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HISTÓRIA DA ARTE: RENASCIMENTO AO IMPRESSIONISMO APRESENTAÇÃO Professora Me. Giovanna Renzetti • Arquiteta e Urbanista • Mestre em Metodologia do Projeto Arquitetônico com enfoque em Referências Projetuais: história, modelos e ideias pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade Estadual de Maringá (UEM) • Especialista em Projeto Arquitetônico: Composição e Tecnologia do Ambiente Construído pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). • Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) Atua como arquiteta no escritório Dellas Arquitetura e Interiores, onde desenvolve a parte criativa de projetos residenciais e comerciais e também elabora projetos executivos. Membro do grupo de pesquisa “Ideias e modelos de arquitetura e urbanismo no Paraná” da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e redatora na equipe do Prédios de Curitiba, plataforma de documentação e discussão da arquitetura na cidade. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/5329007871283195 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Seja bem vindo(a)! Caro aluno(a), espero que o tema desta disciplina tenha chamado sua atenção, para que juntos possamos percorrer o universo da história da arte e suas diferentes expressões. Espero que seja um conteúdo leve e prazeroso que abra a mente de vocês para os diversos caminhos que a arte pode te levar. Na primeira unidade, estudaremos sobre o renascimento e a cultura ocidental, maneirismo e o renascimento tardio. Veremos que durante a idade média não havia nenhuma diferenciação entre o artista e o artesão e como a tecnologia e a ciência influenciaram a arte renascentista. Na segunda unidade, tomaremos conhecimento sobre o barroco, rococó e barroco brasileiro. Aprenderemos sobre as principais características do período barroco e seus distanciamentos em relação ao período renascentista, além de mergulhar no panorama do barroco realizado no Brasil e sua riqueza para nossa cultura. Já na terceira unidade, seremos introduzidos aos períodos neoclássico e romântico da arte. Estudaremos sobre as características da escola neoclássica e seus fundamentos atrelados às redescobertas das ruínas antigas, ou seja, das cidades de Pompéia e Herculano, além de analisar o movimento romântico como movimento artístico e como estética romântica. Por fim, na quarta e última unidade, mergulharemos no universo dos movimentos realista, simbolista, art noveau, impressionismo e fotografia, a fim de assimilarmos como o contexto histórico-político pode ser interpretado de diferentes formas tanto no âmbito da arte, quanto na literatura. Espero que você percorra essa jornada comigo com leveza e de forma prazerosa, pois a arte é o que alimenta a alma. Espero, assim, contribuir para seu conhecimento pessoal e profissional. Muito obrigada e bons estudos! UNIDADE I RENASCIMENTO E A CULTURA OCIDENTAL. MANEIRISMO E RENASCIMENTO TARDIO Professora Mestre Giovanna Renzetti Plano de Estudo: ● A subdivisão da arte em artes maiores, menores e aplicadas e o surgimento da distinção entre artista e artesão, entre arquiteto e engenheiro; ● Como a ciência e a tecnologia influenciaram a arte renascentista; ● O que é maneirismo; ● Características do renascimento do norte. Diferenças entre renascimento italiano e renascimento do norte. Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a subdivisão da arte em artes maiores, menores e aplicadas; ● Compreender os princípios da arte renascentista; ● Estabelecer a importância do maneirismo. INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade, iremos nos familiarizar com o período artístico conhecido como renascimento. Adianto a você que toda expressão de arte é uma manifestação de seu tempo, e o renascimento foi uma manifestação pelo apreço das antiguidades clássicas, a qual se manifestou nos campos da arquitetura, escultura e pintura. No nosso primeiro tópico, abordaremos a subdivisão da arte em artes maiores, menores e aplicadas e o surgimento da distinção entre artista e artesão, entre arquiteto e engenheiro. Visto que durante a idade média não havia nenhuma diferenciação entre o artista e o artesão, ambos participavam das mesmas guildas - corporações de ofícios, houve um caminho a ser percorrido até o artista ser aceito como um ser que pensasse e que estava conectado à ciência assim como os físicos e escritores, por exemplo. Segundamente, veremos como a tecnologia e a ciência influenciaram a arte renascentista. Juntamente com a retomada dos preceitos clássicos também houveram avanços no campo artístico com os estudos de físicos, astrônomos e do artista e cientista Leonardo da Vinci, os quais contribuíram com novas descobertas científicas, que, por sua vez, proporcionaram estudos matemáticos e de perspectiva ao mundo das artes. Em nosso terceiro tópico, aprenderemos um pouco sobre o que foi a arte maneirista e como ela se relaciona com o renascimento. O porquê de seu surgimento e qual a sua importância para o panorama da história da arte. Também veremos alguns exemplos dessa produção na pintura. Finalmente, no último tópico, iremos nos familiarizar com as características no renascimento do norte, bem como as diferenças entre renascimento italiano e setentrional. Tendo em mente como a mudança geográfica afeta a forma do artista encarar o mundo e como isso se manifesta em suas produções. Esta unidade tem como finalidade ambientar-lhe com o panorama do renascimento, suas produções, artistas e diferentes fases, complementando o repertório da evolução das artes. 1 A SUBDIVISÃO DA ARTE EM ARTES MAIORES, MENORES E APLICADAS E O SURGIMENTO DA DISTINÇÃO ENTRE ARTISTA E ARTESÃO, ENTRE ARQUITETO E ENGENHEIRO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-background-wallpaper-black- white-antic-1173930682 Quando falamos sobre o período da alta renascença, comumente estamos nos referindo aos artistas italianos, contudo, adiante, também, iremos nos familiarizar com alguns artistas do norte europeu. Antes de tudo, ressaltamos que o renascimento surgiu com uma visão mais científica do mundo, em que os estudos sobre perspectiva ganhavam força bem como a valorização do homem. O artista não mais encarava o ser humano como apenas um observador do universo e, sim, como a criação mais divina. Assim, as criações renascentistas reforçam esse sentimento, tendo em vista que toda obra de arte é uma resposta ao seu tempo. O termo renascimento ganhou força a partir do momento em que pensadores contemporâneos passaram a considerar o tempo em que viviam como o abrigo da tradição clássica, ou seja, o lugar onde esta poderia florescer novamente. Tendo em vista que todo o período histórico-artístico entre a antiguidade clássica e renascimento foi encarado como idade das trevas. Nesse tempo medieval, pontua-se que os artífices participavam de diferentes guildas, em outras palavras, corporações de ofício, de acordo com o material com o qual manuseiam. O termo “artista” era raramente utilizado, de modo que pintores, escultores não eram reconhecidos assim como os poetas, mas como membros de suas referidas guildas, assim como os artesãos. Um dos pontos de mudança da posição do artista frente à sociedade se deve, em parte, a Leonardo da Vinci, pintor e cientista da alta renascença, que em seu tratado de pintura, mostra sua preocupação em definir um novo estatuto para as artes. Da Vinci relata que as manifestações artísticas não são uma atividade mecanizada e, sim, uma https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-background-wallpaper-black-white-antic-1173930682 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/3d-background-wallpaper-black-white-antic-1173930682 tarefa mental, tal qual a de um pensador e não de umartesão. A pintura, por exemplo, é julgada por ele como uma ciência apoiada na matemática e no estudo da natureza. Encarava a função do artista como uma exploração do mundo visível, tal qual seus antecessores haviam feito, porém de maneira mais complexa e com maior precisão e vigor. Tinha como intenção expor que a pintura era uma manifestação artística liberal e que a parte manual nela envolvida não tinha maior ou menor grau de importância do que o trabalho de elaborar uma poesia. Havia três realizações tangíveis dos mestres italianos para as quais podiam apontar. Uma foi a descoberta da perspectiva científica, a segunda o conhecimento da anatomia - e, simultaneamente, a representação perfeita do belo corpo humano - e, em terceiro lugar, o conhecimento das formas clássicas de construção, que pareciam simbolizar, para as pessoas desse período, tudo o que era digno e belo (GOMBRICH, 2012, p. 341). Dessa forma, os artistas passaram a ganhar maior autonomia e a receber propostas externas, de acordo com sua especialidade, ou seja, pinturas, esculturas, projetos arquitetônicos. No século XVI, período conhecido como Cinquento, a Itália, em especial a cidade de Florença, passou por grande crescimento em seu campo artístico. Em parte, graças ao mecenas - famílias conhecidas pelos seus incentivos às artes por meio de encomendas aos artistas. Uma das famílias de mecenas mais conhecidas foi a família Médici, responsável por contratar Brunelleschi para a construção da Catedral de Santa Maria del Fiore, por exemplo, na mesma cidade, sobre a qual nos aprofundaremos mais adiante. 