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Variáveis que Afetam Exportações e Importações Apresentação Você já deve ter se perguntado por que cada país tem a sua própria moeda. Não seria melhor apenas uma moeda vigente em todo o mundo? Outra dúvida muito comum se refere às taxas de câmbio diárias: o que prova a flutuação do câmbio? Há dois tipos de regimes cambiais: câmbio fixo e câmbio flutuante. Câmbio fixo é quando o governo controla o preço do câmbio, enquanto câmbio flutuante é quando ele é livremente definido pela interação entre oferta e demanda. O tipo de regime cambial adotado e as flutuações do câmbio afetam a política econômica do governo, bem como as exportações e as importações do país. Nesta Unidade de Aprendizagem, responderemos a esses questionamentos, reconheceremos a dinâmica da taxa de câmbio e identificaremos os impactos da flutuação cambial na política econômica do governo e nas exportações e importações do país. Também identificaremos as demais variáveis que afetam as exportações e as importações. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a dinâmica da taxa de câmbio.• Identificar os impactos da flutuação cambial na política econômica do governo.• Apontar as variáveis que afetam as exportações e as importações.• Desafio As teorias iniciais sobre o Comércio Exterior têm o economista David Ricardo como seu principal expoente. Este economista desenvolveu as bases para a teoria das vantagens comparativas. Em sua ideia principal, cada país deveria especializar-se na produção da mercadoria em que é mais eficiente (consumo em menor tempo de produção), ao passo que adquire a mercadoria que tem baixa produtividade em produzir. Já a teoria moderna foi desenvolvida pelos economistas Bertil Ohlin e Eli Heckscher, os quais postulavam que um país deveria se especializar a partir de seu recurso produtivo mais abundante, com uma clara referência ao sistema de produtividade, ou seja, a eficiência produtiva acaba por estabelecer os fluxos de comércio. Assim, a concepção atual de comércio exterior envolve a troca entre os ativos mais importantes de cada economia. Estamos falando não de mercadorias, mas de taxa de câmbio. O câmbio é a relação entre a quantidade de moeda nacional e a aquisição de uma unidade de moeda de referência. Por exemplo, com R$ 3,10 se adquire US$ 1.00. Brasil: US$ 1,00 = R$ 3,10 (cotação direta) Exterior: R$ 1,00 = US$ 0,32 (cotação indireta) Desse modo, o câmbio reflete os níveis de desenvolvimento econômico de cada país, bem como a sua eficiência produtiva. Por isso, a unificação de moeda entre países é uma questão delicada, e o projeto de sua implementação arriscado, pois pode empobrecer ainda mais os países menos desenvolvidos. Para compreender a dinâmica da taxa de câmbio, é interessante perceber o câmbio (dólar) como uma moeda, que pode ser demandada ou ofertada pelos agentes econômicos. A demanda é realizada através dos compradores de dólares no mercado – que podem ser tanto os importadores de mercadoria, que pagam em dólares por seus produtos, quanto os investidores estrangeiros na bolsa de valores que desejam retornar ao seu país de origem. Por outro lado, os ofertantes de dólares relacionam-se com os agentes que desejam vender seus dólares, seja através dos exportadores, pois recebem em dólares e desejam trocar por reais, seja pelos investidores produtivos estrangeiros, que trazem seus dólares com o intuito de implementar ou de expandir seu sistema produtivo. Com base no exposto, vamos ao desafio: Imagine que o Mercosul (Mercado Comum do Sul), integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, decida, em cúpula, implementar uma moeda única para o bloco econômico, chamada de Guarani. Aponte as vantagens e desvantagens para os países envolvidos. Infográfico No sistema de câmbio flutuante, os movimentos de demanda e oferta de divisas definem a cotação cambial diariamente. Por sua vez, no sistema de câmbio fixo, o governo opera no mercado de divisas de forma a manter a taxa de câmbio fixa. O Infográfico a seguir traz mais informações sobre esses dois tipos de sistemas cambiais. Conteúdo do livro Taxas de câmbio flexíveis versus taxas de câmbio fixas O sistema cambial cumpre papel importante nos objetivos macroeconômicos de curto prazo do Governo, que envolvem a promoção do crescimento econômico ou o combate à inflação. Nesse caso, os objetivos estão associados ao tipo de sistema cambial adotado. A taxa de câmbio entre o dólar americano e as outras moedas não é