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Capítulo II
Ação pelo rIto ordInárIo Com pedIdo 
de AnteCIpAção dos efeItos dA tutelA
sumárIo: 1. Ação ordinária com pedido de antecipação dos efeitos da tutela x mandado de segurança 
com pedido de liminar – 2. Situações já cobradas em provas de Exame da Ordem – 3. Do pedido de assis-
tência judiciária gratuita.
1. Ação ordInárIA Com pedIdo de AnteCIpAção dos efeI-
tos dA tutelA x mAndAdo de segurAnçA Com pedIdo de 
lImInAr
Vezes há em que o enunciado da questão aponta uma situação emergen-
cial que demanda a formulação de um requerimento de cunho antecipatório 
para proteger os interesses do seu constituinte, de modo a evitar o pereci-
mento do objeto da ação.
São situações em que a leitura da questão aponta todas as características 
relativas a um mandado de segurança, uma vez que é próprio desse remédio 
constitucional assegurar o direito dos impetrantes em situações emergen-
ciais, notadamente com a formulação de um pedido de liminar.
Não obstante, em algumas dessas situações o próprio enunciado da 
questão dá conta de que o prazo decadencial do mandado de segurança (de 
120 dias) já expirou, de forma que a medida judicial mais apropriada é a 
propositura de uma ação ordinária (genérica), porém, com o pedido de an-
tecipação dos efeitos da tutela (face à situação de emergência retratada). 
Do ponto de vista de modelo (“prato”) de elaboração, a antecipação dos 
efeitos da tutela apresenta similitude com o pedido de liminar, havendo mo-
dificação, apenas, nos requisitos autorizadores da medida.
Com efeito, são requisitos do pedido de liminar a demonstração da fu-
maça do bom direito (fumus boni iuris) e do perigo de demora (periculum in 
mora). A antecipação dos efeitos da tutela, por sua vez, tem seus requisitos 
estabelecidos expressamente no art. 273 do CPC, sendo: a verossimilhança 
da alegação; a prova inequívoca e o fundado receio de dano irreparável ou 
de difícil reparação. 
Veja que o próprio dispositivo do CPC traz os requisitos, os quais, portan-
to, não precisam sequer ser memorizados pelo examinando ou candidato:
“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcial-
mente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, exis-
tindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
64 José Aras
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou 
II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propó-
sito protelatório do réu.”
Observe que os primeiros requisitos assemelham-se ao fumus boni iuris 
e o último, ao periculum in mora. Desta forma, utilizaremos “pratos” (mo-
delos) semelhantes, até mesmo para facilitar a formulação desses pedidos, 
valendo ressaltar que caberá pedido de antecipação da tutela nas ações or-
dinárias (quando não couber a impetração de um Mandado de Segurança 
ante o transcurso do prazo decadencial de 120 dias de que trata o art. 23 
da Lei 12.016/2009), sendo os pedidos de liminar formulados no Mandado 
de Segurança (individual e coletivo); na ação popular e na ação civil pública, 
conforme veremos abaixo.
O modelo (prato) para a formulação do pedido é o seguinte:1
DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
A verossimilhança das alegações1 reside nos argumentos fáticos e jurídicos acima ex-
postos, os quais dão conta de que existe o bom direito ora vindicado, notadamente em 
face das violações às normas e aos princípios supramencionados, conforme dá conta a 
prova inequívoca em anexo.
O fundado receio de dano irreparável, por sua vez, consiste no prejuízo sofrido pelo 
Autor ante [explicar o risco que sofre o autor].
Assim, requer a V. Exa. o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela para [pedir 
a providência que suste a lesão], até final decisão da presente ação.
Lembre-se que os pedidos de natureza antecipatória (liminares e anteci-
pação dos efeitos da tutela, por exemplo), têm caráter instrumental e valem 
enquanto não for apreciado o pedido de mérito da ação em que foi formu-
lado. Por isso, é importante a indicação de que a medida vale “até final de-
cisão da presente ação”, sendo obrigatório, ainda, pedir a confirmação da 
antecipação dos efeitos da tutela (ou da liminar) quando da formulação dos 
pedidos definitivos (conforme se verá, em negrito, nos modelos abaixo).