2 COMO A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA INFLUENCIARAM A ARTE RENASCENTISTA Imagem do Tópico:https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/14th-century-anatomy-art-by-leonardo- 1672886845 No período da alta renascença não era mais possível separar arte e ciência, ambas se fundiram em um arranjo inconfundível que acarretou em algumas das maiores produções artísticas de todos os tempos. O período em que os grandes mestres do renascimento atuaram, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, por exemplo, foi próximo ao das grandes descobertas astronômicas do astrônomo e matemático Nicolau Copérnico e, posteriormente, do físico Galileu Galileu. E foi nessa atmosfera em que arte e ciência se incorporaram, na medida em que as produções artísticas foram reduzidas aos preceitos da matemática e astronomia. Mas como isso se deu? Pela descoberta da perspectiva. Nesse período, houve a introdução da técnica da perspectiva linear, ou seja, a tradução do espaço pitoresco a uma combinação de associações matemáticas e sua projeção ao infinito, guiado pelo ponto de fuga. O desenvolvimento dos artistas acontecia paralelamente ao desenvolvimento das ciências. Para tanto, destaca-se o papel do arquiteto Filippo Brunelleschi. Segundo Gombrich: Brunelleschi não foi apenas o pioneiro da arquitetura da Renascença. A ele se deve, ao que parece, uma outra e momentos a descoberta no campo da arte, a qual dominaria também toda a arte de séculos subsequentes: a da perspectiva [...] Foi Brunelleschi quem forneceu aos artistas os meios técnicos para solucionar esse problema (criar a ilusão de profundidade); e o entusiasmo que isso causou entre seus amigos pintores deve ter sido imenso. (GOMBRICH, 2012, p. 228-229). Na arquitetura foi ainda Brunelleschi que deu o pontapé inicial com uma construção que negava completamente o estilo internacional e adotava preceitos clássicos. Tratava-se de uma livre interpretação das construções gregas e romanas, a fim de originar novas maneiras de “harmonia e beleza”. Essa nova arquitetura foi https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/14th-century-anatomy-art-by-leonardo-1672886845 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/14th-century-anatomy-art-by-leonardo-1672886845 concretizada no projeto da Catedral de Florença, onde se destaca a abóbada octagonal e as conquistas da perspectiva em seu interior. Figura 1 - Catedral de Florença - 1420-36 Fonte: Gombrich, 2012, p. 225. Uma das primeiras expressões artísticas realizadas de acordo com os preceitos da matemática foi o afresco intitulado “A Santíssima Trindade com a Virgem, S. João e doadores”, do pintor Masaccio em 1428. Essa pintura causou uma revolução na arte de pintar, gerando certo espanto ao ser exibida com seus traços em perspectiva e ilusão de profundidade. Não só por isso, mas também pela “simplicidade e grandeza” das figuras. É possível observar neste afresco os contornos rígidos característicos da pintura renascentista e os planos geométricos delimitadores da obra, de modo que as figuras parecem imóveis. Figura 2 - A Santíssima Trindade com a Virgem, S. João e doadores - 1425-1428 Fonte: Gombrich, 2012, p. 228. 3 O QUE É MANEIRISMO O Movimento cunhado de maneirismo (à maneira de) surgiu como resposta à rigidez das manifestações renascentistas, nos três campos da arte: pintura, arquitetura e escultura. Os artistas dessa vertente tinham vontade de ultrapassar os grandes mestres clássicos por meio de suas produções incomuns e peculiares, criando, assim, uma nova forma de expressão. Esse acontecimento se deve, em parte, ao fato da técnica clássica ter atingido um patamar tão impecável que os artistas do maneirismo acreditavam que qualquer pintor, arquiteto e/ou escultor estava apto a dominar seus artifícios. Eles ansiavam por percorrer caminhos ainda não explorados, trazendo uma nova perspectiva às manifestações da arte, ou seja, algo novo e inesperado. Há quem diga que o maneirismo foi um rito de passagem do renascimento ao barroco, outros autores consideram como um estilo consolidado, indiferentemente, foi um marco na história da arte e merece seu reconhecimento, e, sem dúvidas, anunciou algumas características do período barroco. É sólido afirmar que o maneirismo se diferencia dos princípios renascentistas, no entanto, surgiu durante o período da alta renascença, em Roma, e perdurou até o início do século XVII. Em um panorama geral, os artistas englobam, de algum modo, o exagero em suas produções, alinhando-se às cores fortes para tal, por exemplo. Dentre as características da arte maneirista estão o efeito dramático, a fantasia, a complexidade da pintura, o mistério, o alongamento dos corpos e das proporções das figuras. Ainda se ressalta o exagero nas cores e certa dramaticidade na disposição espacial dos elementos da pintura. Um dos pintores que expressou esses elementos em suas obras foi o italiano Tintoretto. Segundo Gombrich, “Tintoretto, deve ter, finalmente, resolvido contar suas histórias de um modo diferente e fazer com que o espectador sentisse a emoção e a dramaticidade intensa dos eventos que pintava (2012, p. 368)”. E foi em sua pintura “O reencontro do corpo de São Marcos”, 1562, que expressou suas intenções. Em uma composição agitada e passível de gerar confusão ao espectador, não se utilizou do ideal de beleza do renascimento, tampouco da cor abstrata, mas sim, do efeito de luz e sombra - escurecendo alguns pontos da obra e fornecendo mais luz a outros. O posicionamento e expressões das figuras representam também certa dramaticidade, bem como seus respectivos posicionamentos, como o gesto do homem do canto esquerdo, por exemplo. Figura 3 - O reencontro do corpo de São Marcos - 1562 Fonte: Gombrich, 2012, p. 369 Outro pintor muito conhecido do maneirismo foi o grego, radicado na Espanha, El Greco. Com uma identidade distinta e pessoal, fez uso em suas obras de cores exageradas, disposições espaciais estranhas e figuras distorcidas e alongadas, como podemos observar em sua obra “O enterro do Conde de Orgaz”, 1586. Figura 4 - O enterro do Conde de Orgaz - 1586 Fonte: Farthing, 2011, p. 208 4 CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO DO NORTE. DIFERENÇAS ENTRERENASCIMENTO ITALIANO E RENASCIMENTO DO NORTE Imagem de Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/gent-belgium-july-25-lamb-god- 148396922 Ainda falando sobre os princípios das perspectivas, que tiveram início na Itália a partir dos estudos de Leonardo da Vinci e Filippo Brunelleschi, sua conquista final, no entanto, aconteceu no norte europeu pelo pintor flamengo do século XV Jan Van Eyck. Foi nos países baixos que o artista alcançou descobertas revolucionárias a partir da sua técnica expressiva da realidade em todos os detalhes da obra, mas o grande triunfo veio com a invenção da pintura a óleo. Foi algo tão revolucionário quanto a descoberta da perspectiva, pois constituía uma característica totalmente inovadora entre os artistas. Van Eyck mudou a receita de como as tintas eram preparadas, utilizando óleo ao invés de ovo (técnica da encáustica), o que permitia que a tinta secasse muito mais devagar, permitindo a transição entre as nuances das cores com maior exatidão. Criando uma técnica pictórica mais adequada às novas conquistas de perspectiva e dos tempos atuais. Em suas obras, diferentemente das obras do renascimento italiano, Van Eyck não idealizava a figura humana. Pelo contrário, chegou até a usar modelos nus para pintá- los de maneira fiel e detalhada observando-os diretamente. Segundo Gombrich: Usando óleo em vez de ovo, podia trabalhar muito mais devagar e com maior exatidão. Podia fazer cores lustrosas, suscetíveis de serem aplicadas em camadas transparentes ou “vidradas”: podia adicionar cintilantes detalhes em relevo com um pincel de ponta fina, e realizar todos aqueles milagres de precisão e minúcia que espantaram seus contemporâneos e cedo levaram à aceitação geral do óleo como veículo pictórico mais adequado (GOMBRICH, 2012, p. 240). Como podemos observar em seu retábulo pintado para uma igreja em Flandres: Figura 5 - O retábulo de Ghent - 1432 Fonte: Gombrich, 2012, p. 237 e 238 Diferentemente dos artistas italianos, os pintores do norte mostravam suas habilidades para pintura nos elementos da natureza, nos animais, vestimentas e edifícios. Não se prendiam à aparência real das figuras, mas representavam a natureza de maneira quase científica. Segundo Gombrich: É um palpite fácil dizer que qualquer obra que se destaque pela representação da bela superfície das coisas, de flores, jóias ou textura das roupagens, será de um artista setentrional, muito provavelmente de um pintor holandes; ao passo que um pintura de contornos ousados, perspectiva clara e um domínio seguro do belo corpo humano será italiana (GOMBRICH, 2012, p. 240). Algumas dessas diferenças também podem ser observadas na arquitetura, ao passo que a Itália já se caracterizava com suas construções que seguiam os preceitos clássicos, o Norte Europeu ainda se encontrava no estilo gótico. SAIBA MAIS Alguns aspectos do renascimento eram mais interessantes do que outros para os artistas nórdicos. Na Itália, a Renascença foi um ressurgimento e principalmente uma redescoberta dos ensinamentos e da cultura da Grécia e Roma antigas. Essas culturas não eram tão relevantes para os europeus do norte, para os quais as representações da mitologia clássica eram muito mais raras do que nos países do Mediterrâneo. A Renascença Nórdica foi inspirada pela Reforma Protestante, que trouxe consigo um interesse renovado pela representação da imagem humana e por retratar o mundo visível de forma realista. Fonte: (Farthing, 2011, p. 182). #SAIBA MAIS# REFLITA A ciência mais útil é aquela cujo fruto é o mais comunicável. Fonte: Leonardo da Vinci. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, busquei trazer a você algumas considerações sobre o renascimento italiano e setentrional, algumas vezes pouco conhecidas. Abordamos, em nosso primeiro tópico, sobre a evolução do conceito de artista para artesão e o longo caminho que foi percorrido para serem reconhecidos como tal. Também relatamos a importância dos estudos de Leonardo da Vinci para este acontecimento, bem como para as descobertas científicas no universo das artes. Já no segundo tópico, vimos como a ciência e tecnologia influenciaram o período renascentista a partir de estudos como o de Nicolau Copérnico, Galileu Galileu e Da Vinci. Ressaltando, também, o arquiteto Filippo Brunelleschi e suas pesquisas sobre perspectiva. No terceiro tópico, nos familiarizamos com o movimento chamado de maneirismo, ou seja, à maneira de, e sua importância tanto como vertente artística transitório entre o renascimento e o barroco. Vimos que suas características adiantaram alguns preceitos do barroco, ainda associadas à perspectiva do renascimento, sem, no entanto, empregar o ideal de beleza grego. Por fim, no quarto e último tópico, analisamos as características do renascimento do norte, bem como suas aproximações e distanciamentos com o renascimento italiano. Constatando que a partir da mudança geográfica também há mudanças na maneira de se encarar o mundo e que isto é retratado na forma de expressão artística, seja na pintura, arquitetura e/ou escultura. E, por fim, foi compartilhado com você parte de um trabalho dissertativo sobre o renascimento italiano, a fim de consolidarmos os princípios aprendidos. LEITURA COMPLEMENTAR A fim de complementarmos nossos estudos sobre o renascimento, leia um trecho da dissertação de Viviane de Oliveira a seguir, ressaltando a pintura realizada em Florença, na Itália, polo da arte renascentista. A valorização da pintura como trabalho intelectual constitui uma tradição justificada por vários tratados desde a Antiguidade Clássica grega. Contudo, o primeiro tratado sobre pintura, que conhecemos, foi O livro da arte, de Cennino Cennini (1370- 1440). Este é considerado pela História da Arte o primeiro tratado tecnológico renascentista, manual pioneiro da química aplicada” (PEDROSA, 2006 p. 58). O que chamamos de artistas, mesmo nos séculos XVI, nos textos de Leonardo da Vinci e Vasari (2006), não podem ser considerados como o conceito contemporâneo sugere, eram artesãos, ou homens que eram procurados pela propaganda das cidades, por meio da arte e construções. Em nenhuma cidade esse sentimento de orgulho, confiança e esperança era mais intenso do que em Florença, onde haviam grandes homens que marcariam a História, como Dante Alighieri (1265-1321) e de Giotto di Bondone (1267- 1337). Foi nessa próspera cidade de mercadores, nas primeiras décadas do século XV, que um grupo de artistas se dispôs deliberadamente a criar um conceito forte e nobre para a concepção de arte (GOMBRICH, 1995). O Renascimento também pode ser considerado e renascer do ânimo humano, pois, o século XIV havia sido marcado pelo colapso demográfico, a instabilidade política, as revoltas religiosas, e principalmente para a peste negra de 1347 – onde metade da população florentina fora dizimada e toda região demoraria mais de 50 anos para renascer (FRANCO JÚNIOR, 2001). Há um efeito desse movimento de transformação no conceito de arte que devemos considerar. Até por volta de 1400, a arte em diferentes partes da Europa desenvolveu-se, segundo linhas semelhantes. Segundo Gombrich (1995), o estilo dos pintores e escultores góticos desse período é conhecido como Estilo Internacional, porque os objetivos dos mais destacados mestres da França e Itália, da Alemanha e da Borgonha, eram todos muito semelhantes – claro, salvo exceções, como as diferenças entre a França e a Itália durante o século XIII – mas, em seu todo, elas não eram muito importantes. Essa ideia não se aplica apenas ao campo da arte, mas também ao mundo do saber e da política. Os eruditos medievais falavam e escreviam em latim, uma língua única, não fazia grande diferença então de onde lecionariam, seja naUniversidade de Paris, Pádua ou Oxford (VERGER, 1990). Esses fatos modificariam gradualmente em fins da Idade Média, com o desenvolvimento urbano, nas cidades, novas ordens como os mercadores e os burgueses se tornaram mais vitais para a suas sociedades do que castelos e senhores. O mercado utilizava a língua vernácula e cada cidade orgulhava-se de suas posições, construções e status. Tudo isso influenciava diretamente o comércio daquela região. As mudanças quanto ao conceito de arte, que decorreram ao longo do século XIV e XV, são fundamentais para se compreender o próprio Renascimento Italiano, para além de uma análise simplista de retorno aos clássicos gregos. A própria evolução da arte é representação material da mutação temporal que a História percorre para a criação do nosso entendimento. Afinal, pensarmos os limites entre o artesão e o artista nos permite entender essa passagem. O conceito de artista, tal como conhecemos e definimos Leonardo da Vinci, não é atemporal. Esse processo se deu a partir da tomada de conhecimento e valorização de si próprio. A partir do momento em que o chefe de um ateliê já não se considera um fabricante e concede-se algumas curiosidades intelectuais, toda uma série de transformações imprime-se em seu trabalho. A representação gráfica torna-se um modo de investigação ‘científica’ e não mais atende à necessidade material de alguma função. Em outras palavras, o próprio conceito de artista é criação do Renascimento. O fato é que Florença, desde a época do Magnífico, oferece mais problemas do que certezas. Leonardo da Vinci compreendia essa nova evolução cultural, não de forma consciente. Em seus princípios sobre a pintura, o artista busca defender essa arte a partir de sua cientificação. Na primeira parte do Tratado da Pintura, ele define a pintura como a principal arte e a compara com as demais formas artísticas: poesia, música e arquitetura. Para justificar a superioridade da pintura, em relação às outras artes, Leonardo da Vinci tenta, a partir da matemática, estudos anatômicos e outras concepções de experiência, definir a pintura como a ciência que relaciona a realidade com a imagem, como ciência universal. LIVRO ● Título: O renascimento ● Autor: Nicolau Sevcenko. ● Editora: Editora Atual. ● Sinopse: Conheça essa grande experiência histórica, base cultural do mundo moderno. Acompanhe a trajetória dos humanistas, a criação das línguas nacionais, o nascimento do individualismo e do racionalismo. Experiência radicalmente humana, exercício de liberdade de criação, o renascimento é tema essencial no estudo da história. FILME/VÍDEO ● Título: Médici: mestres de Florença ● Ano: 2016-2018. ● Sinopse: Acompanhe a série baseada na história dos Medici de Florença, uma família influente que governou a cidade no século 15, promovendo a vida artística, cultural, espiritual e científica da época. REFERÊNCIAS FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. GOMBRICH, E.H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012. OLIVEIRA, V. Uma concepção de educação no conceito de ciência universal de Leonardo da Vinci. (Dissertação de Mestrado). Universidade Estadual de Maringá: Maringá, 2016. UNIDADE II BARROCO, ROCOCÓ E BARROCO BRASILEIRO Professora Mestre Giovanna Renzetti Plano de Estudo: ● Características do estilo barroco e diferenças entre renascimento e barroco; ● Principais artistas do barroco italiano e barroco do norte; ● Diferenças entre barroco e rococó; ● Barroco brasileiro e suas características essenciais. Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as características do estilo barroco; ● Compreender as diferenças entre barroco e rococó; ● Estabelecer a importância do barroco brasileiro. INTRODUÇÃO Nesta unidade, iremos mergulhar no universo do barroco e suas principais características. Veremos, em um primeiro momento, suas origens europeias e, posteriormente, seu desdobramento no Brasil. Também aprenderemos diferenciar as particularidades entre barroco e renascimento e barroco e rococó. Lembro a você que todo movimento artístico se manifestou na pintura, na arquitetura e na escultura. No primeiro tópico, aprenderemos sobre as principais características do período barroco e seus distanciamentos em relação ao período renascentista. Perceberemos que os artistas do século XVII priorizaram a emoção acima da razão, adicionando dramaticidade a suas produções, a qual se manifestou por meio do jogo de luz e sombra, movimentação e, comumente, composições na diagonal. Em um segundo momento, iremos nos familiarizar com os principais expoentes do barroco italiano, bem como do barroco setentrional e perceberemos como as obras se alteram de acordo com a localização geográfica dos artistas, contudo, ainda existindo um paralelo de particularidades. No terceiro tópico, seremos introduzidos a um novo movimento artístico cunhado de rococó, posterior ao período barroco, e, assim, aprenderemos algumas de suas principais características, nos possibilitando fazer uma comparação com as particularidades do período anterior, traçando as diferenças entre ambos. Por fim, em nosso último tópico, mergulharemos no universo do barroco brasileiro e suas manifestações locais. Veremos que a principal forma de produção em território verde e amarelo aconteceu por forma de grandiosas igrejas e também esculturas. Além disso, seremos introduzidos aos principais artistas brasileiros desse período que consolidaram o movimento em nosso país. A nossa leitura complementar nos auxiliará, ainda, a compreender esse marco que foi a produção barroca em alguns estados brasileiros, principalmente, em Minas Gerais. 