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UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PRISCILA GONÇALVES MACHADO STOCO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: IMPORTÂNCIA E DIREITO DO CONTATO, CONVÍVIO E VIVÊNCIA COM A NATUREZA NA PRIMEIRA INFÂNCIA. EXTREMA – MG 2021 UNIVERSIDADE PAULISTA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PRISCILA GONÇALVES MACHADO STOCO EDUCAÇÃO AMBIENTAL: IMPORTÂNCIA E DIREITO DO CONTATO, CONVÍVIO E VIVÊNCIA COM A NATUREZA NA PRIMEIRA INFÂNCIA. EXTREMA – MG 2021 Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título em licenciatura de Pedagogia. Universidade Paulista – Polo Extrema - MG Orientação: Profª Ma. Flávia Clara Bezerra Trevisan LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Pátio em meio à natureza.........................................................................20 Figura 2 – Parquinho com elementos naturais...........................................................21 Figura 3 – Proposta com ganhos, folhas e sementes................................................22 Figura 4 – Brincadeira de comidinha com utensílios de cozinha...............................23 Figura 5 – Cabanas com tecidos ao ar livre...............................................................24 Figura 6 – Brinquedos confeccionados com elementos da natureza.........................25 Figura 7 – Aprendizagem e vivência na prática..........................................................26 Figura 8 – Proposta pedagógica ao ar livre................................................................27 Figura 9 – Entreterimento com material natural e de baixo custo..............................33 Figura 10 – Inserir entreterimento no pátio................................................................34 Figura 11 – Execução de horta...................................................................................34 Figura 12 – Usufruir de fenômenos naturais..............................................................35 Figura 13 – Contato com animais...............................................................................35 Figura 14 – Local ao ar livre para aula, leitura e reuniões.........................................36 Figura 14 – Propor atividades com materiais e elementos naturais...........................36 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que contribuíram no decorrer desta jornada, especialmente: A Deus pelo dom da vida, pela força e sabedoria no decorrer desta trajetória e por não me permitir desistir diante das adversidades. A minha família, em especial à minha mãe Angela pelo incentivo em minhas escolhas e no alcance dos meus objetivos, por confiar no meu potencial e por nunca medir esforços para me proporcionar a melhor educação institucional e familiar que podia. Ao meu marido Ruy, pela compreensão e apoio. Obrigada pela parceria, te amo. Aos meus filhos Nicolle e Noah pela paciência nos momentos de ausência. A minha orientadora Professora Ma. Flávia Clara Bezerra Trevisan pelo tempo dedicado à minha orientação. Aos professores por compartilharem seus conhecimentos em minha gradua- ção. A todos (as) aqueles (as) que contribuíram direta e indiretamente na construção deste trabalho. O meu muito obrigada! “Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos.” Albert Einstein RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso, objetiva analisar a importância e o direi- to do contato, convívio e vivencia com a natureza na primeira infância, para o de- senvolvimento integral da criança e o despertar do sentimento de pertencimento à mesma, visando contribuir para a construção de adultos mais conscientes, reflexivos e atuantes na preservação do meio ambiente e na promoção da sustentabilidade. Considerando que cada vez mais cedo as crianças passam a frequentar os espaços escolares, e lá permanecem por longo período do dia confinadas em espaços fecha- dos, evidências apontam que essa realidade tem colocado as crianças em situação de distanciamento da natureza. Visando discutir o papel indispensável que o espaço escolar assume: o de ressignificar a importância do meio ambiente no desenvolvi- mento infantil, e despertar o sentimento de pertencimento da criança à natureza, a começar pelo contato que ela pode e deve ter com os elementos do meio natural, no dia a dia escolar Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação Infantil. Criança. Natureza. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................6 CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA NA PRIMEIRA INFANCIA.....................................................................................................................8 1.1 Educação Ambiental: Breve histórico e conceitos...........................................8 1.2 Porque trabalhar educação ambiental na primeira infância...........................11 1.3 Importância da vivência com a natureza na primeira infância.......................13 CAPÍTULO II - METODOLOGIA...............................................................................19 2.1 Percurso Investigativo.......................................................................................19 2.2 O brincar ao ar livre no espaço escolar...........................................................19 CAPÍTULO III – “DESEMPAREDAR”.......................................................................28 3.1 Reflexão para além de “quatro paredes”.........................................................28 3.2 Os espaços externos e suas possibilidades..................................................30 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................39 6 INTRODUÇÃO O presente trabalho objetiva analisar a importância e o direito do contato e vi- vência com a natureza na primeira infância, para o desenvolvimento integral da cri- ança e o despertar do sentimento de pertencimento à mesma, visando contribuir pa- ra a construção de adultos mais conscientes, reflexivos e atuantes na preservação do meio ambiente e na promoção da sustentabilidade. É essencial fazer com que a criança tenha interesse pelo meio ambiente, tan- to no cuidado, como também nas suas responsabilidades em questões relacionadas à preservação, como reciclagem, desperdício, água, animais, plantas, solo e o ar. E através do processo lúdico das brincadeiras em espaços livres e em convívio com a natureza que se criará este vínculo. A relação com a natureza precisa ser desenvolvida desde cedo, para reco- nhecê-la como parte de sua vida. A Primeira Infância é o período da vida humana mais sensível às influências do meio social e físico. O que a criança vive, sente, vê, experimenta, marca mais profundamente sua personalidade do que em qualquer ou- tra idade. Os problemas ambientais estão em evidência, uma vez que o sentimento de superioridade do homem em relação à natureza e a consequente utilização desen- freada dos recursos naturais, não tem sido amistosa, tem gerado degradação ambi- ental, catástrofes e o comprometimento das gerações futuras. Como iniciativa para a minimização de tantos problemas ambientais, diversas conferencias realizadas obje- tivaram possibilitar quea Educação Ambiental fosse reconhecida como instrumento educativo para a preservação e conservação do meio ambiente. Deve-se ressaltar que, nesse contexto, a Política Nacional de Educação Am- biental, em seu art. 2º, dispõe que “a educação ambiental é um componente