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Por que presbiterianos não celebram dias santos

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1 
 
 
2 
 
 
3 
 
NADERE REFORMATIE PUBLICAÇÕES 
____________________________________________ 
 
Título Original: Presbyterians Do Not Celebrate Holy-days 
[Presbiterianos não celebram Dias Santos] Samuel Miller 
Professor de História Eclesiástica e Governo da Igreja no 
Seminário Teológico de Princeton, Nova Jersey 1835 
Disponível em: 
https://www.covenanter.org/reformed/2017/1/3/presbyteri
ans-do-not-celebrate-holy-days Título e-book em Português: 
Por que presbiterianos não celebram dias santos Um trecho 
da obra Presbyterianism, the Truly Primitive and Apostolical 
Constitution of the Church of Christ. 
Todas as citações bíblica foram conforme a versão Almeida 
Revista e Atualizada, exceto casos de indicação contrária. 
______________________________________________ 
Editor: Christopher Vicente Tradutor: Christopher Vicente 
Revisor: Christopher Vicente MILLER, Samuel. Por que 
presbiterianos não celebram dias santos. Natal: Nadere 
Reformatie Publicações, 2020. 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
PREFÁCIO ....................................................................................................... 7 
 
PARTE I O CULTO PRESBITERIANO .................................................................. 9 
 
PARTE II PRESBITERIANOS NÃO CELEBRAM DIAS SANTOS ............................ 13 
 
APÊNDICE A - CALVINO, WESTMINSTER E A CELEBRAÇÃO DE DIAS SANTOS . 21 
 
APÊNDICE B - ALGUMAS OBJEÇÕES RESPONDIDAS E UMA PALAVRA DE 
CARIDADE .................................................................................................... 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
PREFÁCIO 
 
Samuel Miller (1769–1850) foi um dos grandes ministros do evangelho que o 
Senhor levantou em Sua Igreja, entre os séculos XVIII-XIX, no presbiterianismo 
norte-americano. Um dos grandes que trabalhou pela fidelidade da Igreja à 
Palavra. Ele escreveu uma majestosa obra sobre o governo presbiteriano, 
Presbyterianism, the Truly Primitive and Apostolical Constitution of the Church 
of Christ [Presbiterianismo, a verdadeira, primitiva e apostólica constituição da 
Igreja de Cristo], publicada em 1835. Queira o Senhor que, um dia, essa obra 
seja publicada completa. O trecho, aqui, traduzido, neste e-book, trata da 
introdução do capítulo sobre a doutrina presbiteriana do culto, sob o título, 
Culto da Igreja Presbiteriana [Worship of the Presbyterian Church]. Após, 
brevemente, tratar do Princípio Regulador, ele traz algumas implicações e 
aplicações (em forma de sessões), uma delas é: o porquê de, como 
presbiterianos, não guardarmos ou celebrarmos outros dias santos, além do 
semanalmente ordenado - o Dia do Senhor. Ele argumenta, biblicamente, 
contra a manutenção dessa prática. É de grande utilidade o material. 
Publicamos o e-book na semana que, no Ocidente, celebra-se a festa judaica da 
Páscoa. No entanto, a publicação deste e-book, nem de longe, tem por objetivo 
discórdia ou (como chamamos, aqui, no Nordeste) picuinha. Desencorajamos o 
uso soberbo e imaturo, o qual toma a verdade para agredir irmãos em Cristo 
que estejam em posição contrária ao que, aqui, é refutado. Em uma de suas 
cartas, Calvino menciona que “não se passa um ano sem que haja algum tipo 
de briga e discussão; o povo estava dividido ao ponto de desembainharem as 
suas espadas”.[1] E, parece que, nisso também, não há nada novo debaixo do 
Sol nos dias atuais. Porém, cremos que isso não é resolvido fingindo que não há 
problema. Alguém pode questionar que, se realmente, nosso objetivo não 
fosse causar discussão, porque publicamos, ainda mais nesse período. Como 
dissemos, não cremos que o problema é resolvido não tratando, mas tratando-
o de forma honrosa, madura, piedosa e sem ofensas mútuas. Por isso, o 
objetivo da publicação é suscitar a reflexão por meio de um dos teólogos que é 
contado entre os mais sóbrios, piedosos, maduros e sérios, no presbiterianismo 
histórico. E, por crermos que essa é a correta posição, a despeito de cultura, de 
 
1
 Carta, de março de 1555, para os Magistrados de Berna. Extraída de: http://tempora-
mores.blogspot.com/2006/12/calvino-contra-o-natal.html?m=1. Acesso em: 06 de abril de 2020. 
8 
 
usos e fins (geo)políticos ou de tradicionalismo, objetivamos, também, um 
clamor para que se abrace a verdade e nos aproximemos de uma prática 
verdadeira. 
Queremos “conversar”, por meio de um respeitado teólogo. A fonte é 
destacável, aqui, visto que, normalmente, os proponentes da celebração de 
dias santos do calendário “cristão” tendem a tratar os atuais contrários de 
extremados ou de lunáticos ou de neologismo afins. Eis, aqui, um excelente, 
entre os gigantes, sóbrio e centrado, não do séc. XVI ou XVII, mas do XIX, cujo 
presbiterianismo é inquestionável e cuja coerência interna é extraordinária, 
para nos ajudar nessa reflexão. Podemos pensar mais com sobriedade sem 
taxações - e isso de ambos os lados. 
Esse e-book contém o recorte da obra de Samuel Miller, dois apêndices do 
editor, um sob o título “Calvino, Westminster e a celebração de dias santos”; e 
outro sob o título “algumas objeções respondidas e uma palavra de caridade”. 
Creio que vale destacar, aqui, que mais de 50% do volume do e-book foi 
destinado aos apêndices, pois, citam trechos e mais trechos de fontes 
primárias. Reafirmamos, caro leitor, se você já crê no que, aqui, é ensinado ou, 
por meio desse material, for convencido da verdade (o que desejamos), não 
use dela para guerrear contra seus irmãos, nem lhes agredir. Não cause 
problema em sua igreja local, caso ela “celebre dias santos”. Não se levante 
contra seus presbíteros. Mas, junte-se a nós no clamor para que Deus reforme 
Sua igreja por completo. Ele, não nós, é o Senhor da Igreja e fará o que lhe 
aprouver no tempo que lhe aprouver. Não sejamos pedras de tropeço, mas 
instrumentos dEle. Conforme Calvino falou: “a restauração da Igreja é obra de 
Deus, e que, tal como a ressurreição dos mortos ou qualquer outro tipo de 
milagres, Ele não depende das esperanças e opiniões”.[2] 
Christopher Vicente 
04 de abril de 2020. 
Natal-RN. 
 
 
 