1 CARACTERÍSTICAS DO ESTILO BARROCO E DIFERENÇAS ENTRE RENASCIMENTO E BARROCO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amsterdam-netherlands-31-december- 2015-picture-377749780 No século XVII tivemos as manifestações artísticas do período barroco, o qual surgiu na península itálica, mas se dissipou pelo restante dos países europeus e também pelo continente americano. Assim, ressalta-se que cada lugar teve suas variações dentro do universo barroco. Enfatiza-se que toda manifestação artística é relacionada ao contexto no qual o artista está inserido, ou seja, é uma representação de sua época, dessa forma, o sentimentalismo nas pinturas deste período está ligado à reforma protestante, à contrarreforma, ao momento de incertezas e maior subjetividade na maneira de se encarar o mundo. Em termos compositivos, destaca-se a vitalidade das figuras, a vivacidade expressiva e a opção por dispor os elementos da pintura no eixo diagonal. Há, ainda, um abuso da técnica do claro e escuro - jogo de luz e sombra - com o intuito de intensificar o sentimentalismo e emoção que o autor deseja transmitir. Os elementos da pintura formam um conjunto, de maneira que todos os volumes estão conectados. Os temas se concentraram, principalmente, em cenas religiosas e da vida nobre e do povo, mergulhados em jogos de luz, onde certas partes são privilegiadas com luminosidade e outras escurecidas. Figura 1 - A lição de anatomia de Dr. Tulp - Rembrandt https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amsterdam-netherlands-31-december-2015-picture-377749780 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amsterdam-netherlands-31-december-2015-picture-377749780 Fonte: (Proença, 2011, p. 145) Enfatiza-se que o barroco se manifestou na pintura, arquitetura, escultura, bem como na música, dando lugar a formas contínuas e infinitas. Foi o período que sucedeu à baixa renascença, o maneirismo do fim do século XVI e precedeu as manifestações artísticas do rococó, dando lugar a uma beleza mais moderada ao invés dos ideaisde beleza clássicos. Teve como características intenso decorativismo, designs complexos, além do uso de luz e sombra. Roma foi a cidade mais ligada ao período barroco por ter sido o centro das produções e debates artísticos e também por conta da contrarreforma católica. Diferentemente do renascimento, a pintura barroca quebra com a harmonia entre razão e sentimento, atribuindo emoção acima da razão às suas representações. Os pintores renascentistas pintavam o mundo como ele era, mais próximo ao real e viam o ser-humano como a maior manifestação de Deus, assim sendo, as figuras representadas passaram a ganhar maior fisionomia humana. Os temas se concentravam na antiguidade grega e cristã, e cada elemento existia por si só nas composições. As pinturas apresentavam uma concepção de linhas geométricas e diferentes planos onde as personagens eram alocadas, formando o conjunto total da obra. A linha determinava com clareza os objetos representados, os contornos eram bem definidos e rigorosos e toda a composição apresentava a mesma ênfase em termos de luz, ou seja, uma luz abstrata. Os limites estabelecidos pela pintura renascentista onde a composição toma forma em diferentes planos horizontais deixa de aparecer na pintura barroca. Os elementos da pintura não são isolados entre si, mas formam um conjunto, de maneira que todos os volumes estão conectados. No período barroco, as esculturas, por exemplo, ganham maior movimentação, percebida no movimento das vestes e posição dos braços e pernas, diferentemente do renascimento em que estão estáticas. Na arquitetura, as linhas clássicas renascentistas deram lugar aos ornamentos e exageros do barroco. 2 PRINCIPAIS ARTISTAS DO BARROCO ITALIANO E BARROCO DO NORTE Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/rome-italy-july-26-2018-famous- 1212306121 É a partir da seguinte afirmação de Gombrich que iniciamos nossos estudos sobre os principais artistas do renascimento da Itália e do Norte Europeu: O desenvolvimento da pintura, ao sair do impasse do maneirismo para um estilo muito mais fértil em possibilidades do que o dos grandes mestres anteriores, foi semelhante em alguns aspectos ao da arquitetura barroca. Na grande pintura de Tintoretto e El Greco vimos o crescimento de algumas ideias que adquiriram cada vez mais importância na arte do século XVII: a ênfase sobre a luz e a cor; o desprezo pelo equilíbrio simples; e a preferência por composições mais complicadas (GOMBRICH, 2012, p. 390). O trecho acima, bem como o primeiro tópico desta apostila, anuncia as principais características do período barroco que foram manifestadas tanto na pintura, quanto na escultura e arquitetura. Adiante, veremos quais os principais expoentes dessas produções nas diferentes regiões europeias. Na Itália dois grandes artistas se destacaram com suas produções barrocas, sendo eles: Caravaggio e Carracci, os quais trabalharam na cidade de Roma, que, como já vimos, era o centro de disseminação cultural e artística da época. Segundo Farthing (2011), o estilo de Carracci “é repleto de movimento, dinamismo e cor”, evidenciado nas vestes das figuras. O autor ainda enfatiza a beleza do ideal clássico em suas imagens, porém atribui a elas sentimentalismo nas expressões e certa dramaticidade. Figura 2 - A adoração dos pastores, 1612 - Carracci https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/rome-italy-july-26-2018-famous-1212306121 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/rome-italy-july-26-2018-famous-1212306121 Fonte: (Farthing, 2011, p. 212) Em outra linha de pensamento, Caravaggio apresentava uma vertente mais naturalista em suas produções, pois tinha por intuito representar o mundo como o via. Negou os ideais de beleza clássico, adotando uma maior honestidade de representação das figuras. Suas obras são conhecidas pelo intenso uso da técnica de luz e sombra, na qual o artista se utiliza de lugares específicos da tela para dar maior ênfase e, assim, chamar a atenção do espectador para lugares específicos da composição. Esses contrastes de luz e sombra ainda auxiliavam no volume dos corpos e possibilitaram a restrição na paleta de cores. O pintor ficou conhecido por suas produções valorosas, dramáticas e comumente de temas religiosos. Figura 3 - Tomé o incrédulo, 1600 - Caravaggio Fonte: (Gombrich, 2012, p. 251) Ainda na Itália, nos deparamos com Bernini, artista que expressou suas características estilísticas barrocas na arquitetura e em esculturas. Sua obra mais conhecida é a escultura “O êxtase de Santa Teresa” pela intensidade da expressão da figura central que apela pela atenção do espectador. Além da sensação de movimento a partir das vestes e do posicionamento dos elementos da composição escultural. Segundo Gombrich (2012), Bernini “rejeitou deliberadamente todas as limitações e levou-nos a um extremo de emoção que os artistas haviam até então evitado”. Há o predomínio de linhas sinuosas, uso do dourado e decorativismo exacerbado. A obra ainda conta com um conjunto entre arquitetura e escultura onde o artista também projeta “o pano de fundo” da escultura com uma abóbada ornamentada, com abertura para a entrada de luz, fornecendo dramaticidade tipicamente barroca. Em termos de arquitetura barroca italiana, a grande intenção da igreja católica era demonstrar seu “triunfo da fé” por meio da grandiosidade da arquitetura, abandonando os valores simples e racionais do renascimento e investindo em elementos dourados e ornamentos, característicos do período barroco. As manifestações artísticas eram um meio de propagação da fé católica. Figura 4 - O êxtase de Santa Teresa, 1652 - Bernini Fonte:(Farthing, 2011, p. 213) Entrando no panorama da pintura dos países baixos, é importante primeiramente entendermos que: Depois de 80 anos de guerras, o Tratado de Munster (1648) deu a independência à República dos Países Baixos e, numa nação de maioria protestante, a arte tomou um rumo diferente. A República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos abrangia uma área que hoje compreende Holanda, Bélgica e Luxemburgo, no norte da Europa, e era governada pelos reis Habsburgo da Espanha. A fim de se desligar de seus governantes católicos, os Países Baixos criaram um estado governado por cidadãos eleitos, soldados e comerciantes que acabariam por construir a nação mais rica da Europa do século XVII. O sucesso financeiro da jovem república se baseava em seu poderio marítimo e no comércio exterior. Com a prosperidade renovada e o surgimento de uma burguesia mercantil, a república exigiu o surgimento de uma nova arte, o que resultou na idade de ouro da pintura holandesa (FARTHING, 2011, p. 222). E foi diante desse contexto que as produções dos artistas que estudaremos a seguir ganharam vida. Conhecidos como pintores do norte, veremos que, com o deslocamento geográfico houveram certas diferenciações entre as produções da Itália e da Europa setentrional, mesmo com a maioria desses artistas tendo se deslocado à Roma para estudar e retornado a seus respectivos países de origem. No barroco do norte, os artistas podem ser reunidos de acordo com a temática de suas produções, ou seja, a pintura dessa época viu uma especialização cada vez maior de certos temas escolhidos. O primeiro pintor dentre esses artistas que veremos é Rubens, que, segundo Gombrich (2012) trouxera da Itália a predileção pelas telas gigantescas para decorar igrejas e palácios, e isso ajustava-se ao gosto dos dignitários e príncipes. Rubens aprendera a arte de dispor as figuras numa vasta escala e de usar luz e cores para aumentar o efeito geral. O pintor criou diversas obras religiosas, em altares, bem como retratos e pinturas históricas. Suas pinceladas eram