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K 3000 E KTR 3000 Colheita versátil e eficiente para você que produz o melhor café do mundo. Novas Colhedoras de Café K 3000 e KTR 3000, desenvolvidas para as necessidades do pequeno ao grande produtor e pensadas para superar suas expectativas. 2d cb .c om .b r Use o QR Code e descubra as novas colhedoras de café da Jacto. K 3000 E KTR 3000 Colheita versátil e eficiente para você que produz o melhor café do mundo. Novas Colhedoras de Café K 3000 e KTR 3000, desenvolvidas para as necessidades do pequeno ao grande produtor e pensadas para superar suas expectativas. 2d cb .c om .b r Use o QR Code e descubra as novas colhedoras de café da Jacto. O Anuário do Café é imparcial em relação ao seu conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. (34) 3231-2800 ISSN 2316-6290 - 14ª Edição @campo_negocios /revistacen @campoenegocios Acesse nosso cartão virtual Diretora Administrativa Joana D’ark Olímpio Sandoval joana@revistacampoenegocios.com.br Diretora de Jornalismo Ana Maria Vieira Diniz - MTb 5.915MG anamaria@revistacampoenegocios.com.br Núcleo de Jornalismo Editora: Miriam Lins Oliveira - MTb 10.165MG miriam@revistacampoenegocios.com.br Produção: Caio Coutinho redacao@revistacampoenegocios.com.br Departamento Comercial Aline Brandão Araújo aline@revistacampoenegocios.com.br Renata Helena Vieira de Ávila renata.vieira@revistacampoenegocios.com.br Departamento Financeiro Rose Mary de Castro Nunes �nanceiro@revistacampoenegocios.com.br Mírian das Graças Tomé �nanceiro2@revistacampoenegocios.com.br Quer anunciar ou assinar? Aponte a câmera para o QR code Assinaturas Marília Gomes Nogueira marilia@revistacampoenegocios.com.br Raíra Cristina Batista dos Santos raira@revistacampoenegocios.com.br Foto capa Valéria Vidigal Fotos conteúdo Shutterstock Projeto Grá�co/Diagramação Horácio Sei (11) 99983-6777 Viviani Gasparini (11) 97386-3444 (34) 3231-2800 (34) 98721-0000 R. Bernardino Fonseca, 88 – B. General Osório Uberlândia-MG 38.400-220 www.revistacampoenegocios.com.br O Brasil é, indiscutivelmente, uma potência na produção de café, liderando as estatísticas como o maior produtor e exportador global. A área total de café em 2024 deve chegar a 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas. A colheita, realizada com esmero, conrma a expertise dos produto- res brasileiros que, ao longo dos anos, aprimoraram técnicas para garan- tir não apenas quantidade, mas qualidade inigualável. A tendência agora tem sido a cafeicultura regenerativa, conrmando a consciência dos produtores e consumidores por um futuro mais susten- tável, inclusive com baixa emissão de carbono. As diferentes regiões do Brasil oferecem nuances distintas aos grãos, resultando em cafés com pers sensoriais únicos e diferenciados. Do sul de Minas Gerais, com seus cafés encorpados e notas de chocolate, ao cer- rado baiano, que proporciona grãos vibrantes com acidez equilibrada, o Brasil desdobra diariamente uma variedade de sabores que encontra eco nos quatro cantos do planeta. Entretanto, a produção de café não é isenta de desaos. Mudanças climáticas, pragas e questões socioeconômicas impactam diretamente a indústria, mas ainda assim, os produtores brasileiros não se curvam dian- te das adversidades. Em resposta, adotam práticas sustentáveis, investem em tecnologias de ponta e promovem iniciativas para melhorar as con- dições de manejo. Neste Anuário do Café 2024, você vai entender que a produção de café é mais do que um processo agrícola; é uma sinfonia de culturas, téc- nicas e paixões que se revelam em cada xícara. No Brasil, essa tradição �oresce, guiada pela determinação de produtores que moldam o presen- te e o futuro do café. Ao nalizarmos esse trabalho, celebramos com você, leitor, não ape- nas a bebida que nos desperta pela manhã, mas também a riqueza cultu- ral e o empenho humano que a sustentam. Enquanto o aroma do café es- tiver no ar, seremos sempre lembrados, com carinho, de que essa jornada aromática é, verdadeiramente, uma paixão nacional. Miriam Lins Oliveira Editora EDITORIAL 5 07 – PRODUÇÃO 08 - Safra, estoques e valor da produção 22 - Perfil produtivo das principais regiões cafeeiras 28 - Recuperação produtiva das lavouras 30 - Produtividade além dos limites 41 – CUSTOS 42 - Rentabilidade da cultura no Brasil 52 - Entenda como o preço do café é formado 54 - Qual o melhor momento de vender? 57 – MERCADO 58 - Conjuntura mundial da cafeicultura 62 - Balanço econômico das exportações 66 - Mercados mundiais mais promissores 70 - Cafés do Brasil em um mundo fraturado 74 - Os grãos de maior valor agregado 78 - Tendências de consumo 83 – ESPECIAIS 84 - Café brasileiro é eleito o melhor do mundo 91 - Os sabores do Brasil 94 - Dicas para tomar o cafezinho perfeito 96 -Empreendendo com inovação 98 - Indicações geográficas da cafeicultura ÍNDICE6 MERCADO CUSTOS ESPECIAIS PRODUÇÃO 8 P R O D U Ç Ã O SAFRA, ESTOQUES E VALOR DA PRODUÇÃO Os avanços tecnológicos na produção de café têm contrabalanceado a estabilidade na região brasileira, resultando em ganhos expressivos de produtividade. Tal cenário está diretamente ligado à mudança tecnológica observada no setor, justificando os resultados positivos. A área total de café em 2024 totaliza 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas. 9 P R O D U Ç Ã O As safras de 2021 e 2022, por adversidades climáticas, tiveram baixas produtividades, modi�cando a tendência de crescimento que vinha se veri�cando na série de produção. Já em 2023, com as condições climáticas mais favo- ráveis, deu-se início à fase de recuperação das pro- dutividades. A área total, destinada à cafeicultura no país em 2024, espécies arábica e conilon, totaliza 2,25 milhões de hectares, aumento de 0,8% sobre a área da safra anterior, com 1,92 milhão de hectares des- tinados às lavouras em produção, crescimento de 2,4% em relação ao ano anterior, e 336,3 mil hec- tares em formação, redução de 7% em comparação ao ciclo anterior. Vale destacar que, nos ciclos de bienalidade ne- gativa, os produtores costumam realizar tratos cul- turais mais intensos nas lavouras, promovendo al- gum tipo de manejo como poda, esqueletamento ou recepas em áreas que só entrarão em produção nos próximos anos. Nas últimas safras, a estabilidade na área brasi- leira de café tem sido compensada pelos ganhos de produtividade, representados pela mudança tecno- lógica observada na produção cafeeira, fatores que justi�cam os ganhos de produtividade. Arábica A primeira estimativa para a área total da es- pécie indica crescimento de 1,1%, situando-se em 1,82 milhão de hectares. Desse total, 1,53 milhão de hectares estão em produção e 297,5 mil hec- tares em formação. O cultivo do arábica corres- ponde a 80,9% da área total destinada à cafeicul- tura nacional. Nesta temporada, de bienalidade positiva, ocor- re crescimento de 2,7% na área em produção e re- dução 6,2% na área em formação. Minas Gerais concentra a maior área com a espécie, 1.358,9 mil hectares, correspondendo, nesta safra, a 74,5% do total ocupado com café arábica no país. Conilon Expectativa de redução de 0,4% na área total, estimada em 430,5 mil hectares. A área destina- da à produção, prevista em 391,7 mil hectares, re- presenta um crescimento de 1%, e a área em for- mação, situada em 38,9 mil hectares, redução de 12,7% sobre a safra 2023. No Espírito Santo se encontra a maior área destinada ao café conilon do país, com 292 mil hectares no estado, seguido por Rondônia, com 67,7 mil hectares e a Bahia, com 46,5 mil hectares. Para a produtividade média nacional de café, a primeira estimativa indica 30,3 sc/ha, 3% maior em relação à safra anterior. A produtividade do café arábica está estimada em 26,7 sc/ha, aumento de 2% em relação à safra de 2023. A produtividade do café conilon está estimada em 44,3 sc/ha, 6,2% acima da safra anterior. Paraa nova safra, a previsão inicial, somando o café arábica e o conilon, indica o volume de pro- dução em 58.082,2 mil sacas de café bene�ciado, correspondendo a um crescimento de 5,5% sobre o resultado da safra passada. Comparativamente à safra 2022, último ano de safra de alta bienalidade, mas impactada por pro- blemas climáticos, com uma produção de 50.920,1 mil sacas, observa-se um crescimento de 14,1% ou de 7.162,1 mil sacas. 10 P R O D U Ç Ã O Tabela 1 . Comparativo de área em produção, produtividade e produção de café total (arábica e conilon) no Brasil Legenda: (*) Acre, Pará, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Estimativa em janeiro/2024. Fonte: Conab. NORTE 61.164,9 62.480,9 2,2 49,9 51,4 2,8 3.054,3 3.208,8 5,1 RO 60.621,0 61.937,0 2,2 50,2 51,6 2,8 3.041,4 3.195,9 5,1 AM 543,9 543,9 - 23,7 23,7 - 12,9 12,9 - NORDESTE 97.840,0 101.795,0 4,0 34,7 35,5 2,3 3.396,7 3.614,8 6,4 BA 97.840,0 101.795,0 4,0 34,7 35,5 2,3 3.396,7 3.614,8 6,4 Cerrado 5.180,0 5.200,0 0,4 39,6 44,0 11,2 205,0 228,8 11,6 Planalto 49.800,0 52.345,0 5,1 18,1 19,0 5,0 902,6 996,0 10,3 Atlântico 42.860,0 44.250,0 3,2 53,4 54,0 1,1 2.289,1 2.390,0 4,4 CENTRO-OESTE 16.870,0 17.454,0 3,5 27,4 29,8 8,6 462,1 519,4 12,4 MT 11.499,0 11.596,0 0,8 22,6 22,7 0,5 260,3 263,7 1,3 GO 5.371,0 5.858,0 9,1 37,6 43,6 16,2 201,8 255,7 26,7 SUDESTE 1.667.952,0 1.706.179,0 2,3 28,4 29,3 3,1 47.356,6 49.938,4 5,5 MG 1.082.447,0 1.117.289,0 3,2 26,8 26,1 (2,5) 29.005,9 29.181,3 0,6 Sul e centro-oeste 533.271,0 560.148,0 5,0 25,3 26,7 5,2 13.513,0 14.933,4 10,5 Região/UF ÁREA EM PRODUÇÃO (ha) Safra 2023 (a) Safra 2023 (c) Safra 2023 (e) Safra 2024 (b) Safra 2024 (d) Safra 2024 (f) VAR. % (b/a) VAR. % (d/c) VAR. % (f/e) PRODUTIVIDADE (scs/ha) PRODUÇÃO (mil sacas beneficiadas) ES 392.760,0 391.351,0 (0,4) 33,1 38,4 15,8 13.014,0 15.015,5 15,4 RJ 11.197,0 11.398,0 1,8 27,3 29,8 9,1 306,0 339,8 11,0 SP 181.548,0 186.141,0 2,5 27,7 29,0 4,7 5.030,7 5.401,8 7,4 SUL 25.826,0 25.826,0 - 27,8 27,8 - 718,5 718,5 - PR 25.826,0 25.826,0 - 27,8 27,8 - 718,5 718,5 - OUTROS (*) 4.127,0 4.116,0 (0,3) 20,4 20,0 (1,9) 84,1 82,3 (2,1) NORTE/NORDESTE 159.004,9 164.275,9 3,3 40,6 41,5 2,4 6.451,0 6.823,6 5,8 CENTRO-SUL 1.710.648,0 1.749.459,0 2,3 28,4 29,3 3,1 48.537,2 51.176,3 5,4 BRASIL 1.873.779,9 1.917.850,9 2,4 29,4 30,3 3,0 55.072,3 58.082,2 5,5 Triângulo, Alto Paranaíba e noroeste Zona da Mata, Rio Doce e Central Norte, Jequitinhonha e Mucuri 199.471,0 321.449,0 28.256,0 38,0 21,8 31,4 7.588,6 7.016,8 887,5 196.398,0 331.151,0 29.592,0 27,2 23,8 34,4 5.339,0 7.890,7 1.018,2 (1,5) 3,0 4,7 (28,5) 9,2 9,5 (29,6) 12,5 14,7 11 P R O D U Ç Ã O Fontes: Conab Embrapa Observatório do Café Cafés do Brasil chegam a R$ 49,37 bilhões de cálculo bruto No ano-cafeeiro de 2023, o valor total do fatu- ramento bruto dos cafés do Brasil atingiu o mon- tante estimado em R$ 49,37 bilhões. Tal cifra contempla R$ 37,62 bilhões da receita obtida com os cafés da espécie Co�ea arabica (café arábica), o que correspondeu a 76% do total arre- cadado e, adicionalmente, R$ 11,75 bilhões com os cafés da espécie Co�ea canephora (café robus- ta + café conilon), cujo montante, no caso, equiva- le a 24% do total do faturamento do ano-cafeeiro agora em destaque. Como os cafés do Brasil são produzidos nas cinco regiões geográ�cas brasileiras, caso seja ela- borado um ranking em ordem decrescente do fatu- ramento bruto dessa importante atividade agrícola nessas regiões no ano-cafeeiro objeto desta análise, constata-se que a região sudeste, de forma absolu- ta, liderou o faturamento com o cálculo total de R$ 42,49 bilhões, o que equivale a 86% do valor bruto geral em nível nacional. Na sequência, com R$ 3,24 bilhões de estima- tiva de receita com café, �gura a região nordeste, montante que representa 6,5% do total do valor bruto arrecadado. Assim, complementando este ranking, na ter- ceira posição destaca-se a região norte, que teve seu faturamento estimado em R$ 2,54 bilhões, o que corresponde a 5,1% do valor bruto nacional, seguido da região sul, na quarta posição, com R$ 696 milhões de receita, 1,4% do total nacional. E, por �m, vem a região centro-oeste, a qual �- gura em quinto lugar com o faturamento do setor cafeeiro calculado em R$ 396,78 milhões, cifra que representa menos de 1% do faturamento bruto dos cafés do Brasil no ano-cafeeiro 2023. Convém também destacar, nesta divulgação do Observatório do Café, que a análise do faturamen- to dos cafés do Brasil do ano-cafeeiro 2023 tem como base e referência os dados constantes do Va- lor Bruto da Produção (VBP – Dezembro 2023), estudo que é elaborado e divulgado mensalmen- te pela Secretaria de Política Agrícola (SPA), do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o qual também está disponível na íntegra no Observatório do Café do Consórcio Pesquisa Café , rede integra- da de pesquisa coordenada pela Embrapa Café. “A área total de café em 2024 totaliza 2,25 milhões de hectares e uma produção de 58.082,2 mil sacas” 12 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 0,6% em comparação ao volu- me total colhido na safra anterior, justi�- cado pelo aumento da área em produção e, principalmente, pelo ciclo de bienalidade positi- va, além das melhores condições das lavouras, até o momento, nas fases de �oração e formação de chumbinho. A cafeicultura mineira é bastante tradicional e extremamente relevante para a produção nacio- nal do grão. O cultivo acontece em diversas áreas pelo estado, porém, existem algumas mesorregi- ões com características edafoclimáticas importantes, que concentram grande parte dessa área produtora, tal como o sul e centro-oeste mineiro, o Triângu- lo, o Alto Paranaíba, o Noroeste, a Zona da Mata, o Vale do Rio Doce e a Zona Central. De maneira geral, as estimativas iniciais para a safra mineira indicam aumento na área em pro- dução, especialmente pela adesão de áreas que foram reformadas nos últimos anos e que agora pas- sarão a apresentar produção, e aumento na produti- vidade média prevista em quase todas as grandes re- giões produtoras por conta dos efeitos �siológicos positivos previstos para esse ciclo com bienali- dade positiva - exceção apenas ao Cerrado Mi- neiro. Ali, os efeitos de uma alta carga produtiva, na temporada passada, devem impactar no potencial de produção do ciclo atual, já que as lavouras não possuem condições para suportar outra carga ele- vada simultaneamente, sem uma recuperação ve- getativa. MINAS GERAIS NO TOPO PRODUÇÃO ESTIMADA EM 29.181,3 MILHÕES DE SACAS Sul de Minas (sul e centro-oeste) F F F F/CH EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Cerrado Mineiro (Triângulo, Alto Paranaíba e noroeste)* F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Zona da Mata, Rio Doce e Central F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Norte, Jequitinhonha e Mucuri F F F F/CH CH/EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C C C Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set OutMeses 2023Ano 2024 Fases: (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos; (M)=maturação; (C)=colheita. *parte irrigada. 14 P R O D U Ç Ã O Expectativa de crescimento de 15,4% na pro- dução total. Vários fatores interferem posi- tivamente, como: a realização da adubação das plantas, feita pela maioria dos produtores, boa �oração, induzida pelas chuvas acima da média em julho e agosto de 2023, e pela bienalidade positi- va do café arábica. Para o café conilon, a produção está estimada em 11.065,5 mil sacas, aumento de 9% em relação à safra anterior, e para a espécie arábica a produ- ção deverá ser de 3.950 mil sacas, 38,2% acima do volume colhido na última safra. A produção de café arábica se concentra, ma- joritariamente, na região sul do estado. Ali, nesse início de ciclo, as condições se apresentaram rela- tivamente favoráveis à cultura, exceção feita a al- guns períodos de escassez de chuvas e outros, com altastemperaturas oriundas das ondas de calor, e, aliados à menor carga produtiva na safra passada, o cenário é de boa recuperação vegetativa das lavou- ras, permitindo maior viabilidade da carga �oral e da formação dos frutos. De maneira geral, as lavouras estão em fase de formação dos frutos e enchimento de grãos, e vêm se mantendo em boas e/ou regulares condições eda- foclimáticas e �tossanitárias. A perspectiva de um ciclo com bienalidade po- sitiva ajuda a projetar uma safra com crescimento, mesmo que limitado pelo clima, na produção total em comparação à temporada anterior. Pelo calendário agrícola previsto na região, a colheita só deve começar a partir de abril de 2024 e estender suas operações até dezembro do mes- mo ano. ESPÍRITO SANTO LÍDER EM CONILON PRODUÇÃO ESTIMADA EM 15.015,5 MIL SACAS Ano 2023 2024 Meses Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fases* F F/CH F/CH/EF CH/EF GF GF GF GF/M M/C C C C C Legenda: * (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos. (M)=maturação; (C) colheita. 15 P R O D U Ç Ã O Crescimento de 7,4% em comparação ao re- sultado obtido em 2023. Tal crescimento se deve às condições climáticas considera- das satisfatórias na maioria das regiões produtoras, com chuvas bem distribuídas, independentemente da onda de calor ocorrida na metade de novembro, onde as temperaturas chegaram aos 40°C, mas ain- da assim havia umidade no solo. A cafeicultura no estado está pulverizada em diversas regiões, destacando-se os polos ou “pra- ças” consideradas referências na produção de café: a Alta Mogiana, a Média Mogiana e as regiões de Garça e Marília, Ourinhos, Avaré e outros municí- pios. A divisão das regiões é fundamentada nas se- melhanças em características geográ�cas, de clima e pacotes tecnológicos utilizados. Com relação à atual safra, 2024, o início do ci- clo demonstra um cenário favorável à cultura, po- rém, com algumas exceções. As condições climáti- cas, por exemplo, estiveram, no geral, satisfatórias para o desenvolvimento das lavouras na maioria das regiões produtoras. A previsão inicial é de incremento, tanto na área em produção quanto na produtividade mé- dia, ambas em comparação com a temporada pas- sada. SÃO PAULO TEM CENÁRIO POSITIVO PRODUÇÃO ESPERADA DE 5.401,8 MIL SACAS DA ESPÉCIE ARÁBICA Cultivo predominantemente de café arábica, com previsão de estabilidade na produção. Em linhas gerais, o começo do ciclo atual se mostra favorável à cultura. Mesmo com registros pontuais de intempéries climáticas, a fase de formação dos botões �orais e a �oração propriamente dita foram em condições climáticas mais amenas, se comparada ao referido período, além de uma etapa anterior que permitiu melhor recuperação do vigor vegetativo. PARANÁ INVESTE NO ARÁBICA PRODUÇÃO ESTIMADA EM 718,5 MIL SACAS 16 P R O D U Ç Ã O Crescimento previsto em 6,4% na produ- ção total. Arábica: 1.224,8 mil sacas. A alta da pro- dução é atribuída à bienalidade positiva, limitada pela previsão de chuvas abaixo da média. Conilon: 2.390 mil sacas, resultado do bom pa- cote tecnológico, mas limitado pela previsão de chu- vas abaixo da média. O cultivo de café arábica no estado se dá nas re- giões do Planalto (centro-sul e centro-norte baiano) e no Cerrado (extremo-oeste da Bahia). De manei- ra geral, o Planalto se caracteriza pelas áreas de maior altitude e clima ameno, favorecendo o desenvolvi- mento do café na região, especialmente aquele grão destinado à produção da bebida de melhor qualidade. As lavouras de café no Planalto estão divididas em três microrregiões: Chapada Diamantina, Vi- tória da Conquista e Brejões. No Cerrado se cultiva exclusivamente o café do tipo arábica, tendo manejo totalmente irriga- do e possuindo um cultivo concentrado em gran- des propriedades, conduzido por grupos empresa- riais, e tendo 100% das operações de colheita em caráter mecanizado. As lavouras de café no Cerrado estão dividi- das em quatro