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O Princípio Pluralista The Pluralist Principle Resumo O texto apresenta resultados de pesquisa realizada a partir de esforços de avaliação sobre a teologia latino-americana no tocante aos desafios suscitados pelo pluralismo. Trata-se de uma análise crítica de sua metodologia, tendo em vista contribuir com o seu aprimo- ramento e com a indicação de respostas mais adequadas e mais consistentes ao quadro crescente de complexidade da realidade social e de pluralismo, sobretudo religioso. Este cenário é emoldurado pelos fatores econômicos e marcado por uma emergência de subjetividades, além de ser também moldado por um quadro de pluralismo em diferentes aspectos cada vez mais intenso nas sociedades e culturas. Para este esforço crítico foi conceituado o princípio pluralista. Metodologicamente, foram dados os seguintes passos: (i) síntese de perspectivas teológicas no campo da teologia ecumênica das religiões, (ii) análise de fontes que realçam aspectos da complexidade cultural, da sub- jetividade humana, da pluralidade, da alteridade e da ecumenicidade, e (iii) análise da importância pública das religiões e da força dos movimentos contra-hegemônicos, a partir do princípio pluralista. Palavras-Chave: Princípio Pluralista; Pluralismo Religioso; Teologia Latino-americana; Alteridade. Abstract The text presents results of research carried out from evaluation efforts on Latin American theology regarding the challenges posed by pluralism. It is a critical analysis of its methodology, with a view to contributing to its improvement and indicating more adequate and more consistent responses to the growing complexity of social reality and pluralism, especially religious. This scenario is framed by econo- mic factors and marked by an emergence of subjectivities, in addition to being also shaped by a framework of pluralism in different aspects increasingly intense in societies and cultures. For this critical effort, the pluralist principle was conceptualized. Methodologically, the following steps were taken: (i) synthesis of theological perspectives in the field of ecumenical theology of religions; (ii) analysis of sources that highlight aspects of cultural complexity, human subjectivity, plurality, otherness and ecumenicity; (iii) analysis of the public importance of religions and the strength of counter-hegemonic movements, based on the pluralistic principle. Keywords: Pluralistic Principle; Religious Pluralism; Latin American theology; Otherness. 1 O Princípio Pluralista Claudio de Oliveira Ribeiro Universidade Metodista de São Paulo – UMESP Tradução: Ramiro Mincato 2 Cadernos Teologia Pública é uma publicação impressa e digital quinzenal do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, que busca ser uma contribuição para a relevância pública da teologia na universidade e na sociedade. A teologia pública pretende articular a reflexão teológica e a participação ativa nos debates que se desdobram na esfera pública da sociedade nas ciências, culturas e religiões, de modo interdisciplinar e transdisciplinar. Os desafios da vida social, política, econômica e cultural da sociedade, hoje, constituem o horizonte da teologia pública. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino, SJ Vice-reitor: José Ivo Follmann, SJ Instituto Humanitas Unisinos Diretor: Inácio Neutzling, SJ Gerente administrativo: Jacinto Schneider www.ihu.unisinos.br Cadernos Teologia Pública Ano XIV – Vol. 14 – Nº 128 – 2017 ISSN 1807-0590 (impresso) ISSN 2446-7650 (Online) Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling Conselho editorial: MS Ana Maria Casarotti; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; MS Jeferson Ferreira Rodrigues; Profa. Dra. Susana Rocca. Conselho científico: Profa. Dra. Ana Maria Formoso, Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, doutora em Educação; Prof. Dr. Christoph Theobald, Faculdade Jesuíta de Paris- -Centre Sèvres, doutor em Teologia; Prof. Dr. Faustino Teixeira, UFJF-MG, doutor em Teologia; Prof. Dr. Felix Wilfred, Universidade de Madras, Índia, doutor em Teologia; Prof. Dr. Jose Maria Vigil, Associação Ecumênica de Teológos do Terceiro Mundo, Panamá, doutor em Educação; Prof. Dr. José Roque Junges, SJ, Unisinos, doutor em Teologia; Prof. Dr. Luiz Carlos Susin, PU- CRS, doutor em Teologia; Profa. Dra. Maria Inês de Castro Millen, CES/ITASA-MG, doutora em Teologia; Prof. Dr. Peter Phan, Universidade Georgetown, Estados Unidos da América, doutor em Teologia; Prof. Dr. Rudolf Eduard von Sinner, EST-RS, doutor em Teologia. Responsáveis técnicos: Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; MS Jeferson Ferreira Rodrigues. Revisão: Carla Bigliardi Imagem da capa: Patrícia Kunrath Silva Editoração: Gustavo Guedes Weber Impressão: Impressos Portão Cadernos teologia pública / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1 (2004)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2004- . v. Irregular, 2004-2013; Quinzenal (durante o ano letivo), 2014. Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-teologia>. Descrição baseada em: Ano 11, n. 84 (2014); última edição consultada: Ano 11, n. 83 (2014). ISSN 1807-0590 1. Teologia 2. Religião. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos. CDU 2 Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252 _______________________ Solicita-se permuta/Exchange desired. As posições expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores. Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial dos Cadernos Teologia Pública: Programa Publicações, Instituto Humanitas Unisinos – IHU Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos Av. Unisinos, 950, 93022-750, São Leopoldo RS Brasil Tel.: 51.3590 8213 – Fax: 51.3590 8467 Email: humanitas@unisinos.br 3 O Princípio Pluralista Claudio de Oliveira Ribeiro Universidade Metodista de São Paulo – UMESP Choro... o desatino do astrolábio, Choro em saber que o homem sábio pode morrer se não souber nadar. (Música popular brasileira) Feliz aquele que ouve a Palavra de Deus e a pratica. (Mateus 11. 28) Introdução Por mais de dez anos, tenho realizado pesquisas sobre a teologia latino-americana. Trata-se de uma aná- lise crítica de sua metodologia, tendo em vista contribuir com o seu aprimoramento e com a indicação de respos- tas mais adequadas e mais consistentes ao quadro cres- cente de complexidade da realidade social. Este cenário, como sabemos, é emoldurado pelos fatores econômicos e marcado por uma emergência de subjetividades, além de ser também moldado por um quadro de pluralismo cada vez mais intenso nas sociedades e culturas. Para este esforço crítico, tenho procurado seguir o que con- cebi como instrumento de análise, tanto social quanto teológica, e que denominei de princípio pluralista. Como amante da tradição teológica protestante, es- pecialmente a do renomado teólogo Paul Tillich, que cunhou em sua Teologia Sistemática (1984) a noção de ‘princípio 4 protestante’, e como herdeiro da visão teológica latino- -americana da libertação, em especial a ideia do ‘princípio misericórdia’, de Jon Sobrino (1994), intuí que o princípio pluralista, recorrente no pensamento de variados autores e autoras, latino-americanos e de outros continentes, possibili- ta uma contribuição singular e expressiva tanto para as aná- lises teológicas quanto para o campo das ciências da religião. Como se sabe, situar-se diante de realidades plu- rais é algo existencialmente desconcertante! Muito me- lhor seria, diriam alguns, se tivéssemos uma única visão, uma só religião, um só tipo de análise, uma única alter- nativa de viver... Mas a vida não é assim. Cada vez mais no tempo presente a pluralidade se realça entre nós, in- clusive a religiosa, e nos desafia a todos. No caso dos grupos religiosos, por exemplo, mas também em círculos acadêmicos e políticos, há no in- terior deles reações que revelam certo mal-estar como pluralismo, o que gera posturas defensivas, por vezes agressivas e de intolerância. Ao mesmo tempo, há re- ações que mostram abertura e um bem-estar diante do pluralismo, vendo nele um valor, uma graça, um espelho para aprofundamento da fé e dos valores fundamentais da vida. E como a fé cristã vivida no contexto latino- -americano se situa diante dessas perspectivas? No campo teórico, na maioria das vezes articula- do com aspectos práticos das vivências religiosas e polí- ticas, tenho procurado, desde os anos 1980, fazer uma avaliação crítica da teologia latino-americana da liber- tação, referência teológica de sublime importância para mim, pela qual procuro seguir, mesmo com limitações, para pautar minha vida pessoal, minha inserção pastoral e meu trabalho acadêmico. Trata-se de questionamentos feitos “por dentro”, com avaliações efetuadas ad intra e em compromisso com os princípios práticos e teóricos fundamentais desta visão teológica, sobretudo a prefe- rência que o Evangelho nos exige que se dê às pessoas pobres. Mas o pensamento crítico é sempre marcado por interpelações, nem sempre totalmente justas. Re- cordo-me de certa reação em torno de um antigo tex- to onde apresentei inicialmente tais questões, “Novos Desafios para um Novo Milênio: reflexões em torno da teologia e da pastoral latino-americanas” (1995), e de outros que se seguiram, onde invariavelmen- te eu precisava afirmar posteriormente aos leitores que tal compreensão do Evangelho – o amor de Deus revelado preferencialmente aos pobres e como eles se empoderam como anunciadores privilegiados do 5 Reino de Deus – é marca teológica vital para a vi- vência da fé. Ou seja, para um pensamento se tornar robusto e relevante diante dos desafios que perma- nentemente a sociedade nos apresenta ele deve pas- sar pelos processos de críticas internas e externas e, no caso da