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1 Teísmo Teísmo TEONTOLOGIA TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA IBETEL Site: www.ibetel.com.br E-mail: ibetel@ibetel.com.br Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826 2 3 Teísmo (Org.) Prof. Pr. VICENTE LEITE Teísmo TEONTOLOGIA TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA 4 5 Teísmo Quem é o IBETEL O IBETEL é uma empresa de Sociedade Civil Ltda., fundada em 12 de Janeiro de 1995 pelo pastor e professor Vicente Paula Leite. Atualmente possui alunos em todo o território nacional e em alguns países da Europa, Ásia, África, América do Norte e América do Sul. O IBETEL além de sua sede em Suzano, São Paulo, possui várias unidades localizadas em várias regiões do Brasil, com endereços disponíveis em nosso Site: www.ibetel.com.br. O IBETEL não é administrado por nenhuma denominação eclesiástica, seus ensinos estão abertos às pessoas de qualquer denominação. É uma instituição particular, não possui patrocínio de nenhuma empresa, nem de instituições evangélicas. Sua “sobrevivência” tem perdurado unicamente com a ajuda de Deus. Alguém não evangélico pode estudar no IBETEL? Sim. O IBETEL é uma instituição educacional, e seria inconstitucional proibir o ingresso de qualquer pessoa, todavia é importante lembrar que todo o corpo docente é evangélico, e que todo o material didático oferecido e indicado, é também elaborado por educadores e escritores evangélicos, e sua Teologia é Protestante Pentecostal Ortodoxa. O IBETEL oferece cursos na modalidade frequencial e à distância. Para colação de grau do estudante no sistema EAD, o mesmo poderá receber o Histórico Escolar e Diploma ou Certificado pelos Correios, ou então marcar uma data para vir ser diplomado aqui em São Paulo, ou estar verificando a nossa agenda onde constam várias formaturas em endereços e ocasiões diversos, ou ainda, o aluno poderá solicitar a presença de um dos representantes do IBETEL para entrega de seus documentos, ou finalmente, o discente poderá esperar uma eventual colação de grau organizada pelo IBETEL mais próxima da sua região. As disciplinas cursadas em outros seminários, universidades, faculdades são aceitas pelo IBETEL? Sim, desde que legitimamente comprovadas. Algumas disciplinas serão averbadas e o aluno, se desejar, não precisará cursá-las novamente. 6 7 Teísmo Como o Estudar Teologia com Qualidade 1 Preparação para o estudo teológico O bom estudo teológico exige preparação. Expomos a seguir quatro coisas que lhes trarão maiores benefícios no estudo. (a) Fixe um horário para o estudo teológico Separe uma quantidade específica de tempo para fazer o estudo teológico a cada semana. Isto dependerá de quanto tempo você quer passar estudando. Não exagere, mas também não se dedique de menos. Se você não colocar o estudo na agenda semanal, nunca encontrará tempo ou fará um estudo esporádico e pouco profundo. (b) Mantenha um caderno Você não pode estudar sem escrever as coisas que observou. (c) Adquira as ferramentas certas Considere fazer um investimento nestas ferramentas de referência e montar uma pequena biblioteca. Será um investimento que você usará pelo resto da vida. (d) Faça uma oração antes de cada estudo Primeiramente, peça ao Senhor que limpe sua vida de todo o pecado conhecido e o encha com o Espírito Santo, assim você estará em comunhão com ele durante o estudo. Portanto, certifique-se de que você está em comunhão com Cristo antes de estudar a Palavra. O apóstolo Paulo disse que se você estiver na carne, não poderá entender as verdades espirituais (1Co 2.10-3.4). Em segundo lugar, ore para que o Espírito Santo o guie no estudo. Memorize o Salmo 119.18 e o use antes de cada estudo: ''Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei". 2 Como escolher as ferramentas certas para um bom estudo Nesta seção, examinaremos oito tipos de ferramentas indispensáveis para o estudo teológico. 8 (a) Bíblia de estudo Sua primeira e mais importante ferramenta é uma boa Bíblia de estudo. Certas Bíblias são mais adaptáveis ao estudo pessoal da Bíblia que outras. Uma boa Bíblia de estudo deve ter letras grandes o bastante para você ler por longos períodos de tempo sem ficar com dor de cabeça por forçar os olhos. Também deve ter papel espesso o bastante para você tomar notas sem que a tinta traspasse o outro lado do papel. Margens largas são úteis, porque permitem fazer anotações pessoais. (b) Várias traduções recentes Nos últimos 50 anos, vimos a produção de muitas novas traduções da Bíblia. Embora existam falhas em toda tradução, cada uma faz contribuição única para o melhor entendimento da Bíblia. O maior benefício que podemos obter destas versões é comparando-as umas com as outras no estudo. Os muitos possíveis significados e usos de certa palavra podem ser encontrados mediante a leitura de determinado versículo nas várias versões e anotar as diferenças. (c) Concordância exaustiva Sem dúvida, a ferramenta mais importante que você vai precisar para o estudo da Bíblia ao lado da Bíblia de estudo é a concordância. Esta ferramenta é um índice bíblico das palavras contidas em certa versão bíblica. Várias Bíblias possuem concordâncias limitadas a certo número de palavras e nomes importantes. Uma concordância exaustiva relaciona todos os usos de cada palavra da Bíblia, e dá todas as referências onde tal palavra é encontrada. Tratam-se de volumes grandes e vultosos, bastante caros, mas valem cada centavo investido. (d) Dicionário bíblico e/ou enciclopédia bíblica Um dicionário bíblico explica muitas das palavras, tópicos, costumes e tradições contidos na Bíblia, bem como presta informação histórica, geográfica, cultural e arqueológica. Também fornece material do cenário de cada livro da Bíblia e apresenta biografias curtas das principais pessoas de ambos os testamentos. Uma enciclopédia bíblica é um dicionário bíblico expandido com artigos mais longos que tratam com maiores detalhes de mais assuntos. (e) Bíblia temática Esta ferramenta é semelhante a uma concordância, exceto que categoriza os versículos da Bíblia por temas e não por palavras. Isto ajuda o estudante de teologia, porque é