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DIREITO PENAL LIVRAMENTO CONDICIONAL

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DIREITO PENAL
DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
CONCEITO
Consiste na antecipação da liberdade plena do condenado, de caráter precário, decretada após o cumprimento de parte da pena (ou penas), concedida pelo juízo das execuções criminais, quando preenchidos os requisitos legais de ordem objetiva e
subjetiva, ficando o sentenciado sujeito ao cumprimento de certas obrigações.
O livramento tem caráter precário porque pode ser revogado pelo descumprimento das obrigações impostas e por outras razões.
NATUREZA JURÍDICA
O livramento condicional é incidente da execução da pena. Não é concedido, portanto, pelo juiz que profere a sentença, e sim pelo juízo das execuções. É regulamentado, conforme se verá, no Código Penal, no Código de Processo Penal e na Lei de Execuções Penais.
Trata-se de direito subjetivo do reeducando, na medida em que, preenchidos os requisitos legais, está o juiz das execuções obrigado a conceder o livramento.
Não há como se negar, outrossim, que se trata de benefício legal, pois permite a libertação plena do sentenciado antes do cumprimento integral da pena aplicada na sentença.
REQUISITOS
São diversos os requisitos enumerados no art. 83 do Código Penal para a obtenção do livramento condicional, sendo alguns de natureza objetiva e outros de cunho subjetivo.
Requisitos objetivos
a) Que o juiz tenha aplicado na sentença pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos (art. 83, caput, do CP).
Caso a pena tenha sido fixada em patamar inferior, o livramento não será possível. Se uma pessoa for condenada, por exemplo, a 1 ano e 6 meses de reclusão, e o juiz, por alguma razão, não substituir a pena por restritiva de direitos e não aplicar o
sursis, será inviável a posterior incidência do livramento condicional. Se, todavia, o acusado possuir outras condenações, poderão as penas ser somadas para atingir o
montante mínimo exigido pelo texto legal para a obtenção do benefício.
O livramento pode ser deferido a quem está cumprindo pena em regime fechado, semiaberto ou aberto, já que a lei não faz distinção. Para o condenado que cumpre pena, por exemplo, no regime fechado, não é necessário que primeiro progrida para o
regime aberto ou semiaberto para que depois obtenha o benefício (os requisitos são diversos). É claro, porém, que é comum que o sujeito já tenha progredido
anteriormente de regime antes de obter o livramento.
b) Que o condenado tenha reparado o dano causado pela infração, salvo impossibilidade de fazê-lo (art. 83, IV, do CP).
É certo que, se a vítima não tiver sofrido qualquer prejuízo, não haverá que se cogitar deste requisito, como ocorre, por exemplo, nos crimes contra o patrimônio
quando o réu é preso logo após o delito e os bens restituídos integralmente ao dono.
Poderá também o acusado se eximir da reparação caso demonstre concretamente não possuir condições financeiras de arcar com os valores devidos.
c) Cumprimento de parte da pena (art. 83, I e II e V, do CP).
Dependendo da espécie de crime cometido e dos antecedentes do reeducando, o tempo de cumprimento da pena para a obtenção do livramento varia, de acordo com
as seguintes regras:
1) Em se tratando de crime comum e não sendo o condenado reincidente em crime doloso, bem como apresentando bons antecedentes, deve ter cumprido mais de um terço (1/3) da pena (art. 83, I, do CP). É o chamado livramento condicional
simples.
2) No caso de crime comum, se o réu for reincidente em crime doloso, deve ter cumprido mais de metade (1/2) da pena (art. 83, II, do CP). É o chamado livramento condicional qualificado.
O texto legal é ambíguo no que diz respeito ao tempo de cumprimento em relação ao portador de maus antecedentes (condenado por dois crimes dolosos, mas fora do prazo da reincidência) e do reincidente em que algum dos crimes seja culposo. O art. 83, inc. I, parece excluí-los do critério que exige apenas 1/3 (o dispositivo exige bons antecedentes), enquanto o inc. II só exige o cumprimento de 1/2 da pena se a reincidência for em crime doloso. Na dúvida, deve-se optar pela solução mais favorável aos condenados com maus antecedentes ou reincidentes (em que um dos crimes cometidos seja culposo), ou seja, deve-se interpretar que precisam cumprir somente 1/3 da pena para a obtenção do livramento
3) Se a condenação for referente a crime hediondo, terrorismo ou tortura, deve o
sentenciado ter cumprido mais de dois terços (2/3) da pena, salvo se o apenado for
reincidente específico em crimes dessa natureza (art. 83, V, do CP). Assim, se o
agente já foi condenado por qualquer crime hediondo, por tortura ou terrorismo, não
poderá obter o livramento caso torne a cometer quaisquer desses crimes.