teologia latino-americana da libertação, criticá-la não é desprezar ou diminuir os seus pontos fundamentais. Ao contrário, a preferência em valori- zar a vida das pessoas pobres nos aspectos pastorais práticos e na reflexão teológica tem sido uma de nos- sas mais sublimes preocupações. Nossas avaliações apontam a densa e a va- riada riqueza do legado teológico latino-americano para as novas gerações. Dele emergem especialmen- te a dimensão comunitária e ecumênica da fé cristã, as bases sociais e políticas do compromisso cristão com a defesa da vida, com a solidariedade humana, com a sustentabilidade do mundo, com as formas de inclusão em seus diferentes níveis, com o aprofunda- mento da democracia e a busca da cidadania, com a valorização do pluralismo, com o exercício dos di- reitos humanos e com a integridade da criação. Este patrimônio histórico-teológico precisar ser recriado permanentemente. O pluralismo religioso em destaque No tocante ao debate sobre o pluralismo religioso, é possível afirmar que as últimas décadas do século XX e as primeiras do corrente desafiaram os/as cientistas da religião e os teólogos e teólogas, em especial pelas mu- danças socioeconômicas e as implicações delas na esfera religiosa. A sedução que as formas de consumo na lógica do capitalismo exercem sobre as pessoas tornou o siste- ma econômico, especialmente pela sua tendência tota- lizante, um substitutivo do religioso. Ao mesmo tempo, o leque de influências filosóficas e teológicas é tamanho que se torna árdua tarefa até mesmo descrever o cotidia- no doutrinário, teológico e prático de uma comunidade religiosa. O fato é que a vivência religiosa no Brasil sofreu, nas últimas décadas, fortes mudanças. Alguns aspec- tos do novo perfil devem-se à multiplicação dos grupos orientais; à afirmação religiosa afro-brasileira; à visibili- dade de grupos islâmicos, budistas e judeus; ao fortale- cimento institucional dos movimentos católicos de reno- vação carismática; às expressões espiritualistas e mágicas que se configuram em torno da chamada Nova Era; e ao crescimento evangélico, em especial, o das igrejas e mo- 6 vimentos pentecostais e de grupos religiosos alternativos aos perfis tradicionais. Todas estas expressões, além de outras, boa parte delas formada por espiritualidades não explicitamente religiosas, formam um quadro complexo e de matizes as mais diferenciadas. Isto tem levado ao fato de os temas relativos ao pluralismo religioso estarem ganhando destaque no de- bate acadêmico atual. Em parte, tal ênfase se dá como resposta à realidade sociocultural na qual encontramos nas últimas décadas maior visibilidade da diferença reli- giosa, no Brasil e no mundo, maior intensidade no deba- te sobre religião e democracia, especialmente os temas ligados à laicidade do Estado, mas também a ambigui- dade de termos, ao mesmo tempo, situações conflitivas e busca de diálogo entre grupos religiosos distintos em diferentes áreas da vida social. Esse quadro realça a constatação de que não so- mente as análises científicas sobre o pluralismo religio- so, mas igualmente a teologia ecumênica das religiões, vêm ganhando destaque no debate atual. As raízes des- sa preocupação teológica ganharam densidade ainda no século XIX quando os esforços missionários do mundo protestante na Ásia, na África e na América Latina, moti- vados pelo liberalismo teológico, descortinaram as ques- tões ecumênicas e, mesmo em meio às propostas verti- calistas de missão, suscitaram oportunidades de diálogo inter-religioso, processos de aprendizagem e a fermen- tação de uma teologia ecumênica. Estas perspectivas, ainda que fragmentariamente, percorreram o século XX e desaguaram em fontes teológicas riquíssimas, como a de Paul Tillich (1886-1965), por exemplo. É dele o céle- bre texto “O significado da história das religiões para um teólogo sistemático”, conferência realizada dias antes de seu falecimento e publicada em The Future of religions (1966). No campo católico-romano, sob os influxos dos ventos renovadores do Concílio Vaticano II (1962-1965), diversas experiências de diálogo inter-religioso e de re- flexão teológica sobre os temas emergentes dessa apro- ximação se fortaleceram. Teólogos como Karl Rahner, Hans Küng, Yves Congar e Edward Schillebeeckx for- jaram novas perspectivas teológicas que, décadas mais tarde, passaram a ser aprofundadas e revisadas. Há, desde os anos 1990, um florescer de novas concepções teológicas oriundas das preocupações com o encontro e o desencontro do Cristianismo com as demais religiões. O século 21, no tocante às questões do pluralismo religioso, começou de forma paradigmática. As repercus- 7 sões dos conflitos políticos e econômicos entre Oriente e Ocidente, simbolizados na destruição das “Torres Gême- as” em 11 de setembro de 2001, fizeram por despertar ainda mais a consciência em relação à importância de uma teologia das religiões ou de reflexões em diferentes áreas sobre o pluralismo religioso. Não se trata, aqui, de supervalorizar o papel e o lugar dos Estados Unidos, pal- co do referido evento, mas, de fato, com o ataque e os desdobramentos dele o tema das religiões ganhou maior evidência. Contraditoriamente, a dimensão ecumênica foi reforçada pelo conflito, uma vez que vários grupos e lideranças islâmicas do mundo inteiro, incluindo o Bra- sil, tiveram, por exemplo, espaços, tanto na mídia como em setores acadêmicos e eclesiais, para partilhar a fé e ressaltar, entre outros aspectos, que o islamismo é uma religião de paz. Tais repercussões deram maior densida- de e visibilidade ao debate teológico e ecumênico. Os desafios não pararam por aí. A perspectiva pluralista das religiões interpela fortemente o contexto teológico latino-americano, especialmente pela sua vo- cação libertadora e pelos desafios que advêm de sua composição cultural fortemente marcada por diferenças religiosas que se interpenetram nas mais diferentes for- mas. A teologia latino-americana da libertação, dentre os seus muitos desafios, tem elaborado uma consistente reflexão sobre os desafios do pluralismoreligioso. O mar- co dessas reflexões foi a publicação da série Pelos muitos caminhos de Deus, sob os auspícios da Associação dos Teólogos e Teólogas do Terceiro Mundo (ASETT), com o trabalho de José Maria Vigil, Marcelo Barros e Luiza Tomi- ta. Trata-se de cinco volumes cujos títulos oferecem uma ideia do processo progressivo que a temática vivenciou: Pelos muitos caminhos de Deus: desafios do pluralismo re- ligioso à Teologia da Libertação (2003), Pluralismo e liber- tação: por uma teologia latino-americana pluralista a partir da fé cristã (2005), Teologia Latino-Americana Pluralista da Libertação (2006), Teologia Pluralista Libertadora Inter- continental (2008), Por Teologia Planetária (2009). Complexidades, subjetividades e pluralidades Diante dos esforços em forjar e garantir o referido legado teológico latino-americano, há desafios enormes que marcam o contexto atual. Não obstante as muitas e diversificadas análises, reconhecemos que não é tare- fa simples indicar tais desafios. Há, no entanto, três as- pectos que têm mobilizado a atenção de teólogos e de 8 teólogas, e que a mim tocam de forma bem intensa. O primeiro deles é a tarefa de alargamento metodológico e de atualização nas formas de compreensão da realidade, pressuposto sempre presente nas teologias de caráter so- cial e político. No caso latino-americano, trata-se de ava- liar o peso dos esquemas reducionistas que utilizaram em demasia a bipolaridade “dominantes x dominados” devido à influência de certas formas de marxismo nas análises sociais, ocultando por vezes a complexidade so- cial. Nesse sentido, seguindo as teorias de complexidade, defendemos uma lógica plural para o conhecimento das situações em que vivemos. Um segundo desafio está em torno das questões relativas à emergência das subjetividades na atualidade. Esta dimensão se conecta com a espiritualidade. Não fo- ram poucas as vezes em que a Teologia da Libertação foi acusada de não ter espiritualidade. É fato que as di- mensões racionais presentes no método teológico latino- -americano, como as mediações socioanalíticas para a compreensão da realidade, o rigor nas exegeses bíblicas e nas avaliações históricas e as formas articuladas de ação eclesial e política marcam uma ambientação de ra- cionalidade que talvez possam inibir formas mais subjeti- vas de espiritualidade. No entanto, a mística evangélica é parte constitutiva da participação cristã nos processos de libertação social. Daí a emergência de grandes desafios teológicos e pastorais, em geral requerendo uma abertu- ra a visões que valorizem a subjetividade e formas mais autênticas de espiritualidade. Um terceiro desafio reside em torno dos encontros e desencontros da teologia com a pluralidade. A teolo- gia latino-americana priorizou o dado político para suas interpretações e nem sempre esteve atenta às diferenças culturais, que, no caso de nosso continente, são forte- mente híbridas e entrelaçadas com a diversidade das ex- pressões religiosas. Também pouco esteve atenta para as demandas da vida que surgem com as dimensões do co- tidiano e com os aspectos fundamentais da vida huma- na como a corporeidade e a sexualidade. Portanto, está diante da teologia latino-americana a tarefa de aprofun- dar os seus esforços, mesmo com as suas limitações e ambiguidades, e, guiada pelo princípio pluralista, refle- tir sobre as demandas que a sociedade apresenta e que recaem sobre o quadro de pluralismo, seja o que está em torno das questões do método teológico, do quadro religioso ou de questões de natureza antropológica. Es- tas últimas podem ser exemplificadas na capacidade de alteridade ecumênica, nas formas autênticas de espiritu- 9 alidades integradoras, inclusivas e ecológicas, e no valor