos demarcar sob 
2	 Cremos	que	o	autor	 tenha	razão	ao	sustentar	essa	afirmação.	Aliás,	 trata-se	do	primeiro	autor,	
a nosso ver, a realizar uma rigorosa abordagem do Direito a partir da Crítica da Economia Política 
marxiana, considerando o Livro I de O Capital. Todavia, isso não implica desconsiderar os elementos 
presentes nos Livros II e III, bem como outros textos, como Grundrisse,	para	uma	análise	mais	ampla	
do pensamento de Marx acerca da imbricação entre as relações econômicas e as relações jurídicas.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
15
quais aspectos se instaura forma societal particular, subordinada à realização 
do valor que, para esse processo, exige características – fundamentalmente, 
a liberdade, igualdade e propriedade – que, não por acaso, são determinantes 
basilares constitutivas da cidadania.
A seguir, após termos indicado quais as particularidades da relação 
entre forma mercantil e forma jurídica, problematizaremos como se constitui 
a relação entre os sujeitos específicos, sem os quais seria impossível o in-
tercâmbio de mercadorias. Esse processo exige indivíduos despidos de suas 
diferenças particulares, assumindo a figura jurídica de cidadãos/sujeitos de 
direitos. Paradoxalmente, sua existência enquanto sujeito – de direitos – só 
se efetiva na subordinação à vontade das coisas, das mercadorias que preci-
sam ser permutadas. Desse modo, vislumbramos uma relação de ambivalên-
cia,em que os sujeitos se realizam como coisa e a coisa, as diferentes mer-
cadorias, parece assumir as características dos seus proprietários, enquanto 
polos regentes da relação.
Explicitaremos que a existência da forma jurídica e dos seus corres-
pondentes cidadãos/sujeitos de direitos são chancelados por determinada 
figura que, assumindo uma aparência de neutralidade, exerce o controle da 
organização da sociedade, fundada nos antagonismos de classes, buscando 
administrá-los, a partir dos interesses da classe dominante. Referimo-nos à 
esfera do Estado, enquanto forma política do capital. Portanto, defendere-
mos a ideia, – originalmente desenvolvida por Marx – de que o Estado não 
pode ser colocado a serviço da classe trabalhadora, sem repor o “estado 
de coisas” que dão substância à forma mercantil, do qual ele é expressão. 
Dessa imbricação entre as formas jurídicas e a política, fincadas a partir do 
desenvolvimento da forma mercantil, tem-se o lócus onde se situa cidadania 
enquanto mediação entre os sujeitos de direitos.
Esperamos apresentar uma argumentação que permita ao leitor en-
tender que a superação desse estado de coisas, próprias da sociabilidade 
do capital, não se refere à tomada do Estado e do seu uso em favor dos 
trabalhadores, ou através do mero contínuo aperfeiçoamento de legislações 
mais benéficas a esses sujeitos, mas a preparação para a extinção da forma 
mercantil fundada no valor, bem como a sua expressão jurídica e, com eles, 
a própria cidadania.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
16A ESPECIFICIDADE DA CIDADANIA NO CAPITALISMO: forma 
mercantil e forma jurídica como 
duas “faces da mesma moeda”
Na análise da forma valor, parece-nos que, em O Capital, Marx apreen-
de não só, pela dinâmica da lógica mercantil, os nexos constitutivos da for-
ma jurídica – ou, também, se quiserem, as determinações fundamentais da 
cidadania – mas os relaciona com a constituição da sociabilidade capitalis-
ta, isto é, nos apresenta uma relação indissociável entre forma mercantil e 
forma jurídica. Não se trata de uma relação acidental, mas, antes de tudo, de 
facetas de um mesmo processo. Sem análise que as considere como unida-
de, corre-se o risco de assumirmos na forma jurídica uma perspectiva juridi-
cista, de onde resulta certa dose de voluntarismo, ao crermos que é possível 
alteração sem a necessária correspondência dos determinantes econômicos 
que lhe dão sustentação. Nessa linha, entendemos que a forma jurídica não 
corresponde a uma dimensão a-histórica, mas é, antes de tudo, produto de 
determinadas particularidades sociais e históricas que não só lhe imprimem 
marcas, mas estruturam as raízes sem as quais essa forma não existiria. 
Como aponta Naves (2008):
A forma jurídica nasce somente em uma sociedade na qual impera 
o princípio da divisão do trabalho, ou seja, em uma sociedade na 
qual os trabalhos privados só se tornam trabalho social mediante a 
intervenção de um equivalente geral. Em tal sociedade mercantil, o 
circuito das trocas exige a mediação jurídica, pois o valor de troca 
das mercadorias só se realiza se uma operação jurídica – o acordo 
de vontades equivalentes – for introduzida. (NAVES, 2008, p.57).
Não é ocasional que a forma jurídica encontra a sua maturidade numa 
dada sociabilidade em que a forma mercantil adquire a sua plenitude. É essa 
forma social que, segundo Pachukanis (2017, p.75), “cria todas as condi-
ções necessárias para que o momento jurídico alcance plena determinação 
nas relações sociais”. Por essa razão, o Direito, como decorrência desse ter-
minante jurídico, não é o procedimento pelo qual se regulariza essa forma 
social. Ao contrário, ele é expressão de determinada forma mercantil que 
já contém as marcas essenciais que, mais tarde3, se consubstanciarão na 
3 Aqui não estamos apresentando uma temporalidade lógica, mas ontológica.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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forma jurídica. Desse modo, a forma jurídica vincula-se à existência de uma 
sociedade que exige a mediação de um equivalente geral para que os diver-
sos trabalhos privados independentes se tornem trabalho social. É a ideia de 
equivalência decorrente do processo de trocas mercantis que funda a ideia 
de equivalência jurídica, ou seja, nas palavras de Naves (2008, p.58), é a rela-
ção de equivalência que “... permite que se compreenda a especificidade do 
próprio direito, a sua natureza intrinsecamente burguesa”.
Ao pressupormos especificidade da cidadania, como expressão da 
forma jurídica sob os auspícios do capital, estamos sinalizando para uma 
determinação, diferenciada em relação às suas expressões anteriores, como 
a cidadania no mundo antigo, por exemplo. Não estamos nos referindo, por-
tanto, a mero continuum de transformações graduais de uma cidadania que 
evoluiu para a época moderna, mas sim de uma expressão condicionada e 
condicionante de novas relações sociais de produção, cujos traços essen-
ciais só podem ser verificados a partir da especificidade do MPC. Por isso, 
optamos, neste texto, por uma abordagem historiográfica não de como se 
deu a evolução da cidadania, mas de como estão postas as suas particulari-
dades no capitalismo, identificando suas raízes.