essen- cial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articula- da, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (BRASIL, 1999). Isso adquire um aspecto emergencial visando outra forma de educar; um educar que reconecte a criança para valorizar o reconhecimen- to da vida e a importância do mundo que a cerca, e assim contribuir para a garantia do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (BRASIL, 1988). Nas últimas décadas as questões ambientais ganharam uma maior relevância na nossa sociedade, inclusive nos meios estudantis, porém o educador deve atuali- 7 zar-se através da obtenção de informações e aprendizado que o qualifique a de- sempenhar, da melhor forma possível, o seu papel nessa nova realidade da educa- ção. Essa educação que busca estimular o aluno a olhar ao seu redor, também ensina que ele é parte integrante do meio, e é nesse ponto que a educação ambien- tal deve entrar na vida escolar desta criança, oferecendo a ela a possibilidade de en- tender e interagir com o meio em que habita, com respeito e consciência. Ao levar-se em conta as Diretrizes Curriculares que apontam o caminho para a importância da promoção do contato com a natureza, levando em conta que as crianças estão frequentando cada vez mais cedo, em muitos casos em tempo inte- gral, os espaços formais de ensino, locais esses onde muitas vezes verifica-se des- respeito com o desejo do corpo de estar ao ar livre, em verdadeira situação de em- paredamento e analisando os apontamentos realçados por Tiriba (2005), que desta- ca em seu trabalho a importância das brincadeiras ao ar livre e o contato com os elementos do mundo natural, quais sejam: água, areia, terra, pedrinhas, plantas, etc. experiências essas, atualmente, cada vez mais raras, torna-se uma das missões das escolas de hoje plantar, desde cedo, a semente da relação do homem com o ambi- ente natural. O professor, nesse contexto, torna-se peça chave quanto às oportunidades que pode ofertar à criança ao colocá-la em contato com seu meio natural através de es- paços abertos para que, a partir de então, possa construir as bases de aprendiza- gem marcadas pelos cuidados, pertencimento, amor e preservação desse meio. 8 CAPÍTULO I – EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA IMPORTÂNCIA NA PRIMEIRA INFANCIA 1.1 Educação Ambiental: Breve histórico e conceitos A questão ambiental vem sendo considerada cada vez mais urgente e impor- tante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabele- cida com a natureza e o uso dos seus recursos naturais disponíveis. (BARRETO, 2006, p.75). Com o crescimento do desenvolvimento econômico e o aumento dos proble- mas ambientais, eleva-se a importância da Educação Ambiental (EA), pois ela ajuda a entender conhecer e encontrar alternativas sustentáveis para os problemas que afetam a qualidade de vida das pessoas, procurando agir em busca dos interesses da comunidade. Para Travassos (2004), a Educação Ambiental é um estudo das características da natureza e sua relação com o ser humano. Podendo ser considerada multidisci- plinar, ou seja, pode ser integrada em todas as matérias do currículo escolar. Pode ser também considerada como uma disciplina independente, ensinada em todos os níveis escolares, desde o jardim de infância até a Universidade. A Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, define Educação Ambiental como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. De acordo com a UNESCO (1987) e Dias (2004) e Menezes (2012), a Educa- ção Ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade to- mam consciência do meio ambiente em que vivem e adquirem conhecimentos, habi- lidades, experiências, valores e a determinação que os capacitam a atuar de forma individual e coletiva, no sentido de conscientizar as pessoas da importância de ga- rantir a sustentabilidade do planeta, através da preservação ambiental, buscando solucionar problemas ambientais presentes e futuros. Segundo Dias (2004), Patrick Geddes, considerado o pai da Educação Ambien- tal, defendeu, em 1889, que “uma criança em contato com a realidade do seu ambi- 9 ente não só aprenderia melhor, mas também desenvolveria atitudes criativas em re- lação ao mundo em sua volta. ” A cronologia que envolve meio ambiente e educação ambiental é extensa, po- rém a partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tbilisi (EUA), a qual sua organização ocorreu a partir de uma parceria entre a UNESCO e o então ainda recente Programa de Meio Ambiente da ONU (PNUMA). Foi deste encontro que saíram as definições, os objetivos, os princípios e as estraté- gias para a Educação Ambiental, que até hoje são adotados em todo o mundo. No Brasil, a influência da Conferência de Tbilisi se fez presente com a promulgação da Lei Nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, suas finalidades e mecanismos de formulação e execução, esta Lei refere-se, em seus princípios, à “Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente”, assim como o Artigo 225 da Constituição Federal que estabelece a “promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública”. Em outra esfera, o Ministério da Educação e do Desporto desenvolveu os “Parâmetros Curriculares Nacionais – Convívio Social e Ética – Meio Ambiente”, onde é proposta a abordagem da dimensão ambiental de modo transversal no ensino fundamental (IBAMA, 1998). Em 1984 o CONAMA estabelece as diretrizes para a EA no Brasil, em 1987 o MEC considera necessária a inclusão da EA dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas 17 curriculares das escolas de 1° e 2° graus e em 1988, por força das articulações ambientalistas, a Constituição brasileira traz no capítulo VI, Artigo 255, parágrafo 1, item VI a seguinte citação sobre o papel do Poder Público: “promulgar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988, Artigo 255º). Em Maio de 1991, o MEC cria a Portaria 678, onde resolve que os sistemas de ensino, em todas as instâncias contemplem conteúdos referentes à EA. Segundo o artigo de Cordani et al. (1997, p. 1), no final da Conferência das Na- ções Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, “(...) foram assinados os mais importantes acordos am- bientais globais da história da humanidade: as Convenções do Clima e da Biodiver- sidade, a Agenda 21, a Declaração do Rio para Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a Declaração de Princípios para Florestas.”. 10 Dias (2004) menciona que a Rio-92 “(...) corrobora com as premissas de Tbilisi e, através da Agenda 21, seção IV, Cap. 4, define as áreas de programas para EA, reorientando a educação para o desenvolvimento sustentável.” (DIAS, 2004, p. 50). Ainda no Brasil, em 1999, o Congresso Nacional Brasileiro decreta e o Presi- dente da República sanciona a Lei 9.795/99, que institui a Política Nacional de Edu- cação Ambiental (PNEA). Esta Lei estabelece nos seus Capítulos I e II, a questão da educação ambiental como um direito de todos, incumbindo as instituições de ensino a oferecerem a EA como parte integrantedo currículo educacional. A referida Lei apoia profissionais interessados na participação deste plano de desenvolvimento e cria oportunidades de estudos, pesquisas e experimentos, ampliando assim, as pos- sibilidades de ações continuadas em diferentes matérias do ensino regular com o objetivo do ensino da educação ambiental. O referido diploma estabelece que: Art. 1º Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilida- des, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua susten- tabilidade (BRASIL, Lei 9795/99, 27 de abril de 1999). Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da edu- cação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (BRASIL, Lei 9795/99, 27 de abril de 1999). Art. 10º A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (BRASIL, Lei 9795/99, 27 de abril de 1999). Em março de 2000, o MEC, Ministério da Educação e Cultura e a Secretaria de Educação Fundamental (SEF) organizaram a oficina de trabalho “Panorama da Edu- cação Ambiental no Ensino Fundamental”, tendo enfoque no Ensino Fundamental e baseado na formação dos professores e na Educação Ambiental da escola à comu- nidade. A proposta de utilização do PROPACC – Proposta de Participação-Ação pa- ra a Construção do Conhecimento vem ao encontro da incorporação da Educação Ambiental como meio de criar uma nova interação criadora, que redefinirá o tipo de pessoa que se necessita formar e os cenários futuros que se deseja construir para a humanidade, em função do desenvolvimento de uma nova racionalidade ambiental (MEC, 2001). Dois anos depois, o Decreto nº. 4.281/2002, que regulamenta a Política Nacio- nal de Educação Ambiental, definiu os princípios relativos à EA a serem aplicados em todo o Brasil, ficando estabelecido que todos têm direito à educação ambiental e 11 apresentando a EA como um “componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (MARCATTO, 2002, p. 36), devendo ser tratada como um tema transversal em todos os níveis de ensino. Dessa maneira, a educação ambiental encontra-se inserida transversalmente no processo de educação, de acordo com o Ministério da Educação (2001): (...) tem adquirido importância nos sistemas de ensino por dois motivos que se articulam: a reorientação curricular produzida pelo MEC/SEF por meio dos Pa- râmetros Curriculares Nacionais, nos quais o tema Meio Ambiente foi incluído como um dos temas transversais; e a promulgação da Política Nacional de Edu- cação Ambiental (Lei nº- 9.795, de 27 de abril de 1999) que, entre outras coisas, dispõe sobre a introdução da Educação Ambiental no ensino formal. (MEC, 2001, p. 11). Sua importância reside na aproximação da questão ambiental e do conheci- mento escolar à realidade social, cuidando de questões do cotidiano do aluno, além de estimular os professores em suas práticas didáticas a se envolverem com ques- tões da vida como um todo. A educação é uma grande aliada no processo de conscientização ambiental, e pode ser trabalhada de diversas formas, buscando atingir a consciência global, ge- rando multiplicadores destes valores desde pequenos. 1.2 Porque trabalhar educação ambiental na primeira infância No contexto escolar é muito importante a presença da Educação Ambiental des- de a Educação Infantil, inserida como primeira etapa da educação básica, porém segundo Zanon (2019), ao longo do processo histórico da educação, pouco se pen- sava em ações pedagógicas voltadas ao desenvolvimento crítico das crianças pe- quenas. A criança em sua tenra idade está com todos seus sentidos muito abertos para o mundo que ela vai descobrir. Em um ambiente natural, a criança está cercada de estímulos que proporcionam a descoberta do mundo enquanto se descobrem (HADDAD e CINTRÃO,2018). Segundo Richard Louv (2016), os ambientes naturais são essenciais para um desenvolvimento saudável da criança porque estimulam todos os sentidos e inte- gram a brincadeira à aprendizagem. Experiências multissensoriais em ambientes na- 12 turais ajudam a desenvolver estruturas cognitivas necessárias para um desenvolvi- mento intelectual. Assim, o professor como mediador no desenvolvimento de ações pedagógicas deve considerar que, “é importante enfatizar a sensibilização com a percepção, inte- ração, cuidado e o respeito das crianças para com a natureza e cultura, destacando a diversidade dessa relação (LIPAI; LAYRARGUES; PEDRO, 2007, p.28), uma vez que, conforme Tiriba (2010), as creches e pré-escolas são lugares privilegiados, on- de as crianças vivenciam, no processo de ensino-aprendizagem, o primeiro contato para o desenvolvimento de suas emoções, relacionadas àquilo que é vivido por elas. A educação ambiental nas escolas pode ser determinante para a amenização dos problemas que, há anos, vêm sendo causados ao meio ambiente pela ação do homem. As crianças representam as futuras gerações em formação e, como estão em fase de desenvolvimento cognitivo, supõe-se que nelas a consciência ambiental possa ser internalizada e traduzida de forma mais bem-sucedida do que nos adultos, já que ainda não possuem hábitos e comportamentos constituídos (CARVALHO, 2001, p.46). Na maioria dos casos, é na escola que a criança fará os primeiros contatos com o mundo ao seu redor e ampliará seus conhecimentos, interligando, assim, o que aprende na escola e repassando para os outros moradores de casa. Como confirma o Referencial Curricular para Educação Infantil (1998): Na instituição de educação infantil, a criança encontra possibilidade de ampliar as experiências que traz da casa e de outros lugares, de estabelecer novas formas de relação e de contato com uma grande diversidade de costumes, hábitos e expressões culturais, cruzar histórias individuais e coletivas, compor o repertório de conhecimentos comuns àquele grupo etc. (BRASIL, 1998, p. 181) Na escola, os alunos são estimulados através de diferentes metodologias de ensino, e iniciam a percepção deles mesmos como elementos da natureza, como partes ativas da natureza e agentes integradores e principalmente modificadores do meio ambiente. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998): É importante que as crianças tenham contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo, sejam instigadas por questões significativas para observá-los e tenham acesso a modos variados de compreendê-los e representá-los. (BRASIL, 1998, p. 166) De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambien- tal (DCNEA), o reconhecimento do papel transformador e emancipatório da Educa- 13 ção Ambiental torna-se cada vez mais visível diante do atual contexto nacional e mundial em que se evidencia, na prática social, a preocupação com as mudanças climáticas, a degradação da natureza, a redução da biodiversidade, os riscos socio- ambientais locais e globais, as necessidades planetárias (BRASIL, 2012, p.2). Neste contexto, a Educação Ambiental, um tema recente e que tem como obje- tivo formar cidadãos cientes das suas responsabilidades na relação com o meio am- biente constitui uma importante ferramenta para o ensino e a conscientização das novas gerações. (MENEZES, 2012). Para isso, torna-se necessário, mais do que informações e conceitos, é impor- tante que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades, desde a primeirainfância. A importância da Educação Ambiental enquanto processo que religa ser humano e natureza, razão e emoção, corpo e mente, conhecimento e vida. Afirmamos a necessidade de uma educação infantil ambiental fundada na ética do cuidado, respeitadora da diversidade de culturas e da biodiversidade (TIRIBA, 2010, p.2). Esse é o grande desafio para a educação, contribuir para que as crianças vivenciem e internalizem esta ética no cotidiano das Instituições de Ensino, através de práticas pedagógicas capazes de educar crianças que sejam cidadãs planetárias, responsáveis pela natureza, sentindo-se parte da mesma. 