da corporeidade e da sexualidade na reflexão teológica e nas ações concretas de afirmação da vida. As reflexões sobre os três referidos blocos – ou seja, das questões que emergem da complexidade social, das subjetividades humanas e das formas de pluralismo – marcam os conteúdos de nossas pesquisas. Eles têm sido analisados a partir do princípio pluralista. Tais reflexões foram construídas no marco dos cinquenta e cinco anos de vida que ultrapassei recentemente. Contextos assim, em geral, são marcados por um sentimento de revisão de vida, balanços existenciais e memória. De minha parte, cresce uma enorme preocupação com as futuras gerações no tocante à comunicação da riqueza que a ex- periência teológica latino-americana me proporcionou e nos proporciona na vida. A vocação ecumênica da liber- tação me acompanhou desde a adolescência. Aprendi ainda bem jovem que Deus está presente além dos nos- sos muros e fronteiras e que ele “é maior”. Nesse mes- mo mar de descobertas, pude viver comunitariamente diversas aventuras espirituais que fizeram florescer, nos anos de 1980, maior sensibilidade com a realidade da vida, especialmente das pessoas e grupos empobrecidos, e maior abertura ecumênica para responder aos desafios que o Evangelho nos apresentava. Desde então aprendi que a teologia precisa se sen- tir constantemente desafiada pelas novas visões sociais, políticas e científicas e pelas demandas que a sociedade apresenta. Ela não pode se confinar aos dogmatismos eclesiásticos que somente empoeiram nossa visão, e nem às análises que não levam em conta as mudanças cul- turais e científicas na forma de compreender o mundo. Assim, a teologia, embora esteja longe de ser compara- da com “a” Palavra de Deus, é também cortante, como faca de dois gumes, que fala para fora e para dentro, que alumia a alma, que despedaça a existência huma- na, mas que pode cooperar para reconstruí-la em sua integralidade. Uma das motivações de nossas reflexões sobre a teologia latino-americana é oferecer às novas gerações e a grupos que, independentemente do fato geracional, desejam beber de uma fonte teológica de cunho liber- tador uma visão da teologia latino-americana da liber- tação revista e questionada por dentro. Não uma crítica “de fora”, em geral mais cômoda; mas uma análise fei- ta, sobretudo, na difícil arte de revisão. A pressuposição é que, dessa forma, a visão teológica e as análises no 10 campo das ciências da religião terão melhores condições de serem iluminadoras de novas práticas, de novas pers- pectivas conceituais e de novas esperanças. Ainda que modestamente, consideramos que estamos não somente indicando desafios para a reflexão teológica, mas esta- mos construindo uma reflexão em resposta a eles. Pautados nas críticas forjadas ad intra à teologia latino-americana da libertação, e em sintonia com os seus princípios fundantes, buscamos em nossos recentes trabalhos (listados ao final), refletir a partir das contri- buições de autores e autoras que priorizaram a revisão metodológica, sobretudo no tocante a uma ampliação de horizontes para que a teologia não se torne refém de cadeias ideológicas. Isso pode se dar em pelo menos dois aspectos, como já referido: formas redutoras de in- terpretação marxista que não facilitam a compreensão da dimensão subjetiva da realidade e da pluralidade, e os enrijecimentos eclesiásticos que prendem a reflexão teológica às amarras institucionais e formais. Com base nesta crítica, também nos esforçamos em fazer uma in- terpretação do quadro de pluralismo religioso com o apoio de categorias e tipologias teológicas que procuram responder aos desafios das situações de complexidade, em especial a partir de conceitos correlatos como os de alteridade, ecumenicidade e polidoxia. Além de autores latino-americanos, buscamos também dialogar com teó- logos da envergadura de Paul Tillich, Paul Knitter, Roger Haight e acolhemos as significativas contribuições da visão teológica feminista, como as das teólogas latino- -americanas Ivone Gebara, Maria Clara Bingemer e Mar- cella Althaus-Reid e da teóloga oriental Kwok Pui-Lan. Portanto, são muitas as preocupações e as vozes que o debate sobre o pluralismo suscita,especialmente o religioso. Como se sabe, a diversidade religiosa no Brasil gera novos desafios em diferentes campos do conheci- mento, especialmente no das ciências da religião e da teologia. Não obstante o fortalecimento institucional e popular de propostas religiosas com acentos mais verti- calistas, em geral conflitivas, fechadas ao diálogo, marca- das por violência simbólica e de caráter fundamentalista, o campo religioso experimenta também formas ecumê- nicas de diálogo entre grupos religiosos distintos. Diante desse quadro ambíguo, surgem diferentes perguntas: quais são as principais características dessa pluralidade? Como tal realidade, especialmente com as suas contradições, incide no quadro social e político e vice-versa? Como elas interferem no fortalecimento de uma cultura democrática e de práticas afins? Como po- 11 dem conviver no mesmo tempo e espaço social práticas religiosas fechadas ao diálogo e outras que defendem a pluralidade e a aproximação entre grupos religiosos? Quais são as possibilidades para fortalecimento e valori- zação do pluralismo religioso? Essas e outras perguntas similares não encontram respostas razoavelmente se- guras. Há um longo e denso caminho de reflexão em direção ao amadurecimento delas. Os limites de nossa reflexão no momento não possibilitam equacioná-las. Todavia, alguns passos precisam ser dados. No campo prático, entre os elementos facilitadores, está a percepção de que na medida em que as pessoas e os grupos, nas bases, nas atividades práticas, nos espaços de formação religiosa e política e em encontros das mais diversas naturezas contam com a participação de pesso- as e grupos de confissões ou religiões diferentes, elas vão mergulhando cada vez mais no universo plural que a so- ciedade hoje representa. Mais que isso, elas aprendem a fugir das respostas rápidas e unívocas e descobrem a exis- tência de formas diferentes de compreender o mundo, a vida e a missão religiosa – igualmente válidas. Além disso, e em plano semelhante, compreendemos que o diálogo supõe que cada um dos lados seja autenticamente ele mesmo e como tal se manifeste, se revele e seja acolhido, explicitando e questionando os diferenciais de poder que podem em tese perpetuar ou dissimular formas de domi- nação. Ao conhecer melhor o outro, cada um conhece melhor a si. O que poderia parecer um fator que apro- funda as distâncias torna-se caminho privilegiado de uma nova visão espiritual. Estes aspectos marcam a concep- ção de ecumenicidade, cara às análises teológicas, mas igualmente importante para as questões metodológicas no campo das ciências da religião. O princípio pluralista Como linha condutora das reflexões está o prin- cípio pluralista. Ele é um instrumento hermenêutico de mediação teológica e analítica da realidade sociocultural e religiosa que procura dar visibilidade a experiências, grupos e posicionamentos que são gerados nos “entre- -lugares”, bordas e fronteiras das culturas e das esferas de institucionalidades. Ele possibilita divergências e con- vergências novas, outros pontos de vista, perspectivas críticas e autocríticas para diálogo, empoderamento de grupos e de visões subalternas e formas de alteridade e de inclusão, considerados e explicitados os diferenciais 12 de poder presentes na sociedade. São diversos os auto- res e as autoras que contribuem para a formulação deste princípio, e a contribuição deles será detalhada ao longo desta obra. Nossa pressuposição é que o princípio pluralista, formulado a partir de lógicas ecumênicas e de alterida- de, possibilita melhor compreensão da diversidade do quadro religioso e também das ações humanas. Não se trata apenas de uma indicação ética ou “catequética”. Com ele, as análises tornam-se mais consistentes, uma vez que possibilitam melhor identificação do “outro”, es- pecialmente as pessoas e grupos que são invisibilizados dentro da lógica sociológica que Boaventura de Souza Santos (2010b) chamou de “sociologia das ausências”. A sensibilidade com as distintas expressões culturais ou religiosas, majoritárias ou minoritárias, fronteiriças ou não, contribui para uma “sociologia das emergências” de novos rostos, variados perfis religiosos, multiplicidades de olhares, perspectivas e formas de atuação. Seguimos a concepção de entre-lugar, como trabalho fronteiriço da cultura, conforme nos indica Homi Bhabha em sua obra O local da cultura (2001), que requer um encontro com “o novo” que não seja mera reprodução ou continuidade de passado e presente. Para as nossas reflexões, especialmente no que comumente nos referimos à necessidade de alargamento de horizontes metodológicos, consideramos que o “lo- cal da cultura” [para usar o sugestivo título da obra] é fundamental no processo que advogamos de estabelecer mediações socioanalíticas para as interpretações teológi- cas. O conceito entre-lugar está relacionado à visão e ao modo como grupos subalternos se posicionam frente ao poder e como realizam estratégias de empoderamento. Tais posicionamentos geram entre-lugares em que apare- cem com maior nitidez questões de âmbito comunitário, social e político. A posição de fronteira permite maior visibilidade das estruturas de poder e de saber, o que pode ajudar na apreensão das subjetividades de povos subalternos. O princípio pluralista, portanto, arquitetado sob as duas referidas grandezas – alteridade e ecumenici- dade –, pode reforçar as experiências religiosas que se constituem como aprofundamento dos processos de hu- manização, da democracia, da cidadania e da capaci- dade contra-hegemônica na defesa de direitos humanos e da terra. O