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Victoria K. L. Cardoso Infecção do trato urinário ………….Introdução…………. As infecções do trato urinário (ITUs) incluem: ● Cistite (infecção da bexiga/trato urinário inferior). ● Pielonefrite (infecção do rim/trato urinário superior). Patogêneses: 1. Colonização do intróito vaginal ou do meato uretral por uropatógenos da flora fecal. 2. Ascensão dos uropatógenos pela uretra até a bexiga. 3. Migração dos patógenos para os rins, através dos ureteres - desenvolvimento da pielonefrite. Obs: alguns casos de pielonefrite ocorrem pela disseminação da bactéria nos rins e nos vasos linfáticos. Principais conceitos: ● Cistite simples aguda: (esse diagnóstico é na ausência de ITU complicada). ● ITU aguda complicada = ITU que se estendeu além da bexiga. ○ A pielonefrite é sempre uma ITU complicada, independente das características do paciente. Obs: os homens têm grande chance de desenvolver prostatite, quando estão com cistite. Importante - os seguintes pacientes não podem ser automaticamente considerados tendo uma ITU complicada, se não tiverem sintomas de infecção do trato superior ou sistêmica - apesar desses pacientes terem maior chance de terem ITU complicada, então merecem maior atenção. ● Pacientes com anormalidades urológicas subjacentes - como nefrolitíase, estenoses, stents ou desvios urinários. ● Condições imunocomprometedoras - como neutropenia ou infecção avançada por HIV. ● Diabetes mellitus mal controlado. ………….Microbiologia…………. Principais uropatógenos: ● Escherichia coli: patógeno mais frequente de ITUs agudas complicadas. ● Enterobacteriaceae (como Klebsiella spp e Proteus spp). ● Pseudomonas. ● Enterococos. ● Estafilococos (Staphylococcus aureus sensível à meticilina [MSSA] e S. aureus resistente à meticilina [MRSA]). Victoria K. L. Cardoso Obs: alguns patógenos dependem parcialmente do organismo do hospedeiro para se proliferarem, como por exemplo a Pseudomonas. Fatores de risco para ITU com patógenos resistentes: ● Uso recente de antimicrobianos de amplo espectro. ● Exposições a outros cuidados de saúde. ● Viagens para partes do mundo onde organismos multirresistentes são prevalentes. ………….Aspectos clínicos…………. Características clínicas das ITUs agudas: cistite, ITUs complicadas e pielonefrite. ● Cistite: ○ Disúria. ○ Ausência de febre. ○ Piúria. ○ Dor no flanco. ○ Sensibilidade do ângulo costovertebral. ○ Aumento da frequência miccional. ○ Urgência urinária. ○ Dor suprapúbica. ○ Hematúria. ○ Para os homens - prostatite, considerada quando há sintomas recorrentes de cistite com dor pélvica e perineal. ● ITU aguda complicada: ○ Febre OU outras características de doença sistêmica - calafrios, fadiga acentuada ou mal-estar além da linha de base. ○ Dor no flanco. ○ Piúria. ○ Sensibilidade do ângulo costovertebral. ○ Dor pélvica e perineal em homens - pode ser prostatite associada. ● Pielonefrite: ○ Febre. ○ Calafrios. ○ Piúria. ○ Dor no flanco. ○ Sensibilidade no ângulo costovertebral. ○ Náuseas/vômitos. ● Pielonefrite complicada - ocorre quando há progressão da infecção do trato urinário superior para: ○ Abscesso corticomedular renal. ○ Abscesso perinéfrico. ○ Pielonefrite enfisematosa. ○ Necrose papilar. Victoria K. L. Cardoso ● Pielonefrite xantogranulomatosa: é uma variante rara da pielonefrite, quando há destruição maciça do rim por tecido granulomatoso. ○ Contexto: obstrução por cálculos renais infectados. ○ Pode haver entre semanas e meses com uma sintomatologia insidiosa e inespecífica: como mal-estar, fadiga, náusea ou dor abdominal. Obs: os sintomas de cistite geralmente (mas nem sempre) estão presentes nas outras condições, mas