Como nos adverte Kashiura Jr (2014 p.160)., “Marx logra desvelar 
tais raízes porque logra captar a formação social capitalista como formação 
social histórica, determinada em última instância por relações de produção 
específicas”. Por isso, a partir dessa especificidade, debruçou-se sobre dada 
formação social que, para o seu desenvolvimento, pressupõe “[...] a universa-
lização da personalidade jurídica e, mais ainda, mostrar que a universalização 
da personalidade jurídica está vinculada ao movimento próprio da circulação 
e da produção de mercadorias, nas formas historicamente determinadas que 
assumem em vista do modo de produção capitalista”.(KASHIURA JR, 2014, 
p.160, grifos nossos)
No desenvolvimento do MPC, diferentemente de uma relação de troca 
simples, o que o capitalista precisa realizar não é só valor de uso da mer-
cadoria. Ele precisa recorrer ao mercado e dar a “sorte” de encontrar uma 
mercadoria que, ao se realizar, produz num mesmo processo valor e mais 
valor. Trata-se da mercadoria força de trabalho. É essa valorização do próprio 
valor que permite ao capitalista, por meio do processo de exploração da força 
de trabalho e da diferença entre tempo de trabalho socialmente necessário 
(médio necessário à produção do valor) e tempo de trabalho excedente (va-
lorização do valor inicial), extrair o essencial da produção mercantil sob os 
auspícios do capital: a extração do mais-valor. Como as mercadorias que 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
18
são produzidas por meio da utilização da força de trabalho não se movem 
no abstrato, mas antes pressupõem um conjunto de relações sociais que 
possam permitir esse processo, Marx (2013) advertiu quanto à necessidade 
de nos voltarmos aos sujeitos dessas relações, capitalistas e trabalhadores. 
Assim diz ele:
As mercadorias não podem ir por si mesmas ao mercado e trocar-
-se	umas	pelas	outras.	Temos,	portanto,	de	nos	voltar	para	seus	
guardiões, os possuidores de mercadorias. Elas são coisas e, por 
isso, não podem impor resistência ao homem. Se não se mostram 
solícitas, ele pode recorrer à violência; em outras palavras, pode to-
má-las	à	força.	Para	relacionar	essas	coisas	umas	com	as	outras	
como mercadorias, seus guardiões têm de estabelecer relações 
uns com os outros como pessoas cuja vontade reside nessas coi-
sas e que agir de modo tal que um só pode se apropriar da merca-
doria alheia e alienar a sua própria mercadoria em concordância 
com a vontade do outro, portanto, por meio de um ato de vontade 
comum a ambos. Eles têm, portanto, de se reconhecer mutuamen-
te como proprietários privados (MARX, 2013, p.159, grifos nossos).
Nessa passagem, o autor nos chama atenção para alguns aspectos 
sem os quais não é possível ocorrer a troca. Como coisas, as mercadorias 
não têm as propriedades necessárias para se intercambiarem e, por isso, 
estão subordinadas às particularidades de seus guardiões, que, a rigor, se 
configuram como proprietários privados. Proprietários porque são eles os 
possuidores das mercadorias e é a eles que essas mercadorias parecem 
subordinar-se. Privados, na medida em que essa relação de necessidade de 
troca só faz sentido na existência de uma sociedade fundada na produção 
e apropriação privada dos meios e produtos do trabalho, de onde surge a 
necessidade de que os sujeitos possam se relacionar através do mercado, 
espaço onde se defrontam como proprietários privados.
Não basta que sejam proprietários privados, eles precisam se relacionar, 
e esse processo implica determinada vontade, que se realiza no ato da troca, 
através das suas expressões de liberdade de troca. De forma acertada, Marx 
nos adverte acerca de uma importante particularidade dessa relação. Não se 
trata da vontade dos sujeitos – guardiões – que se consubstancia nas coisas, 
mas sim da vontade das coisas que condiciona os sujeitos a irem ao mercado, 
de modo a alienar sua mercadoria em razão da outra. Por outro lado, não se 
trata de relação aleatória, mas de relação na qual esses sujeitos só se podem 
defrontar reconhecendo-se como iguais, enquanto proprietários privados.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
19Para que fique claro. Quando apontamos o caráter de não aleatorie-
dade da relação entre os sujeitos intercambiantes, ressaltamos que a forma 
pela qual os indivíduos aparecem em condições de permutar mercadorias 
não constitui momento acidental, ou mera evolução do espírito humano, mas 
corresponde ao conjunto das relações sociais de produção que estrutura 
esse processo e que pressupõe condição de similitude entre os proprietários 
das mercadorias, em que cada um aparece como “trocador”.
Nesses termos, essa relação como trocadores só pode se constituir 
numa relação entre iguais. De acordo com Marx, (2013, p.160). “[...] as pes-
soas existem umas para as outras apenas como representantes da merca-
doria e, por conseguinte, como possuidoras de mercadorias”, o mesmo autor 
nos adverte de que “[...] as máscaras econômicas das pessoas não passam 
de personificações das relações econômicas” (MARX, 2013, p.160), cuja 
forma subsume o conteúdo concreto das determinações particulares dos 
sujeitos intercambiantes.
Como sujeitos que se reconhecem como iguais/equivalentes, aparen-
temente não é possível identificar nenhuma diferença, ou mesmo relações 
de antagonismos (MARX, 2011). Aqui, a igualdade dessa relação não se põe 
como determinação jurídico-normativa, mas é condicionada pelas determina-
ções materiais que demandam a existência de indivíduos em condições de 
igualdade. Não se trata de dispositivo legal que impõe relações de igualdade 
entre esses sujeitos, mas se trata de relações sociais que, aparecendo na for-
ma de igualdade, a posteriore, são ratificadas por dispositivos legais. Trata-se 
da liberdade da forma mercantil cuja expressão é legitimada na forma jurídica.
Da mesma forma que as mercadorias para serem intercambiáveis 
precisam ter a equivalência da sua grandeza de valor, os possuidores das 
diferentes mercadorias só podem assim se relacionar se constituírem sujei-
tos equivalentes numa relação de igualdade. Não basta, porém, que sejam 
iguais, é necessário também que não haja nenhuma forma de coação, que 
seja uma relação voluntária, expressão de liberdade. Como adverte o autor: 
“Se, portanto, a forma econômica, a troca, põe a igualdade dos sujeitos em 
todos os sentidos, o conteúdo, a matéria, tanto individual como objetiva, que 
impele à troca, põe a liberdade” (MARX, 2011, p.188). Nesses termos, igual-
dade e liberdade, como valores jurídicos, não são mais que expressões nor-
mativas de determinantes reais da forma pelas quais os trocadores podem 
dispor das diferentes mercadorias.
Trata-se de uma relação social, que expressando a condição de sujei-
tos proprietários, iguais e livres, se apresenta a partir de uma forma jurídica, 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
20
de natureza “voluntária”. A forma pela qual essa relação se realiza é por meio 
do contrato,o que, no plano mais imediato, aparece como determinação de 
relações jurídicas é, a rigor, uma relação econômica. Portanto.“O conteúdo 
dessa relação jurídica ou volitiva é dado pela própria relação econômica” 
(MARX, 2013, p.159, grifos nossos). Para a existência dessas relações eco-
nômicas e para que haja a possibilidade de aquisição da mercadoria força de 
trabalho é fundamental ambiente propício para que isso ocorra sem maiores 
constrangimentos, a esfera da circulação/produção e de onde se derivam 
relações jurídicas que possam ratificar esse processo.
