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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO PEDAGOGIA BRUNNA ALLINE DA SILVA JOSÉ LUIZ DA COSTA SILMARA GRASIELA BOGOVICZ DE ASSIS PAZINI Educação Ambiental: ações de conscientização e transformação da visão das crianças da Comunidade Vila Cápua, em Francisco Morato - SP Francisco Morato - SP 2020 Vídeo de apresentação do TCC: https://www.youtube.com/watch?v=DJNRJFIbmbQ&feature=youtu.be BRUNNA ALLINE DA SILVA JOSÉ LUIZ DA COSTA SILMARA GRASIELA BOGOVICZ DE ASSIS PAZINI Educação Ambiental: ações de conscientização e transformação da visão das crianças da Comunidade Vila Cápua, em Francisco Morato - SP Trabalho desenvolvido para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso como requisito para obtenção do diploma do Curso de Licenciatura com Habilitação em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Orientadora: Prof.ª Narayana de Deus Nogueira Aprovado em: __________________________ Conceito:______________________________ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________________ Narayana de Deus Nogueira UNIVESP Presidente _________________________________________________________________ Giovanna Maria Abrantes Carvas IFSULDEMINAS Membro Francisco Morato - SP 2020 Dedico este trabalho ao meu irmão querido Allon Diógenes da Silva “In Memorian”, pela sua amizade, momentos felizes na nossa família e que me inspirou a escolher a Educação como bandeira de um ideal possível. (Brunna Alline da Silva) Dedico este trabalho ao meu marido Ferdinando, que deu todo o suporte para que eu pudesse desenvolver este projeto. (Silmara Grasiela Bogovicz de Assis Pazini) AGRADECIMENTOS Agradecemos aos educadores voluntários e alunos da Associação B. Vila Cápua por acolher nossa pesquisa e realização das atividades, à nossa orientadora Narayana, por toda paciência e disponibilidade conosco e, em especial, às nossas famílias que nos apoiaram e incentivaram durante toda realização deste estudo. RESUMO Este trabalho cumpre o objetivo de desenvolver uma pesquisa baseada em um estudo de caso, na cidade de Francisco Morato, onde localiza-se a biblioteca da Associação Amigos do Bairro da Vila Cápua. Por meio da análise de dados do Programa Verde e Azul, no qual a cidade referida ocupa uma posição muito preocupante no ranking das cidades sustentáveis, justifica- se o interesse em realizar uma pesquisa qualitativa, com vistas à solução para o problema pesquisado com voluntários deste local. Desta forma, foi possível compreender a importância de despertar nas crianças e na comunidade, uma reflexão e mudança de visão pertinente à Educação Ambiental, para que possam melhorar sua qualidade de vida. A partir do Levantamento Bibliográfico escolhido para estruturar a Fundamentação Teórica, foi possível pensar nas atividades práticas que resultaram nas oficinas de construção de instrumentos musicais e brinquedos reciclados. Palavras-chave: Educação Ambiental; Oficinas; Reciclagem; Educação não formal; Interdisciplinaridade; ABSTRACT This work fulfills the objective of developing a research based on a case study, in the city of Francisco Morato, where the library of the Associação Amigos do Bairro da Vila Cápua is located. Through the analysis of data from the Green and Blue Program, in which the referred city occupies a very worrying position in the ranking of sustainable cities, the interest in conducting a qualitative research is justified, with a view to solving the problem researched with volunteers from this place. In this way, it was possible to understand the importance of awakening in the children and in the community, a reflection and change of view pertinent to Environmental Education, so that they can improve their quality of life. From the Bibliographic Survey chosen to structure the Theoretical Foundation, it was possible to think of the practical activities that resulted in the workshops for the construction of musical instruments and recycled toys. Keywords: Environmental Education; Workshops; Recycling; Non-formal education; Interdisciplinarity; LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fotografia 1 – Construção dos chocalhos ................................................................ 31 Fotografia 2 – Contação de história: Iris na Cidade Cinza ........................................ 32 Fotografia 3– Construindo o jogo de Boliche ............................................................ 32 Fotografia 4 – Finalizando o jogo de Boliche ............................................................ 33 Fotografia 5 – Construindo as Castanholas ............................................................. 33 Fotografia 6 – Castanholas ...................................................................................... 34 Fotografia 7 – Descobrindo o Xilovidro .................................................................... 34 Fotografia 8– Xilovidro com baquetas ...................................................................... 35 Fotografia 9 – Cabuletê (montagem e personalização) ............................................ 35 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9 1.1 Contextualização .............................................................................................. 9 1.2 Justificativa ..................................................................................................... 10 1.3 Objetivos ........................................................................................................ 12 1.3.1 Geral ........................................................................................................ 12 1.3.2 Específicos............................................................................................... 12 1.4 Cronograma ................................................................................................... 14 2 METODOLOGIA ................................................................................................... 15 2.1 Método Dedutivo - Exploratório ...................................................................... 15 2.2 Metodologias de Pesquisa .............................................................................. 15 2.3 Pesquisa Qualitativa ....................................................................................... 15 2.4 Levantamento Bibliográfico ............................................................................ 16 2.5 Análise Bibliográfica e Documental................................................................. 16 2.6 Estudo de Caso .............................................................................................. 16 2.7 Pesquisa de Campo ....................................................................................... 16 2.8 Pesquisa-Ação ............................................................................................... 17 2.9 Recursos ........................................................................................................ 17 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 18 3.1 Breve histórico sobre a Educação Ambiental .................................................. 18 3.2 A importância da Educação Ambiental ........................................................... 20 3.3 A Educação Ambiental e as políticas educacionais ........................................ 21 3.3.1 Base Nacional Comum Curricular – BNCC ..............................................21 3.3.2 Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9.795/99 ..................... 21 3.3.3 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica ............................ 22 3.3.4 Parâmetros Curriculares Nacionais .......................................................... 22 3.3.5 O Currículo Paulista ................................................................................. 23 3.4 A interdisciplinaridade na Educação Ambiental. ............................................. 23 3.5 “Transtorno do Déficit de Natureza” ................................................................ 24 3.6 Educação Ambiental em Espaços Não Formais de ensino ............................. 25 3.7 A Pedagogia de John Dewey e a Escola Experimental.................................. 26 3.8 Possibilidades de criação e recriação de instrumentos a partir de materiais reciclados ............................................................................................................. 27 3.9 Brinquedos a partir de materiais recicláveis.................................................... 28 3.9.1 Ludicidade e brinquedos com material reciclável como ferramentas de aprendizagem ................................................................................................... 29 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 31 4.1 Descrição das atividades aplicadas ................................................................ 31 4.2 Relato de experiência das oficinas ................................................................. 36 4.3 A ludicidade na Contação de Histórias: Abordando o tema Déficit de Natureza ............................................................................................................................. 37 4.4 Discussão dos Resultados ............................................................................. 