Vale ressaltar, finalmente, que a contagem quanto a esse prazo (dis-
tinguindo a ação ordinária com pedido de antecipação dos efeitos da 
tutela e o mandado de segurança com pedido de liminar) estabelece-se 
entre o dia da prática do ato ilegal (ou da intimação do interessado, 
inclusive por meio de diário oficial) e o momento em que o indivíduo 
resolve intentar a ação, procurando o advogado. 
1. Observe que esses requisitos (em negrito) são extraídos do próprio art. 273, do CPC;
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 65
Ou seja, se nesse período já tiverem transcorridos 120 dias, a medida 
apropriada será a propositura de ação pelo rito ordinário contra o Estado, 
que, em regra, prescreve apenas no prazo de 5 anos (Decreto nº 20.910/32).
2. sItuAções já CobrAdAs em provAs de exAme dA ordem
Essa problemática foi cobrada pelo menos duas vezes no Exame da Or-
dem. Eis as questões e as respectivas sugestões de resposta:
 Æ A) OAB MG AGOSTO/2006
PEÇA PROFISSIONAL 
O Município de Patópolis, por meio de sua Secretaria de Saúde, realizou 
concurso público para preenchimento de 20 cargos efetivos de médico. 
O concurso foi realizado durante o primeiro semestre de 2005, e homo-
logado em agosto de 2005, com prazo de validade de 1 ano, prorrogável 
por mais 1 ano. Em agosto de 2006, o concurso foi prorrogado por mais 1 
ano pela autoridade administrativa competente, qual seja o Prefeito de 
Patópolis. O Município, todavia, até hoje, nomeou apenas os 5 primeiros 
aprovados, na ordem de classificação do concurso.
No entanto, o candidato Mévio, aprovado em 10º lugar, descobriu, por 
meio de publicação no Diário Oficial, que o Município de Patópolis firmou 
contrato temporário com 10 médicos, em janeiro de 2006. Indignado, Mé-
vio procurou, em setembro/06, um advogado para verificar a possibilida-
de de obter judicialmente sua nomeação o mais rápido possível, já que 
se encontra desempregado.
Tendo em vista os dados fornecidos, na condição de advogado, prepare 
a petição inicial da ação cabível na hipótese. O candidato deverá levar 
em conta, na elaboração da peça, as questões processuais atinentes à 
ação a ser ajuizada.
 9Nota: Observe que embora a contratação irregular dos médicos para ocupar o 
cargo, em detrimento dos candidatos aprovados no concurso (inclusive do seu 
“cliente” Mévio, foi publicada no meio oficial (Diário) em janeiro de 2006, este so-
mente te procurou em setembro de 2006, ou seja, mais de 120 após a divulgação 
do ato ilegal, de modo que não cabe, na questão a impetração de um mandado 
de segurança, mas sim a propositura de uma ação ordinária, com pedido de 
antecipação dos efeitos da tutela, ante a necessidade da urgência da tutela dos 
interesses do Autor (o enunciado usa a expressão “o mais rápido possível”).
66 José Aras
MODELO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA 
PÚBLICA DA COMARCA DE PATÓPOLIS, ESTADO...
(10 linhas)
MÉVIO, prenome, estado civil, médico, residente e domiciliado na..., 
por seu advogado, regularmente constituído pelo instrumento de 
mandato em anexo, com endereço profissional na..., vem perante 
Vossa Excelência propor AÇÃO ORDINÁRIA, com pedido de antecipação 
dos efeitos da tutela, contra o Município de Patópolis, pessoa jurídica 
de direito público interno, com sede na..., pelos fatos e fundamentos 
jurídicos que passa a expor:
Inicialmente, requer a V. Exa., com espeque na Lei 1.060/50, a conces-
são dos benefícios da assistência judiciária gratuita, tendo em vista 
estar desempregado, e sem condições de arcar com as custas proces-
suais e demais despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio 
sustento.
