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Importância do Brincar nos Espaços Exteriores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 
CENTRO DE EDUCAÇÃO 
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO 
Disciplina: Corpo, ambiente e educação 
Docente: Thaís Oliveira de Souza 
 
 
Resumo/Fichamento 
 
Referência 
 
BENTO, Gabriela. Infância e espaços exteriores: perspetivas sociais e 
educativas na atualidade. InvestigAr em EduCAçÃO - II ª Série, 
Número 4, 2015 
 
 
O artigo 
 
Trata-se de um artigo escrito pela pesquisadora Gabriela Bento. Bento 
é psicóloga pela Universidade de Coimbra, Portugal, com Doutorado em 
Educação pela Universidade de Aveiro, Portugal. Atualmente é pesquisadora 
na ProChild CoLAB. 
O objetivo do artigo é discutir a importância do brincar nos espaços 
exteriores. Na introdução, a autora fala de uma diminuição do brincar 
nos espaços exteriores, acarretando mudanças nas áreas da educação, 
saúde e ambiente. No tópico dedicado a refletir sobre a Infância e 
espaços exteriores na contemporaneidade, a autora destaca: “Ainda que 
associada a uma multiplicidade de fatores, a redução das experiências de 
brincar ao ar livre pode ser explicada pelo aumento do tráfego 
automóvel, que limita os espaços para brincar junto às habitações e reduz 
a sua segurança, pelo crescente desenvolvimento urbano (e.g. 
 
construção de edifícios, estádios, centros comerciais), que ignora as 
crianças, enquanto utilizadoras dos espaços e destrói áreas 
potenciadoras de experiências de brincar (e.g. pequenas matas ou zonas 
verdes) e pelo significativo interesse dos mais novos pelas tecnologias, 
trocando-se o tempo para brincar ao ar livre pela televisão ou compu- 
tador (Freeman & Tranter, 2011)”. (p. 128). Soma-se a isso, “O 
crescente receio dos pais em relação a possíveis perigos, como raptos, 
agressões ou acidentes” (p. 128). 
Essa diminuição do brincar no ambiente externo impacta a forma 
como a criança excerce essa atividade na contemporâneidade, “(...) 
substituem-se os tempos para brincar na rua por atividades estruturadas 
e institucionalizadas, circunscritas a espaços fechados, em que o adulto 
orienta e estrutura o espaço, sem que sejam dadas oportunidades 
significativas para que a criança possa decidir o que fazer e como 
fazer” (p. 128). 
A autora salienta que ao mesmo tempo em que isso acontece, 
prolonga-se também o tempo que a criança passa na instituição escolar, 
“(...) sendo possível considerar que após a escola se seguem “outras 
escolas” (e.g. catequese, inglês, música, explicações), que preenchem o 
horário da criança e retiram tempo ao brincar livre e espontâneo 
(Araújo, 2009).” (p. 128). 
É identificado também uma diminuição dos níveis de autonomia 
infantil. Muitos pais com atitudes de superproteção, acabam 
diminuindo as oportunidades de decisão e ação da criança no ambiente, 
“Atualmente, muitas crianças são transportadas de carro para todo o 
lado, adquirindo um conhecimento muito reduzido do meio onde 
vivem.” (p. 128). Neste ponto uma fala importante da autora é que 
“Comportamentos diários como ir a pé para a escola revelam-se 
 
experiências importantes para o desenvolvimento, através das quais é 
possível desenvolver um sentimento de pertença a um espaço e adquirir 
competências de orientação espacial e resolução de problemas (Rissoto & 
Tonucci, 2002; Tovey, 2007).” (p. 128). É cada vez mais comum perceber 
a ausência das crianças nos espaços urbanos como ruas e parques. 
A partir dessas discussões observamos um crescente número de 
crianças sedentárias, com hábitos não saudáveis de alimentação e 
consequente, o surgimento de problemas de saúde. Bento destaca o 
aumento da obsidade infantil que impacta também psicologicamente a vida 
desses sujeitos. “Importa referir que o aumento do tempo passado em 
espaços fechados também poderá ser prejudicial a outros níveis, tal 
como demonstra o estudo realizado por Viegas e colaboradores (2012) 
(...) foi possível concluir que estes contextos apresentavam reduzidos ou 
inadequados meios de ventilação nas salas de atividades, verificando-se, 
um número significativo de contaminantes acima dos valores de 
referência (e.g. dióxido de carbono, fungos, bactérias), que facilitam a 
transmissão de doenças e contribuem para o agravamento de problemas 
respiratórios.” (p. 129). 
Outro ponto que merece ser destacado é trazido pela autora 
atráves da fala de Neto (2005) “predomina uma preocupação em 
manter as crianças intelectualmente ativas, ignorando-se a necessidade 
destas mobilizarem ativamente o corpo, no sentido de alcançarem 
aprendizagens sólidas, baseadas na experimentação, repetição e erro.” (p. 
129 - 130). 
A partir desses elementos, a autora parte para refletir sobre a 
importância do brincar nos espaços exteriores. Esses espaços possuem 
muitas oportunidades de experiências que o espaço interno não possui. 
“A singularidade das suas características possibilita diferentes formas 
 