mesmo é possível afirmar em relação à necessidade de tais experiências serem vistas e analisa- das considerando-se as relações assimétricas de poder 13 presentes na sociedade. Em ambos os casos, alteridade e visão ecumênica são chaves significativas de interpre- tação do quadro de pluralismo religioso. A lógica de um princípio pluralista está presente em diferentes autores e autoras, sendo que boa parte de- les será indicada no decorrer desta obra, mas a expres- são princípio pluralista tem um caráter inédito em nossas pesquisas. É fato que a nomenclatura, especialmente por sua sonoridade e constituição, nos remete à ideia do plu- ralismo de princípio, como nos indicaram Claude Geffré (2004), Jacques Dupuis (1999) e outros autores. Para eles, além do pluralismo religioso de fato, como uma das marcas da realidade social, o pluralismo de princípio se- ria uma plataforma teológica que reconhece e valoriza a realidade do pluralismo religioso como vontade e auto- manifestação de Deus, para que a ultimacidade se revele por meio da diversidade de culturas e religiões. O princípio pluralista, que ora formulamos, con- templa tal perspectiva ecumênica, valorativa do diálogo e das aproximações inter-religiosas, mas é mais amplo, uma vez que também se constitui em instrumento de avaliação da realidade social e cultural, sobretudo para melhor compreensão das diferenças, religiosas ou não, que se forjam nos entre-lugares das culturas. Princípio pluralista e método teológico Nosso objetivo nas obras até aqui publicadas é apli- car o princípio pluralista em variadas direções. No caso das avaliações sobre o método teológico, nossa preocu- pação é fugir das formulações simplificadoras e redutoras. Neste ponto centramos a atenção tanto naquelas visões teológicas forjadas pelas engrenagens eclesiásticas, em ge- ral castradoras do pensamento crítico divergente, quanto as que foram demasiadamente marcadas por perspectivas científicas dogmáticas. Neste segundo caso estão formas de uso do instrumental marxista para análise social, feito sob chave cientificista, dualista e dicotômica, por alguns setores da teologia latino-americana da libertação. Quanto ao primeiro caso – o fator eclesiástico como engessamento e enferrujamento do labor teológi- co –, seguimos as indicações do teólogo protestante Ru- bemAlves cuja compreensão revela que a vida eclesial seguindo o padrão bíblico que realça as críticas proféti- cas provenientes tanto do Antigo Testamento como do Novo está sempre fundamentada em tensões dialéticas que exigem e criam novas realidades. Nesse sentido, es- tão presentes na vida da Igreja [e poderíamos estender às religiões em geral] as tensões entre o eclesial (dimen- 14 sões mais vivas e criativas da vivência comunitária da fé cristã) e o eclesiástico (dimensões formais, jurídicas e institucionais da igreja). Da mesma forma, situam-se as tensões entre movimento & instituição, fé & religião, simbólico (que une/religa) & diabólico (que separa) e outras similares. O autor aponta que historicamente as instituições recorrem aos seus mecanismos para impor a interpretação da realidade e os comportamentos nor- mativos correspondentes. Por outro lado, as pessoas e grupos, com a percepção de um mundo e uma realidade diferentes e vivenciando problemas novos que resistem às programações institucionais, se desviam das institui- ções. Elas, que num momento originário foram criadas como expressão e instrumento de pessoas, passam a ser vividas como obstáculo e repressão (ALVES, 1982, p. 40-1 e 45). Em termos do campo cristão brasileiro, temos elencado uma série de questões que somente poderiam ser melhor equacionadas se as práticas das igrejas fos- sem desenvolvidas mais livremente, sem engessamentos ou amarras institucionais, em formas de redes ecumêni- cas mais amplas, que envolvessem pessoas e grupos no interior das igrejas e de fora delas. O ecumenismo formal das igrejas tradicionais deixa de beber de fontes precio- sas advindas das experiências de uma série de pessoas e grupos que em geral estão fora da institucionalidade eclesiástica ou ecumênica. Com o princípio pluralista procuramos dar visibilidade, por exemplo, ao número significativo de pentecostais e batistas que atuam em áreas periféricas como favelas e ocupações rurais e ur- banas, comunidades evangélicas inclusivas que integram pessoas homoafetivas na dinâmica eclesial, incluindo o ministério pastoral, grupos de juventude ecumênica que transitam por diferentes expressões religiosas cristãs e não cristãs, e que propõem novas pautas políticas e pas- torais, fóruns inter-religiosos em torno de místicas ou de discussão de políticas públicas orientadas pela laicidade do Estado, grupos de mulheres, católicas e evangélicas, que lidam com situações complexas e cotidianas em tor- no da corporeidade, da sexualidade e da liberdade, lide- ranças negras que discutem formas de inculturação da fé, articulação de grupos que debatem situações concre- tas em torno dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCA), círculos e espaços te- ológicos autônomos. Ecumenismo e reforma têm de ser feitos por estes grupos. O papa, os bispos, os fóruns ecle- siásticos, no campo cristão, e as lideranças das religiões em geral, podem ajudar, mas dificilmente compreende- 15 rão ou aceitarão os princípios radicais de uma autêntica reforma religiosa inspirada no princípio pluralista. Se ouvíssemos as vozes dos grupos aos quais nos referimos, muito provavelmente manteríamos no horizonte a perspectiva de libertação sociopolítica, firmada na visão evangélica do valor dos pobres e na lógica de “outro mundo possível” dentro das referências de uma sociedade justa e participativa para além da democracia formal. No entanto, considerando o princípio pluralista, seríamos mobilizados para também dar outros passos. Por diferentes razões, mas todas elas calcadas em certa sensibilidade com os “sinais dos tempos”, como se espera de uma teologia ecumênica plura- lista, alguns aspectos podem ser indicados. Como exemplo, poderíamos lembrar o desafio do cultivo de espiritualidades ecológicas devido à crise de sustentabilidade da vida, o de espiritualidades ecumênicas em função da valorização do pluralismo religioso crescente hoje na sociedade, o de espiri- tualidades inclusivas, em especial movidas pelo lugar e pelo valor da sexualidade humana no processo teológico por ser elemento estrutural da vida e o de espiritualidades comuni- tárias nas quais a vivência em comunidade realce a gratuida- de, a liberdade e autenticidade humana como contraponto às formas de violência, de individualismo, de consumismo, de insensibilidade humana e de segregação. No debate sobre pluralismo religioso e a relação dele com a sociedade, seguimos a compreensão de que toda e qualquer ação ou reflexão sobre democracia e/ou direitos humanos requer análises mais consistentes e po- sicionamentos mais nítidos acerca das questões que lhe são mais diretamente relacionadas. A lista não é peque- na, mas destacamos o combate aos racismos, ao sexismo e ao homofobismo e a crítica ao sistema capitalista como produtor de desigualdades sociais, violência e pobreza. Realçamos que não se trata de questões paralelas, uma ao lado da outra, mas, sim, de um amálgama e entre- laçamento sociocultural que necessita de permanente e profunda crítica ao sistema econômico, com foco na reflexão e ação sobre as causas das divisões que acon- tecem na sociedade. No caso das religiões no Brasil, tanto pelas históricas dificuldades no tratamento de tais questões quanto pela riqueza teológica de vários grupos que reagiram aos processos dominantes e se colocaram francamente a favor do aprofundamento da democracia e dos direitos, esse processo avaliativo, reflexivo e propo- sitivo torna-se cada vez mais imperativo. É fato que um aspecto da prática ecumênica é a fragmentação das experiências. Não há, ainda, elementos de articulação dessas iniciativas, tanto no 16 âmbito intracristão como no inter-religioso. No Brasil, elas são vividas por todos os cantos do País, todavia de forma diversa, modesta, por vezes embrionária, outras vezes com dimensão política mais acentuada, outras vezes, não. Algumas experiências conseguem continuidade, outras se fragilizam com a mudança da liderança religiosa. Umas têm caráter mais eclesial/co- munitário e gratuito, muitas estão em torno de grupos para estudo da Bíblia, no caso cristão, ou de formas mais espontâneas de espiritualidade. Em alguns luga- res, têm-se implementado projetos comuns de forma- ção religiosa e, em outros, projetos sociais e econômi- cos, construindo parcerias com agências ecumênicas, comunidades cristãs e de outras tradições religiosas na busca por uma fé que incida publicamente na socie- dade diante de suas questões, problemas e propostas de transformação. Nessa implementação de projetos apontamos – como “sinal dos tempos” – a irrupção de um ecumenis- mo de face mais livre e popular, marcado pela constru- ção de articulações mais espontâneas, organizadas em redes e fóruns autogestionáveis, com pessoas do campo e da cidade, de distintas origens religiosas e experiências de fé, com diferentes lutas em movimentos sociais, po- pulares e ecumênicos. Como prática, essa mobilização popular, movida pelas diversas espiritualidades, aconte- ce na procura pela incidência pública e transformação das realidades de injustiça e de intolerância. Nesse sentido, caminha-se também em busca da promoção dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCA). Os desafios são os mais diversos. Mesmo em meio às fragilidades, surge a criação de redes, o reflorescimento dos grupos de ju- ventude na trajetória do movimento ecumênico – que é centenário – e dos movimentos sociais em geral, a formação de novas lideranças e a presença cada vez mais diversificada