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Metas do Plano Nacional de Educação

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METAS DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: EXPECTATIVA E REALIDADE
I. META 5: ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
	O Plano Nacional de Educação (Lei n.º 13.005/2014) trouxe diversas metas que o Brasil deveria seguir de modo a alcançar maior qualidade no setor. A meta 5 se trata da alfabetização infantil de crianças até o final do terceiro ano do ensino fundamental.
	Há pouco tempo atrás, se pensava na alfabetização como a capacidade de ler e escrever - o que se transformou na conhecida expressão “analfabetismo funcional”, ou seja, o indivíduo que consegue exercer estas ações, porém não consegue formar opiniões próprias a partir de suas leituras, até porque não tem a capacidade de ler sentenças complexas, e não consegue escrever muito mais do que seu próprio nome.
	Contudo, este objetivo trouxe a necessidade de ir além: a “alfabetização” como a conhecíamos já acontecia antes do terceiro ano do ensino fundamental - então, por que essa exigência? Quatro anos depois do PNE, a autora Isabel Cristina Alves da Silva Frade, no livro Cadernos de Debates para Avaliação das Metas do Plano Nacional de Educação traz uma justificativa que condiz com o contexto histórico-político em que o país se encontrava em 2014.
“A meta 5 (...) trabalha uma expectativa de melhoria dos resultados da alfabetização no País e deve ser pensada em função de um conceito mais amplo de alfabetização, que supõe aquisição do sistema de escrita vinculado aos usos sociais dos textos e a oportunidade de imersão na cultura escrita que possibilitem aos estudantes usufruírem dos bens simbólicos e, de fato, criarem disposições para continuar a ler e escrever em diversas situações sociais de uso da escrita.” (FRADE in CADERNO de avaliação das metas do Plano Nacional e Educação, 2018, p. 23).
	A partir desse objetivo principal, foram criadas sete estratégias para alcançá-lo: a articulação do ensino fundamental com a Pré-escola, uma avaliação nacional, a culminação de tecnologias educacionais, o fomento da inovação, o apoio da alfabetização em comunidades indígenas, quilombolas, itinerantes e do campo, o estímulo à formação inicial e continuada e, por fim, a alfabetização de pessoas com deficiência.
	A primeira estratégia, a articulação do fundamental com o pré, não dispõe de indicador para analisar seu progresso, tendo em vista se tratar de uma atividade mais subjetiva do que objetiva. De fato, a estratégia pedagógica por trás da formação de um indivíduo começa desde a tenra idade, além dos diversos estudos que são divulgados da importância de estímulos ao aprendizado antes do ensino fundamental. Não se trata de negligenciar outros ensinos e quando chegar no momento da alfabetização e no início do ensino fundamental a criança se deparar com estratégias e inovações de ponta: ela precisa estar acostumada com técnicas pedagógicas para que a meta 5 seja, de fato, concretizada.
	O propósito da avaliação nacional, que está presente na segunda estratégia, é ter uma métrica: onde estamos errando? Onde estamos acertando? A partir disso, tentar consertar os erros e repetir os acertos. Esse monitoramento é extremamente importante para se analisar se essas estratégias (esta e outras) estão sendo válidas. 
	Já o estabelecimento das tecnologias educacionais é, de longe, um dos pilares da alfabetização atual. Nos dias atuais, a pesquisa científica e de extensão é bem mais fomentada do que há duas, três décadas atrás. Seu resultado se apresenta como a possibilidade de se apresentar novas propostas pedagógicas que se adequem às necessidades de aprendizado de cada criança.
	Assim como a estratégia acima tratada, a estratégia de fomento da inovação tem como enfoque trazer maior eficácia na alfabetização de modo que todas as crianças se sintam contempladas com práticas inovadoras, testando-as e trazendo resultados futuros. 
