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Parto Vaginal Assistido Introdução • Trata-se do parto, por via vaginal, que ne- cessita de uma intervenção médica através de instrumento; • Deve-se ter uma maior assistência que o parto vaginal habitual, devendo ser reali- zado apenas por médicos. → • Existem várias indicações, que são relati- vas ou absolutas; • A maior indicação é em casos de compro- metimento da vitalidade fetal ou doenças maternas, com necessidade de abreviar o tempo de trabalho de parto ou contrações. Indicações relativas: • Período expulsivo prolongado: caso te- nha um período expulsivo prolongado, sem alguma repercussão fetal e materna, não ne- cessariamente terá a realização de parto va- ginal assistido; • Presença de algum tecido que pode inter- ferir na descida do feto (podem ser rompi- dos); • Exaustão materna. Indicação absoluta: • Hemorragia no período expulsivo; • Doença materna (cardíaca ou neurológica); • Comprometimento da vitalidade fetal. → • Doença desmineralizante fetal (osteogê- nese imperfeita): os ossos do feto são muito mais fracos, com maior chance de le- são; • Diátese hemorrágica fatal: uma altera- ção fetal que pode trazer repercussões na parte de sangramento, em que o feto apre- senta hemofilia ou trombocitopenia autoimune, que pode levar a diátese hemor- rágica; • Contraindicação relativa: prematuri- dade. Depende do motivo de indicação do parto vaginal e da prematuridade do feto, avaliando se é uma contraindicação. → • Conhecimento da variedade de posição; • Feto vivo; • Bolsa rota; • Dilatação completa do colo; • Sem desproporção céfalo-pélvica. → • Fórceps: mais utilizado; • Vácuo-extrator; • Ódon. Parto fórceps • O fórceps é um instrumento usado para a extração fetal através da preensão do polo cefálico; • O uso do fórceps, quando de forma correta, apresenta benefícios maiores que malefícios; • Independente do tipo de fórceps, todos apresentam o mesmo formato; - Colher: é a parte superior que fica atre- lado a cabeça do feto; - Ramo: pode ser mais longo ou mais comprido, dependendo do tipo de fórceps; - Cabo: é o local que o médico apoia a mão; Marianne Barone (15A) Obstetrícia – Prof. Ana Elise Vieira Rocha • O fórceps tem 2 curvaturas: - Curvatura cefálica: é a curvatura que fica envolta da cabeça do feto; - Curvatura pélvica: é a curvatura que o fórceps tem em relação a pelve da mãe; • São vários tipos de fórceps, todos com a mesma conformação, diferindo entre si pelo tamanho e curvatura de estruturas: - Simpson-Braun: é o mais utilizado. Apresenta colheres fenestradas, articulação fixa e curvatura pélvica acentuada, reali- zando pequenas rotações e pega direta; - Piper: cabos longos, articulação fixa, concavidade posterior. É mais utilizado em apresentações pélvicas, na cabeça derra- deira; - Kielland: cabos longos, articulação mó- vel e curvatura pélvica pouco evidente. É utilizado nas variedades transversas, com ou sem assinclitismo; • Prova de tração: após a inserção do fór- ceps na cabeça do feto, realizava-se uma força de tração para tentar fazer a descida do feto para a pelve inferior, causando lesão em muitos dos casos em que utilizava-se o fórceps apenas na insinuação fetal; • Atualmente, tem-se a inserção do fórceps apenas após a passagem da cabeça pelas es- pinhas ciáticas, chamado de fórceps baixo, indicando que teve a insinuação na pelve e que o feto e seus diâmetros conseguem atra- vessar os diâmetros pélvico, auxiliando no término da descida e o desprendimento, avaliando pela posição de De Lee se o fór- ceps é aplicável ou não; • Fórceps baixo: é a insinuação do polo ce- fálico para a pelve inferior, apoiado no as- soalho pélvico, podendo ser visualizado es- pontaneamente no introito vaginal durante as contrações, normalmente numa posição +3 do plano de De Lee, apresentando menos risco de lesão materna ou fetal; • Ações do fórceps: - Preensão: prender o fórceps na cabeça do feto; - Rotação do feto; - Tração. → • Dilatação total: caso tenha a inserção do fórceps sem dilatação total aumenta-se o risco de laceração ou amputação do colo uterino; • Bolsa rota: a aplicação do fórceps com bolsa íntegra pode causar alterações no mo- mento de preensão no polo cefálico, por di- ferenças de quantidade de líquido