Estariam, assim, dados os pressupostos para a existência de dois su-
jeitos fundamentais no processo de produção de mercadorias. De um lado, 
o capitalista, como possuidor dos meios de produção e comprador da força 
de trabalho; do outro, o trabalhador, a quem, desprovido desses meios, resta 
a força de trabalho, única propriedade que é levado a “voluntariamente” ven-
der. É nessa medida que alguns dos pilares fundamentais dos direitos, quais 
sejam a liberdade, a igualdade e a propriedade – consagrados na Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos (1948) e recepcionados unanimemente nos dispostos nor-
mativos modernos – não se configuram como constrangimentos à circula-
ção mercantil. São, antes, os pressupostos nos quais ela se funda.
A nosso ver, desse processo, em que a ideologia jurídica exerce pa-
pel importante, decorre apreensão fetichizada e fetichizante da cidadania, 
na medida em que esta é apreendida na ausência dos seus elementos de-
terminantes. Como já sinalizamos, desprovida de análise a partir de seus 
fundamentos, a cidadania é vista como meio pelo qual, a partir das lutas 
das classes sociais, se podem, em maior ou menor medida, construir, am-
pliar e consolidar direitos. Trata-se de uma forma parcial de apreensão de 
seus fundamentos, na medida em que se obscurece nessa análise a relação 
substantiva entre a forma mercantil e a formas jurídicas e as políticas que 
lhe correspondem. Relação essa que demanda a existência de sujeitos livres, 
proprietários e iguais (cidadãos), de modo a possibilitar os diferentes inter-
câmbios de mercadorias.
Entendemos, por outro lado, que as particularidades impressas pela 
forma mercantil à forma jurídica não só conformam determinadas caracte-
rísticas às relações jurídicas a ela correspondentes, mas também conferem 
peculiaridades aos indivíduos que se defrontam nesse processo, na qualida-
de de cidadãos, como expressão de sujeitos jurídicos ou sujeito de direitos. 
Do mesmo modo, essas relações não se operam cindidas, mas alinhavadas 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
21
pela forma política do capital (Estado), sem a qual seria impensável a estru-
turação dessas relações jurídicas e o desenvolvimento do estatuto de cida-
dania. É essa particularidade que abordaremos a seguir.
SUJEITO DE DIREITOS E O ESTADO: 
o fetiche do cidadão
Constituídos como sujeitos livres – porquanto não há força coercitiva 
que os faça estabelecer relações; proprietários – uns dos meios necessários 
à produção e outros da sua própria capacidade de trabalho; e iguais – na me-
dida em que, como possuidores de mercadorias, aparecem equivalentes –, a 
forma pela qual eles se relacionam, como já adiantamos, é estabelecida por 
contrato. A natureza contratual entre esses sujeitos os põe como equivalen-
tes, cabendo-lhes conjunto de obrigações e direitos, dos quais é necessário 
zelar de cujo descumprimento é-se passível de penalidades. É na natureza 
do contrato jurídico que estes se reconhecem mutuamente como sujeitos de 
direitos. Como sustenta Mascaro (2009),
A descoberta fundamental de Marx, para o campo da política, é 
a	 ligação	necessária	entre	as	 formas	políticas	modernas	e	a	 ló-
gica do capital. O Estado moderno torna os indivíduos cidadãos. 
Instituído	como	sujeito	de	direito,	 cada	ser	humano	está	apto	a	
transacionar	 nos	 mercados.	 Poder-se-ia	 reputar	 esse	 fato,	 da	
constituição do sujeito de direito pelo Estado, como um fenôme-
no isolado, ocasional, ocorrido na época moderna. No entanto, a 
grande	contribuição	de	Marx	está	em	demonstrar	os	mecanismos	
estruturais desse processo (MASCARO, 2009, p.289).
A própria constituição da categoria sujeito de direitos – comumente 
vista como noção positiva, reconhecimento de estatuto jurídico de indivíduos 
à margem da sociedade e que agora nela se encontram “incluídos” – repre-
senta pré-condição de formas de indivíduos equivalentes que intercambiem 
mercadorias equivalentes. Assim,
Reduzidos	à	 forma	de	 indivíduos,	 torna-se	ainda	necessária	que	
igualem na condição de sujeito de direitos, mas esta também é 
uma	pré-condição	das	relações	capitalistas.	Da	mesma	forma	que	
o	trabalho	concreto,	 responsável	por	distintos	valores	de	uso	só	
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
22
pode se ver na condição de equivalente de intercâmbio entre mer-
cadorias na equação do valor de troca poruma forma que abstraia 
as diferenças através de uma substância comum, no caso trabalho 
abstrato; a igualdade entre as mercadorias pressupõe a igualdade 
abstrata entre os seus produtores [...] (IASI, 2011, p.179)
Não é por acaso que essas determinações são os elementos funda-
mentais – do ponto de vista, literalmente, dos fundamentos – da constitui-
ção da figura jurídica sem a qual a cidadania não faz sentido: o sujeito de 
direitos. Por isso, os indivíduos, reconhecidos como trocadores só podem 
aparecer nessa relação como sujeitos de direitos/cidadãos. É assim que to-
dos nós somos compelidos a ingressar numa comunidade política na qual 
são abstraídas as determinações particulares e de classe de cada indivíduo, 
deixando-nos reduzidos a uma abstrata expressão: “cidadão”.
Se a nossa hipótese estiver correta, nas trilhas abertas por Marx, a 
existência da forma social sob as quais se confrontam os diferentes indi-
víduos, encarnados na forma sujeito de direitos, é dada pelas particularida-
des do Modo de Produção Capitalista. Trata-se de determinação em que os 
indivíduos se subordinam, ou melhor, se assujeitam a uma forma social e 
histórica que, tendo como conteúdo as determinações concretas desses 
diferentes sujeitos, só pode existir abstraindo-os numa forma geral abstrata, 
numa forma gelatinosa e fantasmagórica, que necessita anular as diferen-
ças particulares do conjunto desses indivíduos, na condição de sujeito de 
direitos/cidadão:
Do mesmo modo como a forma mercadoria faz desaparecer, sob 
a gelatina de trabalho indiferenciado que constitui a sua qualidade 
idêntica, toda a diversidade concreta da coisa que recobre, assim 
também o sujeito de direito faz desaparecer toda a diversidade 
concreta dos homens que atuam como “representantes” das mer-
cadorias. Tudo que aparece na relação entre homens sob a forma 
de sujeitos de direito é a própria forma idêntica dos sujeitos de 
direito. Tudo que se sabe a respeito dos indivíduos que condu-
zem as suas respectivas mercadorias para a troca é que estes 
indivíduos se colocam um perante o outro sob a mesma forma 
social. Como puras formas destituídas de conteúdo, os sujeitos 
de direito são imediatamente iguais uns aos outros. A igualda-
de é, nesse exato sentido, um dos seus atributos fundamentais. 
(KASHIURA JR, 2014, p.168).
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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Alinhado com o pensamento de Pachukanis e, recorrendo à analo-
gia, Kashyura Jr (2014, p.166) argumenta que: “O sujeito de direito não é, 
portanto, senão o ‘outro lado’ da mercadoria”. Por essa condição, ele só 
pode se apresentar na forma de “equivalência mercantil”. Mutatis mutan-
dis, de modo análogo, como a forma valor subordina o conteúdo material 
do valor de uso das diferentes mercadorias, os indivíduos particulares se 
equivalem na condição de sujeito de direitos, da qual o cidadão é sua ex-
pressão. Nessa mesma linha, na medida em que os diferentes trabalhos 
se diluem numa objetividade fantasmagórica da forma valor, as diferentes 
particularidades dos indivíduos se homogeneízam na condição de cidadão, 
como sujeitos de direitos.