freqüente um versículo tratar de um tema sem nunca usar a palavra específica. Se você tivesse de confiar apenas na concordância, perderia alguns versículos ao estudar um tema. Por exemplo, se você procurar o assunto 9 Teísmo "Trindade" numa Bíblia temática, achará diversas referências alistadas, embora a palavra não ocorra na Bíblia. (f) Manual bíblico Esta ferramenta é a combinação de enciclopédia com comentário em forma concisa. É usado para referência rápida, enquanto se lê do princípio ao fim determinado livro da Bíblia. Em vez de estar organizado alfabeticamente por temas, os manuais são projetados a seguir a ordem dos livros da Bíblia. Fornecem notas de fundo, breve comentário e mapas, quadros, diagramas, notas arqueológicas e muitos outros fatos úteis. (h) Livro com estudo de palavras Esta é área na qual o cristão de hoje tem o grande privilégio de se beneficiar do trabalho dos estudiosos de teologia. Por causa da disponibilidade de ferramentas de referência práticas escritas para o cristão comum, você pode estudar as palavras originais da Bíblia sem saber nada de hebraico ou grego. Alguns autores têm passado a vida inteira procurando os significados completos das palavras originais para depois escrever sobre elas em linguagem simples e compreensível. Um bom livro com estudo de palavras lhe dará a seguinte informação: o significado da raiz original da palavragrega ou hebraica (sua etimologia), os vários usos da palavra ao longo da Bíblia e na literatura similar não-bíblica daquele período histórico e a freqüência na qual a palavra ocorre na Bíblia. (i) Comentários Um comentário é uma coletânea especializada de notas explicativas e interpretações do texto de determinado livro ou seção da Bíblia. Seu propósito é explicar e interpretar o significado da mensagem bíblica analisando as palavras usadas, o plano de fundo, a introdução, a gramática e a sintaxe, além da relação desse livro em particular com o restante da Bíblia. Usado corretamente, os comentários aumentam grandemente sua compreensão da Bíblia. Em geral, você não deve consultar um comentário até que faça seu estudo. Não deixe outra pessoa roubar-lhe a alegria de descobrir insights bíblicos por conta própria. Nunca permita que a leitura de um comentário tome o lugar do estudo pessoal da Bíblia. Os comentários são obras falhas, porque são escritas por homens. Às vezes, comentaristas igualmente capazes discordam entre si no que tange a interpretações do mesmo texto bíblico. O melhor modo de usar um é conferir os achados em seu estudo com os do autor! 10 11 Teísmo Declaração de fé A expressão “credo” vem da palavra latina, que apresenta a mesma grafia e cujo significado é “eu creio”, expressão inicial do credo apostólico -, provavelmente, o mais conhecido de todos os credos: “Creio em Deus Pai todo-poderoso...”. Esta expressão veio a significar uma referência à declaração de fé, que sintetiza os principais pontos da fé cristã, os quais são compartilhados por todos os cristãos. Por esse motivo, o termo “credo” jamais é empregado em relação a declarações de fé que sejam associadas a denominações específicas. Estas são geralmente chamadas de “confissões” (como a Confissão Luterana de Augsburg ou a Confissão da Fé Reformada de Westminster). A “confissão” pertence a uma denominação e inclui dogmas e ênfases especificamente relacionados a ela; o “credo” pertence a toda a igreja cristã e inclui nada mais, nada menos do que uma declaração de crenças, as quais todo cristão deveria ser capaz de aceitar e observar. O “credo” veio a ser considerado como uma declaração concisa, formal, universalmente aceita e autorizada dos principais pontos da fé cristã. O Credo tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo 1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo 20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.1- 2). A Faculdade Teológica IBETEL professa o seguinte Credo alicerçado fundamentalmente no que se segue: (a) Crê em um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29). (b) Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17). (c) No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34; At 1.9). (d) Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19). (e) Na necessidade absoluta no novo nascimento pela fé em Cristo e pelo 12 poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do reino dos céus (Jo 3.3-8). (f) No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente na fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24- 26; Hb 7.25; 5.9). (g) No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12). (h) Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1Pe 1.15). (i) No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7). (j) Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12). (k) Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da grande tribulação; Segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14). (l) Que todos os cristãos comparecerão ante ao tribunal de Cristo para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, na terra (2Co 5.10). (m) No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis, (Ap 20.11-15). (n) E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento eterno para os infiéis (Mt 25.46). 