municípios: Barreiras, Luís Eduar- do Magalhães, São Desidério e Cocos. Para as lavouras do Cerrado baiano, as condi- ções estão mais favoráveis, especialmente em razão do manejo adotado, que inclui o uso de irrigação suplementar e pela alta tecni�cação empregada na cafeicultura local. Além disso, também há perspectiva de acrés- cimo na área em produção pela adição de novas áreas e/ou áreas recém-reformadas que passarão a produzir no atual ciclo. Grande parte das lavou- ras se encontra nas fases de fruti�cação e enchi- mento dos frutos, com bom aspecto �tossanitário e expectativa de bom rendimento, também pelo efeito da bienalidade positiva. BAHIA É FAVORECIDA PELA BIENALIDADE PRODUÇÃO DE 3.614,8 MIL SACAS Fases: (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos; (M)=maturação; (C)=colheita; * cultivos total ou parcialmente irrigados. Ano 2023 2024 Meses Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Cerrado* F F F CH EF EF GF GF GF/M M/C M/C C C Planalto F F F F/CH CH/EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C 17 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 5,1% em comparação à sa- fra passada. Resultado impactado pela ex- pectativa de aumento na produtividade, estimulada pelas condições climáticas favoráveis, pela entrada de novas áreas em produção com clones com maior potencial produtivo, melhor manejo das culturas e à maioria das lavouras estarem equipa- das com dispositivos para irrigação. A cafeicultura no estado está concentrada prin- cipalmente nas regiões que englobam os municí- pios de Alto Alegre do Parecis, Alta Floresta do Oeste, Cacoal, Ministro Andreazza, Novo Hori- zonte, Nova Brasilândia do Oeste e São Miguel do Guaporé. O cenário atual, com a utilização de mudas clonais mais prolí�cas, tem proporcionado exce- lentes resultados, com boa homogeneidade das la- vouras, precocidade na produção, maior uniformi- dade de maturação dos grãos, melhor qualidade, escalonamento da colheita, ganhos constantes e expressivos na produtividade. A cafeicultura rondoniense passou por signi- �cativa mudança a partir da década de 2010, com um aumento expressivo da produtividade. Essa mudança se deve ao melhoramento do sistema de produção com manejo do solo, plantio em sulcos, adensamento da lavoura, podas de condução e pro- dução, irrigação, manejo integrado de pragas e do- enças, e ainda, o manejo nutricional com a prática da fertirrigação e monitoramento nutricional. Entretanto, o principal fator que impulsionou essa mudança foi a adoção da propagação vegetati- va, a clonagem, à qual foi associado o sistema “clo- ne em linha”, no qual se cultiva clones diferentes em uma linha de plantio diferente e o adensamen- to das lavouras. Estima-se que existam em torno de 70 clones presentes nas lavouras de Rondônia, sendo os mais cultivados os materiais 03, 05, 08, 25, 41, 66 (P50), 80, AS2, AR106 etc. A transformação tem origem no empreendedorismo dos agricultores locais e em pesquisas que auxiliaram na identi�cação das ca- racterísticas dos clones e sua adaptação no estado e na Amazônia Ocidental. RONDÔNIA É IMPACTADO PELA PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO ESTIMADA EM 3.195,9 MIL SACAS DE CAFÉ CONILON 18 P R O D U Ç Ã O Acréscimo de 11% em relação à safra pas- sada, justi�cado pelo ciclo de alta bienali- dade. O estado é um tradicional produtor de café, embora nos últimos anos a área voltada à cafeicultura e o volume produzido sejam bem in- feriores. Ainda assim, persiste uma boa concentração de café na região serrana carioca, com destaque para os municípios de Bom Jardim, Duas Barras e São José do Vale do Rio Preto, que possuem tempera- turas mais amenas e maior umidade, além da re- gião noroeste �uminense, onde é encontrado o outro grupo de municípios produtores: Bom Je- sus do Itabapoana, Porciúncula e Varre-Sai, que apresentam um clima mais seco, com temperatu- ras mais altas, tendo o cultivo concentrado nas áre- as mais altas do município, as quaissão propícias para o café arábica. A perspectiva da bienalidade positiva eleva as estimativas de produtividade, se comparadas à tem- porada passada, assim como uma perspectiva inicial de incremento sobre a área em produção devido à adição de novas áreas ou lavouras reformadas que passarão a produzir nesse ciclo. RIO DE JANEIRO ELEVA ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO PRODUÇÃO ESTIMADA EM 339 ,8 MIL SACAS DE CAFÉ ARÁBICA Ano 2023 2024 Meses Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Fases* F F/CH CH/EF EF GF GF GF GF/M M/C M/C C C C Legenda: * (F)=floração; (CH)=formação dos chumbinhos; (EF)=expansão dos frutos; (GF)=granação dos frutos. (M)=maturação; (C)=colheita. 19 P R O D U Ç Ã O MATO GROSSO PRODUÇÃO ALCANÇA VOLUME DE 263, 7 MIL SACAS Previsão de crescimento de 1,3% na produ- ção. Tal aumento decorre da combinação da expansão de 0,8% na área em produção e do aumento do uso de fertilizantes, aliados ao início da produção dos cafezais clonais, resultando em me- lhores produtividades. A mudança no pacote tecnológico emprega- do, principalmente com o uso de materiais clo- nais mais prolí cos, a adoção de práticas de manejo mais sustentáveis e o uso e ciente dos recursos são alguns dos fatores que contribuem para essa evolução, que até mesmo se re�ete na destinação de área para a cultura. Nesse ciclo, por exemplo, a expectativa inicial é de incremento, tanto na área em produção quanto na área em formação de café, se comparado à safra passada. A irregularidade das chuvas levou a um uso mais intensivo dos sistemas de irrigação, re- sultando em um aumento nos custos de produção. No entanto, com a queda nos preços dos ferti- lizantes e defensivos, espera-se que o custo de pro- dução seja menor para esta safra e que a cultura consiga desenvolver seus frutos e ter o enchimento dos grãos em bom rendimento. Previsão de crescimento de 26,7% na produ- ção. Esse crescimento se deve ao aumento de 9,1% na área em produção e, principal- mente, à bienalidade positiva, aliada à entrada de cafezais mais novos, o que proporcionará uma pro- dutividade média de 43,6 sc/ha, 16,2% acima da colhida em 2023. Esse início de ciclo cou marcado por episó- dios importantes de altas temperaturas e períodos de estiagem que afetaram algumas lavouras, tra- zendo registro de alta incidência de bicho-minei- ro (Leucoptera co�eella), acentuando ainda mais os danos sobre a cultura e o seu potencial produti- vo na localidade. As perspectivas atuais são de incremento, tan- to na área em produção, oriundo da adição daque- las que estavam em formação e que agora produ- zirão nesse ciclo, quanto na produtividade média, essa ligado principalmente ao efeito da bienalida- de positiva prevista para esta temporada. Já para a área em formação, as estimativas apontam para drástica redução em comparação a 2023 por conta da erradicação de áreas velhas e pouco produtivas e também pelo planejamento mais otimista do produtor em manter áreas, mes- mo que menos produtivas, em um ciclo de biena- lidade positiva, na expectativa de obter resultados que ao menos lhes permitam algum retorno, para na bienalidade negativa adotar manejos mais drás- ticos. GOIÁS É AFETADO POR PRAGAS PRODUÇÃO ESTIMADA EM 255,7 MIL SACAS DE CAFÉ 20 P R O D U Ç Ã O Como será o amanhã? Estamos trabalhando nele agora. O futuro da agricultura é constantemente reescrito pela inovação. Cada descoberta pode ser um novo salto na produtividade de alimentos e uma esperança para nutrir as próximas gerações. O Grupo Santa Clara coloca a inovação a serviço da produtividade, contribuindo para um futuro sustentável para a agricultura mundial. santaclaragrupo.com.br Anuncio_Institucional_GRUPO_2023_21x28cm_Campo&Negocios.indd 1 01/03/24 12:14 O per�l produtivo das regiões cafeeiras em destaque pode ser in uenciado por uma série de características e peculiaridades que incluem, mas não se limitam a: Altitude: muitas regiões possuem altitu- des variadas, o que impacta diretamente nas ca- racterísticas do café. Altitudes mais elevadas, ge- ralmente acima de 800 metros, estão associadas a grãos de alta qualidade, com acidez mais pronun- ciada e sabores complexos. Clima: as condições climáticas, como tem- peratura e umidade, desempenham um papel cru- cial. Regiões com climas especí�cos podem favore- cer o cultivo de determinadas variedades de café e in uenciar as características de sabor. As altas tem- peraturas podem prejudicar o cafezal, caso o plantio não tenha irrigação. Solo: a composição do solo pode variar, afe- tando a nutrição das plantas de café. Solos ricos em minerais podem contribuir para per�s de sabores dis- tintos. Entretanto, atualmente o agricultor consegue realizar as correções e adubações necessárias para o plantio do café. Deve-se evitar solos com encharca- mento, que são um grande problema para a planta. Variedades de café: diferentes regiões podem ter predominância de variedades especí�cas de café, como arábica ou robusta, e até mesmo cultivares lo- cais adaptadas às condições especí�cas da região. O ideal é fazer um estudo da sua região, antes de de- �nir a variedade. PERFIL PRODUTIVO das principais regiões cafeeiras O perfil produtivo das principais regiões cafeeiras é influenciado por uma interseção complexa de fatores climáticos, geográficos e técnicos. As características únicas de cada região, como altitude, temperatura, solo e métodos agrícolas desempenham um papel crucial na determinação da qualidade e sabor do café produzido. 