Nessa perspectiva, os distintos interesses dos indivíduos na socieda-
de burguesa parecem diluir-se numa genérica cidadania, na qual partilhamos 
interesses comuns e, ao nos realizarmos como participantes de uma mesma 
comunidade política, atendemos a uma determinada vontade geral. Contra-
riando essas determinações, entendemos que a plena vigência de relações 
jurídicas, não é, senão, a forma pela qual o capital se pode desenvolver, de 
onde decorre a forma mercantil pressupor determinada forma jurídica que 
lhe permita garantias fundamentais.
A vigência da cidadania, como expressão de relações jurídicas, é im-
pensável sem uma forma política específica que lhe dê substância, e que, 
pelo conjunto de mecanismos burocráticos, estrutura, ratifica e operaciona-
liza uma série de medidas capazes de garantir a existência e o desenvol-
vimento das relações entre os sujeitos que se encontram como cidadãos. 
Referimo-nos ao Estado como entidade específica que, entre outras funções, 
cumpre o fundamental papel de organização das relações entre os cidadãos.
Não há possibilidade de apreendermos as raízes da cidadania e de 
como se consubstancia a figura do cidadão, sem nos remetermos ao campo 
no qual se estrutura esse processo: o espaço do Estado. De acordo com 
Pachukanis (2017, p.144), é na sociabilidade mercantil-capitalista que o po-
der político de classe pode adquirir a forma do poder público. Desse modo, 
o Estado é a forma política do capital, soldando assim a cidadania como 
mediação entre as formas jurídica e política do desenvolvimento mercan-
til-capitalista. É o Estado o afiançador jurídico-político da constituição dos 
chamados direitos de cidadania. É por esse processo que os indivíduos, des-
pojados de suas peculiaridades de classe, se igualam numa abstrata figura 
jurídica: o conjunto dos cidadãos.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
24
Não por acaso, a tutela do Estado acerca da figura do cidadão nos 
acompanha do nascimento até a morte, buscando preencher todos os poros 
da vida social. Só, assim, os indivíduos isolados podem se encontrar na mes-
ma comunidade jurídico-política, onde partilham normas, condutas, valores, 
chancelados pelo Estado e seu aparelho burocrático.
Todavia, do mesmo modo que, a nosso ver, antes de nos perguntar-
mos de qual Estado se fala, nos parece fundamental apreendermos o que é 
o Estado. Não é incomum a idílica visão que tende a apreender Estado como 
árbitro neutro, responsável por intermediar conflitos e organizar a estrutura 
política da sociedade. Ele seria, nessa interpretação, o espaço onde se di-
rimiriam os interesses particulares, fazendo prevalecer a vontade geral do 
conjunto da sociedade. Participar da comunidade política, representada na 
figura do Estado, seria um processo necessário para se evitar uma miscelâ-
nea de interesses individuais, de onde poderia resultar uma “guerra de todos 
contra todos”. Abdicando de seus particularismos, os indivíduos estariam 
garantindo a sua própria sobrevivência enquanto sociedade. Nessa perspec-
tiva, o Estado não seria só um elemento importante de organização, mas 
seria a forma sem a qual não há possibilidade de organização social. 
Ainda que seja essa a visão que se cristalizou na análise do Estado, 
queremos deixar demarcado que não é essa a posição que adotamos na 
nossa perspectiva, partindo da crítica marxista. O Estado não é um poder 
político que está acima da sociedade, mas, antes, é produto dela; não é um 
árbitro neutro responsável pela dissolução de conflitos de classe, antes, con-
flitos, são a razão de existência do próprio Estado. Como nos adverte Engels:
[...] o Estado não é pois, de modo algum, um poder que se im-
pôs à sociedade de fora para dentro; tampouco é “a realidade da 
ideia	moral”,	nem	“a	imagem	e	a	realidade	da	razão”,	como	afirma	
Hegel. É antes um produto da sociedade, quando esta chega a 
um	determinado	grau	de	desenvolvimento;	é	a	confissão	de	que	
essa	 sociedade	 se	 enredou	numa	 irremediável	 contradição	com	
ela	própria	e	está	dividida	por	antagonismos	 irreconciliáveis	que	
não consegue conjurar. Mas para que esses antagonismos, essas 
classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e 
não	consumam	a	sociedade	numa	luta	estéril,	 faz-se	necessário	
um poder colocado aparentemente por cima da sociedade, cha-
mado	a	amortecer	o	choque	e	a	mantê-lo	dentro	dos	 limites	da	
“ordem”. Este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela 
se distanciando cada vez mais, é o Estado (ENGELS, 1982, p.191).
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
25
O Estado não confronta o conjunto de interesses egoístas no espaço 
que Hegel e,depois, Marx denominaram sociedade civil. Ao contrário,ele só 
pode ser apreendido como resultante dela, como expressão dos interesses 
antagônicos dessa sociedade. Por outro lado, não é um espaço onde as 
classes, em luta, disputam uma correlação de forças em equilíbrio, mas é 
o espaço onde a classe dominante expressa o seu poder dominante e onde 
forma societal capitalista é a expressão do poder da burguesia. Diante dis-
so, “todas as instituições coletivas são mediadas pelo Estado, adquirem por 
meio dele uma forma política” (MARX; ENGELS, 2007, p.76). Independente 
das particularidades que o Estado assuma historicamente, ele é sempre um 
Estado-classe, que representa os interesses da classe dominante. Por isso, 
ele é “o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho assa-
lariado” (ENGELS, 1982, p.156).
É importante notar que como expressão dos interesses antagônicos 
que permeiam a sociedade civil, o Estado é condensação dos determinantes 
jurídico-políticos – forma jurídico-política –, bem como econômicos – forma 
mercantil – dela decorrentes. Assim, a forma jurídica assume determinada 
síntese com a forma política e delas deriva conjunto de normas que discipli-
nam a vida social. É a partir dessa síntese que os indivíduos, submetidos às 
leis, se subordinam ao controle do Estado, na ilusão jurídica de se estarem 
submetendo a si mesmos.
Posta nesses termos, a ilusão jurídico-política de ter no Estado im-
portante arena em disputa só tem validade como meio e não como fim em 
si mesma. Como expressão jurídico-política de antagonismos de classes, o 
Estado não pode ser outra coisa, senão expressão de interesses de classe. 
Concebê-lo de outra maneira, é, como nos advertiu Pachukanis (2017), “uma 
miragem”. Por esse motivo, nos lembra Marx (2012, p. 169) que “[...] a clas-
se operária não pode simplesmente se apossar da maquinaria estatal tal 
como ela se apresenta e dela servir-se para seus próprios objetivos. O ins-
trumento político de sua escravização não pode servir como o instrumento 
de sua emancipação”.
