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CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ Câncer de esôfago: Introdução: ● Câncer de esofago ● oitava neoplasia mais comum no mundo ● Alta letalidade (junto com câncer de pâncreas e pulmão) ● Adenocarcinoma x Carcinoma de células escamosas (CEC) - No homem, o câncer de esôfago é o 6° mais comum Introdução: - Anatomia: o esôfago é um órgão localizado no mediastino posterior. - Porção: • Cervical (começa abaixo do anel cricoide e termina na fúrcula esternal) • Torácica (vai da fúrcula esternal até o diafragma): é dividida em 3 partes: ✓ Torácica superior: vai da fúrcula esternal até a veia azigos ✓ Torácica média: vai da veia azigos até veia pulmonar inferior ✓ Torácica inferior: vai da veia pulmonar inferior até o diafragma) • JEG: junção esôfago gástrica • Abdominal: depois diafragma - Relação com estruturas nobres: ao lado da aorta, anterior a coluna vertebral e posterior a traqueia e coração. - Constrições: • Cartilagem cricóide (VI VC) • Arco da aorta (IV VT) • Brônquio esquerdo (V VT) • Diafragma (XI VT) - Doença de esôfago pode acometer a traqueia e órgãos próximos CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ -- Vascularização: ramo esofágico da tireoide inferior, ramo esofágico da artéria gástrica esquerda e algumas artérias torácicas; todas elas se anastomosam e foram uma rede vascular - Os linfonodos podem ficar comprometidos pela doença, e quando se faz cirurgia de esôfago se retira o esôfago e a drenagem linfonodal Camadas do esôfago: 1. Epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado 2. Lâmina própria 3. Mucosa 4. Submucosa 5. Muscular própria 6. Adventícia Obs: não tem serosa Fatores de risco: - Tabagismo - Etilismo - Vírus do papiloma humano (HPV): leva mais ao CEC - DRGE - Obesidade Obs: tabagismo e etilismo leva mais ao CEC - carcinoma de células escamosas Obs: DRGE e obesidade levam mais a adenocarcinoma Condições predisponentes: -Acalasia -Lesão cáustica (paciente em tentativa de suicídio ingere sonda caustica) -Esofago de barret (presente no DRGE, acidez crônica leva a alteração de epitélio, fator de predisposição) -Tilose (doença genética, de partes moles aumenta o risco de câncer) - Plummer Vinson (síndrome que causa CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ membrana no esôfago, paciente com anemia pode desenvolver essa síndrome) - Divertículos esofágicos Tipos histológicos: - Carcinoma de células escamosas (CEC): ocorre nos 2/3 superiores (esôfago cervical 30%, esôfago médio 50% e esôfago inferior 20%). Mais comum em países orientais - Adenocarcinoma: 1/3 inferior (praticamente só ocorre no terço inferior, quando acomete o esôfago médio é por contiguidade), mais comum em países ocidente e países desenvolvidos (taxa de obesidade maior) Outros tipos histológicos: - Carcinoma de células fusiformes - Tumor neuroendócrino - Leiomiossarcoma - Melanoma Epidemiologia: - 17.000 casos de câncer esofágico anualmente nos Estados Unidos e cerca de 480.000 casos em todo o mundo. - Antes o CEC era mais comum no mundo todo, e as poucos a adenocarcinoma vem aumentando sua prevalência principalmente devido a obesidade - Mudança de incidência: outras causas (verde), adenocarcinoma (vermelho, aumentando a incidência) e CEC (azul) Disseminação: - Continuidade (ao longo do próprio órgão) - Contiguidade (afetando órgãos próximos) - Linfática (pelos linfonodos) - Hematogênica (pelo sangue) - Peritoneal (adenocarcinoma, o CEC não faz isso) DISSEMINAÇÃO: Continuidade: Exemplo: ca de fundo gástrico invadindo esôfago Contigüidade: CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ Exemplo: ca de reto: extensão local, pega órgãos adjacentes (útero, bexiga...) Quadro clínico: ● Disfagia progressiva (primeiro não consegue comer sólidos, depois não consegue pastosos, depois líquidos, essa progressão geralmente é mensal) ● Perda de