1.3 Importância da vivência com a natureza na primeira infância Conforme aponta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB em seu Art. 29, a Educação Infantil “(...) representa a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos (...)” (BRASIL, 1996). O ato de considerar que toda criança tem direito a um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, respaldado no art. 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), tem despertado o desejo de entender e analisar como as políticas públicas voltadas para esse espaço visam a garantir o convívio dela com a natureza, bem como, refletir sobre a importância que esse contato representa para o 14 desenvolvimento integral da mesma, no que diz respeito à formação de cidadãos conscientes de seu papel perante o meio ambiente. Levando em conta que somos seres biológicos e fazemos parte da natureza que nos cerca, precisamos com urgência desconstruir a relação antropocêntrica criada com a natureza, ou seja, o ser humano tem agido como se não fizesse parte da mesma e tem se colocado como se estivesse acima dela, delegando à natureza a função de lhe servir, como os recursos naturais dossem inesgotáveis, consoante Tiriba, que esclarece: A escola ensina às crianças um sentimento de si como membros de uma espécie superior, atribuindo-lhes poderes de vida e morte sobre as demais: é a proprietária do mundo natural, que aos humanos deve se submeter, é a ‘administradora’ o planeta (TIRIBA, 2005, p.63). No âmbito desse pensamento, é interessante destacar que no Brasil, o Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação), em pesquisa realizada em 2015, revelou que 30,5 % das crianças de 0 a 3 anos frequentavam a educação infantil. No entanto, o número sobe consideravelmente para 90,5% quando se refere a crianças de 4 a 5 anos. E segundo o (PNE 2015), dentre essas, muitas frequentam em tempo integral o espaço formal de ensino sob a supervisão e orientação de um profissional que passa boa parte do dia com essas crianças. Considerando-se que uma criança, ao frequentar a educação infantil, pode lá permanecer de 04 a 12 horas diariamente, e nesse espaço de tempo ocorrem apenas alguns momentos de atividades livres fora da sala de aula, sendo essas atividades muitas vezes realizadas em espaços cobertos, e com piso cimentado (RAMBO E ROESLER, 2019). Tal realidade desconsidera o mencionado nas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, que orienta em seu Art. 9, que, dentro das práticas pedagógicas, sejam criadas situações, entre as quais: “VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza”, bem como, “X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais” (BRASIL 2009). Para tanto, ao profissional da educação cabe a incumbência de promover o contato dos alunos com essa biodiversidade que os cerca. Porém, para ter sentido para a criança durante a Primeira Infância, precisa ser fora da sala de aula, ser 15 vivenciada na prática, pois dentro da sala tudo que se pode trabalharé pouco atrativos para essa fase da vida, pois são aspectos abstratos e figurativos. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental apresentam as seguintes orientações: Art. 17. Considerando os saberes e os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios e os objetivos estabelecidos, o planejamento curricular e a gestão da instituição de ensino devem: I - estimular:(...) d) vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a responsabilidade e o convívio cuidadoso com os seres vivos e seu habitat; II - contribuir para: (...) d) a promoção do cuidado e responsabilidade com as diversas formas de vida, do respeito às pessoas, culturas e comunidades; III – promover: observação e estudo da natureza e de seus sistemas de funcionamento para possibilitar a descoberta de como as formas de vida relacionam-se entre si e os ciclos naturais interligam-se e integram-se uns aos outros; (...) c) projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valorizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, estimulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o exercício da cidadania (BRASIL, 2012, p.6) Ao levar-se em conta as Diretrizes Curriculares que apontam o caminho para a importância da promoção do contato com a natureza, e analisando os apontamentos realçados por Tiriba (2004), que destaca em seu trabalho a importância das brincadeiras ao ar livre e o contato com os elementos do mundo natural, quais sejam: água, areia, terra, pedrinhas e plantas, etc; experiências essas cada vez mais raras, não estaria aí sendo construído o início do distanciamento da criança em relação à natureza e, por consequência, a degradação das condições da vida na terra? (TIRIBA et al., 2004). Nesse contexto, deve-se ressaltar que, a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu art. 2º, dispõe que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999). Tornando-se um aspecto emergencial, visando uma outra forma de educar; um educar que reconecte a criança para valorizar o reconhecimento da vida e a importância do mundo que a cerca, e assim contribuir 16 para a garantia do “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (BRASIL, 1988). A pedagogia, dentro desses aspectos abordados, precisa responder a essa necessidade emergente, entendendo que a atuação do professor, no dia a dia, pode afetar as condições de existência da sociedade como um todo, tal como afirmado por Leff ao dizer que “isto implica em educar para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo, capaz de analisar as complexas relações entre os processos naturais e sociais, para atuar no ambiente em uma perspectiva global (...)”(LEFF, 2015, p. 256). Logo, torna-se indispensável orientar a educação, dentro do contexto social e ecológico onde estão os sujeitos do processo educativo, através de experiências concretas com o meio físico e social, e buscar, a partir dali, soluções para os problemas ambientais. Ao analisar a importância de trazer a natureza para o espaço escolar, Tiriba faz um interessante comentário relacionado ao espaço e modo de funcionamento das creches e pré-escolas, locais esses onde se verifica desrespeito com o desejo do corpo de estar ao ar livre, ao se colocar a criança em verdadeira situação de emparedamento. Isso torna-se ainda mais grave conforme os anos escolares aumentam. Segundo a autora, a criança, ao frequentar desde muito pequena as creches e escolas, acaba involuntariamente anulando os aspectos biológicose sua natureza, e consequentemente acontece o afastamento entre o corpo e a mente, pois isso distancia de forma radical a criança do mundo da brincadeira ao ar livre, estabelecendo impasse entre o desejo, a natureza da criança, e as normas impostas pelos estabelecimentos de ensino através de rotinas pré estabelecidas (TIRIBA, 2008). E Gadotti, afirma que muitos dos problemas ecológicos que presenciamos estão integralmente relacionados à nossa forma de viver, a qual é inculcada pela própria escola através do que ela seleciona como importante para o ensino, pois “na era do conhecimento, a pedagogia tornou-se a ciência mais importante porque ela objetiva justamente promover a aprendizagem. A era do conhecimento é também a era da sociedade ‘aprendente’ onde e quando todos tornam-se aprendizes”, afirma o autor (GADOTTI, 2000, p. 45). Nessa outra realidade proposta, o aluno deverá ser motivado a observar e pensar para aprender e, sobretudo, para desenvolver curiosidade em relação ao 17 mundo à sua volta. Consequentemente, a pedagogia não estará mais centrada na didática de como ensinar, mas sim, em como se deve ensinar para despertar na criança outro saber, conforme segue: A ecopedagogia pretende desenvolver um novo olhar sobre a educação, um olhar global, uma nova maneira de ser e de estar no mundo, um jeito de pensar a partir da vida cotidiana, que busca sentido a cada momento, em cada ato, que pensa a prática – Paulo Freire, em cada instante de nossas vidas, evitando a burocratização do olhar e do comportamento (GADOTTI, 1999, p. 91). Quando abordamos a visão da Ecopedagogia, é importante perceber que ela e a Educação Ambiental andam muito próximas, tendo em vista que aquela, a Pedagogia da Terra, tem uma visão holística, não sendo apenas para os educadores e educandos, mas para todos os habitantes do planeta tendo como “objetivo proporcionar discussões, reflexões e orientar a aprendizagem a partir da vivência cotidiana, subsidiada na percepção e no sentido das coisas”, tornando-a tão significativa para o aprendiz a ponto de mudar seu comportamento, e proporcionar sua interação com o meio em que esteja inserido, buscando com isso a harmonia e a sustentabilidade (PEREIRA et al., 2007, p. 86). Assim sendo, o espaço da educação infantil a ser vivenciado diariamente pelas crianças, por um número considerável de horas, acabará por ser tornar local privilegiado para o favorecimento de práticas pedagógicas significativas que visem o contato e, por conseguinte, conhecimento em relação à biodiversidade que cerca as crianças. Com essa outra prática pedagógica, agrega-se ainda qualidade de vida social e ambiental, para que elas cresçam reconhecendo a importância de cuidar e preservar a natureza de forma concreta e prática, e não apenas por algo baseado em imagens abstratas e de pouco significado para ela, retratados em fotos, vídeos e desenhos. (RAMBO E ROESLER, 2019). Dentro desse outro contexto pedagógico, cabe ao professor proporcionar ativi- dades ao ar livre que possam reconectar a criança à natureza, aproximando-a da relação de pertencimento enquanto ser vivo deste planeta, para então estabelecer relação de amor e cuidados com sua própria existência, como bem nos ensina Tiriba (TIRIBA, et al. 2004). Conforme aponta Ahlert “não se cuida o que não se conhece. Não se preserva se não se conhecem os sentidos da preservação”. Em seu artigo, o autor traz refle- xão sobre a ética voltada ao uso sustentável da água, haja vista podermos tomá-lo 18 como referência para o trabalho que se inicia ainda na infância, no que diz respeito ao cuidar e preservar valores quando ensinados logo nos primeiros anos da infância. Ações essas que contribuem para o crescimento de indivíduos mais responsáveis e sensíveis diante da preservação ambiental, pois, conforme seus apontamentos, é preciso ‘conhecer’ para dar sentido ao que é necessário cuidar, ou seja, a criança precisa e deve ter contato com os elementos da natureza para que estes façam par- te de sua vida (AHLERT, 2013, p. 1572). 19 CAPÍTULO II – MÉTODOLOGIA 2.1 Percurso Investigativo O presente trabalho foi elaborado por meio de pesquisa qualitativa, através de revisão bibliográfica relativa à educação ambiental e a importância da vivência com a natureza na primeira infância. Iniciei o trabalho a partir do processo de questionamento sobre as relações que as escolas de Educação Infantil constroem entre as crianças e a natureza. À medida que fui estudando sobre os conceitos de emparedamento da Educação Infantil descrito por Tiriba, observei a necessidade de compreender e a possibilidade de discutir o espaço que a natureza ocupa e pode ocupar na vida das crianças no espaço da Educação Infantil. Portanto, metodologicamente o trabalho de pesquisa fundamenta-se nos estudos desenvolvidos por Tiriba e outros autores como Louv e Barros, na perspectiva de promover a discussão a respeito importância das relações entre criança e natureza e a importância do papel da escola nessa promoção, através de estratégia de prática docente que possibilitasse o contato das crianças com a natureza. 2.2 O brincar ao ar livre no espaço escolar Uma atividade muito característica durante a fase da infância é o ato de brincar. A questão do brincar tem sido alvo de inúmeras pesquisas, principalmente pela psi- cologia, devido à influência que exerce no desenvolvimento infantil. Essa particulari- dade se dá somente nessa fase do desenvolvimento humano, e pode contribuir ao trazer inúmeras vantagens através da experiência para o desenvolvimento futuro da criança. Assim o brinquedo, ou o ato de brincar, proporciona à criança a oportunidade da construção de um mundo imaginário de faz-de-conta, onde, aos poucos, ela se apropria das regras do convívio coletivo e social, conforme ensina Vygotsky: Apesar da relação brinquedo-desenvolvimento poder ser comparada à relação instrução desenvolvimento, o brinquedo fornece ampla estrutura básica para 20 mudanças das necessidades e da consciência. A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas - tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança de- senvolve-se, essencialmente, através da atividade de brinquedo (VYGOTSKY, 1991, p. 69). Portanto, a escola ao proporcionar espaços abertos, ao ar livre, em contato com a natureza para a criança brincar, pode contribuir para a construção de regras, de valores, e cuidados que poderão acompanhá-la durante todo seu desenvolvimen- to. Nesse sentido, conforme aponta Piorski, ao brincar de fazer de conta, a criança assume na sua fala, no seu pensar, e no imaginar, as estruturas simbólicas que mais tarde a ajudarão a interagir, interpretar e dar significado para as coisas, que despon- tarão no nascimento da sua consciência (PIORSKI, 2016, p.27). Figura 1 – Pátio em meio à natureza Fonte: https://www.facebook.com/escolacaminhodomeio/photos A escola, enquanto instituição formadora, torna-se ambiente no qual experiên- cias importantes da infância serão vividas. Restringir aos alunos o emparedamento de uma sala de aula, é nega-lhes o direito à brincadeira previsto no Estatuto da Cri- 21 ança e do Adolescente que, em seu Art. 16º, estabelece “o direito à liberdade com- preende os seguintes aspectos: IV - brincar, praticar esportes e divertir-se” (BRASIL, 1990). Figura 2 – Parquinho com elementos naturais Fonte: https://www.facebook.com/escolacaminhodomeio/photos O brincar, conforme visto, além de ser considerado um direito na infância, pos- sibilita que a aprendizagem seja ressignificada e amadurecida, na medida em que o ambiente de aprendizagem ofereça novos desafios. O professor, nessecontexto, torna-se peça chave quanto às oportunidades que pode ofertar à criança ao colocá-la em contato com seu meio natural através de es- paços abertos para que, a partir de então, possa construir as bases de aprendiza- gem marcadas pelos cuidados e preservação desse meio. Dessa forma, Barros destaca que permitir que a criança brinque com material advindo da natureza atende à sua vontade de construir, criar e montar. Fato esse que possibilita o desenvolvimento de habilidades motoras e de criação cada vez mais complexas na relação com o mundo à sua volta. 