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 43 ANEXOS .................................................................................................................. 49 9 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização Este trabalho visou realizar ações educativas, em espaço não formal, destacando a importância da Educação Ambiental, como forma de complementar as intervenções advindas de ações comunitárias, interligando diálogos entre pesquisadores e professores que atuam na cidade de Francisco Morato – São Paulo. Como etapa inicial desta pesquisa, retomou-se a análise de resultados do ranking do Programa Verde – Azul1, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, quando o referido programa fora abordado no Projeto Integrador, desenvolvido no primeiro semestre de 2020. O mesmo aponta que a cidade ocupa uma posição muito baixa no ranking, em 561° lugar, sendo esta, uma das últimas posições em 2019. Sendo assim, passou-se a compreender a pouca articulação das políticas ambientais aplicadas na cidade de Francisco Morato como um dos fatores principais para que se iniciasse uma pesquisa, com o intuito de sensibilizar a comunidade acerca das possíveis contribuições, teórica e prática, a fim de fortalecer ações positivas no bairro, além de proporcionar um possível material de consulta a professores e/ou educadores voluntários que frequentem o espaço da Associação Comunitária Vila Cápua. Além disso, percebeu-se que os bairros em que são praticadas mais ações degradantes ao meio ambiente, são aqueles que não possuem um Ecoponto ou que não possuem ações educativas através das associações de moradores. A partir da instalação do Ecoponto, sugeriu- se a necessidade de ampliar as atividades de caráter comunitário (orientações sobre higienização e separação de recicláveis) e, assim, focando o tema em Educação em Espaços não Formais, dialogando com as disciplinas: Ciências da Natureza, Geografia, Metodologias Ativas e Projetos Interdisciplinares e Aprendizagem além de aspectos estratégicos e didáticos, que fazem parte das Metodologias Pedagógicas, e que consideram a ludicidade como estratégia educativa. 1 Projeto lançado em 2007, pelo governo do estado de São Paulo, com o propósito de medir e apoiar a eficiência da gestão ambiental com a descentralização e valorização da agenda ambiental nos municípios. O principal objetivo é estimular e auxiliar as prefeituras paulistas na elaboração e execução de suas políticas públicas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do estado. 10 Compreende-se a urgência de propagar o uso sustentável dos resíduos produzidos no bairro referido e, por conseguinte, considerou-se pertinente a proposta de elaborar um material didático, com objetivo de sugerir/apresentar a criação de brinquedos feitos com materiais reciclados, oficinas de Contação de Histórias e até mesmo a recriação de instrumentos musicais, elaborados a partir destes materiais. As oficinas realizadas tiveram participação limitada de 04 crianças por vez, devido à Pandemia de Covid-19, na Contação de histórias o número foi um pouco maior, mas foram respeitadas as orientações de higienização e distanciamento social, e todas as crianças usaram máscaras durante as oficinas. Pretendeu-se utilizar uma linguagem acessível, que considerasse a participação de 08 crianças a partir de 10 anos (que já possuem boa capacidade de socialização e estão alfabetizados, além de possuírem habilidades motoras desenvolvidas) e acolher também seus familiares, de modo a cumprir com os objetivos do presente trabalho. Como ferramentas escolhidas para as discussões e a elaboração deste estudo de caso, que tem cunho qualitativo, considerou-se de grande relevância a utilização do Método Dedutivo, bem como a realização de um Levantamento Bibliográfico e Análise Documental como forma de elaborar esta Pesquisa de Campo. 1.2 Justificativa Ao analisar a questão ambiental da cidade de Francisco Morato, percebeu- se que há descaso com os resíduos gerados pela população da cidade, que tornou- se em uma atitude crônica para os moratenses, e vem se agravando a cada dia, devido à maximização do consumo e descarte irregular. Para mudar essas atitudes crônicas em relação ao consumo e descarte incorreto dos resíduos, é preciso de políticas públicas que vão ao encontro da seguridade do meio ambiente e também políticas educacionais, com o mesmo objetivo, visando a conscientização das crianças em idade escolar, de forma que estas possam desenvolver a consciência ambiental desde a mais tenra idade. Assim, pode-se permitir que tais conceitos sejam assimilados ao longo de seu desenvolvimento cognitivo, social e humano. 11 A Lei nº 9.795/1999 define que a Educação Ambiental (EA), deve ser desenvolvida em conjunto com toda a sociedade, de forma articulada com a educação formal e a informal, onde cada indivíduo possa contribuir com a preservação e a manutenção do meio ambiente, de forma que favoreça a construção de uma sociedade cidadã e ambientalmente consciente, em conformidade com o segundo artigo da referida Lei “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.” (BRASIL, 1999). Conforme Gohn (2016), a educação em ambientes não formais permite situações de aprendizagem e formação cidadã, o compartilhamento de experiências e diálogos tematizados. Dessa forma, o Ecoponto, anexo à sede da Associação Amigos do Bairro da Vila Cápua, em Francisco Morato, visa a participação dos moradores do bairro na colaboração mútua para a destinação de resíduos sólidos, bem como viabilizar que agentespossam contribuir, por meio de uma ação educacional interdisciplinar, que pode se fazer presente neste contexto, de modo a conscientizar os moradores da importância de ações sustentáveis, para que haja qualidade de vida. As autoras Baía & Nakayama (2012) tratam a temática da Educação Ambiental, através de uma ótica embasada na ludicidade, onde apontam que a mesma pode ser utilizada com todos os indivíduos, de todas as faixas etárias, já que a brincadeira é um princípio norteador do processo de ensino e aprendizagem. Assim, ao se trabalhar a ludicidade, no Ecoponto da referida Associação da Vila Cápua, na cidade de Francisco Morato, foi dada, aos indivíduos, a possibilidade de se apropriarem de sua realidade, adquirirem consciência ambiental e social, bem como desenvolverem uma cidadania ativa e participativa no fortalecimento das políticas ambientais. Desta forma, o presente estudo tornou-se relevante do ponto de vista educacional e também do ponto de vista social, pois propiciou a conscientização ambiental para a comunidade local através de ações socioambientais aplicadas nas dependências do Ecoponto da Associação de Amigos do Bairro da Vila Cápua, em Francisco Morato. Ademais, para a comunidade escolar, será possível disponibilizar materiais e incentivos para uma educação ambiental condizente com as políticas 12 educacionais, o que incentiva, e muito, a preservação ambiental, através formalização da educação ambiental em espaço não formal. A escolha da idade do público alvo nos traz uma série de argumentos favoráveis, pois aos 10 anos de idade a criança já possui um desenvolvimento cognitivo e motor bem avançados, já está alfabetizada e é capaz de dialogar e se expressar plenamente. Conforme descrito por Cunha (2008, p. 17) a criança encontra-se em “... um estado de plena socialização...”, interagindo com a realidade que a cerca, compreendendo as regras e orientações estabelecidas durante uma atividade colaborativa, visando um objetivo em comum. O autor Cunha (2008, p. 18) também traz a ressalva de que “... que a ideia Piagetiana de socialização diz respeito a um estado em que o indivíduo participa ativamente – e percebe-se como participante – da elaboração das regras que comandam a vida social”. A criança, então, com essa idade, por estar já habituada a uma rotina escolar, é capaz de se expressar e opinar, o que facilita o consenso de possíveis procedimentos que foram realizados nas oficinas, conforme também foi levado em conta seu interesse. O referido autor também considera importante trabalhar de forma colaborativa, onde as crianças podem contribuir umas com as outras, na resolução de dificuldades de aprendizagem, ou colaborando com conhecimentos prévios sobre o assunto abordado. 1.3 Objetivos 1.3.1 Geral O objetivo geral deste Trabalho de Conclusão de Curso foi abordar a Educação Ambiental como parte da formação cidadã a fim de fortalecer a prática da sustentabilidade com crianças de 10 anos da comunidade da Associação Amigos do Bairro Vila Cápua, espaço comunitário que desenvolve atividades educativas diversas, e que é localizada na cidade de Francisco Morato - SP. 1.3.2 Específicos Para que o objetivo geral fosse alcançado, foram estipulados alguns objetivos mais específicos: 13 1. Aproximar os conhecimentos científicos das ações comunitárias realizadas na Vila Cápua; 2. Evidenciar a importância da participação das crianças na preservação do local onde vivem; 3. Ampliar os conhecimentos do público alvo acerca do meio ambiente, os problemas ligados a ele e as possibilidades de reciclagem; 4. Discutir com as crianças sobre práticas de sustentabilidade; 5. Organizar oficinas com as crianças para construção de brinquedos manipulando materiais reutilizados e estimulando a criatividade delas; 6. Favorecer a interação social entre crianças e adultos; 7. Estimular as crianças a desenvolverem habilidades socioambientais a fim de contribuir para sua formação integral; 14 1.4 Cronograma Atividades Set. Out Nov. Dez. Semanas Semanas Semanas Semanas Levantamento bibliográfico. Delimitação do tema principal. Definição dos objetivos. Escolha do caso a ser analisado. Análise e interpretação das informações coletadas. Revisão bibliográfica. Redação da entrega parcial – Módulo 3 Entrega parcial – Módulo 3 Redação da entrega parcial – Módulo 5 Entrega parcial – Módulo 5 Redação e revisão da entrega final Entrega final 15 2 METODOLOGIA Conforme descrito no Livro Metodologia Científica: Teoria e Aplicação à Distância, de Menezes et al. (2019), é através da metodologia que se conhece os procedimentos e abordagens utilizadas, e se descreve as informações de forma clara e objetiva, em que as partes escritas revelam a conexão e a coesão dos métodos e objetivos escolhidos, para que o leitor compreenda o trabalho realizado. 