constante, ela varia continuamente. De fato, mudanças no valor do dólar ocorrem diariamente, a cada hora, até por minuto. Essas flutuações no valor de uma moeda são normais para países como os Estados Unidos, que têm uma taxa de câmbio flexível, ou flutuante. O valor de uma taxa de câmbio flexível não é oficialmente fixado, mas varia de acordo com a oferta e a demanda por moeda no mercado internacional de câmbio –mercado no qual as moedas de vários países são negociadas por outras. A seguir, discutiremos os fatores que determinam a oferta e a demanda por moedas. Alguns países não permitem que os valores de suas moedas variem com as condições do mercado, e, em vez disso, mantêm uma taxa de câmbio fixa. O valor de uma taxa de câmbio fixa é estabelecido por uma autoridade governamental, normalmente o Banco Central. Alguns países fixam suas taxas de câmbio em termos do dólar americano (Argentina, por exemplo), mas há outras possibilidades. Muitos países africanos fixam o valor de suas moedas em termos do euro, a moeda da União Europeia. No padrão-ouro, que muitos países utilizaram até seu colapso durante a Grande Depressão, os valores das moedas eram fixados em termos de onças de ouro. Acompanhe o capítulo Variáveis que afetam exportações e importações da obra Fundamentos de economia. O livro compõe a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. FUNDAMENTOS DE ECONOMIA Rosangela Aparecida da Silva Variáveis que afetam exportações e importações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a dinâmica da taxa de câmbio. � Identificar os impactos da flutuação cambial para a política econômica do governo. � Apontar as variáveis que afetam as exportações e as importações. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a dinâmica da taxa de câmbio, desde os regimes cambiais dos países até de que forma se dá a apreciação e a depreciação da moeda estrangeira e o que isso acarreta para a economia do país. Você também vai verificar de que forma o governo pode agir para que a flutuação do câmbio não prejudique muito a estabilidade da oferta de bens e serviços e também a estabilidade monetária do mercado interno. Por fim, você vai estudar quais variáveis, além das taxas de câmbio, afetam o comércio exterior de um país com outros países. Taxa de câmbio Começamos este capítulo com uma indagação: como deve proceder um país que deseja abrir sua economia, ou seja, ter relações internacionais de bens, serviços e outros ativos? Primeiramente, deve-se verificar se existe a possibi- lidade de o país ser beneficiado com esse comércio; em geral, se o país cogita esse empreendimento, é porque essa possibilidade já existe. Quando um país tem relações com outros países, entram em pauta as moedas desses respectivos países. Como fazer comércio com tantas moedas diferentes? É difícil ter que comparar o poder de compra de um país com o de outros países, em termos monetários. Nesse contexto, entra a taxa de câmbio, Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 que nada mais é do que o preço da moeda internacional convertido para a moeda nacional, conforme Samuelson e Nordhaus (2012). Se, por exemplo, um país deseja comprar máquinas da China, seria ne- cessário ter o valor das máquinas em moeda chinesa — o renminbi — para pagar o fabricante. Para convencionar e facilitar o comércio internacional,o mercado exterior estipula o valor das mercadorias em dólares americanos, que é uma moeda de aceitação geral. Além disso, é mais fácil mensurar o valor em uma única moeda na economia, e não em mais de uma, conforme apontam Troster e Mochón (2002). Assim, para comprar máquinas da China, pode-se obter o valor delas em dólares e comparar com os valores ofertados por outras nações, para, assim, fazer uma compra mais racional. Utilizar uma moeda internacional de aceitação geral é recorrente no comércio exterior entre os países, principalmente para que se possa comparar preços em uma mesma moeda. Vejamos um exemplo: suponha que você queira comprar uma máquina da China e que ela valha 200 mil renminbi. Quanto ela valerá em reais? Primeiro, deve-se descobrir quanto vale o dólar na China. Supondo que o dólar na China valha 2 renminbi (1 dólar = 2 renminbi), logo, a máquina custará para você 100.000 dólares. Logo em seguida, verifique o valor do dólar no Brasil. Supondo que 1 dólar valha 3 reais e convertendo os valores, veremos que a máquina da China custará 300 mil reais. Agora, é possível comparar o preço da máquina chinesa com outras similares