22 Nessa perspectiva, Barros sugere que sejam ofertados às crianças alguns ma- teriais como ferramentas lúdicas, tais como: 1) Brinquedos de madeira: os quais possuem peso, textura, durabilidade, e aroma diferente dos brinquedos industrializa- dos; 2) Utensílios de cozinha de louça, madeira ou metal: que acionam a imitação do mundo real, o do adulto; 3) Materiais não estruturados: restos de madeiras, cascas, sementes, pedras, palha, conchas, etc, os quais favorecem o potencial criativo das crianças, cujas partes soltas proporcionam a autoria do fazer e do aprender; 4) Ele- mentos naturais: terra, areia, ar, água, barro e fogo. Cada um deles traz mensagem especial e uma sensação diferente para a criança. Isso permite vencer o medo que os adultos têm de que a criança adoeça, o que a afasta, por exemplo, do contato com a água (BARROS, 2018, p. 77-78). Figura 3 – Proposta com ganhos, folhas e sementes Fonte: http://www.educandotudomuda.com.br Nesse sentido, a proximidade com diferentes elementos contribui para que a criança forme suas próprias ideias e hipóteses sobre a formação do mundo, bem como dos elementos naturais que compõem a vida humana. Aos professores e educadores cabem incentivá-las, sem interferir na liberdade e criatividade espontânea inata nesta fase de desenvolvimento. Segundo Denise 23 Haddad e Janaina Cintrão (2018), o Brincar, para a criança, implica muito mais que a própria ação. Durante o ato de brincar pode-se conhecer a criança, suas emoções, a maneira como ela interage com seus colegas, seu desempenho físico-motor, seu es- tágio de desenvolvimento, seu nível linguístico e sua formação moral. (HADDAD & CINTRÃO, 2018) Dessa forma, o brincar em espaços livres na Primeira Infância, apresenta as- pecto muito importante dentro do contexto de desenvolvimento da mesma, pois du- rante esses momentos ela cria situações de faz de conta, o que motiva a sua criati- vidade dentro de um mundo imaginário no qual se utiliza de objetos da sua própria realidade para formar seu cenário, fazendo assim a ligação entre a realidade e a imaginação. Figura 4 – Brincadeira de comidinha com utensílios de cozinha Fonte: http://emeisanto-antonio.blogspot.com/2017/06/dia-de-brincar-na-terra.html?spref=fb Essas vivências contribuem para seu pleno desenvolvimento, e com isso adqui- re conhecimento, supera limitações e desenvolve-se como indivíduo, segundo con- siderações que Santos faz a respeito: 24 O lúdico pode ser caracterizado como sendo um momento prazeroso de intera- ção e aprendizagem, contribuindo assim, de maneira significativa no que diz res- peito ao processo de socialização, expressão, construção do pensamento e co- municação (SANTOS, 2011, p. 12). Assim, podemos considerar que o ato de brincar pode proporcionar à criança uma aprendizagem significativa, pois permite que ela se relacione com o mundo que a cerca como algo prazeroso. Segundo Richard Louv (2016), os ambientes naturais são essenciais para um desenvolvimento saudável da criança porque estimulam todos os sentidos e inte- gram a brincadeira à aprendizagem. Experiências multissensoriais em ambientes na- turais ajudam a desenvolver estruturas cognitivas necessárias para um desenvolvi- mento intelectual. (LOUV, 2016) Figura 5 – Cabanas com tecidos ao ar livre Fonte: https://amigosdoverde.com.br Na natureza, as crianças são solicitadas a agir de dentro para fora, pois há apenas sugestões do que, como e por que fazer algo. Ao contrário dos brinquedos 25 prontos, ou da televisão, que já possuem forma, função e conteúdos definidos, os elementos da natureza convidam a criança a agir ativamente no mundo, transformando a matéria a partir de sua imaginação e ação. Assim, de um tronco nasce um carrinho; de um sabugo, uma boneca; de uma folha de bananeira, uma cabana. Ao transformar a matéria-prima, a criança produz cultura (MEIRELLES, 2014, p. 64). Figura 6 – Brinquedos confeccionados com elementos da natureza Fonte: Livro Território do brincar - Diálogo com escolas 26 Nesta perspectiva podemos considerar a possibilidade de conceber a natureza como um espaço educacional, para repensarmos e ressignificarmos os fazeres coti- dianos da Educação Infantil, aproximando as crianças da natureza e oferecendo a elas mais do que quatro paredes. Cabendo ao educador/professor despertar um olhar sensível para o entorno e para a natureza que nos é tão cara nos dias de hoje. Figura 7 – Aprendizagem e vivência na prática Fonte: Livro Desemparedamento da infância: A escola como lugar de encontro com a natureza. Conforme aponta Barros, por meio do brincar livre através do convívio com a natureza, possibilitará o desenvolvimento da criatividade, da iniciativa, da autoconfi- ança, a capacidade de escolhas, de tomar decisões e resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento integral da criança. “Isso sem falar nos benefícios mais ligados aos campos da ética e da sensibilidade, como encantamen- to, empatia, humildade e senso de pertencimento”, que o ambiente natural proporci- ona (BARROS, 2018, p.17). Sendo assim, mais uma vez ressalta-se a importância do brincar para o desen- volvimento pleno da criança, e a importância do espaço que será proporcionado pa- ra esse momento lúdico, bem como, a ação pedagógica que será desenvolvida. O espaço ao qual aqui me refiro, diz respeito ao que será ofertado dentro dos espaços 27 formais de ensino, ou seja, o espaço ao ‘ar livre’ dentro da própria instituição ou além dos muros da escola, o qual possa colocar a criança o mais próximo possível dos elementos que compõem a natureza como: terra, pedra, água, areia, plantas, sementes, galhos e folhas. Figura 8 – Proposta pedagógica ao ar livre Fonte: https://www.facebook.com/escolacaminhodomeio/photos 28 CAPÍTULO III – “DESEMPAREDAR” 3.1 Reflexão para além de “quatro paredes” No Brasil, a obrigatoriedade de crianças frequentarem Instituições de Ensino é a partir dos quatros anos de idade, conforme estabelecido na Lei nº 12.796/13, que ajusta a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Porém, os pais precisam trabalhar para manter o sustento da família e, cada vez mais cedo, crianças passam a frequentar os espaços escolares e lá permanecem confinadas por um período longo do dia. Em muitas instituições de ensino no Brasil, o local considerado como formativo se restringe a sala de aula, não incluindo o espaço escolar como um todo. Descon- siderando, muitas vezes, a importância de outras dependências para a proposta pe- dagógica. A área externa pode ser utilizada tanto para momentos de brincar livre quanto para momentos que possuem atividades direcionadas pelos educadores, visto que “o espaço externo é rico para o olhar curioso das crianças, que gostam de colecionar pequenos bichinhos, pedras, folhas e cascalhos […]” (BRASIL, 2012, p.33). Dessa forma, o caráter pedagógico também deve ser atribuído a esse local. No cenário educacional brasileiro é possível perceber que a área externa é, di- versas vezes, invisibilizada, com poucos brinquedos, pouca área verde e, em alguns casos, extremamente limitadas. Realidade diferente do que versam os Indicadores de Qualidade na EducaçãoInfantil (2009): Os ambientes físicos da instituição de educação infantil devem refletir uma con- cepção de educação e cuidado respeitosa das necessidades de desenvolvimen- to das crianças, em todos seus aspectos: físico, afetivo, cognitivo, criativo. […] espaços externos bem cuidados, com jardim e áreas para brincadeiras e jogos, indicam a atenção ao contato com a natureza e à necessidade das crianças de correr, pular, jogar bola, brincar com areia e água, entre outras atividades. (MEC/SEB, 2009, p. 50) Nesse conceito, é preciso considerar os espaços externos da escola nos quais ocorrerá os momentos livres para brincadeiras e socialização do conhecimento, co- mo uma extensão da sala de aula, pois não só ela é espaço de aprendizagem. Des- sa forma, todo lugar em que a criança possa trocar experiências e se sentir viva, 29 disposta, e motivada a aprender, pode ser visto como