Buscar

MÓDULO 5 DA CITACAO A EXECUÇÃO

Prévia do material em texto

MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
DA CITAÇÃO À EXECUÇÃO PENAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
2 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 
UNIDADE 2 – CITAÇÃO E INTIMAÇÃO .................................................................... 4 
UNIDADE 3 – SENTENÇA ....................................................................................... 11 
UNIDADE 4 – A PRISÃO .......................................................................................... 15 
4.1 PRISÃO PROVISÓRIA ........................................................................................... 23 
4.1.1 FLAGRANTE (ART. 301 E SEGS., CPP) .............................................................. 25 
4.1.2 PRISÃO PREVENTIVA (ART. 311 E SEGS., CPP) .................................................. 27 
4.1.3 PRISÃO (PREVENTIVA) NA FASE DE PRONÚNCIA (ART. 413, CPP) ......................... 29 
4.1.4 PRISÃO PREVENTIVA COMO ULTIMA RATIO DE INTERVENÇÃO CAUTELAR ................ 30 
4.1.5 PRISÃO TEMPORÁRIA (LEI 7.960/89) ................................................................. 31 
4.1.6 O FIM DA PRISÃO DECORRENTE DE CONDENAÇÃO RECORRÍVEL (ART. 393, I, E 594, 
CPP) ...................................................................................................................... 32 
UNIDADE 5 – LIBERDADE PROVISÓRIA ............................................................... 34 
5.1 LIBERDADE PROVISÓRIA ISOLADA ......................................................................... 34 
5.2 LIBERDADE PROVISÓRIA CUMULADA COM MEDIDA CAUTELAR .................................. 35 
UNIDADE 6 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ............................... 37 
UNIDADE 7 – NULIDADES ...................................................................................... 38 
7.1 DOS PRINCÍPIOS REGENTES DAS NULIDADES ......................................................... 39 
7.2 NULIDADES EM ESPÉCIE (ART. 564) .................................................................... 41 
UNIDADE 8 – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ........................................................ 43 
UNIDADE 9 – EXECUÇÃO PENAL .......................................................................... 55 
8.1 OBJETIVOS DA EXECUÇÃO PENAL ......................................................................... 58 
8.2 DOS ESTABELECIMENTOS PARA CUMPRIMENTO DE PENA ........................................ 58 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60 
 
 
 
3 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
i
 
 
É chegado o momento de estudarmos da citação ao processo da execução 
penal em si e em seus detalhes. Do crime à execução penal o caminho é longo, já 
sabemos! 
A fase de conhecimento do processo passa a execução com o trânsito em 
julgado da sentença, que torna-se, título executivo judicial. Na execução a sentença 
será cumprida, ou seja, a pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou 
pecuniário serão executadas. 
Ressalta-se que o condenado já tem ciência da ação penal ajuizada, assim, 
embora a citação seja dispensável, uma vez que foi intimado da sentença penal 
condenatória e exerceu o seu direito de recorrer, será nosso primeiro assunto. 
Contudo, a citação é necessária em casos de condenação a pena de multa, isso 
porque o início do cumprimento da pena fica a cargo do sentenciado, consoante 
dispõe o artigo 50 do Código Penal: “A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias 
depois de transitada em julgado a sentença”. Se por ventura o condenado não pagar 
a multa, será intimado pelo próprio juízo da condenação. 
Pois bem, a citação e intimação, a sentença, a prisão, a liberdade provisória, 
suspensão condicional do processo, nulidades, extinção da punibilidade são as 
matérias a serem estudadas. 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, 
podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos 
estudos. 
 
 
4 
 
UNIDADE 2 – CITAÇÃO E INTIMAÇÃO 
 
A citação é o chamamento do réu a juízo, dando-lhe ciência do ajuizamento 
da ação, imputando-lhe a prática de uma infração penal, bem como lhe oferecendo a 
oportunidade de se defender pessoalmente e através de defesa técnica (NUCCI, 
2008). 
A citação é o ato oficial pelo qual, no início da ação, se dá ciência ao 
acusado de que contra ele se movimenta essa ação, chamando-o a vir a juízo, ver-
se processar e fazer a sua defesa. Ela é ao mesmo tempo a notícia que se leva ao 
réu de ter sido instaurada a ação, e o primeiro chamado que se lhe faz para vir a 
juízo. É um aviso e uma convocação, atende ao imperativo constitucional de não ser 
alguém processado sem ter-lhe assegurado amplos meios de defesa. 
Intimação, por sua vez, é a ciência dada às partes de um ato já consumado, 
seja despacho ou sentença. Depois de citado e comparecendo em juízo, o acusado 
é intimado, em cartório, para os subsequentes atos do processo. 
Conforme a condição do acusado e o lugar onde se encontra, sua citação 
poderá ser feita por: 
 mandado; 
 requisição; 
 precatória; 
 rogatória; 
 edital. 
A citação instaura a relação processual, impondo, a partir de então, deveres 
processuais ao acusado. Neste sentido, ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTÔNIO 
SCARANCE FERNANDES e ANTÔNIO MAGALHÃES GOMES FILHO (2006, p. 
116) lecionam que é exigência fundamental ao exercício do contraditório o 
conhecimento, pelos interessados, de todos os dados do processo, pois sem a 
completa e adequada informação a respeito dos diversos atos praticados, das 
provas produzidas, dos argumentos apresentados pelo adversário, a participação 
seria ilusória e desprovida de aptidão para influenciar o convencimento do juiz. 
Desse modo, a efetividade dos diversos atos de comunicação processual 
representa condição indispensável ao pleno exercício dos direitos e faculdades 
conferidos às partes; sua falta ou imperfeição implica sempre prejuízo ao 
contraditório, comprometendo toda a atividade subsequente. 
 
 
5 
 
Dos ensinamentos de FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (2008), 
temos que citação é o ato processual pelo qual se leva ao conhecimento do réu a 
notícia de que contra ele foi recebida denúncia ou queixa, para que possa defender-
se. 
Não há dúvida que a citação constitui seguramente o mais importante ato de 
comunicação processual, especialmente em sede penal, pois visa levar ao 
conhecimento do réu a acusação que lhe foi formulada, (...), propiciando, assim, as 
informações indispensáveis à preparação da defesa (GRINOVER et al, 1999). 
É ato que comunica a existência da ação penal, bem como chama, por 
primeira vez, o acusado a comparecer em juízo em dia e hora designados (art. 396 
do CPP)1. 
A citação regular torna completa a relação processual e atribui ao acusado o 
ônus de comparecer aos atos processuais para os quais for intimado e também de 
comunicar ao juízo qualquer mudança de residência, sob pena de prosseguir o 
processo sem a sua presença (art. 367 do CPP). 
A citação se diferenciade outros atos processuais de comunicação às 
partes, quais sejam: a) intimação – que é, grosso modo, ato de comunicação que dá 
ciência às partes de um ato processual praticado; b) notificação – é a comunicação 
para o comparecimento da parte em um determinado ato processual. 
Quem determina que se proceda à citação é o magistrado, sendo o ato, via 
de regra, cumprido pelo Oficial de Justiça. Há casos em que a citação é cumprida 
por pessoa diversa, como na citação de militar, que é feita conforme dispõe o art. 
358 do CPP (pelo chefe do respectivo serviço). 
No processo penal, pode ser citado apenas o indivíduo que se encontra no 
polo passivo da ação penal, vale dizer, o sujeito passivo da pretensão punitiva. Em 
se tratando de réu portador de doença mental, a citação será feita na pessoa de seu 
curador. A citação do funcionário público, por sua vez, é feita por mandado ou 
precatória, sendo, ainda, notificado o chefe de sua repartição (art. 359 do CPP). Em 
relação à citação do preso, esta deve ser feita, consoante o plasmado no art. 360 do 
CPP, pessoalmente, o que não obsta a expedição de ofício requisitório ao Delegado, 
 
1 A citação é o canal de comunicação aberto pelo Estado-juiz em direção ao acusado para noticiá-lo 
da existência de uma imputação e convocá-lo a contrariá-la. Tal comunicação, que se traduz num dos 
enfoques do princípio constitucional do contraditório, deve ser efetiva, inquestionável, induvidosa. Por 
isso, está cercada de formalidades que não podem ser postergadas. A comunicação falha, deficiente, 
bloqueada, corresponde à falta de comunicação e vicia de modo incurável o processo. (TACrimSP, 
HC 119.796, RT 578/364). 
 
 
6 
 
Diretor do Presídio ou quem faça suas vezes para diligenciar sua apresentação ao 
Fórum, onde será interrogado (TOURINHO FILHO, 2008). 
A lei nº 11.719/08 altera os artigos 362 e 363 do CPP, que dispunham: 
Art. 362. Verificando-se que o réu se oculta para não ser citado, a citação 
far-se-á por edital, com o prazo de 5 dias; 
Art. 363. A citação será feita por edital: 
I – quando inacessível, em virtude de epidemia, de guerra ou de outro 
motivo de força maior, o lugar em que estiver o réu; 
II- quando incerta a pessoa que tiver de ser citada. 
A nova lei institui a modalidade de citação por hora certa no âmbito 
processual penal e revoga os incisos do art. 363, do CPP, conforme se verifica: 
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de 
justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma 
estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código 
de Processo Civil. 
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não 
comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo. 
Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a 
citação do acusado. 
I - (revogado); 
II - (revogado). 
§ 1º Não sendo encontrado o acusado, será procedida a citação por edital. 
§ 2º (VETADO) 
§ 3º (VETADO) 
§ 4º Comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer tempo, o 
processo observará o disposto nos arts. 394 e seguintes deste Código. 
A citação por hora certa é novidade para o processo penal e seguirá as 
regras estabelecidas pela legislação processual civil: 
Art. 227 - Quando, por três vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu 
em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de 
ocultação, intimar a qualquer pessoa da família, ou em sua falta a qualquer vizinho, 
que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, na hora que designar. 
 