DOS FATOS
O Município de Patópolis,por meio de sua Secretaria de Saúde, rea-
lizou concurso público para preenchimento de 20 cargos efetivos de 
médico. 
O concurso foi realizado durante o primeiro semestre de 2005, e ho-
mologado em agosto de 2005, com prazo de validade de 1 ano, pror-
rogável por mais 1 ano. Em agosto de 2006, o concurso foi prorrogado 
por mais 1 ano pela autoridade administrativa competente, qual seja 
o Prefeito de Patópolis. 
O Município, até hoje, nomeou apenas os 5 primeiros aprovados, na 
ordem de classificação do concurso, tendo o Autor ficado aprovado 
em 10º lugar no certame.
Ocorre que o Autor descobriu, por meio de publicação no Diário Ofi-
cial, que o Município de Patópolis firmou contrato temporário com 10 
médicos, em janeiro de 2006. 
Patente, “data venia”, a ilegalidade no que tange à ocupação dos 
cargos sem que tivesse procedido à nomeação do Autor, consoante 
se demonstrará nas linhas abaixo.
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 67
DO DIREITO
O ordenamento jurídico pátrio estabelece a obrigatoriedade do con-
curso público como meio para o provimento de cargos e empregos 
na administração direita e indireta.
É o que se vê, dentre outros, no art. 37, II, da CF, “in verbis”:
“A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia 
em concurso público de provas e de provas e títulos, de acordo com a 
natureza e complexidade do cargo ou emprego (...)”
Como se não bastasse, a regra do concurso público conforma-se, no 
âmbito do regime jurídico-administrativo, dentre outros, com os prin-
cípios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade e da acessi-
bilidade aos cargos públicos.
No caso dos autos, como se vê, o Município Réu, desconsiderando 
haver concurso com candidato aprovado e prazo de validade ainda 
não expirado, firmou contrato temporário com 10 médicos os quais 
vêm exercendo as funções e ocupando, indevidamente, os cargos 
para os quais o Autor realizou o concurso público, em total afronta à 
Constituição e aos postulados acima mencionados.
Como se não bastasse, a previsão constitucional acerca da contrata-
ção temporária (art. 37, IX) é expressa ao condicioná-la às hipóteses 
de “necessidade temporária de excepcional interesse público”, situa-
ção em tudo diversa da tratada no presente caso, em que a própria 
administração, reconhecendo a necessidade de provimento dos car-
gos, realizou concurso público do qual participou o Autor, consoante 
acima demonstrado.
Acerca do tema, eis a doutrina do festejado Celso Antonio Bandeira de Mello, “in verbis”:
“b) Contratação excepcional sem concurso
52. A Constituição prevê que a lei (entende-se: federal, estadual, dis-
trital ou municipal, conforme o caso) estabelecerá os casos de contra-
tação para o atendimento de necessidade temporária de excepcional 
interesse público (art. 37, IX). Trata-se, aí, de ensejar suprimento de 
pessoal perante contingências que destarrem da normalidade das si-
tuações e presumam admissões apenas provisórias, demandadas em 
circunstâncias incomuns, cujo atendimento reclama satisfação imedia-
ta e temporária (incompatível, portanto, com o regime normal de con-
cursos).”. (in “Curso de Direito Administrativo”, 26ª Edição, Malheiros, 
São Paulo, 2009, p. 281).
68 José Aras
Daí se vê, excelência, a violação à Lei e aos mais comezinhos princí-
pios de Direito, a que está (ou deveria estar!) vinculado o Réu.
DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
A verossimilhança das alegações reside nos argumentos fáticos e jurí-
dicos acima expostos, os quais dão conta de que existe o bom direito 
ora vindicado, notadamente em face das violações às normas e aos 
princípios supramencionados, conforme dá conta a prova inequívoca 
em anexo.