perceptíveis e suas composições energéticas com uso de coresvibrantes. Suas figuras comumente apareciam de corpo inteiro com caráter mais naturalista. O grande mistério das manifestações de Rubens era sua maestria em tornar intensamente viva toda e qualquer coisa. Figura 5 - Virgem e menino entronizados com santos, 1628 - Rubens Fonte: (Gombrich, 2012, p. 399) O pintor Velázquez se destacou na Espanha por pintar retratos da corte e da família real. Também foi à Roma estudar e absorveu o naturalismo típico de Caravaggio. Dedicou-se a observar a natureza e não se prender a regras de representações. Em suas obras predominam os tons mais acinzentados, castanhos e esverdeados, em que podemos perceber em uma de suas obras mais icônicas chamada “as meninas”, em que o artista, a partir do uso de luz e sombra, cria uma ilusão de espaço. Suas pinceladas são perceptíveis e o efeito de luminosidade na composição é adquirido através da adição e subtração de camadas de tinta. Figura 6 - As meninas, 1656 - Velázquez Fonte: (Gombrich, 2012, p. 409) Rembrandt e Vermeer também marcaram a idade de ouro da pintura holandesa. O primeiro, não se utilizava de gestos intensos em suas produções para passar suas mensagens bíblicas, empregou tons castanhos escuros em suas produções em contrastes com cores mais vibrantes, coroadas pelo efeito do claro e escuro. Assim como Caravaggio, dava maior valor à harmonia da composição do que à beleza das figuras. Vermeer, assim como Rembrandt, ficou conhecido por reproduzir cenas do povo e do cotidiano da vida holandesa. Seus quadros são conhecidos como “naturezas-mortas com figuras humanas”, pintou poucas telas e dava grande atenção aos detalhes de suas composições, em um jogo de cores e formas. Figura 7 - A ronda noturna, 1642 - Rembrandt Fonte: (Farthing, 2011, p. 226) Figura 8 - A leiteira, 1660 - Vermeer Fonte: (Gombrich, 2012, p. 432) 3 DIFERENÇAS ENTRE BARROCO E ROCOCÓ Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/ussr-circa-1983-postcard-printed- shows-91623812 A vertente artística denominada de rococó, diferentemente do barroco, floresceu na França no século XVIII, estando diretamente relacionada à vida aristocrática. Foi um movimento que uniu elegância, dinamismos teatrais, graciosidade e decorações, sendo uma reação ao exacerbamento do barroco. Segundo Gombrich (2012, p. 454), na pintura, houve “uma predileção por cores e decorações delicadas que sucederam ao gosto mais robusto do período barroco e que se expressou em alegre frivolidade”. Os artistas também empregavam linhas mais curvas e maior luminosidade em suas pinturas. Foi um estilo predominantemente decorativo. Os temas se concentraram em cenas da vida aristocrática e se afastaram de representações religiosas, diferentemente do período anterior. Em termos arquitetônicos, o rococó se manifestou principalmente na decoração interior dos palácios. Um dos maiores expoentes da pintura rococó foi o francês Jean-Antoine Watteau, o qual ajudou a desenvolver o estilo. As características recorrentes em suas pinturas são cenas campestres idílicas, com ar melancólico, os contornos delicados e a harmonia entre as cores. Outro artista que merece destaque é o francês Jean-Honoré Fragonard, autor da obra "O balanço", na qual retrata o gosto dos pintores do período pelo erotismo, ambiente bucólico e as linhas sinuosas, como na vestimenta da figura central. Figura 9 - Festa num parque, 1718 - Watteau https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/ussr-circa-1983-postcard-printed-shows-91623812 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/ussr-circa-1983-postcard-printed-shows-91623812 Fonte: (Gombrich, 20121, p. 454) Figura 10 - O balanço, 1767 - Fragonard Fonte: (Farthing, 2011, p. 254) 4 BARROCO BRASILEIRO E SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS O movimento do barroco também chegou em solo brasileiro, porém de maneira tardia. Enquanto os países europeus já haviam superado as produções barrocas, o Brasil atingia seu apogeu. O barroco brasileiro ficou conhecido, sobretudo, por suas igrejas, as quais veremos a seguir, mas também se manifestou na pintura e escultura, entre os séculos XVIII e XIX. É correto afirmar que em território verde e amarelo esse estilo é intrinsecamente associado à religião católica, contudo, um fato curioso, é que as construções barrocas se estenderam para além das igrejas, dando forma a casas, cadeias, câmaras municipais, chafarizes, entre outros. Ainda existiram duas linhas do barroco brasileiro, uma ligada às terras enriquecidas pelo comércio de açúcar e pela exploração de minérios, como foi o caso dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, e, em contrapartida, as regiões que não foram enriquecidas pelo ciclo do açúcar e da mineração, as quais apresentaram traços barrocos mais modestos. Nos estados mencionados acima, a arquitetura, escultura e pintura atingiram seu ápice de representação barroca impulsionadas pelas riquezas dos ciclos exploratórios, como veremos em sequência. No século XVIII, com total predomínio do estilo barroco, a primeira capital federal do Brasil, Salvador, era a região mais rica da época, por ser o principal centro econômico. Assim sendo, é encontrado grandes igrejas beneficiadas por essas riquezas na região, ornamentadas por ouro em seu interior e com grande riqueza em detalhes, como é o caso da Igreja de São Francisco de Assis, datada em 1708. Figura 11 - Altar lateral Igreja São Francisco de Assis, Salvador - BA, 1708 Fonte: (Proença, 2011, p. 155) O Rio de Janeiro se beneficiou com o ciclo econômico do barroco a partir de construções civis que auxiliaram em seu desenvolvimento urbano. Além disso, foi palco de um dos grandes escultores do barroco brasileiro: Mestre Valentim, o qual produziu obras para praças e jardins públicos, como também para diversas igrejas cariocas, onde as esculturas eram comumente feitas em madeira, com linhas que expressam movimento. Já a região de São Paulo recebeu manifestações bastante simplórias, pelo fato de não ser um centro de grandes riquezas, algumas pinturas e igrejas são encontradas na região. A maior expressão barroca brasileira pode ser encontrada no estado de Minas Gerais, onde houve a exploração do ouro. Em termos arquitetônicos, Proença afirma que (2011, p. 164): A evolução da arquitetura mineira não foi rápida. A princípio, tentou-se utilizar como técnica construtiva a taipa de pila, um processo tipicamente paulista. Mas não deu certo, por causa do terreno duro e pedregoso, pouco favorável ao fornecimento de terras argilosas. Depois, paulistas e portugueses tentaram outros processos, até chegarem às construções com muros de pedra. Porém, essas construções de pedra foram surgindo lentamente [...] Assim, as construções constituíam-se de paredes paralelas que criavam interiores retangulares, com muros lisos, sem as sinuosidades tão comuns ao estilo barroco. (PROENÇA, 2011, p. 164) Com o passar dos anos, no entanto, as técnicas de construção foram sendo aperfeiçoadas, bem como a rica ornamentação dos interiores das igrejas, dando lugar à riquíssimas composições e integrações entre arte (escultura, pintura) e arquitetura. O projeto da Igreja de São Francisco em Ouro Preto é uma representação dessa assimilação entre as artes. Com ornamentos esculpidos em pedra sabão por Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho e pintura no teto de Manuel da costa Ataíde - Mestre Ataíde, as linhas curvas da arquitetura englobam todo o conjunto artístico. É perceptível a técnica da perspectiva dominada por mestre Ataíde em sua pintura da igreja, onde as colunas dão a impressão de estarem avançando ao infinito, bem como as particularidades das esculturas de aleijadinho, comumenterealizadas em pedra sabão e/ou madeira. Suas figuras apresentam olhos amendoados, simplicidade e dinamismo. Figura 12 - Teto da Igreja São Francisco, Ouro Preto - Mestre Ataíde Fonte: (Proença, 2011, p.166) SAIBA MAIS O termo "barroco" era, inicialmente, depreciativo, e foi cunhado por uma geração posterior de críticos que pretendia desonrar a arte que os havia precedido. A palavra significa disforme, absurdo ou grotesco e se refere às formas tipicamente fluidas e infinitas associadas ao estilo. O termo é usado para designar a arte, a arquitetura e a música que sucedeu a Baixa Renascença e precedeu o rococó. Visto como uma reação ao estilo maneirista do fim do século XVI, no qual o idealismo clássico deu lugar a uma beleza plácida, o barroco é associado principalmente à arte feita sob encomenda para a Igreja Católica. É caracterizado pela decoração pesada, o design complexo, porém sistemático e a aplicação abundante de luzes e sombras. Fonte: (Farthing, 2011, p. 213) #SAIBA MAIS# REFLITA Escolha apenas um mestre - a natureza. Fonte: Rembrandt, 1975. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desta unidade foi introduzir a você no período barroco dentro do universo da história da arte. Assim, busquei criar uma linha de aproximações e afastamentos entre o barroco e renascimento e barroco e rococó, a fim de localizá-lo no panorama da história da arte. Em um primeiro momento, revisamos as principais características abordadas no movimento, como o uso de luz e sombra, composições na diagonal e em massas, dramaticidade e emoção acima da razão. Também vimos que toda manifestação de arte está relacionada ao seu tempo, desse modo, os artistas do barroco estavam intrinsecamente ligados à reforma protestante e à contrarreforma, ou seja, um período de incertezas, fato que transparece em suas produções. No segundo tópico, conhecemos as produções de alguns dos principais artistas do período, tanto do barroco italiano, quanto do barroco do norte, e notamos as diferenças entre as duas regiões, principalmente, nos temas que foram abordados. No primeiro, a religiosidade esteve muito presente, já, no barroco setentrional, houve maior concentração de retratos e temas da vida cotidiana. Em nosso terceiro tópico, fomos introduzidos ao período rococó de modo a fazer um paralelo às manifestações barrocas, sendo possível perceber que no rococó as pinturas ganharam maior leveza, sendo mais teatrais, graciosas e idílicas. Na arquitetura, os ornamentos e decoração de interiores ganharam destaque especial. No último tópico, nos aprofundamos no barroco brasileiro e conhecemos os grandes expoentes da pintura e escultura local. Vimos que as manifestações barrocas se concentraram em igrejas nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e, sobretudo, em Minas Gerais. Foi possível perceber a grandiosidade dessas produções, bem como sua importância para nossa história e cultura. LEITURA COMPLEMENTAR A fim de complementarmos nossos estudos sobre o barroco brasileiro, leremos um trecho da dissertação de Jorge Pedro Barbosa Lemos sobre as igrejas barrocas. Há um detalhe que se tornou uma particularidade das igrejas trabalhadas no estilo barroco em todas as regiões do Brasil. Enquanto as igrejas espanholas e portuguesas, na decoração de seus interiores, optaram por arabescos, ornatos, rendas, babados e desenhos curvilíneos assimétricos, os ornamentos das igrejas brasileiras apresentam-se mediante figuras de plantas, animais e motivos indígenas como penas, trançados e tramas; talvez pela proximidade ou pela intenção de atrair as comunidades indígenas que eram muito maiores no século XVIII. A cidade de Salvador, na Bahia, foi a mais importante da época colonial, e existe um adágio popular que diz: "Na Bahia tem mais igrejas que os dias do ano”. A maior parte delas eram cópias adaptadas de modelos portugueses nas típicas fachadas com duas torres, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, e Bom Jesus do Monte em Braga, Portugal. Em contraponto, em Minas Gerais, no final do século XVIII, quando a riqueza do ouro trouxe prosperidade para a região, desenvolveu-se um núcleo do barroco tardio riquíssimo não só pelo valor agregado pelo ouro, mas pelo requinte da arquitetura ali desenvolvida. A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, é incomparável, possui um traçado curvilíneo alongado; as paredes externas ora são côncavas ora são convexas; as torres são embutidas nos 54 corpos da igreja que lembra, segundo os guias turísticos locais, uma caravela de cabeça para baixo, em um capricho de Aleijadinho que não esqueceu nem mesmo dos canhões nas janelas. Em Mato Grosso, não houve tempo, na era do ouro, de desenvolver as artes da arquitetura ou da decoração, tais quais as desenvolvidas nas terras mineiras. As características de mineração e mesmo de urbanização não permitiam uma estabilidade social em torno da reaplicação da arrecadação local. As preocupações com a própria sobrevivência geram, na população local, receio dos rigores do clima e dos caminhos fluviais, repletos de perigos em embarcações precárias. Isso tudo não permitia a abstração requerida pela arte e uma disposição emocional em aplicar recursos naquilo que não era imediato e concreto. Nessa situação, a religião era um apego de devoções pessoais, e santos, santas e anjos eram domésticos. O altar era sem requinte, apenas uma cômoda ou prateleira onde se acendiam as velas. Era um barroco adaptado, não decorativo, mas um barroco atitude, no qual a religiosidade era adaptada à pobreza. A descoberta de ouro no Sul do Brasil, mais especificamente em Paranaguá, no final do século XVII, era de pequena quantidade, nada comparável ao que aconteceria em Minas Gerais no século seguinte, mas foi o suficiente para fundar a cidade de Paranaguá e deixar ali uma comunidade dedicada à pesca. Foi na província de São Paulo onde, primeiramente, encontrou-se o ouro de aluvião. Até aquela época, na primeira metade do século XVII, o ouro ainda não tinha sido encontrado em outro lugar. O achado foi exageradamente comemorado, atraindo multidões de aventureiros, porém os veios auríferos eram de pequena quantidade, o que causou desilusão entre os garimpeiros que voltaram aos seus antigos lugares e costumes. As tentativas de se extrair ouro do litoral duraram o suficiente para fundar-se cidades. Foi o caso de Paranaguá. Entretanto, o que se seguiu foi um forte comércio de pesca, e a caça à baleia tornou aquela região uma das mais fortes províncias no fornecimento do óleo e outros produtos derivados da pesca ao cetáceo. Com a exploração da pesca, tanto as regiões paranaenses que ainda pertenciam à capitania de São Paulo quanto às regiões da província de Santa Catarina passaram a ser habitadas com outros interesses, além da febre do ouro. Esses movimentos comerciais levaram à formação de pequenos agrupamentos litorâneos e, consequentemente, à construção de capelas que abriram espaço para o estabelecimento do artesanato das artes sacras. LIVRO ● Título: A história da arte ● Autor: E. H. Gombrich. ● Editora: Editora LTC. ● Sinopse: A História da Arte é um dos mais famosos e populares livros sobre arte já publicados. Durante 45 anos, permaneceu incomparável como uma introdução a todo o assunto, das mais antigas pinturas em cavernas à arte experimental de hoje. Leitores de todos os tempos e das mais diversas origens encontram em Ernst Gombrich um verdadeiro mestre, que combina o conhecimento e a sabedoria a um talento excepcional para comunicar seu profundo amor pelas obras de arte que descreve. A História da Arte deve sua duradoura popularidade à objetividade e simplicidade do texto, sem mencionar a habilidade do autorpara apresentar uma narrativa fluente. Ele descreve como sendo seu objetivo trazer alguma ordem compreensível à riqueza de nomes, períodos e estilos que preenchem as páginas com as obras mais ambiciosas. Além disso, Gombrich usa sua percepção da psicologia das artes visuais para nos fazer ver a história da arte como uma tela contínua e uma mudança de tradições, em que cada obra reflete o passado e aponta para o futuro. Trata-se de uma corrente viva, que ainda liga o nosso tempo à era das Pirâmides. FILME/VÍDEO ● Título: Moça com brinco de pérola ● Ano: 2003. ● Sinopse: Em pleno século XVII vive Griet, uma jovem camponesa holandesa. Devido a dificuldades financeiras, Griet é obrigada a trabalhar na casa de Johannes Vermeer, um renomado pintor de sua época. Aos poucos Johannes começa a prestar atenção na jovem de apenas 17 anos, fazendo dela sua musa inspiradora para um de seus mais famosos trabalhos, a tela “Girl with a Pearl Earring". REFERÊNCIAS FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. GOMBRICH, E.H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2012. LEMES, J. P. O barroco no Brasil: Arte e educação nas obras de Antônio Francisco Lisboa. (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual de Maringá: Maringá, 2012. PROENÇA, G. A história da arte. São Paulo: Ática, 2011. UNIDADE III NEOCLASSICISMO E ROMANTISMO Professor Mestre Giovanna Renzetti Plano de Estudo: ● Características da escola neoclássica; ● Principais artistas do neoclassicismo; ● Diferenças e semelhanças entre o classicismo e romantismo; ● Esclarecimentos sobre o movimento romântico e a estética romântica. Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as características da escola neoclássica; ● Compreender as semelhanças e diferenças entre o classicismo e romantismo; ● Estabelecer a importância do movimento e estética românticas. INTRODUÇÃO Nesta primeira unidade, vamos conhecer os períodos artísticos neoclássico e romântico. Veremos as características que aproximam e distanciam as duas escolas, bem como os fatos históricos que impulsionaram o desenvolvimento de cada uma. Lembrando que cada manifestação artística é uma expressão dos acontecimentos de seu tempo. Também aprenderemos sobre a estética romântica e sua relação com a filosofia e a poética antiga. No primeiro tópico, aprenderemos sobre as características da escola neoclássica e seus fundamentos atrelados às redescobertas das ruínas antigas, ou seja, das cidades de Pompéia e Herculano. Bem como ao pensamento iluminista e ao pensamento humanista-renascentista, o que desencadeou em uma série de particularidades que retomaram os preceitos clássicos, tais como a simetria, equilíbrio e racionalidade. Já no segundo tópico, aprenderemos sobre os principais artistas do neoclassicismo, com enfoque em dois pintores: Jacques-Louis David e Jean-Auguste Dominique Ingres. Veremos os temas abordados por esses artistas, nas particularidades de cada um. No terceiro tópico, iremos fazer um comparativo entre as características do período neoclássico e romântico. Fazendo uma abordagem entre as aproximações e afastamentos de suas particularidades, nos familiarizando mais profundamente com o período denominado de romantismo e seus artistas. Por fim, no último tópico, iremos nos familiarizar de maneira mais aprofundada no movimento romântico como movimento artístico e também na estética romântica dentro do escopo de teoria da arte. Perceberemos que apesar das semelhanças, a estética romântica foi fortemente influenciada pela filosofia e por uma nova maneira de enxergar o mundo e de posicionar o sujeito frente a ele. 1 CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA NEOCLÁSSICA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/death-socrates-by-jacques-louis- david-751011886 O neoclassicismo surgiu no século XVIII e perdurou aproximadamente até meados do século XIX. Foi uma vertente da arte ocidental que surgiu