também pode haver sintomas atípicos como dor no epigástrio ou no abdome inferior. Lembrando que: nem todos os pacientes com ITU aguda complicada apresentam sintomas claros e localizados no trato urinário. Por exemplo: ● Pacientes com lesão da medula espinhal e ou com bexiga neurogênica podem apresentar disreflexia autonômica e aumento da espasticidade. ● Pacientes idosos ou debilitados podem ter sintomatologia de infecção mais generalizada com febre e calafrios, sem sintomas claros localizados no trato urinário. Complicações na ITU complicada: ocorre mais em pacientes com obstrução do trato urinário, instrumentação recente do trato urinário, outras anormalidades do trato urinário e em pacientes idosos ou com diabetes mellitus. ● Bacteremia. ● Sepse. ● Disfunção de múltiplos sistemas de órgãos. ● Choque e/ou insuficiência renal aguda. ………….Diagnóstico…………. Suspeita de pacientes com ITU: ● Disúria. ● Aumento da frequência urinária. ● Urgência urinária. ● Dor suprapúbica. ● Píúria. ● Também podem apresentar: (mais comum em complicações) ○ Febre. ○ Calafrios. ○ Dor nos flancos. ○ Dor pélvica ou perineal (em homens). Obs: geralmente há suspeita de ITU aguda complicada em pacientes com febre não localizada ou sepse. Suspeita de pielonefrite aguda: ● Febre. ● Dor no flanco. ● Pode haver ausência de sintomas típicos de cistite. ● Piúria. Avaliação precisa: ● Exames para avaliar outras causas de doenças e estudos de urina. Victoria K. L. Cardoso ● Exame físico para avaliar o ângulo costovertebral, a sensibilidade abdominal e suprapúbica. ○ Em mulheres jovens sexualmente ativas, faz-se exame pélvico, caso os sintomas não sejam tão conclusivos de ITU, para poder avaliar o movimento cervical e a sensibilidade uterina, sugerindo doença inflamatória pélvica ○ Homens com dor pélvica e perineal, faz-se o exame de toque retal em algumas situações, para verificar edemaciamento da próstata, o que pode indicar prostatite aguda. ITU em idosos ou em debilitados: além da clínica sempre deve-se realizar estudos de urina e uma investigação infecciosa geral. ● Sinais ou sintomas inespecíficos - quedas, mudança no estado funcional e mudança no estado mental. + ● Sintomatologia de infecção sistêmica ou de pielonefrite. Exames para todos os pacientes com suspeita de ITU aguda complicada: ● Análise de urina por microscopia ou por fita reagente - os resultados desse exame informam o diagnóstico. ○ Se houver cilindros de glóbulos brancos = origem renal para a piúria. ○ O crescimento de bactérias na cultura de urina também apóia o diagnóstico de ITU. ○ Se disponível, faz-se a coloração de Gram na urina, para restringir a lista de organismos causadores e ajustar os antimicrobianos. + ● Cultura com teste de suscetibilidade. Importante: a ausência de piúria, principalmente com outros sintomas inespecíficos, sugere outros diagnósticos, pois comumente a piúria está presente na ITU. ● Piúria e bacteriúria ausentes - pode ser uma infecção que não se comunica com o sistema coletor ou se o sistema coletor estiver obstruído. Outros exames: ● Teste de gravidez - quando não se pode excluir a possibilidade apenas com a história. ● Exames de sangue - química geral e hemograma completo - geralmente não são necessários, a menos que o paciente seja hospitalizado. ● Hemocultura - para pacientes com sepse ou com doença grave. ● Exames de imagem - em pacientes com ITU aguda complicada não há necessidade de estudos de imagem. ○ Quando realizar: ■ Pacientes gravemente doentes, com sintomas clínicos persistentes, mesmo após de 48-72h de terapia antimicrobiana apropriada. ■ Suspeita de obstrução do trato urinário - função renal diminuída