2.1 Método Dedutivo - Exploratório O método dedutivo foi escolhido para este trabalho porque nos permitiu iniciar as questões a respeito de um tema que pode ser desenvolvido, considerando aspectos locais, sociais ou de demanda, para solucionar os problemas apontados na pesquisa. De acordo com Bacon apud Borges (2014, p. 93) “Utilizando-se da dedução, poder-se-ia elaborar uma hipótese abrangente e, por meio da dedução chegar a um problema em concreto.”. É exploratório porque cumpriu o “esclarecimento de ideias”, a fim de fornecer uma “visão panorâmica” de um “determinado fenômeno... pouco explorado” (GONSALVES apud MENEZES et al., 2019, p.34), e que colaborou para a compreensão do tema investigado, e foi parte da investigação bibliográfica. 2.2 Metodologias de Pesquisa Conforme Menezes et al. (2019), cada tipo de pesquisa se delineia pelo tipo de coleta, nesse caso, de origem textual, selecionados para a pesquisa referida. As metodologias escolhidas para a elaboração deste trabalho, consideraram: a realização de um Levantamento Bibliográfico e Análise Documental, Pesquisa de Campo, bem como uma Pesquisa – Ação. 2.3 Pesquisa Qualitativa Essa pesquisa é qualitativa, porque, segundo Apolinário apud Menezes et al. (2019), permitiu lidar com a natureza dos fenômenos em estudo e, no caso do referido trabalho, analisou-se as informações coletadas em um pequeno grupo de pessoas, por meio de entrevistas, pois estão ligadas às atividades comunitárias desenvolvidas no Ecoponto da referida Associação da cidade pesquisada. 16 2.4 Levantamento Bibliográfico Pesquisa de publicações disponíveis, como livros, “... publicações periódicas, artigos científicos...” (MENEZES et al., 2019, p. 37), valendo aprofundamento na área ou tema, serviram como base para fundamentar os aspectos teóricos e práticos deste trabalho. 2.5 Análise Bibliográfica e Documental O trabalho também foi norteado pelas análises das publicações acadêmicas, que realizaram pesquisas voltadas para esta finalidade educativa, compondo a Fundamentação Teórica desta pesquisa. Nesse caso em específico, Gil (2002) explicita que se leva em conta os dados obtidos empiricamente, cabendo a interpretação de dados, mas que já foram discutidos pelos organizadores da pesquisa. Ou seja, parte do levantamento de informações disponibilizadas por meio de programas ambientais da referida cidade, da análise de dados disponibilizados no site do Governo de São Paulo, do Programa Verde-Azul, em destaque ao ranqueamento dos municípios, onde foram apontados os aspectosanalisados comentados durante a pesquisa. 2.6 Estudo de Caso Segundo Gil (2002, p.54) “Estudo de caso é uma modalidade de pesquisa... utilizada nas áreas das ciências biomédicas e sociais.”. Hoje é uma modalidade que explora situações da vida real, contexto do local de estudo. Também foram consideradas outras fontes não científicas, já que foram oriundas de ações comunitárias na cidade pesquisada ou em cidades vizinhas ou que sejam pertinentes. Também foram utilizados como fontes, registros como reportagens, publicações em redes sociais, plataformas digitais, etc. 2.7 Pesquisa de Campo O presente trabalho tem como característica seu aspecto qualitativo, onde parte dos dados foi coletada através de entrevistas, cuja finalidade foi observar e identificar quais as necessidades da comunidade local, que deveriam ser viabilizadas por meio de uma ação educativa interdisciplinar. 17 Neste caso, o referido estudo permeou a área da Pedagogia, nas disciplinas de Geografia, Ciências e Educação em Espaços Não Formais, aproximando aspectos teóricos que envolvem a questão ambiental na Comunidade Vila Cápua, em Francisco Morato – São Paulo. Foi uma pesquisa exploratória, pois, segundo Mattar apud Carnevalli & Miguel (2001), aprofunda o conhecimento do pesquisador, ajudando a formular hipóteses, ou na formulação dos problemas de pesquisa. 2.8 Pesquisa-Ação Trata-se de uma pesquisa ação, já que foram utilizados os campos teóricos em benefício de uma prática educativa, a qual foi observada in loco, por meio da aplicação do material didático desenvolvido com o público alvo deste estudo, ou seja, de acordo com Thiollent apud Gil (2002), cumpre a possibilidade de proporcionar a resolução de problemas. Vergara apud Menezes et al. (2019) define que a Pesquisa-Ação é “um tipo particular de pesquisa participante e de pesquisa aplicada que supõe intervenção participativa na realidade social.”. (VERGARA apud MENEZES et al., 2019, p. 45). 2.9 Recursos Levando em conta o contexto atual em que o país, bem como todo o mundo, se encontra, vivenciando uma pandemia que exigem ações sanitárias adequadas que viabilizem a segurança dos participantes e pesquisadores, nestes casos, foram adotadas as seguintes medidas para a realização dos encontros e confecção dos materiais: Realização de oficinas com número reduzido de participantes; Arrecadação de materiais recicláveis previamente higienizados e direcionados para cada participante; Livros encapados e higienizados antes do uso; Livros de histórias e/ou elaboração de histórias de autoria própria. 18 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Breve histórico sobre a Educação Ambiental A crescente demanda humanitária exigiu que mecanismos tecnológicos e modernos fossem desenvolvidos. Esses avanços tecnológicos são muito bem-vindos em nossa rotina diária, seja para o trabalho, para a saúde, bem-estar e lazer, enfim, a tecnologia é extremamente benéfica para a humanidade. E, para atender à demanda humana, as indústrias precisam trabalhar assiduamente, consumindo as riquezas naturais do nosso planeta e emitindo dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, produzindo resíduos. Somado a isso, as atitudes negligentes da população contribuem com a situação do atual esgotamento dos recursos naturais e degradação ambiental. Apesar desta situação alarmante que o meio ambiente se encontra, há uma grande preocupação ambiental por parte do ser humano. No início, essa preocupação era tímida e lenta em seu desenvolvimento, mas vem ganhando apoio de comunidades e órgãos públicos e privados e, atualmente, a preocupação ambiental está sendo fortalecida e estruturada como uma área das ciências educacionais: a “Educação Ambiental”. Em 1962, Rachel Carson alertava, em seu livro “Primavera Silenciosa”, sobre o uso indiscriminado de pesticida e sobre os danos ao meio ambiente causados pelas ações humanas (BONZI, 2013). Já em 1965 surgiu o termo "educação ambiental", em uma conferência sobre educação, na Universidade de Keele, na Grã-Bretanha, embora existam relatos de que a expressão já fazia parte de discursos de professores universitários desde 1945 (RUFINO & CRISPIM, 2015, p. 3). O ano de 1972 passa a ser histórico para a questão ambiental, quando documentos e estudos importantes foram publicados. O Clube de Roma divulgou o relatório “Os Limites do Crescimento”, com objetivo de expor possibilidades desagradáveis de futuro se a humanidade não repensasse suas ações. A Organização das Nações Unidas (ONU), em Estocolmo na Suécia, realizou a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, evento esse que reuniu 113 países e o resultado foi a elaboração da “Declaração sobre o Ambiente Humano” que é um documento de grande valia para a área ambiental (RUFINO & 19 CRISPIM, 2015, p. 3). Após 1972 foram realizados vários outros encontros, discussões e conferências que resultaram em grandes avanços para proteção e conservação ambiental. Seguindo o crescente pensamento internacional sobre as questões ambientais, em 1981 o Brasil institui a Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei 6.938/1981, que tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981). A Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, ficou conhecida como RIO 92. Essa Conferência produziu grandes feitos, entre eles o reconhecimento da “Educação Ambiental como o processo de promoção estratégico desse novo modelo de desenvolvimento” (RUFINO & CRISPIM, 2015, p. 4). A RIO 92 produziu várias discussões nacionais sobre o Meio Ambiente ao ponto de o Governo Federal instituir, em 27 de abril de 1999, a Lei 9.795, que trata sobre a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999). Seguindo essa mesma perspectiva, o Governo Estadual Paulista, em 2007, lançou o Programa Município Verde Azul – PMVA. Tal programa foi e é desenvolvido pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, cujo objetivo é apoiar a gestão ambiental eficiente dos municípios do Estado de São Paulo, através de estratégias de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável na geração de renda, saúde e qualidade de vida. Ele também privilegia a educação ambiental como meio de assegurar a qualidade ambiental (SÃO PAULO, 2020). Em setembro de 2015, diante de fortes recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil e mais 192 países se comprometeram com a Agenda de Desenvolvimento Sustentável, a Agenda 2030, que está baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são ao todo 17 objetivos que defendem amplamente o desenvolvimento econômico alinhado com a preservação ambiental. Ainda estabelece que seja criado um programa de educação ambiental robustecido para mobilizar a população. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS - CNM, 2017). Contudo, a educação ambiental surgiu com o intuito de gerar mudanças na humanidade em seu modo pensar e agir 20 Frente às ameaças à saúde e à qualidade de vida, tanto dos seres humanos, quanto de todos os seres do planeta, oriundas de um modo de vida insustentável, como um importante instrumento para a busca por controle e reversão da complexa crise planetária. (BÔLLA, 2019, p. 96). Assim, a educação ambiental é fomentadora para a construção de uma sociedade consciente de seus direitos e principalmente de seus deveres ambientais, e ainda tem o propósito de efetivar a prática da cidadania pelos indivíduos, e que estes busquem a comunhão entre homem-natureza. 3.2 A importância da Educação Ambiental O progresso tecnológico ocorrido no mundo desde a revolução industrial desencadeou inúmeras melhoriasna vida humana, mas impulsionou largamente a degradação ambiental. Apesar das muitas iniciativas de promoção da Educação Ambiental, defendidas por Organizações Não Governamentais (ONGs), igrejas, empresas e órgãos ambientais públicos, no Brasil é registrado altos índices de degradação ambiental, tomando como exemplo, as regiões norte e centro-oeste que são acometidas pela exploração ilegal de madeira da floresta amazônica e pelo aumento territorial da pecuária e agricultura, destruindo biomas importantes para o equilíbrio climático do Brasil e do mundo. Outro exemplo é no estado de São Paulo, um dos estados mais industrializados do país e que possui altos índices de liberação de esgoto doméstico e industrial em rios e mananciais. Estes exemplos retratam que as populações ainda apresentam um grau de educação ambiental insatisfatório, se esquecem do meio ambiente sem o qual é impossível sobreviver. Diante do contexto supracitado, a educação ambiental é de extrema importância, pois de acordo com Medeiros et al. (2011. p. 2) “A cada dia que passa a questão ambiental tem sido considerada como um fato que precisa ser trabalhada com toda sociedade”. A educação ambiental é importante para a construção de uma sociedade sustentável, e para que essa construção seja bem alicerçada, as políticas ambientais 21 e educacionais estabeleceram a educação ambiental desde o início da educação básica2, para que, como Medeiros et al. (2011) diz [...] as crianças bem informadas sobre os problemas ambientais vão ser adultas mais preocupadas com o meio ambiente, além do que elas vão ser transmissoras dos conhecimentos que obtiveram na escola sobre as questões ambientais em sua casa, família e vizinhos (Medeiros et al., 2011. p. 2). Para mais, a educação ambiental desenvolvida com crianças objetiva a formação da consciência ambiental completa de modo que, quando adulto, o indivíduo tenha uma formação integral e se torne apto ao exercício da cidadania. 3.3 A Educação Ambiental e as políticas educacionais 3.3.1 Base Nacional Comum Curricular – BNCC Na seção “Competências Gerais da Educação Básica”, da Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018, p. 9), é trazido o conceito: socioambiental. Esse conceito é uma espécie de junção das questões sociais – os problemas sociais – com as questões ambientais – os problemas ambientais. Diante da BNCC, ele deve ser tratado como um tema interdisciplinar, pois abrange todas as áreas de conhecimento, disciplinas do currículo, e desenvolve todas as habilidades necessárias em cada etapa da educação básica e, consequentemente, contribui com a formação global do aluno. Ademais, na BNCC este conceito está respaldado na Lei nº 9.795/1999, que trata sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, nos Parâmetros Curriculares Nacionais. 3.3.2 Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9.795/99 A Lei nº 9.795/1999, em seu segundo artigo, nos traz a seguinte informação A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não- formal. (BRASIL, 1999). 2 O conceito de educação básica foi ampliado a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, e usa este termo para denominar o nível da educação escolar brasileira que compreende a educação infantil (2 anos), o ensino fundamental (9 anos) e o ensino médio (3 anos). De acordo com a LDB, “a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar- lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. (BRASIL, 1996). A criança inicia a educação básica obrigatória aos 4 anos de idade, na Educação Infantil, e finaliza aos 17 ou 18 anos, no Ensino Médio. 22 A referida Lei ainda define que a Educação Ambiental deve ser desenvolvida em conjunto, com toda a sociedade, e que cada um contribua com a manutenção do meio ambiente de forma que favoreça a construção de uma sociedade cidadã e consciente ambientalmente. Além disso, a educação ambiental tanto em espaços formais como em não formais de ensino, deve estimular a aquisição de valores, atitudes, conhecimento, habilidades e competências. 3.3.3 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica também estabelecem que seja desenvolvida a educação ambiental de forma integrada e interdisciplinar nas escolas, propondo ainda que Educação Ambiental envolve o entendimento de uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa, em que cada sujeito aprende com conhecimentos científicos e com o reconhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando a tomada de decisões transformadoras, a partir do meio ambiente natural ou construído no qual as pessoas se integram. A Educação Ambiental avança na construção de uma cidadania responsável voltada para culturas de sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, 2013, p. 535). Dessa forma, percebe-se que as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica visam uma educação ambiental que favoreça o convite ao educando a ter uma consciência ambiental. 3.3.4 Parâmetros Curriculares Nacionais Os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem a educação ambiental como um meio para se chegar à cidadania plena, pois tematizar o Meio Ambiente “é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem- estar de cada um e da sociedade local e global” (BRASIL, 1997, p. 25). Para os Parâmetros Curriculares Nacionais a educação ambiental, no contexto escolar, deve buscar desenvolver a criticidade nos alunos, estabelecendo ligações entre os conceitos formalizados cientificamente e os conhecimentos tradicionais e sociais e, desta forma, viabilizar a “construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria” (BRASIL, 1997, p. 35). 23 3.3.5 O Currículo Paulista No currículo Paulista, na área de ciências humanas, é evidenciado que a área deve formar globalmente o aluno, pois são disciplinas que visam formar cidadãos críticos e conscientes de seu lugar no mundo e na sociedade onde vivem. Para que o aluno tenha essa formação integral foram considerados alguns temas transversais, entre eles são destacados: a Educação Ambiental, a Educação para o Consumo e a Educação para Redução de Riscos e Desastres (SÃO PAULO, 2019). O documento estabelece ainda, o desenvolvimento de unidades temáticas que busquem que o aprendizado seja fundamentado na criticidade social, onde o aluno é levado a pensar e pôr-se como “O sujeito e o seu lugar no mundo”, ainda em seu “Mundo pessoal: meu lugar no mundo”, “Mundo pessoal: eu, meu grupo social e meu tempo” e “O lugar em que vive”. Essas unidades temáticas visam propiciar ao aluno uma compreensão de sua realidade e de sua vivência (SÃO PAULO, 2019). 