 
7 
 
Art. 228 - No dia e hora designados, o oficial de justiça, independentemente 
de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou residência do citando, a fim de 
realizar a diligência. 
§ 1º - Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará 
informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando 
se tenha ocultado em outra comarca. 
§2º- Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com 
pessoa da família ou com qualquer vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o 
nome. 
Art.229 - Feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, 
telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência. 
 
A citação no processo penal pode ser real, pessoal ou in faciem ou ficta, 
também conhecida como presumida: 
a) pessoal ou real, isto é, aquela feita na própria pessoa do acusado e que 
se efetiva por meio de mandado judicial (por oficial de justiça), por precatória 
(quando se tratar da hipótese na qual o réu esteja fora do território do juiz 
processante, conforme o art. 353 do CPP); por carta de ordem (determinada pelos 
tribunais em processos de competência originária, conforme o teor do parágrafo 1º 
do art. 9º, da lei nº 8.038/90) e, por fim, por carta rogatória (no caso do acusado 
encontrar-se no estrangeiro, de acordo com o art. 368, do CPP); 
b) ficta ou presumida – que se efetiva, conforme a recente reforma 
processual, de duas maneiras, quais sejam: 1. por edital – cujo leque de 
possibilidades foi reduzido à uma única hipótese: quando o acusado não for 
encontrado (arts. 361 e 363, parágrafo 1º do CPP); 2. por hora certa – modalidade 
que servia apenas ao processo civil e que passa, de forma inovadora, a ser adotada 
pelo processo penal, nos casos em que o réu se ocultar para não ser citado (art. 362 
do CPP) (MOREIRA, 2002). 
Vale lembrar que a citação válida é ato imprescindível para o processo, sob 
pena de nulidade (conforme art. 564, inciso III, alínea ‘e’ do CPP). Assim, possui 
relevância inquestionável para o processo penal. 
Quanto a intimação é, pois, a ciência que se dá a alguém de um ato já 
praticado, já consumado, seja um despacho, seja uma sentença, enfim, é a 
comunicação de ato praticado. Assim, intima-se o réu de uma sentença (note-se que 
 
 
8 
 
o réu está sendo cientificado de um ato já consumado, já praticado, isto é, a 
sentença. 
A notificação, por outro lado, é a cientificação que se faz a alguém (réu, 
partes, testemunhas, peritos, etc.) de um despacho ou decisão que ordena fazer ou 
deixar de fazer alguma coisa, sob certa cominação. Assim, a testemunha é 
notificada, porque se lhe dá ciência de um pronunciamento do Juiz, a fim de 
comparecer à sede do juízo em dia e hora designados, sob as cominações legais. 
Se não comparecer, estará ela sujeita àquelas sanções a que se referem os arts. 
218 e 219 do CPP” (TOURINHO FILHO, 2009). 
Há que se ressaltar que essa diferenciação não foi observada pelo nosso 
Código de Processo Penal, fazendo que a grande maioria da doutrina e da 
jurisprudência também assim procedesse. O CPP ora se refere à intimação, ora à 
notificação, sem levar em conta a diferenciação doutrinária realmente existente. 
Considerando-se, portanto, esta realidade legal e a prática forense, utiliza-se 
genericamente o termo intimação, englobando no conceito os dois institutos, até 
porque, além da indiferença do legislador processual, ambos os termos têm a 
mesma finalidade de comunicação, de cientificação de ato processual. 
Com efeito, a intimação é dirigida às partes, vítimas, testemunhas, peritos, 
intérpretes, defensores e assistentes e tantos quantos precisem ser chamados ao 
processo, seja para fazer ou não fazer, seja para tomar conhecimento de algum ato 
já realizado. 
A intimação poderá se realizar, em regra, através da expedição de mandado 
(se o destinatário residir na comarca do Juízo processante), de carta precatória ou 
rogatória (se residir fora) e de ofício requisitório (no caso da pessoa intimada estar 
presa ou ser militar). 
Em caso de intimação por carta precatória, exige o Código (art. 222, caput), 
sob pena de nulidade relativa (Súmula 155, STF) que as partes sejam intimadas da 
expedição do documento, não sendo exigível que se lhes dê ciência da datamarcada pelo Juízo deprecado para a realização do ato, o que não deixa de 
dificultar a defesa, pois a parte acusada não terá conhecimento do dia da audiência. 
Atento a esta falha, FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (2009) 
disse esperar “que o direito pretoriano passe a exigir, também, seja ele (o defensor) 
intimado do despacho que designa data para a audiência, pois de nada valerá ser 
informado da simples expedição de precatória, a teor do art. 222, caput”. 
 
 
9 
 
Infelizmente a jurisprudência até o momento tem decidido pacificamente que não há 
nulidade pela não cientificação da defesa da data da audiência no juízo deprecado 
(RT 569/289, 541/368, 525/352, 493/347, etc.). 
Além dessas modalidades, há regras especiais atinentes ao tema, como 
veremos a seguir: 
 com efeito, o advogado constituído, seja pelo réu, seja pelo querelante ou 
pelo assistente, será intimado pelo órgão incumbido da publicidade dos atos 
judiciais da comarca (quando se deve incluir, sob pena de nulidade, o nome 
do acusado, além do número do processo, do nome do advogado e o teor do 
despacho do Juiz); se não houver tal órgão, a intimação far-se-á diretamente 
pelo escrivão, por mandado, pelo correio (com aviso de recebimento) ou 
através de qualquer outro meio idôneo, tudo em conformidade com o art. 370, 
§§ 1º, 2º 3º, CPP. “É possível, pois, seja a cientificação realizada por 
telegrama, telex, fax, computador, radiograma ou telefone, meios não aceitos 
pela jurisprudência quanto à legislação anterior” (MIRABETE, 2007); 
 quando se tratar de intimação de funcionários públicos, a expedição do 
respectivo mandado deve ser imediatamente comunicada ao chefe da 
repartição em que servirem, com a indicação do dia e da hora marcados (art. 
221, § 3º, CPP). A intenção do legislador, ao que parece, foi evitar que o 
serviço público sofresse solução de continuidade, pois, sendo necessário, o 
chefe da repartição certamente providenciará a substituição do funcionário 
faltante. Imagine-se o único médico plantonista em um hospital público 
intimado para depor (...); 
 quanto ao jurado, caso não seja encontrado pelo oficial de justiça, estará 
devidamente intimado com a cópia do mandado deixada em sua residência, 
salvo se ele não estiver no respectivo município (art. 429, § 2º.); 
 os membros do Ministério Público, os Defensores Públicos e os defensores 
dativos serão intimados sempre pessoalmente na forma do art. 370, § 4º. 
Observa-se que já decidiu o STF que “a teor do disposto no § 5º. do art. 5º. 
da Lei nº 1.060/50, acrescido por força da Lei nº 7.871/89, nos Estados onde a 
Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor Público, ou 
quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do 
processo, em ambas as instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos. A 
Lei nº 8.701/93, no que conferiu nova redação à norma geral do artigo 370 do 
 
 
10 
 
Código Penal, não teve o condão de revogar o citado preceito porque de natureza 
especial. 
A lei orgânica do Ministério Público, Lei nº 8.625/93, também estabelece, no 
art. 41, IV, constituir prerrogativa do membro da Instituição receber intimação 
pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega dos autos 
em vista, ou seja, “necessário e imprescindível é que o escrevente ou o próprio 
escrivão dê ao interessado ciência do ato processual que deve conhecer (...)”, não 
se exigindo, “porém, a averbação do ‘ciente’ do Ministério Público quando intimado 
seu representante, bastando que se certifique nos autos a sua cientificação” 
(MIRABETE, 2007). 
A intimação poderá se realizar, ainda, diretamente pelo escrivão (art. 370, § 
3º), em audiência (art. 372) ou por despacho na própria petição em que for 
requerida, observando-se, neste último caso, os requisitos da intimação por 
mandado (art. 371), ou seja, o oficial de justiça deverá ler a petição e o despacho 
nela proferido, entregando a contrafé e certificando no verso da petição o 
cumprimento da diligência e das respectivas formalidades: substitui-se, apenas, o 
mandado pela petição. 
A Lei nº 9.800/99 inovou, permitindo a comunicação de atos processuais 
através da utilização do sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile 
ou outro similar (art. 3º.). 
Por sua vez, a Lei nº 9.099/95, fiel aos critérios por ela adotados da 
informalidade, da economia processual e da celeridade (art. 62), dispõe que nos 
Juizados Especiais Criminais, a intimação (ou notificação) poderá ser efetivada 
através de via postal (com AR ou mediante entrega na recepção, se se tratar de 
pessoa jurídica ou firma individual), por oficial de justiça (independentemente de 
mandado ou carta precatória), na própria audiência, ou, ainda, por qualquer outro 
meio idôneo de comunicação, como, por exemplo, o telefone, tomando-se sempre 
as “cautelas para que seja intimada a pessoa certa e para que esta tenha inequívoco 
conhecimento da finalidade de sua intimação, bem como do dia e hora da audiência 
a que deva estar presente” (GRINOVER et al, 1999). 
Ressalta-se, por fim, que as intimações das decisões de pronúncia e das 
sentenças obedecem às regras estabelecidas, respectivamente, pelos arts. 412 a 
415 e 390 a 392; quanto aos acórdãos, a respectiva intimação deverá ser feita pela 
imprensa oficial, salvo as hipóteses das intimações pessoais. 
 