22 P R O D U Ç Ã O PERFIL PRODUTIVO das principais regiões cafeeiras Práticas agrícolas: métodos de cultivo, co- lheita e processamento do café podem variar. Al- guns agricultores preferem adotar métodos tra- dicionais, enquanto outros buscam inovações e técnicas modernas. Toda prática é válida, desde que seja economicamente viável e traga retorno. Topogra�a: a topogra�a do terreno, in- cluindo o relevo e a inclinação, podem in�uenciar o manejo agrícola, a exposição solar e a drenagem, afetando a qualidade do café. Normalmente, os ca- fezais tendem a �car em áreas um pouco mais de- clivosas quando se faz uma agricultura menor. En- tretanto, ultimamente grandes produtores estão escolhendo áreas com menor declividade para oti- mização e performance da operação. Sazonalidade: o ciclo de colheita e as esta- ções do ano podem in�uenciar a maturação dos frutos, afetando a qualidade do café. Entenda sua região, observe as plantas em volta e converse com seus vizinhos. Regime de chuva: estações de chuva bem de�nidas favorecem uma distribuição consistente de umidade, contribuindo para uma produção es- tável. Em contrapartida, regiões com secas pro- longadas ou chuvas excessivas enfrentam desa�os como estresse hídrico, exigindo adaptações nas práticas agrícolas e sistemas de irrigação, tradi- cionalmente via gotejamento ou pivô, para garan- tir a produtividade do café. “Terroir” do café Essas características, combinadas, criam o que é conhecido como “terroir” do café, como no vinho, que se refere à interação única entre o ambiente lo- cal e as práticas de cultivo. Cada região cafeeira tem seu próprio terroir, e isso pode se manifestar nos sabores, aromas e ca- racterísticas físicas distintas do café cultivado nes- sa região. Por exemplo, cafés cultivados em altitu- des mais elevadas podem apresentar uma acidez mais brilhante e complexidade de sabor, enquanto as condições climáticas podem in�uenciar o de- senvolvimento de notas especí�cas, como frutadas, �orais ou terrosas. O que muda? As diferenças nos métodos de cultivo e práti- cas agrícolas entre as diversas regiões cafeeiras são evidentes e resultam da interação complexa entre fatores geográ�cos, climáticos e culturais. Algu- mas distinções incluem: Espécies e variedades de café: cada região pode favorecer o cultivo de variedades especí�cas de café, adaptadas às suas condições únicas. Es- sas variedades contribuem para a diversidade de per�sde sabor. Sistemas de plantio (sistema agro�ores- tal, consorciado, sombreado ou pleno sol): a es- colha entre os cultivos pode ser estrategicamente utilizada em algumas regiões para in�uenciar as características climáticas e, consequentemen- te, o café produzido, ou simplesmente por uma otimização de espaço ou diversi�cação. E cada um desses métodos irá trazer uma qualidade e sabor diferenciados. Técnicas de colheita: métodos de colhei- ta, como colheita seletiva manual ou mecânica, são selecionados com base em considerações topo- grá�cas e na disponibilidade de mão de obra. Na mesma propriedade é comum ter os dois métodos, o que irá depender do objetivo do produtor quan- to àquela colheita. Nos cafeeiros jovens e algum talhão que tenha se destacado em qualidade, é co- mum utilizar a colheita manual, de forma a preser- var a árvore e a qualidade do fruto. Processamento do café: técnicas de proces- samento pós-colheita, como via seca, via úmida ou processos semi-lavados variam e desempenham um papel fundamental na de�nição do per�l sen- sorial do café. 23 P R O D U Ç Ã O 24 P R O D U Ç Ã O Tratos culturais: as práticas de manejo do solo são ajustadas de acordo com as característi- cas especí�cas do solo em cada região. Adubação, rotação de culturas e conservação do solo são as- pectos considerados pelos produtores. Já as práti- cas de aplicação de defensivos variam de acordo com o monitoramento das áreas ou do manejo do produtor de forma preventiva. Sustentabilidade: o compromisso com práticas agrícolas sustentáveis varia entre as re- giões, re�etindo-se em iniciativas como agro- �orestas, agricultura orgânica ou adesão a cer- ti�cações de comércio justo. E, na cafeicultura, é muito importante para as certi�cações existentes no mercado para valorização do produto. Essas nuances destacam a riqueza de aborda- gens adotadas pelos produtores, que moldam o ca- ráter distintivo dos cafés produzidos em diferen- tes regiões. Influência das condições climáticas As condições climáticas desempenham um pa- pel crucial na produção de café, com diferenças signi�cativas entre as regiões. Em altitudes mais elevadas, acima de 900 metros, o café geralmente amadurece mais lentamente, resultando em grãos mais densos e sabores mais complexos. Contu- do, temperaturas extremas podem comprometer a qualidade e reduzir a produção. A variabilidade no regime de chuvas também é crucial. Regiões com chuvas bem distribuídas podem experimentar até 25% mais colheitas, en- quanto aquelas sujeitas a secas prolongadas podem enfrentar perdas substanciais. Por isso, é importan- te ter outorga e uma irrigação efetiva em situações como essa. Além disso, eventos climáticos extremos, como tempestades, podem resultar em perdas imediatas de até 40%. A vulnerabilidade a geadas, especialmente em regiões propensas, pode reduzir drasticamente a produção em até 50%. Em resposta a esses de- sa�os, os produtores precisam adotar estratégias especí�cas, desde a escolha de variedades resisten- tes até práticas adaptativas, a �m de garantir a sustentabilidade e a qualidade consistentes na pro- dução de café. Tendência As variedades de café predominantes no Bra- sil são a arábica e a robusta, com distribuição ge- ográ�ca especí�ca. A arábica é cultivada em larga escala nas regiões centro-oeste, sudeste e sul, en- quanto a robusta tem destaque em áreas do sudes- te, nordeste e norte do país. Contudo, a escolha da variedade a ser cultivada é in�uenciada por diversos fatores, incluindo o sis- tema de produção e as condições ambientais. Entre as cultivares de arábica (Coffea Arabi- ca) mais comuns no Brasil, destacam-se o Mundo Novo e o Catuaí. Atualmente, existem aproxima- damente 140 cultivares registradas ou em proces- so de inscrição no Registro Nacional de Cultivares (RNC), cada uma apresentando características es- pecí�cas que variam de acordo com o ambiente e o sistema de produção. A espécie Coffea Canephora, englobando os grupos conilon e robusta, contribui com cerca de 25% da produção total de café no Brasil. No país, existem 30 cultivares registradas, a maioria delas clonais, desempenhando papel fundamental nas plantações e renovações das lavouras de conilon e robusta. A Embrapa, por sua vez, desenvolveu dez cul- tivares clonais híbridas de café, resultantes do cru- zamento entre conilon e robusta, especialmente adaptadas à região amazônica. Recomendações A drenagem do solo é um aspecto crucial na produção de café, especialmente em terrenos incli- nados. Sistemas de drenagem adequados são im- plementados para prevenir a acumulação de água, protegendo, assim, as raízes do café de possíveis da- nos. A altitude do terreno, que é determinada pela topogra�a, desempenha um papel signi�cativo na produção de café. Terrenos situados em altitu- des mais elevadas tendem a ter temperaturas mais amenas, o que favorece o cultivo de variedades de café de alta qualidade. A acessibilidade e o manejo em terrenos incli- nados são aspectos fundamentais, com os produto- res adaptando técnicas de colheita e irrigação para lidar com as características especí�cas do terreno. O zonamento do terreno é uma prática comum entre os produtores de café, que leva em conta as características únicas do solo e da topogra�a para alocar de maneira e�ciente variedades especí�cas de café. Além disso, sistemas de irrigação são estrategi- camente implementados em terrenos onde a dis- tribuição natural da água é irregular. Essas práticas de gestão adaptativas à topogra�a não só garantem a produtividade, mas também a sustentabilidade a longo prazo das plantações de café. Desafios da cafeicultura Os produtores de café enfrentam uma gama diversi�cada de desa�os relacionados a pragas, do- enças e outros problemas agrícolas que podem im- pactar signi�cativamente a produção. Produtores de café confrontam múltiplos desa- �os, desde doenças, como a ferrugem, e pragas, como 25 P R O D U Ç Ã O Características sensoriais dos cafés regionais Sul de Minas: frequentemente exibem notas sensoriais que variam de chocolate e caramelo a frutas maduras. Cerrado de Minas: corpo aveludado, acidez equilibrada e notas que variam de frutas a choco- late. Alta Mogiana: bastante frutado, com corpo cremoso e acidez média, com toques de carame- lo, chocolate e nozes. Sudoeste: corpo médio, acidez alta, adocicado, com notas �orais e cítricas. Montanhas: corpo aveludado, acidez alta, adocicado, com notas de caramelo, chocolate, amên- doa, cítricas e frutadas. Acre: cultivado com o robusta. Os cafeeiros são jovens, têm entre três e quatro anos, e recebem o emprego de tecnologias, como cultivo adensado e manejo de poda. Atlântico Baiano: localizado no sul da Bahia, esse polo, formado por 35 municípios, divide com outros dois (Cerrado e Planalto) a produção cafeeira do estado. Somente no Atlântico Baia- no é cultivado o café conilon, que encontra boa luminosidade e clima para a produção. Campo das Vertentes: em maio, essa região, que cultiva arábica e no ano passado produziu cerca de 750 mil sacas de café, foi reconhecida pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) como mais uma área produtora de café em Minas Gerais. a broca, exigindo abordagens complexas de manejo, incluindo resistência genética e controle preciso. A ferrugem do café, uma doença fúngica co- mum, compromete a saúde das folhas e a qualida- de dos grãos, exigindo estratégias que incluem re- sistência genética e aplicação de fungicidas. A broca-do-café, um inseto prejudicial aos grãos, requer estratégias como colheita seletiva, uso de ini- migos naturais e aplicação criteriosa de inseticidas para controle e�caz. Além disso, nematoides, pequenos vermes pa- rasitas, representam uma ameaça às raízes do cafe- 26 P R O D U Ç Ã O Autoria: Daniela Andrade Engenheira agrônoma, mestra