Se é na perspectiva da emancipação humana que buscamos encami-
nhar nossos esforços, a disputa em torno dos espaços do Estado só pode 
ter como finalidade a preparação para a sua superação. Ora, se não há forma 
Estado que não expresse interesse de classes, e se uma sociedade emanci-
pada implica a abolição do conjunto das classes sociais, torna-se inviável a 
permanência desse poder político que, sendo produto das relações sociais 
estranhadas, só pode expressar poder de classe.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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É nessa perspectiva que a relação forma mercantil e formas jurídica e 
política (Estado) – da qual a cidadania é expressão – compõem uma tríade 
indissociável. Destarte, entendemos que a cidadania, longe de ser dimensão 
transistórica, assume radical particularidade sob a égide do Modo de Pro-
dução Capitalista, e que, se é essa forma social-mercantil que buscamos 
superar, com esse processo deverão sucumbir juntos seu Estado correspon-
dente, bem como a forma jurídica que dela deriva, de onde a cidadania é um 
componente. Isso não implica “jogar a criança com a água do banho”, ou, em 
outros termos, desconsiderar as conquistas possíveis – sempre transitórias 
e questionáveis, sobretudo em tempos de crise do capital – no âmbito da 
cidadania, mas implica precisar seus limites históricos, o que nos põe o de-
safio de sua superação.
À GUISA DE CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos que a substância da forma jurídica e da forma política 
não poderia ser encontrada em outra esfera que não fosse a forma mercan-
til. Constituem uma unidade indissolúvel. Por isso, a cidadania, na moderni-
dade, não é mais que a expressão de determinada organização que, tendo 
na generalização da troca mercantil seu fundamento, expressa relações 
sociais coisificadas.
É nessa perspectiva que acreditamos se constituírem o que enten-
demos ser os fundamentos da própria cidadania, o que implica apreender 
os seus limites constrangidos pela sociabilidade mercantil-capitalista. Como 
salientamos, essa determinada forma mercantil implica um conjunto de re-
lações jurídicas que permitem não só a produção, mas também a circula-
ção de mercadorias. Para isso, exigem-se determinadas qualidades, como 
igualdade, liberdade e propriedade, pelas quais os diferentes indivíduos se 
relacionam como sujeitos jurídicos e se expressam na figura de cidadãos.
Ainda que consideremos a possibilidade de avanços no campo dos 
distintos conteúdos referentes à esfera da cidadania, como, por exemplo, 
o atendimento a demandas históricas da classe trabalhadora, nos parece 
importante precisar esses limites sempre mediados pela própria forma que 
abarca esse conteúdo. Assim, sempre é a forma mercantil que vai determinar 
a estrutura da forma jurídica e de seu correspondente político que é o Estado, 
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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de somos impelidos a rejeitar qualquer perspectiva politicista ou juridicista 
que busca sobrevalorizar as possibilidades estratégicas da luta por direitos.
É importante deixar claro que não estamos desqualificando a luta por 
direitos, nos limites do que Marx (2010) denominou “emancipação política” 
ou, se quiserem, da luta pela cidadania. Esta, como nos lembra o autor, “de 
fato representa um grande progresso”. Mas, que fique claro, se é na direção 
de outra sociedade, livre do jugo do capital, que almejamos caminhar, ela – a 
emancipação política – só pode ser apreendida como um momento estra-
tégico em direção à emancipação humana. Para isso, como vimos, faz-se 
necessária a dissolução de todo esse estado de coisas que emperra a possi-
bilidade de viabilização de uma sociedade emancipada. Faz-se necessária a 
dissolução da forma mercantil, de sua forma jurídica, do Estado, o que impli-
ca a dissolução da cidadania, cuja supressão reveste-se de uma necessidade 
histórica de pôr fim à Pré-História da Humanidade.
REFERÊNCIAS
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do estado. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.
IASI, M.L. O Direito e a luta pela emancipação humana. In: FORTI, V; BRITES, 
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Janeiro: Lúmen Juris, 2011.
KASHIURA JR., C.N. Sujeito de direito e capitalismo. São Paulo: Outras Ex-
pressões/Dobra, 2014.
MASCARO, A. L. Filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2009.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão 
Popular, 2008.
______. Sobre a questão judaica. São Paulo: Boitempo, 2010.
______. Grundrisse. Manuscritos Econômicos de 1857-1858. Esboços da 
Crítica da Economia Política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. 
UFRJ, 2011.
______. As Lutas de Classes na França. São Paulo: Boitempo, 2012.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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MARX, K. O Capital: O processo de produção do capital. São Paulo: Boitem-
po, 2013. Livro 1.
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MESZAROS, I. Para além do Capital. Rumo a uma teoria de transição. São 
Paulo, Boitempo, 2009.
NAVES, M. B. Marxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis. São Paulo: 
Boitempo, 2008.
PACHUKANIS, E. Teoria geral do direito e o marxismo. Trad. Paula Vaz de 
Almeida, São Paulo: Boitempo, 2017.
29
PROPRIEDADE PRIVADA E ESTADO 
NAS SOCIEDADES DE CLASSES
Everton Melo da Silva1
INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é traçar breve panorama sócio-histórico so-
bre a centralidade da propriedade privada e do Estado nas sociedades de 
classes. Com a dissolução da comunidade primitiva, através do surgimento 
da propriedade privada e da exploração do homem pelo homem, temos a 
emergência do trabalho alienado, das classes sociais fundamentais (classe 
explorada x classe exploradora), do Estado (que protege a propriedade pri-
vada da classe exploradora) e da família monogâmica2(a figura masculina 
como detentora da propriedade privada). Essas são algumas das bases con-
cretas que permeiam a vida do homem em sociedade, que fazem parte da 
vida do homem no curso da história da sociedade de classes. Para alcançar 
o objetivo proposto, fizemos revisão de literatura baseada em pesquisas e 
estudos históricos sobre cada época, romances históricos e um atlas his-
tórico mundial, que auxiliaram no processo de compreensão do desenvol-
vimento do homem, além de pesquisas sobre determinadas temáticas em 
momentos específicos da história.
Diante da complexidade e do volume de dados da história da humani-
dade e considerando os limites estruturais deste artigo, em termos históricos, 
nossa exposição abordará, sumariamente, da sociedade primitiva, surgimento 
1 Professor Substituto do Departamento de Serviço Social/UFS, doutorando em Serviço Social pela 
Universidade Federal de Alagoas e pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas/UFS.
2 Devido	aos	limites	deste	artigo,	não	será	possível	traçar	panorama	sobre	constituição	da	família	
monogâmica na sociedade de classes, nem de suas implicações nas relações sociais. Entretanto, os 
leitores	interessados	nessa	temática	podem	consultar	LESSA,	Sérgio.	Abaixo	a	família	monogâmica.	
São	Paulo:	Instituto	Lukács,	2012.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
30
do excedente econômico, até a Revolução Francesa, momento em que se 
consolida o indivíduo burguês na sociedade capitalista. No primeiro mo-
mento, iremos argumentar que a propriedade privada se origina através da 
apropriação privada do excedente econômico, isto é, da riqueza socialmen-
te construída, o que ocasiona cadeia de acontecimentos históricos que 
perduraria por todas as sociedades de classes, principalmente o surgimen-
to do Estado, que, em sua essência, é da classe dominante e perpassa a 
história da humanidade com configurações diferentes, como o Estado Ro-
mano, no modo de produção escravista; o Estado francês feudal, no modo 
de produção feudalista; e o Estado Inglês moderno, no modo de produção 
capitalista. Com o surgimento do capitalismo, a partir do processo de acu-
mulação primitiva do capital a partir do século XIV, novas relações sociais 
surgem com foco na busca incessante da riqueza pela riqueza e no desen-
volvimento do individualismo burguês.