em cada lado, por exemplo, podendo causar uma movimentação inadequada na tração para retirada; • Feto vivo: é realizado em feto vivo, visto que a tensão dos tecidos é diferente em feto vivo e feto morto (maior chance de fratura óssea e consequente lesão materna). Por esse motivo, não é realizado a extração do feto em óbito; • Cabeça insinuada e apresentação baixa; • Determinação variedade de posição: obrigatoriamente é preciso saber variedade de posição, sendo o maior problema em re- lação ao parto vaginal assistido com fórceps sua aplicação sem certeza da posição fetal, podendo causar lesões fetais mais graves; • Ausência de DCP (desproporção cefalo- pélvica). → Pega ideal: • A ponta do fórceps deve estar alocada no mento (próximo do queixo, na região mais inferior), enquanto a porção mais medial está no malar (bochecha), terminando no occipício; • É a região tem estrutura óssea, capaz de suportar uma maior pressão e que permite realizar uma tração mais efetiva; • A pega ideal é occipitomentomaloriana. Condições necessárias para alocação: • Anestesia: a paciente deve sempre estar sob algum tipo de analgesia ou anestesia, ainda que não sejam realizadas grandes ma- nipulações, gera um desconforto materno, devendo ter a aplicação do bloqueio de pu- dendo bilateral (anestesia perineal); • Avisar a paciente: deve-se ter orientação da paciente e ela deve estar consciente de todos os procedimentos que estão sendo re- alizados. Alguns médicos aplicam o fórceps sem consentimento materno e, por exemplo, caso tenha uma contração do membro infe- rior maior que o previsto, o fórceps pode causar uma laceração; • Ajuda: é necessária a presença de equipe auxiliar para inserção do fórceps e para ajuda em caso de complicações possíveis e esperadas; • Obrigatório toque vaginal para avaliação de dilatação total, bolsa rota, variedade de posição; • Bexiga vazia: deve-se realizar a sonda- gem vesical de alívio para evitar lesão vesi- cal em caso de laceração vaginal com reper- cussão (visto que, a bexiga está próxima da vagina anterior), diminuindo o risco de complicação; • Método mneumônico ALSO: - A: ajuda, avisar paciente, avaliar neces- sidade de anestesia; - B: bexiga vazia; - C: colo completamente dilatado; - D: determinar posição e distocia de om- bro; - E: equipamento pronto; - F: fórceps pronto. Aplicação do fórceps: • Realiza-se a colocação do primeiro ramo, seguida pela inserção do segundo ramo. A verificação da prega é feita após a articula- ção dos dois ramos, observando se o fórceps está adequadamente preso na cabeça do feto; • Após verificar se está bem preso, pode re- alizar a rotação, se necessária e, caso não, apenas a tração, que pode precisar de episi- otomia (geralmente não é necessária). De- pois, faz-se o parto; • A inserção de cada um dos ramos depende do tipo de fórceps utilizado, considerando que, cada apresenta o seu tipo de curvatura pélvica; • Fórceps de Kielland: apresenta uma cur- vatura menor, entrando na vagina na posi- ção adequada, na chamada pega direta. Faz a introdução de um lado, depois do outro e pode colocar ao redor do polo cefálico; • Fórceps de Simpson: tem uma curvatura muito maior, e se for inserido o fórceps reto causa lacerações na parede vaginal anterior da paciente (por ter uma grande curvatura pélvica). Visando diminuir a lesão da pelve, deve teruma mudança na posição do cabo, para que a colher esteja sempre na posição que seja mais interessante; • Fórceps de Pipper: tem uma curvatura pélvica um pouco maior, já que precisa que o feto esteja um pouco mais para cima para que o fórceps seja alocado diretamente na cabeça. A colher não tem uma grande cur- vatura, já que o ramo precisa ficar exatamente abaixo do corpo do feto (que vai estar sendo elevado pelo auxiliar no mo- mento da inserção), realizando a pega di- reta, sem necessidade de alguma manobra secundária; • Na primeira colocação do ramo, é interes- sante que a entrada na vagina seja feita com o ramo reto, até que seja realizada a coloca- ção na cabeça do feto (mais lateralmente) e, então, faz-se uma curvatura do cabo em di- reção da coxa da paciente, chamada de ma- nobra de La Chapelle, adentrando sem lesar a vagina (a manobra é realizada na insercão de ambos os ramos); • Depois da colocação