O fundado receio de dano irreparável, por sua vez, consiste no pre-
juízo sofrido pelo Autor ante a impossibilidade de exercer as funções 
inerentes ao cargo para o qual foi aprovado no mencionado concur-
so público, ante a ilegal ocupação de contratados por parte do Réu, 
valendo ressaltar que o Autor encontra-se desempregado e necessita 
da nomeação para voltar ao mercado de trabalho e obter condições 
dignas de sobrevivência.
Assim, requer a V. Exa. o deferimento da antecipação dos efeitos da 
tutela para que seja assegurado ao Autor o direito à nomeação no 
cargo de médico, respeitada a ordem de classificação no certame, 
até final decisão da presente ação.
DOS PEDIDOS DEFINITIVOS
Em face do exposto, requer a V. Exa.: 
a) a citação do Réu, na pessoa do seu representante legal, para, 
querendo, contestar a presente ação, sob pena de aplicação dos 
efeitos da revelia;
b) sejam julgados procedentes os pedidos, para declarar a ilegali-
dade no que tange ao provimento dos cargos públicos por profis-
sionais contratados por tempo determinado, por flagrante burla 
à norma e princípios que estabelecem a obrigatoriedade do con-
curso público, determinando ao Réu que proceda à nomeação do 
Autor no cargo de médico, respeitada a ordem de classificação, 
lhe garantindo todos os direitos decorrentes do vínculo; 
c) a confirmação do pedido de antecipação dos efeitos da tutela, 
acima formulada;
d) a condenação do Réu nos ônus da sucumbência;
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 69
e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, 
especialmente documental;
f) a juntada dos documentos em anexo.
Dá à causa o valor de...
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...
 Æ B) CESPE-OAB-DIVERSAS REGIÕES/OUTUBRO/2008 (2008.2)
PEÇA PROFISSIONAL
João, servidor público civil da União no âmbito da administração direta, 
por motivo de índole pessoal que se recusa a revelar, faltou ao ser-
viço, sem qualquer justificativa, por períodos interpolados de 25, 27 e 
23 dias no período de doze meses. Sua chefia imediata, ao constatar o 
fato, decidiu instaurar processo administrativo disciplinar contra João, 
sob o argumento de que teria ele cometido a infração de inassiduidade 
habitual. Em 20/10/2007, foi publicado ato que constituía comissão para 
apreciar o caso; em 10/12/2007, a comissão, após apresentada defesa 
por João, elaborou relatório conclusivo, tendo constatado a responsa-
bilidade do servidor; em 15/12/2007, a autoridade instauradora do pro-
cesso julgou João responsável pela infração de inassiduidade habitual; 
em 20/12/2007, foi publicado ato do presidente da República demitindo 
João do cargo que ocupava; nesse mesmo dia, o servidor tomou ciência 
da demissão no próprio órgão a que estava vinculado. Em 4/6/2008, 
João procurou os serviços advocatícios de um(a) profissional, com o 
objetivo de anular o ato de demissão e, consequentemente, retornar 
ao cargo que anteriormente ocupava, alegando estar desempregado 
e precisar urgentemente de recursos para alimentar a si próprio, seus 
cinco filhos e sua esposa.
Em face da situação hipotética acima apresentada, na qualidade de 
advogado(a) de João, redija a peça jurídica mais adequada ao caso, 
atentando, necessariamente, para os seguintes aspectos: < competência 
do órgão julgador; < legitimidade ativa e passiva; < argumentos a favor 
da anulação da demissão de João; < requisitos formais da peça judicial 
proposta.
70 José Aras
 9Nota: Nesse caso, a adoção da ação ordinária e não do mandado de segurança 
se deu ante o fato de que o ato de demissão se deu em 20/12/2007 e o nosso 
“cliente” João somente lhe procurou em 4/6/2008, ou seja, após 120 dias, tendo 
expirando, também nessa hipótese, o prazo para a propositura do mandado de 
segurança.
SUGESTÃO DE TEXTO: 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICI-
ÁRIA DO ESTADO...