2
 CALVINO, João. A Necessidade de Reformar a Igreja. As Obras de João Calvino (Vol. 1). Recife: CLIRE, 2017. p. 
253. 
 
9 
 
PARTE I 
O CULTO PRESBITERIANO 
 
Um princípio fundamental da Igreja Presbiteriana, em seu padrão “Diretório 
para o Culto a Deus” é que, nesse ponto, como em todas as demais coisas, a 
Escritura é o único guia seguro. Um dos erros mais comuns que ganhou espaço, 
no meio da comunidade cristã, foi a adoção do princípio de que os ministros da 
religião podem, legalmente, fazer adições, ao seu prazer, de ritos e cerimônias 
da Igreja. Em consequências da admissão desse erro, Agostinho reclamou, logo 
no início do quinto século, que para um único mandamento de Deus, dez 
homens entraram na igreja e formaram um fardo maior, em alguns aspectos, 
do que os judeus e pagãos na administração cerimonial na igreja. Muitos ritos e 
cerimônias foram adotados de ambos [dos judeus e pagãos], para que se 
sentissem mais à vontade nas assembleias cristãs. Esse mal aumentou até que, 
antes da Reforma, alcançou uma quantidade revoltante de superstição que, 
agora, distingue a Igreja de Roma. 
Foi em referência a esse ponto que nossos pais, tanto na Escócia quanto na 
Inglaterra, tiveram muitos conflitos, quando suas respectivas igrejas, em seus 
países, foram organizadas e estabelecidas no século XVI. Por um lado, os 
prelados e outros clérigos da corte eram a favor de rituais esplêndidos; e 
inclinaram-se a reter uma grande quantidade de cerimônias, as quais estava 
em largo uso na Igreja de Roma. Por outrolado, os puritanos, na Inglaterra e 
seu correspondente na Escócia, lutavam dizendo que, sendo a Escritura a única 
infalível regra de fé e prática, nenhum rito ou cerimônia fora da Escritura, 
poderia ter um lugar no culto público a Deus, o qual é ordenado na Escritura, 
tanto por um preceito direto ou exemplo, quanto por boa e suficiente 
consequência.[3] 
Na Escócia, os advogados da primitiva simplicidade prevaleceram e 
estabeleceram em sua igreja nacional o mesmo modo de culto, o qual nós 
cremos ter existido na Era Apostólica; e que, agora, prevalece na Igreja 
Presbiteriana naquele país e nos Estados Unidos da América. Na Inglaterra, 
 
3
 “Boa e suficiente consequência” é a expressão inglesa para o que, em português, ficou traduzido e difundido 
como “lógica e claramente deduzido” [Nota do Editor]. 
 
10 
 
nossos pais, os puritanos, não foram tão felizes no sucesso de estabelecer o 
mesmo sistema escriturístico. Sob a influência da monarquia e da corte de 
clérigos, eles foram vencidos. 
Ainda assim, é indubitavelmente certo que uma grande parte do devotado 
clero da Igreja da Inglaterra, durante o reinado da rainha Elizabeth, e alguns de 
seus dignitários mais dignos, quando o caráter daquela igreja, sob seu regime 
reformado, foi, finalmente consertado, alegaram, importunamente, que se 
deixasse de lado, no culto público, tudo o que os presbiterianos, atualmente, 
objetam, como não tendo garantia nas Escrituras. E apesar de terem falhado 
em garantir seu objetivo na igreja nacional, ainda assim, os descendentes dos 
puritanos, tanto naquele país quanto no nosso, foram autorizados a realizar 
seus desejos quanto à maioria dos detalhes em que insistiam. Em alguns dos 
principais desses particulares, proponho-me, agora, falar mais; e designar, em 
relação a cada um, nossas razões para seguir nossos pais em nosso sistema de 
adoração. Mas, antes de prosseguirmos com esse detalhe, pode ser útil 
oferecer uma ou duas observações gerais, que servirão para mostrar por que 
nos opomos a todas as invenções e acréscimos humanos na adoração a Deus. 
1. Cristo é o único Rei e Cabeça da Igreja. Sua Palavra é a Lei dessa Casa. 
Claro que a Igreja não deve considerar a si mesma como possuindo algum 
poder que essa Palavra não garante. Se, portanto, ela não pode encontrar 
na Escritura, nem autoridade, nem direção, nem justa implicação para 
julgar o que for pretendido, então, ela não possui essa autoridade. 
2. Nós pensamos que cada invenção ou adição são, expressamente, 
proibidas na Escritura. A significante questão foi respondida por Deus ao 
Seu antigo povo, quando, falando sobre esse mesmo assunto, disse em 
Isaías 1.12: “Que requereu isso das mãos de vocês?” - isso parece ser 
decisivo. “Ensinando, pois, doutrina e mandamentos de homens”, é 
falado, em Mateus 15.9, pelo nosso bendito Salvador como altamente 
ofensivo a Ele. Parece tácito sugerir que somos mais sábios que Deus e 
compreendemos melhor os interesses da Igreja do que Sua Cabeça e 
Senhor. 
3. Se nós abrirmos uma vez essa porta, quando e como ela será fechada? 
A igreja, nos dizem [os romanistas], tem poder para decretar ritos e 
cerimônias; isto é, a maioria dos poderes dirigentes da igreja tem poder 
11 
 
para, a qualquer momento, por capricho, amor ao espetáculo, superstição 
ou qualquer outro motivo que possa motivar, adicionar rito após rito e 
cerimônia após cerimônia, ao bel prazer, na adoração a Deus. Agora, se 
esse poder é, realmente, herdado pela Igreja, qual limite nós daremos a 
essa prática? Se ela tem poder para adicionar dez ou vinte novas 
ordenanças ao seu ritual, não teria ela poder para adicionar cem ou 
quinhentos, se a maioria de seus ministros se sentirem inclinada para tal? 
E, não foi, precisamente, por essa estrada e sob esse princípio, que a 
enorme massa de superstição, a qual caracteriza o Papado, gradualmente, 
foi acumulada? Sem dúvida, o poder sustentado, sem nenhum limite, mas 
por capricho humano; que foi (e tem sido) tão, manifesta e 
chocantemente, abusado em eras passada, de forma alguma, deve ser 
reivindicado ou exercido na Igreja de Deus. 
Agora, sejamos mais específicos - aplicando a uma questão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
PARTE II 
PRESBITERIANOS NÃO CELEBRAM DIAS SANTOS 
 
Acreditamos e ensinamos, em nossos formulários públicos, que “sob a 
dispensação do Evangelho, não há dia em que se ordene que se santifique, 
exceto o dia do Senhor, que é o sábado cristão”. Acreditamos, de fato, e 
declaramos, na mesma fórmula, que é tanto bíblico quanto racional, observar 
dias especiais de jejum e ação de graças, como as extraordinárias dispensações 
da Divina Providência podem direcionar. Mas estamos convencidos de que a 
manutenção desses dias, quando são feitas observâncias declaradas, 
recorrente e claras, em determinados momentos [pré-estabelecidos], seja qual 
for o aspecto da Providência, é calculada para promover formalidade e 
superstição, em vez da edificação de o corpo de Cristo. Nossas razões para 
adotarmos essa opinião são as seguintes: 
I 
A ESCRITURA NÃO ORDENA 
Estamos convencidos de que não há garantia escriturística para tais 
observâncias, seja por preceito ou por exemplo. Não há indícios, no Novo 
Testamento, de que tais dias foram observados ou recomendados pelos 
apóstolos ou por qualquer uma das igrejas em seu tempo. A menção da Páscoa, 
em Atos 12.4, não tem aplicação para esse assunto. Herodes era judeu, não 
cristão; e, é claro, não toleraria uma solenidade cristã. O verdadeiro significado 
da passagem é (a menor inspeção do original satisfará todo leitor inteligente): 
“Pretendendo, após a Páscoa, trazê-lo adiante ao povo”. 
II 
A ESCRITURA CONDENA 
Acreditamos que as Escrituras, não apenas, não garantem a observância de tais 
dias, mas que a negam positivamente. Que qualquer um pesquise, 
imparcialmente: Colossenses 2.16; Gálatas 4.9-11; e depois diga se essas 
passagens não indicam, evidentemente, que o apóstolo inspirado desaprovou a 
observância de tais dias. 
14 
 