de grupos religiosos distintos. Esta irrupção ecumênica pode e deve estar relacionada com um “ecumenismo confessional”, de tom mais eclesiásti- co, mas, sob a égide do princípio pluralista, permanece além, transpassando estas iniciativas mais doutrinais, construindo-se como outro espaço de variadas expres- sões de espiritualidade e de incidência pública, não tão relacionado às práticas institucionais,mas às ações pes- soais e comunitárias. Com essas considerações, dois aspectos dessa diversidade e fragmentação da vivência ecumênica precisam ser ressaltados. Em primeiro lugar, aqueles 17 que questionam a autenticidade do diálogo ecumêni- co intracristão ou inter-religioso nas bases, por estar, muitas vezes, calcado somente na figura do/a líder ou num pequeno grupo de pessoas, precisam con- siderar que isso pode ser extremamente significativo em virtude do caminhar histórico das igrejas cristãs e das religiões em geral. Em segundo lugar, é preciso olhar de forma especial e atenta para poder visuali- zar as vivências ou potencialidades ecumênicas nos diferentes espaços de atuação, caso tenhamos uma posição interessada motivada pelos processos de de- mocratização e de reforço à pluralidade na sociedade (SANTA ANA, 1987). Para isso se advoga o princípio pluralista. Quanto mais olharmos as vivências religiosas dentro de uma lógica plural que perceba suas cone- xões com as demais experiências humanas – religiosas ou não –, como se inter-relacionam e se interpelam e como podem expressar seus valores fundamentais, mais compreensíveis serão as linguagens da religião. Para isso, a teologia e as ciências da religião, sobre- tudo suas áreas de caráter mais hermenêutico que intentam analisar as linguagens da religião, precisam estar atentas. Princípio pluralista e pluralismo religioso No caso da aplicação do princípio pluralista ao quadro religioso em geral e nas possibilidades de apro- ximações inter-religiosas, levamos em conta que a visão pluralista nem anula as identidades religiosas, por um lado, nem as absolutiza, por outro. A perspectiva plura- lista olha as religiões em plano dialógico, considerando cada contexto, especialmente os diferenciais de poder que neles estão presentes. Não se trata de igualdade de religiões, mas de relações justas, dialógicas e propositivas entre elas. O princípio pluralista contribui para a visibilidade da importância pública das religiões nos processos de promoção da paz, da justiça e da integridade da cria- ção. Para isso, devemos pressupor a conhecida tríplice dimensão do ecumenismo: a unidade cristã, a partir do reconhecimento do escândalo histórico das divisões e de uma preocupação em construir perspectivas missionárias ecumênicas; a promoção da vida, firmada nos ideais utó- picos de uma sociedade justa e solidária e na compreen- são que eles podem reger a organização da sociedade integrando todos os de ‘boa vontade’; e o diálogo inter- -religioso, na busca incessante da superação dos confli- 18 tos, da paz e da comunhão justa dos povos. Portanto, o diálogo inter-religioso não é “uma” expressão ao lado do ecumenismo, mas o constitui em essência e proposta. Da mesma forma ocorre o interesse pelo aprofundamen- to da democracia e a defesa dos direitos humanos e da terra. Eles não são – ou não deveriam ser – uma opção dos movimentos inter-religiosos, mas constituem a sua base de ação. O princípio pluralista nos leva a defender a visão de que cada expressão religiosa tem sua proposta salví- fica e de fé, que devem ser aceitas, respeitadas, valori- zadas e aprimoradas a partir de um diálogo e de aproxi- mação mútuas. Tal perspectiva não anula nem diminui o valor das identidades religiosas – no caso da fé cristã, a importância de Cristo –, mas as leva a um aprofunda- mento e amadurecimento, movidos pelo diálogo e pela confrontação justa, amável e corresponsável. Assim, a fé cristã, por exemplo, seria reinterpretada a partir do con- fronto dialógico e criativo com as demais fés. O mesmo deve acontecer com toda e qualquer tradição religiosa. Consideramos que a visão pluralista supera outros modelos da teologia ecumênica cristã como aquele que considera Jesus Cristo e a Igreja como caminho exclusivo de salvação; o que considera Jesus Cristo como caminho de salvação para as pessoas, ainda que implicitamente, o que se denominou inclusivismo; e a perspectiva relativis- ta na qual Jesus é o caminho para os cristãos, enquanto para os outros o caminho é a sua própria tradição, sem maiores esforços de autocríticas, revisões e mútua inter- pelação. Para a teologia cristã – e as demais perspecti- vas religiosas estariam de forma similar implicadas –, a concepção pluralista forjaria pelo menos duas questões fundamentais. A primeira seria em torno do sentido/sig- nificado das questões relativas à fé cristã (como Cristo, a Igreja, o Reino de Deus, a salvação, o Espírito Santo, a criação etc.) ao pensarmos em “um novo modo de fazer teologia” num contexto de pluralismo religioso. A segun- da são as perguntas como o diálogo e a aproximação concreta entre as religiões contribuem para uma melhor compreensão da fé cristã (e das outras tradições) e suas consequentes implicações éticas no mundo. Além das noções de alteridade e ecumenicidade, o princípio pluralista está em conexão com outra noção igualmente destacada, que é a de polidoxia (PUI-LAN, 2015). Ela possui importância na medida em que ini- be interpretações e ações bipolares (do tipo ortodoxia versus heterodoxia, ou mesmo verdade versus heresia). Ela, constituída por intermédio da crítica e do desmas- 19 caramento do pensamento único, é compreendida no contexto de multiplicidade, irrestringibilidade e relacio- nalidade das concepções religiosas. Dentro dessa lógica, o princípio pluralista realça elementos-chave da vivência religiosa e humana como a alteridade, o respeito à diferença e o diálogo e coo- peração prática e ética em torno da busca da justiça em relação a grupos empobrecidos e subjugados pelas mais diferentes formas de dominação e pela busca do bem comum. A aproximação e o diálogo entre grupos de dis- tintas expressões religiosas cooperam para que elas pos- sam construir ou reconstruir suas identidades e princípios fundantes. Daí nossa ênfase no diálogo justo como con- dição imprescindível para se construir uma identidade autêntica, levando em conta os diferenciais de poder entre cada expressão religiosa. As diferentes perspecti- vas e expressões religiosas poderiam, a partir do diálogo, reconstruir permanentemente suas contribuições para o mundo, dentro dos critérios da justiça, da paz e da inte- gridade da criação. O princípio pluralista, em função de seu caráter relati- vizador, contribui para os processos de recuperação do senti- do da gratuidade e nos leva à indicação da presença – e, ao mesmo tempo, a necessidade – de uma espiritualidade que possa corresponder aos processos sociopolíticos de aprofun- damento democrático, de consolidação de direitos, de crítica às mais variadas formas de dominação, e à busca de alterna- tivas à lógica imperial econômica. Tais visões de espirituali- dade se expressam em aspectos práticos e concretos da vida social e política, como os processos de defesa da justiça social e econômica, dos direitos humanos e da terra, da cidadania e da dignidade dos pobres. Elas reforçam, não obstante suas limitações e ambiguidades, espaços de consciência social, alteridade, coexistencialidade, cordialidade, humanização e integração cósmica (BOFF & HATHAWAY, 2012). Princípio pluralista e pluralismo antropológico No caso da aplicação do princípio pluralista para a análise teológica de questões de fundo antropológico, reconhecemos que temos no presente momento apenas uma limitada contribuição no campo da pesquisa. Esta reflexão transparecerá bem essa limitação. Nosso dese- jo seria pensar teologicamente aspectos cruciais da vida humana e do cosmo, em uma linguagem nova, criativa, que pudesse fazer jus aos anseios e sonhos que alimen- tam milhares de pessoas no cotidiano. Reconhecemos 20 que estamos distantes desta realização. Outras pessoas e grupos oferecem contribuições relevantes nestes aspec- tos e não temos dado conta de segui-los. De nossa parte, enfatizamos que o princípio pluralista possui uma antropologia aberta, marcada por identidades em construção. Tal perspectiva real-ça a vivência comunitária e está associada a um dos importantes postulados da teologia protestante que é o sentimento de pertença gerado pela livre ade- são à fé. A ela estão integradas diferentes dimensões. Uma delas é a da comunhão, base da fé e alternativa social tendo em vista as lógicas individualistas, con- sumistas e de insensibilidade que marcam a cultura capitalista nos dias de hoje. Também a dimensão da gratuidade, fonte igualmente transparente dos prin- cípios teológicos protestantes, e que relativiza os es- forços humanos e os mecanismos de autossalvação. Com o princípio protestante advogamos a recriação e o fortalecimento de vida comunitária devido ao seu potencial utópico. Com isso, atenuam-se as formas de imediatismos e de absolutismos e se criam con- dições para expressões criativas de participação, de representação lúdica e de manifestação da graça. In- tegra também esse enorme desafio a dimensão da diaconia, que revela a expressão livre e gratuita do serviço ao outro e de empoderamento dos grupos empobrecidos, discriminados e subalternos. Ela está associada à graça e não a formas veladas de ‘salva- ção pelas obras’. Na dimensão antropológica, deveríamos elen- car a necessidade de uma nova linguagem teológica, forjada nas expressões da corporeidade, da sexualida- de e dos desejos humanos, associadas às dimensões místicas de formas de vida marcadas pela alteridade, pela afirmação da diferença, pela poesia e pelo empo- deramento de