13 Teísmo Sumário Quem é o IBETEL 5 Como o Estudar Teologia com Qualidade 7 Declaração de fé 11 CAPÍTULO 1 Prolegômenos 15 1.1 Fundamentos Teológicos 15 1.2 Definição de Teologia 16 1.3 Outras Definições 17 1.4 A Palavra Teologia 17 1.5 Estudantes de Teologia 21 1.6 Exigências Essenciais 22 1.7 Sistemas Teológicos Protestantes 24 1.8 A Necessidade da Teologia 27 1.9 A Possibilidade da Teologia 29 CAPÍTULO 2 A Doutrina de Deus 2.1 O Único e Verdadeiro Deus 33 2.2 A Existência de Deus 33 2.3 Evidências Racionais da Existência de Deus 35 2.4 Os Nomes Bíblicos de Deus 40 2.5 Formas de Negação da Existência de Deus 46 CAPÍTULO 3 A Natureza de Deus 49 3.1 A Doutrina de Deus 49 3.2 A Imanência e a Transcendência de Deus 50 3.3 Os Atributos de Deus 54 3.4 Classificações dos atributos de Deus 55 CAPÍTULO 4 Os atributos incomunicáveis de Deus 59 4.1 Independência 59 4.2 Imutabilidade - inalterabilidade 61 4.3 Eternidade – infinitude 66 4.4 Onipresença 69 4.5 Onisciência - Conhecimento 73 4.6 Onipotência - Poder 73 4.7 Espiritualidade 75 4.8 Vida 75 4.9 Personalidade 77 CAPÍTULO 5 14 Atributos Comunicáveis de Deus 79 5.1 Pureza moral 79 5.2 Integridade 82 5.3 Amor 84 CAPÍTULO 6 A Triunidade de Deus: a Trindade 89 6.1 Evidências Bíblicas para a Doutrina da Trindade 90 6.2 A Deidade das Três Pessoas 93 6.3 O Inter-relacionamento entre as Pessoas da Trindade 94 6.4 A Trindade Explicada 96 6.5 A Trindade e a Doutrina da Salvação 98 Referências 101 15 Teísmo Capítulo 1 Prolegômenos 1.1 Fundamentos Teológicos A boa teologia é escrita por aqueles que tomam o devido cuidado em deixar que suas perspectivas sejam moldadas pela revelação bíblica. Por isso, em toda esta obra, conservaremos como princípios básicos, as seguintes asseverações bíblicas: Deus existe, Ele se revelou e tem deixado esta revelação à disposição da raça humana. Na Bíblia, vemos Deus agindo na vida e na história da humanidade a fim de levar a efeito o seu grande plano de redenção. Noutras palavras, a Bíblia apresenta as suas verdades em meio aos acontecimentos históricos ao invés de apresentar-nosuma lista sistematizada de suas doutrinas. Todavia, carecemos sistematizar tais ensinos para que possamos compreendê-los melhor e aplicá-los à nossa vida. Por outro lado, a sistematização deve ser levada a efeito com muito cuidado, prestando-se especial atenção tanto ao contexto quanto ao conteúdo da doutrina bíblica usada em sua elaboração. A grande tentação de muitos teólogos é selecionar somente os textos que se acham de acordo com os seus pontos de vista, e rejeitar os que se mostram contrários. Outra tentação: usar o texto sem considerar o seu contexto. A Bíblia tem de ter a liberdade de falar com clareza sem ser influenciada pelos preconceitos e falsos conceitos do intérprete. Outra asseveração bíblica que orienta o desenvolvimento deste livro é que o Espírito Santo, que inspirou a escrita da Bíblia, também orienta a mente e o coração do cristão, hoje (Jo 16.13). A obra do Espírito Santo, ao ajudar o leitor a entender a Bíblia, não deve ser temida como se fosse levá-lo a interpretações estranhas e desconhecidas. Na verdade, guiando-nos em toda a verdade, o Espírito Santo esparge luz sobre, ou elucida, o que já é conhecido. Além disso, "não pode haver nenhuma diferença básica entre a verdade que a comunidade cristã conhece através do Espírito Santo que nela habita, e a que é exposta nas Escrituras". 16 Os pentecostais possuem uma rica herança no âmbito da experiência, demonstrando convicções fervorosas no tocante à sua fé. Todavia, não têm se mostrado igualmente dispostos a registrar, por escrito, as explicações a respeito de suas experiências com as verdades da Bíblia. Agora, porém, há uma literatura, cada vez mais notória, que, tendo-se em conta a perspectiva pentecostal, leva adiante o esforço de se expandir o entendimento entre os vários grupos dentro da igreja. Reconhecemos também que somente a Bíblia, por ser a Palavra de Deus, tem a resposta definitiva. Todas as palavras meramente humanas são, na melhor das hipóteses, meros ensaios, e só são verdadeiras à medida que se harmonizam com a revelação da Bíblia. Não nos consideramos superiores em virtude de nossas experiências. Pelo contrário: somos companheiros que, ao longo da viagem, desejam compartilhar o que têm aprendido a respeito de Deus e de suas diversas maneiras de lidar conosco. 1.2 Definição de Teologia A teologia, definida com simplicidade, é o estudo de Deus e do seu relacionamento com tudo quanto Ele criou. Cremos que a teologia deriva-se da revelação de Deus na Bíblia, pois de nenhuma outra maneira poderia postar-se como testemunho fidedigno para os que buscam a verdade. A revelação bíblica não somente dirige o teólogo às doutrinas que devem ser cridas, como também define os limites do conteúdo da fé. A teologia deve referendar como crença obrigatória somente o que a Bíblia ensina explícita ou implicitamente. A teologia deve também importar-se vitalmente com a interpretação correta da Bíblia e sua aplicação apropriada. Embora a matéria fundamental da teologia seja tirada da Bíblia, a teologia também se interessa pela comunidade da fé de onde surgiu a revelação. E de igual modo se importa com a comunidade para a qual a mensagem será transmitida. Sem haver compreensão da comunidade da antiguidade, a mensagem não será corretamente aplicada. Esse duplo esforço pode ser ressaltado em deixar claro que a teologia empenha-se em "oferecer uma declaração coerente" dos ensinos da Bíblia, colocada no contexto da cultura em geral, expressada em linguagem idiomática contemporânea e relacionada com as questões da vida. Tem sido definida, ainda, como uma reflexão sistemática sobre as Escrituras... e a missão da igreja em mútuo relacionamento, tendo as Escrituras como a norma. A teologia é uma disciplina viva e dinâmica; sua fonte de autoridade não muda; esforça-se por comunicar as verdades eternas ao mundo que vive em constante mudança. 17 Teísmo A teologia sistemática é apenas uma divisão dentro do campo maior da teologia, que também inclui a teologia histórica, a teologia bíblica e exegética, e a teologia prática. Será útil examinar cada uma das demais divisões da teologia, e notar como a teologia sistemática se relaciona com elas. 1.3 Outras Definições DR. W. Lindsay define a Teologia Sistemática como "a ciência de Deus... um sumário da verdade religiosa organizada cientificamente, ou como um digesto filosófico de todo conhecimento religioso". Dr. A. H. Strong define a Teologia Sistemática como "a ciência de Deus e das relações entre Deus e o Universo". Dr. Charles Hodge declara que a Teologia Sistemática tem como seu objeto "sistematizar os fatos da Bíblia, e averiguar os princípios ou verdades gerais que esses fatos envolvem". O Dr. W. H. Griffith Thomas afirma: "Ciência é a expressão técnica das leis da natureza; teologia é a expressão técnica da revelação de Deus. É a área da teologia que examina todos os fatos espirituais da revelação, que estima o valor deles, e que os dispõe num corpo de ensino. A doutrina, dessa forma, corresponde às generalizações da ciência." Dr. W. G. T. Shedd define a Teologia Sistemática como "uma ciência que está preocupada tanto com o infinito quanto com o finito, tanto com Deus quanto com o Universo. O material, portanto, que ela inclui é mais vasto do que o de qualquer outra ciência. Ela é também a mais necessária de todas as ciências". Agostinho denota a teologia como "uma discussão racional a respeito da divindade". L. S. Chafer afirma que a Teologia Sistemática pode ser definida como a coleta, cientificamente organizada, comparada e defendida de todos os fatos e de toda e qualquer fonte a respeito de Deus e de suas obras. Ela é também chamada dogmática porque segue uma forma de tese humanamente legada e apresenta e verifica a verdade como verdade. 