	A quinta estratégia não precisa de explicações maiores, apenas um conhecimento comum de que as comunidades indígenas, quilombolas, itinerantes e do campo foram negligenciadas por tempo demais. A possibilidade de alfabetizá-las plenamente é um grande passo e esse esforço é conjunto não apenas do Governo Federal, mas também dos Estados e Municípios, que devem fornecer todo o apoio necessário aos educadores nestes ambientes, que foram mantidos longe da sala de aula até pouco tempo atrás.
	A formação inicial e continuada é extremamente importante: de que adiantam todas estas estratégias voltadas aos alunos, enquanto os educadores continuam os mesmos? De fato, é necessária toda uma reviravolta positiva na educação para que a meta 5 seja atendida em sua completude e, assim, os professores são elementos-chave, se não os mais importantes sujeitos nessa revolução. Esta estratégia traz o estímulo para que eles se especializem com pós-graduação.
	Essa estratégia diferencia-se das outras supracitadas porque tem um indicador que pode, de fato, trazer uma análise palpável se está sendo atendida ou não. Há, no Observatório do PNE, a possibilidade de saber qual a porcentagem dos educadores dos três primeiros anos do ensino fundamental que dispõem de diplomas de ensino superior completo e pós-graduação. Esse estudo é feito anualmente em todo o país pelo MEC em conjunto com o Inep, DEED e Censo Escolar e seu resultado tem sido positivo: em 2014, tínhamos 72,6% professores atendendo estes requisitos, num total de 386.194 educadores. Em 2020, o número havia aumentado consideravelmente para 84,9%, ou seja, 446.114 professores tinham ensino superior e pós-graduação.
	Por fim, a estratégia voltada à alfabetização de pessoas com deficiência apresenta-se, em 2014, como uma inovação legislativa muito importante. Além de trazer visibilidade à educação das pessoas com deficiência de acordo com as suas especificidades, é necessário suscitar que há, no senso comum, a ideia de que os PCDs não podem frequentar escolas públicas ou não têm essa necessidade. Porém, os PCDs que dispõem de deficiências leves ou que não os impedem de trabalhar em algum cargo têm o mesmo direito de qualquer outra pessoa de integrarem a sociedade de modo a fazer parte do mercado de trabalho ativamente, também. 
	Os principais indicadores desta meta são três: a porcentagem de crianças do 3º ano do ensino fundamental no nível três e quatro em relação ao total de alunos, nesse mesmo espaço amostral há a quantificação de crianças no nível quatro e cinco na escrita e também de crianças no nível três e quatro de proficiência em matemática. Esses níveis dizem respeito ao Nível de Aprendizagem Suficiente em Leitura, em Escrita e Matemática, respectivamente.
	O primeiro indicador mostra progresso positivo, pois em 2014 havia 43,8% crianças do 3º ano do fundamental que alcançavam o nível 3 e 4 em relação ao total de alunos, ou seja, menos da metade. Enquanto em 2016, aumentou a porcentagem para 45,3%. 
	O segundo, por sua vez, ainda não há, pelo menos no site do Observatório do PNE, comparação a ser feita a partir de 2016, porém neste ano 66,1% das crianças do 3º ano do ensino fundamental atendiam a esse requisito. E, por fim, o terceiro indicador segue seu exemplo: não há como mensurar seu progresso, porém 45,5% das crianças dispunham do nível três e quatro de proficiência em matemática no país.
II. META 10: EJA INTEGRADA
	A meta 10 estipula que as escolas devem oferecer, no mínimo, 25% de suas matrículas voltadas à educação de jovens e adultos (pro ensino fundamental e médio) integradas com a educação profissional. O PNE tenta alcançar a população de modo completo, enquanto na meta 5, tenta alcançar a futura geração de adultos, enquanto nesta meta o foco é a atual geração de adultos, trazendo a possibilidade de uma melhoria de escolaridade “imediata”, de modo que é bem sabido que portas no mercado de trabalho se abrem a pessoas que têm ensino fundamental e médio completo. 
