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PEDIATRIA Carolina Ferreira -Diarreia: ocorrência de 3 ou + evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24 horas. A da consistência habitual das fezes é um dos parâmetros + considerados. -Doença diarreica aguda (gastroenterite aguda): ocorre o desequilíbrio entre a absorção e a secreção de líquidos e eletrólitos. Pode ser entendida como 1 episódio diarreico c/: início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, potencialmente autolimitado, c/ duração < a 14 dias, no volume e/ou na frequência de evacuações c/ das perdas de água e eletrólitos. A maioria dos casos resolve-se em até 7 dias. -Gastroenterite aguda: é adquirida por meio da ingestão de alimentos e/ou água contaminados por toxinas ou microrganismos de transmissão fecal-oral. -Classificação: 1. Diarreia aguda aquosa: pode durar até 14 dias e ocorre perda de grande volume de fluidos e pode causar desidratação. Pode ser causada por bactérias e vírus, na maioria dos casos. A desnutrição eventualmente pode ocorrer se a alimentação ñ é fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos acontecem. 2. Diarreia aguda c/ sangue (disenteria): é caracterizada pela presença de sangue nas fezes. Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar-se c/ infecção sistêmica e outras complicações, incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella são as principais causadoras. 3. Diarreia persistente: caracteriza-se por apresentar duração > que 14 dias, ocorre após uma diarreia infecciosa. Nos lactante há > prevalência antes dos 6 meses de idade. Pode provocar desnutrição e desidratação. Esses pcts constituem um grupo c/ alto risco de complicações e elevada letalidade da 4. Diarreia crônica: duração > que 4 semanas 5. Alta: acometimento do intestino delgado, caracterizando-se por poucas dejeções, de grande volume, pode haver restos alimentares 6. Baixa: envolve o intestino grosso, c/ grande nº de dejeções, pouco volumosas, c/ tenesmo podendo haver presença de sangue e pus (chamada disenteria) -Epidemiologia: cerca de 30% desses óbitos antes dos 5 anos ocorrem devido à pneumonia e diarreia -Etiologia: nem sempre é possível identificar o agente causador. Os que causam a > parte dos casos são: • Vírus: rotavírus (+comum entre 6 meses a 2 anos), coronavírus, adenovírus, norovírus(o principal em surtos e em adultos) • Bactérias: E. coli enteropatogênica clássica, E. coli enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa18, Aeromonas, Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia • Parasitos: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium, Isosopora • Fungos: Candida albicans • Pacientes imunocomprometidos ou em ATB prolongada, diarreia causada por: Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C. difficile, Cryptosporidium, Isosopora, VIH, e outros agentes • Outras causas: alergia ao leite de vaca, deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados -Fisiopatologia: ocorre pelo da secreção intestinal de H2O ou eletrólitos e/ou bloqueio da absorção intestinal, que ocorre nas vilosidades. A absorção de água intestinal é passiva e acompanha o gradiente osmótico criado pelo transporte ativo de Na+ pelo cotransportador Na/Cl que é afetado na diarreia do tipo secretora toxigênica. As toxinas produzidas pela E.coli, C.difficile, Staphylococcus, V.colerae ativam a adenilciclase a produção de AMP cíclico que inibe esse transportadores e a secreção ativa do cloreto e consequentemente, de sódio e água p/ a luz levando a uma diarreia aquosa e de grande volume. O contransportador de Na+ c/ glicose ou aminoácido tem função também na absorção passiva de água intestinal e geralmente ñ é afetado nas diarreias infecciosas, por isso ele pode ser usado como via compensatória da perda hídrica. É por meio desse mecanismo que a TRO consegue reidratar o pct na gastroenterite aguda -Fisiopatologia na diarreia secretora invasiva: ocorre dano ou destruição