1.4 A Palavra Teologia O Termo Teologia, segundo os seus aspectos etimológicos, é um vocábulo composto de duas palavras gregas theos - Deus, e logos - discurso ou expressão. Tanto Cristo, a Palavra Viva, quanto a Bíblia, a Palavra Escrita, 18 são Logos de Deus. Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que o discurso é para a razão. A teologia é, portanto, a Theo-Iogia ou discurso sobre um assunto específico, a saber, Deus. Entretanto, visto que nenhuma consideração sobre Deus será completa que não contemple suas obras e os modos no Universo que Ele criou, assim como sua Pessoa, a teologia pode ser ampliada devidamente para incluir todas as realidades materiais e imateriais que existem e os fatos a respeito delas e contidos nelas. Embora não seja prático dificultar a ciência da teologia com amplos discursos que cubram todas as "logias" do Universo, permanece verdadeiro, não obstante, que o fato básico, o qual subjaz todas as ciências, é sua relação com o Criador de todas as coisas e o seu propósito na criação. Embora não comumente incluída na ciência da teologia, as outras ciências que se ocupam dos pensamentos dos homens seriam tanto santificadas quanto exaltadas, se fossem abordadas, como deveriam ser, com a reverência que reconhece nelas a presença, o poder e propósito do Criador. Grande prejuízo acontece, como é óbvio, da parte da tendência moderna de divorciar todos os assuntos que margeiam o natural de todo relacionamento divino quando, na realidade, não há base sobre a qual essas "logias" possam descansar, a não ser a do propósito original do Criador. Embora não encontrada nas Sagradas Escrituras, a palavra teologia, o composto de duas palavras bíblicas familiares, é escriturística no seu caráter. Em Romanos 3.2 aparecem as palavras ta logia tou Theou, ‘os oráculos de Deus’; em 1 Pedro 4.11 surgem as palavras logia Theou, ‘oráculos de Deus’; e em Lucas 8.21 encontramos a frase ton logon tou Theou, ‘a palavra de Deus’. Dentro da enciclopédia que o retrata, o termo teologia é usado com vários significados restritos.Quando se deseja o reconhecimento do primeiro expoente de um sistema teológico, o nome do indivíduo é combinado com o termo, como Teologia Agostiniana, Teologia Calvinista, Teologia Luterana, Teologia Arminiana. Quando a fonte do seu material está em foco, termos específicos são empregados, como Teologia revelada, Teologia natural, Teologia católica, Teologia evangélica. Assim, igualmente, a teologia pode ser classificada pelo lugar de sua origem, como, Teologia de Genebra, Teologia de Mercersburgo, Teologia de Oxford, Teologia da Nova Inglaterra, Teologia de Oberlin. Quando um conteúdo particular de determinada teologia está em foco, ela pode ser nomeada de acordo, como Teologia Bíblica, Teologia Fundamental, Teologia Histórica, Teologia Homilética, Teologia Ética, Teologia Prática ou Teologia Pastoral. De maneira semelhante, várias teologias podem ser 19 Teísmo classificadas pelo método que elas empregam, como Teologia Dogmática, Teologia Exegética, Teologia Apologética, Teologia Racional, Teologia Sistemática. Entre essas classificações gerais, há diversas formas de teologia que exigem uma definição especial. a) Teologia Natural. A teologia natural designa uma ciência que é baseada somente naqueles fatos concernentes a Deus e seu Universo que estão revelados na natureza. b) Teologia Revelada. Este termo designa uma ciência que está baseada somente naqueles fatos concernentes a Deus e seu Universo que estão revelados nas Escrituras da verdade. c) Teologia Bíblica e Exegética. A teologia bíblica e a exegética são disciplinas gêmeas. Enfatizam o emprego das ferramentas e técnicas interpretativas corretas a fim de poderem auscultar corretamente a mensagem dos textos sagrados. O empenho supremo é ouvir a mesma mensagem da Bíblia que os primeiros fiéis ouviram. Tal fato obriga esse departamento da teologia ao estudo dos idiomas bíblicos, dos costumes e da cultura daqueles tempos (especialmente o que a arqueologia tem descoberto) etc. A teologia bíblica não busca organizar o ensino total da Bíblia em categorias específicas; pelo contrário: o alvo é isolar os ensinamentos em determinados contextos, usualmente livro por livro, autor por autor, ou em agrupamentos históricos. A teologia exegética, aproveitando-se da estrutura da teologia bíblica procura identificar a única verdade que cada locução, cláusula e frase pretende transmitir ao perfazer o pensamento dos parágrafos, seções e, em última análise, de livros inteiros. A exegese (ou a teologia exegética) tem de ser vista à luz do contexto total do livro bem como no contexto imediato do trecho bíblico. A teologia do Antigo Testamento é a etapa inicial. É importante deixá-lo falar por si mesmo, comunicando sua própria mensagem, para sua própria época, ao seu próprio povo. Mas ao mesmo tempo, no desvendar progressivo do plano de Deus, ele prevê o futuro no seu olhar profético. A teologia do Novo Testamento também deve ser estudada, segundo seus próprios valores, procurando a mensagem que o autor tinha para os leitores aos quais escrevia, usando boa exegese para determinar seu significado original. Além disso, é importante perceber a união entre os dois Testamentos sem deixar de reconhecer a diversidade dos seus contextos históricos e culturais. 