III 
A FUNÇÃO DAS FESTAS SANTAS NA ANTIGA ALIANÇA 
É INÚTIL NA NOVA 
A observância de Jejuns e Festas, por direção divina, sob a economia do Antigo 
Testamento, não falou nada a favor de tais observâncias sob a dispensação do 
Novo Testamento. Essa economia não era mais vinculativa, ou mesmo lícita, 
após a criação da Igreja do Novo Testamento. Era tão razoável implorar, pelo 
uso atual da Páscoa, do incenso e das ofertas queimadas da antiga 
administração, que foram, confessadamente, destruídas pela vinda de Cristo, 
como argumentar a favor de invenções humanas, com alguma semelhança a 
eles, como vinculativo à Igreja Cristã. 
IV 
A HISTÓRIA DE SUA CRIAÇÃO DEPÕE CONTRA A PRÁTICA 
A história da introdução de Jejuns e Festas declarados pelos primeiros cristãos 
fala muito contra suas obrigatoriedades e seu caráter edificante. Sua origem 
era ignóbil. Eles foram trazidos, principalmente, pela política carnal, com o 
objetivo de atrair para a Igreja judeus e gentios, que estavam acostumados a 
festas e dias santos. E, a partir do momento de sua introdução, eles se 
tornaram o sinal de conflito, ou os monumentos de expedição mundana e 
superstição degradante. 
Não havia dias santos, exceto o Dia do Senhor, observados na igreja cristã, 
enquanto os apóstolos viviam. Também, nenhum vestígio é dado de que eles 
achassem algo desejável a ser feito. Portanto, não encontramos nenhum 
indício de tal observância ter sido adotada até o final do segundo século. Então, 
a celebração da Páscoa deu origem a uma controvérsia: os cristãos asiáticos, 
implorando por sua observância no mesmo período do ano em que foi 
prescrito a Páscoa judaica, e sustentando que eles eram apoiados pela tradição 
apostólica; enquanto a Igreja ocidentaldisputava sua celebração declarada em 
um determinado domingo e instou, com igual confiança, a tradição apostólica 
em favor de seu plano. 
No que diz respeito a essa controvérsia feroz e imutável, Sócrates, o historiador 
eclesiástico, que escreveu logo após a época de Eusébio, inicia sua história 
15 
 
onde este último encerra sua narrativa, falando sobre a controvérsia relativa à 
Páscoa. Assim ele se expressa: 
nem os antigos nem os pais de épocas posteriores, ou seja, aqueles que 
favoreceram o costume judaico, tiveram motivos suficientes para 
contender tão ansiosamente sobre festa da Páscoa; pois não 
consideravam, em si mesmos que, quando a religião judaica foi 
transformada em cristianismo, a observância literal da lei mosaica e os 
tipos de coisas que estavam por vir cessaram totalmente. E isso traz 
consigo evidências próprias. Pois nenhuma das leis de Cristo permite que 
os cristãos observem os ritos dos judeus. Não, o Apóstolo o proibiu, em 
palavras simples, onde ele revoga a circuncisão e nos exorta a não discutir 
sobre festas e dias santos. Pois, escrevendo para os gálatas, ele os 
aconselha a não observar dias, meses, tempos e anos. E, para os 
colossenses, ele é tão claro quanto possível, declarando que a observância 
de tais coisas era apenas uma sombra. Nem os apóstolos nem os 
evangelistas determinaram aos cristãos a observância da Páscoa; mas 
deixaram a lembrança à livre escolha e discrição daqueles que foram 
beneficiados por esses dias. Os homens guardam dias santos, porque 
desfrutam do descanso do trabalho e do labor. Portanto, acontece que em 
todos os lugares eles celebram, por vontade própria, a lembrança da 
paixão do Senhor. Mas nem nosso Salvador nem Seus apóstolos nos 
mandaram observá-lo.[4] 
Aqui, então, está um eminente escritor cristão, que floresceu no início do 
século V, que fez da História da Igreja seu estudo particular; que declara, 
explicitamente, que nem Cristo nem Seus apóstolos deram ordem, nem mesmo 
prestaram atenção à observância dos dias de festa; que foi trazido para a Igreja 
por costume; e que, em diferentes partes da Igreja, havia diversidade de 
práticas em relação a esse assunto. 
Em relação à Páscoa, em particular, essa diversidade foi impressionante. Logo 
que ouvimos falar de sua observância, começamos a ouvir de uma disputa e 
uma interrupção da comunhão cristã por causa disso. Alguns citando a 
autoridade dos apóstolos para manter este festividade em um dia; e outros, 
 
4
 Sócrates, Livro 5, capítulo 21. 
 
16 
 
com a mesma confiança, citando a autoridade de outros apóstolos para a 
seleção de um dia diferente - demonstrando, claramente, que havia algum erro 
e tornando, altamente, provável que todas as partes estivessem erradas e que 
nenhuma dessas observâncias, eram obrigatórios para os cristãos. 
O festival da Páscoa, sem dúvida, foi introduzido no século II, no lugar da 
Páscoa e em acomodação ao mesmo preconceito judaico que foi dito, mesmo 
durante a era apostólica: “A não ser que seja circuncidado, à maneira de 
Moisés, não podeis ser salvos”. Por isso, era, geralmente, chamado de pascha e 
pasch, em conformidade com o nome da festa judaica, cujo lugar ocupava. 
Parece ter recebido o título de Páscoa na Grã-Bretanha, pelas circunstâncias, 
que, quando o cristianismo foi introduzido naquele país, um grande festival 
pagão celebrado na mesma estação do ano, em homenagem à deusa pagã 
Eostre, cedeu seu lugar para o festival cristão, que recebeu, substancialmente, 
o nome da divindade pagã.[5] Acredita-se que o título da Páscoa, raramente, 
seja usado, mas pelos britânicos e seus descendentes. 
Poucos festivais são celebrados na Igreja Romana e em algumas igrejas 
protestantes, com mais interesse e zelo, do que o Natal. No entanto, quando 
Orígenes, em meados do século III, dá uma lista dos jejuns e festivais que foram 
observados em seus dias - ele não faz menção ao Natal. A partir deste fato, 
Peter King, em seu “Inquérito sobre a Constituição e o culto, etc. da Igreja 
Primitiva”, infere que esse festival não foi observado e acrescenta: “Parece 
improvável que eles celebrem o nascimento de Cristo, quando discordam sobre 
o mês e o dia em que Cristo nasceu”. Todo mês do ano é designado por 
diferentes partes e escritores da Igreja Cristã como o tempo do nascimento de 
nosso Senhor; e a localização final dessa data, bem como de outros dias 
sagrados, no calendário eclesiástico, foi ajustada mais a princípios 
astronômicos e matemáticos do que a quaisquer cálculos sólidos da história. 
V 
A ORIGEM E RAZÕES DEPÕEM CONTRA A PRÁTICA 
Mas os motivos e a maneira de introduzir o Natal na Igreja Cristã falam mais 
fortemente contra ele. Sua verdadeira origem era esta, como muitas outras 
 
5
 A palavra inglesa, língua original dessa obra, para Páscoa é easter. O autor está associando a grafia desse 
nome ao nome da deusa, Eostre, e de sua festa idólatra e pagã que foi substituída pela “páscoa cristã”. 
 
17 
 
observâncias, foi emprestado dos pagãos. O conhecido festival pagão entre os 
romanos, distinguido pelo título de Saturnália (porque instituído em 
homenagem à sua divindade lendária, Saturno), foi celebrado por eles com o 
maior esplendor, extravagância e devassidão. Foi, durante sua continuidade, 
uma estação de liberdade e igualdade; o mestre deixou de governar e o 
escravo de obedecer; o primeiro esperando em sua própria mesa o último e 
submetendo-se à suspensão de toda ordem e ao reinado de divertimento 
universal. A cerimônia desse festival era aberta no dia 19 de dezembro, 
iluminando uma profusão de velas de cera no templo de Saturno; e 
suspendendo, em seu templo e em todas as suas habitações, ramos de louro e 
vários tipos de sempre-verdes.[6] 
A Igreja cristã, vendo a infeliz influência moral deste festival; percebendo com 
frequência seus próprios membros participando de sua licenciosidade; e 
desejosa de, se possível, efetivar sua abolição, nomeou um festival, em 
homenagem ao nascimento de seu mestre, quase na mesma época, com o 
objetivo de substituí-lo. Ao fazer isso, a política era reter o maior número 
possível de hábitos que prevaleciam na Saturnália que poderiam, de alguma 
forma, ser reconciliados com a pureza do cristianismo. Eles fizeram seu novo 
festival, portanto, uma estação de relaxamento e alegria, de visitas alegres e 
presentes mútuos. Assim, a Igreja Romana pediu emprestada aos pagãos 
algumas de suas observâncias mais importantes; e, assim, algumas 
observâncias dessa origem foram adotadas e continuadas pelos protestantes. 
VI 
O PRECEDENTE PARA OUTRAS INVENÇÕES E SUPERSTIÇÕES 
Sendo evidente, então, que jejuns e festivais declarados não têm garantia 
divina, e que seu uso, sob a administração do Novo Testamento, é uma mera 
invenção humana, então, podemos perguntar àqueles que são amigáveis com 
sua observância, que limites devem ser estabelecidos para sua adoção e uso na 
Igreja Cristã? Se é lícito introduzir cinco desses dias para a observância deles, 
por que não dez, vinte ou cem? Um pequeno número foi, em um período 
inicial, posto em uso por homens sérios, que pensavam que estavam prestando 
serviço a Deus e estendendo o reino da religião. Mas, um após o outro, foi 
 