 
11 
 
UNIDADE 3 – SENTENÇA 
 
Em sentido substancial, sentença é o ato do juiz de resolver a lide, aplicando 
a lei ao caso concreto. Portanto trata-se da decisão do mérito. Ela se denomina 
sentença definitiva (SANTOS, 2011). 
Segundo VICENTE GRECO FILHO (2009), é comum confundir o termo 
sentença definitiva, com sentença transitada em julgado. 
Sob o aspecto formal, sentença é o ato final do juiz monocrático de primeiro 
grau, denominando acórdão à decisão colegiada dos tribunais. Todavia, em sentido 
amplo, sentença abrange os acórdãos, como exemplo, na expressão sentença 
transitada em julgada. 
Além da sentença, que é a decisão definitiva, o juiz profere despachos 
expediente, no prazo de 1 (um) dia, que é o encaminhamento processual, como 
designação de audiência ou determinação de juntada de documentos; decisões 
interlocutórias, no prazo de 5 (cinco) dias, que são atos de resolver questões 
controvertidas no curso do processo; e, decisões interlocutórias mistas, no prazo de 
10 (dez) dias, como a sentença que extingue o processo sem julgar o mérito. 
No entendimento de VICENTE GRECO FILHO (2009), a decisão que 
decreta a extinção da punibilidade, segundo o código, seria interlocutória mista, 
tendo em vista que não faz parte do capítulo da sentença, por não decidir o mérito 
principal. Todavia, tem ela fora de sentença, uma vez que faz coisa julgada material. 
A sentença tem requisitos extrínsecos e intrínsecos. Os requisitos 
intrínsecos são o relatório, a fundamentação e o dispositivo ou conclusão. Os 
extrínsecos são a data e a assinatura, que autentificam, e as rubricas nas folhas, se 
for datilografada. 
O relatório é o resumo das ocorrências do processo, desde a identificação 
das partes, exposição sucinta da acusação e da defesa, até as provas colhidas e 
eventuais incidentes resolvidos. 
A fundamentação é a identificação dos motivos, de fato e de direito, que 
conduzem à conclusão. 
O dispositivo é a parte em que o juiz, coerente com a fundamentação, aplica 
a lei ao caso concreto e condena ou absolve o acusado, apontando os dispositivos 
legais que incidem na hipótese. Proferida a sentença de mérito, o juiz encerra a 
atividade jurisdicional sobre a imputação. 
 
 
12 
 
Não poderá modificar, salvo para retificar erros materiais, ou, mediante 
requerimento da parte em 48 horas, para esclarecer obscuridade, ambiguidade, 
contradição ou omissão (art. 382 CPP). 
Apesar de o código não declarar expressamente, mas encontra-se nesse 
dispositivo a figura dos embargos de declaração,onde o código refere como recurso 
apenas contra acórdão (art. 619 CPP). 
O Juiz pode, ainda, modificar a sentença se contra ela cabe recurso no 
sentido estrito, como acontece no caso de sentença em habeas corpus. 
Afirmamos que no âmbito penal, a Sentença Penal deverá respeitar o 
formalismo a que se encontra submetida, devendo preencher os requisitos 
constitutivos da essencialidade desse ato processual decisório, que, se 
desatendidos, tornaria a sentença imprópria para gerar os seus efeitos regulares que 
dela se espera. 
Está inserida tal matéria no Código de Processo Penal – CPP – nos arts. 
381 a 393. Elenca o art. 381 do CPP, os requisitos objetivos essenciais que deverão 
constar na Sentença: 
I – o nome das partes ou indicações para identificação; 
II – uma exposição sucinta da acusação e da defesa; 
III – a indicação de motivos de fato e de direito que servem de base para a 
fundamentação da Sentença; 
IV – a indicação dos artigos de lei aplicável ao caso, de forma expressa; 
V – o Dispositivo; e, por último, 
VI – a assinatura do Juiz acompanhado da data. 
Tais requisitos são indeclináveis e imperativos para o processo, quando 
analisados conjuntamente. 
Criou-se no meio jurisprudencial e doutrinário, uma ritualística mais breve, 
acabando por mencionar que na Sentença deve obrigatoriamente constar o 
RELATÓRIO, a FUNDAMENTAÇÃO e o DISPOSITIVO. 
 O relatório pode ser definido como sendo o resumo de todos os atos que 
ocorreram durante a tramitação processual e que se encontram nos autos, ou 
seja, um histórico processual, sendo inclusive causa de nulidade se o mesmo 
não constar na Sentença. 
 Já a fundamentação é a parte da Sentença que abriga os motivos de Fato e 
de Direito que serve de fundamento para a decisão. Tal requisito encontrou 
 
 
13 
 
guarida na Carta Constitucional, no art. 93, inciso IX, que estabelece que toda 
decisão proferida pelo órgão judiciário deverá ser fundamentada, sob pena de 
nulidade da mesma. Não é outro tal requisito, senão o de mostrar as partes 
que o que foi decidido está de acordo com o que foi amplamente discutido no 
processo, em todos os seus termos, e que decisão do juiz não se afastou do 
universo dos autos. 
 A parte dispositiva da Sentença é exatamente a parte em que o Magistrado 
decidirá sobre a pretensão punitiva, já que falamos de matéria penal. Pode-
se, sem qualquer dúvida, dizer que é a parte mais importante da Sentença, 
pois é revelado através dela as conclusões do julgador, estabelecendo, 
também, os limites da coisa julgada. 
Podemos falar em dois tipos de sentença, a Sentença Absolutória e 
Sentença Condenatória. 
A Sentença Absolutória é aquela que julga improcedente a pretensão 
punitiva do Estado, estereotipada pela acusação, declarando infundada a acusação 
feita ao réu. Contudo, para declarar a absolvição do acusado, não pode esta ser 
feita de forma aleatória. Tem-se que a absolvição somente se dará quando previstas 
algumas das hipóteses do art. 386 do Código de Processo Penal. 
Estas hipóteses são: 
I - quando ficar provado a inexistência do fato; 
II – quando não houver prova da existência do fato; 
III – quando o fato não constituir em infração penal; 
IV – quando existir circunstâncias que excluam ou isente o acusado de pena; 
e, 
V – quando não houver existência de prova suficiente para proferir uma 
decisão condenatória. 
As hipóteses acima referidas abordam de forma completa as possibilidades 
de se proferir uma decisão absolutória para o acusado, não ficando discricionário ao 
judiciário a adoção de outras hipóteses. 
De outro lado, temos a Sentença Condenatória que são aquelas que dão 
provimento a pretensão punitiva, pública ou privada, contida na ação penal. Para 
este tipo de sentença faz-se necessário a prova plena de imputação ao acusado da 
materialidade e autoria do ato infracional, e não apenas mera possibilidade. 
Havendo dúvidas quanto ao caso, ou seja, se não se pode afirmar convictamente ter 
 
 
14 
 
o réu cometido o delito, impõe-se a absolvição do mesmo, significando a máxima in 
dubbio pro réu. 
A prolação de uma Sentença Penal existe para um fim específico e principal, 
que é a imposição ao réu de pena a ser cumprida, tomando-se este efeito como 
Primário. 
Contudo, há outros efeitos, tidos como Secundários, que vão além da 
imputação de pena, subdividindo-se em: efeitos de ordem Penal (podendo 
exemplificá-lo como sendo a revogação da suspensão condicional da pena; 
revogação do livramento condicional, entre outros); e, de Ordem Extrapenal (que 
decorrem das sanções administrativas, trabalhistas e cíveis, e que deverão estar 
expressamente motivadas na Sentença). 
Entretanto, como a Sentença decorre de um ato humano, estará sujeita a 
falibilidade de seu conteúdo, podendo esta conter erros, vícios, incoerência, entre 
outras possibilidades prejudiciais, que torna lesivo a uma das partes, ou todas elas, 
não se prestando para o seu fim de alcançar o direito. 
Partindo da inconformação da Sentença, temos que ela não é imutável de 
forma absoluta. Esta poderá ser alterada, total ou parcialmente, se utilizados das 
vias próprias (VIANA, 2004). Via recursos que veremos mais adiante. 
 