espaço de aprendizagem, principalmente se nesse espaço se possibilitar à criança o contato com elementos da natureza, como em tanques de areia, brincar com agua, argila, cabanas feitas com tecidos embaixo de árvores, corridas na grama, jardins e hortas. É preciso levar os espaços escolares para além das salas de aula e potencializar um uso pelos estudantes que transcenda as tradicionais funcionalidades da instituição escolar. Faz-se também necessário ampliar a concepção de que o aprendizado só ocorre dentro dos espaços escolares, especialmente as salas de aula, e valorizar todo e qualquer espaço da escola, interno ou ao ar livre, assim como os espaços extramuros. Tudo é potencialmente território educativo e, portanto, sujeito a acolher a intencionalidade pedagógica. (BARROS, 2018). Assim, devemos entender o ambiente escolar na perspectiva material, funcional e relacional, logo a instituição de Educação Infantil não deve pensar um único espaço para a aprendizagem, as áreas externas não podem ficar à margem do planejamento pedagógico. É preciso fazer com que os espaços dialoguem entre si, considerando as relações entre crianças-adultos; crianças-crianças; crianças- objetos; criança-natureza; a fim de construir um ambiente acolhedor, propício à criação, experimentação, imaginação, brincadeira e interação. O ambiente escolar configurado de maneira integrada com a natureza e aces- sível, potencializa as relações humanas e não-humanas estabelecidas no local, pro- piciando a autonomia da criança e fazendo com que o seu processo de aprendiza- gem não seja exclusivamente dependente de um adulto. Para uma experiencia significativa, o educador também deve permitir que a cri- ança se expresse livremente em suas diferentes linguagens, seja proporcionado es- paços de acesso ao brincar livre, respeitado o tempo e as escolhas, seja ampliada suas possibilidades de criação. Conforme destaca Haddad e Cintrão (2018): As experiências lúdicas pressupõem a não obrigatoriedade, a liberdade de ex- pressão de seus desejos, a necessidade de tempos alongados e não fragmenta- dos, o convívio espontâneo entre pessoas, objetos e equipamentos que não im- primam uma resposta única preestabelecida. Um lugar de sensibilização do olhar para as belezas produzidas diariamente pelas crianças, sendo ela a própria ge- radora de conteúdos e brincadeiras. (HADDAD e CINTRÃO, 2018). 30 Nesse sentido, a criança passa a ser protagonista da sua construção de co- nhecimento, pois tem liberdade para tomar decisões e escolher o que quer explorar. Segundo Haddad e Cintrão (2018), em contato com a natureza a criança pode ser surpreendida pelas possibilidades que o espaço natural oferece e ainda favorece a estimulação dos sentidos (olfato, tato, paladar, visão e audição), o contato com os quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar, a aproximação com a fauna e a flora local, a exploração das capacidades e habilidades motoras (subindo em árvo- res, cavando, escalando, correndo, etc), exercícios para a autonomia e socialização. (HADDAD e CINTÃO, 2018). Conforme aponta Barros, as crianças têm o direito de experimentar, aprender, brincar, explorar, se esconder e se encantar com a - e na - natureza, e que os esfor- ços para que isso de fato aconteça devem ser de responsabilidade dos diferentes setores da nossa sociedade, incluindo as escolas. (BARROS, 2018). A área externa como espaço educacional deve ser pensada pelos profissionais de Educação Infantil como uma constante e não como uma excepcionalidade, e o mais importante é não privarmos nossas crianças do contato com a natureza. 3.2 Os espaços externos e suas possibilidades A compreensão, de que as áreas externas e o contato com a natureza são par- tes importantes de uma proposta pedagógica, em uma instituição de educação infan- til, nem sempre está presente nas escolas brasileiras. Muitas vezes o empareda- mento, a privação do sol e do movimento livre, é uma triste realidade, tornando-se cada vez mais raro ver crianças em espaços escolares subindo em árvores, brincan- do com água, se “sujando” com areia ou lama, sendo consideradas mais importante as atividades com lápis e papel, realizadas em salas de aula. Segundo Tiriba (2005), se uma criança chega à creche aos 4 meses e sai aos 6 anos; se passa 12h horas diárias, e até os três anos frequenta raramente o pátio; se, a partir desta idade, adquire o direito de permanecer apenas por 2 ou 3 horas brin- cando lá fora, sobre cimento e brita; se as janelas da sala onde fica o restante do tempo não permitem a visão do mundo exterior; se assim os dias se sucedem, esta criança não conhece a liberdade... (TIRIBA, 2005). O distanciamento da natureza é o que, muitas vezes, caracteriza as rotinas institucionais. 31 Nas falas das profissionais, a razão do distanciamento se deve à identificação dos elementos do mundo natural com a sujeira, a desorganização, a doença, o peri- go. Ou seja, com aquilo que ameaça as organizações do cotidiano e da vida, planifi- cadas e pautadas nos ideais de previsibilidade. (TIRIBA, 2017). O estar ao ar livre não deveria ser apenas uma opção de cada educador, deve- ria ser um princípio pedagógico. Para Tiriba (2010), o espaço externo tem que ser bonito, arejado, ensolarado e oferecer conforto térmico, acústico e visual. Pensando que a educação infantil tem a duração de seis anos, essa autora aponta como sendo uma prisão oferecer o ar livre apenas por uma ou duas horas por dia, já que, segundo ela, as crianças são seres da natureza. Portanto, segundo a mesma, é preciso “desemparedar” na educação infantil, superando a dicotomia entre atividades de sala e de pátio: Além de se constituírem como espaços de brincar livremente e relaxar, esses lu- gares podem também ser explorados como ambiente de ouvir histórias, dese- nhar e pintar, espaços de aprendizagem, em que se trabalha uma diversidade de conhecimentos. (TIRIBA, 2010, p. 9). O aprender através do brincar é uma forma de expressão da criança que pode acontecer em qualquer local, com diferentes materiais e objetos. Alguns espaços podem não se configurar de forma convencional e não nos oferecer “pistas” claras de que é um espaço com potencialidades pedagógicas e promotoras do desenvol- vimento infantil. Por isso, a importância da qualificação do olhar pedagógico em re- lação aos espaços destinados às crianças, como fundamental: um olhar para além do óbvio e do costumeiro, que possibilite enxergar oportunidades criativas e motiva- doras para as crianças em diferentes espaços. Esta possibilidade de atribuirmos a outros espaços, especialmente a natureza, o caráter educativo e de aprendizagem é defendida por Barbieri: Todos os lugares são lugares de aprender. Cidades, florestas, quintais, territórios a serem investigados, com árvores, rios, clareiras, praças, praias. A natureza é um manancial de possibilidades para a formação estética, não só para as crian- ças, como para todos os sereshumanos (BARBIERI, 2012, p.115). Propiciar as crianças o contato com a natureza é permitir que ela amplie o seu “ser no mundo”, que aprenda a preservar o meio em que vive, que tenha atitudes sustentáveis e conscientes com relação ao meio ambiente. 