em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA), consultora e gestora em Planejamento e Controle de Produção eGestão de Dados daniela.andrade@eldoradoterra.com.br eiro, exigindo rotação de culturas e manejo do solo para minimizar os danos. As condições climáticas extremas, como secas e chuvas excessivas, destacam a necessidade de siste- mas e�cazes de irrigação e drenagem. Custos ele- vados, englobando insumos e mão de obra, junto com a dependência intensiva de mão de obra, im- pactam a viabilidade econômica. Além disso, a incerteza decorrente das mudan- ças climáticas exige ajustes nas práticas de mane- jo. Uma abordagem integrada, envolvendo práti- cas sustentáveis, inovações tecnológicas e pesquisa para variedades resistentes, é imperativa. Portanto, os produtores de café no Brasil en- frentam uma série de desa�os que exigem uma gestão cuidadosa e estratégias adaptativas para ga- rantir a produtividade e a sustentabilidade a longo prazo das plantações de café. 27 P R O D U Ç Ã O Nos últimos anos, os produtores de café en- frentaram grandes desa os por consequên- cia de eventos climáticos adversos que ocor- reram, principalmente na safra 2021/22. Durante o ano de 2023 as lavouras cafeeiras apresentaram uma expressiva recuperação produti- va, que re�etiu diretamente na safra 2023/24 e no incremento de produtividade. Mesmo sendo um ano de bienalidade negativa, as condições climáti- cas favoráveis permitiram uma recuperação produ- tiva expressiva, principalmente na região mineira. Os números expressivos nos resultados dessa safra são resultado da recuperação da produtivida- de das lavouras de café tipo arábica, que apresen- tou incremento na área em produção e na produ- tividade. Nesta safra, alguns estados se destacaram em ganhos de produtividade - Minas Gerais, São Pau- lo e Paraná, em relação ao volume total colhido na safra anterior. Porém, nem todas as regiões produtoras de café tiveram resultados tão expressivos em produ- tividade, principalmente aqueles estados produto- res de conilon. Isso é espelho das condições adver- sas que afetaram a cultura durante o seu ciclo de desenvolvimento, principalmente nos estados da Bahia e do Espírito Santo, principal produtor de café tipo conilon do país. Questão de qualidade Em geral, o clima apresentou um ciclo osci- lante, contudo, foi favorável à cultura. No início do ciclo registrou-se um cenário mais seco, entre os meses de maio e setembro de 2022, e em alguns momentos apresentou temperaturas médias acima 2023 RECUPERAÇÃO PRODUTIVA DAS LAVOURAS As plantas apresentaram melhores condições em relação à safra 2022, tendo em vista que naquele período a seca enfrentada pela cultura fez com que a planta utilizasse um maior percentual das suas reservas energéticas. 28 P R O D U Ç Ã O Autoria: Jaíne Cristina de Jesus Engenheira agrônoma - Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (monteCCer) jainecjesus.agro@gmail.com do normal, em especial antes do início do inverno. Entretanto, já no nal de setembro e início do mês de outubro, as chuvas retornaram com volu- me e frequência satisfatórios. Houve alguns mo- mentos adversos, como um veranico em outubro, mas logo as chuvas se restabeleceram de forma bem distribuída. Floração No que se refere ao desenvolvimento da cul- tura ao longo do ciclo, mesmo que no início o vo- lume de chuvas tenha sido levemente inferior ao período anterior, observou-se que a �orada e a ex- pansão dos frutos foi mais vigorosa, houve menor taxa de abortamento da �orada, maior pegamen- to dos chumbinhos e uma expansão de frutos me- lhor que a safra passada, ainda que sem irrigação. Pensando nas condições em que as lavouras atravessaram para a safra 2023, o engenheiro agrô- nomo e consultor especialista em cafeicultura no Cerrado Mineiro, Amarildo Queiroz Mundim, ex- plica que as plantas apresentaram melhores condi- ções em relação à safra 2022, tendo em vista que naquele período a seca enfrentada pela cultura fez com que a planta utilizasse um maior percentu- al das suas reservas energéticas, dessa forma, com- prometendo o cafeeiro em sua fase reprodutiva. Ainda segundo o consultor, mesmo com o au- mento das temperaturas em relação à média histó- rica em uma das lavouras em que presta consulto- ria, realizando o mesmo manejo da safra 2022 em que colheu cerca de 17 sacas por hectare em virtu- de da seca, na safra 2023 colheu mais de 96 sacas por hectare devido às condições climáticas ideais nos momentos essenciais para o desenvolvimen- to da lavoura. Reação do mercado Devido a essa importante recuperação na pro- dutividade do cafeeiro, o mercado também se com- portou de forma diferente e, de acordo com os pesquisadores do Cepea, como consequência do au- mento da oferta, o preço da saca caiu e operou na maior parte do ano de 2023 em queda. De acordo com a primeira estimativa para a sa- fra brasileira de café em 2024 divulgada no mês de janeiro/2024, as projeções são positivas e estima- -se que deverá se con rmar como ano de biena- lidade positiva. No entanto, a cafeicultura irá enfrentar desa os e incertezas devido às previsões incertas das condi- ções climáticas, principalmente em virtude do fe- nômeno El Niño, que segundo Amarildo Mundim, ainda traz muita dúvida em relação à de nição da produtividade para a próxima safra. Os cafeicultores devem car em alerta a cada fase do desenvolvimento, buscar um planejamento estra- tégico para adaptar-se às incertezas e garantir o cres- cimento sustentável para a cafeicultura brasileira. “A cafeicultura enfrentará desafios e incertezas devido às previsões incertas das condições climáticas, principalmente em virtude do fenômeno El Niño, que ainda traz muitos desafios em relação à definição da produtividade para a próxima safra”. 29 P R O D U Ç Ã O No passado, a produtividade média das la- vouras de café no Brasil se situava na fai- xa de 6,0 a 8,0 sacas bene�ciadas/ha. Até a década de 1960, o parque cafeeiro nacional tinha cerca de 4,0 milhões de hectares e as safras eram da ordem 25 a 30 milhões de sacas. Atualmente, o parque é de cerca de 2,2 milhões de hectares e as safras têm �cado na faixa de 50 a 60 milhões de sacas/ano. A área foi reduzida pela metade, enquanto a produção dobrou, tornando o Brasil o maior produtor do mundo, com 35% de todo o café produzido. A receita do sucesso O alcance de produtividades altas, além dos li- mites, nas lavouras de café, é possível, com uso con- junto das práticas, pois não adianta ter uma boa va- riedade, com potencial alto, se não há condições de expressar uma boa capacidade genética, seja com boa nutrição ou com a própria irrigação, quando o clima não ajudar. Os principais desa�os, na atualidade, para ob- ter safras de café com produtividades além dos ní- veis normais, têm sido o clima, que vem se mos- PRODUTIVIDADE além dos limites As lavouras cafeeiras atuais, tanto de cafés arábica quanto de robusta, vêm aumentando suas produtividades, com grandes avanços na genética das plantas e práticas de manejo. Conseguir boas produtividades exige cuidados especiais dos produtores, mas as tecnologias estão disponíveis a todas as regiões brasileiras. 30 P R O D U Ç Ã O Tabela 1. Efeito do espaçamento (número de plantas/área) sobre a produtividade dos cafeeiros em três ensaios, em distintas épocas. Locais Espaçamentos 4,0 x 4,0 m 4,0 x 0,5 m 5,0 x 2,0 m 3,5 x 2,5 m 2,0 x 0,5 m 3,8 x 2,0 m 3,5 x 1,7 m 1 ,0 x 0,5 m 3,8 x 1,0 m 1,5 x 1,0 m 1 – Ensaio Pindorama - SP (média de 21 safras/1938-1959) 3 - Ensaio Martins Soares (média de 11 safras/1996-2006) 2 – Ensaio Varginha (média de sete safras/1978-1985) Número de plantas ou covas/ha 625 5.000 1.000 1.142 10.000 1.315 1.680 20.000 2.630 6.666 Produtividade sc/ha 8,7 42,7 13,5 13,4 56,0 19,6 17,5 78,0 23,7 40,1 Para a melhoria da produtividade e das sa- fras, foram implementados avanços tecnológi- cos, principalmente em 10 setores, sendo: 1) Zoneamento agroclimático das áreas de cultivo; 2) Introdução de novos espaçamentos; 3) Novasvariedades; 4) Uso de técnicas de correção do solo e adubação; 5) Controle de pragas e doenças; 6) Aumento no uso de irrigação; 7) Maiores níveis de mecanização; 8) Podas para renovação e melhoria de pro- dutividade; 9) Clonagem de materiais genéticos supe- riores; 10) Cuidados na colheita e na pós-colheita. Como exemplos, três tecnologias básicas re�etem as melhorias tecnológicas implemen- tadas nas lavouras. A primeira foi quanto ao espaçamento, que evoluiu de 600 a 800 plantas por hectare para mais de 5.000 plantas. Esse estande tem sido muito importante para resultar em maiores produções. Antes se media a produção por planta, agora a métri- ca é por área. A segunda melhoria foi nas va- riedades, com uso de materiais genéticos com maiores capacidades produtivas. A terceira foi na correção do solo e na nutrição das plantas. Antes se contava com terras férteis para o café, hoje, boa parte da cafeicultura está im- plantada em solos naturalmente pobres, como os cerrados, ou desgastados por uso anterior. A Tabela 1 (pg 31), com dados de experi- mentos com espaçamentos, em períodos mais antigos e mais atuais, mostra a importância do espaçamento e do número de plantas por hec- tare na produtividade dos cafeeiros. Avanços tecnológicos 31 P R O D U Ç Ã O trando desfavorável. Outro fator é o aumento dos custos operacionais e, em algumas regiões, a di�- culdade na realização dos trabalhos, por falta de mão de obra. Produtividades e ganhos com irrigação A produtividade média da cafeicultura brasi- leira se situa na faixa de 28 a 30 sacas por hecta- re, sendo que a produtividade das lavouras de ro- busta, na média, são mais altas, na faixa de 45 a 50 sacas/ha. É possível e desejável aumentar mais essa pro- dutividade, sendo que um fator impeditivo tem sido as condições climáticas adversas, ora pelo efeito do frio intenso, por geadas (Figura 1) e chuvas de gra- nizo, ora