20 O autor divino, o Espírito Santo, inspirou todos os escritores da Bíblia, fornecendo-lhes a orientação que cimentou a união entre os seus escritos. Levou os escritores do Novo Testamento a citar o Antigo, e a apresentar Jesus como o cumprimento deste, e especialmente do plano divino da salvação. Essa união, na Bíblia, é importante porque possibilita a aplicação da teologia bíblica a situações diversas e em culturas diferentes, assim como a teologia sistemática procura fazer ao usar a teologia bíblica como fonte informativa. d) Teontologia - Teísmo (Teologia Propriamente Dita). Este termo designa uma ciência limitada que contempla somente a pessoa de Deus - Pai, Filho e Espírito Santo, e sem referência às obras de cada uma delas. e) Teologia Histórica. A teologia histórica é o estudo da maneira de a igreja ter procurado, no decurso dos séculos, esclarecer as suas afirmações a respeito das verdades reveladas das Escrituras. A Bíblia foi escrita no transcorrer de um período de tempo à medida que o Espírito Santo inspirava profetas e apóstolos a escrever a revelação divina. Semelhantemente, mas sem a inspiração que a Bíblia possui, a igreja, no decorrer dos séculos, tem afirmado e reformulado o que ela tem crido. O desenvolvimento histórico das afirmações doutrinárias é o assunto tratado pela teologia histórica. O estudo começa com o contexto histórico dos livros da Bíblia, e continua seguindo a história da Igreja até chegar aos nossos dias. De especial importância para a teologia histórica são as tentativas de se esclarecer e defender os ensinos da Bíblia. O mundo pagão, no qual a Igreja nasceu, requeria explicasse ela suas crenças em termos que todos pudessem compreender. À medida que ataques eram lançados contra seus dogmas, a Igreja era levada a defender-se contra acusações dos mais variados tipos. Os cristãos, por exemplo, eram acusados de canibais (por causa da Ceia do Senhor), ou eram tachados de revolucionários (porque adoravam um só Senhor, que não era César). Nessas disputas, a Igreja polia as suas declarações de fé; demonstrava de forma racional e lógica o verdadeiro teor de sua crença. f) Teologia Dogmática. Verdade teológica sustentada com certeza. g) Teologia Especulativa. Verdade teológica sustentada no abstrato e à parte de sua importância prática. h) Teologia do Antigo Testamento. Assim designada porque ela é restrita à porção da Escritura indicada. 21 Teísmo i) Teologia do Novo Testamento. Assim designada porque ela é restrita à porção da Escritura indicada. j) Teologias Paulina, Petrina, Joanina. Elas são designadas assim porque são restritas aos escritos das pessoas indicadas. k) Teologia Prática. Diz respeito à aplicação da verdade aos corações dos homens. É a divisão da teologia que coloca as verdades da investigação teológica em prática na vida da comunidade dos fiéis. Essa divisão inclui a pregação, o evangelismo, as missões, o atendimento e aconselhamento pastoral, a administração pastoral, a educação na igreja e a ética cristã. É nessa altura que a mensagem da teologia assume (por assim dizer) carne e sangue, e ministra entre os cristãos. l) Teologia Sistemática. Uma ciência que segue um esquema humanamente legado ou uma ordem de desenvolvimento doutrinário e que se propõe a incorporar em seu sistema toda a verdade a respeito de Deus e seu Universo de toda fonte. A Teologia Sistemática pode ser distinta da Teologia Natural no sentido em que esta última retira o seu material somente da natureza; é distinta da Teologia Bíblica no sentido que esta última retira o seu material somente da Bíblia; é distinta da Teontologia – Teísmo, no sentido em que esta última é restrita à consideração da Pessoa de Deus, e exclui as suas obras. Ao definir a Teologia Sistemática, certos termos enganosos e desautorizados têm sido empregados. Tem sido declarado ser "a ciência da religião"; mas o termo religião em senso algum é sinônimo da Pessoa de Deus e todas as suas obras. Igualmente, tem sido declarado ser "o tratamento científico daquelas verdades que são encontradas na Bíblia"; mas esta ciência, conquanto retire a porção principal de seu material das Escrituras, não obstante ela retira seu material de toda fonte possível. A Teologia Sistemática tem sido definida como o arranjo ordenado da doutrina cristã; mas como o cristianismo representa somente uma mera fração do campo total da verdade relativa à Pessoa de Deus e seu Universo, esta definição é inadequada. 1.5 Estudantes de Teologia O indivíduo que se compromete ao estudo da ciência da Teologia Sistemática é propriamenteum theologos (teólogo). O termo grego - theologos deveria ser usado de maneira ativa como a sua ênfase indica, e denotaria aquele que fala por Deus, mas, se usado passivamente, ele se referiria àquele a quem Deus fala. Esses dois conceitos mostram que o uso aceito do termo teólogo é óbvio. Contudo, certas exigências necessárias são postas sobre o teólogo e 22 certas qualificações devem ser encontradas nele se ele quer fazer qualquer coisa nesta tarefa a que se comprometeu. 1.6 Exigências Essenciais 1.6.1 São Pressupostas a Inspiração e a Autoridade das Escrituras O teólogo pode ser chamado de apologeta, quando a ocasião exigir, para defender verdades específicas que pertencem ao domínio de sua ciência distintiva; e embora entre as doutrinas que ele defenda esteja a da autoridade e confiabilidade das Sagradas Escrituras, ele não está primariamente comprometido com a tarefa crítica de provar a inspiração e o caráter divino das Escrituras, mas, antes, comprometido com a formulação e apresentação da verdade positiva que as Escrituras demonstram. Por ser a Bíblia a principal fonte de todo o material que faz parte de sua ciência, o teólogo é obrigado a organizar o material dado por Deus em sua ordem lógica e científica. Ele é um biblicista, a saber, o que não somente considera a Bíblia como a única regra de fé e prática, mas como a única fonte confiável de informação nas esferas das quais a revelação divina fala. Como um químico não consegue fazer qualquer avanço em sua ciência se ele duvida ou rejeita o caráter essencial dos elementos que ele combina, assim um teólogo que não aceita a confiabilidadeda Palavra de Deus também vai falhar. É tarefa do crítico reverente descobrir e defender o caráter essencial da revelação divina; mas o teólogo deve estar comprometido com a tarefa de sistematizar e declarar a revelação divina como ela lhe foi apresentada. Por causa do fato de que a ciência da Teologia Sistemática deve proceder da certeza de que as Escrituras são os oráculos de Deus, o modernismo e o racionalismo, com suas dúvidas quanto à inspiração verbal, revelação e autoridade bíblica, não estão preocupados com este conhecimento científico e até se apartam dele com desprezo. Ao considerar o fato da revelação divina, a ciência da Teologia Sistemática é tanto possível quanto exigida, e imediatamente se descobre que ela excede todas as outras ciências como o Criador excede sua criação. 