grupos subalternizados, como os de ho- mossexuais, indígenas, trabalhadores e trabalhadores rurais, grupos de base, especialmente de mulheres, de negros e de jovens. Tal visão gera formas de espiritualidades centra- das na realidade corporificada no cotidiano, tanto nas dimensões de prazer como nas de dor, incluindo as mu- danças e os processos do corpo, da vida pessoal, da autoafirmação e, ao mesmo tempo, conectada ao com- promisso social e atividade política. Dessa espirituali- dade surgem as possibilidades de afirmação do corpo, tanto em seu poder erótico como em seu poder criativo de dar a vida e de ser fonte de cura. 21 O esforço teológico em buscar novas imagens de Deus está centrado na expressão da fé que esteja preocupada com as situações de opressão e violên- cia que marcam a vida de parcelas consideráveis da população, especialmente mulheres. Tal expressão do sagrado, despida de androcentrismos e as consequen- tes formas de patriarcalismos e sexismos, promove a cura, valoriza o corpo, a sexualidade, o cuidado e a proteção da natureza com uma consequente respon- sabilidade ética pela criação. Aliás, tal perspectiva es- tabeleceria saudáveis conexões com as religiões indí- genas e africanas, uma vez que elas possuem imagens divinas menos autoritárias, mas que habitam ou se revelam no meio da comunidade, baseiam-se em uma inter-relacionalidade, solidariedade e maior respeito às pessoas e à natureza. Há iniciativas significativas nesta direção rea- lizadas por setores das teologias poéticas, feministas e queer, como as produções e iniciativas no campo latino- -americano de Ivone Gebara, Elza Tamez, Rubem Alves, Marcella Althaus-Reid, James Alison, Andre Musskopf e outros. Temos procurado, ainda que com limitações, seguir em outros trabalhos as trilhas deixadas por esses autores e autoras. A importância pública das religiões e os movi- mentos contra-hegemônicos Embora os aspectos de pluralismo metodológico e de pluralismo antropológico no campo das interpretações teológicas sejam igualmente importantes, o debate sobre o pluralismo religioso tem ocupado certo lugar de desta- que em nossas reflexões. Por isso, a necessidade de retor- narmos a ele. Nossas pesquisas são desenvolvidas com a consciência de que há limites nos discursos relativos ao pluralismo religioso, incluindo aqueles construídos nas práticas de defesa dos direitos humanos e na valorização dos processos de humanização e cidadania. Muitas vezes tais discursos são cooptados pela força imperial do siste- ma capitalista e podem conviver com ela em certa har- monia e assimilação mútua. Há, por vezes, uma ausência de crítica à força do sistema econômico, responsável pe- las violações fundamentais dos direitos, causando assim formas de cooptação, assimilação e harmonização com visões oriundas da democracia liberal formal. Por isso, assumimos a perspectiva de alguns au- tores, como Boaventura de Sousa Santos, por exemplo, especialmente em Se Deus fosse um ativista dos direi- tos humanos (2013), que defendem a necessidade de 22 se estabelecer uma visão contra-hegemônica dos direitos humanos. Consideramos que para atender tal conceito, os diálogos e experiências inter-religiosas devem reunir tanto formas de serviço e de compaixão com o sofrimen- to humano quanto ações e manifestações públicas de protesto e contestação da injustiça social, em suas varia- das matizes. As lutas contra-hegemônicas pelos direitos humanos têm em perspectiva a mudança das estruturas sociais e econômicas responsáveis pelas formas de sofri- mento injusto, segregações sociais e destruição da vida humana e da natureza. São lutas materiais relacionadas à economia política que está subjacente à produção e à reprodução de relações sociais desiguais. Além de obras e de autores já citados que têm me acompanhado nos últimos anos e têm marcado minhas reflexões, foram de grande importância na pesquisa as leituras das obras: Império (2001), de Antônio Ne- gri e Michael Hardt, Para além do espírito do Império (2012), de Joerg Rieger, Nestor Miguez e Jung Mo Sung, e Formations of Modernity [Formações da Modernidade] (1992), de Stuart Hall. Um dos elementos que tem estado presente em nossas análises está ligado ao quadro de debates no campo dos estudos das religiões sobre o papel delas na atual sociedade e como se defrontam com as forças econômicas sistêmicas. Consideramos que tal avaliação contribui para uma compreensão mais adequada dos níveis de relevância das experiências inter-religiosas na defesa dos direitos humanos e no reforço de uma cultura democrática, seguindo o princípio pluralista. Há diversas análises que revelam a atenuação da força das expres- sões religiosas como tais como o fator que, em última instância, determina a organização e a reorganização da vida social. No lugar delas, para muitos autores, como Walter Benjamin (2013) e Paul Tillich (1956), por exem- plo, conforme assinalamos em nossas reflexões, situaria o sistema econômico. Mais precisamente é possível afir- mar que para eles o capitalismo se tornou uma religião; ou seja, o capitalismo como religião torna-se a força mo- bilizadora da vida social. Um de nossos objetivos nes- sas reflexões foi avaliar tal fronteira e entendê-la como um elemento que não anula a importância das religiões como tais nos processos que interferem no aprofunda- mento da democracia e na defesa e ampliação de direi- tos, assim como em outros aspectos básicos da vida. As religiões, pela força histórica que possuem e pelo entre- laçamento com a cultura em diferentes níveis, têm sido 23 molas propulsoras ou legitimadoras de processos sociais os mais diversos. Não obstante a influência do sistema econômico nas formas e expressões religiosas e o vigor do capita- lismo como religião no mundo atual, as religiões vivem e assentam suas práticas e perspectivas teológicas nas fronteiras do turbilhão conflitivo das forças hegemônicas imperiais na sociedade em tensão permanente com os processos contra-hegemônicos que visam ao aprofunda- mento da democracia para além dos aspectos formais e à defesa radical dos direitos humanos. É no cruzamen- to da importância pública das religiões com a força dos movimentos contra-hegemônicos na sociedade, em boa parte associados direta ou indiretamente a movimentos religiosos, que se reforça o interesse pelo pluralismo reli- gioso entendido como valor e pelos esforços de diálogos inter-religiosos em seus diferentes níveis. Como sabemos,os processos contra-hegemôni- cos são variados e de diversas procedências e colorações ideológicas, sem uma estrutura centralizada de articula- ção, o que dificulta uma descrição precisa. No entanto, é possível afirmar que a complexidade deles pode ser equacionada naquilo que, no campo político, foi deno- minado “espírito dos Fóruns Sociais Mundiais”. Os mo- vimentos em torno do Fórum Social Mundial, mesmo com suas contradições em função da natureza política ampla, variada e participativa, articulam a crítica ao sis- tema econômico com lutas antissistêmicas, incluindo as de naturezas étnicas, raciais, sexuais e as de grupos mi- noritários. Há uma série substancial de grupos religiosos que estão direta ou indiretamente ligados ao Fórum. Boa parte deles protagonizam experiências inter-religiosas de certa repercussão social e densidade no campo das espi- ritualidades. Todos se colocam com força anti-imperial. Eles retomam, assim, a produção teológica latino-ameri- cana que relaciona religião e dominação, especialmente aqueles estudos que destacam os aspectos de absolutiza- ção do poder econômico e político e como tais aspectos incidem negativamente nos processos sociais a ponto de inviabilizarem os processos democráticos e de garantia dos direitos humanos e da terra. Compreendemos a concepção atual de Império como algo que se funda pela identificação de um con- glomerado de forças econômicas, políticas e simbólico- -culturais provenientes do funcionamento do capitalismo financeiro tardio, que convergem, sem a consideração de fronteiras ou de limites, para um domínio total na so- 24 ciedade exercido globalmente por elites de intenso poder econômico e militar. Os movimentos inter-religiosos que acompanha- mos e analisamos (RIBEIRO, 2016), com base em suas ações práticas e processos de formação e de mobiliza- ção, especialmente com seus canais de interação com a sociedade civil e com o espaço público, expressam, considerados os seus limites e ambiguidades, uma vi- são crítica à lógica do Império. Eles, pelo menos em sua maioria, e não obstante suas contradições e limites, ao valorizarem a vida humana e a natureza acima dos in- teresses econômicos e ao darem visibilidade às pessoas pobres e aos grupos subalternos de diferentes naturezas, colocam em questão e evidência o espírito do Império e revelam, assim, uma reserva de sentido contra-hege- mônico. Os referidos movimentos destacam-se por se- rem fontes significativas de recriação simbólica a partir de práticas de contestação ao sistema econômico e de ações de superação da destruição causada por ele à su- pressão de direitos, tanto relativos à vida humana como à natureza. As experiências revelam que isso acontece (ou pelo menos deve acontecer) não somente nas ar- ticulações políticas mais consistentes que se constituem como contra-hegemônicas na sociedade, mas também na valorização e na educação para os direitos humanos nas dimensões cotidianas e ordinárias. Outro destaque em nossas reflexões diz respeito à missão religiosa. A dimensão ecumênica inter-religiosa, proveniente da fronteira entre o respeito à pluralidade religiosa e a crítica ao poder imperial e realçada pelo princípio pluralista, revela que os processos missionários devem ocorrer não mais pela força imperial e pela su- premacia de uma religião sobre outras, mas sim por pro- cessos