na- cionais. É importante ressaltar que não contamos aqui os custos de transporte, frete e outros que incidem nos comércios internacional e nacional. A conversão de moedas é facilmente realizada em sites e programas especializados, como no site do Banco Central do Brasil, o órgão que regula o mercado de câmbio no Brasil. Acesse o link a seguir e confira a ferramenta de conversão. https://goo.gl/ynRytT De posse dessas informações, vem a seguinte pergunta: como é determinada a taxa de câmbio dos países? A resposta é que ela depende muito dos regimes cambiais adotados pelos mesmos. Variáveis que afetam exportações e importações2 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Regimes cambiais Os regimes cambiais se referem ao modo como institucionalmente os países interferem ou não em suas taxas de câmbio. Taxa de câmbio fixa De acordo com Dornbusch e Fischer (2009, p. 274), “em um sistema de câmbio fixo, os bancos centrais estrangeiros estão prontos para comprar e vender suas moedas a um preço fixo em termos de dólar”. Para fixar sua taxa de câmbio em moeda estrangeira em 1 por 1, por exemplo, o país deve ter a mesma quantidade de moeda estrangeira, para garantir que seus moradores possam fazer essa conversão, nos casos de realizarem alguma transação com o exterior ou para contratos constitucionalmente estipulados. De acordo com Troster e Mochón (2002), a taxa de câmbio fixa foi muito utilizada na época do padrão ouro, depois da Segunda Guerra Mundial, até 1973. O problema, nesse caso, é que o país que adota o câmbio fixo não pode emitir mais de sua moeda sem ter mais da moeda internacional (ou quantidade em ouro, no caso do padrão ouro), o que limita seu crescimento no comércio de bens e serviços. Assim, o país depende muito do Banco Central Americano (que emite a moeda internacional) para fazer sua política monetária. Países com baixo desenvolvimento tendem a fazer empréstimos envolvendo muito dinheiro internacional para equiparar constantemente o seu dinheiro, o que aumenta a dívida externa. Em períodos de crises internacionais, esses países dependentes não têm a quem recorrer com empréstimos para suplantar o valor da sua moeda, conforme apontam Troster e Mochón (2002). Geralmente, o que faz um país fixar seu câmbio é a pretensão de aparentar uma economia forte — já que seu dinheiro está equiparado à moeda inter- nacionalmente aceita — e, assim, atrair mais investimentos internacionais. 3Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Na América Latina, a Argentina é um exemplo de país que adotou o sistema de câmbio fixo, o que gerou problemas para sua economia. Acesse o link a seguir para ler uma reportagem sobre a crise na Argentina. https://goo.gl/GG8E6y Taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio Em um país em que as taxas de câmbio são flutuantes, estas vão ser deter- minadas pela oferta e pela demanda de moeda estrangeira dentro do país, conforme Samuelson e Nordhaus (2012). Nesse sentido, quem traz (oferta) e quem demanda moeda estrangeira no país? De acordo com Troster e Mochón (2002), quando as empresas nacionais vendem (exportam) ainda mais seus bens e serviços, recebem em moeda estrangeira, gerando, assim, mais oferta de moeda dentro do país. Do mesmo modo, quando o país importa mais bens e serviços, precisa de mais dólares (demanda) para pagar as empresas de outros países, tirando moeda estrangeira da economia do país. Outras formas de oferta de moeda estrangeira são os investimentos estran- geiros diretos e indiretos no país via mercado financeiro (bolsas de valores, por exemplo) e os empréstimos de bancos internacionais ou do FMI (Fundo Monetário Internacional). Por outro lado, como formas de sair dinheiro do país, podemos também citar os investimentos no mercado externo, a retirada de investimentos do mercado financeiro, o envio de lucro de empresas estran- geiras, os pagamentos de juros ao FMI, entre outras. Cada país vai ter uma taxa de câmbio diferente, dependendo da quantidade de moeda internacional que tem dentro do país: o país que tem mais moeda internacional tende a ter uma taxa de câmbio menor — cada dólar vale menos em moeda nacional — do que o país que tem menos dólares, se comparado com sua moeda, conforme explicam Samuelson e Nordhaus (2012). Logo, percebe-se que o valor do câmbio no mercado interno, pelo regime de taxas flutuantes ou flexíveis, vai ser determinado pela oscilação da oferta e demanda de moeda estrangeira (divisas) no mercado interno. Variáveis que afetam