1.6.2 As Leis da Metodologia O teólogo não cria seus materiais assim como o botânico não inventa as flores ou o astrônomo não ordena as estrelas. Como os outros cientistas, o teólogo deve reconhecer o caráter de seu material e dar a ele uma formulação ordenada. Ele nunca deveria deturpar ou alterar a verdade que lhe foi confiada, nem mesmo lhe dar uma ênfase desproporcionada. Se existe o cunho científico, necessariamente ele repele a inverdade, a verdade parcial, 23 Teísmo e toda forma de preconceito infundado ou noção preconcebida. A importância de se asseverar e de sustentar a verdade em sua pureza absoluta e proporções certas não pode ser superestimada. Este fim pode ser assegurado somente pelo método sistemático, por uma atitude de cunho científico e de labor continuado. Dos dois métodos de lidar com a verdade da Palavra de Deus - o dedutivo, pelo qual um tema é expandido em seus detalhes de expressão, um método que pertence amplamente ao campo da homilética; o indutivo, pelo qual as várias declarações sobre um assunto são reduzidas a uma afirmação harmoniosa e todo-abrangente - o indutivo é distintamente o método teológico. Uma indução perfeita acontece quando todos os ensinos da Escritura, de acordo com o significado exato deles, tornam-se a base de uma afirmação doutrinária. Está evidente que para as mentes finitas, a indução perfeita é mais ou menos ideal, e o fato de que existem induções variadas e imperfeitas mostra, em alguma medida, a ampla divergência nas crenças doutrinárias entre homens de igual sinceridade. 1.6.3 As Limitações Finitas Devem Ser Reconhecidas Se não fosse o fato de que Deus concedeu uma revelação apropriada de si mesmo aos homens e de que Ele espera que eles dêem atenção a ela, poderia parecer ser uma presunção injustificada para a mente finita procurar compreender o que é infinito. O teólogo nunca deveria perder de vista o fato de que ele, como nenhum outro cientista, é obrigado a tratar das coisas sobrenaturais, que transcendem os limites do tempo e do espaço onde nenhuma ajuda do pensamento humano pode penetrar, e a tratar dos seres invisíveis, inclusive as três pessoas da Trindade e dos anjos. Confrontado com assuntos como esses, ele deveria permanecer em atitude de santa reverência, como Moisés quando esteve diante da sarça ardente, e ficou impressionado com a futilidade da dependência da mera opinião humana, assim como das conseqüências desastrosas a que tal dependência pode levar. Em termos mais simples, Deus falou de si mesmo, e das coisas infinitas e eternas. A Bíblia é essa mensagem, conquanto o homem não possa originar qualquer verdade similar, ele, embora finito, é privilegiado pela iluminação graciosa do Espírito ao receber, com algum grau de entendimento, a revelação a respeito de coisas que são infinitas. 1.6.4 Uma Iluminação Espiritual é Necessária e Proporcionada Como já afirmamos embora a Bíblia seja expressa em termos muito simples, a sua mensagem, em muitos aspectos, transcende o alcance do entendimento humano; mas uma provisão divina é dada pela qual essas limitações humanas são vencidas. O Espírito de Deus é dado para cada 24 pessoa salva como o Paracleto que habita dentro dela, e proporciona assim um recurso ilimitado tanto para o entendimento quanto para a capacidade de aprender. Cristo, dessa forma, trabalhou nos corações dos dois discípulos que andavam com Ele no caminho de Emaús. O texto declara que Ele não somente abriu as Escrituras diante deles, mas que abriu-lhes o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras (Lc 24.27-32, 45). Igualmente, o segundo Paracleto haveria de ministrar em favor de todos em quem Ele habita. 1.6.5 Um Estudo Paciente e Incansável deve ser Exigido Assim como alguém pode se aventurar a ir cada vez mais longe sem nenhuma esperança de alcançar os seus limites distantes, assim o teólogo sempre é confrontado com um material ilimitado na esfera das doutrinas da Escritura. Tem sido costumeiro para o teólogo passar pelo menos três anos nas salas de aula no estudo da introdução da ciência da Teologia Sistemática e sob a instrução daqueles que, por meio de estudo paciente e experiência, são capazes de guiá-lo nessa pesquisa introdutória. Contudo, o estudo da doutrina bíblica é tarefa para a vida inteira e exige seu tempo e forças. 1.6.6 A Fé Como já foi afirmado, o estudante de Teologia Sistemática é chamado para trabalhar no campo das coisas sobrenaturais. Sua pesquisa é quase toda restrita ao Livro, o qual é inspirado por Deus, e através do poder para compreender a mensagem que esse texto apresenta; ele avança somente na medida em que é capacitado e ensinado pelo Espírito de Deus. Não somente essas coisas são verdadeiras; mas o seu sublime e santo serviço como expositor deste Livro, seja pela palavra oral ou pela incorporação das verdades da mensagem bíblica em sua vida diária, será vantajoso e eficaz somente quando ele ministra essa Palavra no poder de Deus. A Bíblia não é entendida nem recebida pelo homem não-regenerado (1Co 2.14), nem podem as suas revelações mais profundas ser captadas pelos cristãos carnais (1Co 3.1-3). 1.7 Sistemas Teológicos Protestantes Dentro do protestantismo há vários sistemas teológicos. O exame de cada um deles ocuparia mais espaço do que o podemos dispor. Examinaremos, portanto, dois deles que têm se destacado desde a Reforma: o calvinismo e o arminianismo. Atualmente, há muitos outros sistemasteológicos. Três deles serão considerados resumidamente: a teologia da libertação, o evangelicalismo e o pentecostalismo. Essa abordagem seletiva é necessária tanto por causa das limitações de espaço, quanto por causa do relacionamento entre esses sistemas e o estudo que ora fazemos. 