A Lei n. 13.344/2016 modificou a redação do art. 83, V, do Código Penal, e
passou a prever que, no crime de tráfico de pessoas (art. 149-A do CP), o livramento
condicional também só poderá ser obtido após o cumprimento de dois terços da pena,
desde que o apenado não seja reincidente específico em crime dessa natureza. Quanto
a tal instituto, portanto, o tráfico de pessoas passou a ter tratamento idêntico ao dos
crimes hediondos e assemelhados, embora não tenha tal natureza, já que o legislador
preferiu não o inserir no rol da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos).
4) Se a condenação referir-se a crime de tráfico de drogas (arts. 33, caput, § 1º, e 34 a 37, da Lei n. 11.343/2006), é necessário que o reeducando tenha também cumprido mais de dois terços (2/3) da pena, salvo se reincidente específico em crimes dessa natureza (art. 44, parágrafo único, da Lei n. 11.343/2006). Apenas não poderá obter o livramento quem for reincidente específico em crimes de tráfico. O alcance de reincidência específica nesse dispositivo é mais restrito do que aquele contido no art. 83, V, do Código Penal e, por ser a Lei de Drogas posterior, revogou tacitamente a menção ao crime de tráfico existente no mencionado inc. V. Em suma, quem cometer tráfico de drogas após ter sido condenado em definitivo por algum crime hediondo (estupro, por exemplo) pode obter o livramento após cumprir dois terços (2/3) de sua pena, porém, se a condenação anterior for também relacionada ao
tráfico de drogas, o livramento não poderá ser concedido.
• Soma das penas
No caso de concurso de crimes reconhecidos na mesma sentença, deve-se observar o montante total aplicado, resultante da soma ou exasperação, para se verificar a possibilidade do benefício pelo cumprimento de parte desse total.
Igualmente no caso de superveniência de nova condenação quando o acusado já estava cumprindo pena por outro crime, as reprimendas devem ser somadas para que,
com base no novo montante a cumprir, seja verificado o cabimento do livramento.
Suponha-se uma pessoa condenada a 6 anos de reclusão por um crime comum, que já tenha cumprido 1 ano da pena, quando sobrevém nova condenação por crime comum, agora a 3 anos de reclusão, sendo o réu considerado reincidente.
Serão somados os 5 anos restantes da primeira condenação com os três anos da última, alcançando o total de 8 anos. Assim, o livramento poderá ser obtido após o cumprimento de 4 anos.
Quando os crimes praticados sujeitarem-se a prazos diversos para a concessão do benefício, deverá ser feita a análise com base em cada um deles individualmente e depois deverão ser somados. Ex.: pessoa condenada a 12 anos de reclusão por homicídio qualificado (crime hediondo) e a 6 anos por crime de extorsão (crime comum). O réu não foi considerado reincidente em nenhuma das condenações. Assim, deverá ter cumprido 8 anos em relação ao homicídio (2/3) e mais 2 anos referentes à
extorsão (1/3). Em suma, após a incidência dos índices respectivos e de sua soma, tal condenado poderá obter o livramento, se presentes os demais requisitos legais,
depois do cumprimento de 10 anos de sua pena.
Requisitos subjetivos
a) Comprovação de comportamento satisfatório durante a execução da pena (art. 83, III, 1ª parte).
A comprovação deste requisito é feita pela elaboração de atestado de boa conduta carcerária pelo diretor do presídio.
A Súmula n. 441do Superior Tribunal de Justiça estabelece que a prática de falta grave não interrompe o prazo do livramento condicional, contudo, o diretor do presídio evidentemente só dará atestado de boa conduta carcerária se, após referida
falta, o condenado tiver passado a ter conduta exemplar.
b) Comprovação de bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído (art. 83, III, 2ª parte).
A prova é também feita por intermédio de atestado do diretor do estabelecimento.
O preso que, reiterada e injustificadamente, recusa-se a trabalhar não poderá, em razão disso, obter o livramento.
c) Comprovação de aptidão para prover à própria subsistência mediante
trabalho honesto (art. 83, III, 3ª parte).
O preso pode apresentar, por exemplo, proposta de emprego ou demonstrar que irá trabalhar com parentes ou por conta própria etc.
d) Para o condenado por crime doloso, cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, a constatação de que o acusado apresenta condições pessoais que façam presumir que, uma vez liberado, não voltará a delinquir (art. 83,
parágrafo único, do CP).
Esta prova pode ser feita pelo exame criminológico, por parecer da ComissãoTécnica de Classificação ou por outros meios etc.

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