de aprender, interagir e comunicar, sendo importante valorizar esta 
diferença e compreendê-la de forma articulada com as características 
do interior (Tovey, 2007) (...) as experiências sensoriais decorridas 
nestes espaços mobilizam a criança como um todo, estimulando-a a ser 
uma construtora ativa do seu próprio conhecimento.”. (p. 130). 
 A autora segue trazendo evidências de como o brincar no 
ambiente exterior pode proporcionar aprendizagens para o dominío 
motor: “(...) permitem a mobilização de competências de coordenação, 
equilíbrio e agilidade, ao oferecerem estímulos que impelem a criança a 
realizar movimentos amplos, rápidos e ruidosos. (...) O desenvolvimento 
motor relaciona-se de uma forma estreita com o desenvolvimento 
cognitivo, considerando-se que a compreensão do mundo é feita a partir 
das interações e explorações da criança. Através do movimento, a criança 
adquire informações em relação ao que a rodeia, testando esquemas 
cognitivos associados à ação, como a aprendizagem de sistemas de 
causa e efeito e a criação de mapas mentais. Outra dimensão importante 
do brincar nos espaços exteriores relaciona-se com a aquisição de uma 
consciência do corpo, em relação ao espaço.” (p. 130). 
Outro ponto a ser destacado é a imprevisibilidade dos contextos 
naturais, “(...) obstáculos que impelem a criança a encontrar estratégias 
de resolução de problemas. Na busca por soluções, surgem também 
oportunidades para a cooperação entre pares e para a partilha de ideias e 
objetivos, mobilizando-se assim importantes competências sociais.” (p. 
131). Além disso, ao enfrentar desafios, essas experiências promovem 
confiança e autoestima, juntando a isso a valorização dos espaços, 
advindo de um sentimento de pertença da criança com o lugar. 
Após essa explanação, a autora se dedica a falar do papel dos 
contextos educativos num novo cenário social. Nos recreios e 
 
intervalos, parece haver pouco investimento dos adultos, sendo 
padronizada a oferta de estímulos. “As práticas pedagógicas são ainda 
muito centradas naquilo que acontece dentro da sala, considerando-se 
que o tempo no exterior serve como “intervalo” das verdadeiras 
atividades educativas, onde as crianças podem esticar as pernas e gastar 
energia (Figueiredo, 2015)” (p. 131). Cotinuando com Neto (2005, p. 
25) a autora frisa, “os espaços exteriores dos contextos educativos estão 
“na maior parte dos casos colocados ao abandono em termos de 
qualidade ambiental (falta de recursos financeiros e humanos), sem 
qualidade de estimulação (materiais e equipamentos) e sem uma 
conceção arquitetónica adequada às necessidades das crianças e 
jovens”.” (p. 131). 
O tempo da criança na escola tem aumentado 
consideravelmente, é importante que os adultos lhe assegurem 
esperiências diversas e ricas. A autora traz uma série de intestigações 
científicas que apontam um movimento em diversos países da Europa 
para a valorização dos espeços exteriores. “Neste contexto de mudança, 
em que emergem novos projetos, iniciativas e abordagens, importa referirque os diferentes contributos mencionados têm ainda uma ação muito 
circunscrita aos países em que surgem, sendo importante continuar a 
investir neste domínio para que seja possível informar e influenciar um 
conjunto mais vasto de pessoas.” (p. 136) 
 
 
Referências principais 
 
Araújo, Maria José. (2009). CRIANÇAS OcuPAdAS. Prime Books: Estoril. 
 
Figueiredo, Aida. (2015). IntERAÇÃO CRIANÇA-esPAÇo exterior em jARDim 
de infÂNCIA. (Tese de doutoramento não publicada). Universidade de 
 
Aveiro, Departamento de Educação, Aveiro. 
 
 
Freeman, Claire, & Tranter, Paul. (2011). Children And their uRBAN 
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Viegas, João, Cano, Manuela, Nogueira, Susana, Papoila, Ana L., 
Proença, Carmo, Aelenei, Daniel, & Neuparth, Nuno. (2012). Riscos 
Ambiente e Qualidade do Ar Interior – Estudo da Qualidade do ar 
interior em creches e infantários (projeto ENVIRH). Ciclo de Encontros 
Científicos a Ciência na Prevenção e Mitigação dos Riscos em Portugal, 8 
de Novembro de 2012, Lisboa, Portugal. 
 
Neto, Carlos. (2005). A mobilidade do corpo na infância e 
desenvolvimento urbano: um paradoxo da sociedade moderna. In D. 
Rodrigues & C. Neto, O corpo que (des)conhecemos (pp.15-30). Lisboa: 
Edições FMH. 
 
Rissotto, Antonella, & Tonucci, Francesco. (2002). Freedom of movement 
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Tovey, Helen. (2007). PlAYing Outdoors. SPACes ANd plACes, risk AND 
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Education.

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