dos ramos, faz a arti- culação do fórceps, podendo alguns ter arti- culação fixa e outros móvel: - Simpson: articulação fixa após sua inser- ção; - Pipper: articulação fixa após sua inser- ção; - Kielland: articulação ainda móvel após sua inserção, com o objetivo de correção de assinclitismo (é aquele que tem a passagem de um parietal com maior vantagem em re- lação ao outro, atrapalhando na descida fe- tal), podendo inserir uma colher mais cra- nial e outra mais caudal, com tração da co- lher adequando a posição da cabeça fetal e facilitando a descida; • Deve-se verificar se a forma de inserção na cabeça é a ideal, esta que deve ser occi- pitomentomaloriana, com a sutura sagi- tal exatamente equidistante das duas colhe- res. Além disso, a distância entre as colhe- res deve, também, ser equidistante em rela- ção a sutura lambda; • A distância entre as colheres e o polo ce- fálico deve ser equidistante, sendo avaliada pelo exame de toque e, se a pega está inade- quada, ocorre a entrada de uma colher mais profundamente que a outra; • Apesar de serem fórceps diferentes, a ve- rificação da pega deve ser feita da mesma forma em todos eles: sutura sagital, lamba e posição da colher. • A rotação é realizada pelos fórceps de Ki- elland e Simpson, principalmente no de Ki- elland por ser mais prática. No fórceps de Pipper não realiza a rotação por ter uma mo- bilização do corpo do feto, deixando o dorso anterior, e como o corpo está para fora faz a rotação externa; • O modo de rotação varia entre os tipos de fórceps por suas diferentes curvaturas pél- vicas; • Assim como para inserir os ramos existem modificações a serem feitas para manter a colher na mesma posição, a rotação de- pende de posições específicas para evitar le- sionar a vagina, com uma movimentação mais ampla realizada pelo cabo, mantendo a colher fixa; • Então, ambos os fórceps conseguem rodar, mas deve-se lembrar que no Simpson deve pfazer essa amplitude para diminuir a lesão na vagina. É por esse motivo que o Kielland é mais utilizado para rotação, por não preci- sar dessa modificação de amplitude; • A tração deve ser feita sempre durante a contração, com soma de forças em uma re- sultante única; • O feto deve descer pela parte superior da pelve, entrar na região do cóccix e se elevar, formando um desenho semelhante em J, já que tem a descida e adequação na pelve, se- guida pelo hipomóclio e passagem na pubis e, para tal, a força do fórceps deve ser em J; • Realiza-se três movimentos: para baixo na diagonal, seguida por uma força reta e outra superior; • A força na diagonal é resultante de duas outras forças: uma mão puxa o fórceps para frente e outra puxa ele para baixo. Depois que o RN fizer todo o caminho, traciona reto e depois puxa para cima; • Na grande maioria das vezes não precisa de episiotomia, que pode levar a muitas complicações por ter secção de músculo e mucosa, com formação de fibrose e maior chance de dor, retração e lesão numa mesma região (a laceração tem lesões em regiões mais espalhadas, tendo uma cicatrização melhor que a episiotomia). → Complicações maternas: • Laceração; • Lesão na vagina, vulva, bexiga e outras es- truturas. Complicações fetais: • Bader lock: é uma complicação muito ha- bitual, que apresenta resolução espontânea e não tem repercussão. É uma marca locali- zada na cabeça do feto, geralmente na face do feto, e que tende a desaparecer em até 48h, podendo ter equimose; • Podem acontecer traumas, principalmente quando não tem uma avaliação correta da pega; • Todo parto vaginal assistido tem maior risco de distocia de ombro; • A saída do RN pelo parto vaginal assis- tido, tem-se a tração do pescoço e acaba por abrir os ombros, pois o feto estava todo fle- tido e essa tração estimula a abertura das es- páduas, aumentando a chance de ter distocia por encarceramento da pelve materna. Por isso é obrigatório que em todo parto vaginal assistido (seja por fórceps, vácuo extrator etc), tenha um auxiliar para auxiliar na ma- nobra de hiperflexão das coxas para libera- ção da distocia. Vácuo extrator • Instrumento utilizado para extração fetal através do parto, com tração realizada pelo vácuo exercido pelo equipamento, com ex- tração do polo cefálico; • Existem 3 principais tipos de vácuo: - Malmström; - Campânula de plástico: é de uso único (não pode ser esterilizado); - Campânula rígida; • Constituído por: - Campânula: local para colocar na ca- beça do RN; - Manômetro: avaliação do valor pressó- rico; - Haste; • É feito apenas o vácuo baixo, em que se sabe que o feto está insinuado na pelve in- ferior, apresentando menor risco de lesão; → • Tração; • Rotação: normalmente não faz muita ro- tação com o vácuo, por acabar tendo perda de vácuo no momento da rotação, porém pode ser realizado (não é contraindicado). → • Dilatação total; • Bolsa rota; • Feto vivo; • Apresentação baixa; • Determinação variedade de posição; • Pega ideal: é preciso margear a lambda sobre a sutura sagital, apresentando um apoio bilateral de parte óssea, auxiliando a tração; • Método mneumônico ALSO: - A: ajuda, avisar paciente, avaliar neces- sidade de anestesia; - B: bexiga vazia; - C: colo completamente dilatado; - D: determinar posição e distocia de om- bro; - E: equipamento pronto; - F: fórceps pronto. Aplicação do vácuo extrator: • Primeiramente, caso a cabeça do feto es- teja cheia de sangue ou secreção, deve-se ter a limpeza com a inserção de uma compressa pela vagina, tentando melhorar a adesão da campânula na cabeça; • Então, realiza-se uma dobra da campânula para permitir sua passagem pela vulta, adentrando a vagina e permitindo sua aber- tura já no seu interior, para ela encaixar na posição exatamente na cabeça, passando a mão ao redor para verificar se alguma parte da vagina ficou presa entre a cabeça e o apa- relho; • Depois, pode inflar 10mmHg para acoplar a campânula no polo cefálico e, verificando sua adesão, aumenta a pressão para 40- 60mmHg, fazendo um grande vácuo para permitir a tração realmente dita. Esse valor elevado deve ser mantido apenas durante a contração, que é quando realiza a tração e, se não estiver em contração, desinsufla até 10mmHg e insufla novamente na próxima contração; • A tração é realizada durante a contração em J, em uma diagonal e depois superior para realizar o hipomóclio. → Complicações maternas: • Lacerações (são mais raras por ter um con- tato menor com a vagina, mas sim com a ca- beça do feto). Complicações fetais: • Bossa serossanguínea: é muito frequente de acontecer, ocorre basicamente em todos os partos a vácuo (em aproximadamente 48h volta ao normal), tratando-se do acú- mulo de sangue na cabeça; • Distócia de ombro; • Hemorragia retiniana: pela grandepressão feita na cabeça pode acabar rompendo al- gum vaso do olho; • Traumatismo couro cabeludo; • Na má-aplicabilidade pode ter algumas re- percussões: grandes hematomas ou grandes lesões dependendo da situação e da gravi- dade pode perdurar por toda a vida. Vácuo extrator x fórceps Vácuo extrator Fórceps Mais seguro para a parturiente Mais seguro para o feto Fácil aplicação Não escapa do polo cefálico Menos força na cabeça fetal Pode ser usado em prematuros e para ro- tação Requer menos aneste- sia materna Menor incidência de cefalohematoma e he- morragia retiniana Não afeta diâmetro do polo cefálico Não agrava sangra- mento de punções de scalpo Complicações • Laceração de 1º grau: lesão de mucosa vaginal; • Laceração 2º grau: lesão de mucosa e muscular; • Laceração de 3º grau: lesão de mucosa, muscular e esfíncter anal; • Laceração de 4º grau: lesão de mucosa, muscular esfíncter anal e mucosa retal. Método mnemônico (ALSO) • A: - Ajuda; - Avisar a paciente; - Avaliar necessidade de Anestesia • B: bexiga vazia; • C: colo completamente dilatado; • D: - Determinar variedade de posição; - Pensar na Distocia de ombro • E: equipamento pronto; • F: aplicação do fórceps/vácuo-extrator; - Secagem do polo cefálico; - Aplicação da campânula; - Verificação da pega; - Ausência de partes maternas; • G: gentil tração (durante a contração); em J, dois vetores; • H: hora de parar: entre as contrações; • I: avaliar necessidade de incisão; • J: já está atingível a mandíbula. Parto com odon • É uma tentativa de unir o fórceps + vácuo extrator; • Tem-se o uso do vácuo, sem chance de compressão de um local exclusivo do polo cefálico; • Ocorre a inserção de um “cano” de plás- tico que envolve toda a cabeça do feto, dis- tribuindo vácuo mais igualmente pelo polo cefálico, permitindo uma tração mais única.