25 Teísmo 1.7.1 O Calvinismo O calvinismo deve seu nome e suas origens ao teólogo e reformador francês João Calvino (1509-64). A doutrina central do calvinismo é que Deus é soberano de toda a sua criação. A maneira mais fácil de entender o calvinismo é conhecer as suas cinco teses centrais: a) A total depravação: a raça humana, como resultado do pecado, está tão decaída que nada podemos fazer para melhorarmos ou para sermos aceitos diante de Deus. b) A eleição incondicional: o Deus soberano, na eternidade passada, elegeu (escolheu) alguns membros da raça humana para serem salvos, independentemente da aceitação de sua oferta, que tem como base sua graça e compaixão. c) A expiação limitada: Deus enviou seu Filho para prover a expiação somente para aqueles que Ele elegera. d) A graça irresistível: os eleitos não poderão resistir a sua oferta generosa; serão salvos. e) A perseverança dos santos: uma vez salvos, perseverarão até o fim, e receberão a realidade última da salvação: a vida eterna. 1.7.2 O Arminianismo O teólogo holandês Jacob Arminius (1560-1609) discordou das doutrinas do calvinismo, argumentando que tendem a fazer de Deus o autor do pecado, por ter Ele escolhido, na eternidade passada, quem seria ou não salvo, e negam o livre arbítrio do ser humano, por declararem que ninguém pode resistir à graça de Deus. Os ensinos de Arminius foram resumidos nas cinco teses dos Artigos de Protesto (1610): a) A predestinação depende da maneira de a pessoa corresponder ao chamado da salvação, e é fundamentada na presciência de Deus. b) Cristo morreu em prol de toda e qualquer pessoa, mas somente os que crêem são salvos. 26 c) A pessoa não tem a capacidade de crer, e precisa da graça de Deus. d) A graça pode ser resistida. e) Nem todos os regenerados perseverarão. As diferenças entre o calvinismo e o arminianismo ficam, portanto, claras. Segundo os arminianos, Deus sabe de antemão as pessoas que lhe aceitarão a oferta da graça, e são estas que Ele predestina a compartilhar de suas promessas. Noutras palavras, Deus predestina todos os que, de livre e espontânea vontade, lhe aceitam a salvação outorgada em Cristo, e continuam a viver por Ele. A morte expiatória de Jesus foi em favor de todas as pessoas indistintamente. E a expiação será eficaz para todos quantos aceitarem a oferta da salvação gratuita que Deus a todos faz. Essa oferta pode ser recusada. Se corresponderem à aceitação da graça divina, é por causa da iniciativa dessa mesma graça, e não em virtude da vontade humana. A perseverança depende de se viver continuamente a fé cristã, e há a possibilidade de se desviar da fé, embora Deus não deixe que ninguém caia facilmente. A maioria dos pentecostais tende ao sistema arminiano de teologia tendo em vista a necessidade do indivíduo em aceitar pessoalmente o Evangelho e o Espírito Santo. 1.7.3 A Teologia da Libertação Nascida na América Latina no fim da década de 1960, a teologia da libertação é um "movimento difuso" de vários grupos dissidentes (negros, feministas etc.). Seu interesse primário é a reinterpretação da fé cristã do ponto de vista dos pobres e dos oprimidos. Os proponentes dessa teologia alegam que o único evangelho que lida corretamente com as necessidades desses grupos é o que proclama a libertação destes da pobreza e da opressão. A mensagem dos defensores dessa teologia é a condenação dos ricos e dos opressores, e a libertação dos pobres e dos oprimidos. Um dos alvos principais da teologia da libertação é a questão da prática: a teologia deve ser posta em prática, e não apenas aprendida. Isto é: a essência do seu esforço é empenhar, se na renovação da sociedade a fim de libertar os pobres e oprimidos de suas circunstâncias. Para se alcançar esse alvo, seus elaboradores freqüentemente são obrigados a interpretar as Escrituras fora de seu contexto, além de em, pregar métodos que, na maioria das vezes, são considerados marxistas ou revolucionários. 27 Teísmo 1.7.4 O Evangelicalismo O sistema teológico conhecido como evangelicalismo tem hoje uma influência mui considerável. Com a formação da Associação Nacional dos Evangélicos em 1942, um novo ímpeto foi dado às doutrinas desse sistema. E estas têm sido aceitas por membros de muitas denominações cristãs. O próprio nome revela-nos uma das preocupações centrais do sistema: a comunicação do evangelho ao mundo inteiro. Essa comunicação conclama os indivíduos à fé pessoal em Jesus Cristo. As expressões teológicas do evangelicalismo provêm, indistintamente, de arraiais calvinistas e arminianos. Declaram que o evangelicalismo nada mais é que o mesmo sistema de fé ortodoxa que se achava primeiramente na Igreja Primitiva. A agenda social do evangelicalismo conclama os fiéis a agirem em prol da justiça, na sociedade, bem como da salvação das almas. 1.7.5 O Pentecostalismo Em sua maior parte, a teologia pentecostal encaixa-se confortavelmente nos limites do sistema evangélico. Por outro lado, os pentecostais levam a sério a operação do Espírito Santo como comprovação da veracidade das doutrinas da fé, e para outorgar poder à proclamação destas. Esse fato leva freqüentemente à acusação de que os pentecostais baseiam-se exclusivamente na experiência. Tal acusação não procede; o pentecostal considera que a experiência produzida pela operação do Espírito Santo acha- se abaixo da Bíblia no que tange à autoridade. A experiência corrobora , enfatiza e confirma as verdades da Bíblia, e essa função do Espírito Santo é importante e crucial. 