exportações e importações4 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Quanto mais moeda estrangeira no mercado nacional, menor tende a ser o valor dela em moeda nacional, depreciando essa divisa e apreciando, isto é, valorizando, nossa moeda. Do contrário, quanto menos divisas estrangeiras existem em nosso país, mais apreciada tende a ser a moeda internacional e mais depreciada tende a ser a nossa moeda diante da moeda estrangeira. O mercado de divisas é formado pela oferta e demanda de moeda estrangeira no país quando o regime de taxas de câmbio é flutuante. Em síntese, as quantidades monetárias de entradas e saídas podem ser modificadas no que se refere tanto à oferta quanto à demanda de moeda estrangeira, pelos seguintes fatores: � Níveis de gastos no país e no exterior: por meio, por exemplo, de exportações ou importações e também do turismo interno e externo. � Taxas de juros nacionais e no exterior: vão impulsionar maiores investimentos em produção e/ou mercado financeiro no país e no exterior. � Preços nacionais e preços no exterior: os preços dos produtos em vários países são diferentes; logo, dependendo do preço, mesmo que se tenha uma taxa de câmbio favorável para exportação, o outro país pode ser mais beneficiado com o comércio exterior do que o seu, conforme Troster e Mochón (2002). Convém salientar que, quando o câmbio de um país é fixo, o termo eco- nômico que deve ser utilizado quando o valor da moeda nacional cai em relação à moeda estrangeira é desvalorização; quando ocorre o contrário, emprega-se o termo valorização. Essas denominações ocorrem porque quem está controlando a taxa de câmbio é o governo, e não o mercado, conforme apontam Samuelson e Nordhaus (2012). 5Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Todos os agentes econômicos que mexem com o mercado de câmbio formal devem passar por agências de câmbio autorizadas e regulamentadas pelo Banco Central para adquirir ou vender sua moeda internacional, com o intuito de importar/exportar, aplicar no mercado internacional ou mesmo fazer turismo no exterior. Todas essas transações ficam registradas e devem ser declaradas para fins de impostos específicos.Quer saber mais sobre as possibilidades do mercado do câmbio brasileiro? Acesse o link a seguir. https://goo.gl/fWEMdb Flutuação cambial e suas consequências Supondo agora que estamos diante de uma economia em que há taxas flutuantes de câmbio; se o mercado interno de divisas oscilar demais, como o governo pode ou tende a interferir para não afetar muito a economia nacional? De acordo com Dornbusch e Fischer (2009), os bancos centrais podem atuar, nesse caso, como compradores e vendedores de moedas estrangeiras. Ou seja, eles possuem reservas (estoques de dólares) e podem dispor das mesmas para ofertar e também demandar moeda estrangeira no mercado de câmbio nacional, influenciando e/ou equilibrando o valor dessa moeda na economia interna. Segundo os mesmos autores, quando o governo intervém dessa forma em um mercado de câmbio flutuante, chamamos de flutuação suja ou flutuação administrada, pois, nesse caso, não apenas os agentes tradicionais atuaram comprando e vendendo moedas, mas também o governo. Mas como a taxa de câmbio influencia a economia? Em uma economia aberta, em que pode haver comércio exterior de bens e serviços, o câmbio pode influenciar em tudo. Vamos explicar: mesmo que você não exporte ou importe bens e serviços, sua empresa pode sofrer concorrência de bens importados. Ainda, os bens que você compra dentro do país podem ficar mais caros devido à exportação (a maior oferta externa pode diminuir a oferta interna) e aos preços nos mercados internacionais. No que se refere às importações, quanto menor o câmbio, menor o valor que será pago em moeda nacional. Ou seja, o câmbio baixo com nossa moeda Variáveis que afetam exportações e importações6 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 apreciada favorece quem importa bens e serviços. Sobre as exportações, pode- -se observar o oposto: quanto maior o câmbio, maior tende a ser a quantidade de bens e serviços exportados. Exemplo de exportação e importação com mudanças no câmbio Suponha que o câmbio no Brasil passou de 1 dólar = 2 reais para 1 dólar = 3 reais. Aparentemente a mudança no câmbio não foi tão grande — mas para o comércio internacional do Brasil é. Se um exportador vende uma máquina industrial por 100 mil dólares, esta passará de 200 mil reais para 300 mil reais só com a variação do câmbio. Ou seja, para quem