em Roma e se dissipou pelo restante da Europa. É importante ressaltar que a literatura e a filosofia serviram como apoio para o desenvolvimento das artes visuais desse movimento, bem como para a arquitetura e moda. Isso ocorreu pelo fato de uma nova vertente filosófica denominada de iluminismo - apoiada no racionalismo histórico - estar se desenvolvendo no período em questão. Outro destaque do contexto histórico do período neoclássico se dá para as redescobertas do mundo antigo clássico. Nos anos de 1738 e 1748 as cidades de Herculano e Pompéia, respectivamente, soterradas pelo vulcão Vesúvio estavam sendo escavadas, o que acarretou em descobertas que despertaram a curiosidade e o interesse pela antiguidade clássica. Fato que culminou nas características adotadas pelo estilo neoclássico em suas diferentes facetas e que aqui serão exploradas. Ressalta-se, ainda, que o culto à antiguidade foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humanista-renascentista. Em termos políticos, foi uma época em que houve a transição do regime de monarquias absolutas, com período de revoluções e pós-revolução, sobretudo, a era do império napoleônico - fato que será expresso nas artes. Os artistas, literatos, filósofos tinham por intenção ir além dos exageros da arte barroca e viabilizar o regresso ao rigor, disciplina e clareza das formas do mundo clássico. Por isso a denominação da vertente artística de neoclássica. A teoria base do movimento foi desenvolvida pelo filósofo alemão Winckelmann, o qual relatou em seus escritos a superioridade da arte grega. Sendo assim, as características do período neoclássico retomaram àquelas da antiguidade clássica, tais como o racionalismo, equilíbrio e a técnica. Os temas recaíam, sobretudo, na narrativa de cenas da mitologia clássica, havia também intenção de se distanciar da frivolidade das pinturas rococó. Ainda com a ascensão de Napoleão ao trono, as pinturas retratavam diferentes períodos do império romano, com o imperador em destaque. Segundo Proença: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/death-socrates-by-jacques-louis-david-751011886 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/death-socrates-by-jacques-louis-david-751011886 Nas últimas décadas do século XVIII e nas primeiras do século XIX uma nova tendência estética predominou nas criações dos artistas europeus. Trata-se do academicismo ou neoclassicismo, que expressou os valores próprios de uma nova e fortalecida burguesia, que assumiu a direção da sociedade europeia após a Revolução Francesa e principalmente com o império de Napoleão (PROENÇA, 2011, p. 171). Os artistas apresentavam uma linguagem mais sistemática e acadêmica típica dos modelos clássicos. O que se desejava era imitar as formas criadas pelos gregos antigos e renascentistas italianos, de tal maneira que o termo “imitar” fosse uma expressão ideal do produto artístico clássico. A pintura seguia as linhas racionais da escultura grega, já em termos arquitetônicos, as construções seguiram os modelos dos templos greco-romanos ou das edificações do renascimento, ressalta-se que as produções, independente do campo da arte, buscavam sempre o equilíbrio de suas composições. 2 PRINCIPAIS ARTISTAS DO NEOCLASSICISMO Imagem de Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/pope-pius-vii-sistine-chapel-by- 423235825 Aqui falaremos sobre os dois principais pintores do período neoclássico: Jean- Louis David (1748-1825) e seu discípulo Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867). O primeiro ganhou grande destaque por suas pinturas com temas sobre a revolução francesa e, sobretudo, sobre os fatos históricos durante o governo de Napoleão. Ressaltou em suas pinturas a nobreza da antiguidade clássica a partir de seus temas heroicos e das suas formas equilibradas.Retratou cenas de heroísmo e sacrifício. Na pintura abaixo, é possível observar o equilíbrio e simetria da composição, bem como a nitidez dos contornos, em uma representação do imperador Napoleão - tema histórico. Figura 1 - Bonaparte atravessando os alpes, 1801 - Jean Louis David Fonte: (Proença, 2011, p. 173) https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/pope-pius-vii-sistine-chapel-by-423235825 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/pope-pius-vii-sistine-chapel-by-423235825 Ingres, pintou cenas da mitologia clássica, bem como retratos de Napoleão Bonaparte, em um estilo único, escultural e de maneira quase artificial. Apresentava grande domínio da arte do desenho e dos tons claros. Seus contornos, assim como os antigos clássicos são bem nítidos e se utilizava de poucas cores em suas composições. O destaque da obra de Ingres se dá para suas produções de nus, paisagens e retratos. Na imagem abaixo se observa a organização dos indivíduos e da composição pelas linhas horizontais, representada pelos degraus, como também a construção grega ao fundo e os contornos nítidos das figuras. No centro, a figura do imperador como imagem de maior autoridade, mesclando antiguidade clássica e historicismo. Figura 2 - A apoteose de Homero, 1827 - Jean Auguste Dominique Ingres Fonte: (Spike, 2009, p. 80) 3 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE O CLASSICISMO E ROMANTISMO Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/lake-zug-by-joseph-mallord- william-751011847 A pintura romântica surgiu como resposta às produções artísticas neoclássicas. Pautada pelas revoluções industrial e francesa, os pintores românticos queriam se desprender dos preceitos clássicos da pintura academicista, tinham como intuito dar voz aos seus próprios sentimentos e pensamentos. Tendo como pano de fundo no contexto histórico-político uma época de grandes mudanças, as sensações do momento presente, do nacionalismo e da observação da natureza se manifestaram em produções artísticas. Ressalta-se que o romantismo retomou alguns preceitos da pintura barroca, negados pelos pintores neoclássicos, como a valorização do uso de luz e sombra - contrastes de claro e escuro - o uso da cor, pinceladas soltas, composição em diagonal, formas complexas e expressividade dos sentimentos, angústias e prazeres da época. É interessante observar que os temas se concentraram em duas vertentes: fatos históricos-nacionais contemporâneos e paisagens. O pintor romântico também expressava seus sentimentos através da natureza. Diferentemente do pintor neoclássico, as paisagens ganharam mais destaque nas mãos dos românticos. Entre os pintores mais conhecidos do romantismo estão o espanhol Goya, o francês Delacroix e o inglês Turner. Ambas vertentes retrataram fatos históricos, porém, enquanto o romantismo expressava intenso sentimentalismo em suas composições, os neoclássicos prezavam pelo equilíbrio em suas obras. Em termos compositivos, os românticos recuperaram características do barroco como a composição em diagonal, já na escola neoclássica a simetria prevalecia nas produções. Entre os pintores mais conhecidos do romantismo estão o espanhol Goya, o francês Delacroix e o inglês Turner. Goya se dedicou a retratar membros da corte espanhola, bem como personalidades comuns. Ainda representou cenas históricas. No século XIX o tema histórico presente nas pinturas já era considerado um gênero consolidado. O espanhol https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/lake-zug-by-joseph-mallord-william-751011847 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/lake-zug-by-joseph-mallord-william-751011847 fez uso abundante do efeito de luz e sombra e retomou a composição da tela na diagonal como seus precedentes do período barroco. Figura 3 - Os fuzilamentos de 3 de Maio de 1808, 1815 - Goya Fonte: (Proença, 2011, p. 176) Figura 4 - A liberdade guiando o povo, 1830 - Delacroix Fonte: (Proença, 2011, p. 177) Em termos de paisagem romântica, podemos dizer que esse tema ganhou destaque na Inglaterra do século XIX. Os pintores adeptos desse gênero defendiam o efeito que a paisagem tinha sobre o homem, buscando representar essa interação de sentimentos entre o homem e a natureza. Em termos técnicos, procuraram recriar as cores tais como eram, com suas diferentes nuances causadas pela luz do sol, de maneira realista. Também faziam croquis ao ar livre para representar com maior fidelidade esse jogo de tonalidades. Um dos grandes expoentes da paisagem romântica foi o pintor Turner, o qual por meio do estudo da luz, retratou a movimentação da natureza. Tinha como principal intenção transmitir ao espectador a atmosfera que estava representando. O inglês se utilizava para atingir tal efeito de pinceladas impulsivas e expressivas. Em suma, o que se retratava era menos importante do que o jogo de cores e luz da cena em si. Figura 5 - Chuva, vapor e velocidade, 1844 - Turner Fonte: (Proença, 2011, p. 179) 4 ESCLARECIMENTOS SOBRE O MOVIMENTO ROMÂNTICO E A ESTÉTICA ROMÂNTICA Imagem de Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-monument-greek- philosopher-homer-bronze-1323104681 Na primeira metade do século XIX, floresceu na Europa a “cultura do moderno” apoiada por um entusiasmo ideal, civil e artístico que resultou na revolução romântica. Iniciava-se uma nova maneira de sentimento e representação entre o sujeito e a nova realidade vivida. O movimento romântico, assim como o neoclássico, também se apoiou na antiguidade clássica, no entanto, os românticos direcionaram o olhar para os mitos clássicos, dando voz aos itens sombrios e irracionais da alma humana, desse modo, surgia uma nova sensibilidade romântica. Portanto, houve uma linha tênue entre os escritos da literatura antiga e as interpretações neoclássicas e românticas. Assim sendo, o que alimentou o romantismo foram o