6
 Provavelmente, “sempre-verdes” faz referência à uma planta ou ramos dela [Nota do Editor]. 
 
18 
 
acrescentado, à medida que a superstição aumentou, até o calendário ficar 
sobrecarregado com duzentos ou trezentos jejuns e festivais, ou dias de santo, 
a cada ano; interferindo assim, materialmente, com as reivindicações da 
indústria secular e carregando a adoração a Deus com uma massa de 
observâncias supersticiosas, igualmente hostis aos interesses temporais e 
eternos dos homens. 
Permita-se admitir o princípiode que os dias declarados de observância 
religiosa (que Deus, em nenhum lugar, os ordenou), possam ser, 
adequadamente, introduzidos no ritual cristão e, por paridade de raciocínio, 
todo aquele que, por bons motivos, puder efetuar a introdução de um novo 
festival religioso, tem a liberdade de fazê-lo. Sobre esse princípio, foi 
construída a enorme massa de superstição que, agora, distingue e corrompe a 
Igreja Romana. 
VII 
DIAS SANTOS INVENTADOS INTERFEREM NA 
SANTIFICAÇÃO DO ÚNICO DIA SANTO ORDENADO 
Constata-se que a observância de dias santos não ordenados interfere na 
devida santificação dos Dias do Senhor. Acrescentar, às nomeações de Deus, é 
superstição. E superstição já foi considerada hostil à obediência genuína. Seus 
devotos, como os judeus da antiguidade, já foram considerados mais tenazes 
de suas próprias invenções, de sonhos tradicionais, do que do código de dever 
revelado por Deus. Por conseguinte, talvez, não exista um fato mais universal e 
inquestionável do que o fato de que os observadores zelosos de jejuns e 
festivais declarados sejam, caracteristicamente, frouxos na observância 
daquele dia que Deus, eminentemente, separou para Si e na santificação da 
qual todos os interesses vitais da religião prática estão suspensos. Assim foi 
entre os israelitas da antiguidade. 
Já, no século V, Agostinho reclama que a observação supersticiosa de ritos não 
ordenados traiu muitos, em seu tempo, em um espírito de irreverência e 
negligência em relação aos que foram divinamente designados. Assim é, 
notoriamente, entre os romanistas nos dias atuais. E assim, sem qualquer 
quebra de caridade, pode-se dizer que está em todas as comunidades religiosas 
em que prevalece o zelo pela observância de dias santos não-ordenados. 
19 
 
É verdade, muitas dessas comunidades nos dizem que a observância dos dias 
santos, dedicada a pessoas e eventos particulares, na História da Igreja, tem 
uma tendência manifesta e forte para aumentar o espírito de piedade. Mas, se 
assim for, podemos esperar encontrar muito mais piedade das Escrituras na 
Igreja Romana do que em qualquer outra, uma vez que os dias santos são dez 
vezes mais numerosos nessa denominação do que no sistema de qualquer 
Igreja Protestante. Mas é assim? Que aqueles que têm olhos para ver e ouvidos 
para ouvir decidam. 
CONCLUSÃO 
Se as alegações anteriores são, de alguma forma, bem fundamentadas; se não 
há garantia na Palavra de Deus para quaisquer observâncias desse tipo; se, pelo 
contrário, as Escrituras os desencorajam expressamente; se a história de sua 
introdução e aumento marcam uma origem inalterada; se, uma vez que 
abrimos a porta para tais invenções humanas, ninguém pode dizer como ou 
quando pode ser fechada; e se alguma vez a observância de dias, não 
designada por Deus, exerce uma influência hostil na santificação daquele Dia 
santo que Deus designou, certamente, não precisamos de mais provas do que é 
prudente descartá-las de nossos sistema eclesiástico. [Diante de tudo isso, por 
que quais razões insustentáveis continuamos comemorando ou lutando pela 
manutenção de tais coisas?]. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
APÊNDICE A 
CALVINO, WESTMINSTER E A CELEBRAÇÃO DE DIAS SANTOS 
 
1. CALVINO E A CELEBRAÇÃO DE DIAS SANTOS 
Comumente, menciona-se Calvino como argumento a favor da prática de 
celebração dos dias que são considerados como dias santos para o Romanismo. 
Embora a opinião de teólogos particulares nos sejam muito útil para 
crescimento, amadurecimento e compreensão da teologia histórica, o peso 
maior em questões da prática da igreja não cai sobre a opinião deles, mas da 
Igreja de Cristo representada em Concílios. Porém, ainda assim, desejamos, 
nesse apêndice, tratar tanto de Calvino quanto dos Padrões de Westminster - 
dando o peso devido de autoridade maior a essas últimas. 
Calvino é um honrado e majestoso pastor, mestre e teólogo que Deus levantou 
para o bem de Sua Igreja. Sua opinião deve ser ouvida e considerada. 
Ele, em duas de suas cartas, menciona o seguinte: Antes da minha 
chamada à cidade, eles não tinham nenhuma festa exceto no dia do 
Senhor. Desde então eu tenho procurado moderação a fim de que o 
nascimento de Cristo seja celebrado (carta ao pastor da cidade de Berna, 
Jean Haller, de 2 de janeiro de 1551). Quanto ao restante, meus escritos 
testemunham os meus sentimentos nesses pontos, pois neles declaro que 
uma igreja não deve ser desprezada ou condenada porque observa mais 
festivais do que outras. A recente abolição de dias de festas resultou 
apenas no seguinte: não se passa um ano sem que haja algum tipo de 
briga e discussão; o povo estava dividido ao ponto de desembainharem as 
suas espadas (Carta aos Magistrados de Berna, de março de 1555).[7] 
Esses dois trechos são, comumente, citados para mostrar que Calvino apoiava 
(ou, pelo menos, não era contra) a celebração de dias dessa natureza. Porém, a 
luz de outras obras e cartas suas, não se pode concluir que, necessariamente, 
ele apoiasse, mas que estamos diante de um homem pastoral, paciente, que 
preza pelo amor entre os irmãos e com um senso do tempo devido para todas 
 
7
 Ambos os trechos foram tirados de: Calvino Contra o Natal? Disponível em: < http://tempora-
mores.blogspot.com/2006/12/calvino-contra-o-natal.html?m=1 >. Acesso em: 060 de abril de 2020. 
 