por calor demasiado e, principalmente, por dé�cits hídricos (Figura 2). Deste modo, a irrigação é uma das práticas mais importantes no sentido de obter produtivi- dades superiores. No Brasil, 450 mil hectares, equivalentes a 21% da área plantada de café, são irrigados por diferen- tes sistemas de irrigação, como aspersão, pivô cen- tral, gotejamento, etc. Em Minas Gerais, onde a área plantada já supera um milhão de hectares, a Figura 1 – Efeito de geada no cafeeiro Figura 2 – Efeito de déficit hídrico no cafeeiro Marcelo Jordão Fabiano Odebrecht 32 P R O D U Ç Ã O Fotos: André Fernandes cada oito hectares, um é irrigado. A irrigação tem sido utilizada mesmo em regi- ões consideradas tradicionais para o cafeeiro, como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista e Espírito Santo, com resultados excepcionais de produtividade. Em projetos bem estruturados, com uso das práticas adequadas, como irrigação, é viável e eco- nômico produzir na faixa de 60 a 70 sacas/ha, na média bienal, para lavouras de arábica e de 80 a 100 sacas/ha para o robusta. Tem sido possível, em áreas com estresse hí- 33 P R O D U Ç Ã O drico, na faixa de 100 a 200 mm anuais, obter ga- nhos de mais de 40% na produtividade por irriga- ção. Nas áreas normais, como no Sul de Minas, na média de seis safras, incluindo anos bons e maus de chuva, tem-se obtido ganhos de 30%. Na Mogiana, nesses últimos quatro anos, a ir- rigação aumentou mais de 60% a produtividade, e no Triângulo Mineiro existem ganhos de produti- vidade de mais de 100%. Opções Existem diferentes sistemas de irrigação capa- zes de irrigar o cafezal, e a escolha de um ou outro depende do tipo de solo, da topogra�a, do tama- nho da área, dos fatores climáticos, dos fatores re- lacionados ao manejo da cultura, do dé�cit hídrico, do custo do sistema de irrigação e da capacidade de investimento do produtor. Entre os sistemas utilizados para irrigação, destacam-se o pivô central, a aspersão e o goteja- mento. O pivô central aproveita cerca de 80% da área, já que o círculo irrigado não preenche totalmente se o plantio for feito em uma área quadrada. Con- vém salientar que o investimento em pivô central será muito alto se a área irrigada for menor que 30 hectares; porém, em áreas maiores, seu custo de implantação e manutenção são inferiores ao siste- ma de gotejamento. Os primeiros pivôs centrais utilizados para café foram adaptados de outras lavouras, com ir- rigação em área total, ou seja, tanto nas linhas de café quanto nas entrelinhas. Apesar de viabilizar a cafeicultura empresarial nas regiões de cerrado, o sistema pivô central “convencional” ainda apre- sentava o inconveniente da aplicação de grandes volumes de água e com irrigação das entrelinhas do café, exigindo controle mais intensivo das plan- tas invasoras. A partir dessas di�culdades, surgiu uma inova- ção, adaptada da irrigação de pomares de citros nos Estados Unidos, com emissores capazes de irrigar somente a faixa de absorção radicular das plantas. A partir desta tecnologia, pesquisadores e con- sultores brasileiros desenvolveram uma técnica ex- tremamente interessante para a irrigação do cafe- eiro com o pivô central, com plantio realizado em círculo, com emissores localizados sobre as linhas de café, denominados LEPA, sigla que representa, em inglês, Low Energy Precision Aplication, ou seja: aplicação precisa de água com baixo consumo de energia, já que a pressão requerida é menor (Fi- guras 3a e 3b). Figura 3. Irrigação via pivô central com plantio em círculo irrigado com emissor LEPA: a) Detalhes do equipamento; b) Vista aérea de vários equipamentos; c) Robusta irrigado por pivô central em plantio convencional adensado; d) Florada do robusta no pivô; e) Colheita de robusta irrigado por pivô central A B C D E “Em projetos bem estruturados, com uso das práticas adequadas, como irrigação, é viável e econômico produzir na faixa de 60 a 70 sacas/ha, na média bienal, para lavouras de arábica e de 80 a 100 sacas/ha para o robusta” 34 P R O D U Ç Ã O Figura 4. Irrigação por gotejamento superficialPara plantios mais adensados, como os de café robusta, a irrigação tem sido feita com pivôs con- vencionais, com emissores mais modernos, de alta e�ciência de aplicação, que têm permitido a obten- ção de altas produtividades (Figuras 3c, 3d e 3e). Particularidades O sistema de irrigação por gotejamento (Fi- gura 4) se desenvolveu em função da escassez de água. Este sistema aplica água em apenas parte da área, reduzindo assim a superfície do solo que �ca molhada, exposta às perdas por evaporação. Com isso, a e�ciência de aplicação é bem maior e o consumo de água menor. O gotejamento envol- ve vários componentes: Emissores (gotejadores ou microsprayers); Laterais (tubos de polietileno que suportam os emissores); Ramais (tubulação em geral de PVC 35, 50, 75 ou 100 mm); Filtragem (filtros separadores, tela, disco ou areia); Automação (controladores, solenoides e válvu- las); Válvulas de segurança (controladora de bomba, ventosa, antivácuo); Fertirrigação (reservatórios, injetores, agitado- res); Bombeamento (motor, bomba, transformador, etc.). Os gotejadores podem ser do tipo “on line”, que compreendem aqueles acoplados à tubulação de po- lietileno após perfurar a mangueira. São utilizados apenas em áreas muito pequenas. Os gotejadores “in line” são emissores que já vêm inseridos na tubulação de polietileno. Qual- quer que seja o tipo, eles podem ser normais ou au- tocompensáveis (gotejadores cuja vazão varia mui- to pouco se a pressão variar). O mercado já oferece também gotejadores an- ti-drenantes, que irrigam somente quando a pres- são da água estiver acima de um determinado valor mínimo, por exemplo, 8,0 mca (metros de colu- na de água). Esta característica é muito interessante, pois ao ligar o sistema, as pressões se equilibram rapida- mente, o que contribui muito para a uniformidade de aplicação da água. 35 P R O D U Ç Ã O Alternativas Outro tipo de irrigaçãoé o gotejamento sub- super cial (Figura 5), com linhas de emissores en- terradas em uma profundidade superior a 10 cm. Também existe um caso especí co do gotejamen- to enterrado, designado como gotejamento enco- berto, em que o tubogotejador é instalado a uma profundidade inferior a 10 cm. Para preservar o funcionamento do gotejador, é preciso considerar a injeção de algum herbicida para controlar a intrusão radicular. O herbicida Figura 5. Efeitos no enraizamento na irrigação por gotejamento Figura 6. Irrigação por aspersão convencional mais comum é a Tri�uralina (TFN), com mobili- dade muito reduzida em função de sua alta adsor- ção às partículas de argila ou à matéria orgânica. O sistema de gotejamento efetua a irrigação sobre o solo, na área de maior absorção das raízes do cafeeiro, com gotejadores de pequena vazão (1,0 a 10 litros/hora); porém, capazes de irrigar com alta frequência (até mesmo várias vezes ao dia), man- tendo-se a umidade do solo na zona radicular pró- xima à capacidade de campo, condição que facilita a absorção de água pelo cafeeiro. Método convencional A aspersão convencional (Figura 6) também é bastante empregada em áreas menores, embo- ra seja bastante afetada pela ocorrência de ventos de mais de 10 km/h, já que para lançar água em maiores distâncias, o jato de água alcança alturas em que a deriva (arraste da água pelo vento) é mui- to comum. Porém, por ser um sistema que aplica água em área total e de fácil operação e manutenção, tem sido muito utilizado para áreas de café robusta, no Espírito Santo, com excelentes produtividades. Sistema de tripa Outro sistema empregado principalmente no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba é o tubo per- furado a laser, muito conhecido como tripa. Trata- -se de um tubo de polietileno de cerca de 40 mm de diâmetro que possui pequenos orifícios (0,1 mm) que esguicham a água, porém, de forma me- nos e ciente e uniforme, se comparada ao goteja- mento. Na Figura 7, podemos visualizar as áreas irri- gadas dos principais estados brasileiros, com desta- que para Espírito Santo (robusta e arábica) e Mi- nas Gerais (arábica). Figura 7. Irrigação por gotejamento no café, em hectares Fonte: Atlas de Irrigação - ANA (2021) SP RO RJ PR MT MG GO ES DF BA 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 45.754 293 7.860 1.025 143 263 8.782 43.238 134.183 207.742 36 P R O D U Ç Ã O Rentabilidade em lavouras mais produtivas e seus desafios Produzir bem nas lavouras de café traz ga- nhos bem signi�cativos. Os aumentos de produ- tividade diluem os custos �xos, que são necessários para custear a lavoura. Os gastos, embora um pouco maiores nessas lavouras bem produtivas, podem ser divididos por um maior número de sacas produzidas e, assim, o custo por saca �ca menor. Existem muitos exemplos de sucesso de pro- dutores que vêm produzindo bem em suas lavouras de café, em todas as regiões do País, seja na cafei- cultura de montanha (Figura 8), onde os plan- tios são mais adensados, seja em áreas mecanizá- veis (Figura 9). Tratos culturais Tanto no arábica quanto no café robusta, as podas têm sido utilizadas como excelente prática de manejo para garantia de elevadas produtivida- des, pois permitem a renovação da lavoura e a oti- mização dos custos de produção. Na Figura 10 (a e b) estão exemplos de poda para o café arábica. Questões ambientais nas lavouras de café Não tem havido, no geral, problemas graves de meio ambiente nas propriedades cafeeiras, pois a cultura, sendo perene, cobre e protege o solo e o ambiente de forma semelhante a uma �oresta. Não são realizadas intervenções no solo, como aração. O uso de defensivos e de adubos é feito de forma racional. Trabalhos realizados para avaliar a pegada de carbono em lavouras de café têm mostrado que este apresenta balanço positivo. Um estudo encomendado ao Instituto de Ma- nejo e Certi�cação Florestal e