dialógicos e de cooperação ecumênica. Tal pers- pectiva gera um processo de retroalimentação teológica e prática, pois, à medida que se estabelece a crítica às formas imperiais, surgem para os diferentes grupos re- ligiosos envolvidos possibilidades de revisão das formas de exclusivismo. Vale ressaltar que tratamos das experiências inter- -religiosas no contexto de emancipação humana, não mais visto sob o ângulo do individualismo moderno, mas no âmbito das forças contra-hegemônicas na sociedade. Tal visão recupera o sentido da gratuidade e nos leva à indicação da presença – e, ao mesmo tempo, a necessi- dade – de uma espiritualidade que possa corresponder aos processos sociopolíticos de aprofundamento demo- crático, de consolidação de direitos, de crítica às mais va- 25 riadas formas de dominação, e à busca de alternativas à lógica imperial econômica. Tais visões de espiritualidade se expressam em aspectos práticos e concretos da vida social e política, como os processos de defesa da justiça social e econômica, dos direitos humanos e da terra, da cidadania e da dignidade dos pobres. Desejamos também explicitar uma pressuposi- ção presente em nossas reflexões que é uma distin- ção, ainda que sutil, entre pluralismo, pluralidade e diferença (religiosa ou cultural). No contexto latino- -americano em especial, a cultura e a religião formam um amálgama, a ponto de termos muita dificuldade em estudar uma cultura, mesmo com fortes traços de secularidade, sem considerar a religião. Da mesma forma, não conseguimos analisar a religião sem le- varmos em conta os aspectos culturais. Diante disso, o termo pluralismo possui enfoque mais acentuada- mente descritivo. Assim como analisamos a varieda- de de sistemas econômicos ou políticos, estudamos também o pluralismo religioso, o qual está relacio- nado aos sistemas religiosos existentes no mundo ou em determinado contexto. No entanto, a palavra pluralismo nos parece indicar que estamos apenas olhando para um “blo- co” único de pluralidade. Pluralidade teria um cará- ter mais valorativo. Trata-se do quanto os sistemas religiosos existentes no mundo ou os de uma região específica são, de fato, distintos. Por sua vez, o vocá- bulo diferença seria o resultado da análise do plura- lismo, pois na pluralidade detectada em cada ramo do sistema religioso comparam-se e analisam-se as diferenças e semelhanças, sempre valorizando cada uma delas, sem englobar a todas em uma única no- menclatura ou conceituação. Dessa forma, obtém-se o valor de cada aspecto, forma ou experiência, dentro de cada sistema religioso. Ao discutirmos a diferença dentro de cada sistema, estamos um passo além da diversidade religiosa, fornecendo maior autonomia a cada uma das partes, pois o que analisa também se inclui como um portador de diferença religiosa ou cultural. A visão de diferença valoriza ainda mais a autonomia das partes, dos sujeitos e das perspectivas em jogo. É fato que a palavra recorrente tem sido pluralismo. Isso se dará em parte por razões didáti- cas, uma vez que o uso do termo está bem assimilado por públicos mais amplos. 26 Fé, ação e reflexão Os conteúdos desta reflexão possuem conexão com uma dimensão pessoal cuja origem está nas primei- ras aproximações ecumênicas ainda no meu tempo de adolescente, que naquela época eram circunscritas ao encontro entre evangélicos e católicos. Esse fato repre- sentava na época um grande avanço, especialmente se considerarmos as históricas barreiras confessionais, tan- to no protestantismo, meu berço religioso, quanto no ca- tolicismo. A trajetória ecumênica marcou decisivamente o meu pensamento e as minhas práticas e passou por um significativo processo de evolução que nos motiva para que possamos hoje ir além das fronteiras da fé cristã e a partir de aproximações inter-religiosas pensar em uma teologia ecumênica das religiões. Da mesma forma, tal processo também nos oferece condições e motivações de refletir teologicamente dentro de uma lógica plural. O que desejamos destacar é que, além de con- tar com um marco teórico bem definido e reconhecido por diferentes setores acadêmicos, nossas reflexões estão também mergulhadas em um contexto de experiências pessoais. Tal perspectiva se dá tanto em termos da valo- rização da dimensão ecumênica quanto da preocupação prática com a defesa dos direitos humanos, da demo- cracia e dos processos de humanização, de busca pela paz com justiça. Como referido, a vocação ecumênica me acompanha desde a adolescência; ela me alcançou na trajetória eclesial nos anos 1980, que me estimulou à maior sensibilidadecom o sofrimento humano, com a defesa de pessoas e grupos que vivem na pele os efeitos dos processos sociais opressivos e com relação à realida- de da vida de um modo geral. Também fui desafiado à maior abertura ecumênica para responder concreta e te- oricamente aos desafios que a fé cristã nos apresentava. Daí vieram os esforços de formação dentro da visão teológica latino-americana, as iniciativas de uma pastoral sensível aos “sinais dos tempos”, marcada pelo apelo à soli- dariedade com os que sofrem, pela prática da justiça, pelas lutas contra as formas de discriminação e pela promoção dos direitos humanos, e da sustentabilidade da terra e da vida como um todo. Foram inúmeras as experiências ao longo dos anos: inserção em projetos de pastoral popular no contexto das igrejas metodistas da Baixada Fluminen- se, RJ; participação e acompanhamento de atividades de diferentes grupos e organizações ecumênicas como o Cen- tro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) – posteriormente Koinonia Presença Ecumênica e Serviço –, 27 o Centro Ecumênico de Serviço à Educação Popular e à Evangelização (CESEEP), o Instituto de Estudos da Reli- gião (ISER), a Pastoral Universitária do Instituto Metodista Bennett, programas Parceiros na Missão (Inglaterra) e Face to Face (Canadá), articulação nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que possui forte teor ecumêni- co, tanto no nível intracristão quanto no inter-religioso, e, mais recentemente, o Programa de Cooperação e Diálogo Inter-Religioso do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e a participação no Fórum Inter-religioso de Santo André, SP. Somam-se a isso as tarefas docentes e de assessoria a gru- pos populares e a outros interessados em “outro mundo possível”, como nos indicam os fóruns sociais mundiais. Tais experiências associadas ao debate teórico em torno da pluralidade me levaram a pesquisar e a refletir sobre dife- rentes aspectos da realidade da vida, tendo em vista uma hermenêutica teológica do pluralismo religioso. Nossa expectativa é que os resultados destas pes- quisas, sobretudo a formulação do princípio pluralista, proporcionem referenciais teóricos mais precisos para as análises sociais, no tocante aos papéis da religião e do pluralismo, especialmente tendo em vista o aprimora- mento de práticas sociais que visem ao fortalecimento democrático, à cidadania e à consolidação de direitos. Esperamos também que tais resultados apresen- tem respostas às necessidades advindas da prática de setores que trabalham em variadas frentes, como a edu- cação religiosa nas esferas públicas e privadas, confes- sionais ou não, os setores da imprensa e da mídia em geral nas abordagens do quadro religioso, e mesmo seto- res governamentais e não governamentais em torno da formulação de políticas públicas que devam considerar o pluralismo. Nossa expectativa é semelhante com relação às demandas que surgem para grupos que atuam na pres- tação de serviços, de assessorias, de consultorias, do- cência e de avaliações do quadro religioso e do lugar das religiões nas questões sociais e políticas. A presença pública inter-religiosa no Brasil e o anseio por formula- ções plurais para a vida parecem ter fincado bases na sociedade para se fortalecerem e ganharem visibilidade e influência de forma crescente. Os aspectos das reflexões aqui apresentadas estão sendo aprofundados em outras obras. Desejamos que elas estimulem novas ideias, práticas e caminhos para uma compreensão mais adequada do pluralismo reli- gioso e possam gerar novos debates, posicionamentos e horizontes plurais. 28 Referências ALVES, Rubem. Dogmatismo e tolerância. São Paulo: Paulinas, 1982. ASETT (org). Pelos Muitos Caminhos de Deus: desafios do pluralismo religioso à Teologia da Libertação. Goiás: Rede, 2003. ____ . Pluralismo e Libertação: por uma Teologia Latino-Americana Pluralista a partir da Fé Cristã. São Paulo: Loyola, 2005. ____ . Teologia Latino-Americana Pluralista da Libertação. São Paulo: Paulinas, 2006. ____ . Teologia Pluralista Libertadora Intercontinental. São Paulo: Pau- linas, 2008. ____ . Por uma Teologia Planetária. São Paulo: Paulinas, 2011. BENJAMIN, Walter. O capitalismo como religião. São Paulo: Boitempo, 2013. BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. BOFF, Leonardo & HATHAWAY, Marc. O Tao da Libertação: exploran- do a ecologia da transformação. Petrópolis: Vozes, 2012. DUPUIS, Jacques. Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999. GEFFRÉ, Claude. Crer e interpretar: a virada hermenêutica da teolo- gia. São Paulo: Vozes, 2004. HALL, Stuart. Formations of Modernity. Oxford, UK, Blackwell Publi- shers Ltd., 1992. HARDT, Michael; NEGRI, Antônio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001. MIGUEZ, Nestor; RIEGER, Joerg; MO SUNG, Jung. Para além do es- pírito do Império: novas perspectivas em política e religião. São Paulo: Paulinas, 2012. PUI-LAN, Kwok. Globalização, gênero e construção da paz: o futuro do diálogo interfé. São Paulo: Paulus, 2015. RIBEIRO, Claudio de Oliveira. Religião, democracia e direitos hu- manos: presença pública inter-religiosa no fortalecimento da de- mocracia e na defesa dos direitos humanos no Brasil. São Paulo: Reflexão, 2016. ____ . “Novos Desafios para um Novo Milênio: reflexões em torno da teologia e da pastoral latino-americanas”. 