sentimentalismo e a irracionalidade, apoiados, também, nas expressões da natureza. Afirma-se que foram movimentos antagônicos: razão versus paixão, harmonia versus dinamismo, porém com raízes em comum. A interpretação dos autores neoclássicos foi guiada pela harmonia perfeita, já a dos autores românticos, pela exaltação do sentimento e busca pela liberdade. Os românticos, a partir das descobertas da antiguidade clássica, atentaram-se à imutabilidade do passado, fascinando-se pelas ruínas e pelos produtos mais obscuros do período medieval, sendo menos condicionados pelo racionalismo e mais abertos aos sentimentos originados a partir daí. Acreditavam que as produções artísticas tinham origem nas emoções do homem e na espontaneidade da natureza, não deixando se limitar pela intervenção da razão. O movimento romântico não considerava mais a arte como uma pura imitação da natureza, mas um sentimento superior condicionado pelo mistério e espírito das ruínas. Em suma, a realidade circundante servia como combustível de inspiração para o artista moderno, dessa forma, a linha sinuosa tomou a frente do movimento, exprimindo https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-monument-greek-philosopher-homer-bronze-1323104681 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-monument-greek-philosopher-homer-bronze-1323104681 valores de sentimentalismo e subjetividade - apoiados nas mudanças que estavam acontecendo na Europa, tal qual os movimentos revolucionários - uma nova maneira de comunicação entre o sujeito e a realidade introduziu-se. Algumas características do período podem ser sintetizadas da seguinte maneira: ● Revolução romântica; ● Estética e poética do romantismo; ● Imaginário romântico: indivíduo, natureza e interioridade; ● Busca de uma harmonia perdida e a relação com o passado; ● Concepção da história e a ideia de nação. A estética romântica teve seuepicentro na Alemanha, foi uma movimentação filosófica e um tanto complexa. Consistiu em uma organização das teorias individuais acerca do gosto, originando, assim, uma estética autônoma e original. Teve sua origem em alguns elementos culturais emergidos durante o período neoclássico e do iluminismo, não negando seus antecessores, no entanto, os românticos inovaram pela consciência com que perceberam a própria modernidade em relação à tradição. O desenvolvimento das ideias da estética romântica teve como base a reflexão e formulação teórica de intelectuais alemães do fim do século XVIII e início do século XIX, em que refletiram sobre o papel da arte e do artista. A poética romântica girou em torno do preceito da liberdade absoluta do espírito artístico e do descarte de qualquer imposição externa limitadora da criatividade do artista. Alguns princípios foram estabelecidos: ● A crítica ao princípio classicista da imitação; ● A polêmica contra as três unidades aristotélicas (tempo, lugar e ação); ● A contestação aberta da divisão tradicional das formas e gêneros literários. Destaca-se que o pensamento do filósofo Kant influenciou a estética romântica, propiciando um novo olhar para o mundo. Segundo Barbosa e Nunes: O pensamento kantiano influenciou os românticos que por sua vez influenciaram Humboldt. Tal influência parte, inicialmente, da estética, já que a mesma proporcionou um novo olhar no e para o mundo. A estética, a partir de Kant (1993 e 2008), transformou, para os pensadores e artistas, o modo de entender o mundo via percepção do sujeito, já que o sujeito passa a ser compreendido não mais como isolado ou mesmo submisso às vontades das deidades, uma vez que o mesmo é entendido a partir de valores apriorísticos ou em outras palavras a carga natural no sujeito em consórcio com os valores morais moldaram o sujeito, isto é, mesmo o homem buscando sua liberdade, a anarquia social, não se desprende das amarras naturais e as convenções referendadas socialmente. Diante disso, a estética proporcionou uma liberdade relativa, já que a construção de elementos via estética significava (ainda significa) a edificação pela imaginação, na qual a criatividade é fomentada e posta em prática. O olhar estético, desde Kant (2008), passando pelos românticos proporcionou a construção de uma nova cosmovisão a qual estava vinculada à importância dos indivíduos (enquanto sujeitos capazes de irem além das imposições naturais e sociais) e a postura destes indivíduos em apontar as incongruências do e no mundo, buscando um maior equilíbrio [...] (BARBOSA e NUNES, 2011, p. 64 e 65) Diante disso, podemos concluir que uma nova visão de mundo foi desencadeada a partir da estética romântica, na qual o sujeito se relaciona com o mundo externo sem abrir mão de sua individualidade, sensibilidade e racionalidade, em que a estética é o aglutinante desses elementos. De forma a compreender o universo da metafísica sem, no entanto, abandonar por completo o pensamento racional, questionando as contradições do gosto e do belo. SAIBA MAIS O filósofo grego Sócrates (469-399 a.c.) foi um dos maiores nomes do mundo antigo. Sua visão de mundo severa e digna foi extremamente influente, ainda que suas opiniões controversas frequentemente o colocassem em conflito com as autoridades. Em 399 a.C. ele foi julgado e condenado por corromper as mentes dos jovens atenienses. Sócrates poderia ter evitado esse destino se desmentisse suas crenças e se exilasse, mas ele se recusou a comprometer seus ideais e optou por morrer. Fonte: (Farthing, 2011, p. 262) #SAIBA MAIS# REFLITA “Se a obediência é o resultado do instinto do povo, a revolta é o resultado da reflexão”. Fonte: Jacques-Louis David. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade teve como objetivo introduzir a você os períodos artísticos conhecidos como neoclássico e romantismo, localizando-os em seus contextos histórico- sociais, apoiados na literatura. Em um primeiro momento, mergulhamos no universo do neoclássico e atestamos como as redescobertas das ruínas antigas influenciaram uma nova maneira de encarar a arte, atrelada aos escritos literários e às transformações históricas vigentes. Dessa forma, fundamentos como a simetria e o equilíbrio tomaram a frente das produções artísticas, em um exercício de mimética clássica sempre em busca do belo e perfeito. Posteriormente, fomos introduzidos a dois pintores do neoclassicismo e aprendemos sobre os temas abordados por cada um deles, verificando suas características em comum, como a retratação dos eventos históricos da época e também os clássicos da mitologia grega. No terceiro tópico, fomos introduzidos ao período romântico em um exercício de comparação entre o romantismo e o neoclassicismo. Percebemos que, embora fossem movimentos antagônicos suas raízes se concentraram na antiguidade clássica, no entanto, com diferentes interpretações de teóricos e filósofos da época. Enquanto os neoclássicos exaltavam a razão e rigidez, os românticos defendiam a paixão e dinamismo. Por fim, fizemos uma revisão histórico-teórica sobre o movimento e a estética romântica, em um estudo mais aprofundado sobre as origens da escola romântica como representação artística e a estética romântica como revisão literária e filosófica. A fim de completarmos nossos estudos, um trecho do artigo sobre arte neoclássica foi disponibilizado com o intuito de nos aprofundarmos nas relações entre o renascimento e a arte grega antiga e as novas interpretações clássicas do século XVIII. LEITURA COMPLEMENTAR A fim de complementarmos nossos estudos sobre a escola neoclássica, leremos a seguir um trecho do artigo “a pintura em foco: o neoclassicismo em uma abordagem historiográfica” dos autores André Albuquerque, Adauto Duque e Rômulo Soares: A arte greco-romana é a “nobre simplicidade e a tranquila grandeza”, as linhas clássicas, claras e simples, surgem como um bálsamo para os que reagem contra as formas exageradas e excessivas do barroco. Mas esta interpretação do passado vai assumir características diferentes daquelas assumidas durante o Renascimento. Os artistas neoclássicos vão basear-se na sua estética, mas vão atribuir-lhe um novo significado e um novo conteúdo, vão usá-la como invólucro da mensagem contemporânea da nova visão do mundo e da sociedade. Mas a grande parte das peças da Antiguidade Clássica descobertas no século XVIII são tridimensionais: a escultura é uma das formas de expressão mais cultivada, então, ao contrário da pintura. Desse modo, a maior influência pictórica assimilada pelos neoclássicos vai ser aquela deixada pela herança das pinturas dos artistas do renascimento e do maneirismo. Mais do que apenas uma revivificação da Antiguidade, o neoclassicismo esteve ligado a eventos políticos contemporâneos. Essa escola artística surgiu em virtude das grandes aspirações revolucionárias que efervesciam na França junto com as mudanças políticas, religiosas e culturais da época. Os ideais da revolução francesa, igualdade, liberdade e fraternidade, eram evocados por todos os cantos, gerando uma comoção em torno do erudito que caminha para o popular. Não é para menos que a arte ajuda a construir esse conjunto de ideários que serão representados pelo neoclassicismo e divulgados como elemento de civilidade e formosura da sociedade. Os temas são tratados com cenas de grande eloquência; a arte, acima de tudo, tinha o papel de difusora dos ideários daquele momento. Artistas neoclássicos buscaram substituir a sensualidade e a trivialidade do rococó por um estilo que fosse guiado pela lógica, solenidade, e de caráter moralizante. Quando movimentos revolucionários republicanos se estabeleceram na França e na América, os novos governos adotaram o neoclassicismo como o estilo para sua arte oficial,