 
15 
 
UNIDADE 4 – A PRISÃO 
 
No dia 04 de julho de 2011, após sessenta dias de vacatio legis, entrou em 
vigor a nova lei nº 12.403/11, que alterou sensivelmente dispositivos do Decreto Lei 
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, o Código de Processo Penal, em relação aos 
temas das prisões, fiança, liberdade provisória e medidas cautelares (VIEGAS, 
2012). 
Embora observemos que vários autores venham estudando a nova lei, 
vamos nos basear inicialmente em análises realizadas pela autora acima, visto ter 
feito considerações pontuais sobre as mudanças ocorridas e que cabem ao 
propósito desta unidade. 
Segundo a mesma, a referida lei, seguindo a tendência jusfilosófica 
minimalista da aplicabilidade do subsistema criminal às mazelas sociais, trouxe 
alterações de alguns institutos que vinham gerando contradição entre os postulados 
doutrinários e os julgados dos tribunais, inclusive do Supremo Tribunal Federal, tais 
como as prisões e a liberdade provisória. Ademais, a novel ressuscita o instituto da 
fiança, que, em que pese nunca tenha sido revogado, na prática era pouco aplicável 
com a devida seriedade. 
Apesar de existirem em algumas leis esparsas, como no Código de Trânsito 
Brasileiro (Lei nº 9.503/97), na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06) e na Lei de 
Drogas (Lei nº 11.343/06), a grande novidade da lei 12.403/11 é a introdução ao 
sistema processual penal das medidas cautelares de cunho penal, que visam evitar 
o encarceramento provisório dos acusados em geral. 
Mesmo antes da presente lei, alguns magistrados já fundamentavam, mas 
de forma excepcional, a adoção de medidas cautelares de cunho penal em 
detrimento da prisão provisória, tudo fundado na aplicação subsidiária do artigo 798 
do Código de Processo Civil. Contudo, a doutrina majoritária entendia que tal 
aplicação não seria legítima. 
Embora passados 18 meses da entrada em vigência, acreditamos ser 
prematuras reflexões e análises muito profundas, portanto, concordamos em apontar 
somente algumas impressões acerca da nova lei. 
A Lei nº 11.403/11 positivou aquilo que o Supremo Tribunal Federal está 
exausto de propalar: que no processo penal a prisão só é legítima antes do trânsito 
 
 
16 
 
em julgado de sentença condenatória, quando presentes requisitos cautelares que 
apontem sua absoluta necessidade. 
O legislador ordinário, seguindo a tendência do Direito Penal Moderno, 
entendeu que a prisão deve ser utilizada pelo Estado como último meio persuasório 
a pretender que o indivíduo mantenha sua conduta em consonância com o 
ordenamento jurídico. É, pois, extrema ratio da ultima ratio. 
A novel inseriu no sistema jurídico medidas cautelares, medidas de cunho 
judicial que visam resguardar a eficáciae utilidade do processo principal, buscando, 
assim, aplicar apenas excepcionalmente a prisão processual provisória, tanto na 
modalidade preventiva, quanto temporária. De fato, em consonância com os 
princípios insculpidos na Constituição da República Federativa Brasileira, o estado 
de inocência deve imperar até o definitivo julgamento de um processo penal. 
Seguindo esta linha, muitos magistrados já deixavam de decretar a prisão ao 
considerar que a adoção de uma medida alternativa pudesse suprir a necessidade 
de que o processo continuasse de modo tranquilo a fim de propiciar uma prestação 
jurisdicional efetiva. Aqui, pode-se exemplificar com o caso concreto do acidente 
aéreo que envolveu pilotos norte-americanos em jato que se chocou com avião de 
grande porte de companhia brasileira. O juiz decidiu pela medida de retenção de 
passaporte dos pilotos estrangeiros que, sem domicílio ou trabalho em nosso país, 
aqui teriam cometido crime. 
Dessa forma, de acordo com o julgamento da Terceira Seção do STJ no CC 
72.283-MT, foi desnecessária a prisão para assegurar a aplicação da lei penal. 
Nesse diapasão, o legislador infraconstitucional positivou no art. 319 do CPP 
as seguintes medidas cautelares de cunho penal: 
 a prisão domiciliar; 
 o comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo 
juiz, para informar e justificar atividades; 
 a proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer 
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; 
 a proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela 
permanecer distante; 
 
 
17 
 
 a proibição de ausentar-se da comarca ou subseção judiciária quando a 
permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou 
instrução; 
 recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o 
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 
 a suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza 
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a 
prática de infrações penais; 
 a internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com 
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou 
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; 
 a fiança, nas infrações que a admitem para assegurar o comparecimento a 
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de 
resistência injustificada à ordem judicial; e, por fim, 
 o monitoramento eletrônico. 
Ocorre que muitas dessas medidas cautelares já eram utilizadas no sistema 
penal, haja vista sua previsão como condição para suspensão condicional da pena 
no artigo 77 do Código Penal, e como suspensão condicional do processo, disposto 
no artigo 89 Lei nº 9.099/95. Vale destacar a prisão domiciliar, a proibição de 
ausentar-se do País, a suspensão do exercício de função pública ou de atividade de 
natureza econômica ou financeira, a internação provisória do acusado, nas 
hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, a proibição de 
manter contato com pessoa determinada e o monitoramento eletrônico. 
A Prisão Domiciliar é uma espécie de medida cautelar consistente no 
recolhimento do indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-
se com autorização judicial. Não se trata de novidade em nosso ordenamento 
jurídico, tendo em vista o art. 117 da Lei de Execução Penal. 
Tal prisão é substituta genérica da prisão preventiva e aplica-se apenas 
diante de condições pessoais do autor do fato, apontadas em lei e devidamente 
comprovadas, como exemplo, ser ele portador de doença grave que cause 
debilidade extrema. Desnecessário comentar as dificuldades atuais de fiscalização 
de tal modalidade de cárcere cautelar. 
Em que pese, na essência sejam semelhantes, a prisão domiciliar recém 
positivada não é a mesma aludida pelo artigo 117 da Lei de Execuções Penais. 
 
 
18 
 
Ambas consistem no recolhimento do sujeito, só podendo dela ausentar-se com 
autorização judicial, artigo 317, Código de Processo Penal. Todavia, destoam entre 
si, pois enquanto a primeira é prisão pena, a novel é prisão processual. 
Quanto aos seus requisitos também se verificam distinções, eis que pela 
nova lei, somente será possível a substituição da prisão preventiva por prisão 
domiciliar ao agente que for maior de 80 (oitenta) anos, ou estiver extremamente 
debilitado por motivo de doença grave; quando for imprescindível aos cuidados 
especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; ou 
gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. Além 
disso, deverá o juiz exigir prova idônea do motivo ensejador da substituição, 
conforme o artigo 318 do Código de Processo Penal. 
Já na prisão domiciliar prevista pela Lei de Execução Penal, basta que o 
condenado tenha 70 (setenta) anos de idade, tenha sido acometido de doença 
grave; que a condenada tenha filho menor ou deficiente físico ou mental (a 
jurisprudência tem aderido à isonomia ao condenado), bem como a condenada 
gestante. Nota-se que nos últimos casos, a presente lei apresenta requisitos mais 
brandos do que no caso da prisão provisória. 
 Constitucionalmente falando, face à individualização da pena e a isonomia, 
uma vez que, se analisarmos friamente, verificaremos que está dando tratamento 
prejudicial ao preso provisório e beneficiando o preso que foi definitivamente 
condenado, o que, por conseguinte, nos leva a entender que há também violação ao 
princípio do estado de inocência (ARAÚJO, 2011). 
Inseriu-se como medida cautelar a proibição de ausentar-se do País, que 
deverá ser comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas 
do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o 
passaporte no prazo de 24 (vinte e quatro) horas – artigo 320 do CPP. 
Cumpre destacar, a medida cautelar, que já estaria sendo aplicada 
implicitamente no Brasil, de suspensão do exercício de função pública ou de 
atividade de natureza econômica ou financeira, quando houvesse justo receio de 
sua utilização para a prática de infrações penais, em nome do princípio da 
moralidade administrativa, no caso de servidores públicos e do princípio da 
segurança pública, no tocante a iniciativa privada. 
Nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, cabe, 
agora, a internação provisória do acusado quando os peritos concluírem pela 
 
 
19 
 
inimputabilidade ou pela semi-imputabilidade, conforme o art. 26 do Código Penal, 
isso se houver risco de reiteração. Antes da alteração, tal medida cautelar só era 
possível baseada nas hipóteses de interdição do Direito Civil. 
Outra alteração interessante a ser utilizada nos crimes contra a pessoa é a 
medida cautelar de proibição de manter contato com pessoa determinada, quando 
por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o acusado, em geral, dela permanecer 
distante. Trata-se de um avanço na norma que anteriormente guardava previsão 
parecida apenas na Lei Maria da Penha, tutelando, tão-somente, os casos de 
violência doméstica. 
Já o monitoramento eletrônico, encontra-se regulamentado em nosso 
ordenamento jurídico desde a Lei nº 12.258/10, sendo que uma de suas hipóteses é 
o caso de prisão domiciliar, que mutatis mutantis poderá, também, ser implementada 
na versão provisória das restrições a liberdade do acusado em geral, tendo em vista 
que, de acordo com o novo artigo 282, §1º Código de Processo Penal, as medidas 
cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. 
Interessa mencionar que no caso de aplicação das medidas cautelares de 
cunho penal, deverão ser verificados de forma concomitante os requisitos da 
proporcionalidadee da adequação da medida. Isso porque cabe ao magistrado 
identificar, diante do caso concreto, a necessidade da aplicação da lei penal, nos 
casos expressamente previstos, a fim de evitar a prática de infrações penais, 
quando da investigação ou da instrução criminal; a adequação da medida à 
gravidade do crime, às circunstâncias do fato e, ainda, a proporcionalidade, em 
sentido estrito da medida, por meio das condições pessoais do indiciado ou 
acusado, seguindo os parâmetros previstos no artigo 282, caput do Código de 
Processo Penal. 
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas 
observando-se a: 
I – necessidade para a aplicação da lei penal, para a investigação ou a 
instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de 
infrações penais; 
II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e 
condições pessoais do indiciado ou acusado. 
Outro aspecto importante em relação às medidas cautelares consta no § 2º 
do art. 282 do CPP, qual seja: 
 
 
20 
 
 
as medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a 
requerimento das partes, ou, quando no curso da investigação criminal, por 
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do 
Ministério Público. 
 