3.4 A interdisciplinaridade na Educação Ambiental. A interdisciplinaridade surgiu em meados do século XX, devido aos laços entre as diferentes disciplinas, Nicolescu (1999) e Bôlla (2019) dizem que ela é uma ação cujo objetivo está na associação dos conhecimentos de uma disciplina com os conhecimentos de outra. Mas a interdisciplinaridade não é a simples junção de determinados saberes de áreas de conhecimentos distintas, ela é a integração dos saberes com o compromisso em problematizar suas limitações e possibilidades com foco na compreensão crítica do mundo (PEREIRA, 2014). Segundo Severino (1998, p. 43), “a interdisciplinaridade constitui o processoque deve levar do múltiplo ao uno”. Desta forma “a perspectiva interdisciplinar não é, portanto, contrária à perspectiva disciplinar; ao contrário, não pode existir sem ela e, mais ainda, alimenta-se dela” (LENOIR,1998, p. 46). As matrizes disciplinares estabelecem os limites interdisciplinares e com isso fortalecem os saberes e aprofundam os conhecimentos de forma global, de acordo com os aspectos sociais, culturais e econômicos em que os indivíduos estão inseridos. A interdisciplinaridade é um termo de uso abundante nas políticas educacionais, em especial quando se está tratando da educação ambiental, que é um tema que deve permear todos os ciclos da educação básica, mas não tratado 24 com uma disciplina oficial do currículo (BRASIL, 1999). Assim, nas diferentes disciplinas dos currículos escolares, a educação ambiental pode ser considerada como um ponto de convergência entre elas. Assim, a Educação Ambiental se faz pela interdisciplinaridade, pois utilizam os conhecimentos das áreas humanas, biológicas, matemáticas e até das áreas artísticas. A interdisciplinaridade no Currículo Paulista é entendida como situações de aprendizagem que mobilizam os alunos a aprender sobre questões e problemas com complexidade e que envolvem duas ou mais disciplinas do currículo ou áreas de conhecimentos, oportunizando que os indivíduos ampliem seus conhecimentos, investiguem sobre determinados assuntos, compreendam os problemas de seu entorno e associe-os com uma possível solução, com o currículo escolar (SÃO PAULO, 2019). O Currículo Paulista adota temas transversais, que colaboram no sentido de o aluno construir e desconstruir a realidade socioambiental que está a sua volta, desta forma, a Educação Ambiental é um tema a ser trabalhado através da interdisciplinaridade. Essa interdisciplinaridade deve ser tratada de forma contextualizada com os objetivos de ensino e com a realidade do aluno, fazendo com que o estudante obtenha uma visão crítica da realidade e do mundo que vive. No entanto, abordar a educação ambiental numa perspectiva interdisciplinar exige um esforço em transpor os conceitos educativos, relacionados com o meio ambiente, ao mundo complexo e diverso do indivíduo. Ao se fazer isso, se desconstrói o senso comum e habitual, essa desconstrução propicia a redução da problemática ambiental (CARVALHO, 1998, p. 18). 3.5 “Transtorno do Déficit de Natureza” O mundo oferece inúmeras facilidades, entre elas, o levantamento de informações sobre determinados assuntos. Para conhecer os biomas, fauna e flora de um determinado local, região ou país, bastam poucos cliques na internet, mas esta facilidade traz para as crianças somente o conhecimento intelectual, não as aproxima do meio ambiente. Logo após a aquisição do conhecimento intelectual, a criança desloca sua atenção para as outras atrações que a internet disponibiliza, e não vai conhecer, na prática, a natureza e as suas inúmeras possibilidades de aprendizagens presenciais, não tem contato algum com o meio ambiente. 25 O Instituto Alana (2017), em 2017 publicou o livreto “Cidades mais ricas em natureza: Entrevista com Richard Louv”, nesta publicação o jornalista norte- americano diz que essa defasagem de contato da criança com o meio ambiente é denominada “Transtorno do Déficit de Natureza”. Segundo o mesmo autor, apesar do termo comumente fazer parte do vocabulário médico, o Transtorno do Déficit de Natureza, “não representa, de forma nenhuma, um diagnóstico médico, mas oferece uma maneira de pensar sobre o problema – com foco nas crianças e em todos nós também” (LOUV, 2016, p.32). Complementando, Bôlla (2019, p. 96) diz que “embora muitas das crianças de hoje estejam cientes de ameaças globais ao meio ambiente, elas não apresentam vínculo com ambientes naturais, porque sua relação se limita ao nível cognitivo”. Esse distanciamento da criança com o meio ambiente causa danos ao desenvolvimento humano e ao meio ambiente. Um dos danos ao desenvolvimento humano mais impactante é físico-psíquico. Na área física é identificável através do sedentarismo, obesidade e outros males infantis, na área psíquica os danos são identificáveis através anulação da interação social que aconteceria durante o ato de brincar em um parque ou praça. Todos estes danos ao desenvolvimento infantil diminuem consideravelmente a qualidade de vida do ser humano. Os danos ao meio ambiente são identificáveis através da análise da saúde ambiental dos ecossistemas, através dos níveis de poluição, desmatamento e descarte de resíduos. Essa situação em que o meio ambiente se encontra, acontece pelo fato de os indivíduos terem se afastado do seu meio natural e esse afastamento permite que a sociedade fique despreocupada com meio ambiente. Essa desatenção é resultado do desconhecimento ambiental, pois o indivíduo só cuida do que conhece e ama, se não conhece a natureza é impossível cuidá-la, conclusão de André Trigueiro no vídeo da reportagem Cidade e soluções (CIDADE, 2018). 3.6 Educação Ambiental em Espaços Não Formais de ensino A educação em espaços não formais de ensino é vista como uma das bases construtoras da sociedade, como formadora de cidadãos. Formar cidadãos em espaços não formais é construir o sentimento de pertencimento ao local e ao grupo social; é poder apresentar o lugar onde se vive e, desta forma, induzir o indivíduo 26 para que cuide e valorize do que está a sua volta, fazendo com que adquira a consciência socioambiental. Moriconi (2014, p. 9-10) afirma que os sentimentos de pertencimento e identidade são a alavanca inicial que despertará reflexões sobre o mundo, sobre as atitudes e com essas 10 reflexões é possível que as pessoas saíam do “modo automático” de viver e transformem suas atitudes, levando a uma emancipação. Assim, a educação ambiental em espaços não formais tem como intuito a formação de cidadãos conscientes, que repensem seus hábitos, que busquem o equilíbrio social e ambiental da comunidade, que trabalhem com foco na seguridade social, que consumam e descartem os resíduos de forma correta. 3.7 A Pedagogia de John Dewey e a Escola Experimental John Dewey foi um filósofo norte-americano e que, segundo Westbrook & Teixeira (2010), possuía uma ideologia que defendia e educação democrática, que levasse os professores a atuar de forma a equilibrar aspectos teóricos e práticos como parte da rotina didática em sala de aula. Considerava importante que os alunos estivessem diante de experiências que exigissem uma reflexão interna, de auto análise, utilizada para a resolução de problemas no processo de aquisição de conhecimentos, considerando erros e acertos como parte do processo educativo. Sua intenção era que as crianças pensassem cientificamente. Era convencional com respeito a currículo e considerava importante que conhecessem as áreas de conhecimento matemático e domínio da leitura e escrita, das artes, (que eram aplicadas no cotidiano, ao passo que aprendiam a cuidar da terra ou criar animais, aulas de carpintaria, costura, etc), mas seus métodos implementados para a construção de conhecimento foram considerados inovadores em 1896. Criou uma Escola Experimental, que consistia na colaboração dos alunos na realização das atividades, da mesma forma, com os adultos, em uma gestão democrática e em sistema de rodízio. Isso permitiu aos professores terem maior participação no planejamento curricular e coordenação escolar, assim como dirigentes, algo que era incomum na época. Por isso, ficou conhecido como um grande reformador educacional, deixando um grande legado para os professores das gerações seguintes. 27 Muitos de seus alunos tinham pais com ideais semelhantes, que também pensavam num modo diferente de educar e lecionar. A educação estadunidense se preocupava em reproduzir os valores da sociedade, porém, comum currículo e métodos tradicionais de ensino, enquanto que John Dewey acreditava que era necessário uma substituição por completo do sistema educacional, com vistas para uma futura sociedade democrática. 3.8 Possibilidades de criação e recriação de instrumentos a partir de materiais reciclados Segundo Scarassatti (2001), na introdução de sua dissertação de mestrado, apresenta o resultado de sua pesquisa sobre Walter Smetak, descrevendo-o como um grande pesquisador. Smetak foi um músico suíço, residente há muitos anos no Brasil, professor da Universidade Federal da Bahia. Sistematizou uma complexa pesquisa de diversos tipos de sons. Sua pesquisa se baseia no reaproveitamento de peças que perderam suas funções originais e foram descartadas. A essa técnica, a qual se chama bricolagem, possibilitou a Smetak uma grande pesquisa, unindo as artes plásticas às construções de instrumentos musicais, ao gerar esculturas sonoras interativas, chamando de Plásticas Sonoras. Há diversos registros em livros e gravações, assim como concertos públicos, realizados por ele e seus alunos. Seguindo a mesma linha, descreve o autor, há a menção do grupo Uakti, (representado em um aluno de Smetak, Marco Antônio Guimarães, que possui a autoria de criação instrumentos diversos), onde dá continuidade a essa pesquisa sonora, entre os anos 1970 e 1980. Scarassatti (2001) também traz o conceito de luthier, como pesquisador de timbres e materiais, em que usa seus conhecimentos prévios em construção e reconstrução de instrumentos. Durante a pesquisa deste trabalho, encontrou-se o trabalho de Leonardo Paiva Silva (2019), que relata algumas experiências com o luthier em sua monografia, recriando flautas de PVC, chamadas de Pífaros, para que permita o acesso à crianças desprovidas de recursos financeiros, impedidas de adquirir instrumentos musicais convencionais. Tais crianças passaram a construir seus instrumentos e também tiveram noções básicas para emissão sonora e interação musical. Suas reflexões e ações práticas e educativas, de reciclar 28 materiais, aplicados com crianças de escola pública do Rio Grande do Norte, serviram como fonte de inspiração para as oficinas, porém ampliando e aplicando a outros instrumentos musicais, que beneficiaram as crianças que frequentam atividades diversas no Ecoponto da Vila Cápua, em Francisco Morato. Também foi encontrado em um relato de experiência descrito por Martins, Oliveira & Antiqueira (2019), a importância de observar o prazer e a aprendizagem das crianças, o respeito durante o processo de recriação de instrumentos reciclados, a participação ativa delas e a variedade de atividades que experimentam. Nesse relato, crianças cadeirantes puderam participar sem restrições, e, junto a outras crianças, auxiliaram na elaboração, acabamento e uso na interação musical com estes instrumentos reciclados. 