das superfícies absortivas das vilosidades a secreção de H2O e eletrólitos pelas células das criptas, gerando perda de leucócitos, hemácias e proteínas (manifesta como a disenteria). Os agentes + comum são Campylobacter jejuni, Shigella, Yersinia enterocolitica, Salmonella e Entamoeba histolytica -Diarreia osmótica causa pelo rotavírus ocorre 3 mecanismos: 1. Perda das enzimas das bordas em escova, principalmente a lactase, mas também a maltase e a sucrase 2. Efeito direto da enterotoxina NSP4 c/ efeito toxico direto na mucosa GTI 3. Ativação do SN entérico que leva a secreção de fluidos e eletrólitos 4. Decorrente da má absorção de açucares complexos secundário a destruição das vilosidades intestinais além de causar o desequilíbrio entre a secreção e a absorção hidroeletrolítica -Classificação da E.coli de acordo a patogênese: ▪ E. coli enterotoxigênica(ETEC): é a principal responsável pela diarreia do viajantes. Adere a mucosa intestinal e produz toxinas que afetam o cotransportador Na/Cl, dá origem a uma diarreia secretora toxigênica c/ fezes explosivas e de grande volume ▪ E.coli enteropatogênica(EPEC): adere a mucosa intestinal lesa a lesão das vilosidades o que prejeudica a absorção e secreção intestinal. Responsável por surtos de diarreia aquosa em crianças ▪ E. coli entero-hemorrágica(EHEC): adere a mucosa e produz toxina “shiga-like” responsável por quadros como a síndrome hemolítica urêmica PEDIATRIA Carolina Ferreira ▪ E.coli enteroinvasiva (EIEC): penetra na mucosa intestinal reproduzindo e lesando os enterócitos dando origem a uma desinteria(diarreia secretora invasiva) ▪ E. coli enteroagregativa(EAEC): ñ tem mecanismo patogênico esclarecido, leva a diarreia persistente em crianças e pcts c/ HIV -Classificação de acordo c/ a fisiopatologia: 1. Diarreia osmótica: decorrente do acúmulo de solutos osmoticamente ativos e ñ absorvíveis na luz intestinal. Ex: lactose nos pcts c/ deficiência a lactase(intolerância a lactose 1º ou 2º) 2. Diarreia secretora: decorre de um distúrbio no equilíbrio hidroeletrolítico da mucosa intestinal, seja por da secreção de íons e agua ou por d absorção. Ex: coléra 3. Diarreia inflamatórias: decorre de 1 alteração inflamatória na mucosa intestinal, são + graves, causa + frequente a Shigella, Salmonella, Amebíase, Campylobacter. Cursa c/ leucócitos, muco, pus e/ou sangue oculto ou vivo presente nas fezes 4. Diarreia ñ inflamatórias: a diarreia tem como causa: vírus, Vibrio cholerae, Giárdia lamblia, E.colli enteropatogênica. As fezes ñ apresentam leucócitos e sangue. O rotavírus é muito frequente após o desmane nos 3 primeiros meses 5. Diarreia disabsortiva: 2º à baixa absorção de lipídeos no intestino delgado, o que origina a esteatorreia. Ex: doença celiaca 6. Diarreia disfuncional: decorre da hipermotilidade intestinal, é um dx de exclusão feito na ausência de doença orgânica justificável. Ex: síndrome do intestino irritável -Quadro clínico: diarreia de inicio súbito acompanhada por cólicas abdominais, anorexia e vômitos. Pode apresentar também febre, prostração, mal-estar, cefaleia e mialgia → Diarreia viral: sintomas começam de 12 horas ate 4 dias após a exposição viral e duram 3-7 dias. É abundante e aquosa, c/ coloração normal ou acólica e sem sangue ou muco. Devido a perda hídrica importante pode ocorrer desidratação → Diarreia bacteriana ou parasitária: + comum, presença de muco e sangue nas fezes em decorrência da lesão da mucosa intestinal. Febre alta e prostração podem ocorrer -Classificação da desidratação de acordo c/ a porcentagem de peso perdido: • Grau 1 ou leve:≤ 5% • Grau 2 ou moderado: 6 a 9% • Grau 3 ou grave: ≥10% -Fatores de risco de complicações: idade < 2 meses; vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes(≥8x/dia); percepção inadequada dos pais quanto ao estado de hidratação e presença de comorbidade(DM, IR, desnutrição e insuficiência hepática) -Desidratação: pode ser dividida em → Desidratação isonatrêmica(isotônica): é + comum, ocorre perda proporcional de água e eletrólitos. Sódio plasmático: 135-145 mEq/L. Osmolaridade plasmática: 280-310 mOsm/L. Quadro clínico é de acordo c/ o grau de desidratação → Desidratação hiponatrêmica: ocorre perda > eletrólitos do que água. A baixa osmolaridade do compartimento intravascular faz c/ que a água seja puxada pelo intracelular, depletando ainda + o intravascular Sódio plasmático: <135 mEq/L. Osmolaridade plasmática: < 280 mOsm/L. Sinais clínicos evidentes: choque hipovolêmico, agitação e convulsões. FR: GECA em crianças c/ desnutrição grave, vômitos excessivos e uso de soluções hipotônicas p/ reidratação → Desidratação hipernatrêmica: ocorre perda > de água do que de eletrólitos. A força osmótica do compartimento intravascular puxa toda água dos outros compartimentos reduzindo sinais clínicos de desidratação mas a frequência dos sinais neurológicos(meningismo e convulsões). Sódio plasmático: 145-150 mEq/L. Osmolaridade plasmática: > 310 mOsm/L. Sinais clínicos pouco evidentes: sede intensa, febre, irritabilidade e letargia. FR: lactante < 3 meses, redução da ingesta oral de líquidos, diabetes insipidus e uso de soluções hipertônicas p/ reidratação. -Sinais e sintomas: febre, vômitos, tenesmo, dor abdominal, distensão abdominal, tosse, coriza, anorexia, assaduras, ocorrências de eliminações durante o sono, dejeções pós alimentares, fezes explosivas, disúria -Diagnóstico: a investigação da etiologia Ñ É OBRIGATÓRIA EM TODOS OS CASOS, e só deve ser realizada nos casos graves e nos pacientes hospitalizados -Princípios da avaliação clínica: • Anamnese: duração da diarreia, nº diário de evacuações, presença de sangue nas fezes, nº de episódios de vômitos, presença de febre ou outra manifestação clínica, práticas alimentares prévias e vigentes, outros casos de diarreia em casa ou na escola. Deve ser avaliado, também, a oferta e o consumo de líquidos, além do uso de medicamentos e o histórico de imunizações. É importante, também, obter informação sobre a diurese e peso recente, se conhecido. • Pcts c/ > risco de complicações: idade < a 2 meses; doença de base grave como o DM, a insuficiência renal ou hepática e outras doenças crônicas; presença de vômitos persistentes; perdas diarreicas volumosas e frequentes (+ de 8 episódios diários) e a percepção dos pais de que há sinais de desidratação. • Exame físico: é importante avaliar o estado de hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta (ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a diurese. O percentual de perda de peso é considerado o melhor indicador da desidratação. Mesmo quando o peso anterior recente ñ é PEDIATRIA Carolina Ferreira disponível, é fundamental que seja mensurado o peso exato na avaliação inicial do paciente. A avaliação nutricional é muito importante na abordagem da criança com doença diarreica. O peso é fundamental no acompanhamento tanto em regime de internação hospitalar como no ambulatório → Perda de peso de até 5%: desidratação leve. A estimativa do volume necessário p/ correção do déficit corporal de fluído em consequência da doença diarreica: é de 50 mL/Kg → Perda de peso entre 5% e 10%: desidratação moderada. A estimativa do volume necessário é 50 a 100 mL/Kg → Perda de peso + de 10%: desidratação grave. A estimativa do volume necessário é + de 100 mL/Kg. • Avaliação do estado de hidratação: inclui o exame do estado geral do paciente, dos olhos, se há lágrimas ou ñ, se o paciente tem sede, o nível de consciência, presença do sinal da prega cutânea, e como se encontra o pulso e o enchimento capilar. Outros achados importantes são o nível de alerta, fontanela baixa, saliva espessa, padrão respiratório alterado, ritmo cardíaco acelerado, pulso débil, do tempo de enchimento capilar, extremidades frias, perda de peso, turgência da pele e sede. -Complicações: desidratação que pode levar a distúrbio hidroeletrolítico, acidose metabólica, choque e IRA -Tratamento: após ser estabelecido o dx, deve