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Gustavo Moreno T19 Dor Pélvica Crônica: -Queixa comum no consultório -Variam muito na definição, nas etiologias predominantes e na neurofisiologia -Envolvem interações entre fatores psicológicos, neurológicos, imunológicos e endocrinológicos Definição: -Dor em andar inferior do abdome, acíclica, com duração igual ou superior a 6 meses -A dor é localizada entre a pelve, a parede anterior do abdome e a coluna lombrossacra ou nádegas, na altura ou abaixo da cicatriz umbilical Epidemiologia e fatores associados: -4 a 25% em mulheres em idade reprodutiva -10 a 20% das consultas ginecológicas -Avaliações com diferentes especialistas e diferentes métodos diagnósticos -A DPC é multifatorial com localizações de dor no trato reprodutivo, urinário, TGI, e nas estruturas musculoesqueléticas ou no SNC Condições ginecológicas associada a DPC mais prevalentes: -Endometriose -Aderências peritoniais -Cistos anexiais – cistos nos ovários -Salpingite / endometrite crônica – inflamação das trompas e endométrio -Síndrome de congestão pélvica – varizes pélvicas -Cistos peritoneais pós operatórias -Adenomiose – endometriose no útero -Leiomioma -Distopias genitais – cistocele, retocele entre outros Causas não ginecológicas associada a DPC mais prevalentes: -Distúrbios → neurológico, funcional do intestino, músculo esquelético -Dx psicológico Causas ginecológicas: Endometriose: -Quando o endométrio se desenvolve em outro local, que não no útero → normalmente se desenvolve na cavidade pélvica -Patologia ginecológica mais frequente associada a DPC -Os sintomas podem não ser percebidos como cíclicos, nem limitados ao período do fluxo menstrual -Epidemiológicos e etiológicos não estão completamente definidos para endometriose -Tríade da endometriose ⇒ Dismenorreia, dispareunia e infertilidade*** Dor piora ao longo do tempo -Somente nos casos de endometriose profunda e endometrioma, observa-se correlação entre a dismenorreia e a extensão da doença.** Endometriose profunda → parte posterior do reto, útero e bexiga Endometrioma → endometriose no ovário que cria cisto com líquido achocolatado no ovário -Videolaparoscopia → Padrão ouro Endometriose pode gerar obstrução tubária, nesse caso, retira as aderências para retirar a endometriose Doença inflamatória Pélvica: -Doença inflamatória pélvica – DIP -Inflamação do útero, das trompas e dos ovários -Causa comum de DPC em populações com elevada prevalência de doenças sexualmente transmissíveis -30% das mulheres com DIP desenvolverão DPC a seguir -Exame físico: secreção vaginal, com coloração amarelada e odor fétido, dor a manipulação no colo do útero -US terá hiperrefringência → sugere DIP -Infecções normalmente são causadas por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae -Tratamento: doxiciclina ou azitromicina + metronidazole + ceftriaxona Metronidazol VO por 14 dias Doxiciclina VO por 14 dias Ceftriaxona IM dose única -DIU causa endometrite crônica e sua retirada proporciona alívio dos sintomas Aderência Pélvicas: -Normalmente após procedimentos cirúrgicos -Presentes em 25% das pacientes com DPC -Formações fibrosas regenerativas decorrentes de traumas mecânicos, infecções, inflamações ou sangramentos. -Aderências geralmente são entre 2 órgãos → útero-bexiga; intestino-útero, bexiga-intestino entre outros) -As aderências podem causar infertilidade, dor pélvica crônica, dispareunia e em casos mais graves, obstrução intestinal Dismenorreia: -Pode estar isolado -Magnificação dos sintomas crônicos no período perimenstrual -Fatores de risco: idade < 20 anos, tentativa de perda de peso, depressão, menorragia, nuliparidade, fumo. -2 tipos: Primária e secundária: 1º ⇒ aparece logo após a menarca, tem caráter cíclico, com duração máxima de 72 horas 2º ⇒ surge anos após a menarca e com intensidade crescente – endometriose, DIU, hímen, imperfurado -Ambas respondem bem ao uso de AINEs -Pode fazer supressão ovariana por meio de anticonvepcioonal e uso de vitamina B6 e magnésio. Congestão ou varizes pélvicas: -Observa-se dilatação e tortuosidade do plexo venoso pélvico associado a diminuição do retorno venoso -Desembocadura da veio ovariana esquerda na veia renal esquerda em ângulo reto, a transmissão da pulsação da aorta no cruzamento desta artéria com a veia renal esquerda e a presença de dano valvular são observados em muitos veias ovarianas de mulheres portadoras de DPC, mas não tem tanta comprovação de que seja isso mesmo que causa a DPC. -A congestão ou varizes pélvicas são causa de dor, mas não é algo tão explícito Leiomioma uterino: -Sintomas de pressão e induzir dor pela compressão Maioria dos miomas não são grandes (a maioria tem até 3cm) Maiores podem causar dor mais forte porque comprimem bexiga, intestino, prejudicando função urinária e intestinal -Podem ainda causar dor aguda devido a degeneração, torção, ou expulsão dos leiomiomas através do colo do útero (a expulsão chama-se de mioma parido) -Localização: Subseroso (externo) → abaixo da serasa e geralmente precisam ser bem grandes para causar algum tipo de sangramento Intramural → no meio do miométrio Submucoso (dentro do endométrio) → pode soltar e ser expelido pelo colo do útero, e esse é o mais comum de gerar sangramentos e ainda, pode gerar infertilidade, dependendo de sua localização e tamanho Obs → o mioma não pode virar CA → avisar o paciente