“Ao integrar elevação da escolaridade, formação geral (compreendendo aquela vinculada à construção de conhecimentos em suas diversas áreas) e formação profissional, este itinerário se aproxima das demandas imediatas destes estudantes, que é a produçãoda vida por meio do trabalho ao mesmo tempo em que amplia possibilidades e qualifica suas escolhas sociais enquanto sujeitos de direito.” (CASTRO in CADERNO de avaliação das metas do Plano Nacional e Educação, 2018, p. 40). 
	São onze estratégias voltadas a cumprir esta meta: a formação profissional inicial, elevar o nível de escolaridade do trabalhador, o atendimento a populações itinerantes, do campo, de comunidades indígenas e quilombolas, o atendimento a PCD, estruturação física das escolas, diversificação curricular do EJA, produção de material didático, oferta de formação inicial, apoio da assistência social, financeira e psicopedagógica, atendimento às pessoas privadas de liberdade e, enfim, mecanismos de reconhecimento dos saberes.
	O realismo da primeira estratégia, apesar de brutal, é necessário: tem pessoas que não concluíram o ensino básico no Brasil. Essas pessoas não podem ser acolhidas pelo EJA sem que aja essa estruturação e incentivo para essa conclusão e, então o ingresso no ensino fundamental por meio do programa. 
	Por sua vez, a segunda estratégia é simples e tem indicador: expandir o nível de escolaridade do trabalhador. Uma vez que isso pode expandir seus horizontes e possibilidades, também, é uma estratégia-chave para que a meta seja alcançada. O seu indicador não traz uma perspectiva positiva, pelo menos desde o PNE. Em 2014, a porcentagem de matrículas no EJA com integração à educação profissional era de 2,8%. Em 2015, teve seu único aumento para 3% e, desde então, só decaiu. Em 2020, a porcentagem estava em 1,8%. 
	A terceira estratégia também está presente na meta 5: a saída da escola “formal” nas cidades mais populosas que ocorria há décadas atrás para a expansão possibilitada pela tecnologia, inclusive o EAD, para atender populações mais remotas, como as comunidades indígenas e quilombolas, as populações itinerantes e do campo. Quanto a esta estratégia, há indicador negativo, assim como a segunda.
	Em 2014, tínhamos 1,4% de matrículas realizadas com essa população no EJA integrado com a educação profissional. Nos anos de 2015 e 2016, houve um aumento, porém em 2017 e 2018 uma diminuição drástica ocorreu. Por fim, em 2020 tínhamos 1,2% da população matriculadas nessa modalidade. 
	Quanto à quarta estratégia, que se trata do atendimento de pessoas com deficiência (PCD), também equivale à estratégia estabelecida na meta 5, porém voltada a ampliar possibilidades no mercado de trabalho. Há indicador da porcentagem de matrículas do EJA integrado com educação profissional para PCD, transtornos do espectro autista e altas habilidades/superdotação. Infelizmente, o cenário atual também se mostra desanimador. 
	Em 2014, tínhamos 1,2% dos alunos matriculados. Nos dois anos seguintes, a porcentagem se manteve, enquanto em 2017, sofreu uma queda e esteve em 0,5%. A porcentagem se repetiu em 2018, ocorrendo um leve aumento apenas em 2019, quando esteve em 0,7% e, por fim, em 2020 estava em 0,9%. 
	A estratégia da rede física é extremamente importante, pois a EAD não foi totalmente implementada em nossa sociedade, principalmente para a atual geração de adultos, que não teve contato com essa modalidade como as crianças tiveram, durante a pandemia. Essa estruturação física garante acessibilidade e empatia não apenas com a PCD, mas também com todos os adultos que sentem-se confortáveis em aprender de maneira presencial. 
	Por sua vez, a estratégia número seis se trata da interdisciplinariedade do ensino, trazendo características de inovação para que o saber de quem ingressa no EJA disponha do mesmo empenho que as crianças recebem, tornando o aprendizado algo dinâmico e não necessariamente “chato”. 