3.9 Brinquedos a partir de materiais recicláveis De acordo com Rios & Campos (2004), Santos et al. (2011), Brunello, Murasaki & Nóbrega (2010) e Silva (2017), o reaproveitamento de materiais recicláveis para a construção de brinquedos é uma importante prática que possibilita discussões sobre questões ambientais, além de ter grande potencial para estimular uma aprendizagem social de forma lúdica e significativa, pois possibilita abordar a Educação Ambiental como tema transversal, criando uma “ponte entre os conhecimentos científico e cotidiano, permitindo que os estudantes compreendam a utilidade do conhecimento e sejam capazes de utilizá-lo” (BUSQUETS et al. apud RIOS & CAMPOS, 2004). Além disso, usa uma linguagem familiar à criança, o que a permite relacionar os conhecimentos adquiridos ao seu dia a dia. Cerati & Tiberio (2016) trazem reflexões acerca do consumo impensado e em excesso de embalagens e materiais descartáveis, e defendem que os materiais descartados podem ser reaproveitados e transformados em fonte inesgotável de ideias e brincadeiras. “A utilização e a manipulação de sucatas como brinquedos pode ser apontada como propulsora para diversos aspectos do desenvolvimento infantil” (MELO et al., 2007) adquirindo assim, papel pedagógico, ao fornecer estímulos capazes de desencadear a interpretação da realidade. 29 Cunha (1994) explicita que os materiais descartados no dia a dia, perderam seu uso original mas podem ser reaproveitados usando um pouco de criatividade e imaginação, ganhando assim, novos significados. Issa, Rodrigues & Oliveira (2009) entendem que é importante incentivar a criação do brinquedo artesanal, pois, além de seu valor inerente, é mais acessível às classes menos favorecidas. Todos os autores citados acima produziram conteúdos acerca da construção de brinquedos a partir de materiais reciclados, o que evidencia que existe uma vasta gama de artigos, teses e monografias que apoiam a construção de brinquedos com materiais reciclados, garantindo assim, uma sólida base teórica para este Trabalho de Conclusão de Curso. 3.9.1 Ludicidade e brinquedos com material reciclável como ferramentas de aprendizagem A predisposição natural, espontânea e instintiva das crianças pelo ato de brincar e pela atração pelos brinquedos fez com que emergisse a referida temática da utilização do lúdico3 como ferramenta de aprendizagem neste trabalho, com o intuito de buscar formas de tornar os conhecimentos mais significativos e prazerosos. Smole, Diniz & Cândido (2000, p. 13) defendem que “brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é para o adulto” e por isso se dedica tanto a isso. Nesse momento de brincadeira, a criança se depara com desafios, constrói representações, se expressa, experimenta, aguça sua curiosidade, enfim, desenvolve inúmeras habilidades importantes e necessárias para viver em sociedade, não apenas como um sujeito passivo, mas sim participativo e crítico. A ludicidade vem para contribuir para que diferentes temas possam ser abordados numa linguagem de fácil entendimento e que se relacionam com as situações cotidianas vividas pelas crianças. Dias (1993, p. 130), contribui neste sentido ao afirmar que “a aprendizagem será mais significativa se a atividade estiver adaptada concretamente às situações da vida real da cidade, ou do meio, do aluno [...]”. 3 Lúdico: Que faz referência a jogos ou brinquedos: brincadeiras lúdicas. Divertido: que tem o divertimento acima de qualquer outro propósito. Feito através de jogos, brincadeiras, atividades criativas. (HOUAISS, 2009). 30 Kishimoto (2002) e Santos (2008) enfatizam a importância do lúdico indicando-o como um relevante instrumento que oportuniza a inserção da criança no processo de ensino-aprendizagem, e, faz-se acreditar que, o lúdico como metodologia fomentadora da capacidade e da potencialidade da criança, carece de ocupar lugar singular na prática pedagógica. Dessa forma, é possível inter-relacionar ludicidade, brinquedo e Educação Ambiental, pois construir um brinquedo a partir de materiais recicláveis é um processo de transformação, de criação, de reaproveitamento, de adaptação e, porque não, de inovação. A reciclagem de materiais que já tiveram, em um primeiro momento, sua utilidade se mostra como uma interessante proposta quando pensamos na dimensão artística e nas possibilidades de utilização da sucata como material pedagógico [...] Assim, a sucata [...] mostra-se como um material de pesquisa, de construção e de produção de algo novo. (SOMMERHALDER & ALVES, 2011, p. 90) Assim, ressalta-se que a possibilidade de construção de brinquedos por meio de materiais recicláveis (sucatas), favorece a criatividade e a imaginação da criança, e pode ir mais além, de acordo com Emerique (2003, p. 45) “[...] a possibilidade de construir seus próprios brinquedos, a partir desses materiais alternativos (como a sucata), permiteà criança uma imagem positiva de si mesma: „Fui eu que fiz! Eu sei inventar! Eu sou capaz!‟”. Esse valor afetivo que a criança desenvolve sobre o objeto que ela construiu é o que vai levá-la a desejar brincar por diversas vezes. Além da evidente relevância acerca do uso de materiais recicláveis para a construção de brinquedos, Emerique (2003) aponta o aspecto econômico como uma importante vantagem, já que os materiais são encontrados facilmente no próprio ambiente. Outra questão evidente é a ecológica, pois os materiais são reaproveitados ao se transformarem em objetos lúdicos, o que atinge uma dimensão educativa para as crianças acerca da preservação da natureza e de uma educação que diz não à prática do consumo desnecessário e exagerado. Em relação ao meio utilizado para abordar tais assuntos, Friedmann (1992, p. 229) afirma que “as oficinas são um recurso interessante para conhecer e trazer à comunidade diferentes experiências lúdicas e explorar junto às crianças todas as possibilidades que podem oferecer”. O que embasa e fundamenta a aplicação de oficinas no Ecoponto. 31 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Descrição das atividades aplicadas Primeiro dia de atividade no Ecoponto Na aula de abertura, contou-se uma história infantil que trata o tema da Educação Ambiental, ilustrando duas situações: a importância de se preservar os recursos naturais e o reaproveitamento de embalagens recicláveis. Na atividade de abertura do dia 10 de novembro, contou-se duas histórias, em que personagens da Turma da Monica preservam a natureza, ora na conscientização da vizinhança sobre a importância de se despoluir rios, onde o protagonista é Chico Bento, e outra, em que o personagem Cascão é um Construtor de Brinquedos a partir de reciclados. A segunda atividade do primeiro dia foi uma apresentação e experimentação de instrumentos musicais convencionais e com materiais reaproveitados. Após esta etapa, foi a vez da experimentação sonora. Essa experiência buscou desenvolver a sensibilidade auditiva das crianças, onde puderam compreender os timbres sonoros que podem compor um chocalho. Construção de chocalhos, essa atividade consistiu na experimentação sonora prévia, em que os alunos eram desafiados a descrever o timbre de cada chocalho. Após essa vivência, as crianças construíram seus instrumentos, escolhendo os materiais (sementes ou areia colorida) conforme suas preferências. Foi utilizado cola quente para selar o chocalho, com supervisão de um adulto. Fotografia 1 – Construção dos chocalhos Fonte: Próprio Autor (10/11/2020) 32 Segundo dia de atividade no Ecoponto Dando sequência nas atividades, no segundo dia contou-se a história Iris na Cidade Cinza, e confeccionou-se o jogo de boliche com garrafas de leite. Fotografia 2 – Contação de história: Iris na Cidade Cinza Fonte: Próprio Autor (17/11/2020) Na história de Iris na cidade cinza, a personagem principal busca meios de transformar a cidade em que mora, recuperando sua paisagem. Fotografia 3– Construindo o jogo de Boliche Fonte: Próprio Autor (17/11/2020) O jogo de Boliche foi elaborado com garrafas de leite e que foram personalizadas pelos alunos. A proposta era a construção em conjunto, e que este 33 brinquedo ficasse à disposição das crianças para brincarem juntas, estimulando a união e cooperação durante as brincadeiras. Fotografia 4 – Finalizando o jogo de Boliche Fonte: Próprio Autor (17/11/2020) Terceiro dia de atividade no Ecoponto No terceiro dia foi realizada uma atividade lúdica, na qual as crianças construíram instrumentos musicais e na sequência escolheram figuras diversas, e recriaram suas versões em papel cartolina, com o intuito de elaborar capas personalizadas para envolver seus instrumentos musicais. Os instrumentos musicais construídos foram as Castanholas, o Xilovidro e o Cabuletê Fotografia 5 – Construindo as Castanholas Fonte: Próprio Autor (24/11/2020) 34 As