exporta é interessante a apreciação da moeda internacional em reais, pois ganhará mais na última moeda. Já para quem importa, tende a ser ruim: se você paga 100 mil dólares em um carro de luxo vindo dos EUA, por exemplo, convertendo em reais, pagará 300 mil reais, em vez de 200 mil reais (convertido no valor do câmbio anterior). Cabe ao governo, junto à autoridade monetária, verificar se o câmbio está preju- dicando ou favorecendo mais a nossa economia (custo/benefício) e, assim, tomar medidas de controle indireto, como as mencionadas anteriormente, conforme sugerem Troster e Mochón (2002). A balança comercial brasileira — que registra exportações em valores monetários positivamente e importações em valores monetários negativamente — e, por conseguinte, a balança de pagamentos, são altamente influenciadas por oscilações fortes no câmbio. Dessa forma, o governo tende a intervir comprando ou vendendo moeda estrangeira. Contudo, de acordo com Dornbusch e Fischer (2009, p. 275), “[...] se um país apresentar persistentemente déficits no balanço de pagamentos, o banco central ficará, por fim, sem reserva em moeda estrangeira e será incapaz de continuar sua intervenção”. Essa é uma situação perigosa que qualquer país deve evitar, pois ficará fragilizado, podendo causar fuga de capital internacional, o que deve piorar ainda mais a situação desse país. Logo, a intervenção deve ser muito bem calculada e dimensionada. Além de tudo o que vimos, a oscilação da moeda internacional pode afetar fortemente o pagamento dos juros da dívida externa: se a moeda internacio- nal estiver com preço muito alto dentro do país, o governo acaba tendo que pagar em moeda nacional um valor muito alto, conforme apontam Troster e Mochón (2002). 7Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Ainda, quem é primário-exportador e tem sua produção dependente de maquinário externo, se a moeda externa estiver apreciada (com valor alto em reais), pode sofrer ao ter que comprar esse insumo de produção e, por fim, ter um preço maior de venda do bem final produzido, podendo perder em competitividade por preços. Taxa de câmbio e inflação Como mencionamos antes, quando a moeda internacional está com seu preço alto no mercado interno, a tendência é um aumento nas exportações do país, já que o exportador pode conseguir auferir maior renda com as vendas inter- nacionais. Mas será que isso vale para todos os bens e serviços de um país? Bem, isso depende dos preços desses bens e serviços em dólares em relação aos preços e câmbios internacionais. Assim, é necessário encontrar a taxa de câmbio real de cada tipo de bem ou serviço, para que se possa fazer essa comparação de melhora ou não do comércio exterior. Bens nacionais com preços altos relativos aos internacionais podem perder mercado mesmo que a taxa de câmbio esteja favorável a eles. Acesse o site do Ministério da Economia e procure por balanço de pagamentos para ler um informativo atualizado do Governo a respeito do tema. Variáveis que afetam exportações e importações8 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Exemplo de depreciação cambial com inflação Suponha que o Brasil faça comércio internacional com a China. Temos, abaixo, as seguintes informações sobre a confecção de camisas similares em ambos os países e as respectivas taxas de câmbio. � Taxa de câmbio na China: 1 dólar = 2 renminbi. � Taxa de câmbio no Brasil: 1 dólar = 3 reais. � Preço da camisa na China: 40 renminbi, que é igual a 20 dólares. � Preço da camisa no Brasil: 60 reais que é igual a 20 dólares. Avaliação: Veja que, mesmo que a moeda brasileira seja mais depreciada em relação ao dólar, ainda assim não é possível vender para a China, porque o preço em reais é alto. A China vai preferir consumir do seu mercado interno, pois o preço em dólares fica igual ao ser convertido pela sua taxa de câmbio. Uma saída para os exportadores brasileiros seria tentar baixar seus custos para vender em maior quantidade a um preço menor. Nesse caso, por exemplo, se a camisa custar 54 reais, o país poderá vender a mesma a 18 dólares, o que compensará para a China comprar do Brasil, conforme Dornbusch e Fischer (2009). É importante salientar que aqui não consideramos outros custos do comércio exterior, apenas a taxa de câmbio e os preços dos bens analisados. Exportações e importações Além da taxa de câmbio, outros fatores afetam o comércio internacional de um país. São fatores mais setoriais, mas não menos relevantes. Samuelson e Nordhaus (2012) citam alguns: � Diversidade dos recursos naturais: o comércio internacional pode ser impulsionado pela diversidade de fatores de produção encontrada em outros países. Essa diversidade de recursos facilita a produção de bens e serviços diversificados e, talvez, mais acessíveis, em termos monetários. � Diferenças de gostos: as demandas são diferentes em cada país, e pode ser que um país não tenha em abundância o que a sua população deseja, mas outro tenha. Um exemplo relacionado ao Brasil é a venda de carne de aves: a Ásia consome grande parte das partes de cartilagens das aves que os brasileiros desprezam, como os pés e as pernas, pagando preços razoáveis. 9Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 � Diferenças nos custos: esse é um grande argumento do comércio inter- nacional — poder importar um produto com um custo baixo devido ao outro país ter mão de obra barata, ou mesmo porque produz em grande escala, ou, ainda, no caso de países com possibilidades de impostosmais baixos. A mobilidade da produção, com cada parte de um produto sendo montada em um país diferente, por meio de acordos comerciais, pode ser uma vantagem para quem produz em grande escala. Políticas comerciais As políticas comerciais dos países, em geral, têm como intuito fomentar as exportações e reduzir as importações de bens e serviços não necessários de outros países. Claramente, se todos os países pensarem assim, não haveria comércio internacional, visto que todos querem ter a maior vantagem para produzir mais no mercado interno e vender mais. Nesse sentido, como é possível realizar a política comercial entre os países? Em geral, as políticas comerciais são delineadas por meio de: � Acordos multilaterais — geralmente entre vários países de uma região, como um bloco econômico. Assim, os países participantes do bloco podem pagar impostos de importação mais baixos, ou até nulos, de outros países de dentro do bloco, dependendo dos bens e serviços que entraram no acordo. Nesse caso, os países participantes devem ter muita diplomacia e poder político para negociar. Para saber mais sobre o Mercosul — bloco do qual o Brasil participa e é um dos principais líderes —, acesse o link a seguir. https://goo.gl/20TdWM � Acordos bilaterais — acordos entre apenas dois países, em que estes negociam tarifas entre si e beneficiam ambas as produções com alguns tipos de bens e serviços. Nesse caso, a distância geográfica entre os Variáveis que afetam exportações e importações10 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 países às vezes nem importa para um acordo (a menos que o produto seja perecível). A partir desses acordos, os países passam a analisar cada bem e serviço e também cada comprador e vendedor. O Quadro 1 mostra os principais des- tinos das exportações e importações brasileiras em 2017 e 2018, conforme o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Fonte: Adaptado de MDIC ([2019]). País Exportação Importação Jan-Out/2018 Jan-Out/2017 Jan-Out/2018 Jan-Out/2017 Total Geral 199.079.344.901 183.460.822.588 151.443.508.403 125.009.472.673 China 53.246.918.673 41.348.211.649 29.858.960.944 22.604.578.911 Estados Unidos 23.819.205.830 22.229.125.540 23.688.208.951 20.724.893.966 Argentina 13.312.678.088 14.485.395.272 9.153.980.367 7.857.619.400 Países Baixos (Holanda) 9.958.651.249 7.845.801.235 1.399.770.558 1.620.185.501 Chile 5.248.553.093 4.204.317.757 2.894.665.813 2.870.459.543 Espanha 4.314.963.166 3.327.622.137 2.464.408.277 2.351.157.223 Alemanha 4.228.208.689 4.062.278.396 9.031.343.896 7.678.994.605 México 3.763.835.777 3.771.780.764 4.216.457.802 3.345.700.492 Japão 3.583.220.447 4.365.028.304 3.738.052.873 3.114.728.934 Índia 3.391.602.934 3.732.050.747 2.998.206.221 2.345.166.024 Cingapura 3.165.476.408 2.443.980.995 563.456.961 532.151.905 Quadro 1. Principais destinos das exportações e importações brasileiras Percebe-se pelos dados das exportações e importações brasileiras que não necessariamente é preciso estar próximo do país para estabelecer o comércio internacional: a China, o maior comprador e maior vendedor para o Brasil, 11Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 está no continente asiático. A Argentina, terceira maior parceira comercial do Brasil, é a única participante do Mercosul que tem maior comércio com o Brasil. Como foi mencionado antes, as principais políticas comerciais de um país com relação a outros países visam a dificultar a entrada de bens e serviços de outros países e a facilitar as exportações. São