Agrícola (Ima�o- ra) calculou quanto as plantações de café emitem de gases e analisou os manejos que mais seques- tram gás carbônico (CO2), seja pelas plantas ou pelo solo. O resultado indicou que as 34 propriedades brasileiras que participaram do inventário têm uma emissão de 4,02 toneladas de CO2 equivalen- te (tCO2e) por hectare ao ano – muito menor que a média global de emissão de fazendas cafeeiras, que é de 28 tCO2e/ha/ano. Os estudos indicaram que o balanço de emis- sões desse grupo de cafeicultores foi negativo: -5,66 tCO2e/ha/ano. Figura 10. Poda por decote e esqueletamento (safra zero), viabilizando altas produtividades a custos mais baixos Fotos: José Braz Matiello Figura 8. Lavoura racional e produtiva mesmo em área de montanha, pelo adensamento do plantio Figura 9. Exemplo de cafezal racional, produtivo, em região mecanizada, com plantio em renque e mais de 5.000 plantas/ha 38 P R O D U Ç Ã O Cafeicultura moderna Outras tecnologias que têm aumentado con- sideravelmente na cafeicultura moderna são as re- lacionadas ao uso de bioinsumos, como bioferti- lizantes e biodefensivos. A intensi�cação do uso destes produtos naturais tem permitido a melhoria da vida no solo, comprovado por meio de análi- ses biológicas do per�l (carbono da biomassa mi- crobiana; respiração basal do solo ou respiração microbiana; processos enzimáticos do solo, den- tre outros), que mostram que dentro das lavouras de café a população de microrganismos é superior ao próprio ambiente natural, por exemplo, de um bioma cerrado. É importante salientar que o uso de bioinsu- mos não se limita à cafeicultura orgânica, sendo também indicado para a cafeicultura tradicional. No geral, quando se pratica a cafeicultura or- gânica, tem-se menores produtividades, pelas di�- culdades de suprir e corrigir problemas de nutrição e de pragas e doenças em tempo hábil. Um fator que pode ser prejudicial a uma pro- dução sustentável de café é a proibição de produ- tos essenciais aos tratos, como alguns herbicidas, inseticidas e fungicidas mais e�cientes, bem como o uso inadequado de sistemas de irrigação e a au- sência do manejo da água e da energia. Práticas regenerativas Nos últimos anos, tem-se falado bastante da cafeicultura regenerativa, que pode ser entendida como um conjunto de práticas de restauração de áreas produtivas que levam à saúde do ambiente como um todo, estabelecendo o tripé da sustenta- bilidade: social, econômica e ambiental. O princípio básico é, portanto, a proteção, e não “O uso de bioinsumos não se limita à cafeicultura orgânica, sendo também indicado para a cafeicultura tradicional”. 39 P R O D U Ç Ã O o esgotamento de recursos naturais (solo e água), criando um ambiente sustentável para o cultivo de café. O objetivo é produzir enquanto se recupera a solo e preserva o meio ambiente. Na verdade, pelo fato de o café se tratar de cul- tura perene, praticamente sem revolvimento de solo ao longo do ciclo e com as novas tecnologias de cultivo de plantas nas entrelinhas (Figura 11), promovendo o equilíbrio das propriedades quími- cas, físicas e biológicas do solo, pode-se dizer que há muitos anos naturalmente a cafeicultura é rege- nerativa no Brasil. Isso pode trazer aos cafeicultores brasileiros benefícios estratégicos para o mercado nacional e internacional. Autoria: André Luís Teixeira Fernandes Pró-reitor da Uniube e sócio proprietário - C3 Consultoria e Pesquisa andre.fernandes@uniube.br José Braz Matiello Engenheiro agrônomo - Fundação Procafé jb.matiello@gmail.com Expectativas O futuro da cafeicultura, praticada para altas produtividades, se mostra promissor. Com o pas- sar dos anos, novas soluções tecnológicas vão sur- gir, como a clonagem, em maior escala, métodos de controle de irrigação com uso mais racional da água e energia, insumos mais adequados, plantas transgênicas, etc. A consolidação desses ganhos produtivos, no en- tanto, vai depender das condições de mercado do café. Na condição atual, com tendência de estabilida- de de preços, no patamaragora vigente, são previstas di�culdades para maiores lucratividades, especial- mente para café arábica, pois o custo de produção, onerado pelo uso de insumos, combustível e despe- sas com mão de obra, vem aumentando e, pode, se não houver mudanças no mercado, desestimular a adoção de novas tecnologias. Figura 11. Cultivo de espécies na entrelinha do cafeeiro 40 P R O D U Ç Ã O MERCADO ESPECIAIS PRODUÇÃO CUSTOS A rentabilidade da lavoura cafeeira é mui- to importante, pois dela depende a per- manência dos cafeicultores na atividade da produção, que constitui a base da cadeia do se- tor cafeeiro, responsável pelas safras, de modo su- �ciente, para favorecer, em seguida, os demais se- tores - do comércio, indústria e do consumo do café. Mas, debater sobre a rentabilidade da cultura de café no Brasil exige conhecimento das condi- ções de cultivo, em variadas regiões, cada qual com suas características. Mesmo dentro de uma deter- minada região, e também dentro de uma mesma propriedade, vão existir diferentes sistemas de ex- ploração e tipos de lavouras. A rentabilidade das lavouras de café está rela- cionada, de um lado, aos custos de produção, obti- dos em cada situação e, do outro, à evolução dos preços do grão. Deste balanço entre custos e recei- tas surge a rentabilidade do produtor. RENTABILIDADE DA CULTURA CAFEEIRA NO BRASIL SAFRA 2023/24 Os custos de produção do café são influenciados por diversos fatores, como a região produtora, sistema de cultivo, a produtividade alcançada e maior ou menor uso de tecnologias. 42 C U ST O S Figura 1. Despesas por hectare e custos de produção por saca em lavouras de café com cinco níveis de produtividade, no estado de Minas Gerais. Fonte: Sebrae Minas/Educampo, Amostra: 262 fazendas, em diferentes regiões do estado MG. Período: Biênio 22/23 Custo total médio por faixa de produtividade CT/saca (R$/sc) Menor que 25 (96 fazendas) Entre 25 a 30 (125 fazendas) Entre 35 a 45 (76 fazendas) Faixas de produtividade Maior que 45 (33 fazendas) R$ /s ac a R$ /h ec ta re CT/área em produção (R$/ha) 0 0 200 5.000 400 10.000 600 15.000 800 20.000 1.000 25.000 1.200 30.000 957,66 20.023,37 20.023,37 27.409,53 18.812,40 655,57 579,99 544,81 Custos de produção Os custos de produção do café são in�uenciados por diversos fatores, como a região produtora, cada qual com seu sistema de cultivo, manual ou mecani- zado, com a produtividade alcançada nas lavouras e com o uso racional das práticas de manejo dos cafe- zais, com maior ou menor uso de tecnologias. In�ui, também, o aspecto gerencial da proprie- dade cafeeira, com a boa administração dos recur- sos, materiais e �nanceiros, favorecendo menores custos de produção do café. Quanto aos sistemas de manejo, as áreas onde se utiliza maiores níveis de mecanização tendem a gerar menores custos de produção do café, em rela- ção aos sistemas manuais, estes mais onerados pelo menor rendimento do trabalho e pelo elevado cus- to da mão de obra. Sobre o uso de técnicas racionais de cultivo e o modo de gerenciamento das propriedades, é im- portante que o produtor utilize os serviços de as- sistência técnica especializados das Instituições o�ciais de AT, dos técnicos de Cooperativas ou de consultorias especializadas. Fonte: Sebrae Minas/Educampo, Amostra: 280 propriedades. Dados biênio 2021/2023 Figura 2 - Custo de produção por hectare em lavouras manuais e mecanizadas por estrato de produtividade O custo de produção varia conforme o estrato produtivo. Para maximizar os ganhos com a atividade cafeeira, é importante o cafeicultor realizar uma boa previsão de safra, para ajustar os custos em relação à produtividade prevista. <20 20 a 30 30 a 40 >40 25.000,00 20.000,00 18.306,30 18.715,11 19.273,97 23.501,75 14.830,77 17.360,60 19.853,79 21.577,43 15.000,00 10.000,00 5.000,00 Produtividade (sc/ha) COT fazendas mecanizadas (R$/ha) COT fazendas manuais (R$/ha) 43 C U ST O S Tabela 1. Custos de produção de café (COE, COT e CT), em 2023, em diferentes regiões, conforme levantamento do projeto Campo Futuro da CNA Estados MG ES RO SP Guaxupé - 28 sc/ha Brejetuba – 35 sc/ha Manhumirim – 27,5 sc/ha Jaguaré - 65 sc/ha conilon S. Miguel Guaporé – conilon - 45 sc/ha Franca - 25 sc/ha Monte Carmelo – 31,5 sc/ha Localidades e nível de produtividade da lavoura Custos de produção, R$ por saca, dados aproximados Operacional (COE) 705,57 549,82 802,98 421,11 613,93 607,84 766,57 COT 937,85 686,44 966,43 506,52 775,03 821,58 945,04 CT 1.242,27 767,41 1.319,00 630,16 895,11 1.095,30 1.174,80 44 C U ST O S No dia a dia devem ser acompanhados os tra- balhos, visando melhores rendimentos operacionais e o uso, de forma mais econômica, de insumos nas lavouras. O produtor também precisa �car atento aos processos de compra dos materiais necessários para suas lavouras, para obter preços mais favorá- veis e, ao �nal, procurar vender melhor os seus ca- fés produzidos. Produtividade Quanto ao efeito da produtividade no custo de produção, é bem marcante. Lavouras mais produti- vas apresentam custos menores por saca produzida, pois, no processo de produção, muitas despesas são �xas e, no conjunto com os custos variáveis, serão amortizadas pelo maior número de sacas. O exemplo da �gura 1 (pg 43) mostra bem isso. Pode-se ver, com base no levantamento feito pelo Sebrae-Educampo, em 262 propriedades situadas no estado de Minas Gerais, que, apesar das des- pesas totais por hectare se elevarem com o mane- jo das lavouras mais produtivas, o custo de produ- ção por saca vai decrescendo conforme o aumento da produtividade. Regiões representativas da cafeicultura Os custos de produção de café são levantados em diferentes níveis e em diversas regiões produto- ras mais representativas. Esses diferenciais podem ser observados com exemplos de custos, levantados pelo Projeto Campo Futuro da CNA, na tabela 1. Veri�ca-se que os valores variam de região para região, pois além de condições ambientais variadas, os padrões adotados, quanto ao sistema de cultivo e à produtividade representativa, em cada região, são diferenciados. 