(10 linhas)
João, prenome, estado civil, servidor público federal, residente e 
domiciliado na..., por seu advogado, regularmente constituído pelo 
instrumento de mandato em anexo, com endereço profissional na..., 
vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO ORDINÁRIA, com pedido 
de antecipação dos efeitos da tutela, contra a UNIÃO, pessoa jurídica 
de direitopúblico interno, com sede na..., pelos fatos e fundamentos 
jurídicos que passa a expor:
Inicialmente, requer a V. Exa., com espeque na Lei 1.060/50, a conces-
são dos benefícios da assistência judiciária gratuita, tendo em vista 
estar, o Autor, desempregado face à sua demissão, e sem condições 
de arcar com as custas processuais e demais despesas do processo, 
sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.
DOS FATOS
O Autor, servidor público civil da União no âmbito da administração 
direta, por motivo de índole pessoal que se recusa a revelar, faltou 
ao serviço por períodos interpolados de 25, 27 e 23 dias no período 
de doze meses. 
Sua chefia imediata, ao constatar o fato, decidiu instaurar processo 
administrativo disciplinar contra si, sob o argumento de que teria ele 
cometido a infração de inassiduidade habitual. 
Em 20/10/2007, foi publicado ato que constituía comissão para apre-
ciar o caso; em 10/12/2007, a comissão, após apresentada defesa por 
João, elaborou relatório conclusivo, tendo constatado a responsa-
bilidade do servidor; em 15/12/2007, a autoridade instauradora do 
processo julgou João responsável pela infração de inassiduidade ha-
bitual; em 20/12/2007, foi publicado ato do presidente da República 
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 71
demitindo João do cargo que ocupava, tendo, nesse mesmo dia, to-
mado ciência da demissão no próprio órgão a que estava vinculado. 
Ocorre que o processo administrativo que lastreou a demissão do Au-
tor encontra-se irremediavelmente nulo, consoante se demonstrará 
nas linhas abaixo.
DO DIREITO
O ordenamento jurídico pátrio instituiu em favor dos administrados, 
dentre outros, a garantia do contraditório e da ampla defesa, conso-
ante se vê do art. 5º, LV, da CF, “in verbis”:
“LV – Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios 
e recurso a ela inerentes.”
Nesse contexto, a Lei 8.112/90, que estabelece o regime jurídico dos 
servidores públicos civis da União, preceitua o processo administrati-
vo como veículo necessário à imposição de penalidades aos servido-
res públicos, conforme dá conta o seu art. 148, “literis”:
“Art. 148. O processo administrativo disciplinar é o instrumento destinado 
a apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício 
de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em 
que se encontre investido.”
No caso dos autos, entretanto, o processo administrativo que deu 
suposto lastro jurídico à demissão do Autor encontra-se eivado de 
flagrante ilegalidade, tendo em vista que sua duração extrapolou o 
prazo legal estabelecido na Lei 8.112/90.
Com efeito, tratando, o caso dos autos, de aplicação de falta de-
corrente de inassiduidade habitual, a apuração da falta se perfaz 
por meio de processo administrativo regido sob o rito sumário, con-
soante estabelece o art. 133, §7º, aplicável à hipótese por força do 
disposto no art. 140.
Veja-se:
“Art. 133...
§7º. O prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar subme-
tido ao rito sumário não excederá trinta dias, contados da data de publica-
ção do ato que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por até 
15 (quinze) dias, quando as circunstâncias o exigirem.”
“Art. 140. Na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade habitual, 
também será adotado o procedimento sumário a que se refere o art. 
133(...)”
72 José Aras
Ou seja, Excelência, considerando que em 20/10/2007 foi publicado 
ato que constituía comissão para apreciar o caso e que somente em 
10/12/2007 a comissão elaborou relatório conclusivo, tem-se que o 
processo administrativo extrapolou o prazo de trinta dias, porque 
concluído 51 dias após o seu início, ou seja, extrapolando inclusive os 
15 dias de prorrogação legalmente previstos.