32 Louv (2016) ao apresentar uma pesquisa canadense acerca de escolas que possibilitam o contato intenso com a natureza, aponta benefícios: Os pesquisadores de lá descobriram que as crianças que frequentam escolas com ambientes naturais diversificados são mais ativas fisicamente, mais consci- entes em termos de nutrição, mais civilizadas umas com as outras e mais criati- vas. A naturalização dos terrenos das escolas resultou em mais envolvimento de adultos e de comunidade próxima. Os pesquisadores canadenses também des- cobriram que áreas verdes na escola melhoram o aprendizado, em comparação com áreas cimentadas e gramados; que os espaços verdes mais variados para brincar serviam a uma gama mais ampla de alunos e promoviam a inclusão so- cial, independente do gênero, raça, classe ou capacidade intelectual, além de serem mais seguros. (LOUV, 2016, p.235). Louv (2016) ao abordar o conceito de “Ecoescolas” relata experiências euro- peias com escolas ao ar livre e “escola natural”, o autor sugere que instituições tra- dicionalmente construídas cedam espaço para que a natureza adentre e se torne parte integrante de sua antiga estrutura e que possibilite a criação de espaços para brincar em meio à natureza – “naturalizar seus terrenos” (LOUV, 2016, p.234). Desta forma podemos buscar soluções simples, como uma horta, um canteiro de flores, uma floreira, alguns vasos espalhados pelos espaços da instituição, passeios ao ar livre, brincadeiras com os pés no chão, brincadeiras com água, lama, argila, terra, areia e outros materiais naturais. Ou até mesmo, além dos muros escolares: praças, jardins, plantações, terrenos baldios, taludes gramados, riachos, etc., podem ser explorados como lugares de aprendizagem, onde se ouvem histórias, se desenha, se brinca, se relaxa e se trabalha uma grande diversidade de conhecimentos. De posse desta percepção, faz-se importante direcionar o olhar dos educadores para a natureza, identificar nela possibilidades de ação educativa, uma forma de ressignificarmos nosso fazer docente e oferecer às crianças oportunidades de se viver a infância além dos muros e das paredes das escolas, ampliando sua relação com o mundo. Nós educadores também precisamos resgatar nossas raízes como seres da Terra e nossa conexão direta com o mundo. Porque não começar essa interação fazendo reuniões com a equipe pedagógica em área externa, ao ar livre, em meio a natureza? 33 Os pais também precisavam estar alinhados com esse novo caminho e ajudar a escola a se transformar em um lugar de infância feliz, saudável e conectada com a natureza. Porque não os convidar a lembrarem de sua infância? Das memórias mais marcantes de quando eram crianças? Porque não realizar reunião de pais em meio a um piquenique, em baixo de uma árvore, na área externa da escola? As formas de proporcionar às crianças oportunidades e vivências atreladas à natureza são inumeras, através de materiais, elementos e espaços simples e ao mesmo tempo ricos em possibilidades significativas, que possam conectar crianças e asultos à natureza e proporcionar o desenvolvimento infantil de forma sadia e prazeroza, conforme as imagens a seguir: Figura 9 – Entreterimento com material natural e de baixo custo Fonte: http://acasaredonda.com.br 34 Figura 10 – Inserir entreterimento no pátio Fonte: Livro Desemparedamento da infância: A escola como lugar de encontro com a natureza. Figura 11 – Execução de horta Fonte: https://aulanapratica.wordpress.com/tag/horta-escolar 35 Figura 12 – Usufruir de fenômenos naturais Fonte: Livro Desemparedamento da infância: A escola como lugar de encontro com a natureza. Figura 13 – Contato com animais Fonte: www.facebook.com/escola.amigosdoverde/photos http://www.facebook.com/escola.amigosdoverde/photos 36 Figura 14 – Local ao ar livre para aula, leitura e reuniões Fonte: https://www.facebook.com/escolacaminhodomeio/photos Figura 14 – Propor atividades com materiais e elementos naturais Fonte: http://acasaredonda.com.br 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar este trabalho de conclusão de curso, reflito sobre muitas outras possibilidades de discussão do tema abordado. Em minha trajetória enquanto Zoo- tecnista, exercendo função de Técnica Ambiental e estudante, tive a oportunidade de conhecer muitos profissionais e educadores, os quais me inspiram e fazem perceber que o professor é um indivíduo inquieto, sempre em busca de novas possibilidades, novos estudos, novos materiais e formas de pensar a infância. Inquietude esta que me motivou a escolher o tema deste trabalho no qual o problema inicial foi: “Como aprender a amar e respeitar a natureza se as crianças não convivem com seus ele- mentos?” E posteriormente: “Como ampliar os espaços da escola, na Educação Infantil, proporcionando o encontro das crianças com a natureza?” Sendo assim, considerando que cada vez mais cedo as crianças passam a fre- quentar os espaços escolares e lá permanecem em espaços fechados por um perí- odo longo do dia, evidências apontam que essa situação tem colocado a criança em uma situação de distanciamento da natureza e da liberdade de brincar livremente em contato com os elementos naturais que tanto as atrai, como a água, terra, árvo- res, pedrinhas, areia, flores, sementes, dentre outros. Por se tratar de um assunto muito recente e do meu interesse pessoal, pesquisei várias escolas e verifiquei que havia uma recorrência na preocupação com hábitos alimentares saudáveis e discursos sobre preservação do meio ambiente, porém os momentos próximos à natureza eram poucos. Acredito que a escola as- sume papel muito especial e preponderante dentro desta concepção de sustentabili- dade e cuidado com o meio, possuindo em suas mãos, a possibilidade de aproxima- ção do ser humano com a natureza, tornando-o um ser responsável pelo futuro do planeta, oportunizando que as próximas gerações possam desfrutar de toda a biodi- versidade que o compõe. As crianças estão sempre em movimento, é preciso pensar nos espaços que por elas vão ser explorados. O espaço verde, por si só, não garante o contato da criança com a natureza. A qualificação do olhar pedagógico é de suma importância para proporcionar às crianças oportunidades e vivências atreladas à natureza, aos materiais naturais e à elementos que possam conectar as crianças com estes espaços simples e ao mesmo tempo ricos em possibilidades significativas para o desenvolvimento infantil. 38 Com esse estudo, pude perceber que a falta de amor e cuidado com que a so- ciedade tem tratado o planeta Terra, pode estar diretamente relacionado ao distanci- amento causado entre a criança e o seu contato com o mundo natural durante a fase infantil, ao afastá-la das vivências com o meio natural devido permanecerem empa- redadas nas escolas. Assim, a presente pesquisa tem a intenção de provocar a reflexão sobre a im- portância e o direito da criança ao contato, convívio e vivencia com a natureza e de contribuir para um novo modo de pensar os espaços das escolas de Educação In- fantil, possibilitando o novo olhar para as interações das crianças dentro das institui- ções e as relações não só das crianças mas de todos os seres humanos com a na- tureza, de maneira que possamos desconstruir a ideia de que a natureza existe para servir aos homens, e construir um cenário de respeito e conexão enquanto parte da natureza. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHLERT, Alvori (Ed.). Ação comunicativa e ética no acesso e uso sustentável da água:a experiência do saneamento rural de Marechal Cândido Rondon - PR. Hori- zonte, [s.l.], v. 11, n. 32, p.1571-1588, 16 dez. 2013. BARBIERI, S. Interações: onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012. BARRETO, V.P. A Educação Ambiental como proposta reflexiva da realidade. 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