22 
 
as coisas. Veja, por exemplo, essa sua fala sobre a celebração do Natal em um 
sermão de Miquéias: 
Vejo que há mais pessoas, aqui, hoje, do que costuma haver nos outros 
sermões. Por que isso? Porque é dia de Natal. E quem disse-lhes tal coisa? 
Pobres bestas. Isso é um eufemismo adequado para todos que vieram, 
aqui, hoje, honrar o natal. Pensam que honram a Deus? Considerem que 
tipo de obediência a Deus tens demonstrado? Em suas mentes, estão 
celebrando um dia santo para Deus, ou transformando-o em um. Na 
verdade, vocês têm sido, frequentemente, admoestados que, é bom 
separar um dia do ano, no qual, lembramos de todo o bem ocorrido por 
causa no nascimento de Cristo no mundo, ouvimos a história de seu 
nascimento sendo recontada, o que acontecerá no domingo. Porém, se 
vocês acham que Jesus Cristo nasceu hoje, são tão loucos, quanto bestas 
selvagens. Quando, você engrandece somente um dia com o propósito de 
adorar a Deus, você, simplesmente, transforma-o em um ídolo. Na 
verdade, vocês insistem que têm feito assim para a honra de Deus, 
contudo, honram mais ao diabo. [...] quando, insistimos em criar uma 
prática baseada em nossos caprichos, blasfemamos contra Deus, e 
criamos um ídolo, apesar de, termos feito isso tudo, em nome de Deus. 
[...] Portanto, vamos prestar atenção ao que Miquéias [5:7-14] está 
dizendo aqui, que Deus, não apenas despojará coisas que são más em si 
mesmas, como também, eliminará qualquer coisa que promova 
superstição. Entendendo isso, não acharemos estranho, o natal não ser 
celebrado, hoje, todavia, no domingo, celebraremos a Ceia do Senhor e 
recitaremos a história do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo.[8] 
Percebamos que, aqui, Calvino critica a postura dos crentes de Genebra na 
forma como lidam com o Natal, considerando ser um dia especial ou ser o dia 
do nascimento de Cristo. Embora, ele afirme que eles foram recomendados ter 
um dia para lembrar “de todo o bem ocorrido por causa no nascimento de 
Cristo no mundo, ouvimos a história de seu nascimento sendo recontada”, 
 
8
 Calvino sobre o dia chamado natal. Disponível em: < http://igrejapuritana.blogspot.com/2012/11/joao-
calvino-sobre-o-dia-chamado-natal.html >. Acesso em: 07 de abril de 2020. Ao fazermos referência a esse link, 
não aprovamos, com isso, o grupo responsável. Apenas fazemos uso do excelente serviço que prestaram 
traduzindoessa porção do livro de sermões em Miquéias de Calvino. [Nota do Editor]. 
 
23 
 
ainda assim recrimina a superstição, comemoração (como se honrasse a Deus 
com isso) ou a atribuição do nascimento de Cristo naquele dia. 
Sobre coisas semelhantes aos dias santos (dias escolhidos, aleatoriamente, 
para representarem questões religiosas e espirituais), as cerimônias e 
superstições, Calvino diz (cito apenas um exemplo, não é difícil encontrar falas 
semelhantes nas Institutas e em outros escritos seus). Sobre o Princípio 
Regulador, ele diz: 
O Senhor, a fim de asseverar seu pleno direito de domínio, ordena 
estritamente o que Ele quer que façamos e prontamente rejeita todos os 
inventos humanos que se encontram em divergência com seu 
mandamento. [...] Deus desaprova todos os modos de culto que não 
estejam expressamente estabelecidos por Sua Palavra.[9] 
Mais a frente, na mesma obra, fala sobre o que é criado pelos homens e 
imposto para a prática da igreja: “os ritos, fundamentos meramente na 
autoridade humana, têm sido postos em pé de igualdade com os mistérios 
instituídos por Cristo e recomendados por sua autoridade divina”.[10] Perceba 
com que firmeza Calvino condena os mesmos dias santos ou questões de 
mesma natureza (instituições inventadas por homens sendo colocada para a 
prática da igreja) em outras obras. 
E, por último, sobre o que foi inventado pelos homens e as consequentes 
superstições que advirão disso, ele diz: 
Estando o culto divino viciado por tantas opiniões falsas e pervertido por 
tantas superstições ímpias e torpes, a santa majestade de Deus é insultada 
com atroz afronta, seu Santo Nome é profanado, e a sua glória não é só 
pisoteada. [...] reinam mil superstições.[11] 
Mas, ainda assim, mesmo com essa posição, Calvino recomenda o que foi visto 
na carta ao pastor da cidade de Berna, Jean Haller, já mencionada. A fala de 
Calvino sobre o assunto não parou ali. Mais à frente, ele continuou: 
 
9
 CALVINO, João. A Necessidade de Reformar a Igreja. As Obras de João Calvino (Vol. 1). Recife: CLIRE, 2017. p. 158. 
 
10
 CALVINO, João. A Necessidade de Reformar a Igreja. As Obras de João Calvino (Vol. 1). Recife: CLIRE, 2017. p. 246. 
 
11
 CALVINO, João. A Necessidade de Reformar a Igreja. As Obras de João Calvino (Vol. 1). Recife: CLIRE, 2017. p. 295. 
24 
 
Embora eu não tenha tomado a iniciativa nem tenha instigado isso, ainda 
assim, desde que a decisão foi tomada, não lamento por isso. [...] se você 
conhecesse o estado da Igreja tão bem quanto eu conheço, você não 
hesitaria em subscrever meu julgamento[...]. Se dependesse de mim, eu 
não teria apoiado a decisão a que se chegou. Não obstante, não há razão 
para que as pessoas se sintam tão provocadas, se usamos da nossa 
liberdade, conforme a edificação da igreja requer (grifo nosso).[12] 
Perceba o grifo destacado. Abertamente, Calvino diz: “Se dependesse de mim, 
eu não teria apoiado a decisão a que se chegou”. Mas ainda, permita-me citar, 
nesse mesmo sentido, um trecho de uma outra carta, pois, sua fala é útil para a 
tese aqui sustentada: 
Ninguém provido de são juízo negará que velas acesas, crucifixos e outras 
bugigangas da mesma espécie decorrem da superstição. Por isso tenho 
por certo que, quem espontaneamente conserva essas coisas, não anela 
senão por beber refugo contaminado. Também não vejo por que uma 
igreja deva ser sobrecarregada com essas cerimônias perniciosas, frívolas 
e inúteis, para não as chamar por seu nome verdadeiro, quando uma 
ordem de culto simples e pura está à nossa disposição.[13] 
Sua opinião é clara sobre tais coisas, sua convicção do grave erro e engano 
delas também. Mas, logo em seguida, ele chega ao ponto: que se entristece por 
haver discórdia entre esses irmãos. Em outra carta a Knox, ele reflete o mesmo 
espírito quanto às questões semelhantes aos dias santos, dizendo: 
Com respeito às cerimônias, tenho certeza de que você moderará o seu 
vigor, ainda que desagrade a muitos. Você tem, certamente, o dever de 
providenciar para que a igreja seja expurgada de todas as contaminações 
advindas do erro e da superstição. Pois nos cumpre lutar diligentemente 
para que os mistérios de Deus não sejam poluídos pela mescla de ritos 
burlesco ou repulsivo. Mas, à exceção disso, você bem sabe que certas 
coisas deveriam ser toleradas, ainda que não as aprove totalmente. Aflige-
 
12
 Pr. Paulo Anglada, em um comentário a um post. Disponível: < http://tempora-
mores.blogspot.com/2006/12/calvino-contra-o-natal.html >. Acesso em: 09 de abril de 2020. 
 