elas: � Barreiras tarifárias: referem-se às barreiras diretas à importação de outros países, visto que dificilmente há barreiras à exportação (já que os países, em geral, querem vender mais). As principais barreiras tarifárias são os impostos para importação (que, em geral, são um percentual sobre o preço do bem) e as quotas de importação (que determinam quanto se pode importar de cada bem). Elas dependem do tipo de bem e de onde ele vem, pois, devido aos acordos comerciais, os valores podem variar, conforme Troster e Mochón (2012). � Barreiras não tarifárias: são as mais utilizadas pelos países na atualidade, pois não parecem barreiras, mas, sim, proteção ao mercado consumidor interno do país que está importando. Vão desde barreiras técnicas e sanitárias até barreiras ambientais. Suponha que uma empresa brasileira compre uma máquina da China que custa 100.000 dólares. Essa máquina, para vir para o Brasil da China, tem um imposto de importação sobre o preço do produto de 30% (ad valorem). Sendo assim, vai chegar ao Brasil ao preço de 130.000 dólares. Convertendo de acordo com a taxa de câmbio local de 1 dólar = 3 reais, a empresa vai pagar pela máquina 390.000 reais com o imposto. O imposto cobrado encareceu o produto para diminuir a competitividade dele no país. Nota: aqui não constam valores de frete, seguro e outros valores necessários para se importar algo, apenas taxa de câmbio e imposto de importação, que são fictícios. Variáveis que afetam exportações e importações12 Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 BRASIL. Ministério da Indústria, Comercio Exterior e Serviços. Balança comercial brasi- leira: acumulado do ano. [2019]. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/index.php/ comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/balanca-comercial-brasileira- -acumulado-do-ano>. Acesso em: 7 jan. 2019. DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. Macroeconomia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2009. SAMUELSON, P. A.; NORDHAUS, W. D. Economia. 19. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. TROSTER, R. L.; MOCHÓN, F. Introdução à economia. São Paulo: Makron Books, 2002. Leituras recomendadas STIGLITZ, J. Introdução à macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2003. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas, 2002. 13Variáveis que afetam exportações e importações Identificação interna do documento SDUU3LEO79-YMMFWK1 Dica do professor O vídeo a seguir trata da taxa de câmbio e dos regimes cambiais. Confira! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/547c73da742deca3aa917c9c9d7e6ba9 Exercícios 1) De acordo com artigo técnico publicado pelo Banco do Nordeste, “(...) o crescimento das exportações (atividade básica) gera um efeito multiplicador e de aceleração no setor de mercado interno, não-exportador, através do efeito-renda e dos efeitos de encadeamentos para trás e para frente no processo produtivo, criando demanda por serviços, como transportes, comunicações e financiamentos”. Desse modo, é possível afirmar que uma desvalorização cambial súbita tem por efeito: A) Facilitar a entrada de capitais que serão aplicados no Mercado de Capitais. B) Criar obstáculo natural para a entrada de capitais oficiais autônomos para investimento produtivo. C) Manter inalterado o volume de importações de mercadorias. D) Incrementar o volume de exportações através do ganho adicional em moeda nacional. E) Reduzir o volume de exportações através da perda adicional em moeda nacional. 2) O jornal Valor Econômico publicou, no dia 06 de março de 2015, uma reportagem sobre a acelerada desvalorização cambial sofrida nos primeiros três meses daquele ano. O jornal buscou ouvir o Ministro Nelson Barbosa, e este buscou tranquilizar o mercado ao afirmar que, no médio-prazo, a desvalorização trará benefícios ao Brasil. Com base nisso, aponte a afirmação CORRETA. A) Políticas comerciais discricionárias, promovendo manipulações tarifárias ou de ordem burocrática sobre as importações de mercadorias, representam alternativas menos eficientes que as desvalorizações cambiais quando o objetivo é o superávit da balança comercial. B) Quando o Banco Central reduz a SELIC ( taxa básica de juros), ele está objetivando reduzir o déficit no Balanço de Pagamentos.C) A taxa de câmbio é a quantidade, em moeda estrangeira, de uma unidade de moeda nacional. D) Quando o Banco Central autoriza o funcionamento do Sistema de Câmbio Flutuante, ele está objetivando criar um volume adequado de reservas cambiais. E) Quando o Banco Central autoriza o funcionamento do Sistema de Câmbio Fixo, ele consegue manter a paridade cambial, desde que reduza a taxa de juros internos. 