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Uma leitura Teológico-Espiritual a par- tir da Realidade do Movimento Ecológico e Feminista – Maria Clara Bingemer N. 3 A Teologia e a Origem da Universidade – Martin N. Dreher N. 4 No Quarentenário da Lumen Gentium – Frei Boaventura Kloppenburg, OFM N. 5 Conceito e Missão da Teologia em Karl Rahner – Érico João Hammes N. 6 Teologia e Diálogo Inter-Religioso – Cleusa Maria Andreatta N. 7 Transformações recentes e prospectivas de futuro para a ética teoló- gica – José Roque Junges, SJ N. 8 Teologia e literatura: profetismo secular em “Vidas Secas”, de Graci- liano Ramos – Carlos Ribeiro Caldas Filho N. 9 Diálogo inter-religioso: Dos “cristãos anônimos” às teologias das re- ligiões – Rudolf Eduard von Sinner N. 10 O Deus de todos os nomes e o diálogo inter-religioso – Michael Ama- ladoss, SJ N. 11 A teologia em situação de pós-modernidade – Geraldo Luiz De Mori, SJ N. 12 Teologia e Comunicação: reflexões sobre o tema – Pedro Gilberto Gomes, SJ N. 13 Teologia e Ciências Sociais – Orivaldo Pimentel Lopes Júnior N. 14 Teologia e Bioética – Santiago Roldán García N. 15 Fundamentação Teológica dos Direitos Humanos – David Eduardo Lara Corredor N. 16 Contextualização do Concílio Vaticano II e seu desenvolvimento – João Batista Libânio, SJ N. 17 Por uma Nova Razão Teológica. A Teologia na Pós-Modernidade – Paulo Sérgio Lopes Gonçalves N. 18 Do ter missões ao ser missionário – Contexto e texto do Decreto Ad Gentes revisitado 40 anos depois do Vaticano II – Paulo Suess N. 19 A teologia na universidade do século XXI segundo Wolfhart Pannen- berg – 1ª parte – Manfred Zeuch N. 20 A teologia na universidade do século XXI segundo Wolfhart Pannen- berg – 2ª parte – Manfred ZeuchN. 21 Bento XVI e Hans Küng. Contexto e perspectivas do encontro em Cas- tel Gandolfo – Karl-Josef Kuschel N. 22 Terra habitável: um desafio para a teologia e a espiritualidade cris- tãs – Jacques Arnould N. 23 Da possibilidade de morte da Terra à afirmação da vida. A teologia ecológica de Jürgen Moltmann – Paulo Sérgio Lopes Gonçalves N. 24 O estudo teológico da religião: Uma aproximação hermenêutica – Walter Ferreira Salles N. 25 A historicidade da revelação e a sacramentalidade do mundo – o legado do Vaticano II – Frei Sinivaldo S. Tavares, OFM N. 26 Um olhar Teopoético: Teologia e cinema em O Sacrifício, de Andrei Tarkovski – Joe Marçal Gonçalves dos Santos N. 27 Música e Teologia em Johann Sebastian Bach – Christoph Theobald N. 28 Fundamentação atual dos direitos humanos entre judeus, cristãos e muçulmanos: análises comparativas entre as religiões e problemas – Karl-Josef Kuschel N. 29 Na fragilidade de Deus a esperança das vítimas. Um estudo da cris- tologia de Jon Sobrino – Ana María Formoso N. 30 Espiritualidade e respeito à diversidade – Juan José Tamayo-Acosta N. 31 A moral após o individualismo: a anarquia dos valores – Paul Valadier N. 32 Ética, alteridade e transcendência – Nilo Ribeiro Junior N. 33 Religiões mundiais e Ethos Mundial – Hans Küng N. 34 O Deus vivo nas vozes das mulheres – Elisabeth A. Johnson N. 35 Posição pós-metafísica & inteligência da fé: apontamentos para uma outra estética teológica – Vitor Hugo Mendes N. 36 Conferência Episcopal de Medellín: 40 anos depois – Joseph Comblin N. 37 Nas pegadas de Medellín: as opções de Puebla – João Batista Libânio N. 38 O cristianismo mundial e a missão cristã são compatíveis?: insights ou percepções das Igrejas asiáticas – Peter C. Phan N. 39 Caminhar descalço sobre pedras: uma releitura da Conferência de Santo Domingo – Paulo Suess N. 40 Conferência de Aparecida: caminhos e perspectivas da Igreja Latino- -Americana e Caribenha – Benedito Ferraro N. 41 Espiritualidade cristã na pós-modernidade – Ildo Perondi N. 42 Contribuições da Espiritualidade Franciscana no cuidado com a vida humana e o planeta – Ildo Perondi N. 43 A Cristologia das Conferências do Celam – Vanildo Luiz Zugno N. 44 A origem da vida – Hans Küng N. 45 Narrar a Ressurreição na pós-modernidade. Um estudo do pensa- mento de Andrés Torres Queiruga – Maria Cristina Giani N. 46 Ciência e Espiritualidade – Jean-Michel Maldamé N. 47 Marcos e perspectivas de uma Catequese Latino-americana – Antô- nio Cechin N. 48 Ética global para o século XXI: o olhar de Hans Küng e Leonardo Boff – Águeda Bichels N. 49 Os relatos do Natal no Alcorão (Sura 19,1-38; 3,35-49): Possibilida- des e limites de um diálogo entre cristãos e muçulmanos – Karl-Josef Kuschel N. 50 “Ite, missa est!”: A Eucaristia como compromisso para a missão – Cesare Giraudo, SJ N. 51 O Deus vivo em perspectiva cósmica – Elizabeth A. Johnson N. 52 Eucaristia e Ecologia – Denis Edwards N. 53 Escatologia, militância e universalidade: Leituras políticas de São Paulo hoje – José A. Zamora N. 54 Mater et Magistra – 50 Anos – Entrevista com o Prof. Dr. José Oscar Beozzo N. 55 São Paulo contra as mulheres? Afirmação e declínio da mulher cristã no século I – Daniel Marguerat N. 56 Igreja Introvertida: Dossiê sobre o Motu Proprio “Summorum Ponti- ficum” – Andrea Grillo N. 57 Perdendo e encontrando a Criação na tradição cristã – Elizabeth A. Johnson N. 58 As narrativas de Deus numa sociedadepós-metafísica: O cristianismo como estilo – Christoph Theobald N. 59 Deus e a criação em uma era científica – William R. Stoeger N. 60 Razão e fé em tempos de pós-modernidade – Franklin Leopoldo e Silva N. 61 Narrar Deus: Meu caminho como teólogo com a literatura – Karl- Josef Kuschel N. 62 Wittgenstein e a religião: A crença religiosa e o milagre entre fé e superstição – Luigi Perissinotto N. 63 A crise na narração cristã de Deus e o encontro de religiões em um mundo pós-metafísico – Felix Wilfred N. 64 Narrar Deus a partir da cosmologia contemporânea – François Euvé N. 65 O Livro de Deus na obra de Dante: Uma releitura na Baixa Moderni- dade – Marco Lucchesi N. 66 Discurso feminista sobre o divino em um mundo pós-moderno – Mary E. Hunt N. 67 Silêncio do deserto, silêncio de Deus – Alexander Nava N. 68 Narrar Deus nos dias de hoje: possibilidades e limites – Jean-Louis Schlegel N. 69 (Im)possibilidades de narrar Deus hoje: uma reflexão a partir da teo- logia atual – Degislando Nóbrega de Lima N. 70 Deus digital, religiosidade online, fiel conectado: Estudos sobre reli- gião e internet – Moisés Sbardelotto N. 71 Rumo a uma nova configuração eclesial – Mario de França Miranda N. 72 Crise da racionalidade, crise da religião – Paul Valadier N. 73 O Mistério da Igreja na era das mídias digitais – Antonio Spadaro N. 74 O seguimento de Cristo numa era científica – Roger Haight N. 75 O pluralismo religioso e a igreja como mistério: A eclesiologia na perspectiva inter-religiosa – Peter C. Phan N. 76 50 anos depois do Concílio Vaticano II: indicações para a semântica religiosa do futuro – José Maria Vigil N. 77 As grandes intuições de futuro do Concílio Vaticano II: a favor de uma “gramática gerativa” das relações entre Evangelho, sociedade e Igreja – Christoph Theobald N. 78 As implicações da evolução científica para a semântica da fé cristã – George V. Coyne N. 79 Papa Francisco no Brasil – alguns olhares N. 80 A fraternidade nas narrativas do Gênesis: Dificuldades e possibilida- des – André Wénin N. 81 Há 50 anos houve um concílio...: significado do Vaticano II – Victor Codina N. 82 O lugar da mulher nos escritos de Paulo – Eduardo de la Serna N. 83 A Providência dos Profetas: uma Leitura da Doutrina da Ação Divina na Bíblia Hebraica a partir de Abraham Joshua Heschel – Élcio Ver- çosa Filho N. 84 O desencantamento da experiência religiosa contemporânea em House: “creia no que quiser, mas não seja idiota” – Renato Ferreira Machado N. 85 Interpretações polissêmicas: um balanço sobre a Teologia da Liber- tação na produção acadêmica – Alexandra Lima da Silva & Rhaissa Marques Botelho Lobo N. 86 Diálogo inter-religioso: 50 anos após o Vaticano II – Peter C. Phan N. 87 O feminino no Gênesis: A partir de Gn 2,18-25 – André Wénin N. 88 Política e perversão: Paulo segundo Žižek – Adam Kotsko N. 89 O grito de Jesus na cruz e o silêncio de Deus. Reflexões teológicas a partir de Marcos 15,33-39 – Francine Bigaouette, Alexander Nava e Carlos Arthur Dreher N. 90 A espiritualidade humanística do Vaticano II: Uma redefinição do que um concílio deveria fazer – John W. O’Malley N. 91 Religiões brasileiras no exterior e missão reversa – Vol. 1 – Alberto Groisman, Alejandro Frigerio, Brenda Carranza, Carmen Sílvia Rial, Cristina Rocha, Manuel A. Vásquez e Ushi Arakaki N. 92 A revelação da “morte de Deus” e a teologia materialista de Slavoj Žižek – Adam Kotsko N. 93 O êxito das teologias da libertação e as teologias americanas con- temporâneas – José Oscar Beozzo N. 94 Vaticano II: a crise, a resolução, o fator Francisco – John O’Malley N. 95 “Gaudium et Spes” 50 anos depois: seu sentido para uma Igreja aprendente – Massimo Faggioli N. 96 As potencialidades de futuro da Constituição Pastoral Gaudium et spes: por uma fé que sabe interpretar o que advém – As- pectos epistemológicos e constelações atuais – Christoph Theobald N. 97 500 Anos da Reforma: Luteranismo e Cultura nas Américas – Vítor Westhelle N. 98 O Concílio Vaticano II e o aggiornamento da Igreja – No centro da experiência:a liturgia, uma leitura contextual da Escritura e o diálo- go – Gilles Routhier N. 99 Pensar o humano em diálogo crítico com a Constituição Gaudium et Spes – Geraldo Luiz De Mori N. 100 O Vaticano II e a Escatologia Cristã: Ensaio a partir de leitura teoló- gico-pastoral da Gaudium et Spes – Afonso Murad N. 101 Concílio Vaticano II: o diálogo na Igreja e a Igreja do Diálogo – Elias Wolff N. 102 A Constituição Dogmática Dei Verbum e o Concílio Vaticano II – Flávio