sobre isso Causas Não Ginecológicas: Distúrbios gastrointestinais: Síndromes do cólon irritável Provavelmente secundário a distensão excessiva da parede intestinal por conteúdo fecal ou gases estimulando os receptores nociceptivos ou por hipersensibilidade visceral Sintomas síndrome do cólon irritável: 1. frequência evacuatória anormal – 4 ou mais evacuações por dia ou 2 ou menos evacuações por semana 2. Formato anormal das fezes – podem estar constipadas ou diarreicas 3. Alterações no ato evacuatório – esforço urgência, sensação de evacuação incompleto 4. Presença de muco nas fezes 5. Distensão abdominal Manejo da Sd do Cólon irritável: · Alterações na dieta · Suplementação com fibras · Atividade física regular · Psicoterapia dirigida a redução do estresse · Supressão da ovulação · Antidepressivos tricíclicos Distúrbios urológicos: Uretrite crônica, cistites intersticial, instabilidade do detrusor e cistites recorrentes Cistite intersticial ou bexiga dolorosa: 38% das pacientes com DPC tem o diagnóstico de cistite intersticial Sinais e sintomas: Frequência (> 7 micções na vigília) Urgência urinária, noctúria > 2 por noite Dor pélvica na ausência de infecção, carcinoma vesical (cistoscopia para exclusão), cistite actínica ou medicamentosa Dispareunia, ardência e dor localizada na vagina, pelve área suprapúbica ou lombar baixa e nas fossas ilíacas Cistoscopia deve ser usada para excluir neoplasias em casos de hematúria ou em mulheres > 50 anos com início recente dos sintomas Tratamento: pentosan polisulfato sódico 300 mg/dia Distúrbios musculoesqueléticos: -Hiperestesia de áreas bem localizadas -Hiperreatividade do assoalho pélvico parece contribuir aparecimento de DPC – paciente faz a cirurgia e na cicatriz cirúrgica tem sensibilidade e dor -Dor é restrita a uma área bem localizada, pode ser reproduzida ou exacerbada pela palpação da parede abdominal -Etiologia: fibrose disfuncional e retração da incisão cirúrgica prévia ou bandas musculares ou nervosas que servem de gatilho para dor -Tratamento: acupuntura, fisioterapia, estimulação elétrica nervosa e toxina botulínica Diagnóstico psicológicos: -60% das mulheres com DPC -Os transtornos do afeto incluindo depressão são os mais frequentes -A dor, a incapacidade e as alterações de humor fazem parte de um círculo vicioso em que cada fator reforça os demais. Avaliação diagnóstica: -Anamnese e exame físico -Investigar fatores que contribuem para a DPC, incluindo fatores psicológicos, comportamentais e ambientais -Avaliação personalizada e explicação adequada para a paciente Anamnese: -Características da dor: qualidade, duração, fatores modificadores da dor como menstruação, atividade sexual, micção, defecação etratamento radioterápico prévio -Pesquisar perda de peso, hematoquezia, sangramento irregular perimenstrual, sangramento pós menopausa***, ou pós-coital (ver se o preventivo está em dia), com exclusão de patologias malignas ou sistêmicas -Dor secundária a alterações hormonais (refere em dores cíclicas), pode estar associada a endometriose ou a adenomiose -O padrão de dor não hormonal leva a pensar em causas musculoesqueléticas, aderências ou cistite intersticial -Suspeita de aderência pélvicas caso tenha história de cirurgia pélvica, infecção ou uso de DIU -Importante localizar corretamente a dor para avaliar se a mesma é de origem ginecológica ou não Exame físico: -Identificação de área dolorosas, massas ou outras alterações anatômicas -Mamas, abdome (massa palpável), ginecológico, especular (colpocitologia oncótica), toque vaginal unimanual (colo uterino e saco de douglas) e bimanual (palpação do útero e anexos). -Pesquisar pontos álgicos na pele do abdômen a palpação superficial -Palpação profunda à procura de massas intra-abdominais -Observar contratura voluntária do abdome -Palpar a coluna vertebral, o saco e a musculatura paravertebral -Pode ser bem inespecífico Obs - Exame das mamas (obrigatório!) e dos genitais, coleta de colpocitologia oncótica Obs - Toque vaginal unimanual deve preceder o exame bimanual Obs - Toque bimanual a procura de massas pélvicas ou órgãos aumentados de volume Exames complementares Exclusão de um quadro gestacional (pedir beta HCG) Citologia ecto e endocervical Hemograma Urina 1 e cultura Sangue oculto nas fezes US transvaginal RM e TC Laparoscopia diagnóstica (exame padrão ouro para endometriose); Manejo: -O objetivo é manejar a dor mais do que curá-la -O tratamento é direcionado para a causa da DPC, quando conseguimos identificar -Quando não tem causa identificável, fazer um manejo multidisciplinar Tratamento: Objetivo: -Tratar causas identificáveis -Restaurar função normal -Minimizar incapacidade -Prevenir incapacidade Medroxiprogesterona 50 mg/dia e Análogos do GnRH (para endometriose extensa) Dor cíclica: anticoncepcional de baixa dosagem Progestágenos ou análogos do GnRH (é mais comum usar os análogos) Analgésicos orais: Paracetamol, AINES e analgésicos opióides Antidepressivos: tricíclicos (Amitriptilina, Imipramina e Nortriptilina). Associação de Gabapentina com Amitriptilina também tem boa resposta -As medidas terapêuticas devem integrar intervenção médica com identificação e manejo dos problemas socioambientais e psicológicos -As pacientes devem ser atendidas/manejadas em serviços que possam realizar a integração de profissionais para realizar um plano de avaliação e tratamento integrado