peso (por não está conseguindo se alimentar, geralmente perde 10% do peso) ● Dor torácica (quando pega estruturas adjacentes – coluna) ● Rouquidão (quando o câncer acomete o nervo laríngeo recorrente que fica entre a traqueia e esôfago) ● Síndrome de Horner (ptose, miose, anidrose e hiperemia do lado afetado.): quando pega o plexo simpático ● Hematêmese (vomitar sangue) Diagnóstico: • Endoscopia digestiva alta (principal exame diagnostico, ver a lesão e faz biopsia) • Esofagograma (ver a lesão, mas não fecha diagnostico) Obs: primeiro faz a endoscopia e depois faz o estadiamento - Esofagograma com contraste: sinal da maça mordida (sugestivo de ca de esôfago) Estadiamento: • Tomografia computadorizada de pescoço, tórax e abdômen • PET/CT • Ultrassom endoscópico TC: - Esôfago com uma massa (pode ter comprometimento da traqueia) CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ - Lesão mais alta do esôfago (pode acometer o pulmão e levar a derrame pleural) TC de abdômen: - múltiplas lesões hepáticas (doença metastática) – cuidados paliativos Eco-endoscopia: →ver se tem linfonodos suspeitos (consegue fazer biopsia) PET-CT: →exame onde se injeta marcador de glicose no sangue e onde tem consumo de açucar é captado no exame (sempre vai ter captação alta no cerebro, coração e rins). Se o paciente tiver alguma infecção também capta, logo esse exame tem que ser pedido em paciente que já tenha o diagnostico de câncer. Classificação de Siewert: Importante para tumor de transição esofagogástrica, tem importante CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ porque dependendo do tipo de tumor muda a conduta • Tipo I: tumor de esôfago mesmo (5cm a 1cm da linha Z que é a cárdia) • Tipo II: tumor de cárdia (tumor de transição esôfago gástrica) - só sabe o que vai fazer na cirurgia • Tipo III: trata como estomago, cirurgia é gastrectomia Obs: a distancia do tumor para a cárdia se ver na TC e endoscopia Estadiamento – TNM: serve para saber prognostico do paciente e ajuda a tratar; T – Tumor N - Linfonodos M – Metástase Todo paciente preciso falar isso para saber o estágio da doença que ele se encontra. Antes da sigla TNM: C – Estadiamento clínico – baseado nas imagens e exame clínico. Ex. cT1- estadiamento clínico P – Estadiamento patológico: já fez a biopsia Yp – estadiamento após tratamento neoadjuvante (quimio, radioterapia antes da cirurgia) Depois: X: não avaliado. Ex. T2NXMX: x porque ele não foi avaliado, não tem exame de imagem. 0: ausência de doença. Is: tumor in situ– tumor inicial, não passou da lâmina própria. Obs: exemplo- paciente que chega com câncer de esôfago e fez endoscopia, mas não fez nenhum exame de imagem, diz que tem T2NXMX, pede-se exames de imagens e se não tem nada só o tumor no esôfago mesmo diz que é cT2N0M0. Tumor primário (T): Tx – tumor não pode ser avaliado T0 – sem evidência de tumor. Como por exemplo, paciente com linfonodos positivo mas sem tumor primário (primário oculto), provavelmente o tumor primário o corpo já destruiu, porém ainda tem metástase. Tis – displasia de alto grau: na lâmina própria T1 – tumor invade a muscular da mucosa (T1a) ou submucosa (T1b) T2 – tumor invade até a muscular própria, mas não depois desta T3 – tumor invade adventícia CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ T4a – tumor invade estruturas adjacentes que são geralmente ressecáveis (diafragma e pericárdio). T4b – tumor invade estruturas não ressecáveis (aorta, coração, carina...) Nódulos linfáticos regionais (N): Nx – nódulos linfáticos regionais não podem ser avaliados N0 – sem metástase nos nódulos linfáticos regionais N1 – metástases em 1 a 2 nodulos linfáticos regionais N2- metástasesem 3 a 6 nódulos linfáticos regionais N3 – metástases em maior ou igual a 7 nódulos linfáticos regionais Metástases a distância (M): M0 – sem metástases a distancia M1 – metástases a distancia TNM de adenocarcinoma: Obs: 3 linfonodos já é estádio 4a TNM de CEC: YPTNM (classificação após tratamento neoadjuvante): CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ Obs: a partir do T1 o paciente já pode ter metástase linfonodal Obs: quando pega linfonodo ao redor do esofago não significa que a doença é metastática, e sim é locorregional, quando pega órgãos a distância que é metástase. Tratamento Multidisciplinar: • Cirurgia (tratamento local) • Quimioterapia (tratamento sistêmico) • Radioterapia (tratamento local) Princípios básicos da cirurgia oncológica: • Operabilidade – baseia-se nas condições clínicas do paciente. Tem que ver se ele aguenta a cirurgia. Paciente idoso. • Ressecabilidade – baseia-se na extensão do tumor. Ex. paciente jovem que tem um tumor, porém não é possível ressecar, ex. câncer de esôfago que pega na aorta. • Neoadjuvância – só existe se eu estiver querendo curar o paciente. Tratamento antes do definitivo. Quimio e radioterapia antes da cirurgia (tratamento definitivo). • Adjuvância – depois do tratamento definitivo. Ex. faz esofagectomia, veio um linfonodo comprometido, então faz quimio e radio depois da cirurgia (adjuvância). Intenção de tratamento: • Paliativo – quando não dá para curar. Tratamento para o resto da vida. É prolongar a vida. Para dá conforto, qualidade de vida. Ex. metástase de esôfago. • Curativo – quando o objetivo é curar (quando faz o tratamento e o paciente se cura, depois só acompanha). Tratamento curativo: Tratamento endoscópico- Estagio 0 ou 1: • Paciente que só tem displasia ou T1 (sem linfonodos), tumor só pega mucosa. • O tratamento é endoscópico • Ressecção endoscópica mucosa – retira a lesão • Terapia ablativa endoscópica – queima a lesão Tratamento endoscópico tem que: • Lesão plana e elevadas < 2cm • Lesão restrita a mucosa • Sem invasão angiolinfática • Bem diferenciadas Ressecção cirúrgica - Estagio I e II: • Paciente que ainda dá para fazer só a esofagectomia, sem quimio e sem radioterapia • Não tem linfonodo acometido e sem metástase • Paciente que teve um sintoma e veio para o médico. • Menos de 30% dos pacientes • Mortalidade 5-10% • Ressecção R0 (tira tudo, todo tumor macroscópico e microscópico) CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ Obs: R1- ao olho nu se retirou tudo, mas deixa-se doença microscópico (vem na biopsia) Obs: R2- algumas partes visíveis do tumor não puderam ser retiradas Obs: radio e quimioterapia só resolve doença microscópica. Estagio II-IV: • Cirurgia + quimioterapia + radioterapia • Tratamento curativo vs tratamento paliativo • Neoadjuvancia (antes) vs adjuvancia (depois) • Estudos mostram que quem vai realizar a cirurgia precisa fazer quimio e radio antes. Preoperative chemoradiotherapy for esophafeal or junctional cancer: ● Estudo holandes, 2004-2008 ● 368 pacientes, 275 (75%) adenocarcinoma, 84 (23%) CEC ● 178 - quimiorradioterapia seguida de cirurgia, e 188 para cirurgia. ● A ressecção (R0) foi alcançado em 92% dos pacientes no grupo de quimiorradioterapia-cirurgia (aumenta o R0) versus 69% no grupo cirurgia (P <0,001). ● Uma resposta patológica completa - 47 de 161 pacientes (29%) que foram submetidos à ressecção após quimiorradioterapia. ● Pós-operatório complicações foram semelhantes nos dois grupos de tratamento, e a mortalidade hospitalar foi 4% em ambos. ● A sobrevida global mediana foi de 49,4 meses na quimiorradioterapia - grupo de cirurgia versus 24,0 meses no grupo de cirurgia. Obs: No estadiamento mais avançado tem que fazer quimio e radioterapia antes da cirurgia obs: existem duas opções quimioterapia e radioterapia depois cirurgia ou quimioterapia, cirurgia e quimioterapia. NCCN – ESTADIAMENTO CEC: • pTis: tratamento endoscópico (ressecção endoscópica, ablação ou ressecção endoscópica + ablação) ou esofagectomia (supertratamento) • pT1a (mucosa): tratamento endoscópico (ressecção endoscópica ou ressecção endoscópica + ablação) ou esofagectomia • pT1b (submucosa): não aceita terapia endoscópica, tratamento é esofagectomia • cT1b-cT2, N0: esofagectomia • cT2 N0 com critérios de alto risco ou linfonodo positivo ou tumor avançada (cT3-Ct4a): quimioterapia e radioterapia e depois cirurgia (no não cervical) e só quimio radioterapia sem cirurgia (no caso de esofago cervical- não se opera) • cT4b (órgão não ressecável): só quimioterapia e radioterapia definitiva ou quimioterapia paliativa NCCN- ESTADIAMENTO ADENOCARCINOMA: • pTis: tratamento endoscópico (ressecção endoscópica, ablação ou ressecção endoscópica + ablação) ou esofagectomia • pT1a: tratamento endoscópico (ressecção endoscópica ou ressecção CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ endoscópica + ablação) ou esofagectomia • pTb, NO: esofagectomia • cT2 N0 com critérios de alto risco ou linfonodo positivo ou tumor avançada (cT3-cT4a): pode fazer a quimio e radioterapia e depois cirurgia (esofagectomia); mas pode fazer só a quimioterapia (pré-operatório) e esofagectomia • T4b: quimioterapia e radioterapia definitiva Cirurgia (esofagectomia): - Esofagectomia - 2 campos vs 3 campos - Tipos: Esofagectomia Ivor lewis vs Mckeown vs Transhiatal ✓ Ivor lewis – quando faz em 2 campos. Opera o tórax e abdome, faz toracotomia direita + laparotomia, faz resseção do tumor do esôfago e faz anastomose intra-torácica ✓ Mckeown: cirurgia em 3 campos, faz a esofagectomia com incisão cervical, abdominal e torácica. A anastomose é cervical, ela é melhor de controlar que a intratorácica (pois a intratorácica se tiver uma deiscência o paciente tem mediastinite e é muito grave), a cervical tem uma taxa maior de deiscência porém é mais fácil de manejar (dreno), a taxa de fístula é menor na intratorácica do que na cervical. ✓ Transhiatal: quando se opera pelo pescoço e abdômen e não abre o tórax, o tórax é dissecado as cegas - Anastomose: intratorácica vs cervical: A anastomose cervical é melhor de controlar que a intratorácica (pois a intratorácica se tiver uma deiscência o paciente tem mediastinite e é muito grave), a taxa de fístula é menor na intratorácica do que na cervical. - Reconstrução do esôfago com o tubo gástrico – mais usada, usa o próprio estomago para subir e faz a anastomose com o estomago - Reconstrução do esôfago com transposição de cólon – usa o cólon transverso, secciona ele e leva-o até o local onde ficaria o esofago, desvantagens é que vai ter 3 anastomoses. Esofagectomia Transhiatal- técnica: • Desvantagem porque não disseca bem região torácica, usa mais para tumor de esôfago distal, em que não precise fazer uma linfadenectomia significativa da região torácica. • Incisão cervical e abdominal • Faz quando não dá para abre o tórax, paciente não resiste, ex. DPOC • Liga a gástrica esquerda, gástrica direita e gastroepiploica esquerda, e quem vasculariza o tubo estomacal (Que vai subi para virar o tubo esofágico) é a artéria gastroepiploica direita CLÍNICA CIRÚRGICA – LETHICIA BEATRIZ • Começa a cirurgia soltando o baço, a grande curvatura, e começa a liberar o tumor do diafragma, isola o tumor na mão (tumor de esôfago distal), liga a gástrica esquerda, libera o omento e solta o duodeno. Obs: se ligar a artéria gastroepiploica direita não consegue mais reconstruir com o estomago – faz reconstrução do esôfago com cólon; • Isola o esôfago • Disseca usando o dedo a região torácica do esôfago às cegas;retira-se o tumor pelo abdômen e depois faz a junção do esôfago cervical com tubo gástrico Tratamento paliativo: • Dilatação pneumática – só dura semanas • Prótese endoscópica – dura 6 meses, porém bem mais caro. • Paliação cirúrgica: ✓ Gastrostomia ✓ Jejunostomia Prognóstico: • Doença muito letal • Sobrevida em 5 anos – global (todos estádios): 20-25% – Estagio I – 50% (vivos) – Estadio IIa: 40% – Estadio IIb: 20% – Estadio III: 15% – Estadio IV: <5% – QTx+RTx neoadjuvante → Cirurgia: 48%