Daí se vê, Excelência, a violação à Lei e aos mais comezinhos princí-
pios de Direito, a que está (ou deveria estar!) vinculado o Réu, razão 
pela qual resta nulo, portanto, o processo administrativo, assim como 
a penalidade dele decorrente.
DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
A verossimilhança das alegações reside nos argumentos fáticos e jurí-
dicos acima expostos, os quais dão conta de que existe o bom direito 
ora vindicado, notadamente em face das violações às normas e aos 
princípios supramencionados, conforme dá conta a prova inequívoca 
em anexo.
O fundado receio de dano irreparável, por sua vez, consiste no pre-
juízo sofrido pelo Autor ante a impossibilidade de exercer as funções 
inerentes ao cargo antes ocupado, valendo ressaltar que o Autor 
encontra-se desempregado e necessita da nomeação para voltar ao 
mercado de trabalho e obter condições dignas para alimentar, não 
apenas a si próprio, mas também seus cinco filhos e sua esposa.
Assim, requer a V. Exa. o deferimento da antecipação dos efeitos da 
tutela para que seja assegurado ao Autor o direito retornar ao cargo 
que anteriormente ocupava, até final decisão da presente ação.
DOS PEDIDOS DEFINITIVOS
Em face do exposto, requer a V. Exa.: 
a) a citação do Réu, na pessoa do seu representante legal, para, 
querendo, contestar a presente ação, sob pena de aplicação dos 
efeitos da revelia;
b) sejam julgados procedentes os pedidos, para anular o ato de 
demissão, tendo em vista a nulidade do processo administrativo 
em que se lastreou a punição, consequentemente assegurado ao 
Autor o direito de reintegração no cargo que anteriormente ocu-
pava;
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 73
c) a confirmação do pedido de antecipação dos efeitos da tutela, 
acima formulada;
d) a condenação do Réu nos ônus da sucumbência;
e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, 
especialmente documental;
f) a juntada dos documentos em anexo.
Dá à causa o valor de...
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...
 Æ C) IX EXAME DE ORDEM UNIFICADO – 2012.2 – FGV (Fundação Getúlio Vargas)
PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL
ENUNCIADO:
João, analista de sistemas dos quadros do Ministério da Educação, foi 
demitido de seu cargo público, por meio de Portaria do Ministro da 
Educação publicada em 19 de maio de 2010, após responder a processo 
administrativo em que restou apurada infração funcional relativa ao re-
cebimento indevido de vantagem econômica. Exatamente pelo mesmo 
fato, João também foi processado criminalmente, vindo a ser absolvido 
por negativa de autoria, em decisão que transitou em julgado em 18 de 
janeiro de 2011.
Na data de hoje, João o procura e após narrar os fatos acima, informa 
que se encontra, desde a sua demissão, em profunda depressão, sem 
qualquer atividade laborativa, sobrevivendo por conta de ajuda finan-
ceira que tem recebido de parentes e amigos.
Na qualidade de advogado(a), identifique e minute a medida judicial 
que pode ser adotada para tutelar os direitos de João. (Valor: 5,0)
GABARITO COMENTADO:
Inicialmente, o examinando deve identificar que a medida judicial ca-
bível é uma ação pelo rito ordinário, com pedido de antecipação de 
tutela, em face da União Federal. Afasta-se, desde logo, a impetração 
74 José Aras
de mandado de segurança, uma vez que ultrapassado o prazo deca-
dencial de cento e vinte dias.
A Ação Ordinária a ser ajuizada por João deverá pleitear a nulidade 
da portaria demissional, por ter sido adotada por autoridade incom-
petente, na forma do Art. 141, inciso I, da Lei n. 8.112/90 – usurpação 
de competência do Presidente da República. Além disso, também de-
verá ser pleiteada a invalidação da pena de demissão em razão da 
absolvição penal por negativa de autoria, decisão esta que vincula a 
esfera administrativa, na forma do Art. 126, da Lei n. 8.112/90. Como 
resultado, deverá ser João reintegrado no cargo de Analista de Sis-
temas, com ressarcimento de todas as vantagens (Art. 28, da Lei n. 