3) Em publicação recente do portal G1 (ver gráfico), “as importações superaram as vendas externas, resultando em déficit da Balança Comercial Brasileira, em US$ 2,84 bilhões em fevereiro (...). Trata-se do pior resultado para meses de fevereiro desde o início da série histórica, em 1980, segundo o Ministério [do Comércio Exterior]”. Nesse sentido, marque a alternativa que está relacionada à Balança Comercial Favorável. A) O chamado superávit comercial, ou seja, as exportações excederão as importações, mas sem considerar o pagamento de seguro e frete. B) O chamado superávit comercial quer dizer que haverá mais entrada do que saída de dólares no País. C) Existe um aumento das reservas internacionais, ou seja, volume de divisas em poder do país. D) A oferta de divisas internacionais excedeu a demanda de divisas em dado período. E) O excedente do crédito em exportações de mercadorias mais os seguros, fretes e demais créditos operacionais sobre as importações de mercadorias, menos os débitos em conta corrente. 4) Em relação às variáveis e tipos de sistemas cambiais , julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações a seguir. I - ( ) No sistema de câmbio flutuante, o objetivo primário será controlar o processo inflacionário através do aumento da concorrência internacional na economia doméstica. II - ( ) Uma desvalorização cambial tende a promover o aumento das exportações, com tudo permanecendo constante, e a redução das importações de um país. III - ( ) O sistema de taxas fixas de câmbio possui como desvantagem, para países em processo de desenvolvimento, não promover equilíbrio do Balanço de Pagamentos (BP). Em relação ao restante do mundo, incentiva perdas na produtividade. IV - ( ) Se os preços, em divisa estrangeira, dos produtos exportados pelo país apresentarem um crescimento maior que os preços das importações, as exportações deste país tenderão a aumentar. Marque a sequência CORRETA. A) F, F, F, V. img_conteudo/exercicio3.png B) F, F, V, V. C) F, V, V, V. D) V, V, V, V. E) V, F , V, V. 5) De acordo com os autores Frank e Bernanke, “embora um governo consiga manter uma taxa de câmbio sobrevalorizada por um tempo, ao se oferecer para comprar sua própria moeda pelo preço oficial, há um limite para essa estratégia, uma vez que o estoque de reservas internacionais de um governo não é infinito”. Em consonância com essa declaração, julgue como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações a seguir: I - ( ) Se o país adota o câmbio fixo, objetiva-se um equilíbrio automático no seu balanço de pagamentos. II - ( ) O regime de taxa de câmbio fixo em economia com inflação crônica apresenta desvalorizações periódicas e graduais da taxa de câmbio. III - ( ) No regime de câmbio flutuante, a cotação da moeda estrangeira em termos da moeda nacional é determinada pela dinâmica de oferta e demanda de divisas no mercado oficial. IV - ( ) Uma desvalorização real da taxa de câmbio estimula as exportações e dificulta as importações. Marque a sequência CORRETA. A) F, F, F, V. B) F, F, V, V. C) V, V, F, F. D) V, V, V, F. E) F, V, V, F. Na prática A dinâmica da taxa de câmbio no Mercado de Divisas contribui para os objetivos de curto prazo da política monetária do Governo. O dólar, considerado moeda de pagamento internacional, assim como qualquer outra mercadoria, possui os seus movimentos de demanda e oferta. Todavia, a demanda de dólar é considerada demanda de divisas, assim como a oferta de dólares é denominada oferta de divisas. Veja: Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Capitais Internacionais e Mercado de Câmbio no Brasil. Leia sobre os capitais internacionais e o mercado de câmbio no Brasil neste relatório técnico produzido pelo Banco Central do Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Economia (19a Edição) Para se aprofundar mais em fundamentos de economia, leia este livro, que apresenta o conteúdo pertinente ao que foi estudado nesta Unidade de Aprendizagem. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conversão de moedas Para aprender a fazer a conversão de moedas, assista a este vídeo produzido pela Khan Academy Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.bcb.gov.br/rex/LegCE/Port/Ftp/Capitais_Internacionais_Mercado_Cambio_Brasil.pdf https://www.youtube.com/embed/DFk2HQ2iUQM