ser seguido o esquema clássico de tto, distribuído em 3 categorias segundo a presença ou ñ de desidratação. Se o paciente está c/ diarreia e está hidratado deverá ser tratado c/ o Plano A. Se está c/ diarreia e tem algum grau de desidratação, deve ser tratado c/ o Plano B. Se tem diarreia e está c/ desidratação grave, deve ser tratado c/ o Plano C PLANO A -TTO NO DOMÍCILIO -Plano A: é feito em domicílio. É obrigatório a oferta de líquidos, incluindo o SRO e a manutenção da alimentação c/ alimentos que ñ agravem a diarreia. Deve-se dar + líquidos do que o pct ingere normalmente. -Alimentação oral: deve ser mantida. São líquidos adequados: sopa de frango c/ hortaliças e verduras, água de coco, água. Inadequados: refrigerantes, líquidos açucarados, chás, sucos comercializados, café. -Aleitamento materno: é mantido, lactentes < 6 meses em aleitamento materno exclusivo que estejam c/ GECA, mas hidratados devem ser orientados apenas manter o aleitamento materno sem SRO -Sinais de alarme: devem ser enfatizados, p/ serem identificados na evolução se ocorrerem ( da frequência das dejeções líquidas, vômitos frequentes, sangue nas fezes, recusa p/ ingestão de líquidos, febre, da atividade, presença de sinais de desidratação, piora do estado geral) -Esses pcts devem ser orientados quanto à prevenção da desidratação c/ uso de SRO após as dejeções: < 1 ano: 50-100 ml; 1-10 anos: 100-200 ml; > 10 anos: livre demanda -SRO: é uma solução que se utiliza do transporte ativo de sódio acoplado à glicose pelo enterócito e que sempre preservado na diarreia aguda independente da etiologia Uso de soro caseiro Ñ É RECOMENDADO PELA OMS devido ao risco de distúrbios hidroeletrolíticos pelo preparo inadequado da solução -Zinco: é usado por VO 10 mg nos < de 6 meses e 20 mg nos maiores, ele catalisa a reepitelização intestinal. É indicado principalmente em pcts desnutridos e em regiões c/ deficiência de zinco PLANO B-TRO NA UNIDADE DE SAÚDE -Plano B: deve-se administrar o SRO sob supervisão médica. Manter o aleitamento materno e jejum apenas durante o período da terapia de reparação por VO. Após o término desta fase, retomar os procedimentos do Plano A. A 1º regra nesta fase é administrar a SRO, entre 50 a 100 mL/Kg, durante 2 a 4 horas. A SRO deve ser oferecida de forma frequente, em quantidades pequenas c/ colher ou copo, após cada evacuação. A mamadeira ñ deve ser utilizada. PEDIATRIA Carolina Ferreira Considera-se fracasso da reidratação oral se as evacuações , se ocorrem vômitos incoercíveis, ou se a desidratação evolui p/ grave - Após o término da TRO deve ser reavaliado a hidratação e a diurese, se o pct estiver bem ele pode receber alta c/ orientações sobre sinais de alerta e SRO após as perdas. Caso o paciente mantenha desidratado é indicado a gastróclise (passagem de sonda nasogástrica p/ administração de SRO), em caso de falha é indicada a hidratação venosa Idealmente deve-se pesar o pct antes e após 2 hrs da TRO p/ avaliar a chance de sucesso por meio do índice de retenção (IR), é calculado {ganho de peso(g) volume ingerido(ml) x 100}. Se o IR > 20 % em 1 hora, existe grande chance sucesso da TRO; se for < 20% em 2 hrs existe uma grande chance de falha,deve-se considerar gastróclise ou hidratação EV -Zinco: é usado por VO 10 mg nos < de 6 meses e 20 mg nos maiores -Alimentação oral: jejum p/ líquidos e alimentos. De acordo c/ a OMS é importante que a alimentação seja reiniciada no serviço de saúde p/ que as mães sejam orientadas quanto à importância da manutenção da alimentação. PLANO C -TR PARENTERAL -Plano C: deve-se corrigir a desidratação grave c/ terapia de reidratação por via parenteral (reparação ou expansão). O aleitamento materno deve ser mantido. A alimentação oral é em jejum. Caso ñ seja possível infusão venosa, considerar infusão intraóssea. O tto inicial consiste em fase de expansão: → < 5 anos: infusão em bolus de 20 ml/kg de SF em 20 a 30 min que pode ser repetido em até 3 x → RN e cardiopatas: < 