Prévia do material em texto
1 DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE DO TRANSPORTE (ARTS. 730 A 756 DO CÓDIGO CIVIL) Tartuce (2017), conceitua o contrato de transporte como aquele pelo qual alguém (o transportador) se obriga, mediante uma determinada remuneração, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas, por meio terrestre (rodoviário e ferroviário), aquático (marítimo, fluvial e lacustre) ou aéreo (art. 730 do CC). Aquele que realiza o transporte é o transportador, e a pessoa transportada é o passageiro ou viajante, enquanto a pessoa que entrega a coisa a ser transportada é o expedidor. O que identifica o contrato é uma obrigação de resultado do transportador, diante da cláusula de incolumidade de levar a pessoa ou a coisa ao destino, com total segurança. Obs.: Cláusula de incolumidade é a obrigação tacitamente assumida pelo transportador de conduzir o passageiro ileso ao local de destino. A natureza jurídica é de contrato de adesão (pois o viajante adere ao regulamento da empresa de transporte, que elabora todas as suas cláusulas. No contrato de adesão, as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, às quais a outra simplesmente adere), bilateral ou sinalagmático (porque gera obrigações recíprocas), consensual (aperfeiçoa com o acordo de vontades, na maioria das vezes é tácito), oneroso, comutativo (porque as prestações são certas e determinadas, antevendo as partes as vantagens e sacrifícios que dele podem advir) e não solene. 2 Existem várias espécies de transporte que podem ser verificadas no quadro esquemático abaixo: 1) O transporte de pessoas O art. 734 do Código Civil estabelece a responsabilidade objetiva do transportador “pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior”, proibindo qualquer cláusula de não indenizar. Além disso, a responsabilidade do transportador não é excluída por culpa de terceiro, contra o qual cabe ação regressiva (art. 735 do CC e Súmula 187 do STF). Assim, ocorrendo um acidente de transporte, não pode o transportador pretender eximir-se da obrigação de indenizar o passageiro, depois de haver descumprido a obrigação de resultado tacitamente assumida, atribuindo culpa ao terceiro (ex.: ao motorista do caminhão que colidiu com o ônibus). O transportador deve primeiro indenizar o passageiro, para depois discutir a culpa pelo acidente, na ação regressiva movida contra terceiro. Atenção: é importante dizer que o fato de terceiro só exonera o transportador quando efetivamente constitui causa estranha ao transporte, isto é, quando elimina, totalmente, a relação de causalidade entre o dano e o desempenho do contrato, como na hipótese de o passageiro ser ferido por uma bala perdida, por exemplo. 3 A jurisprudência tem considerado causa estranha ao transporte, que isenta de responsabilidade o transportador, equiparável ao fortuito, disparos efetuados por terceiros contra trens ou ônibus, ou ainda, disparos efetuados no interior do ônibus, inclusive durante assaltos aos viajantes. No que diz respeito a responsabilidade do transportador a danos causados a terceiros, prevalece o art. 37, §6º da CF/88, que responsabiliza, de forma objetiva, na modalidade do risco administrativo, as permissionárias de serviço público pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, ou seja, não se eximirão da responsabilidade provando apenas ausência de culpa, incumbindo demonstrar que o evento danoso ocorreu por força maior ou por culpa exclusiva da vítima ou ainda por fato exclusivo de terceiro. Outra hipótese de afastamento da responsabilidade do transportador, prevista no art. 738 do Código Civil, é quando ocorre a culpa exclusiva ou concorrente do passageiro. Por essa razão o STJ vem decidindo que em caso de queda de trem por praticante de “surfismo ferroviário”, que “descaracteriza o contrato de transporte a atitude da vítima, que, podendo viajar no interior do trem, se expõe voluntariamente a grave risco. 