Neste aspecto, MOACIR MARTINI ARAÚJO (2011) destaca: 
 
o que derruba de uma vez por todas a tese de alguns juristas de que o 
delegado de polícia não possui capacidade postulatória, teoria esta já 
rechaçada pela Lei nº 12.016/09, conhecida como nova lei do mandado de 
segurança. 
 
Por outro lado, atendendo à exigência constitucional, a nova lei inseriu o 
princípio do contraditório e da ampla defesa no artigo 282, § 3º do CPP, eis que a 
aplicação da medida cautelar será submetida à outra parte, que será intimada e 
receberá, por sua vez, a cópia das peças que instruíram o requerimento, 
ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, hipótese em 
que o magistrado decidirá de plano inaudita altera partes. 
Não há devido processo legal sem o contraditório, garantindo-se, assim, a 
plena igualdade de oportunidades processuais. Aliás, ainda que a medida tenha sido 
tomada inaudita altera pars, “a observância do contraditório, nesses casos, é feita 
depois, dando-se oportunidade ao suspeito ou réu de contestar a providência 
cautelar (...). Fala-se em contraditório diferido ou postergado” (PACHECO, 2007, p. 
261) 
O artigo 282 § 4º do CPP previu como última sanção a possibilidade de o 
juiz decretar a prisão preventiva em caso de descumprimento da medida cautelar, in 
verbis: 
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de 
ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do 
querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último 
caso, decretar a prisão preventiva. 
Em razão da natureza rebus sic stantibus da medida cautelar, o juiz poderá 
revogar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que a subsista, bem 
como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. A prisão 
preventiva só ocorreria no último caso. 
 
 
21 
 
Vale lembrar que quaisquer das medidas cautelares, inclusive as prisões 
provisórias, só se justificarão quando presentes o fumus commissi delicti (a 
gravidade do crime, as circunstâncias do fato e as condições pessoais do indiciado 
ou acusado) e o periculum libertatis (ou o periculum in mora, conforme o caso) e só 
deverão ser mantidas enquanto persistir a sua necessidade, ou seja, a medida 
cautelar, tanto para a sua decretação quanto para a sua mantença, obedecerá à 
cláusula rebus sic stantibus (VIEGAS, 2012). 
Há muitas dúvidas no que tange à aplicação das medidas cautelares aos 
crimes que se encaixam na Lei nº 9.099/95. A propósito, concorda-se com o 
promotor PAULO SÉRGIO MARKOWICZ DE LIMA (2011), quando diz que algo que 
será muito debatido na doutrina é a não aplicação das medidas cautelares diversas 
da prisão aos crimes de menor potencial ofensivo. Para ser imposta uma medida 
cautelar só se exige inicialmente que ao crime de menor potencial ofensivo seja 
prevista pena privativa de liberdade, na estrita redação do art. 321, do CPP. 
O parágrafo único do art. 69, da Lei nº 9.099/95, que trata dos Juizados 
Especiais, prevê apenas o não cabimento da fiança. Indispensável um juízo de 
adequabilidade e de necessidade na hipótese, não se justificando, a priori, a 
aplicação de medidas mais gravosas, como recolhimento domiciliar noturno e nos 
dias de folga do autor do fato, nem a monitoração eletrônica. Deve ser afastada 
também a possibilidade de decretação da prisão preventiva ante medida 
descumprida, pois se estaria pervertendo o limite objetivo de 4 anos para caber o 
decreto da prisão provisória, sendo uma opção válida para o juízo cumular outra 
medida com a cautelar descumprida. Se a apresentação do autor do fato perante o 
juizado não é imediata, não vemos como afastado o aspecto conciliatório de tal 
jurisdição, muito pelo contrário, no caso de aplicação fundamentada de medida 
cautelar que impõe ao autor do fato, por hipótese, permanecer distante do ofendido. 
Por fim, homologada a transação penal ou operada a suspensão condicional do 
processo, por óbvio, inadmissível a manutenção de cautelar diversa da prisão. 
Oportuno dizer que continuam vigentes as medidas cautelares extremas de 
segregação, quais sejam: a prisão em flagrante, a preventiva e a temporária, esta 
última ainda regulamentada por lei extravagante (Lei nº 7.960/89). 
De acordo com FERNANDO CAPEZ (2011), a lei foi “editada com o escopo 
de evitar o encarceramento do indiciado ou acusado antes de transitar em julgado a 
sentença penal condenatória”. O autor ainda declara: 
 
 
22 
 
 
Agora, antes da condenação definitiva, o sujeito só pode ser preso em três 
situações: flagrante delito, prisão preventiva e prisão temporária. Mas 
somente poderá permanecer preso nas duas últimas, não existindo mais a 
prisão em flagrante como hipótese de prisão cautelar garantidora do 
processo. Ninguém responde mais preso a processo em virtude da prisão 
em flagrante, a qual deverá se converter em prisão preventiva ou convolar-
se em liberdade provisória. 
 
Antes da sentença final, é imprescindível a demonstração dos requisitos de 
necessidade e urgência para a prisão cautelar. Além da prisão temporária, cabível 
nas restritas hipóteses da Lei nº 7.960/89 e somente quando imprescindível para a 
investigação policial de alguns crimes elencados em rol taxativo, só existe a prisão 
preventiva, como modalidade de prisão provisória. Mesmo assim, quando couberem 
outras medidas coercitivas menos drásticas, como, por exemplo, obrigação de 
comparecer ao fórum mensalmente, proibição de se ausentar da comarca, 
submeter-se ao monitoramento eletrônico, etc., não se imporá a prisão preventiva, a 
qual passa a ser medida excepcional, ou como se costuma dizer, a ultima ratio. 
(CAPEZ, 2011) 
Cumpre diferenciar as prisões preventiva e temporária. A prisão temporária, 
de acordo com lições da doutrina processualística, vem compor o quadro das 
medidas cautelares de natureza pessoal ao lado da prisão em flagrante e da prisão 
preventiva. Por se tratarem de prisões cautelares, visam a assegurar a utilidade do 
provimento jurisdicional final, revestem-se das características da instrumentalidade, 
provisoriedade e acessoriedade (VIEGAS, 2012). 
 Instrumental porque servem de meio e modo a alcançar determinada medida 
principal no processo penal. 
 Provisória, porquanto só duram enquanto não alcançada a finalidade principal 
e enquanto os requisitos que a autorizaram ainda estiverem presentes. 
 É medida acessória, por fim, pois se vincula a sorte da medida cautelar à da 
principal, aquela sendo alcançada, esta perde a eficácia. 
A prisão temporária será decretada pelo juiz, a pedido do delegado ou do 
MinistérioPúblico, e terá o prazo prorrogável de cinco dias, salvo nos casos de 
crime considerado hediondo, quando o prazo sobe para 30 dias prorrogáveis. Já 
prisão provisória não tem limitação de prazo. 
 
 
23 
 
Quanto ao momento Processual, a prisão temporária só pode ocorrer 
durante o inquérito, enquanto a prisão preventiva pode ser decretada a qualquer 
momento, desde o inquérito até o trânsito em julgado (o fim do processo). 
Por fim, vale dizer que além de positivar as medidas cautelares, o legislador 
acabou revogando as prisões administrativas previstas no antigo artigo 319 do CPP. 
Passa-se a analisar as espécies de prisão preventiva sob o prisma da Lei 
12.403/2011. (VIEGAS, 2012). 
 
4.1 Prisão provisória 
Denomina-se prisão provisória, a prisão de natureza processual, cautelar. É 
a prisão decretada durante a persecução criminal; não se pode confundir, aqui, a 
privação provisória da liberdade com a “pena” privativa de liberdade (a prisão como 
sanção jurídica prevista no preceito secundário da norma penal incriminadora). 
A finalidade da prisão provisória, em suas diversas modalidades, é de índole 
processual, devendo ser examinada, portanto, mediante fundamentos e princípios 
próprios (fora da teoria da pena, que é aspecto atinente à parte geral do Código 
Penal) (IENNACO, 2012) 
O Código de Processo Penal, originariamente, adotava a rigidez em matéria 
de prisão: a regra era a prisão ser mantida; a exceção, a liberdade provisória 
(instituto afim que será analisado adiante). Com as alterações posteriores, entre elas 
as decorrentes da CRFB/88, o sistema passou a adotar a liberdade provisória como 
regra, admitindo, em caso de excepcional necessidade, a prisão. Essa tendência 
agora se consolida com a previsão de cautelares alternativas, reservando-se a 
prisão para casos graves e hipóteses de justificada necessidade e conveniência. 
Com o advento da Lei nº 12.403/11, temos três modalidades de prisão 
provisória (é o gênero e as modalidades são as espécies): flagrante (art. 301 e 
segs., CPP), preventiva (art. 311 e segs.) e temporária (Lei 7.960/89). Todavia, 
ainda nos casos previstos fora do título IX do Livro I (art. 413, CPP), aplicam-se as 
disposições gerais do seu capítulo I, que ganham, assim, realce. 
A prisão pode ser cumprida a qualquer momento (dia ou noite), respeitadas 
as normas atinentes à inviolabilidade do domicílio (art. 5º, XI, CRFB/88), ou seja, a 
casa é asilo inviolável, salvo hipóteses de flagrante, desastre, socorro e ordem 
judicial (durante o dia). 
 