abaixo da linha de base ou com declínio abrupto no débito urinário. Victoria K. L. Cardoso ■ Pacientes com sintomas recorrentes dentro de algumas semanas de tratamento. ○ Realizar com urgência: pacientes com sepse ou choque séptico. ■ Objetivo: identificar evidências de obstrução ou de abscesso que precisam de controle de origem urgente. ○ Objetivo dos exames de imagem: ■ Verificar situações que podem atrasar a terapêutica. ■ Verificar algo que justifique uma intervenção, como cálculo ou obstrução. ■ Verificar possíveis complicações de infecções, como abscessos renais ou perinéfricos. ● Quais exames de imagem realizar: ○ Tomografia computadorizada(TC) do abdome e da pelve (com e sem contraste). ■ TC sem contraste: para demonstrar cálculos, infecções formadoras de gás, hemorragia, obstrução e abscessos. ■ TC com contraste: demonstra alterações na perfusão renal. ■ TC de pielonefrite: lesões hipodensas localizadas e edema. ■ TC normal: pacientes com infecção leve. ○ Ultrassonografia renal: quando a exposição ao contraste ou radiação é indesejável. ○ Ressonância magnética: não é vantajosa sobre a TC, apenas se for necessário evitar o contraste ou a radiação ionizante. Diagnóstico de imagem para ITU complicada: ● TC: baixa atenuação estendendo-se até a cápsula renal no realce pelo contraste, com ou sem edema e complicações, como abscessos renais. ○ Uma TC normal não descarta uma pielonefrite leve. ……….Tratamento e gestão………. Terapia antimicrobiana empírica: ● A abordagem da terapia empírica de ITU aguda complicada depende da gravidade da doença, dos fatores de risco para patógenos resistentes e de fatores específicos do hospedeiro. ● Após o resultado da cultura de urina, faz-se o ajuste adequado para o antimicrobiano. Indicações para hospitalização: ● ITU aguda contemplada: deve ser uma decisão individualizada, mas se interna Victoria K. L. Cardoso obrigatoriamente caso o paciente esteja séptico ou gravemente enfermo. ○ Suspeita de obstrução do trato urinário. ○ Preocupações com relação à adesão do paciente. ● Indicações gerais para tratamento hospitalar: ○ Febre alta persistentemente alta (por exemplo, > 38,4 ° C). OU ○ Dor. ○ Debilidade acentuada. OU ○ Incapacidade de manter a hidratação oral ou de tomar medicamentos orais. Manejo ambulatorial: ● Pacientes com ITU aguda complicada de leve a moderada. ○ Estabilização com reidratação e uso de antimicrobianos orais. ● Muitos pacientes podem ser tratados em regime ambulatorial. Obs: como a cultura de urina e o teste de suscetibilidade devem ser realizados em todos os pacientes, o tratamento empírico inicial deve ser adaptado de acordo com o perfil de suscetibilidade do patógeno infectante, uma vez conhecido. Tratamento para doença crítica e ou obstrução do trato urinário: ● Regime antimicrobiano de amplo espectro para pacientes com ITU aguda complicada - carbapenem antipseudomonal (imipenem IV, meropenem IV, ou doripenem IV). Acompanhamento: ● Com uma terapia eficaz, os sintomas devem melhorar imediatamente. ● No tratamento ambulatorial dos pacientes com pielonefrite: acompanhamento de perto, presencial ou por telefone em 48-72h. ○ Se houver piora dos sintomas após o uso de antimicrobianos, OU sintomas persistentes após 48-72h da terapia, OU sintomas recorrentes em algumas semanas após o tratamento, devem ter avaliação adicional e repetição de alguns exames: ■ Imagens abdominais/pélvicas (geralmente com tomografia computadorizada). ■ Cultura de urina. ■ Teste de suscetibilidade. ● Pacientes com hematúria na apresentação inicial: devem repetir a análise de urina várias semanas após a terapia antimicrobiana, para avaliar a hematúria persistente.