13
 CALVINO, João. Cartas de João Calvino. São Paulo: 2009. p. 126. 
 
25 
 
me profundamente, como bem pode crer, que os nobres da sua nação 
estejam divididos em facções [...]” (grifo nosso).[14] 
Para finalizar a sustentação da tese, aqui, apresentada sobre a relação de 
Calvino com esses dias, eis mais uma carta, datada de 25 de dezembro de 1557, 
na qual ele é claríssimo sobre sua opinião e intenções: 
No que diz respeito às cerimônias e, acima de tudo, à observância dos dias 
santos [ofereço o seguinte]: Embora existam alguns que desejam, 
ansiosamente, permanecer em conformidade com essas práticas, eu não 
sei como eles podem fazê-lo sem desconsiderar a edificação da igreja, 
nem sei como eles podem prestar contas a Deus por ter feito avançar o 
mal e impedido sua solução. No entanto, como temos que suportar uma 
série de imperfeições, quando não podemos corrigi-las, sou da opinião de 
que nenhum irmão deve permitir que o acima seja a causa de sua saída da 
igreja, a menos que a maioria apoie o contrário (grifo nosso).[15] 
Percebe-se que, em todos esses trechos, há diversas afirmações que nos levam 
a crer que, realmente, Calvino era contra tais práticas. Não é imprópria essa 
conclusão. Além disso, se com coisas que, claramente, são mais essenciais e 
importante, Calvino, mesmo sendo ferrenho opositor, orientou paciência e 
cautela; então, sem dúvida, o mesmo pode ter ocorrido com sua posição no 
tocante à manutenção dos Dias Santos dentro da Igreja.[16] 
Ou seja, não há, necessariamente, uma concordância, mas uma tolerância. 
Havia um desejo de não se perder em lutas por com coisas que, embora 
importantes, não eram urgentes. Eles estavam lutando contra um sistema 
totalmente corrompido (basta ser a obra A Necessidade de Reformar a Igreja 
que isso ficará claro); estavam sofrendo diversas pressões, internas e externas. 
“Brigar” por tais coisas, naquele momento, não seria sábio. Questões mais 
 
14
 Ibid., p. 170. 
 
15
 COLDWELL, Chris. John Calvin and Holy Days. Disponível em: < 
https://purelypresbyterian.com/2016/11/21/john-calvin-and-holy-days/ >. Acesso em: 07 de abril de 2020. 
 
16
 Aliás, não somos os primeiros a argumentar nesse sentido. George Gillispie, em sua obra “Dispute Against 
English-Popish Ceremonies”, tentou mostrar a relação da posição de Calvino e outros pastores em Genebra em 
diversas ocasiões que pareciam se posicionar de forma incoerente em diferentes ocasiões - conforme os 
autores deste (http://reformedpresbyterianveritasdocuments.blogspot.com/2009/01/war-against-christmas-
on-thursday.html) site destacam. 
26 
 
prementes estavam chamando e rugindo com mais necessidades de atenção. 
Conforme Paulo Anglada conclui: 
O conteúdo geral das cartas de Calvino sobre a questão da observância 
dos dias santos parece indicar claramente que, embora ele estivesse 
pronto para TOLERAR essas celebrações controvertidas para não 
prejudicar o avanço da Reforma, ele mesmo não as aprovava e estranhava 
que outros se sentissem tão ofendidos com as reformas litúrgicas levadas 
a efeito em Genebra relacionadas à abolição dos dias santos.[17] 
*** 
Por isso, diante dessa exposição, há duas lições aos dois partidos: os 
reformadosque querem usar Calvino, para dizer que o mesmo considerava 
lícito tais comemorações, contra os reformados que se opõem a tal prática, 
devem ter mais cautela. A intenção de Calvino e sua opinião sobre a matéria e 
questões afins, em sua obra, não permite isso. Porém, os que querem, com 
isso, condenar ao fogo do inferno e heresia os irmãos que, por qualquer 
motivo, em sã consciência, ainda defendem isso, devem ter mais cautela e 
imitar não apenas o zelo de nosso irmão Calvino, mas seu espírito manso e 
cuidado com a não manutenção de discórdias desnecessárias entre os irmãos. 
Não é negar que há o erro ou fazer o possível, em certa medida, para que ele 
não seja perpetrado no seio da Igreja. Mas sim, é fazer isso com um espírito e 
ânimo fraternal. A verdade estabelecida em amor; ganhar o irmão, não o 
destruir. 
Ainda que se, seguramente, concluíssemos que Calvino defendesse como 
devido e correto a manutenção da celebração de tais dias inventados pela 
tradição e opinião humanos (o que seria uma incoerência com o todo de sua 
obra em questões similares), ainda assim, mesmo sendo útil analisarmos sua 
opinião e de outros, mais vale a confessionalidade de uma igreja, em especial, a 
da que fazemos parte. 
 
 
 
17
 Pr. Paulo Anglada, em um comentário a um post. Disponível: < http://tempora-
mores.blogspot.com/2006/12/calvino-contra-o-natal.html >. Acesso em: 09 de abril de 2020. 
 
27 
 
2. WESTMINSTER E DIAS SANTOS 
A Confissão de Fé de Westminster nada fala, diretamente, sobre o tópico. Mas, 
indiretamente, pode-se inferir o seguinte, a luz dos respectivos trechos. 
● Santifica-se, apenas, o Dia do Senhor. CFW XXI.7: “Como é lei da 
natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada 
ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, 
moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os 
séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um 
sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a 
ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a 
ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que 
na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar 
até ao fim do mundo como o sábado cristão” (grifo nosso). 
● As festas judaicas foram ab-rogadas em Cristo, como Páscoa, Festa 
da Colheita ou Primícias, etc. Não devem ser mais praticadas. CFW XIX.8: 
“Além dessa lei, geralmente chamada lei moral, foi Deus servido dar ao 
seu povo de Israel, considerado uma igreja sob a sua tutela, leis 
cerimoniais que contêm diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em 
parte se referem ao culto e prefiguram Cristo, as suas graças, os seus atos, 
os seus sofrimentos e os seus benefícios, e em parte representam várias 
instruções de deveres morais, estão todas ab-rogadas sob o Novo 
Testamento” (grifo nosso). 
● É proibido acrescentar algo ao culto de Deus sem a ordenação da 
Palavra, isso no tocante à igrejas que fazem “culto de natal”, “culto da 
ressurreição”, “culto de páscoa”: CMW 109. Os pecados proibidos no 
segundo mandamento são - o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e 
aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por 
Deus; o fazer qualquer imagem de Deus, de toda e qualquer das três 
pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer 
forma de imagem ou semelhança de criatura alguma; toda a adoração 
dela, ou de Deus nela ou por meio dela; o fazer qualquer imagem de 
deuses imaginários e todo o culto ou serviço a eles pertencentes; todas as 
invenções supersticiosas, corrompendo oculto de Deus, acrescentando ou 
tirando dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas 
28 
 
por tradição de outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, 
de devoção, de boa intenção, ou por qualquer outro pretexto; a simonia, o 
sacrilégio; toda a negligência, desprezo, impedimento e oposição ao culto 
e ordenanças que Deus instituiu” (grifo nosso). 
Demais, nada é falado. E, talvez, não se devesse esperar que se falasse. Porém, 
outro documento da mesma Assembleia, o Diretório de Culto de Westminster, 
embora, hoje, não sendo subscrito por muitas igrejas presbiterianas, lança luz 
sobre a visão da Assembleia de Westminster no tocante a isso: “Na Bíblia não 
há nenhum dia que seja ordenado para ser guardado como santo sob o 
Evangelho, senão o Dia do Senhor, que é o Sábado Cristão. Os dias de festa, 
comumente chamados de dias Santos, não tendo base na Palavra de Deus, não 
devem ser continuados” (grifo nosso).[18] 
Além disso, as Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines 
nos dão uma precisa compreensão da posição da Assembleia, resolvido na 
sessão 325, em 19 de novembro de 1644: 
Ordenado: que, no diretório do dia do Sabbath [o Dia do Senhor, 
Domingo], algo seja expresso contra festas da paróquia, comumente 
chamado pelo nome rushbeatrings,[19] Festa do Pentecostes 
[whitsunales], Wakes,[20] como profano e supersticioso. Alguns 
movimentos foram feitos sobre os dias santos, para expressar algo contra 
eles.[21] 
 
18
 Escócia, Teólogos de Westminster e comissários da Igreja da. Diretório de Culto de Westminster: Um 
Diretório para o Culto Público a Deus nos Três Reinos: Inglaterra, Escócia e Irlanda. Recife: Os Puritanos. Edição 
do Kindle 
 
19
 Festa Britânica dedicada aos santos aos quais cada paróquia era dedicada. [Nota do Editor]. 
 
20
 Lancashire Wakes Weeks, festa religiosa britânica. “A origem dos Lancashire Wakes Weeks, em certa medida, 
ainda está envolta em mistério, embora pareça provável que eles tenham sido originalmente destinados a 
comemorar o aniversário de uma igreja ou capela sendo fundada na área local. No entanto, no século XIX, as 
vigílias tiveram poucas conotações religiosas, embora as procissões de “pressa” para a igreja local 
continuassem em algumas paróquias por muitas décadas” (HARLING, Nick. The History of Wakes Weeks and 
the Easter Fair. Disponível em: < http://www.cottontown.org/Culture%20and%20Leisure/Leisure/Pages/Fairs-
and-Wakes.aspx#2 >. Acesso em 09 de abril de 2020. [Nota do Editor~]. 
 