 
24 
 
Em caso de ordem judicial (mandado de prisão), se o crime for afiançável 
torna-se imprescindível a exibição do mandado para o seu cumprimento, conclusão 
que se extrai do disposto no art. 287 do CPP. 
Apenas se se tratar de crime inafiançável (exceção), dispensa-se a exibição 
do mandado, apresentando-se o preso imediatamente à autoridade judicial que tiver 
expedido o mandado (art. 287, CPP). A teor da nova dicção do art. 299, CPP, seja a 
infração afiançável ou inafiançável, a captura poderá ser requisitada, à vista de 
mandado judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autoridade, a 
quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para averiguar a 
autenticidade desta. Para a execução da captura, porém, tratando-se de crime 
afiançável (regra), permanece a obrigatoriedade de exibição do mandado. 
Deve-se notar, porém, que tal hipótese contrasta, paradoxalmente, com as 
hipóteses em que o cumprimento do mandado de prisão se dá em virtude de registro 
em banco de dados dos órgãos de segurança pública, que não podem olvidar o 
lançamento no sistema e deixar de promover a prisão daquele em desfavor de quem 
se acha registrado mandado de prisão “em aberto” (IENNACO, 2012) 
De acordo com a nova redação do art. 282, do CPP, diante de uma prisão 
em flagrante ou de notícia de crime, para que se escolha, dentre as hipóteses 
cabíveis (prisão provisória, liberdade provisória e/ou cautelares), qual a tutela 
cautelar adequada, deve-se obedecer ao seguinte binômio: a) necessidade; b) 
adequação. Esses critérios, nos termos do art. 282, I e II, CPP, são aplicáveis a 
todas as modalidades de cautelar (prisão e diversas da prisão) e se materializam na: 
a) necessidade para aplicação da lei penal; b) necessidade para a investigação ou a 
instrução criminal; c) necessidade para prevenção da prática de infrações penais; d) 
adequação à gravidade do crime; e) adequação às circunstâncias do fato; f) 
adequação às condições pessoais do destinatário da(s) medida(s). 
Tais critérios, além de autênticas diretrizes hermenêuticas, têm força 
normativa, complementando, sistematicamente, a fundamentação dos motivos (art. 
312, caput, CPP) que autorizam a prisão preventiva ou, na sua ausência, 
determinam a liberdade provisória do investigado ou acusado (cumulada ou não com 
outras cautelares diversas da prisão). 
 
 
 
25 
 
4.1.1 Flagrante (art. 301 e segs., CPP) 
A CRFB/88 consagra a prisão em flagrante, sem, contudo, explicitar-lhe o 
conteúdo. O “tipo processual”, portanto, é deixado a cargo do legislador 
infraconstitucional, tendo sido recepcionado o art. 302 do CPP. O elemento temporal 
é, pois, essencial à configuração do estado de flagrância que autoriza a prisão por 
qualquer do povo e a determina ao agente público. Verifica-se que os incisos do art. 
302 do CPP dilatam, progressivamente, o limite temporal caracterizador do flagrante 
delito. 
Se presente a tipicidade processual, ou seja, se a situação de fato se 
amolda à descrição abstrata da lei processual, a prisão será legal. Caso contrário, 
será ilegal, independente dos elementos de convencimento coletados por ocasião da 
confecção do auto de prisão em flagrante pela autoridade policial. 
Da mesma forma, se a sequência procedimental prevista no art. 304 do CPP 
for desrespeitada, a prisão em flagrante também será ilegal (princípio da legalidade 
das formas). 
O art. 307 do CPP autoriza o juiz (autoridade judicial) a lavrar, ele próprio, o 
auto de prisão em flagrante, quando o crime é praticado em sua presença ou contra 
ele. Em hipótese similar, tratando-se de autoridade policial, sendo praticado na sua 
presença ou contra ela, esta, após a lavratura do respectivo auto, comunicará a 
prisão imediatamente ao juiz. É interessante notar que o CPP já exigia tal 
providência antes mesmo de a CRBF/88 estabelecer a comunicação da prisão à 
autoridade judicial para todos os casos de flagrante. 
Após a confecção do auto de prisão em flagrante (APF), a autoridade policial 
deve proferir um despacho, ratificando ou não a voz de prisão dada pelo condutor. 
Deverá ainda, com especial atenção aos casos de flagrante pela prática de crime 
previsto na Lei de Drogas (Lei 11.343), fundamentar, circunstanciadamente as 
razões que o levaram à classificação legal do fato. 
Fora os casos de flagrante em que o conduzido se livra solto, o conduzido, 
embora confeccionado o auto de prisão em flagrante, não será recolhido 
efetivamente à prisão se se tratar de infração que se enquadre nos casos de 
afiançabilidade – desde que seja da competência da própria autoridade policial o 
arbitramento da fiança. 
A apresentação espontânea do autor do ilícito penal à autoridade, antes 
disciplinada nos arts. 317 e 318 do CPP, foi suprimida pela lei oriunda do projeto 
 
 
26 
 
4.208/01. Ocorre que, mesmo no regramento anterior, a apresentação espontânea 
não afastava, por si só, a prisão em flagrante. O que normalmente acontece é que, 
nestes casos, a situação fática não se enquadra no tipo processual do flagrante (art. 
302, CPP); o que não impedia, como também agora não impede, além da hipótese 
de flagrante, a decretação da prisão preventiva (ou a aplicação de outras 
cautelares), se preenchidos os requisitos para tanto. 
Importante notar que o flagrante, na Constituição, tem existência autônoma 
como cautelar, sendo caso expresso de prisãoanterior à condenação. Sua força já 
se mostrava enfraquecida, no entanto, diante do que previa o parágrafo único do art. 
310, do CPP, que determinava ao juiz a concessão de liberdade provisória quando 
se verificasse, pelo auto de prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das 
hipóteses que autorizavam a prisão preventiva. 
Ocorre que o flagrante passou a ter função de precautela, sendo suficiente 
para levar o autuado à prisão, mas não para mantê-lo sob custódia cautelar. É que 
agora, com a Lei 12.403/11, tal tendência se consolida e se explicita, pois o novo art. 
310, do CPP, diz que o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá, 
fundamentadamente, converter a prisão em flagrante em preventiva (inciso II, 
primeira parte), desde que: 
a) a prisão seja legal (inciso I); 
b) as medidas cautelares diversas da prisão se revelem inadequadas ou 
insuficientes (inciso II, parte final); 
c) o agente não tenha praticado o fato ao amparo das causas de exclusão 
da ilicitude previstas no art. 23, do CP; 
d) estejam presentes os requisitos do art. 312 do CPP (incisos II, segunda 
parte, e III); 
e) a autoridade policial tenha representado ou o Ministério Público tenha 
requerido a preventiva. Caso contrário, será concedida liberdade provisória (com ou 
sem cautelares), quando ausentes os requisitos constantes do art. 312 do CPP 
(inciso II, segunda parte, c/c inciso III). Ou seja, não sendo caso de soltura do 
acusado, a prisão em flagrante deverá ser convertida em preventiva, consolidando-
se a subjugação da força coercitiva do flagrante. 
A Lei nº 12.403/11 determina, também, que a prisão de qualquer pessoa (e o 
lugar onde se encontre) será imediatamente comunicada ao Juiz, à pessoa indicada 
pelo preso e, também, ao Ministério Público. 
 
 
27 
 
Embora o CPP nada fale sobre a necessidade de remessa de cópia do APF 
(que será encaminhado, em 24 horas, ao juiz e, eventualmente, à Defensoria 
Pública) ao Ministério Público, a providência deve ser adotada, para que o titular da 
ação penal possa, confirmada a legalidade da prisão, conforme o caso, requerer a 
conversão da prisão em flagrante em preventiva, ou mesmo postular a concessão de 
liberdade provisória cumulada com outras cautelares (art. 306, caput, e §1º, c/c arts. 
310, II e 311, todos do CPP). 
 
4.1.2 Prisão preventiva (art. 311 e segs., CPP) 
Nos limites estritos do CPP, instrução criminal é o lapso compreendido entre 
o recebimento da denúncia e o término da oitiva das testemunhas arroladas pela 
defesa, na AIJ, independentemente da apresentação de alegações finais, que pode 
ser feita inclusive por memoriais. Anteriormente, como o art. 311 do CPP falava que 
a prisão preventiva era cabível em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução 
criminal, o seu entendimento era alargado para os fins da prisão, passando a 
compreender todo o processo criminal. 
Agora, a nova redação do art. 311, conferida pela Lei 12.403/11, consolida 
tal interpretação, dizendo expressamente que em qualquer fase da investigação 
policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva. Em qualquer fase da 
investigação ou do processo, assim, poderá o Ministério Público (ou o querelante ou 
ainda o assistente) ou a autoridade policial (ouvido, obviamente o Ministério Público) 
representarem por sua decretação. O juiz poderá decretar a prisão, no caso, 
inclusive de ofício, limitada tal hipótese, na dicção da novel disciplina, a momento 
posterior ao recebimento da denúncia (curso da ação penal). 
Para que seja validamente decretada, devem-se atender os requisitos legais 
previstos no art. 313 do CPP, agora igualmente renovado: 
a) crime doloso apenado com pena privativa de liberdade máxima superior a 
4 (quatro) anos; 
b) reincidência em crime doloso, salvo se, em relação à condenação 
anterior, entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior 
tiver decorrido período superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da 
suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação (art. 64, I, CP); 
 