10 ml/kg → > 5 anos: é dividida em 2 medidas ✓ Infusão em bolus de SF 30 ml/kg em 30 min ✓ Seguida por uma infusão de RL 70 ml/kg em 2hrs e meia -DEVE-SE AVALIAR O PACIENTE CONTINUAMENTE. SE Ñ HOUVER MELHORA DA DESIDRATAÇÃO, A VELOCIDADE DE INFUSÃO -Uma vez reidratado esse pct deve ser instituído um soro de manutenção, de preferência isotônico e acrescido de um soro de reposição (50 ml/kg, SG 5% e SF 0,9% na proporção 1:1 p/ repor as perdas) até que a VO seja suficiente p/ manter a hidratação do pct -Todos os pcts internados por gastroenterite aguda devem ser mantidos em ISOLAMENTO DE CONTATO, e em toda desidratação grave devem ser colhidos sódio, potássio, gasometria venosa e glicemia. É comum o encontro de acidose metabólica, que geralmente é corrigida apenas c/ reidratação -Indicações p/ reidratação venosa são: desidratação grave, contraindicação de hidratação oral (íleo paralítico, abdômen agudo, alteração do estado de consciência ou convulsões), choque hipovolêmico. Idealmente deve-se conseguir a punção de veia calibrosa. -Critérios p/ internação hospitalar: choque hipovolêmico, desidratação grave (perda de peso ≥ a 10%), manifestações neurológicas (letargia e convulsões), vômitos biliosos ou de difícil controle, falha na terapia de reidratação oral, suspeita de doença cirúrgica associada ou falta de condições satisfatórias p/ tto domiciliar ou acompanhamento ambulatorial. PEDIATRIA Carolina Ferreira → Quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação venosa, iniciar a reidratação por via oral c/ SRO, mantendo a reidratação venosa → Interromper a reidratação EV somente quando o pct puder ingerir SRO em quantidade suficiente p/ se manter hidratado. → Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida deve ser > nas primeiras 24 horas de tto → Observar o paciente por pelo menos 6 horas -OS PCTS QUE ESTIVEREM SENDO REIDRATADOS EV DEVEM PERMANECER NA UNIDADE DE SAÚDE ATÉ QUE ESTEJAM HIDRATADOS E CONSEGUINDO MANTER A HIDRATAÇÃO POR VO CUIDADOS COM A ALIMENTAÇÃO NA DOENÇA DIARREICA -Aleitamento materno: deve ser mantido e incentivado durante o episódio diarreico. -Alimentação: quando necessário, deve-se recomendar jejum durante o período de reversão da desidratação. Deve ser reiniciada logo que essa etapa for concluída (em geral 4 a 6 horas). A fórmula infantil ou preparação láctea oferecidas p/ crianças ñ devem ser diluídas. Na diarreia aguda, ñ há recomendação de fórmula sem lactose p/ lactentes tratados ambulatorialmente c/ diarreia aguda Entretanto, p/ os pcts hospitalizados c/ diarreia aguda e nos c/ diarreia persistente tratados no hospital ou ambulatorialmente, há vantagens na prescrição de fórmula sem lactose -Pacientes hospitalizados c/ diarreia persistente: devem receber, de acordo c/ a OMS, 110 calorias/kg/dia. Ainda, deve-se cuidar p/ que esse paciente receba diariamente as quantidades de micronutrientes: 50ug de folato, 10mg de zinco, 400µg de vitamina A, 1mg de cobre e 80mg de magnésio P/ os pacientes c/ diarreia persistente que ñ respondem adequadamente à dieta sem lactose, deve ser considerada a possibilidade do desenvolvimento de intolerância às proteínas do leite de vaca. Nessa situação, deve ser prescrita dieta isenta das proteínas do leite de vaca, ou seja, pode-se empregar fórmula hipoalergênica p/ sua substituição, no caso dos lactentes, (por exemplo, fórmula c/ proteína extensamente hidrolisada ou fórmula de aminoácidos; nas crianças maiores em algumas situações tenta-se a proteína de soja ou a dieta isenta de leite e derivados) -Critérios p/ avaliação da evolução clínica: a redução das perdas diarreicas e a recuperação nutricional ou retomada do ganho de peso esperado p/ a idade. TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL (TRO) -Sua eficácia é devido a via de transporte ativo, acoplada de sódio-glicose-água pelo enterócito estar preservada na diarreia aguda, independentemente da etiologia. -OMS: modificou a composição dos sais de reidratação oral c/ redução das concentrações de sódio e glicose, que recebeu o nome de soro oral c/ baixa osmolaridade. No entanto, o Brasil ñ estabeleceu a política p/ a difusão do uso da solução c/ baixa osmolaridade -ESPGHAN: preconiza o emprego de SRO c/ < [] de sódio -Soro caseiro: ñ contém citrato (p/ gerar bicarbonato) e potássio. A glicose é substituída por sacarose. Assim, o soro caseiro é uma mistura de sal de cozinha, açúcar e água. Existem problemas na composição final das soluções preparadas no domicílio. -A utilização dos SRO pode ser feita c/ 2 objetivos: a) Reposição de perdas p/ prevenir a desidratação no paciente c/ diarreia (Plano A) b) Reversão da desidratação, ou fase de reparação, p/ o paciente c/ desidratação por diarreia (Plano B) -Na prevenção da desidratação, deve-se optar por soros c/ < concentração de sódio. -Caso sejam utilizados os sais de reidratação oral distribuídos pela rede pública de saúde do Brasil, c/ 90 mmol de sódio por litro, o pct deve receber fluídos que ñ contenham sódio, p/ evitar a ocorrência de ingestão excessiva de sódio. Ñ devem ser administrados refrigerantes ou sucos de frutas que apresentem elevada osmolaridade. -Lactente c/ menos de 12 meses: deve receber 50 mL da solução p/ cada evacuação -Lactentes > de 1 ano: deve receber 100 mL após cada evacuação. -Na prática, deve ser oferecida a quantidade de líquidos que a criança aceitar (Plano A). O tto deve ser realizado no domicílio. A família deve ser orientada p/ retornar ao serviço de saúde caso apareçam manifestações clínicas compatíveis c/ desidratação PEDIATRIA Carolina Ferreira -Reversão da desidratação c/ o emprego da TRO: deve ser utilizada a solução de reidratação oral c/ 75 a 90 mmol de sódio por litro. Exceto p/ os lactentes em aleitamento materno, o soro deve ser oferecido sem outros alimentos. O volume de 50 a 100 mL/kg de peso, dependendo da gravidade, deve ser administrado em 4 a 6 horas. O pct deve ser pesado antes de iniciar a TRO e, depois, a cada 2 horas (Plano B). TERAPIA DE REIDRATAÇÃO PARENTERAL -Indicação: pcts c/ desidratação grave ou que ñ apresentam reversão da desidratação após 2 horas de TRO. -Após a correção da desidratação pela via parenteral, os pcts devem ser realimentados. Nesta fase, em geral, são mantidos c/ terapia de reidratação de manutenção por via parenteral. O volume diário do soro de manutenção pode ser calculado pela regra de Holiday & Segar: • peso corporal de até 10 kg: 100 mL/kg • peso corporal entre 10 e 20 kg: 1000 mL + 50mL por quilo acima dos 10 kg • peso corporal > a 20 kg: 1500 mL + 20mL por quilo que ultrapassar os 20 quilos -Em quadros muito graves pode ser necessário adicionar volume adicional de soro p/ repor as perdas diarreicas. A solução de reposição p/ a via parenteral utilizada no Brasil é o soro fisiológico 0,9% e soro glicosado5% em partes iguais que contém 77 mmol/L de sódio). O volume depende da gravidade da diarreia (20 a 50 mL/kg por dia). O paciente deve ser pesado c/ frequência p/ evitar a administração excessiva de soro -Nos casos de desidratação grave e os que ñ responderam a TRO, quando ñ for possível o início imediato de terapia de hidratação parenteral, deve ser administrado SRO por sonda nasogástrica (20 mL/kg/hora por 4 a 6 horas). Se o abdome ficar distendido, deve ser reduzida a velocidade de administração do soro de reidratação através da sonda nasogástrica ZINCO -Pode reduzir a duração do quadro de diarreia, a probabilidade da diarreia persistir por + de 7 dias e a ocorrência de novos episódios de diarreia aguda nos 3 meses subsequentes. -OMS: deve ser usado em < de 5 anos, durante 10 a 14 dias, sendo iniciado a partir do momento da caracterização da diarreia. A dose p/ > de 6 meses é de 20mg por dia e 10mg por dia p/ os primeiros 6 meses de vida. No Brasil, é comercializado um SRO c/ 6 mg de gluconato de zinco em cada 100 mL. São comercializadas, também, soluções de zinco (solução com 2mg/0,5 mL na forma de gliconato de zinco; 4mg/mL na forma de sulfato de zinco), p/ serem administradas conforme as recomendações da OMS -ESPGHAN: ñ recomenda zinco no tto da diarreia aguda nos países da Europa, pois considera que a deficiência de zinco ñ é comum naquele continente VITAMINA A -Deve ser administrada a populações c/ risco de deficiência desta vitamina. Seu uso reduz o risco de hospitalização e mortalidade por diarreia e tem sido administrada nas zonas + carentes do norte e nordeste. ANTIBIÓTICOS -Na grande maioria das vezes ñ são empregados no tto da diarreia aguda, pois os episódios são autolimitados e grande parte se deve a agentes virais -Indicação: pacientes que apresentam diarreia c/ sangue nas fezes (disenteria), na cólera, na infecção aguda comprovada por Giardia lamblia ou Entamoeba hystolitica, em imunossuprimidos, nos pcts c/ anemia falciforme, nos portadores de prótese e nas crianças c/ sinais de disseminação bacteriana extraintestinal. Nos casos de disenteria, a antibioticoterapia está indicada, especialmente quando o paciente apresenta febre e comprometimento do estado geral. Se possível, deve ser coletada amostra de fezes para realização de coprocultura e antibiograma. Inicialmente, mesmo que não comprovada laboratorialmente, prevalece a hipótese de infecção por Shigella. -Outros agentes que podem necessitar antibióticos quando causam casos graves: E.coli enteroinvasiva, Yersinia, V. chorelae, C. difficille, Salmonela não tifoide. PEDIATRIA Carolina Ferreira -Antibióticos considerando a possibilidade de infecção por Shigella: 1. Ciprofloxacino (é a 1º escolha): crianças, 15mg/kg, 2 x/dia, por 3 dias; adultos, 500mg 2 x/dia por 3 dias 2. 2º escolha: pode ser adotada a recomendação da ESPGHAN(azitromicina, 10 a 12mg/kg no 1º dia e 5 a 6mg/kg por + 4 dias, VO) p/ o tto dos casos de diarreia por Shigella (casos suspeitos ou comprovados). 3. Ceftriaxona, 50-100mg/kg EV por dia por 3 a 5 dias: nos casos graves que requerem hospitalização. Outra opção é a cefotaxima, 100mg/kg dividida em 4 doses. -Quando a diarreia é causada por giardíase ou amebíase, o tto deve ser feito c/ metronidazol ou análogos. -Indicações de antibioticoterapia nas diarreias: ▪ Shigella: ciprofloxacino 3 dias ou ceftriaxone 3 a 5 dias ou azitromicina 5 dias. Apresenta disenteria c/ febre e queda do estado geral ▪ Campylobacter: azitromicina 3 dias. Apresenta disenteria c/ febre e queda do estado geral ▪ Salmonella: ceftriaxone 7-10 dias ▪ E.coli enterotoxica: azitromicina 3 dias. Diarreia dos viajantes ▪ Vibrio cholerae: azitromicina 3 dias ou sulfametaxazol/trimetoprim 3 dias. Diarreia dos viajantes ▪ Clostridium difficile: metronidazol 10 dias ANTIEMÉTICOS -OMS: ñ deve ser utilizada no tto, pois considera-se que os vômitos tendem a desaparecer concomitantemente à correção da desidratação. -ESPGHAN: ondansetrona pode proporcionar redução na frequência de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar. -Diretriz Íbero-Latinoamericana: recomenda o emprego da ondansetrona p/ os pacientes c/ diarreia aguda c/ vômitos frequentes. A dose é de 0,1mg/kg (0,15-0,3/kg), até o máximo de 4 mg por VO ou EV. Pode ser encontrada em 2 apresentações: comprimidos c/ 4 mg e ampola c/ 4mg/2 mL. PROBIÓTICOS -São microrganismos vivos que, eles interagem c/ a microbiota intestinal -OMS e o MS: ñ mencionam a possibilidade de uso de probióticos no tto da diarreia aguda -ESPGHAN e a diretriz Íbero-Latinoamericana: consideram que determinados probióticos podem ser utilizados em conjunto c/ outras medidas terapêuticas básicas, ou seja, terapia de reidratação e manutenção da alimentação -Ñ há demonstração de que os probióticos as perdas diarreicas. No entanto, determinadas cepas, ocorrem redução de aproximadamente 24 horas na média da duração da diarreia aguda. As cepas consideradas como tendo evidências suficientes p/ o tratamento coadjuvante da diarreia aguda são: Lactobacillus GG, Saccharomyces boulardii e Lacotobacillus reuteri. Vale lembrar que o Lactobacillus GG ñ é comercializado no Brasil. → Saccharomyces boulardii- 250-750mg/dia (habitualmente 5-7 dias) → Lactobacillus GG - ≥ 1010 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias) → L reuteri - 108 a 4 x 108 (habitualmente 5-7 dias) → L acidophhilus LB –min 5 doses de 1010 CFU >48 h; máximo 9 doses de 1010 CFU por 4 a 5 dias RACECADOTRILA -É um inibidor da encefalinase, enzima responsável pela degradação das encefalinas produzidas pelo sistema nervoso entérico, reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se encontra nos quadros de diarreia aguda -ESPGHAN e a diretriz Ibero-Latinoamericana: pode ser utilizada como coadjuvante no tto da diarreia aguda, pois apresenta redução das perdas diarreicas e na duração da diarreia aguda. Essa medicação ñ interfere na motilidade intestinal. A dose recomendada é de 1,5mg/kg de peso corporal, 3 x/dia. É CI p/ de 3 meses. É encontrada em sachês (pó) c/ 10mg e 30mg ou comprimidos c/ 100mg. Adultos ñ deve ser utilizada dose > a 400mg/ dia. O tratamento deve ser interrompido assim que cesse a diarreia SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA (SHU) -É uma síndrome de microangiopatia trombótica, o tipo + comum é o mediado por toxina shiga-like, chamada de SHU típica, 2 anos a idade média de acometimento. É a causa + comum de IRA em crianças e apresenta baixa mortalidade -SHU típica: ocorre após uma infecção por E. coli êntero-hemorrágica produtora de toxina shiga-like (+ comum a O157:H7), mas também pode acontecer por Shigella dysenteriae tipo 1, Citrobacter e Streptococcus pneumoniae. A toxina produzida lesa diretamente o endotélio, gerando trombose arteriolar e capilar, além de danificar as células glomerulares, mesangiais e os podócitos, levando à lesão renal aguda PEDIATRIA Carolina Ferreira -Fisiopatologia: ocorre de uma hiperativação da via alternativa do complemento e tem como órgão-alvo principal o rim, onde desencadeia a deposição de depósitos amorfos subendoteliais e mesangiais, com grande quantidade de fibrina no interior das alças glomerulares. -Transmissão: ocorre por água e comida contaminada -Fatores de risco p/ SHU: idade < 5 anos; sexo feminino; uso de antiespasmódicos e antibiótico e leucocitose -Quadro clínico: o período de incubação é de 3 a 8 dias, ao qual se segue uma doença diarreica aguda (50-60% dos casos evolui p/ disenteria), c/ dor abdominal, vômitos (50%) e febre (30%). Cerca de 2 a 12 após o início da gastroenterite, começam os sinais e sintomas da SHU em5 a 15% dos pacientes infectados pela E. coli. A síndrome de microangiopatia trombótica, caracterizada por: • Anemia hemolítica microangiopática: anemia, esquizócitos periféricos, reticulocitose, de bilirrubina indireta e de DHL. • Trombocitopenia • Lesão orgânica: lesão renal aguda com oligúria, edema, hipertensão, hematúria e proteinúria -Em alguns casos, também pode haver comprometimento de outros órgãos, como SNC (irritabilidade, convulsões, paresia), pâncreas, sistema musculoesquelético (rabdomiólise) e miocárdio (elevação de troponina I) -Diagnóstico: da infecção pela E. coli pode ser feito por meio da coprocultura (positiva em menos de 50% dos casos), sorologia p/ E. coli (ñ positiva na fase aguda), pela pesquisa da toxina shiga-like nas fezes (+ sensível) ou pelo PCR p/ genes da toxina shiga-like -Conduta: é de suporte até a resolução da infecção, que é autolimitada. O paciente deve ser internado em isolamento de contato, c/ hidratação endovenosa e tto de suporte p/ a falência renal aguda (que ocorre em 2/3 casos), c/ diálise se anúria ≥ 24 horas ou oligúria < 0,5 mg/kg/hora por + 72 horas. A modalidade de dialise + utilizada nesses casos é a peritoneal, devido ao risco do aumento de hemorragia -Prognóstico: é bom c/ mortalidade de menos de 5%, apenas 30-50% dos pcts mantem alteração da função renal -Fatores de risco p/ progressão p/ DRC: oliguria prolongada na fase aguda; HAS persistente (> 1 ano) e proteinúria persistente(relação proteinúria/creatinina>1)