21
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false >. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 3 
 
29 
 
Ordenado: sendo um único dia santo sob o novo testamento a ser 
mantido de pé por todas as igrejas de Cristo. Considere algo relacionado 
aos dias santos e aos lugares sagrados, [...] todos os outros costumes 
supersticiosos: [nome dos que foram designados para tratar do 
assunto].[22] 
Na sessão 329, em 25 de novembro de 1664, foi lido o relatório sobre o 
tema.[23] E, na sessão 347, da Assembleia, debateu-se o que resultou no texto 
que temos do Diretório de Culto de Westminster.[24] Nada consta, nas Minutes, 
sobre a Páscoa e, quanto ao Natal, apenas menções indiretas: uma sobre uma 
correspondências vinda de York pedindo orientação da Assembleia sobre a 
celebração do Natal;[25] outra menção sobre o jejum no dia do Natal. Mas, 
nada deliberativo ou que expresse a visão da Assembléia.[26] 
Não bastasse esse documento paralelo, oriundo dos mesmos teólogos que 
escreveram os Padrões de Westminster, lançando luz sobre quais aplicações 
pretendiam com as proposições doutrinárias, temos também um relato de John 
Brown,[27] no dia 8 de junho de 1647, descrevendo um dos processos no 
 
22
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false>. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 3 
 
23
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false >. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 11. 
 
24
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false >. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 23. 
 
25
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false >. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 167. 
 
26
 Minutes of the Sessions of the Westminster Assembly of Divines. Disponível em: < 
https://books.google.com.br/books?id=mopVAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=%22christmas%22&f=false >. Acesso em: 09 de abril de 
2020. p. 21. 
 
27
 Esse John Brown assina como Cler. Parliamentum. Não foi possível obter mais informações sobre ele. [Nota 
do Editor]. 
 
30 
 
parlamento, fala sobre a decisão concernente aos “festivais chamados Dias 
Santos”, a saber, que “não são mais observados”.[28] Ele diz: 
Desde que as Festas da Natividade de Cristo, Páscoa e Festa do Divino 
Espírito Santo, e outros festivais comumente chamados Dias Santos, até 
agora, foram, supersticiosamente, usados e observados. Que seja 
ordenado pelos Senhores e Comuns no Parlamento reunido, que as 
referidas Festas da Natividade Páscoa de Cristo, e a Festa do Divino 
Espírito Santo, e todos os outros dias do festival, comumente chamados 
de dias santos, não são mais observados como festivais ou dias santos, 
neste reino da Inglaterra e no domínio de Gales, por meio de qualquer lei, 
estatuto, costume ou cânone para isso, a fim de que haja um tempo 
conveniente destinado a estudiosos, aprendizes e outros servidores, para 
sua recreação, seja ordenado pela autoridade acima mencionada, [...]. 
Ordenada pelos Senhores reunidos no Parlamento, para que esta Portaria 
seja impressa e publicada imediatamente. 
Considerando que, no período registrado, as questões concernentes à religião e 
prática religiosa, antes de subirem à Casa dos Comuns, era discutida na 
Assembleia de Westminster, esse documento, solicitando a suspensão da 
comemoração dos dias santos (da Páscoa, Natal e Descida do Espírito), mostra 
a compreensão dos membros dessa Assembleia.[29] 
CONCLUSÃO 
Portanto, a luz de Calvino, da luta escocesa e dos Padrões de Westminster, 
podemos concluir o seguinte: faz todo sentido ver nossos irmãos, como 
Calvino, serem cautelosos por bens maiores; mas a coerência. Dito isso, nossa 
reflexão, então, vai no seguinte sentido: Os protestantes e reformados (séc. 
XVI-XVII) toleraram até mesmo a presença de apócrifos nas suas versões de 
Bíblias a fim de não gerar grande confusão na Igreja; porém, assim que possível 
 
28
 Historical Collections of Private Passages of State: Volume 6, 1645-47. Originally published by D Browne, 
London, 1722. Disponível em: < https://www.british-history.ac.uk/rushworth-papers/vol6/pp545-604#h2-0005 
>. Acesso em: 08 de abril de 2020. 
 
29
 Agradecemos ao pastor Ewerton B. Tokashiki, tanto pelo trecho quanto pela descrição dos trâmites 
processuais nesse período. 
 
31 
 
os retiraram totalmente.[30] Da mesma forma, compreendemos a manutenção 
de tais coisas por um tempo. Entretanto, depois de verdades mais essenciais 
estabelecidas, continuar-se-á a praticar aquilo que não é o melhor nem o mais 
maduro? Seria como manter os apócrifos nas versões da Bíblia (com suas 
devidas ressalvas da matéria tratada). 
Se necessário for caminhemos mais duas milhas! Porém, que não neguemos os 
perigos que há, em diversas igrejas, na manutenção de tais coisas não 
ordenadas. Celebremos a alegria das festas de final de ano, a ceia “de Natal”, a 
família junta, até mesmo os presentes. Mas, não atribuamos a isso algum 
caráter religioso de celebração do nascimento de Cristo ou requeiramos que as 
igrejas locais se organizem em torno disso. 
Aos que já não creem na prática da comemoração dos dias santos e na 
manutenção desses dias, no meio da Igreja (como eu não o creio), pelos 
mesmos exemplos históricos, pode ser recomendada paciência e amor para 
com os irmãos que ainda insistirem na prática de tais coisas. Não vale a pena 
condenar o irmão por algo que, embora importante, não nos é essencial para 
participarmos da redenção - a menos que se defendesse isso no mesmo tom 
que os judaizantes o fazem (que é o caso dos romanistas). Que Deus nos 
abençoe e dê paz à Igreja. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30
 Conforme explica o Dr. Hermisten Maia (COSTA, Hermisten Maia P. da. A inspiração e inerrância das 
Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 55-57). 
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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APÊNDICE B 
ALGUMAS OBJEÇÕES RESPONDIDAS E UMA 
PALAVRA DE CARIDADE 
 
Nessa porção final, procuramos responder algumas objeções que podem 
prevalecer mesmo após os argumentos de Samuel Miller ou que não foram 
contemplados por ele. 
OBJEÇÃO I: Se você discordar da celebração e manutenção desses dias, está 
discordando e atacando os fatos históricos a eles associados ou que eles 
pretendem rememorar. 
RESPOSTA: Discordar, por exemplo, da “comemoração” do chamado “Natal, 25 
de dezembro”, como pretensa alusão ao nascimento de Cristo não é, de forma 
alguma, ser contra o fato histórico do nascimento de Cristo - como alguns 
parecem sugerir. Isso é uma falácia chamada de “ladeira escorregadia” ou a 
“falsa ligação”. Os que querem insistir nisso cometem a dolorosa agressão aos 
seus irmãos discordantes da celebração de uma dada inventada pelos homens 
para o nascimento de Cristo ao os acusarem de terem o mesmo espírito de 
Herodes, o qual não queria que Cristo nascesse. Tal sugestão é gravíssima, além 
de, como dito, falaciosa. 
Ainda: a Escritura não ordena separar uma data de comemoração pelo 
nascimento de Cristo. Mas, dia do Senhor após dia do Senhor, ou diariamente, 
louvar a Cristo por toda a Sua Obra completa, que inclui seu nascimento. Seu 
nascimento não é mais importante, na Sua obra, que cada dia vivido em 
obediência à Lei, do que Sua morte e Sua ressurreição. 
Todos atos de Sua obra foram necessários, fundamentais e igualmente 
maravilhosos para a salvação do Seu povo e são, igualmente, dignos de louvor. 
Se a Escritura não ordena; e esse é o contexto da obra de Cristo, então, não 
devemos fazer. Agora, se opor ao Dia do Senhor, sim, é se levantar contra o 
que ele representa - pois, o Senhor fez essa associação e ligação inseparável. 
 