 
28 
 
c) crime violento praticado em circunstância doméstica ou familiar contra a 
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para 
garantir a execução de medidas protetivas de urgência; 
d) caso de dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou ausência de 
fornecimento de elementos suficientes para esclarecê-la. 
Além dos requisitos legais, há necessidade de atendimento dos 
pressupostos (art. 312, caput, parte final, CPP): a) prova da existência do crime; b) 
indícios suficientes de autoria. 
Presentes os requisitos, a autoridade judicial deverá demonstrar o 
atendimento aos fundamentos (motivos) ensejadores da preventiva (art. 312, caput, 
primeira parte, e art. 312, parágrafo único, CPP): a) garantia da ordem pública; b) 
garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução criminal; d) 
asseguramento da aplicação da lei penal. 
Uma leitura apressada (e isolada) do art. 310, II, do CPP poderia levar à 
conclusão de que o juiz poderia, ao receber a comunicação do flagrante na fase da 
investigação criminal, decretar a prisão preventiva (por conversão) de ofício. Porém, 
inevitável a conjugação do dispositivo com os arts. 282 e 311, 312 e 313. 
Nem se argumente que, no caso do art. 310, II, estaríamos diante de 
conversão do flagrante em preventiva, e não de decretação da preventiva. Se assim 
fosse, o juiz poderia converter em preventiva a prisão em flagrante por qualquer 
crime e independentemente da presença dos requisitos ensejadores da preventiva 
(isso porque o art. 310 faz referência apenas aos motivos da preventiva), bastando a 
inadequação ou insuficiência das medidas cautelares diversas da prisão (art. 310, II, 
parte final). Tal interpretação não pode prevalecer por razão simples: a lei continua 
prevendo a hipótese de liberdade provisória nos casos em que não estão presentes 
as razões que determinam a preventiva (art. 321, CPP). 
Tal seria, realmente, uma interpretação teratológica, pois, diante de prisão 
em flagrante, sem análise da pena, de antecedentes, enfim, da necessidade efetiva 
da medida, o juiz apenas verificaria o cabimento de medida cautelar diversa da 
prisão. Concluindo negativamente, converteria a prisão em flagrante em preventiva, 
para, após, conceder a liberdade provisória porque ausentes os requisitos para a 
decretação da própria prisão preventiva (antes aplicada em “conversão”) (IENNACO, 
2012). 
 
 
29 
 
A interpretação sistemática dos novos arts. 283, caput, 282, e art. 413, todos 
do CPP, conduz à conclusão de que temos: a) prisão preventiva por conversão do 
flagrante (art. 310, II); b) prisão preventiva autônoma (art. 311, caput); c) prisão 
preventiva decorrente de descumprimento de outras medidas cautelares (art. 312, 
parágrafo único, e art. 282, § 4º)16; d) prisão preventiva na fase da pronúncia (art. 
413). 
Isso nos leva a crer que o juiz não poderá converter a prisão em flagrante 
em prisão preventiva sem manifestação policial ou ministerial a respeito; poderá, no 
entanto, decretá-la de ofício ao pronunciar o acusado ou, nos demais, se posteriores 
ao recebimento da denúncia. Se na fase da investigação, apenas por requerimento 
do Ministério Público ou representação da autoridade policial. Tal disciplina, 
característica do sistema acusatório, é afirmada expressamente nos arts. 282, § 2º e 
311, ambos do CPP. Enfim, torna-se medida imprescindível a oitiva prévia do 
Ministério Público (antecedente necessário a qualquer das providências elencadas 
no novo art. 310, do CPP), quando não for ele o próprio autor do requerimento de 
prisão. 
Dispensa-se a oitiva ministerial apenas nos casos em que a decretação da 
preventiva se dá após o recebimento da denúncia. 
 
4.1.3 Prisão (preventiva) na fase de pronúncia (art. 413, CPP) 
Antes disciplinada no art. 408, § 1º, CPP, a técnica utilizada para a prisãoem decorrência de pronúncia era a mesma para da prisão decorrente de 
condenação recorrível (efeito da), de modo que se aplicavam, mutatis mutandis, as 
mesmas críticas. 
A Lei nº 11.689/08 passou a determinar que o juiz, ao pronunciar o acusado 
(se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de 
autoria ou de participação em crime doloso contra a vida), nos termos do art. 413, 
CPP, arbitre o valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade 
provisória (art. 413, § 2º, CPP), se o crime for afiançável, decidindo, em qualquer 
caso, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou substituição da prisão 
ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e, tratando-se de acusado 
solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das 
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código (art. 413, § 3º, CPP). 
 
 
30 
 
Agora, a disposição faz ainda mais sentido, pois o título IX do Livro I cuida 
“da prisão, das medidas cautelares e da liberdade provisória” (art. 282. As medidas 
cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - 
necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal 
e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - 
adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições 
pessoais do indiciado ou acusado). Ao aduzir à necessidade da medida, a prisão 
decorrente da pronúncia se reveste de indiscutível contorno cautelar, aproximando-
se, quanto aos seus fundamentos, da disciplina da prisão preventiva. 
Agora, portanto, a interpretação sistemática dos arts. 283, caput, (com a 
redação que lhe conferiu a lei nº 12.403/11), 282 e 413, todos do CPP, conduz à 
conclusão de que, se não se pode falar na existência da prisão decorrente de 
pronúncia, não há dúvida que temos, aqui, uma subespécie de prisão provisória, no 
caso, caracterizada por um momento específico e especial de análise da prisão 
preventiva – situação diversa da prevista no art. 310, II (preventiva por conversão do 
flagrante) ou, ainda, no art. 311, caput (preventiva autônoma). 
 
4.1.4 Prisão preventiva como ultima ratio de intervenção cautelar 
Como visto, a prisão provisória deve ser reservada para os casos em que as 
outras medidas cautelares, diversas da prisão, não se mostrarem suficientes ou 
adequadas aos fins de tutela do processo principal, nas dimensões expressas no art. 
312, do CPP. 
Essa lógica se materializa na apreciação sistemática de vários dispositivos 
da Lei nº 12.403/11. Da simples leitura do art. 282 se extrai que a prisão provisória 
será reservada para os casos necessários, desde que as outras medidas não sejam 
suficientes para a garantia da aplicação da lei, para conveniência da investigação ou 
da instrução criminal, e para evitar a reiteração criminosa; e desde que a gravidade 
do crime, as circunstâncias fáticas ou pessoais do indiciado ou acusado não 
indiquem como mais adequada (aos fins do processo penal) a restrição provisória da 
liberdade. 
O § 4º do art. 282 deixa claro que, ainda em caso de descumprimento de 
qualquer das obrigações impostas, será possível substituir a medida ou reforçá-la 
com a cumulação de outra, sendo decretada a prisão preventiva apenas em “último 
caso”, ou seja, apenas quando necessária a custódia cautelar (IENNACO, 2012). 
 
 
31 
 
4.1.5 Prisão temporária (Lei 7.960/89) 
A prisão temporária é, efetivamente, dentre as modalidades de prisão 
provisória, aquela que apresenta menor exigência técnica para viabilizar a prisão, 
principalmente se confrontada com a prisão preventiva. O instituto, aliás, foi 
consagrado com esta intenção, mormente para legalizar, ante o advento da 
CRFB/88, a famigerada “prisão para averiguações”, a prisão fundada num juízo de 
suspeição para auxiliar na investigação. 
Cabe prisão temporária: 
a) quando imprescindível para a investigação (art. 1º, I); 
b) quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer os elementos 
necessários ao esclarecimento de sua identidade (art. 1º, II); 
c) quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida 
na legislação, de autoria ou participação do indiciado em homicídio doloso, 
sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro, 
estupro e atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com resultado morte, 
envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal com 
resultado morte, quadrilha ou bando, genocídio em qualquer de suas formas típicas, 
tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro (art. 1º, III). 
Acontece que, superveniente à nova ordem constitucional, teve, tão logo 
entrou em vigor, sua constitucionalidade questionada. Para alguns (abolicionistas) 
que veem a possibilidade de decretação da prisão temporária frente o atendimento 
de cada item isoladamente (alternativamente), a modalidade seria inconstitucional. 
Outros (preservacionistas), conjugando os incisos, defendem a interpretação em 
conformidade com a Constituição Federal. Hoje é o entendimento preponderante na 
jurisprudência. Assim, prevalece o entendimento de que os incisos do art. 1º da Lei 
nº 7.960/89 não constituem tipos processuais autônomos. Ou seja, o requisito 
previsto no inciso III do art. 1º da Lei que instituiu a prisão temporária seria de 
incidência obrigatória para a constitucionalidade da medida, atuando 
cumulativamente com os outros incisos: poderia a prisão temporária ser decretada 
com fulcro no art. 1 º, I e III; art. 1 º, II e III; e, obviamente, art. 1 º, I, II e III, da Lei 
7.960/89. 
A prisão temporária pode ser decretada pelo juiz, mediante representação 
da autoridade policial (ouvindo-se o MP) ou do Ministério Público, pelo prazo de 05 
(cinco) dias, prorrogável por igual período (art. 2 º, Lei 7.960/89). O prazo da prisão, 
 
 
32 
 
em se tratando de crime hediondo ou equiparado, é de 30 (trinta) dias, prorrogável 
por igual período (art. 2 º, § 3 º, Lei 8.072/90). A prorrogação, em qualquer hipótese, 
só é admitida em caso de excepcional e comprovada necessidade. A prisão só pode 
ser executada após sua decretação e correspondente expedição de mandado. 
Decorrido o prazo da prisão, se não prorrogada ou decretada a prisão 
preventiva, deve o preso ser imediatamente colocado em liberdade pela autoridade 
policial, comunicando-se ao juiz (IENNACO, 2012). 
 