8.112/90).
Na petição inicial, também deverá ser reservado capítulo para de-senvolvimento da tutela de urgência a ser pleiteada, com vistas à 
imediata reintegração de João no cargo de Analista de Sistema.
Por fim, deve ser formulada também pretensão indenizatória pelos 
danos morais suportados por João ao longo do período em que ficou 
ilegalmente afastado de seu cargo.
Distribuição dos pontos 2
Item Pontuação (faixa de valores)
Endereçamento da petição inicial: 
Juízo da Vara Federal da Seção Judiciária
0,00 / 0,30
Qualificação das partes (0,25 para cada item):
João / em face da União Federal 
0 / 0,25 / 0,50
Fundamentação 1
1. Nulidade da portaria demissional – incompetência do Ministro da 
Educação (Art. 141, I, da Lei n.8.112/90) 2
0,00 / 0,60
Fundamentação 2
2. Repercussão, na esfera administrativa, da decisão absolutória por 
negativa de autoria (Art. 126, da Lei n. 8.112/90); 
0,00 / 0,60
2. Ousamos discordar, com as devidas, desse critério de cobrança pontuado pela Eminente, culta e 
respeitável Banca Examinadora. Isto porque, conforme jurisprudência do Colendo STJ, é possível 
a delegação de competência do Presidente da República para Ministro de Estado aplicar pena de 
demissão. Nesse sentido, dentre outros, MS 8.213-DF; MS 7.034-DF e MS 12.061-DF;
Ação pelo rito ordinário com pedido de antecipação dos efeitos da tutela 75
Fundamentação 3
3. Em decorrência da invalidação da pena de demissão, o autor 
faz jus ao ressarcimento de todas as vantagens inerentes ao exercí-
cio do cargo (Art. 28, da Lei n. 8.112/90 ou Art. 41, § 2 da CRFB);
0,00 / 0,60
Fundamentação da tutela de urgência
4.a) Verossimilhança da alegação (justificada)(0,30)
4.b) Fundado receio de dano irreparável (justificado)(0,30)
0,00 / 0,30/0,60
Pedidos:
Pedido 1. Citação da União Federal;
0,00 / 0,20
Pedido 2. Deferimento da antecipação de tutela para reintegrar 
o autor no cargo público;
0,00 / 0,30
Pedido 3. Procedência do pedido para invalidar a 
demissão/reintegração ao cargo;
0,00 / 0,30
Pedido 4. Condenação da ré a ressarcir o autor de todas as 
vantagens inerentes ao exercício do cargo;
0,00 / 0,30
Pedido 5. Produção genérica de provas; 0,00 / 0,20
Pedido 6. Condenação em honorários sucumbenciais. 0,00 / 0,20
Atribuição de valor à causa. 0,00/ 0,30
3. do pedIdo de AssIstênCIA judICIárIA grAtuItA
Note, finalmente, que nas duas situações acima, os respectivos enuncia-
dos, ao narrar que os Autores estão “desempregados”, também dão ensejo 
à formulação do pedido de concessão de assistência judiciária gratuita, de 
modo que se infere, dessa situação, a impossibilidade de arcar com as custas 
processuais e com o pagamento de honorários advocatícios.
Esse pedido não pode ser realizado ao alvedrio do candidato ou exami-
nando, mas apenas quando o próprio enunciado da questão induzir a tanto 
(expressamente narrando fatos que indiquem a insuficiência de recursos, 
como nas hipóteses acima tratadas).
Os fundamentos desse pedido encontram-se nos seguintes dispositivos:
a) Art. 5º, LXXIV da Constituição Federal: “é dever do Estado prestar as-
sistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên-
cia de recursos”;
b) Art. 4º, da lei 1.060, de 5 de fevereiro de 1950: “A parte gozará 
dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirma-

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