Castanholas foram construídas na base de papelão previamente cortado de forma que permitia o movimento, porém dispensando o uso de cordas, como na Castanhola convencional, bastando manipular diretamente com a mão. As tampinhas são responsáveis pela produção de sons, coladas ao papelão com cola quente. Fotografia 6 – Castanholas Fonte: Próprio Autor (24/11/2020) O Xilovidro foi construído com garrafas transparentes, devidamente higienizadas e afinadas. Propomos duas formas de emissão sonora: percutir com baquetas e soprar as garrafas, de modo a tentar usar a respiração como forma de emitir o som. As cores foram escolhidas a partir da Anilina, um corante alimentar muito comum na coloração de doces e coberturas de bolo. Fotografia 7 – Descobrindo o Xilovidro Fonte: Próprio Autor (24/11/2020) 35 Fotografia 8– Xilovidro com baquetas Fonte: Próprio Autor (24/11/2020) O Cabuletê foi o instrumento construído com maior complexidade. A circunferência, foi previamente moldada e recortada, para o acabamento foi utilizado papel retirado de livros descartados e para finalizar os detalhes foram utilizados canudo de milkshake, linha de pesponto e bolinhas natalinas. Foram disponibilizados palitos de churrasco para a elaboração de outros modelos, assim como figuras de temas variados. As crianças tiveram a possibilidade de escolher as figuras, será anexado ao final deste trabalho outros modelos construídos pelas crianças. Fotografia 9 – Cabuletê (montagem e personalização) Fonte: Próprio Autor (24/11/2020) 36 4.2 Relato de experiência das oficinas Atuar em um espaço não formal, possibilita uma liberdade e um alcance muito maior na interação, reflexão e capacidade dialógica, complementando os conhecimentos escolares (Gohn, 2016). Esse conceito trazido pela autora se confirmou durante a aplicação das atividades. Sabe-se que os documentos oficiais que inspiram a elaboração do Currículo Paulista trazem a importância de discutir a Educação Ambiental na sala de aula, mas que o professor atuante em espaços não formais poderá discutir de forma mais aprofundada, além de aplicar atividades práticas no reaproveitamento dos recicláveis por favorecer a formação cidadã tão destacada pelos argumentos dos autores incluídos neste trabalho. O desconhecimento ambiental abordado por André Trigueiro no vídeo da Reportagem Cidades e soluções (CIDADE, 2018) explica o descumprimento das leis ambientais e a deficitária relação da comunidade com seu entorno. Não basta apenas a implantação de um Ecoponto, mas se faz urgente uma maior aproximação e interação com este local, o que está proposto por este referido trabalho acadêmico. O planejamento do professor que atua nesse contexto se revela de forma bem organizada, mas flexível, pois está sujeito, durante a interação com o espaço, a modificar ou adaptar sua proposta, que apesar de ter sido fruto de uma pesquisa muito bem elaborada, pode ser substituída no todo ou em parte, ou na ordem da aplicação. Por exemplo, ao verificar a disponibilidade dos materiais previamente solicitados ou que redirecione a postura imprevista de alguma criança, que dê preferência por algum instrumento ou mesmo não dispõe de organização cognitiva ou espacial para elaborar um brinquedo, ou instrumento, como ocorreu durante a interação de uma criança autista no local, que por sua agitação, não compreendia as orientações dadas, primordiais para que ela participasse da confecção do chocalho, a última etapa da atividade do dia. Contudo, ela participou de todas as atividades que envolveram a experimentação musical em grupo, assim como a Roda de Histórias. O Ecoponto, por ser um espaço aberto à comunidade, revela sua postura inclusiva, ao receber crianças sem discriminação, mesmo que seus responsáveis revelem uma inabilidade de compreendera importância de antecipar à criança uma 37 possível atividade em um espaço público. A ausência dessa preparação prévia pode comprometer a participação da própria criança, deixando-a frustrada e emocionalmente descontrolada, por não compreender os comportamentos desafiadores, que na verdade, expressam uma possível necessidade de comunicação ou expressão, assim como suas necessidades, que ela não consegue externalizar (ROSA, 2006). Por esse motivo, manteve-se à parte o planejamento e, substituímos este pelas atividades aplicadas, que foram incorporadas ao presente trabalho. 4.3 A ludicidade na Contação de Histórias: Abordando o tema Déficit de Natureza Após as considerações a respeito do Transtorno do Déficit de Natureza, no campo acadêmico, considerou-se importante abordar essa problemática com as crianças do Ecoponto. A cidade de Francisco Morato tem algumas áreas verdes, porém só na última gestão começaram a pensar na criação de um Parque Municipal, que, até o momento, não sabemos se o projeto será viabilizado. O Bairro de Vila Cápua, não é longe do Centro, porém, algumas ruas não têm sequer uma rede de esgoto regularizada, conforme revelado pela entrevistada A, que buscou desenvolver no próprio Ecoponto, um jardim, criado coletivamente com as pessoas do entorno, uma forma que ela encontrou de estimular as crianças a criarem um vínculo com o espaço e o meio ambiente. Com isso entende-se que, para se relacionar plenamente com a natureza, não basta estar apenas inserido nela. A contação de história visou desenvolver o interesse da criança pela leitura e, segundo Sousa et. al. (2013), estimula a imaginação e, quando bem contada, amplia o processo de educação e instrução, faz com que a criança tenha o conhecimento de seus objetivos e desenvolva o raciocínio e a construção da cidadania. Ao incorporar temas sobre o desenvolvimento sustentável, sobre a educação ambiental à contação de histórias, proporciona-se às crianças a apropriação de conceitos sobre as necessidades de preservação e cuidados com a natureza. 38 Segundo Viana (2018, p.33) “a partir dessa identificação com o outro, com as situações vividas, a criança se desenvolve emocional e intelectualmente”. Isso ocorre, pois o afeto e a empatia são estimulados e compõe a psique, visto que a criança embarca na história e, por alguns instantes, toma para si os conflitos ou trajetórias dos personagens, torcendo por um desfecho feliz. No tema referido, buscou-se instigar a reflexão e o pensamento voltado para duas situações: uma é ter uma cidade cinza, triste; a outra, a cidade restaurada, com muito verde, com acesso para todos, em harmonia com a natureza. 4.4 Discussão dos Resultados Colocar o plano de aula em ação, nos trouxe êxitos e desafios. Alguns deles: ● As ferramentas foram disponibilizadas pela educadora do Ecoponto, e foram incluídas mais algumas. A mesma relata dificuldade em separar os materiais, pois há pelo menos 10 toneladas de materiais descartados e armazenados no local; ● Por ser um espaço de educação não formal, não há regras rígidas com respeito a comportamentos das crianças, porém não houve nenhum incidente de agressão; ● As crianças demonstraram respeito muito grande pela educadora do espaço, e participaram efetivamente das atividades aplicadas com muito zelo e euforia; Em relação à experiência proporcionada pelas oficinas, tomou-se como a referência o conceito de Dewey citado por Teixeira (2010, p. 33): “O agir e reagir ganham mais larga amplitude, chegando não só à escolha, à preferência, à seleção, no plano puramente biológico, como ainda à reflexão, ao conhecimento e à reconstrução da experiência”. O autor ainda compreende que a experiência faz parte da natureza e que envolve a interação entre sujeito e objeto, e que ambos se transformam pelo conhecimento. Por exemplo, na primeira aula, foram utilizados copinhos de danone, grãos e sementes. O desafio era que as crianças compreendessem conceitos de timbre, com os olhos fechados, e após essa experiência de grupo, puderam individualmente escolher quatro variações de materiais: areia colorida, grãos de milho e sementes de tamanho maior, como sementes de girassol, e outras menores 39 como alpiste e um mix de sementes em formatos diferentes, algumas alongadas e outras arredondadas. A intenção era que eles diferenciassem os sons graves dos agudos. Depois, se dirigiram individualmente para a mesa e escolheram as sementes e/ou grãos de sua preferência. O conceito de timbres foi revisado para que eles, com essa nova informação, identificassem novamente qual era o tipo de timbre que estava sendo testado. A contação de Histórias - Iris e a Cidade Cinza - estimulou a troca de ideias, pois, por meio de perguntas abertas durante a história, as crianças foram instigadas a darem suas contribuições e demonstrarem a compreensão do tema. Elas expressaram grande interesse e permaneceram concentradas, provando estarem envolvidas na história. A criação do brinquedo coletivo, o Jogo de Boliche, foi escolhido devido a duas questões: Estimular a parceria e a construção de um brinquedo comunitário; Estimular a partilha e o cuidado coletivo com o brinquedo, (que demonstra a responsabilidade coletiva), pois seria disponibilizado para que todas as crianças que frequentam o espaço tivessem a oportunidade de se divertirem. A construção do cabuletê se iniciou em grupo, porém com previsão para ser concluído no terceiro dia de oficina. Também foi sugerido pela Patrícia4 a construção de carrinhos com caixas de leite, o uso de latas de diversos tamanhos, garrafas PET, tampinhas de refrigerante e garrafas de vidro, tubos de PVC e mangueiras, para constituir diversos instrumentos musicais como: Pandeiro, Bongô, Tambores e Caixas, Repique e Chocalhos, Castanholas e Flauta Pan porém, devido ao pouco material disponível, não foi possível incluir neste trabalho. Ao desenvolver tais oficinas para construção de brinquedos e instrumentos musicais envolvendo as crianças da Comunidade Vila Cápua, o meio ambiente que as cerca e os adultos que desenvolvem o Projeto do Ecoponto e deste Trabalho de Conclusão de Curso, favoreceu-se a interação, a comunicação e troca de experiências, além de incentivar o desabrochar do cuidado em relação ao lugar onde vivem. 4 Educadora voluntária no Ecoponto e responsável pelas atividades no local às terças-feiras. 40 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As questões ambientais e de desenvolvimento humano exigem muita atenção por parte da sociedade, esta atenção garantirá o futuro ambiental das próximas gerações, e se dará através de complexas mudanças nas relações sociais, culturais e econômicas, além de políticas, que transformarão a natureza. A necessidade de garantir uma natureza e uma qualidade de vida satisfatória às próximas gerações é um dos principais argumentos da Educação Ambiental, e a faz tão necessária na atualidade. Ela não deve ser uma educação formalizada intramuros escolar somente, mas deve ser abordada em todos os espaços de convivência, seja espaço educacional ou espaço de ações sociais, ou seja a Educação Ambiental deve ser uma educação de cunho abrangente, que visa formar cidadãos aptos a viver em sociedade e esta formação deve ser iniciada desde a infância, de modo que a favoreça o desenvolvimento de adultos conscientes das necessidades de preservação ambiental e como Medeiros et al. (2011) afirma, crianças podem ser transmissoras dos conhecimentos sobre as questões de preservação ambiental e levar as informações para seu vínculo familiar e de amizades. Este estudo objetivou a abordagem da Educação Ambiental em um espaço de educação não formal, com crianças na faixa etária de 10 anos que são atendidas pela Associação Casa Comunitária Vila Cápua, essa abordagem se deude forma lúdica, através de contação de história, criação de brinquedos, jogos e instrumentos musicais. A contação de história foi desenvolvida tendo como tema principal a degradação ambiental e a substituição das paisagens nativas pelas construções urbanas, já a criação de brinquedos, jogos e instrumentos musicais se deu por meio da reciclagem e reutilização de materiais. As oficinas realizadas no Ecoponto tiveram um número significativo de participantes, as crianças ficaram empolgadas com as propostas e se dedicaram muito na elaboração dos jogos e dos instrumentos musicais. Acredita-se ter despertado interesses e curiosidades que serão disseminadas pela comunidade. Espera-se que, em breve, essas propostas alcancem todo o bairro, garantindo assim, a disseminação da ideia de preservação e sustentabilidade. 41 Houveram alguns imprevistos como a não separação dos materiais recicláveis no Ecoponto, que recebeu, em um curto período de tempo, cerca de dez toneladas de materiais e, como dispõe de poucos voluntários, não foi possível separar os materiais que seriam usados a tempo. Por isso foi vital pensar em alternativas de como juntar o material por conta própria e repensar os jogos e brinquedos que seriam construídos nas oficinas, com isso surgiu a ideia de elaborar brinquedos e jogos de uso coletivo, incentivando a troca de experiências e favorecendo a interação entre as crianças. Também foi necessário reduzir a quantidade de instrumentos musicais que seriam produzidos, o que não impediu de proporcionar experiências ricas e significativas, que John Dewey defendia como eficaz para a aprendizagem. Outra dificuldade encontrada foi uma criança autista que optou por participar das oficinas, na primeira não havia preparo para as necessidades particulares dela o que resultou em uma pequena dispersão, mas num segundo momento a roda de histórias foi voltada especificamente para ela, foi elaborada uma história que prendeu a atenção e possibilitou a interação com outras crianças que estavam presentes. Durante todas as oficinas foi observada a alegria e a empolgação explícita nos rostos das crianças ao criarem os brinquedos, jogos e instrumentos musicais. Conforme o argumento de Emerique (2003), quanto mais a criança participa e acompanha a produção de um novo objeto, maior é seu sentimento de satisfação, porque criar é manifestação de vida e revela e valoriza as potencialidades de cada indivíduo. Além disso, possibilita o convívio com outras crianças, uma melhor relação com o outro, além de contribuir para a compreensão de mundo e natureza à medida que constrói, investiga, elabora e desenvolve algo. Notou-se que o lúdico, como norteador nas atividades de Educação Ambiental, possibilitou a construção significativa e concreta de um processo de desenvolvimento de ensino-aprendizagem, ao utilizar uma linguagem única e universal. Conclui-se que a vivência das oficinas, baseada na utilização de materiais recicláveis para construir brinquedos, jogos e instrumentos musicais, aliada aos discursos dos realizadores e ao ambiente não formal, favoreceu e estimulou o repensar das crianças participantes sobre o consumo diário e a importância da reciclagem. 42 A Associação Comunitária Vila Cápua de Francisco Morato, através de seu Ecoponto, possibilitou o desenvolvimento destas ações educativas com foco na Educação Ambiental, o que contribuiu com as ações já realizadas pela Associação, que, estas ações já aplicadas pelo Ecoponto passaram a transformar Vila Cápua, o que conduziu a uma série de mudanças ambientais, trouxe significativas melhorias nos aspectos sanitário e também econômico do bairro. No caso deste trabalho, as áreas de conhecimento foram escolhidas e aplicadas, de modo a mostrarem coesão e conexão, ao mesmo tempo que exigiram estratégias pedagógicas que uniram arte, música e contação de história, exemplificando algumas possibilidades de aplicação prática. Essas áreas são tratadas no contexto da educação ambiental, como ferramentas de práticas educativas, incluindo Contação de Histórias, Música e Recriação de Brinquedos, buscando sensibilizar as crianças e suas famílias, demonstrando que é possível agregar valor aos materiais reciclados, que são entregues rotineiramente no Ecoponto. Despertar a Consciência Ambiental é uma atividade complexa, que se constrói em conjunto com as crianças, pois elas trazem seu olhar carregado de empatia, afeto, acolhimento, demonstrando suas habilidades não apenas cognitivas, mas psicossociais, que já estão, há pelo menos um ano, em desenvolvimento, por meio da Educação Não Formal. Com isso compreende-se que o presente trabalho acadêmico alcançou o objetivo, fortalecendo o conhecimento e incentivando a ação cidadã em prol da saúde ambiental da comunidade. Ao final, conclui-se que, ao abordar a Educação Ambiental, através destas perspectivas, houve a oportunidade de trazer os conhecimentos científicos sobre a realidade ambiental da comunidade para as crianças, de modo que elas compreendessem a importância de sua participação no local onde vivem, ainda proporcionou a ampliação dos conhecimentos sobre a reutilização e reciclagem de materiais, sobre as práticas de sustentabilidade e estimulou as crianças a desenvolverem um pensamento socioambiental além de levarem conhecimentos para a vida adulta e disseminarem estes conceitos ambientais pela comunidade e, quem sabe, pelo mundo. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAÍA, M. C. F., NAKAYAMA, L. A educação ambiental por meio da ludicidade: uma experiência em escolas do entorno do parque estadual do Utinga. Revista Margens Interdisciplinar, Abaetetuba, v. 7, n. 9, p. 89-112, jan., 2012. Disponível em: <https://periodicos.ufpa.br/index.php/revistamargens/issue/viewIssue/148/29>. Acesso em 23 set. 2020 BÔLLA, K. D. S. A natureza precisa das crianças e as crianças precisam da natureza: a integração entre ecopsicologia e educação como um caminho para o bem-estar e a sustentabilidade. 2019. 422 f. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais) - Universidade Do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2019. Disponível em: <http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/7254/1/Tese%20Kelly%20D.%20S.%20B%c 3%b4lla.pdf>. Acesso em 22 out. 2020. BONZI, R. S. Meio século de Primavera silenciosa: um livro que mudou o mundo. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 28, p. 207-215, jul./dez. 2013. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/made/article/view/31007>. Acesso em 23 out. 2020. BORGES, D.M. Método dedutivo, indutivo ou comparativo. Qual o mais adequado à pesquisa do direito internacional do meio ambiente? Planeta Amazônia: Revista Internacional de Direito Ambiental e Políticas Públicas, Macapá, n. 6, p. 85-101, 2014. Disponível em: <https://periodicos.unifap.br/index.php/planeta>. Acesso em: 02 out. 2020. BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 23 out. 2020. ______.Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 12 nov. 2020. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais : meio ambiente, saúde. Brasília, 1997. 53 p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro091.pdf>. Acesso em: 17 out. 2020. ______. Lei n o 9.795, de 27 de abril de 1999. Casa Civil. 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