4.1.6 O fim da prisão decorrente de condenação recorrível (art. 393, I, e 594, 
CPP) 
O art. 393, I, do Código de Processo Penal, estabelecia, no sistema original, 
a prisão como efeito da sentença condenatória (“conservado na prisão”). A prisão se 
mantinha, mas ocorria a mudança do título: a prisão que até então era preventiva 
(cautelar) se convertia em efeito da sentença; deixava, portanto, de ser preventiva. 
A Lei nº 5.941/73 havia alterado o art. 594 do CPP, sem que qualquer 
modificação ocorresse no dispositivo do art. 393, I. Logo, deviam ser conjugados, o 
efeito da sentença não ocorreria quando: a) o sujeito se livrasse solto; b) o sujeito 
fosse reconhecido na sentença primário e de bons antecedentes; c) prestasse 
fiança. Fundamentalmente, havia essa restrição: não pode recorrer em liberdade, 
salvo se se reconhece, na sentença, que é primário e possui bons antecedentes. 
Isso porque o art. 594 previa, na redação conferida pela Lei nº 5.941/73, que o réu 
não podia apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se fosse primário 
e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória, ou 
condenado por crime de que se livrasse solto. Porém, o dispositivo já havia sido 
revogado pela Lei nº 11.719/08. 
Agora, a Lei nº 12.403/11 revogou o art. 393, sepultando toda a celeuma que 
havia sobre a natureza jurídica e consequente discussão sobre a constitucionalidade 
da medida, frente ao princípio da presunção de inocência.A nova redação do art. 283, reprisando a aparente impossibilidade 
constitucional de decretação de prisão como mero efeito decorrente de disposição 
legal (ninguém será preso senão em flagrante ou por ordem escrita e fundamentada 
do juiz), diz que ninguém poderá ser preso senão em decorrência de sentença penal 
condenatória transitada em julgado. Estranhamente, a lei parece prever três 
hipóteses distintas: a) prisão temporária ou prisão preventiva (prisões cautelares); b) 
 
 
33 
 
prisão em virtude de condenação definitiva (prisão-pena); c) prisão em flagrante ou 
prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. A 
última hipótese em confronto com a primeira parece induzir à conclusão de que a 
pessoa poderia ser presa em virtude de prisão provisória (flagrante, temporária ou 
preventiva), em virtude de prisão “definitiva” (decorrente de condenação irrecorrível) 
e, ainda, fora desses casos, por ordem escrita e fundamentada da autoridade 
judiciária competente. Porém, parece contraditória a previsão de outra modalidade 
de prisão, vale dizer, “por ordem escrita e fundamentada do juiz”, além daquelas 
hipóteses enumeradas pelo próprio dispositivo (prisão provisória e prisão decorrente 
de condenação irrecorrível) (IENNACO, 2012). 
 
 
34 
 
UNIDADE 5 – LIBERDADE PROVISÓRIA 
 
Grosso modo, enquanto a prisão consiste no cerceamento da liberdade do 
indivíduo de ir e vir, mediante o cárcere, a clausura, ou seja, o cerceamento do 
direito a liberdade do cidadão, a liberdade, direito de todo indivíduo, é regra dentro 
do estado democrático de direito, que pode ser limitada como todo direito 
dependendo da casuística e do respeito ao ordenamento jurídico predeterminado 
vigente, com todas as demais garantias asseguradas. Leia-se dignidade da pessoa 
humana e devido processo legal. 
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO (2009) nos apresenta a 
liberdade provisória como sucedâneo da prisão provisória, no sentido de que 
pressupõe, substituindo-a, uma prisão válida, regular (até então, em flagrante ou 
resultante de pronúncia ou sentença condenatória recorrível). 
É um estado de liberdade limitada, às vezes condicionada, criando vínculos 
entre o beneficiário e o processo, mediante certas obrigações. Porque condicionada 
ao adimplemento dessas obrigações assumidas, diz-se liberdade provisória, limitada 
e, pois, revogável por hipótese do descumprimento de tais condições. Por atingir, de 
maneira severa, a liberdade individual antes de sentença condenatória transitada em 
julgado, deve a prisão provisória ser decretada apenas em casos de absoluta e 
excepcional necessidade. Fora esses casos, deve-se conceder a liberdade, ainda 
que limitada, provisória (IENNACO, 2012). 
 
5.1 Liberdade provisória isolada 
A liberdade provisória pode ser concedida isoladamente, sem cumulação 
com fiança ou com outras medidas cautelares. 
A primeira possibilidade de liberdade provisória (sem fiança) diz respeito às 
hipóteses em que o acusado se livra solto, a teor do art. 321 do CPP, devendo-se 
conciliar tal dispositivo com o subsistema preconizado pela Lei nº 9.099/95 para o 
processamento dos crimes de menor potencial ofensivo. 
A liberdade provisória pode ainda ser concedida (sem fiança) pela atuação 
de excludentes da ilicitude reconhecidas, de pronto e provisoriamente, no auto de 
prisão em flagrante, de acordo com o art. 310, parágrafo único, do CPP. 
 
 
35 
 
O art. 314 c/c o art. 310, parágrafo único, ambos do CPP prevê que “em 
nenhum caso” será decretada a prisão preventiva se o juiz verificar, pelo APF, que o 
sujeito praticou o fato ao amparo de causa excludente da ilicitude (art. 23, CP). 
Temos, por fim, a liberdade provisória (sem fiança) em virtude da 
inocorrência das hipóteses que fundamentam a decretação da prisão preventiva, 
situação que vigora desde o advento da Lei nº 6.416/77, em redação conferida ao 
parágrafo único do art. 310 do CPP, que tornou assistemático o CPP no tratamento 
conferido à prisão e à fiança, passando a representar a principal modalidade do 
ponto de vista pragmático. 
Com o projeto 4.208/2001, a situação não é muito diferente, pois o art. 310, 
na nova redação, apresenta a prisão preventiva e a liberdade provisória como 
alternativas excludentes, e o novo art. 321 prevê que, ausentes os requisitos da 
preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória (que poderá, ou não, vir 
cumulada com outras medidas cautelares). 
É importante frisar que, de acordo com a redação anterior do art. 325, § 2º, 
do CPP, não se admitia liberdade provisória no caso do art. 310, parágrafo único, 
nos crimes contra a economia popular ou de sonegação fiscal. Neste caso, só era 
cabível liberdade provisória nos crimes afiançáveis, e a fiança era arbitrada 
exclusivamente pela autoridade judicial. Porém, o § 2º do art. 325 foi revogado pela 
Lei 12.403/11. 
Aparentemente, portanto, nada teria mudado, pois a regra continuaria a ser: 
ausentes os requisitos da preventiva, concede-se liberdade provisória – sem fiança 
(art. 321, CPP). De ver-se, porém, que a nova sistemática admite que, ausentes os 
requisitos da preventiva, seja concedida liberdade provisória – inclusive com 
cautelares cumuladas (entre elas, a fiança). Desse modo, não há mais espaço para 
se argumentar em torno maior ou menor gravidade da medida, para concluir-se que 
a liberdade se daria sem fiança. A lógica da nova disciplina é: a liberdade se dará 
com ou sem cautelares, dependendo da (in)adequação ou (des)necessidade da 
medida(s) eventualmente cumulada(s) (IENNACO, 2012). 
 
5.2 Liberdade provisória cumulada com medida cautelar 
Como visto, estávamos acostumados, até então, a trabalhar com a liberdade 
provisória com ou sem fiança, inclusive como decorrência da dicção da rubrica do 
art. 321, do CPP. De certa forma, o art. 310, III, na redação ora estabelecida pela Lei 
 
 
36 
 
12.403/11, parece reproduzir o sistema, sem alterações, ao estabelecer a 
possibilidade de concessão “de liberdade provisória, com ou sem fiança”. Ocorre 
que, com a lei nova, a fiança é vertida em uma (e apenas uma) das várias 
possibilidades de cautelar, parecendo-nos, tecnicamente, que seria mais apropriado 
falar, agora, em liberdade provisória com ou sem medida cautelar. 
De todo modo quanto à liberdade provisória com fiança, nas palavras de 
RENATO BRASILEIRO DE LIMA (2011), 
 
trata-se, a liberdade provisória com fiança, de direito subjetivo constitucional 
do acusado, a fim de que, mediante caução, e cumprimento de certas 
obrigações, possa permanecer em liberdade até a sentença condenatória 
irrecorrível. 
 
A fiança tem como uma de suas finalidades assegurar que o acusado 
compareça em juízo. Ora, sendo o réu inocente, terá ele interesse de haver de volta 
aquele seu dinheiro que foi usado para pagar a fiança. 
Outro objetivo da fiança é o de garantir o pagamento das custas judiciais, 
bem como o ressarcimento do dano causado pelo crime. 
Devemos lembrar que pode o magistrado cumular a liberdade provisória com 
o comparecimento periódico em juízo por parte do acusado, para garantir que este 
não fuja, ou com outras medidas cautelares que o magistrado, no caso concreto, irá 
avaliar ser a mais oportuna. 
Importante ressaltar que havendo descumprimento de uma das medidas 
cautelares por parte do acusado, mesmo após o pagamento da fiança, nada impede 
que o magistrado venha a decretar a prisão preventiva do acusado. 
 
 
37 
 
UNIDADE 6 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 
 
A suspensão condicional do processo pode ser definida como a interrupção 
do curso processual, com a imposição de uma série de condições ao beneficiado, 
durante um período de prova, que poderá levar à extinção da punibilidade. 
Apresenta certas semelhanças com outros institutos, como o sursis, o 
probation system e a suspensiôn delfallo, mas com eles não se confunde. 
Trata-se de instituto jurídico que se amolda

Mais conteúdos dessa disciplina