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06 Direito Penal Secao 6 Recurso de Apelacao

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AO JUIZO DA 1ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE PORTO SEGURO/BA
Autos sob nº XXXXXXX
BRUTUS, já qualificado nos presentes autos, por intermédio de seu defensor constituído, conforme procuração anexa a este instrumento, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, insatisfeito com a sentença condenatória, interpor
RECURSO DE APELAÇÃO
 na forma do artigo 593, III, d, e 600 do Código de Processo Penal. Requer que, após o recebimento, com a intimação do Ministério Público, para apresentar contrarrazões, sejam encaminhados ao Egrégio Tribunal do Estado da Bahia, onde serão processados e provido.
 
Nesses termos, pede deferimento.
Porto Seguro, 26 de fevereiro de 2024.				
ASSINATURA ADVOGADO
OAB Nº
EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA ___ CÂMARA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
Recorrente: Brutus 
Recorrido: Ministério Público
Autos de origem nº ...
Razões de Apelação
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia,
Colenda Turma
1 – DA ADMISSIBILIDADE
O presente recurso é cabível vez que investe contra sentença condenatória prolatada pelo respeitável Juízo a quo nestes autos de ação criminal.
Além disso, o presente recurso é tempestivo, vez que o prazo para Apelação, conforme a legislação processual vigente, é de 5 (cinco) dias, contados a partir da data da intimação da sentença que se deu no dia 20/02/2024, findando o prazo no dia 26/02/2024.
2 - DOS FATOS
Conforme narrado nos autos, o acusado foi processado criminalmente pela seguinte capitulação penal: art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII (emprego de arma de fogo de uso restrito), do Código Penal, por duas vezes (duas vítimas), combinado com o crime do art. 16, caput (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03, por duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e art. 33, caput (tráfico de drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso material de crimes, na forma do art. 69 do Código Penal. 
O feito foi enviado a julgamento no Tribunal do Júri, após ter percorrido a fase sumariante, culminando com a decisão de pronúncia. No dia do julgamento em plenário, foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, bem como feito o interrogatório do acusado, passando-se, em seguida, a palavra ao Ministério Público para iniciar os debates orais. Após, foi dada a palavra à Defesa, bem como o Ministério Público fez a réplica e, no final, foi feita a tréplica. O Conselho de Sentença reuniu-se em sala secreta e proferiu o seguinte veredicto: na primeira série de quesitos, para a primeira vítima, votaram assim: quanto à materialidade, entenderam que ela existiu para todos os crimes, posto que o exame de corpo de delito apontou para a morte das vítimas e o laudo de eficiência e materialidade é dispensável; quanto à autoria, entenderam que sim, pois o autor foi quem disparou a arma de fogo, bem como que as drogas foram encontradas em sua residência, além das armas de fogo; quanto ao quesito da absolvição, entenderam que não existia tese que pudesse absolvê-lo; quanto às qualificadoras, votaram pela existência de ambas. A segunda série de quesitos foi no mesmo sentido para a segunda vítima. 
Assim, o Magistrado proferiu sentença condenatória no delito do art. 121, §2º, II (motivo fútil) e VIII (emprego de arma de fogo de uso restrito), do Código Penal, por duas vezes (duas vítimas), combinado com o crime do art. 16, caput (porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), da Lei nº 10.826/03, por duas vezes (fuzil e pistola 9 mm), e art. 33, caput (tráfico de drogas), da Lei nº 11.343/06, todos em concurso material de crimes, na forma do art. 69 do Código Penal. 
O Ministério Público tomou ciência da decisão e não manifestou desejo em recorrer. Após, o Juiz determinou vista para a Defesa requerer o que de direito. 
3 – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS - MÉRITO
3.1 DA AUSÊNCIA DE EXAME PERICIAL
Cumpre ressaltar que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária às provas produzidas em audiência de instrução e julgamento. Destaca-se que a prova pericial não fora realizada, apesar de ser indispensável nos crimes em testilha, todos eles considerados não transeuntes, que deixam vestígios, devendo a materialidade ser atestada por esse meio probatório, conforme disposição mencionada a seguir:
“Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. 
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. 
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. 
§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. 
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. 
§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. 
§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: 
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; 
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. 
§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. 
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. 
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
Os crimes de homicídio, porte ou posse de arma de fogo e tráfico de drogas necessitam de exame pericial, pois são delitos que deixam vestígios e necessitam de ter a materialidade atestada.
Dessarte, não tendo sido realizada a prova pericial, os jurados não poderiam ter aferido a materialidade delitiva no quesito próprio, estando tal decisão totalmente contrária à prova dos autos.
3.2 DO CONCURSO DE CRIMES
Destaca-se a ocorrência do princípio da consunção e do chamado erro na execução, sendo eles institutos que beneficiam o acusado, o que não ocorre com o concurso material de crimes. 
No princípio da consunção, o agente, para chegar ao crime-fim, deve passar pelo crime-meio, chamado de crime de passagem, sendo apenas uma etapa do caminho delitivo para alcançar o seu objetivo final. Como exemplo, caso queira praticar um homicídio por meio de arma de fogo, deverá praticar os crimes de posse, porte e disparo de arma de fogo, todos previstos na Lei nº 10.826/03, mas que serão absorvidos pelo delito-fim de homicídio, previsto no art. 121 do CP. Logo, não se justifica a aplicação do concurso material de crimes com fundamento no art. 69 do CP. 
Por sua vez, o art. 73 do CP trabalha o erro na execução de um crime, devendo ser estudados os institutos dos concursos formais próprio e impróprio de crimes, destacando-se que, no primeiro, há a aplicação de um crime com a pena exasperada, enquanto, no último, há a soma das penas. Vejase a definição do erro na execução, chamado também de aberratio ictus, e doconcurso formal de crimes, nesses termos:
Erro na execução 
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
Concurso formal 
Art. 70 – Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. Parágrafo único – Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
Trata-se de situação diametralmente oposta ao concurso material de crimes, que está previsto no art. 69 do CP, não havendo a soma das penas, beneficiando em muito a dosimetria da pena do acusado, devendo ser considerada pelo Magistrado para fins de prolação de uma decisão. A jurisprudência pátria é no sentido do reconhecimento dos institutos demonstrados, nesses termos:
 PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ROUBOS MAJORADOS. DOSIMETRIA. PENA BASE. NOMEM IURIS DADO À CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL NÃO VINCULA JULGADOR AD QUEM. PREMEDITAÇÃO. MAIOR GRAU DE CENSURA DA CONDUTA. MAUS ANTECEDENTES CONFIGURADOS. CONCURSO FORMAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO. FLAGRANTE ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
7. Agravo regimental desprovido (AgRg no HC 792057 / SP, STJ).
Logo, a regra do concurso de crimes, seja próprio ou impróprio, é prevista no ordenamento jurídico brasileiro, destacando-se que, no concurso formal próprio, aplica-se a regra da exasperação para apenas um dos crimes, em vez de ocorrer a soma das penas, totalmente em descompasso com a decisão do Tribunal do Júri, o que autoriza um novo julgamento a ser determinado pelo Egrégio Tribunal de Justiça.
4. DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, respeitosamente, requer seja o presente recurso conhecido e, no mérito, provido, na forma seguinte:
a) Seja cassada a decisão prolatada pelo Conselho de Sentença, eis que manifestamente contrária à prova dos autos, devendo ser realizado novo julgamento por outro corpo de jurados.
Nesses termos, pede deferimento.
Porto Seguro, 26 de fevereiro de 2024.				
ASSINATURA ADVOGADO
OAB Nº

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