45 C U ST O S Pode-se observar, ainda, que os custos são esti- mados em três níveis. O custo operacional, ou COE, abrange as despesas diretas de produção, com mão de obra, operação de maquinário e insumos. Num segundo nível, para obtenção do custo to- tal (COT), são adicionadas as despesas de pro-labo- re para o produtor, mais as amortizações ou depre- ciações das instalações e do cafezal. Num terceiro nível são adicionados os custos de oportunidade. Análise econômica Numa análise econômica real, deve-se conside- rar o custo total, pois o produtor precisa ser remu- nerado e as instalações e o cafezal necessitam de amortização, pois necessitam, periodicamente, de renovação das lavouras e de manutenção ou aqui- sição de maquinários e benfeitorias. No entanto, em épocas de crises ou períodos de preços baixos do café, o produtor, especialmente aquele de pequenas propriedades, leva em con- ta apenas os seus desembolsos, ou seja, apenas o COE. No aspecto de custo nas diferentes localida- des ou sistema de cultivo, veri�ca-se que, nas con- dições de maior produtividade, como em Brejetu- ba (ES), o custo foi menor. Ainda, em São Miguel do Guaporé (RO) e em Jaguaré, no norte do Es- pírito Santo, com cafeeiros robusta/conillon, tam- bém com maiores produtividades, os custos se mos- tram menores em relação aos demais, levantados para cafeeiros arábica. Despesas adicionais Uma análise da participação dos diferentes itens de despesas no custo operacional de produção de café pode ser feita com base nos custos dos dois tipos de café, arábica e robusta, conforme �gu- ra 3, A e B. Figura 3 A e B. Participação percentual dos itens de despesas no custo operacional efetivo (COE) de produção em dois tipos de café, arábica e robusta/conilon, em 2023 Composição dos custos decafé arábica Mão de obra 33% Fertilizantes 25% Gastos gerais 20% Produtos fitossanitários 9% Mecanização 8% Juros de custeio 3% Corretivos 2% Irrigação 0% Composição dos custos de café conilon Mão de obra 41% Fertilizantes 20% Gastos gerais 19% Produtos fitossanitários 9% Juros de custeio 4% Mecanização 3% Corretivos 2% Irrigação 2% 46 C U ST O S Figura 4. Comparativo dos custos operacionais de produção (COE) nos anos de 2022 e 2023. Comparação COE 2022 x 2023 1.700,00 1.200,00 700,00 200,00 -300,00 -800,00 -1.300,00 -24% -11% 33% -20% -27% 1% -5%-5% -14% -20% -7% -5% -16% -20% 40 % 30 % 20 % 10 % 0% Va ria çã o ( % ) -10 % -2 0% -3 0% BJT GXP PÇF CPL FRN CIT JGRCCO NNR SRS LND NTC ITB RBN 2022 2023 Variação (%) 47 C U ST O S 48 C U ST O S Tabela 2. Preços do café, padrão bebida dura para melhor, verificados na Cooxupé, no decorrer dos anos 2022 a 2023 - Preços correntes em R$/sc Anos Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média 2022 1.480 1.488 1.258 1.253 1.259 1.256 1.119 1.075 1.098 1.033 915 994 1.190 2023 1.030 1.130 1.103 1.115 1.030 928 878 868 802 801 845 925 954 Veri�ca-se que no robusta/conilon, os itens que pesam mais no custo são a mão de obra e os ferti- lizantes. No entanto, observa-se que no cultivo do conilon o primeiro item é mais signi�cativo, repre- sentando cerca de 41% do total. 2022 x 2023 Outra análise importante é a comparação dos custos de produção da safra de 2022 com a de 2023. Na �gura 3 pode-se observar os custos operacionais efetivos (COE), que caíram ligeiramente em 2023, em função da queda dos preços dos fertilizantes. No entanto, no período de colheita do café houve di�culdade de mão de obra, o que onerou os trabalhos de colheita. Por outro lado, os preços do café caíram mais do que o custo de produção, afe- tando a rentabilidade. Preços do café Os preços de café vigentes nos meses de 2023 e sua média, tomando por base aqueles observados na Cooxupé, estão incluídos na tabela 2, e foram comparados com o ano de 2022. Veri�ca-se que, no início de 2022, os preços da saca estavam na fai- xa de R$ 1.400,00, caindo para R$ 1.100,00 em ju- lho e para R$ 990,00 em dezembro. Na média de 2022, o preço se situou em R$ 1.190,00. No ano de 2023, nos mesmos meses, os pre- ços foram de R$ 1.030,00, R$ 878,00 e R$ 935,00, com média, no ano, de R$ 954,00, ou seja, uma re- dução de cerca de 20% de 2022 para 2023. No entanto, se analisada a evolução desde janei- ro de 2022 até dezembro de 2023, em um período de dois anos, a variação com queda maior foi de 37,5%. No caso dos cafés robusta/conilon, baseado na praça de Vitória (ES) (preços do CCC-V), obser- va-se que, no início de 2022 os preços desse tipo de café se situavam na faixa de R$ 800,00/sc, caindo para a faixa de R$ 750,00 em julho de 2022, e mais ainda em janeiro de 2023, para R$ 560,00, daí se estabilizando em R$ 760,00/sc. O projeto Campo Futuro, da CNA, também tem um estudo comparativo dos preços de café. Estes pre- ços se referem a cotações em diferentes localidades do interior das zonas cafeeiras. Em resumo, pode-se veri�car que houve que- da signi�cativa dos preços do café, no ano de 2023, nos diferentes tipos do grão e nas variadas regiões. 49 C U ST O S Autoria: José Braz Matiello Engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Procafé jb.matiello@gmail.com Luiz Gonzaga de Castro Junior Doutor e professor – Universidade Federal de Lavras (UFLA) lgcastro@ufla.br Rentabilidade A margem de renda do cafeicultor brasileiro, na comparação entre os custos de produção levanta- dos no ano de 2023 (tabela 1) e os preços vigentes na maior parte do ano, cujos valores estão na tabe- la 2 e �gura 3, mostrou-se quase sempre negati- va, quando se considera o custo total de produção. Apenas para o café robusta, nas condições de alta produtividade, houve rentabilidade positiva. Quando se compara com o custo operacional (COE), que considera apenas os desembolsos efe- tivos, a rentabilidade foi positiva. Talvez por isso os produtores de café continuam o processo de ex- pansão de lavouras, em parte para substituição de lavouras mais velhas e menos produtivas. Adicionalmente, nas condições de cafeicultu- ra a pleno sol, como no Brasil, após uma safra que não foi tão alta em 2023, existe uma expectativa de aumento em 2024, o que pode gerar um valor bru- to de receita maior. Deve-se ressaltar que as despesas com insu- mos, sendo as principais com aquisição de fertili- zantes que estiveram em baixa em 2023, mais de- fensivos e óleo diesel, têm tendência de retomada da trajetória de aumento. Indicadores de lucro A rentabilidade do produtor de café, conforme análise anterior, depende do balanço entre o custo de produção e os preços recebidos pelo café. Como os preços são de�nidos pelas regras de mercado, ao pro- dutor resta trabalhar para obter menores custos na sua produção. Para alcançar tal objetivo por saca produzida, in- dica-se adotar práticas racionais de manejo, visando economias, sem afetar a produtividade. Dentre estas práticas de melhoria de produtividade e redução de despesas, indica-se o uso de fertilização, com níveis adequados, de forma equilibrada, o uso de podas no sistema safra zero e, quando possível, a irrigação. Os produtores devem, a cada ano, planejar a re- cuperação e/ou a renovação de lavouras pouco pro- dutivas. Também devem adotar melhorias na ad- ministração e controle dos materiais, maquinários e mão de obra, pois o rendimento operacional do trabalho é um dos itens que mais in�ui nos custos da produção. “Nas condições de cafeicultura a pleno sol, como no Brasil, após uma safra que não foi tão alta em 2023, existe uma expectativa de aumento em 2024, o que pode gerar um valor bruto de receita maior”. 50 C U ST O S Quando falamos no café, é importante lem- brar que se trata de uma mercadoria pro- duzida em grande escala e por diferentes produtores. Forma-se uma cadeia de fornecedores nacionais e internacionais, envolvendo uma dinâ- mica complexa. O custo do café é in�uenciado por um con- junto de fatores. A seguir, destacamos quais são os principais. Oferta e demanda: a lei da oferta e demanda global está relacionada ao balanço entre o preço de bens e serviços ofertados e a procura por eles. De forma geral, quanto maior for a procura pelo café, maior será o preço cobrado por ele. Por outro lado, quanto menor for a procura, menor será o seu pre- ço. Busca-se um equilíbrio entre eles para estabili- zar o valor do café. Bolsas internacionais: as bolsas internacio- nais são referência para a preci�cação do café. Para a cotação do arábica, a Bolsa de Nova York é a princi- pal fonte de preço. Já no caso do robusta, a referên- cia é a Bolsa de Londres. Custos de produção: os produtores precisam gastar com adubação, manejo, uso de tecnologia e insumos para produzir o café. Todas essas despesas afetam o cálculo do preço da commodity. Características do café: as características do café negociado também afetam diretamente a de- terminação dos preços. Atributos como origem, tamanho do grão, arábica ou robusta, certi�cações recebidas e rastreabilidade contribuem para a de- �nição do valor. Estoques no mercado interno e externo: os níveis de estoque de café acarretam alterações na es- tabilidade dos preços. Estoques baixos podem tor- nar o mercado mais sensível a eventos imprevistos que afetam a oferta, tanto local como mundialmen- te. Se os estoques (nacionais e internacionais) apre- sentarem elevação e demanda em queda, os preços tendem a baixar em relação à média histórica. Po- rém, se os estoques estiverem baixos e a demanda aumentar, os preços crescem. Condições climáticas: as condições climáti- cas, como secas ou chuvas excessivas, repercutem Entenda como o preço do café é formado O preço do café envolve a interação de fatores complexos, como os diferenciais de qualidade do tipo de café, que não é engessado