2) O transporte de coisas O transporte de coisas em sua execução participam em regra 03 personagens: o expedidor ou remetente; o transportador, sendo este o que recebe a coisa com a obrigação de transportá-la; e o destinatário ou consignatário, pessoa a quem a coisa é destinada. Para o transporte de coisas o transportador é obrigado a descrever a coisa transportada de modo a não confundir com outra. Se o transportador vier a sofrer prejuízo por informação inexata ou falsa da coisa transportada, será indenizado, devendo a ação ser ajuizada no prazo decadencial de 120 dias (art. 745 do CC). Além disso, o transportador tem a obrigação de manter a coisa em bom estado e de entregá-la no prazo. A sua responsabilidade, que é limitada ao valor constante do conhecimento, começa no momento em que, diretamente ou por seus prepostos, recebe a coisa e termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado (art. 750 do CC), ou se houver dúvida sobre quem seja o destinatário (art. 755 do CC). Em caso de perda parcial ou avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua “ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega (art. 754, parágrafo único). Em regra, quem recebe as mercadorias, se possível, deve conferi-las e vistoria-las, apresentando prontamente as reclamações que tiver, sob pena de decadência do direito. 4 3) Direitos do transportador Tem o transportador o direito de: exigir o pagamento do preço ajustado, não se subordinando a ele o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia (art. 736 do CC); reter a bagagem e outros objetos pessoais do passageiro, para o caso de não ter recebido o pagamento da passagem no início ou durante o percurso (art. 742 do CC); reter, a título de multa compensatória, 5% da importância a ser restituída ao passageiro, quando este desiste da viagem (art. 740, §3º); estabelecer normas disciplinadoras da viagem, especificando-as no bilhete ou afixando-as à vista dos usuários (art. 738 do CC). O não cumprimento pelo passageiro das normas estabelecidas para o transporte pode ser motivo para a aplicação de sanções, inclusive a de retirada compulsória do meio de transporte; recusar os passageiros, nos casos permitidos nos regulamentos ou em que as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem (art. 739 do CC); alegar força maior em duas situações: a) para excluir a sua responsabilidade por dano às pessoas transportadas e suas bagagens (art. 734 do CC); e b) para excluir a sua responsabilidade pelo descumprimento do horário ou itinerário previsto. 4) Deveres do transportador As obrigações do transportador consistem em: transportar o passageiro, no tempo e no modo convencionados, o art. 737 do Código Civil sujeita o transportador “aos horários e itinerários previstos” nos contratos e regulamentos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior; responder objetivamente pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior (art. 734 do CC); concluir a viagem contratada, sempre que ela se interromper por qualquer motivo alheio à sua vontade e imprevisível, em outro veículo da mesma categoria, ou por modalidade diferente se a ela anuir o passageiro, sempre à sua custa, correndo por sua conta eventuais despesas de estadia e alimentação deste, durante a espera de novo transporte (art. 741 do CC); não recusar passageiros, salvo nos casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde o justificarem. 5 5) Direitos do passageiro O passageiro tem o direito de: exigir o cumprimento do contrato de transporte, mediante a apresentação do bilhete; rescindir o contrato quando lhe aprouver; ser conduzidosão e salvo ao destino convencionado; exigir que o transportador conclua a viagem interrompida por motivo alheio à sua vontade, em outro veículo da mesma categoria, ou de modalidade diferente se houver concordância do usuário, e responda por todas as despesas provenientes desse fato (art. 741 do CC). 6) Deveres do passageiro Em contrapartida, constituem deveres do passageiro: pagar o preço ajustado; sujeitar-se às normas estabelecidas pelo regulamento do transportador; não causar perturbação ou incômodo aos outros passageiros; comparecer ao loca de partida no horário estabelecido; 7) O transporte gratuito É importante salientar que ainda que o transporte seja gratuito (feito por cortesia), a existência de qualquer modalidade de culpa (grave, leve ou levíssima) é o quanto basta para que a responsabilidade do transportador seja exigível. Por isso quem transporta em seu veículo alguém, fazendo-lhe um favor, tem o dever de executar essa gentileza sem colocar em risco, voluntariamente, a segurança e a vida do passageiro. O transporte aparentemente gratuito é aquele em que há uma utilidade das partes, pois o transportador pode ter algum interesse em conduzir o passageiro (ex.: na hipótese do vendedor de automóveis, que conduz o comprador para lhe mostrar as qualidades do veículo, ou do corretor de imóveis, que leva o interessado a visitar diversas casas), não constitui hipóteses de contratos verdadeiramente gratuitos, devendo ser regidos, pois, pelas disposições do Código Civil que estabelecem a culpa presumida do transportador, só afastada em caso de culpa exclusiva da vítima, força maior ou fato exclusivo de terceiro. 6 Resumo: