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Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Departamento de Química Orgânica e Inorgânica Pós-Graduação em Química Inorgânica Doutorado em Química Inorgânica Estudo Eletroquímico da Adsorção de Moléculas Organosulfuradas Sobre Superfície de Ouro Marcelo Monteiro Valente Parente 2006 Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Aline Vieira V25e Parente, Marcelo Monteiro Valente Estudo eletroquímico da adsorção de moléculas organosulfuradas sobre superfície de ouro. / Marcelo Monteiro Valente Parente; Pedro de Lima Neto (Orient.) 104 f.: il.; 30 cm Tese (Doutorado) Química inorgânica Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007. 1. Mercaptoridina 2.Impedância I. Lima Neto, Pedro III. Título. CDD 546 MARCELO MONTEIRO VALENTE PARENTE Estudo Eletroquímico da Adsorção de Moléculas Organosulfuradas Sobre Superfície de Ouro Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química Inorgânica como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Química Inorgânica. Universidade Federal do Ceará - UFC. Orientador: Prof. Dr. Pedro de Lima Neto. Co-orientadora: Profa. Dra. Izaura C. N. Diógenes FORTALEZA, AGOSTO DE 2006 "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e ainda que eu conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se eu não tivesse amor eu nada seria" Cor. 13 Carta de Paulo aos Coríntios adaptada pelo meu amigo poeta Maurício. Dedico este trabalho Aos meus queridos pais, Expedito José de Sá Parente e Angélica Monteiro; À minhas duas mulheres maravilhosas, Minha filha, Jade Aguiar Parente e a minha esposa, Janaína Lopes Leitinho; Aos meus queridos irmãos: Expedito José de Sá Parente Junior, Jô-Enrique Bezerra Parente Lívia Bezerra Parente e Xambioá Monteiro Antero AGRADECIMENTOS A Universidade Federal do Ceará, através do programa de pós-graduação em Química Inorgânica pelo apoio dado a realização desse projeto. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível superior (CAPES) pelo apoio financeiro. Ao Professor Dr. Pedro de Lima Neto pelo discernimento com que conduziu sua orientação e, principalmente, pela amizade tornando o ambiente de trabalho mais agradável para a execução desse projeto. A professora Dra. Izaura Cirino Nogueira Diógenes que atuou nesse projeto como co-orientadora que teve um papel importantíssimo na execução da parte experimental e, principalmente, na discussão dos resultados obtidos. Um agradecimento especial aos amigos professores Dr. Oscar Rosa Mattos e Dr. Oswaldo Esteves Barcia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não só por ter me acolhido de braços abertos nos seus laboratórios, como também, pelos conhecimentos e ensinamentos preciosos repassados ao longo do tempo que permaneci no Rio de Janeiro para o desenvolvimento experimental de grande parte desse trabalho. Aos Professores Dr. Sérgio Antonio Spínola Machado e Dr. Antoninho Valentini, membros da minha banca de defesa, pelas valiosas sugestões; Ao Professor Dr. Ícaro de Sousa Moreira pela a amizade e confiança profissional a mim depositada. Ao colega Dr. Jackson Rodrigues de Sousa pela ajuda prestada a execução desse projeto. A Professora Dra. Márcia L. A. Temperini pela aquisição e interpretação dos espectros RAMAN obtidos na Universidade de São Paulo (USP). Aos professores Dr. Walter Nogueira freire e Dr. José Alexandre de King Freire por disponibilizar os equipamentos de micrografia e a colaboração do aluno de doutorado Ricardo Pires dos Santos na obtenção dos resultados de microscopia de força atômica. A professora Dra. Renata A. Simão da Universidade Federal do Rio de janeiro pela a aquisição das imagens de microscopia de superfície por tunelamento tendo contribuído bastante para o desenvolvimento desse projeto. Aos professores Dr. Sandro Thomaz Gouveia e Dra. Adriana Nunes Correia pelas críticas e observações sugeridas durante o exame de qualificação. Aos meus amigos Javier, Flavia e Luz Marina, não só por ter me acolhido em suas casas, mas também pela a grande amizade que surgiu entre nós. Aos amigos Paulo, Mário, Cláudio e Lúcio pelos momentos de descontração. A todos pertencente ao grupo de bioinorgânica e de eletroquímica da Universidade Federal do Ceará que me ajudaram direta ou indiretamente na execução desse trabalho. Aos amigos do laboratório de corrosão “Professor Manoel de Castro” pelos momentos de reflexão e descontração durante a minha estadia no Rio de Janeiro. A minha esposa, Janaína e minha filha, Jade pelo amor e carinho que sempre me dedicaram tornaram a minha vida mais feliz. A minha grande amiga Ana Luiza Maia e a todos do DIQUI / NUTEC pelo apoio dado nos momentos finais deste trabalho. Á todos que de alguma forma contribuíram para a concretização desse trabalho minha sincera gratidão. RESUMO Superfície de ouro modificada com as espécies 1,4-ditiano (1,4-dt) e 4- mercaptopiridina (pyS), foram estudadas neste trabalho. Para a realização desse estudo foram utilizadas as seguintes técnicas eletroquímicas: polarização linear com eletrodo de disco rotatório, voltametria cíclica, voltametria de pulso diferencial, impedância eletro-hidrodinâmica e espectroscopia de impedância eletroquímica. Outras técnicas também deram suporte, tais como, microscopia de força atômica (MFA), microscopia de superfície por tunelamento (MST), espectroscopia RAMAN e microbalança de quartzo (MBQ). Para as superfícies modificadas com a molécula 1,4-dt, foi observado a diminuição do processo redox [Fe(CN)6]3-/4- com o aumento do tempo de imersão do eletrodo de ouro na solução modificadora. Estes resultados sugerem que taxa de recobrimento da superfície de ouro, com esta espécie, aumenta com o tempo de modificação. Os resultados de impedância eletro-hidrodinâmica juntamente com as micrografias MFA e MST revelam que esta superfície está parcialmente bloqueada apresentando defeitos sobre o filme formado. Os resultados de espectroscopia RAMAN sugerem que esses defeitos podem ser resultantes da adsorção das conformações diferenciadas na forma de “cadeira” e “barco” da molécula 1,4-dt. Por outro lado, os resultados eletroquímicos com as superfícies modificadas com a espécie pyS indicam um aumento do processo de transferência de carga com o aumento do tempo de imersão do eletrodo de ouro na solução modificadora. Este resultado sugere a perda do poder de cobertura para a superfície de ouro modificada com esta espécie. Os resultados de MFA reforçam os resultados anteriores para esta espécie demonstrando que esta superfície apresenta maiores quantidade de defeitos para tempos mais longos de modificação. As curvas de variação de freqüência (∆F) versus tempo de modificação indicam um aumento de massa na superfície de ouro modificada com a espécie 1,4-dt, enquanto que para a espécie pyS observa-se um processo de desorção, confirmando qualitativamente os resultados obtidos anteriores para estas duas moléculas. Palavras-chave: 1,4-ditiano, 4-mercaptopiridina, impedância. ABSTRACT Modified gold surface with organosulfur species, 1,4-dithiane (1,4-dt) and 4- mercaptopyridine (pyS), was studied in this work. The study was carried out using thefollowing electrochemical techniques: linear polarization with rotate disk electrode, cyclic voltammetry, differential pulse voltammetry, electrohydrodynamic impedance and electrochemical impedance spectroscopy. Other techniques also gave support, such as, atomic force microscopy (AFM), Scanning tunneling microscopy (STM), RAMAN spectroscopy and quartz crystal microbalance (QCM). For the modified gold surface with the 1,4-dt, it was observed the decrease of the redox-active [Fe(CN)6]3- species with the increase of the immersion time of the gold electrode in the modifier solution. These results suggest that the fractional coverage increases with the modification time. The electrohydrodynamic impedance results together with the MFA and MST results suggest that this surface is partially blocked presenting defects on the formed film. The RAMAN spectra suggest that those defects can be resulting of the adsorption of the different configuration of the modifier molecules (1,4-dt) on the surface ("trans" and "gauche"). The electrochemical results about the modified gold surfaces with the molecule pyS indicate an increase of the electron transfer process with the increase of the immersion time, which suggests the loss of the covering power on the modified gold surface with this species. The AFM results agree the previous results demonstrating that this surface presents larger amount of defects for longer modification times. The frequency curves variation (∆F) versus the immersion time indicate a mass increase on the modified gold surface with the species 1,4-dt and a process desorption for the species pyS confirming the results obtained previously. Keywords: 1,4-dithiane, 4-mercaptopyridine, impedance. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................................................................1 1.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................1 1.1.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE O PROCESSO DE ADSORÇÃO.........................................1 1.1.1.1 A ADSORÇÃO DE COMPOSTOS ORGANOSULFURADOS..........................................................2 1.1.2 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO.........................................................................................................4 1.1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................................................9 1.1.4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE AS TÉCNICAS UTILIZADAS..........................................12 1.1.4.1 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA.........................................................12 IMPEDÂNCIA DE DIFUSÃO............................................................................................................16 CIRCUITOS EQUIVALENTES..........................................................................................................20 1.1.4.2 IMPEDÂNCIA ELETRO-HIDRODINÂMICA..................................................................................22 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE DADOS APRESENTADOS NOS DIAGRAMAS DE IMPEDÂNCIA ELETRO-HIDRODINÂMICO..................................................................................24 1.2 OBJETIVO.................................................................................................................................................27 2 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................................................29 2.1 ELETRODO DE TRABALHO................................................................................................................29 2.2 ELETRODOS DE REFERÊNCIA...........................................................................................................30 2.3 ELETRODO AUXILIAR..........................................................................................................................30 2.4 CÉLULA ELETROQUÍMICA..................................................................................................................31 2.5 PROCESSO DE MODIFICAÇÃO SUPERFÍCIAL...............................................................................33 2.5.1 CAMADA FORMADA PELA ADSORÇÃO DA MOLÉCULA DE 1,4-DITIANO (1,4– dt) SOBRE A SUPERFÍCIE DO ELETRODO DE OURO....................................................................33 2.5.2 CAMADA FORMADA PELA ADSORÇÃO DA MOLÉCULA DE 4–MERCAPTOPIRIDINA (pyS) SOBRE A SUPERFÍCIE DO ELETRODO DE OURO.........................................................34 2.5.3 CAMADA FORMADA POR ENXOFRE ADSORVIDO PROVENIENTE DO SULFETO DE SÓDIO (Na2S) SOBRE A SUPERFÍCIE DO ELETRODO DE OURO............................................34 2.6 SOLUÇÕES UTILIZADAS......................................................................................................................34 2.7 MEDIDAS ELETROQUÍMICAS.............................................................................................................35 2.8 MEDIDAS EXPERIMENTAIS COMPLEMENTARES........................................................................37 2.8.1 ESPECTROS VIBRACIONAIS SERS..............................................................................................37 2.8.2 MEDIDAS DE MICROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA (MFA) E MICROSCOPIA DE SUPERFÍCIE POR TUNELAMENTO (MST)..................................................................................38 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................................................40 3.1 ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES SUPERFÍCIAIS COM 1,4-dt..........................................................40 3.1.1 VOLTAMETRIA CÍCLICA...............................................................................................................40 3.1.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA........................................................42 MEDIDAS DE CAPACITÂNCIA INTERFACIAL...........................................................................47 3.1.3 POR ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL SERS ...................................................................49 3.1.4 CURVAS DE POLARIZAÇÃO POTENCIOSTÁTICAS.................................................................52 3.1.5 CURVAS DE LEVICH......................................................................................................................54 3.1.6 CURVAS DE IMPEDÂNCIA ELETRO-HIDRODINÂMICA.........................................................58 3.2 ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES SUPERFÍCIAIS COM pyS............................................................63 3.2.1 VOLTAMETRIA DE PULSO DIFERENCIAL.................................................................................63 3.2.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA........................................................64 MEDIDAS DE CAPACITÂNCIA INTERFACIAL...........................................................................71 3.3 MORFOLOGIA DAS SUPERFÍCIES MODIFICADAS.........................................................................76 3.3.1 TOPOGRAFIA DAS SUPERFÍCIES MODIFICADAS COM A ESPÉCIE 1,4-dt............................76 3.3.1.1 SUPERFÍCIE POLICRISTALINA........................................................................................................76 3.3.1.2 SUPERFÍCIE MONOCRISTALINA..................................................................................................79 3.3.2 TOPOGRAFIA DAS SUPERFÍCIES MODIFICADAS COM A ESPÉCIE pyS...............................81 3.3.2.1 SUPERFÍCIE MONOCRISTALINA..................................................................................................81 3.4 MICROBALANÇA DE QUARTZO(MBQ)...............................................................................................85 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....... .........................................................................................................89 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................................91 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1 INTRODUÇÃO GERAL 1.1 INTRODUÇÃO 1.1.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE O PROCESSO DE ADSORÇÃO É sabido que as diversas aplicações de materiais sólidos que envolvem propriedades como, adesão, fricção, transporte de carga, biocompatibilidade e etc, dependem de características estruturais da camada mais externa deste material [1]. Estas características estruturais podem ser alteradas através de processos de adsorção de uma, ou mais camadas, de grupos funcionais orgânicos ou inorgânicos. Objetivando obter uma melhor compreensão da interação existente entre o composto e o substrato, na Figura 1 está representada a adsorção de apenas uma única camada (monocamada) sobre um substrato qualquer. Figura 1 - Modelo esquemático de moléculas adsorvidas sobre um substrato qualquer. Observa-se nesta figura que a monocamada formada apresenta uma região de contato do adsorbato com o substrato que pode ser resultante de uma ligação química entre o sítio de ligação do adsorbato e um sítio específico do substrato apresentando, neste caso específico, uma forte interação (quimisorção). Porém, essa adsorção pode apresentar apenas caráter eletrostático, resultando em uma interação fraca adsorbato-substrato (interação física). Observam-se também as interações de van der Waals entre as cadeias. Dependendo 1 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ da força de interação existente nesse processo de adsorção, pode originar as regiões colapsadas e as regiões defeituosas podendo influenciar bastante no nível de empacotamento dessas monocamadas. Nem sempre nos processos de adsorção observa-se somente a formação de uma única camada, podendo, deste modo, existir várias camadas adsorvidas uma sobre a outra [2]. Este processo de adsorção do adsorbato sobre a superfície de um eletrodo, também é conhecido como modificação de eletrodo, podendo levar essa interface a assumir um grande número de arranjos, indo desde o totalmente caótico ao mais finamente ordenado que, conseqüentemente, influenciará nas reações de transferência de carga na sua superfície. 1.1.1.1 A ADSORÇÃO DE COMPOSTOS ORGANOSULFURADOS A formação de monocamadas espontaneamente adsorvidas “self-assembled monolayer – (SAM)”, de tióis sobre superfície metálica constitui um método simples de obtenção de uma superfície com alto grau de ordenação controlada quimicamente [3]. Os tióis apresentam uma forte afinidade com os metais de transição [4, 5]. Isto se deve provavelmente a possibilidade desses compostos formarem múltiplas ligações com a superfície metálica [6]. Observa-se que essas interações existentes entre o adsorbato e o substrato são bastante fortes. Sabe-se que esses compostos formam ligações quimicamente bastante estáveis com as superfícies como: prata [7-9], cobre [9-11], platina [12], mercúrio [13, 14], ferro [15, 16], GaAs [17], InP [18] e ouro [19]. Estudos realizados com adsorção do composto octadecanotiol sobre as superfícies mencionadas anteriormente, apresentam um excelente efeito de proteção por barreira ao seu processo de oxidação. [11]. Modificações superficiais realizadas com o composto “octadecanotiolato” sobre a superfície de cobre mostraram efeito inibidor dessa superfície ao processo de oxidação em ácido nítrico [20]. Para tentar compreender estruturalmente a nível molecular como esses compostos estão quimicamente ligados a superfície metálica, SELLERS et al. [21] estudaram a 2 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ formação de monocamadas de H2S, CH3S e C16H33S sobre a superfície de ouro Au(111) utilizando o método ab initio. Esses autores observaram que a ligação existente envolvia o átomo de enxofre com vários átomos de ouro. A nível molecular, a superfície de ouro se apresenta irregular devido à disposição dos seus átomos, possuindo sítios de adsorção, “cluster”, localizado em regiões mais elevadas e menos elevadas. Essas regiões são denominadas de “hollow” e “top”, respectivamente, e induzem preferencialmente ligações do tipo π e σ, respectivamente. Nesse caso, nos sítios “hollow” tem-se hibridização do tipo “sp” e nos sítios “top” tem-se hibridização “sp3”. A Figura 2 mostra um desenho esquemático da ligação do composto CH3S sobre a superfície de ouro nas regiões “top” e de “hollow”. (a) (b) Figura 2 – Esquema proposto para a adsorção da molécula CH3S sobre a superfície de ouro Au(111) nas regiões de (a) “hollow” e (b) “top” ligadas quimicamente (quimisorção) formando ligações do tipo sp e sp3 respectivamente [21]. Estudos cinéticos relacionados à adsorção do composto alcanotiol sobre a superfície de ouro Au(111) realizados em soluções diluídas deste composto mostraram duas etapas distintas de cinéticas de adsorção [22]. Uma, bastante rápida, controlada pela difusão do adsorbato até o substrato. Esse, por sua vez, obedece a isoterma de Langmuir. Esta etapa se constitui bastante dependente da concentração do adsorbato na solução modificadora. Observou-se que uma solução de concentração por volta de 1 mM do adsorbato levaria aproximadamente 1 minuto para completar esta primeira etapa de adsorção, enquanto que uma solução de 1 μM levaria aproximadamente 100 minutos para atingi-la. A segunda etapa está relacionada a um rearranjo estrutural do composto sobre a superfície do substrato atingindo um menor nível de energia, ou seja, atingindo uma estrutura adsorbato – substrato mais estável. 3 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.1.2 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO Nos últimos anos, a modificação química controlada de eletrodos vem atraindo bastante o interesse de pesquisadores, sempre com o intuito de encontrar novas e interessantes aplicações em diversas áreas, tais como: • eletrocatálise – promovercertos tipos de reações que só ocorrem em superfícies modificadas adequadamente. • “display devices”- consiste de uma classe de células eletroquímicas que mudam de cor ou emitem luz quando oxidada ou reduzida. • aplicações analíticas – eletrodos seletivos, onde a modificação seleciona certos tipos de reações que irão ocorrer sobre sua superfície. Observa-se em muitas situações práticas a importância do estudo de modificação de superfície objetivando, em muitos casos, promover determinadas reações que não poderiam ocorrer, ou em situações onde essas reações se encontram termodinamicamente ou cineticamente bastante desfavorável para ser realizada. Essas modificações superficiais podem ser realizadas através de eletrodeposição de películas de outros materiais metálicos, ou de um óxido, ou de um polímero eletroquimicamente ativo, ou de compostos orgânicos ou inorgânicos. Quando se trata da eletrodeposição de um metal sobre outro, normalmente, a reação que se deseja, irá ocorrer sobre a superfície do novo material depositado que, obviamente, deverá apresentar melhores propriedades catalíticas do que seu substrato. Normalmente, trata-se da eletrodeposição de metais que apresentam altos valores comerciais, sobre outros materiais condutores de baixo valor comercial, utilizada na preparação de eletrodos catalíticos. Especificamente, nas células combustíveis, usam-se eletrodos hidrofóbicos de carbono poroso com partículas de platina dispersas sobre a sua superfície que funcionará como catalisador para a reação desejada [23]. 4 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Quando a superfície está modificada com um óxido, ou com um polímero eletroquimicamente ativo, ou com um composto orgânico ou inorgânico, esse, por sua vez, irá funcionar como um agente mediador entre a espécie eletroativa em solução e o substrato metálico que poderá receber ou transferir elétrons. A adsorção de um composto orgânico sobre a superfície eletródica poderá inibir totalmente uma reação eletroquímica bloqueando a área ativa do eletrodo (θ). Neste caso, a reação só ocorrerá nas regiões expostas (1-θ). Algumas vezes a reação poderá ocorrer também sobre o filme formado. Contudo, a cinética de reação será diferente da exibida pela área exposta. Neste caso, o adsorbato poderá favorecer, ou não a reação desejada. No caso em questão, assume-se que a velocidade de reação sobre a superfície eletródica é uma função linear com relação a taxa de recobrimento (θ) e dada pela Equação 1 [24]. (1) θθθ 00 0 0 )1( Ckkk +−= = Onde é a constante de velocidade de transferência de carga para uma superfície totalmente acessível livre do composto adsorvido e é a constante de velocidade de transferência de carga através do filme adsorvido e θ é taxa de recobrimento do filme formado. 0 0=θk 0 Ck Para uma situação onde , tem-se um filme catalítico, ou seja, acelera a reação eletródica. Para o caso particular onde tem-se um filme de caráter bloqueante ideal para aplicações anticorrosivas, ou que necessite de uma superfície eletródica com baixas quantidades de regiões expostas. 0 0 0 => θkkC 00 =Ck Na Figura 3 está apresentado o voltamograma relativo a eletrodo de platina totalmente acessível, ou seja, livre de adsorventes em solução aquosa 0,5M de H2SO4. 5 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Figura 3: Voltamograma cíclico – eletrodo de platina em solução 0,5M de H2SO4. Os picos Hc (reação de redução - adsorção) e Ha (reação de oxidação – desorção) mostram a formação de hidrogênio adsorvido. Os picos Oa (reação de oxidação – adsorção) e Oc (reação de redução - desorção) e mostra a formação da camada de óxido sobre a superfície de platina [24]. Observa-se nesta figura a presença de picos referentes à adsorção de oxigênio e hidrogênio sobre a superfície eletródica. Assume-se que a corrente referente a estes picos está diretamente relacionada a taxa de oxigênio e hidrogênio adsorvido sobre a superfície eletródica. Assim, diversas substâncias podem ser utilizadas para modificar a superfície da platina com a finalidade de diminuir a área ativa do eletrodo e, por conseqüência, diminuindo a taxa de adsorção de oxigênio e de hidrogênio. Desta maneira, os picos referentes a essas adsorções diminuem sensivelmente favorecendo outras reações de interesse tecnológico que possam ocorrer nessas regiões sobre a curva. Existem casos onde a reação desejada só ocorrerá na área modificada (θ), neste 6 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ caso, tem-se uma situação onde é infinitamente maior do que ( ). Desta maneira, a constante de velocidade de transferência de carga do sistema dependerá apenas da constante de transferência de carga do filme formado . Um caso bastante discutido na literatura que pode servir de exemplo é o estudo das propriedades redox de algumas metaloproteínas por elas apresentarem um papel essencial em muitos processos biológicos, tais como: fotossíntese, respiração celular e etc [25-30]. Desta maneira, a compreensão do mecanismo desenvolvido por essas metaloproteínas nesses processos é de suma importância ao avanço da ciência, uma vez que, esse conhecimento ajudaria bastante no desenvolvimento de novos medicamentos. 0 Ck 0 0=θk 0 0 0 =>>> θkkC 0k 0 Ck Dentre esse grupo de metaloproteínas, existiu-se o interesse em estudar processos de transferência de carga do citocromo-c (cyt-c). Os complexos protéicos, como é o caso do cyt-c, apresentam sítios ativos (centro metálico) localizados no interior da molécula, e desenvolve o seu processo de transporte de carga mediante proteínas com peso molecular menor ou igual a 15000 [30, 31]. Na tentativa de compreender o mecanismo reacional do cyt-c, foram realizados estudos eletroquímicos em superfícies de ouro, platina, prata e, até mesmo, mercúrio [32, 33]. Contudo, esses autores tiveram bastantes dificuldades devido a forte adsorção que o cyt-c exibe sobre essas superfícies. Essa adsorção induzia em uma conseqüente desnaturação dessa metaloproteína, embora alguns resultados publicados tenham questionado essa afirmação [33, 34]. A visualização do processo redox só foi alcançada através do estudo eletroquímico em superfície modificada com compostos organosulfurados [35, 36]. Na Figura 4 encontra-se a representação esquemática da interação entre o citocromo c e a superfície do eletrodo modificado. 7CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ H2N OH NH2 =O + Au X Y Sítio de interação adsorbato / eletrodo Sítio de interação com cyt c Resíduo de Lisina na superfície do cyt c Citocromo ccyt c Figura 4 – Representação esquemática da interação entre a macromolécula cyt c com a superfície modificada. Observa-se na figura acima que o grupo funcional X está ligado a superfície de ouro e o grupo funcional Y interage com os grupamentos da lisina da metaloproteína [37]. Essa interação entre a metaloproteína e o grupamento Y se deve, provavelmente, a grande afinidade química existente entre elas. Sabe-se que o grupamento Y deverá exibir características de uma base fraca para interagir com os grupamentos da lisina carregados positivamente no pH fisiológico. Diversos fatores podem influenciar na constante de transferência de carga relacionada ao processo redox dessas metaloproteína através do filme formado. Tais fatores podem estar relacionados à: estabilidade da monocamada formada; ao nível de organização; à taxa de recobrimento (θ); e outros. Todos esses fatores podem aumentar ou diminuir a eficiência de um determinado modificador em acessar o processo redox dessas proteínas e, por conseguinte, aumentar ou diminuir a constante de transferência de carga sobre o filme formado (aumento de ). 0Ck Em todos os casos citados anteriormente, observa-se a necessidade de compreender a formação estrutural dessas monocamadas adsorvidas, pois a eficiência de determinadas reações, desejadas ou não, dependerá, principalmente, de fatores correlacionados a morfologia do composto adsorvido sobre seu substrato. Desta maneira, certos conhecimentos são de suma importância, tais como, taxa de recobrimento do composto adsorvido sobre o seu substrato, o nível de organização das moléculas adsorvidas e força de interação adsorbato-substrato. 8 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Objetivando compreender a formação estrutural dessas monocamadas, diversos trabalhos têm sido apresentados na literatura com a principal finalidade de se estudar a eletroatividade em superfícies de ouro modificadas, utilizando, principalmente, as técnicas de Voltametria Cíclica (VC) e Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) e correlacionando, também, esses diagramas com o nível de organização estrutural do modificador sobre essa superfície. PENG DIAO et al. [38], realizando diversos estudos objetivando verificar o nível organizacional de SAMs formadas a partir de octadecil mercaptano (ODM), sobre a superfície de ouro monocristalino, apresentaram resultados que, em uma primeira análise, sugeriria que, estruturalmente, a monocamada se apresentava livre de colapsos e defeitos para um tempo longo de imersão na solução modificadora (24 horas), como foi observado pelo comportamento dos voltamogramas pela ausência dos picos de oxi-redução da espécie eletroativa Fe(CN)63- na concentração 2 mM em solução de KCl na concentração de 0,1 M. Porém, em uma análise mais rigorosa, comparando-se as constantes de transferência de carga calculadas e as obtidas experimentalmente a partir das curvas voltamétricas, verificou-se uma diferença significativa de valores da ordem de 103, levando-se a crer que existem regiões colapsadas sobre a superfície formada. Estudos mais aprofundados realizados pelos mesmos autores utilizando a técnica de espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) e baseando-se em um modelo teórico onde se correlacionam valores de admitância com a rugosidade superficial (α), estimaram os níveis organizacionais dos filmes formados em função do tempo de imersão do eletrodo na solução modificadora. Como resultado, verificou-se um aumento dos valores de α decorrente do aumento do tempo de imersão durante a formação da monocamada, chegando a um valor máximo de 0,98. Desta maneira, esse trabalho propôs um método alternativo para verificar o grau de ordenamento de monocamadas formadas de ODM sobre superfície de ouro monocristalino podendo, talvez, ser aplicado no estudo de outras monocamadas. KRISANU BANDYOPADHYAY et al. [39], estudando processos de transferência de carga na interface de monocamadas formadas a partir de "naphtalene disulfde” 9 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ utilizando o par redox Fe(CN)64-/3- na concentração de 5 mM de K3Fe(CN)6 e 5 mM de K4Fe(CN)6 em solução de 0,5 M de KF, observaram a diminuição do processo de transferência de carga do par redox com o aumento dos tempos de imersão do eletrodo de ouro na preparação dos filmes formados. Esses resultados foram confirmados por experimentos de voltametria cíclica obtidos em solução de KF 0,1 M com o par redox na concentração de 1 mM de K3Fe(CN)6 e 1 mM de K4Fe(CN)6, onde foi observada a diminuição das intensidades das correntes faradaicas com o aumento dos tempos de imersão do eletrodo de ouro na preparação dos filmes formados. A técnica de microscopia de superfície por tunelamento (MST) está sendo extensivamente usada para analisar o grau de empacotamento de diversos revestimentos obtidos por adsorção [40]. Esses mesmos autores [39], utilizando esta técnica com o principal objetivo de adquirir uma melhor compreensão da organização dessas moléculas na formação da monocamada a nível molecular, verificaram, comparando a superfície do eletrodo de ouro limpo e esse mesmo eletrodo revestido, a presença de defeitos sobre a superfície revestida por onde se processava os transportes de elétrons do par redox. Concluiu-se, portanto, que ao diminuir a área exposta do ouro, diminui automaticamente o fluxo de elétrons que, por conseqüência, diminui, também, a velocidade de transferência de carga na superfície do eletrodo, confirmando os resultados obtidos nos experimentos de impedância e de voltametria cíclica. Esses autores estimaram, com uma boa aproximação, a taxa de recobrimento (θ) e a velocidade de transferência de carga (kapp) da espécie eletroativa sobre a superfície modificada. REINCKE et al. [41] estudando o nível de organização de monocamadas formadas a partir de compostos “oligo (cyclohexylidene)” sobre superfície de ouro monocristalino (111), utilizando a técnica EIE, tendo os seus ensaios realizados em solução de KCl na concentração de 1 M, onde foram retirados valores da capacitância interfaciais obtidas na freqüência de 1000 Hz, e a técnica de voltametria cíclica realizada também em solução de KCl na concentração de 1 M na presença do sistema redox (Fe(CN)63-/4-, ambas desaeradas com N2, associadas as outras técnicas, tais como, MST para se estudar a morfologia das superfícies, chegaram a importantes resultados. Sabendo que existe uma forte dependência dos valores de capacitância com a freqüência [42], apresentaram valores de capacitância interfacial obtidos na freqüência de 1000 Hz na faixa de potencialde (-0,6 a 0,6 V) com a 10 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ superfície de ouro polida (Au) e modificada, observando que, em torno do potencial de carga zero da superfície de ouro polido, a capacitância aumenta consideravelmente e que, segunda a literatura [43], isto se deve principalmente à rugosidade superficial do ouro, podendo também ser devido à adsorção específica de ânions [44, 45]. A superfície de Au polido apresentou um pico assimétrico em torno do seu potencial de carga zero, próximo de 0,2 V. A assimetria do pico de carga zero se deve, provavelmente, a adsorção específica do ânion , como é demonstradas pelas literaturas [42, 44, 45]. Nesse mesmo trabalho, medidas de capacitância obtidas para a superfície de Au modificada com “oxime” – (Au ⏐ Oxime), por um longo tempo de imersão em solução etanólica deste composto apresentaram uma diminuição acentuada dos valores de capacitância com relação à superfície de ouro polido e o pico de potencial de carga zero desaparece. Esta pronunciada diminuição dos valores de capacitância também pode ser observada para a superfície de ouro modificada apenas com etanol. Provavelmente, esta redução dos valores de capacitância se deve à adsorção física de moléculas de etanol e de “oxime” na superfície de ouro. Por outro lado, foi observado que a capacitância diminui bastante com o aumento da cadeia molecular do modificador, devido provavelmente ao alto nível de organização desenvolvido por este modificador conciliado ao aumento da espessura do filme formado. O efeito produzido pelo modificador “oxime” e “monosulfide” sobre a superfície de ouro foi também observado por voltametria cíclica. Verificou-se uma diminuição dos picos do processo oxi-redução do processo redox do Fe(CN) −Cl 6 3-/4- com o aumento da taxa de recobrimento na superfície de ouro. As superfícies de ouro modificadas com etanol e solução etanólica de “oxime” apresentam um baixo grau de recobrimento por desenvolver apenas adsorção do tipo física, como foi observado neste trabalho pela leve diminuição dos picos de oxi-redução do ferro no seu processo redox. Por outro lado, quando a modificação é realizada com o composto “monosulfide” em solução etanólica, o processo redox Fe(CN)63-/4- é fortemente inibido com relação ao eletrodo de ouro polido, demonstrando um processo forte de recobrimento na superfície. Nos resultados de MST, observa-se que os defeitos são raramente vistos, levando-se a crer, que as monocamadas desenvolvidas a partir da modificação da superfície de ouro com o composto “monosulfide” apresentam um alto grau de ordenação, devido à ligação forte existente entre o enxofre e a superfície de ouro (adsorção do tipo química). 11 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 1.1.4 FUNDAMENTOS TEÓRICOS SOBRE AS TÉCNICAS UTILIZADAS. O objetivo deste tópico é fornecer informações relevantes sobre as técnicas de espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE), Impedância eletro-hidrodinâmica (EHD), uma vez que, a discussão dos resultados obtidos neste trabalho referentes a essas técnicas não são facilmente encontrada em livros textos. A teoria sobre as técnicas: polarização linear (PL), voltametria cíclica (VC) ou de pulso diferencial (VPD), micro balança de quartzo (MBQ), microscopia de força atômica (MFA), microscopia superficial por tunelamento (MST) e espectroscopia vibracional RAMAN (RAMAN) podem ser encontradas nas referencias [23, 24, 46, 47]. 1.1.4.1 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA A impedância eletroquímica (Z) é a resposta de um sistema eletroquímico a uma perturbação alternada. Essa perturbação pode ser realizada no potencial, tendo como resposta a variação de corrente do sistema (técnica potenciostática), ou na corrente, tendo como resposta a variação do potencial (técnica galvanostática). Sendo a lei de Ohm válida também para a eletroquímica (E=ZI). Assim, esta técnica consiste em aplicar uma perturbação a um sistema eletroquímico do tipo senoidal de pequena amplitude em torno de um ponto, cujos valores de corrente e potenciais são conhecidos. A importância de se aplicar uma perturbação de pequena amplitude consiste em poder tratar matematicamente os dados de uma forma mais simples, mantendo a linearidade entre potencial e corrente [48] (Figura 5). 12 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Figura 5 – Representação esquemática da dependência entre a linearidade e a amplitude de perturbação do sistema. Desta maneira, para caracterizar o sistema eletroquímico em todos os seus processos faz-se necessário variar a freqüência desta perturbação desde um valor muito elevado (f→∞) até um valor muito pequeno (f→0). Assim, pode ser estabelecida uma correlação entre a resposta do sistema e a perturbação aplicada [49]. Supondo que o sistema sofra uma perturbação de amplitude ( E~ ) em torno de um potencial estacionário ( E ) do tipo não estacionária, ou seja, que varie com o tempo, a sua equação poderá ser escrita da seguinte forma (Equação 2): ( ) )exp(~ tjEEtE ω+= (2) Onde “j” é um número complexo ( 1− ), ω é a freqüência angular que é calculada como sendo 2πf e f é a freqüência de perturbação do sistema. E~ é perturbação aplicada. Automaticamente, a resposta do sistema a uma perturbação na forma de potencial será em corrente (i) e terá a forma (Equação 3): ( ) )exp(~ φω ++= tjiiti (3) 13 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Assim, a equação da resposta terá a mesma forma da perturbação para respeitar a linearidade, porém é defasada em um ângulo (φ) [50]. Ângulo de defasagem φ do potencial aplicado em relação a corrente representa o fenômeno físico característico do sistema eletroquímico. Ele terá um valor fixo para cada freqüência aplicada. A impedância de um sistema eletroquímico (Z) é definida como sendo a razão entre a transformada de Laplace da perturbação em potencial (E(t)) e a transformada de Laplace da resposta em corrente (I(t)) (Equação 4):[ ] [ ])( )( tiL tELZ = (4) Assim para cada valor de ω terá um valor de impedância [Z(ω)] associado a ele. Como a impedância de um sistema é um número complexo ela poderá ser representada de várias maneiras: 1. Coordenadas cartesianas aginárioal JZZZ ImRe)( +=ω (5) Onde ZReal é a componente real, ZImaginário é a componente imaginária da impedância, e 1−=J . O módulo da impedância(|Z(ω)|) será dado pela a equação: 2Im 2 Re )()()( aginárioal ZZZ +=ω (6) O ângulo de defasagem φ será: al aginário Z Z Re Imarctan=φ (7) 14 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ As representações dos componentes reais e imaginários na forma trigonométrica serão: )cos()(Re φωZZ al = e )sen()(Im φωZZ aginário = (8) 2. Coordenadas polares φωω JeZZ .)()( = (9) Graficamente, a impedância, como todo número complexo, é representada através do diagrama de Nyquist (o componente imaginário da impedância - G em função do componente real - R) (Figura 6). Ela poderá também ser representada através do diagrama de Bode (logaritmo do módulo da impedância versus logaritmo da freqüência e ângulo de fase versus logaritmo da freqüência) (Figura 7). Figura 6 – Representação da impedância através do diagrama de Nyquist. 15 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Figura 7 – Representação da impedância através do diagrama de Bode. Usualmente, os diagramas de Nyquist são mais utilizados para representar os fenômenos eletroquímicos, enquanto que os diagramas de Bode são mais utilizados para representar a impedância eletro-hidrodinâmica. IMPEDÂNCIA DE DIFUSÃO A Figura 8 representa uma curva de impedância típica de um processo eletroquímico sobre ouro, prata ou platina obtida para sistemas onde ocorre transferência de carga de uma espécie eletroativa controlada por difusão. Esse modelo foi escolhido por representar grande parte dos resultados de impedância obtidos neste trabalho. 16 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Figura 8 - Representação esquemática de uma resposta de impedância eletroquímica para um sistema onde ocorre transferência de carga de uma espécie eletroativa controlada por difusão. Na Figura 8, observa-se que a região de controle cinético está relacionada as propriedades microscópicas do eletrodo, tais como, rugosidade, cristalinidade, substâncias adsorvidas sobre a superfície eletródica e cargas superficiais. Por outro lado, na região de controle difusional observa-se os processos não localizados como, a difusão das espécies em solução, transporte de íons, e a condutividade do eletrólito. O estudo separado desses dois processos permite a compreensão de todo o processo eletroquímico sobre a superfície eletródica. Embora, a maioria dos trabalhos apresentados na literatura que estudam processos de transferência de carga de espécies eletroativas sobre superfícies modificadas com SAMs utilizando a técnica de impedância eletroquímica se restringe apenas a estudar região de mais alta freqüência, correspondente ao arco capacitivo de transferência de carga dessa espécie eletroativa sobre a superfície modificada, sabe-se que a discussão da região difusional pode fornecer informações também importantes para o sistema em estudo. Desta maneira, far-se-á necessário discutir a teoria de impedância de difusão neste trabalho. Nos processos eletroquímicos, de um modo geral, tem sua interface caracterizada por um conjunto de variáveis que são funções normalmente da posição (x) e do tempo (t). Para um sistema onde a concentração do eletrólito suporte e da espécie eletroativa são relativamente elevadas à temperatura constante, bem como, as grandezas como, pressão, área do eletrodo e velocidade de rotação do eletrodo não se alteram com o tempo e a posição, o potencial (E) será apenas uma função da corrente aplicada (i): 17 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ))(( tiEE = (10) Porém, para sistemas onde existam gradientes de concentrações da espécie eletroativa (sistema com baixas concentrações da espécie eletroativas) e considerando a reação apenas em um sentido e de primeira ordem sem formação de intermediários, a corrente será uma função do potencial aplicado (E) e da concentração da espécie eletroativa oxidada (CO) e reduzida (CR) na superfície eletródica. (11) )),0(),,0(),(( tCtCtiEE RO= A expressão diferencial em relação ao tempo será: dt tdC C E dt tdC C E dt tdi i E dt dE R CiR O CiOCC ORRO ),0(),0()( ,,, ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ +⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ +⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ = (12) Neste caso específico, uma perturbação de uma dessas variáveis em torno de um ponto estacionário irá influenciar nas outras variáveis do sistema. Assim para o caso da impedância, em modo potenciostático, uma perturbação no potencial (Equação 2) irá induzir em uma perturbação na corrente e na concentração das espécies eletroativas na superfície do eletrodo. Então resposta em corrente será a mesma da (Equação 3) e em concentração será dada por: )exp(~),0( tjCCtC OOO ω+= (13) )exp(~),0( tjCCtC RRR ω+= (14) 18CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Para sistemas eletroquímicos simples, seguindo a equação de Butler –Volmer, a resolução detalhada da Equação 12 pode ser encontrada na literatura [24]. Sua resposta será: WtF ZRZ += (15) Desta maneira, a resistência a transferência de carga (Rt) será dada pela expressão abaixo: 0, nFI RT i ER RO CC t =⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ = (16) Onde R é a constante dos gases, T é a temperatura absoluta do sistema, n é o número de elétrons envolvido na reação eletródica, F é a constante de Faraday e I0 é a corrente de troca do sistema correspondente a extrapolação das curvas de Butler –Volmer. ZW é a impedância de Warburg e a sua expressão é: j CZW 2 1 )( − = ω (17) De acordo com a teoria dos números complexos [52]: jsenrrbja ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛+⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛=+ 22 cos 2 1 2 1 θθ (18) Onde: 22 bar += e ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛= a barctgθ (19) Para o caso particular de j os valores de a=0 e b=1. Ao calcularmos os valores teremos: r=1 e 2 ~)(~ 0 1 πθ =∞=⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛= arctgarctg (20) 19 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ substituindo terá: jsenj 2 2 2 2 44 cos +=⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛+⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛= ππ (21) Incorporando o valor de 2 2 na constante C da equação de Warburg obterá à equação abaixo: ⎟ ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎜ ⎝ ⎛ + = − j CZW 1 2 1 ω (22) Que multiplicando em cima e embaixo por )1( j− chegará a expressão abaixo: jCCZW 2 1 2 1 22 −− ⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛−⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛= ωω (23) De acordo com a equação (Equação 23) pode ser observado que a parte real e a parte imaginária da impedância terão o mesmo valor em módulo e a impedância de Warburg se apresentará como uma reta cuja inclinação será de 45º. CIRCUITOS EQUIVALENTES É bastante comum encontrar na literatura circuitos elétricos representando a interface eletroquímica de um sistema em estudo [50, 51, 53]. Isso se deve ao fato dessa representação facilitar a visualização dos processos interfaciais. Porém, esse tipo de associação ajuda bastante a compreensão de alguns fenômenos, contudo, são de aplicação prática limitada devendo ser utilizadas com bastante critério. Dados experimentais obtidos através das curvas de impedância, geralmente podem ser ajustados para resposta de um circuito equivalente, formado por resistores, capacitores ou indutores. Na representação da Figura 8 pode-se verificar que existe uma corrente responsável pelo carregamento da dupla camada, conhecida como corrente capacitiva, e outra que é gerada pelos processos faradaicos, ou seja, pela transferência de carga na superfície eletródica induzida pelas reações das espécies eletroativas. 20 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Assim, ter-se-á uma impedância originada da capacitância da dupla camada elétrica (ZC) outra originada dos processos faradaicos (Zf). Não existe uma representação matemática para impedância faradaica, pois, cada sistema apresentará a sua particularidade e seu valor poderá ser obtido experimentalmente que será uma função do potencial aplicado, das concentrações das espécies em solução e da taxa de recobrimento de alguma espécie adsorvida na superfície eletródica. Porém, a impedância ZC poderá ser facilmente calculada pela expressão (Equação 24): C JZC ω − = (24) Onde C é a capacitância da dupla camada elétrica da superfície eletródica e ω é a freqüência angular do sistema e é dada pela expressão 2πf. Levando-se em conta também a resistência do eletrólito (RE), pode ser desenvolvida uma expressão geral para a impedância total (ZT) [54] do sistema e é dada por (Equação 25): F F ET CZj Z RZ ω+ += 1 (25) Pode ser observado que, ao realizar a medida de impedância variando a freqüência, observa-se que na região de alta freqüência (ω→∞) o segundo termo do lado direito da equação tende a zero, logo se pode encontrar experimentalmente o valor da resistência do eletrólito. Teoricamente, na região de mais baixa freqüência (ω→0), obtêm-se a expressão (ZT=RE + ZF). Porém, a expressão de ZF não é simples e vai depender do modelo que vai ser utilizado para representar os processos interfaciais [55]. Observando as Figuras 8 e 9, a expressão de ZF estará relacionada com processos difusionais das espécies eletroativas na superfície eletródica, assim como, estará relacionada também com os processos de transferência de carga. A caracterização de ZF é de relevada importância para a compreensão dos fenômenos interfaciais. Porém, existe uma complexidade de fatores e efeitos que podem influenciar na sua obtenção, dificultando-a. 21 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Figura 9 - Representação esquemática em forma de circuito equivalente da resposta de um sistema onde ocorre transferência de carga de uma espécie eletroativa controlada por difusão. 1.1.4.2 IMPEDÂNCIA ELETRO-HIDRODINÂMICA Esta técnica foi proposta inicialmente por MILLER et al. [56] e TOKUDA et al. [57], consistindo basicamente em aplicar uma perturbação na velocidade de rotação de um eletrodo rotatório, variando a freqüência com que ela é efetuada, apresentando, como resposta, a corrente do sistema. Seu princípio básico é análogo a impedância eletroquímica, ou seja, a perturbação efetuada deverá ser senoidal e de pequena amplitude. Assim, as considerações são válidas paraas duas técnicas. Supondo um sistema eletroquímico constituído por um eletrodo rotatório em funcionamento a uma velocidade de rotação constante (Ω) submetida a uma modulação senoidal de pequena amplitude (≈ 10% de Ω) terá a expressão da sua velocidade instantânea através da equação abaixo [58, 59] (Equação 26). )}exp(~{Re)( tjalt ωΩ+Ω=Ω (26) Para fins de comparação de dados experimentais, apenas a componente real da impedância eletro-hidrodinâmica tem significado físico. 22 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Se o sistema está com regulação potenciostática a resposta do sistema será em corrente e será expressa pela equação abaixo (Equação 27): )}exp(~{Re)( φω ++= tjialiti (27) A impedância eletro-hidrodinâmica (ZEHD) será dada pela correlação entre a resposta do sistema e a perturbação aplicada (Equação 28): ))(( ))(( tL tiLZEHD Ω = (28) SPARROW e GREGG [60] desenvolveram o primeiro tratamento teórico descrevendo os perfis de velocidade instantânea do fluxo nas proximidades da superfície eletródica. Porém, esse sistema só é aplicado a regiões de baixas freqüências de modulação. Infelizmente, do contrário da impedância eletroquímica que, na maioria dos casos, existe um interesse maior em conhecer os perfis de suas curvas nas regiões de mais baixa freqüência por estarem associados aos processos faradaicos, para a impedância eletro- hidrodinâmica os processos mais interessantes para o estudo de interface eletródica só são observados em regiões de mais alta freqüência de modulação. Posteriormente, TRIBOLLET e NEWMANN [61] desenvolveram um tratamento teórico mais completo, ou seja, calcularam a resposta de um eletrodo uniformemente ativo para uma faixa mais ampla de freqüência. Neste tratamento teórico, foi apresentada uma expressão matemática para ZEHD admitindo-se que a resistência do eletrólito (RE) poderia ser negligenciada em comparação a resistência à transferência de carga (Rt) e a impedância de difusão (ZD) (Equação 29): WZR ZIZ Dt D EHD )( +Ω = (29) Neste tratamento, os valores de W foram apresentados em forma de tabelas para alguns valores de número de SCHMIDT (Sc = (ν/D)) onde ν é viscosidade cinemática e D é coeficiente de difusão das espécies eletroativas. 23 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Considerando que o sistema encontra-se na região onde a corrente está completamente controlada por transporte de massa, ou seja, a contribuição difusional é infinitamente maior do que a contribuição cinética. Assim, temos que a impedância de difusão é muito maior do que a resistência à transferência de carga do sistema então a equação se reduz (Equação 30): W IIZ EHD Ω = Ω = ~ ~ (30) Essa equação não é válida para freqüências de modulação muito elevada, pois ZD torna-se muito pequeno. Neste caso, os valores de RT são de grandezas significativas em comparação com os valores de ZD necessitando, portanto, de uma correção dos valores de ZEHD para essas freqüências. A partir deste trabalho, foi ampliada a utilização desta técnica, uma vez que, ela vem se tornando uma ferramenta poderosa para se estudar processos eletroquímicos controlados por difusão. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE DADOS APRESENTADOS NOS DIAGRAMAS DE IMPEDÂNCIA ELETRO-HIDRODINÂMICO • Freqüência adimensional (P) é dada pela relação (P= ω / Ω). Onde ω é freqüência de perturbação em Hertz e Ω é a rotação do eletrodo no estado estacionário em Hertz. • Amplitude reduzida é a amplitude em uma dada freqüência adimensional de perturbação dividida pela amplitude na região de baixas freqüências adimensionais (AP→X / AP→0). Assim, os dados obtidos estarão apresentados no formato de diagramas de BODE (Angulo de Fase versus logaritmo da Freqüência Adimensional e, logaritmo da Amplitude Reduzida versus logaritmo da Freqüência Adimensional). 24 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Para as superfícies inertes, ou seja, superfícies onde não ocorre dissolução ativa ou eletrodeposição, apenas três situações são apresentadas na literatura em termos de comportamento eletro-hidrodinâmico até o momento. [62-64]: • Eletrodo com superfície uniformemente acessível – nesta situação, a espécie eletroativa pode atuar em toda a extensão da superfície eletródica indistintamente [65]. Ao variar a velocidade de rotação do eletrodo as curvas de impedância eletro-hidrodinâmica se reduzem a uma única curva que se sobrepõem uma sobre a outra apresentando apenas uma única constante de tempo (uma única freqüência de corte). O angulo de fase apresenta uma tendência à 180º quando se aproxima das freqüências adimensionais mais altas. • Eletrodo com superfície recoberta por um filme homogêneo – a presença de um filme irá induzir no aparecimento de um gradiente de concentração da espécie eletroativa no seu interior, acarretando em um processo difusional diferente da que ocorre no seio da solução [66]. Neste caso, coeficiente de difusão no interior do filme não dependerá da velocidade de rotação do eletrodo. Assim, ao variar a velocidade de rotação do eletrodo os diagramas de impedância eletro-hidrodinâmica apresentarão apenas uma constante de tempo (uma única freqüência de corte), porém, as curvas não se sobrepõem uma sobre a outra e o angulo de fase geralmente é menor do que 180º graus quando o sistema se aproxima das freqüências adimensionais altas. • Eletrodo com superfície parcialmente bloqueada – Nesta situação, irão existir regiões totalmente ativas e regiões bloqueadas ao processo difusional da espécie eletroativa. Desta maneira, existirá uma taxa de recobrimento sobre essa superfície eletródica devido à presença dessas regiões [67]. Desta maneira, para as diferentes velocidades de rotação do eletrodo os diagramas de impedância Eletro-hidrodinâmica apresentam sobreposição das curvas na região de baixas freqüências, pois, nesta região, os sítios ativos se comportam como um único eletrodo ativo, pois, em freqüências de perturbação pequena permite que os perfis de concentração se propaguem até alcançar o seio da solução. Na região de mais altas freqüências, ocorre o aparecimento de uma outra constantede tempo, pois somente as reações que ocorrem nos sítios ativos são observadas, haja visto que, os perfis de concentração relaxam antes de alcançar o seio 25 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ da solução modificando o processo difusional da espécie eletroativa. Normalmente, angulo de fase apresenta valores maiores do que 180º graus, porém também pode apresentar valores menores que 180º graus na região de mais altas freqüências. Para caracterizar um sistema de eletrodo parcialmente bloqueado em condições reais, diferentes enfoques foram explorados tanto para uma condição estacionária como não estacionária. Todos estes modelos estão baseados em condições idealizadas com distribuições simétricas de sítios ativos com simetria simples ou assimétrica sempre acompanhada de muitas considerações para tornar a resolução analítica das equações de transporte de massa possíveis de se realizar. Um dos trabalhos mais originais que surgiu sobre este assunto foi o dos autores, CAPRANI et al. [68] onde utilizaram o método numérico de NEWMANN [69, 70] e verificaram que dois sítios ativos idênticos próximos um do outro desenvolvem um fluxo difusivo nas suas bordas de ataque determinando a corrente. Este trabalho permitiu aproximar a situação real, ou seja, de uma superfície parcialmente bloqueada com um grande número de sítios ativos interagindo entre si, de uma situação idealizada composta apenas de um pequeno sítio ativo circular colocado nas vizinhanças de um disco ativo de dimensões gigantescas e os dois separados por um espaço que vem a ser a superfície bloqueada. Esse tratamento permitiu a solução numérica para a equação da impedância eletro-hidrodinâmica (sistema não estacionário). Desta maneira, esses autores desenvolveram uma equação adequada para um disco ativo de grandes dimensões (na região de baixas freqüências) e outra correspondente ao sítio ativo de diâmetro “D” colocado a uma distância “r” do centro de um disco isolado de raio “R” (região de altas freqüências). Solução para um disco ativo de grandes dimensões (Equação 31): 4,23 1* =Cd SP (31) Onde Pd é a freqüência de corte localizada na região de mais baixas freqüências e SC é o número de Schmidt do sistema. Solução para o sítio ativo de pequenas dimensões (Equação 32): 26 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 79,0 2 963,0 3 2 3 1* =⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ R dSP Ccπ (32) Onde Pc é a freqüência de corte localizada na região de mais altas freqüências, d é o diâmetro do sítio ativo e o R é o raio de um disco isolado onde se encontra o sítio ativo. Desta maneira, a solução para o sítio ativo quanto para o disco de grandes dimensões se iguala em baixas freqüências, pois, como já foi comentado, o perfil de concentrações se propagam até atingir o seio da solução. A solução do problema se assemelha a de um eletrodo uniformemente ativo. Na região de freqüências altas, os perfis de concentrações relaxam antes de atingir o seio da solução e a solução do problema para o sítio ativo é como se ele se comporta como um micro eletrodo localizado a uma distância “r” do centro de um disco isolado. 1.2 OBJETIVOS As modificações de superfícies metálicas com tióis têm originado diversas aplicações. Dentre elas, pode se destacar, a prevenção de processos corrosivos [71, 72], o desenvolvimento de nano-dispositivos eletrônicos [73], a formação de depósitos em escala nanométrica e, principalmente, tem auxiliado no estudo de processos redox de metaloproteínas funcionando como biosensores. Desta maneira, o conhecimento da disposição dessas espécies sobre esta superfície é de relevada importância para a sua melhor aplicação. Certos fatores resultantes do processo de adsorção dessas espécies, tais como, taxa de recobrimento, nível de organização dessas moléculas adsorvidas e formação de defeitos na camada formada constituem parâmetros importantes para a sua avaliação. Dentro deste grupo de compostos organosulfurados, as moléculas de 1,4-ditiano (1,4-dt) e 4-mercaptopiridina (pyS) têm se destacado por apresentar aplicações nas áreas de biosensores [74, 75], contudo, pouco se conhece sobre esses parâmetros estruturais 27 CCAAPPÍÍTTUULLOO 11 –– IInnttrroodduuççããoo GGeerraall ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ mencionados anteriormente. Esse conhecimento poderia servir de base para estudos futuros aplicados ao processo de adsorção desses mesmos compostos ou extensivos a outras espécies de compostos organosulfurados visando uma melhor adequação de suas aplicações. Portanto, este trabalho consiste em elaborar superfícies de ouro policristalino (Au) modificadas com moléculas de 1,4-ditiano (1,4-dt) e 4-mercaptopiridina (pyS) e realizar estudos eletroquímicos dessas superfícies objetivando compreender a sua formação. Para a realização deste estudo foram utilizadas as técnicas eletroquímicas de espectroscopia de impedância eletroquímica, polarização linear com eletrodo de disco rotatório (potenciostática), voltametria, impedância eletro-hidrodinâmica e micro balança de quartzo. Outras técnicas também deram suporte aos resultados obtidos tais como, microscopia de força atômica e de tunelamento de superfície e espectroscopia RAMAN. 28 CCAAPPÍÍTTUULLOO 22 –– MMaatteerriiaaiiss ee MMééttooddooss ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 ELETRODO DE TRABALHO Na obtenção dos resultados em modo estacionário (estáticos) foi utilizado um eletrodo de ouro de forma geométrica circular, embutido em teflon com área geométrica de 0,0314 cm2 fornecida pela empresa Bioanalytical Systems – BAS. Nos ensaios com eletrodo rotatório (dinâmicos) utilizou-se um eletrodo de disco de fabricação artesanal, pois havia a necessidade de se adaptar ao sistema rotatório. Assim, este eletrodo (área exposta =0,07 cm2) foi confeccionado com um tarugo de ouro policristalino de alta pureza (99,98%), colado a um condutor metálico cilíndrico que permitia o contato elétrico. A superfície lateral deste eletrodo foi então revestida com material