As Diretrizes Curriculares de Serviço Social, base curricular da for-
mação profissional do assistente social, têm como primeiro princípio a 
“apreensão crítica do processo histórico como totalidade” (ABEPSS, 1996, 
p. 07). Nesse sentido, compreender as transformações nos processos de 
produção e reprodução social na história da humanidade é fundamental 
para o Serviço Social brasileiro, visto que essa profissão está inscrita em 
processos sócio-históricos determinados e age sobre sujeitos históricos e 
sociais no cotidiano profissional.
PROPRIEDADE PRIVADA E ESTADO NA VIDA DOS HOMENS
Pretendemos neste item apresentar o surgimento da propriedade pri-
vada através da apropriação privada do excedente econômico na sociedade 
primitiva e a gênese do Estado enquanto instituição que garante a exploração 
do homem pelo homem. A premissa essencial da nossa argumentação é que 
com o surgimento da propriedade privada acontecem mudanças significati-
vas na vida do homem como a emergência das classes sociais fundamentais 
e do Estado, além disso, a propriedade privada mudou significativamente 
as relações sociais, onde a apropriação privada dos resultados do trabalho 
determinou/determina a forma como os homens viveram/vivem na história.
Na sociedade primitiva, a caça, a coleta e a pesca eram atividades 
com resultados incertos, pois os homens, ao final do dia, poderiam voltar 
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para seus abrigos/acampamentos sem nenhum alimento. Os poucos alimen-
tos que conseguiam com essas atividades eram partilhados entre todos, e 
não era permitida a apropriação privada dos resultados. Essencialmente,
a produção era [...] coletiva e o consumo se realiza, também, 
sob um regime de distribuição direta dos produtos, no seio de 
pequenas ou grandes coletividades comunistas. Essa produção 
coletiva era levada a cabo dentro dos mais estreitos limites, mas 
ao mesmo tempo os produtores eram senhores de seu processo 
de produção e de seus produtos. Sabiam o que era feito do pro-
duto:	consumiam-no,	ele	não	saía	de	suas	mãos.	E,	enquanto	a	
produção	se	realizou	sobre	essa	base,	não	pôde	sobrepor-se	aos	
produtores, nem fazer surgir diante deles o espectro de poderes 
alienados, como sucede, regular e inevitavelmente, na civilização 
(ENGELS,	2012,	p.	218-219).
Esse quadro começou a mudar a partir do cultivo de plantas e da 
criação de animais. Através deles, o acesso à alimentação se tornou mais 
seguro e certo, contribuindo para amenizar e facilitar a vida dos homens. 
Com a agricultura, o homem começou a se dedicar ao cultivo da terra e, 
graças à criação de animais,voltou-se também para o pastoreio. Essas novas 
atividades exigiam que o homem se fixasse na terra (sedentarismo), em um 
local/território, deixando a vida nômade (nomadismo) de lado. Esse período 
é conhecido como Revolução Neolítica, momento em que há mudança subs-
tancial na vida dos homens.
O desenvolvimento da tecnologia foi uma necessidade desse novo 
modo de vida que surgia a partir dessas novas atividades (agricultura e cria-
ção de gado). As forças produtivas em curso exigiam instrumentos de tra-
balho aperfeiçoados que atendessem essas novas atividades econômicas 
(NETTO; BRAZ, 2010). Além de surgirem os cultivadores e pastores, nasceu 
também a figura dos artesãos, responsáveis por transformar a natureza em 
novos objetos que contribuíssem para tornar potenciais novas forças produ-
tivas, como as ligas de metal e a roda (NETTO; BRAZ, 2010).
Potencializadas as forças produtivas, os homens puderam acumular 
produtos além do necessário para a sobrevivência imediata, do que resultou 
o nascimento do excedente econômico. Com o desenvolvimento das for-
ças produtivas, como ensinam Lessa e Tonet, (2012, p. 13), “o trabalhador 
adquiriu uma capacidade de trabalho que ultrapassava suas necessidades 
pessoais. Seu trabalho [...] é capaz de produzir mais do que o imprescindível 
para sua sobrevivência imediata”. O excedente econômico é expressão do 
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desenvolvimento das forças produtivas que revoluciona a vida do homem. 
Ele “opera uma verdadeira revolução na vida das comunidades primitivas: 
com ele, não só a penúria que as caracterizava começa a ser reduzida, mas, 
sobretudo, aparece na história a possibilidade de acumular os produtos do 
trabalho.” (NETTO; BRAZ, 2010, p. 57, grifos originais). Com o excedente em 
mãos, o homem estabeleceu nova mediação para seus produtos através da 
troca no mercado. Com essa nova possibilidade, o agricultor, o pastor e o ar-
tesão não produziam somente para a satisfação das suas necessidades, pro-
duziam também para troca. A finalidade de seu trabalho começava, então, a 
mudar. A produção estava voltada para o mercado. Devido às novas relações 
de troca de produtos, agora mediados pelo mercado, surgiu uma classe que 
ficou responsável por essas trocas: o comerciante (ENGELS, 2012, p. 219).
A partir do momento em que o homem pôde acumular riquezas, 
abriu-se a possibilidade da exploração do homem pelo homem, tornando 
possível que um homem vivesse do trabalho de outro, que o homem escra-
vizasse o outro3.
A propriedade privada, por se caracterizar como relação social, não 
faz parte do processo evolutivo natural do ser humano. “Ela é a relação so-
cial pela qual os produtores da riqueza social são expropriados pelas outras 
classes da sociedade” (LESSA; TONET, 2012, p. 15). Ela foi necessária para 
o desenvolvimento das forças produtivas,uma vez que o homem vivia em 
períodos de escassez de alimentação e de crescimento populacional.
Se o trabalho da coleta originou a sociedade primitiva, sem clas-
ses sociais, foi o trabalhado alienado, criado pela propriedade privada, que 
fundou a sociedade de classes. Foi esse trabalho alienado que possibilitou 
o surgimento das classes fundamentais divididas entre explorador e ex-
plorado4. Nessa relação social, a propriedade privada começou a ganhar 
3	 Aqui	há	um	aspecto	fundamental	a	ser	considerado:	a	possibilidade	de	exploração	do	homem	
pelo	homem	não	quer	dizer	que	ela	seja	historicamente	necessária,	pois	“sua	necessidade	[explo-
ração do homem pelo homem] decorre da carência, isto é, da situação histórica na qual a produção 
não	é	suficiente	para	atender	às	necessidades	de	todos	os	indivíduos”.	(LESSA,	2012,	p.	22).	Nesses	
termos,	Lessa	(2012,	p.	22-23)	continua:	“a	articulação	entre	o	trabalho	excedente	e	a	carência	não	
apenas	tornou	possível,	mas	também	tornou	necessária,	a	exploração	do	homem	pelo	homem:	a	
sociedade de classes desenvolve suas forças produtivas muito mais rapidamente que as primitivas 
e	tende	a	substituí-las	ao	longo	da	história”.