	O material didático está presente na sétima estratégia é extremamente indispensável, pois a partir do seu fomento será possível experimentar novas abordagens, além do material escolar básico, podendo criar acesso completo a laboratórios, tablets e a possibilidade de dispor de material audiovisual em todas as escolas. 
	A oitava estratégia se trata da formação inicial e continuada não equivale à mesma estratégia da meta 5, uma vez que se trata de parcerias entre o Estado e instituições sindicais e entidades privadas para que o atendimento às pessoas com deficiência seja adequado. 
	Já a assistência social, financeira e psicopedagógica se apresenta nesta meta como uma ferramenta-chave para que ela seja posta em prática, uma vez que esses profissionais em auxílio aos educadores podem evitar que os matriculados desistam dessa jornada. O estudante já abandonou o ensino uma vez - deve-se analisar, portanto, qual o motivo e tentar evitar que ocorra novamente esta evasão. 
	O atendimento às pessoas privadas de liberdade pode ser caracterizado como indispensável para a verdadeira ressocialização que o Direito Penal tanto preza, porém que o Brasil está lutando para alcançar em seu sistema prisional. A oferta do EJA para reclusos aumentou bastante em 2014 e 2015 apenas para, em 2016, ser quase nula e se tornar, de fato, nula, em 2020, por conta da pandemia. No entanto, esta evasão vinha ocorrendo desde 2016. As matrículas eram 215 e em 2019 eram 16, em todo o Brasil. 
	Por fim, a estratégia número dez se trata de uma avaliação dos conhecimentos para que seja integrada no currículo dos cursos de formação inicial e continuada e nos cursos técnicos do nível médio. 
III. META 17: VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR
	O tema “valorização do professor” está intimamente atrelado à sua remuneração. Não é possível que o professor obtenha uma vida digna, se dedique ao ofício de modo satisfatório e busque sempre estar aprendendo enquanto não houver um pagamento equivalente aos mesmos. Essa meta, que apresenta-se na prática como um grande problema a ser solucionado por meio das estratégias governamentais, tem se agravado lentamente com o tempo. 
	São quatro as estratégias desta meta: o piso salarial nacional, o PNAD, plano de carreira e assistência financeira da União. 
	O piso salarial existe - o problema é o seu valor. Portanto, o foco da estratégia número um é estabelecer, juntamente com o Ministério da Educação, União, Estados, Municípios e Distrito Federal, um fórum em que ocorra o acompanhamento progressivo desse valor, voltado aos professores da educação básica.
	O PNAD, que significa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, é divulgado pelo IBGE. A meta 17 pretende que os salários dos professores devam ser parte de um indicador do PNAD que será submetido à análise dos fóruns presentes na primeira estratégia.
	Por sua vez, a terceira estratégia é a criação de um plano de carreira de acordo com a Lei n.º 11.733/2008. Atuariam em conjunto, nesta oportunidade, a União, os Estados, Municípios e DF em prol desta elaboração. Essa estratégia ainda traz um importante detalhe: o PNE prioriza que os professores se mantenham em um único estabelecimento, portanto, quer uma implantação gradual desse estilo de trabalho. 
	Há dois indicadores para esta estratégia. O primeiro demonstra quantos municípios no país onde existe um plano de carreira para os educadores em relação ao total de municípios brasileiros. Em 2014, eram 89,9% municípios; em 2018, aumentou para 95,7%. O segundo indicador é relacionado à concentração dos professores em relação aos estabelecimentos de ensino. Em 2014, essa porcentagem era de 79,2% e em 2020, era de 80,1%. 
	Enfim, a última estratégia diz respeito à assistência financeira da União, ou seja, o repasse de verbas federais para os Estados, Municípios e DF voltados ao piso nacional profissional dos professores, que mostra-se extremamente importante, tendo em vista que não é necessário apenas criar leis: é necessário pô-las em prática.

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