 
34 
 
OBJEÇÃO II: É bonito comemorar tais datas. Damos um testemunho ao mundo 
sobre esse fato do evangelho (Natal, nascimento de Cristo; Páscoa, a morte de 
Cristo). 
RESPOSTA: A não-ordenação de tal forma de testemunho já seria suficiente 
para não ser sustentado. Todavia, se o Natal comemora o “nascimento de 
Jesus”, mas Cristo não nasceu na data estabelecida, isso não é testemunhar da 
verdade, mas de parte da verdade. O Natal, como tal, é uma festa criada pelo 
Romanismo em anexação à datas e à práticas pagãs, como uma forma ilegítima 
de “cristianizar”. Na Modernidade, foi novamente paganizada (papai Noel, 
compras, árvores, etc.). Sua origem e uso atual são devidos argumentos para a 
não prática como se fosse algo piedoso fazê-lo e não piedoso não o fazer. O 
testemunho do evangelho é a pregação e evangelização, não festas religiosas. 
OBJEÇÃO III: A festa do purim estabelecida em Ester, não é umafesta 
ordenada na Lei Mosaica e Cristo e os apóstolos celebravam (João 5). Por que 
não celebrar uma festa que, na história da Igreja, sem autoridade apostólica, 
foi estabelecida, mas remete a um fim piedoso? 
RESPOSTA: Usar o exemplo da festa do Purim, na prática de Jesus, não é 
sustentável, pois: (1) Não é certo que a festa em João 5 faça referência ao 
Purim (Calvino mesmo não era dessa opinião);[31] (2) mesmo que não-
ordenado na Lei, foi ordenado em um livro canônico em contexto de aprovação 
e revelação de Ato Redentor da parte de Deus. Então, deve ser praticado. Não 
é o caso do Natal e outras festas romanistas. 
OBJEÇÃO IV: É a oportunidade que temos de falar da encarnação. 
RESPOSTA: A oportunidade de falarmos da encarnação de Cristo deve ser toda 
pregação pública, todo testemunho privado, toda evangelização, pois, é parte 
essencial do Evangelho a encarnação de Cristo. Os apóstolos não tinham “um 
Natal” para ter uma melhor oportunidade de falar da encarnação de Cristo o 
tempo todo. O problema - possa ser - é que somos envergonhamos para falar 
desse milagre maravilhoso e precisamos de um pretexto para isso. 
OBJEÇÃO V: O pecado é transformar a comemoração em dia santo, não o 
celebrar em si. 
 
31
 CALVINO, João. Evangelho segundo João (Vol. 1). São Paulo: Fiel, 2015. p. 199-200. 
 
35 
 
RESPOSTA: De todas, essa me parece ser a mais sóbria das objeções, pois 
parece fazer uma separação entre o “comemorar” e o “guardar como santo”, 
tal qual os romanistas o fazem. Ainda assim, no tocante a coisas religiosas, que 
envolvem a doutrina e a prática da igreja, é, se não há ordenação que nos 
ampare, lançar-nos em uma prática, exatamente, igual aos que santificam - e 
não teremos base autoritativa para distinguir. Qualquer observador dirá: não 
há tanta distinção entre os reformados e os romanistas. Além disso, a razão da 
prática da celebração de dias como sentido religioso é um dos modos de 
santificação dele. 
OBJEÇÃO VI: Pelas mesmas razões, então, não podemos celebrar os 
aniversários de organização de nossas igrejas locais. Não há ordenação para 
tais eventos.[32] 
RESPOSTA: São duas questões distintas. Quanto aos aniversários de igrejas 
locais: primeiro, celebrações de aniversário de organização de uma igreja local 
é um momento da comunidade local, fazer uma “festa de aniversário” é o 
natural; segundo, não tem peso de sacralização (histórica) pelo dia, 
sugestionando alguma piedade especial ou devida em separar o dia - tanto que, 
muitas igrejas, nem fazem eventos no dia exato da organização; terceiro, 
ninguém tenta santificar e exigir que as demais igrejas comemorem aquele fato 
local. Quanto aos dias santos: primeiro, é algo generalizado; segundo, coloca-se 
valor religioso e sacro afetando o culto e a prática a partir de uma doutrina, 
gerando superstições; terceiro, comumente, constrange-se todas as igrejas 
locais a santificarem e terem aquele dia como especial. 
 
UMA PALAVRA DE CAUTELA E AMOR 
Tendo afirmado tudo acima, deve-se, entretanto, relegar o âmbito de liberdade 
cristã aos que quiserem praticar em família tais comemorações. Tais irmãos 
não devem ser desprezados, mas suportados e amados e respeitados. A base 
dessa orientação está na postura do apóstolo Paulo que orientou os gentios a 
terem paciência com os judeus e judaizantes que ainda queriam praticar para si 
as festas e dietas judaicas (Romanos 14.1ss). 
 
32
 Agradeço ao Pr. Heliomar Dias que, não apenas leu os apêndices, como também contribuiu com a sugestão 
de acrescentar essa objeção. 
 
36 
 
O problema está em os aprovadores da prática querem impor sobre a Igreja de 
Cristo ou brigarem com os que, corretamente, não permitem que isso ocorra 
na igreja. Por isso, os que guardam tais festividades não-ordenadas não devem 
atacar os discordantes, nem querer impor sua prática à Igreja de Cristo como 
um todo. Os que são contra à prática da igreja local, não devem condenar os 
que são a favor dela na vida privada. Mas, nisso, registra-se a fala de Calvino: 
“Embora existam alguns que desejam, ansiosamente, permanecer em 
conformidade com essas práticas, eu não sei como eles podem fazê-lo sem 
desconsiderar a edificação da igreja, nem sei como eles podem prestar contas a 
Deus por ter feito avançar o mal e impedido sua solução”.[33] 
E, por último, deve-se haver o devido respeito por santos teólogos e sóbrios 
concílios de igrejas reformadas que aprovaram, no contexto da Reforma, a 
prática para a igreja local. Sabendo que a história tem mostrado que, 
comumente, os teólogos reformados o fizeram visando, não a aplicação de 
uma verdade (“não há problema celebrarmos isso”), mas pela necessidade de 
evitar brigas e desunião na igreja quando coisas mais importantes estavam em 
jogo. Outras igrejas reformadas o fizeram, formalmente, pelas decisões do 
Magistrado Civil e não dos concílios, estritamente, teológicos e pastorais. 
Reafirmamos: não vale a pena condenar o irmão por algo que, embora 
importante, não nos essenciais para participarmos da redenção - a menos que 
se defendesse isso no mesmo tom que os judaizantes o fazem (que é o caso 
dos romanistas). Que Deus nos abençoe e dê paz à Igreja. 
 
33
 COLDWELL, Chris. John Calvin and Holy Days. Disponível em: < 
https://purelypresbyterian.com/2016/11/21/john-calvin-and-holy-days/ >. Acesso em: 07 de abril de 2020.

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