4 Apesar de suas particularidades históricas, os modos de produção mantiveram em sua essência 
o	binômio	explorador	x	explorado,	além	de	classes	intermediárias,	por	exemplo:	os	comerciantes	
de	objetos	de	argila	em	Atenas;	os	procuradores	em	Roma,	responsáveis	pela	administração	de	
alguma província; os padres, do baixo clero, que rezavam missas e davam assistência aos desam-
parados; os teóricos da cosmologia medieval; os artistas do Renascimento; e os serviçais do Rei 
Luís XVI na França.
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centralidade na vida dos homens, tornando o homem escravo de si mesmo e 
marcando a história da vida dos homens até os dias atuais.
O desenvolvimento crescente da propriedade privada contribuiu para 
que fossem modificadas as relações sociais. Tornaram-se constantes os 
conflitos, as contradições sociais, que emergiram do antagonismo de clas-
ses, entre os que produziam e os que não produziam; entre aqueles que 
produziam a riqueza material e aqueles que viviam dessa riqueza sem pro-
duzi-la; entre o explorador e o explorado.
Como forma de regular e controlar os conflitos das classes antagô-
nicas, surgiu o Estado. Ele emergiu como produto da necessidade social de 
defender a propriedade privada pertencente ao explorador. Esse processo de 
nascimento do Estado é resumido em passagem de Friedrich Engels (2012, 
p. 212, grifos originais):
Acabava de surgir [...] uma sociedade que, por força das condi-
ções econômicas gerais de sua existência, tivera que se dividir 
em homens livres e escravos, em exploradores ricos e explora-
dores pobres; uma sociedade em que os referidos antagonismos 
não só não podiam ser conciliados como ainda tinham que ser le-
vados a seus limites extremos. Uma sociedade desse gênero não 
podia substituir senão em meio a uma luta aberta e incessante 
das classes entre si, ou sob o domínio de um terceiro poder que, 
situado aparentemente por cima das classes em luta, suprimisse 
os	conflitos	abertos	destas	e	só	permitisse	a	luta	de	classes	no	
campo econômico, numa forma dita legal.
Continuando seu pensamento, Engels (2012, p. 215-216) afirma que:
Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo 
das	classes,	e	como,	ao	mesmo	tempo,	nasceu	em	meio	ao	confli-
to delas, é, por regra, o Estado da classe mais poderosa, da classe 
economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se 
converte também em classe politicamente dominante e adquire 
novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida.
A partir da divisão da sociedade entre classes com interesses an-
tagônicos, foi necessária a criação de instituição social que protegesse o 
interesse da classe dominante, que protegesse a propriedade privada. O 
Estado nasceu com esse objetivo. Em sua essência, ele pertence à classe 
econômica dominante, que, por deter os meios de produção e a propriedade 
privada, tornou-se também a classe politicamente dominante. A razão de 
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ser do Estado é esta: manter o domínio de uma classe sobre a outra através 
do poder político da classe economicamente dominante. Ele surgiu a partir 
da necessidade histórica de garantir a manutenção da ordem da exploração 
do homem pelo homem, da manutenção da dominação de uma classe sobre 
outra, garantindo as condições mínimas de produção e reprodução da socie-
dade com base na relação explorador/explorado.
Para proteger a propriedade privada das revoltas dos explorados, os ex-
ploradores criaram um exército que protegesse suas propriedades. Eles, cole-
tivamente, começaram a mantê-lo a sua disposição. Para contratar e manter 
os soldados, os senhores pagavam impostos ao Estado (ENGELS, 2012). Atra-
vés dos impostos, foi criada força estatal a serviço da classe dominante para 
regular e administrar os conflitos sociais em favor das classes dominantes.
Essa característica do Estado, como registra Engels (2012), perdura-
ria em todas as sociedades de classe,
o Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de escravos 
para manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o órgão 
de que se valeu a nobreza para manter a sujeição dos servos e 
camponeses dependentes; e o moderno Estado representativo é 
o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho 
assalariado (ENGELS, 2012, p. 216).
A partir dessa argumentação de Engels (2012), reafirmamos que 
com a propriedade privada nasceu a possibilidade de o homem escravizar o 
outro, fazendo com que uma classe vivesse do produto de trabalho da outra. 
Essa era a base do novo modo de produção que estava nascendo na história 
dos homens: o modo de produção escravista. O trabalho escravo fundou 
outro patamar de sociabilidade. Nele, o trabalhador escravo representava 
a degradação do trabalho e a perda total da liberdade e da individualidade. 
Na hierarquia social, os escravos eram considerados instrumento de traba-
lho vocal, isto é, instrumento que falava, como podemos observar na obra 
literária Espártaco, de Fast (1976, p. 35, grifos originais): “[...] o escravo é o 
instrumentum vocale, distinguindo-se do animal, ou instrumentum semi, que 
por sua vez se distingue do instrumento comum, a que podemos chamar 
instrumentum mutum”.
A escravidão se desenvolveu de forma predominante5, sistemática e 
absoluta na Antiguidade Clássica (Grécia e Roma). Essas civilizações são 
5 As primeiras formas de trabalho escravo surgiram nas civilizações da antiguidade, como sumérios, 
babilônios, assírios, egípcios, porém de forma residual e auxiliar.
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marcadas, em suas trajetórias históricas, por utilizarem o trabalho escravo 
de forma generalizada. Tanto a Grécia antiga quanto a Roma antiga manti-
nham bom contingente de escravos provenientes das guerras expansionis-
tas. Essas eram verdadeiras fontes de escravos, novos territórios e impos-
tos, elementos essenciais para o desenvolvimento generalizado do modo 
de produção escravista. O marxista russo Rostovtzeff (1983) afirma que, 
através das guerras, os vencedores faziam dos perdedores seus escravos, 
utilizavam estes em seus territórios ou até mesmo os vendiam no comércio 
como mercadoria, como mão de obra para exploração. As guerras eram, 
também, uma forma de os senhores aumentarem o contingente de mão de 
obra escrava para aumentar sua produtividade, uma vez que a escravidão 
não possibilitava o desenvolvimento tecnológico das forças produtivas.
A escravidão foi a primeira forma de exploração do homem pelo ho-
mem. A partir do modo de produção escravista, a Grécia antiga, por exem-
plo, pôde desenvolver uma economia e umaorganização social complexa, 
comparada com outras civilizações antigas. Os atenienses desenvolveram 
alta organização social devido ao trabalho escravo, possibilitando que os ho-
mens livres não trabalhassem, assim, eles produziram arte, filosofia, política 
e conhecimento (HELLER, 1983). Na polis ateniense, a propriedade privada 
começou a ser prevista na constituição e os direitos e os deveres do homem 
começaram a ser tratados a partir da posse da terra, inclusive os direitos 
políticos. Somente os cidadãos atenienses tinham o direito à propriedade. 
A crescente propriedade privada acendeu cada vez mais a exploração e a 
necessidade de mão de obra escrava. Através do trabalho escravo, Atenas 
conseguiu ser o centro da vida política, econômica e religiosa da Antigui-
dade Clássica, principalmente no século IV a.C. Com a propriedade privada 
e o nascente Estado ateniense, a população estava dividida em três grupos 
econômicos: os grandes proprietários rurais, os comerciantes e os artífices 
que viviam na cidade, e os pequenos proprietários. A propriedade da polis 
apoiava-se na pequena produção, cultivo da terra.
Na Antiguidade Clássica temos também o apogeu da Roma antiga, 
que viveu alto nível organizativo político e social a partir do modo de pro-
dução escravista. Essa era também sustentada pelo trabalho escravo, tanto 
nos campos de produção quanto na supervisão de escravos e na organiza-
ção administrativa do Império Romano (ROSTOVTZEFF, 1977). Roma uniu a 
grande propriedade agrícola com a escravidão e teve seu modo de produção 
organizado e sistemático o suficiente para Fast (1976, p. 44) afirmar que os 
romanos foram os primeiros a “compreender totalmente o uso do escravo”.
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A propriedade privada, as classes fundamentais e o Estado estavam 
presentes também na sociedade feudal. O feudalismo é um sistema econô-
mico, político e social baseado em modo de produção regido pela terra e 
por economia natural. Esse modo de produção compreendia duas classes 
fundamentais: o camponês/servo (trabalhador unido à terra, ao meio de 
produção) e os senhores feudais (proprietários da terra que controlavam a 
produção). O servo (vassalo) produzia os alimentos e não detinha a posse 
da terra. O senhor feudal (suserano) vivia do excedente de produção dos 
servos e tinha a posse da terra.
Após a constituição do feudalismo, a sociedade feudal estava or-
ganizada em três classes: os servos (camponeses e artesãos), o clero (sa-
cerdotes, abades, bispos, arcebispos e padres) e a nobreza (reis, príncipes, 
condes, viscondes, duques, arquiduques e cavaleiros). O clero e a nobreza 
governavam, enquanto os servos trabalhavam, principalmente, em planta-
ções e em criação de animais. Em troca, a Igreja rezava por todos e a nobreza 
dava proteção militar (HUBERMAN, 2008).
A estrutura política feudal se baseava no contrato de troca de servi-
ços e fidelidades, ou seja, em troca de proteção, justiça e ordem, o camponês 
devia parte da sua produção e trabalho ao seu senhor. A terra simbolizava 
o selo de juramento de fidelidade do servo ao senhor, e o conjuratio era o 
juramento de lealdade recíproca. Os servos, principalmente os camponeses, 
estavam ligados à terra e trabalhavam nela para os senhores em troca do 
direito de arrendá-las para subsistência. Diferentemente do escravo, como 
observa Huberman (2008), o servo tinha família, lar e a terra para trabalhar. 
Os servos eram subjugados ao senhor, já este vivia do trabalho dos servos. 
Apesar dessa autonomia, Anderson (2008, p. 08) pondera que “os campo-
neses eram mais ou menos dependentes. Acreditavam os senhores que os 
servos existiam para servi-los. Jamais se pensou em termos de igualdade 
entre senhor e servo.”
Tuchman (1989)aponta, em Um espelho distante: o terrível século 
XIV,que tanto o servo pertencia ao senhor, desde o nascimento, quanto seus 
filhos; ele estava proibido de casar fora da propriedade do senhor; se o servo 
morresse sem deixar filhos, seus bens ficariam para o senhor; o camponês, 
além de trabalhar, pagava taxa de tudo que usava, por exemplo, moer o grão 
no moinho do senhor, cozer pão no forno do senhor etc. Além disso, o cam-
ponês prestava serviços de reparo em estradas, pontes e fossos, e o artesão 
fabricava utensílios, fiava roupa, entre outros serviços no castelo.
PAULO ROBERTO FÉLIX DOS SANTOS EVERTON MELO DA SILVA LARYSSA GABRIELLA GONÇALVES DOS SANTOS
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Após a cristianização do antigo Império Romano, a Igreja estava 
presente na vida dos homens. Essa instituição tornou-se autônoma perante 
o Estado feudal e aumentou seus domínios através do dízimo (10% das ren-
das dos fiéis), tornando-se uma instituição forte, rica e poderosa, além de 
proprietária de terras. O clero tinha domínio sobre as crenças e os valores 
e participava das principais decisões da política.
Desse modo, compreendemos que o modo de produção feudal era 
regido pela terra e por uma economia natural6: o camponês estava unido 
ao meio de produção, ao solo, numa espécie de relação; os camponeses 
não eram proprietários da terra, apenas a cultivavam para si próprios e seus 
senhores. Os senhores feudais, por outro lado, eram proprietários da terra e 
viviam do excedente de produção dos camponeses.
Como afirmamos no início da nossa argumentação, a propriedade 
privada mudou radicalmente a vida dos homens. Da Antiguidade até os dias 
atuais, as sociedades foram marcadas pela centralidade da propriedade 
privada na vida dos homens. O trabalho alienado fundou diversos modos 
de produção e fez dele emergir relações sociais baseadas na propriedade 
privada, sendo os principais o Modo de Produção Escravista, o Modo de 
Produção Feudal e o Modo de Produção Capitalista. A partir de cada modo 
de produção, os homens constituíram relações sociais diferentes. O Estado, 
por sua essência, manteve-se focado em controlar e reprimir a vida dos 
produtores da riqueza material.
Veremos a seguir a constituição do Estado burguês ou Estado moderno 
na sociedade capitalista.
ESTADO MODERNO E INDIVIDUALISMO BURGUÊS 
NA SOCIEDADE CAPITALISTA
Vimos que os trabalhadores na sociedade feudal mantinham o clero 
e a nobreza. Os produtos produzidos pelos trabalhadores (urbanos e rurais) 
eram comercializados nos mercados locais e grandes feiras (HUBERMAN, 
2008). Nos séculos XIV e XV, algumas cidades comerciais mediterrâneas 
apresentavam sinais do nascimento do capitalismo, mas o modo de produ-
6 O romance de Ken Follett, escritor britânico, Pilares da Terra, traz um panorama completo da 
vida	feudal.	A	história	se	passa	no	século	XII,	especificamente	de	1120	a	1174,e	narra	a	história	da	
família de Tom Construtor (construtor de catedrais), do prior Philip, de aliena e seu irmão Richard, 
que tiveram seu pai, o conde Bartholomew, morto por traição ao Rei Estevão, e do impiedoso Willian.
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ção capitalista só pode ser datado a partir do século XVI (MARX, 1996). Se 
na sociedade feudal a terra refletia a riqueza do homem, com a expansão do 
comércio crescia a riqueza em dinheiro. Com esse cenário surge uma nova 
classe forte economicamente, classe que vivia da compra e venda de produ-
tos, que mais à frente reivindicou a direção política da vida social através da 
captura do Estado moderno.
Na sociabilidade feudal, a posse de terra determinava o poder de re-
ger a sociedade. Os sacerdotes e guerreiros, proprietários de terras, eram os 
grupos dominantes tanto na economia quanto na política. Com a ascensão de 
uma nova classe, o poder teve que ser partilhado. Essa nova classe que surgia 
com a ascensão do comércio era os burgueses, “[...] cujo interesse não mais 
se relacionava com a utilidade do que ela comprava ou vendia e, sim, com a 
lucratividade do que comercializava” (LESSA; TONET, 2012, p. 22).
Com o surgimento do modo de produção

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