1.8 A Necessidade da Teologia (a) O Instinto Organizador do Intelecto O intelecto humano não se contenta com uma simples acumulação de fatos: invariavelmente busca uma unificação e sistematização de seu conhecimento. A mente não se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo; ela deseja conhecer as relações entre estas pessoas e coisas e organizar suas descobertas em forma de sistema. (b) A Natureza das Escrituras A Bíblia é para o teólogo o que a natureza é para o cientista, um conjunto de fatos desorganizados ou apenas parcialmente organizados. Deus não achou necessário escrever a Bíblia numa forma de Teologia Sistemática; é nossa 28 tarefa, portanto, ajuntar os fatos dispersos e colocá-los sob a forma de um sistema lógico. Veja como exemplo a doutrina da pessoa de Cristo: Jo 1.1- 18; Fp 2.5-11; Cl 1.15-19; Hb 1.1-4. É necessário, portanto, se quisermos conhecer todos os fatos a respeito de qualquer assunto, ajuntar os ensinamentos dispersos e colocá-los em sistema lógico e harmonioso. (c) A Natureza difundida da descrença de nossos Dias Os perigos que ameaçam a igreja vêm não da ciência, mas sim da filosofia. Nossas universidades, faculdades e seminários estão, na maioria, saturados de ateísmo, agnosticismo, e panteísmo. Alguns deles são unitarianos. Através daqueles que se formam nessas instituições, as escolas públicas, os jornais, revistas, rádios e as muitas organizações sociais, comerciais, políticas e fraternais, têm esses ensinamentos infundidos em todos os níveis da vida social. Os mais bem instruídos destes têm um conjunto de idéias relativamente completo com relação as coisas que os interessam mais de perto. Daí a necessidade que a igreja tem de mostrar a eles que a Bíblia é uma solução melhor para seus problemas que aquela que eles adotaram; que ela tem a resposta para muitos problemas que suas “filosofias” nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visão plena e consistente do mundo e da vida. O homem que não possui umsistema organizado de pensamento está à mercê daquele que o tem. Em outras palavras, temos a obrigação de ajuntar todos os fatos revelados sobre um dado assunto ou organizá-los sob a forma de um sistema harmonioso se quisermos enfrentar aqueles que estão profundamente arraigados em algum sistema filosófico de pensamento. (d) As condições para o serviço cristão eficaz Há em muitas igrejas, hoje em dia, uma aversão a pregações doutrinárias. O pastor sente que as pessoas exigem algo que seja oratório, que suscite emoções e que não requeira concentração de pensamento. Infelizmente, algumas congregações são assim, mas Cristo e os apóstolos pregavam doutrina (Mc 4.2; At 2.42; 2Tm 3.10), e somos exortados a pregar a doutrina (2Tm 4.2; Tt 1.9). Pregação oratória, textual ou atual pode prender a congregação ao pregador, mas quando o pregador for embora, o povo vai também. Tem sido freqüentemente demonstrado que é apenas na medida em que as pessoas forem completamente instruídas na Palavra de Deus que elas se tornarão cristãos firmes e trabalhadores eficazes por Cristo. Há, assim, uma relação definitiva entre a pregação doutrinária e o serviço cristão eficaz. 29 Teísmo 1.9 A Possibilidade da Teologia Nunca poderíamos conhecer a Deus se ele não se revelasse a nós. O que é revelação? É o ato de Deus pelo qual Ele se mostra ou comunica verdade à mente; pelo qual Ele torna manifesto às Suas criaturas aquilo que não pode ser conhecido de nenhuma outra maneira. Há duas espécies de revelação: Geral e Especial. Vamos considerá-las brevemente. a) A revelação geral de Deus Ela é encontrada na natureza, na história e na consciência. É comunicada por meio de fenômenos naturais que ocorrem na natureza ou no decorrer da história; é endereçada a todas as criaturas inteligentes de modo geral, e é acessível a todas estas; tem por objetivo suprir a necessidade natural do homem e a persuasão da alma para buscar o Deus verdadeiro. Vejamos cada uma das três formas desta revelação. b) A revelação de Deus na natureza Os homens em geral sempre vêem na natureza uma revelação de Deus. Os mais bem dotados muitas vezes expressaram suas convicções em linguagem semelhantes a dos salmistas, dos profetas e dos apóstolos (Sl 8.1,3; 19.1,2; Is 40.12-14,26; At 14.15-17; Rm 1.19,20). Muitos homens extraordinários no campo das ciências naturais e biológicas testificaram quanto a convicção de que a natureza revela Deus. c) A revelação de Deus na história O salmista faz a arrojada asserção de que os destinos dos reis e impérios estão nas mãos de Deus. “Porque não é do Oriente, não é do Ocidente, nem do deserto que vem o auxílio. Deus é o juiz; a um abate a outro exalta”. (Sl 75.6,7; Rm 13.1). E Paulo declara que “Deus de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando o possam achar” (At 17.26,27). A Bíblia fala igualmente de como Deus lidou com o Egito (Êx 9.13-17; Rm 9.17), Assíria (Is 10.12-19; Ez 31.1-14), Babilônia (Jr 50.1-16; 51.1-4), Medo-Pérsia (Is 44.24- 45.7) e o império Romano (Dn 7.7,23). Mostra também que apesar de Deus poder, para seus próprios sábios e santos propósitos, permitir que uma nação mais ímpia triunfe sobre uma menos ímpia, Ele no fim tratará a mais ímpia com maior severidade, do que a menos ímpia (Hc 1.1; 2.20). 30 d) A revelação de Deus na consciência Não faremos aqui um tratado sobre consciência, abordaremos apenas o necessário para o nosso entendimento. Basta dizer que a consciência não é inventiva, mas sim discriminativa e impulsiva. Ela julga se um curso de ação proposto em uma atitude está ou não em harmonia com nossos padrões morais e insta conosco para fazermos aquilo que estiver em harmonia com eles e a nos abstermos de participar daquilo que for contrário a eles. É a presença no homem desta ciência do que é certo e errado, deste algo discriminativo e impulsivo que constitui a revelação de Deus. Não é auto- imposta, como fica evidenciado pelo fato de que o homem freqüentemente se livraria de suas opiniões se pudesse; é o reflexo de Deus na alma. Da mesma maneira que o espelho e a superfície tranqüila do lago refletem o sol e revelam não apenas a sua existência, mas também até certo ponto sua natureza, assim a consciência no homem revela a existência de Deus e, até certo ponto, a natureza de Deus. e) A revelação especial de Deus Como revelação especial queremos dizer aqueles atos de Deus pelos quais Ele dá a conhecer a Si próprio e a sua verdade em momentos especiais e específicos. É dada ao homem de várias maneiras: na forma de milagres e profecia, na pessoa e trabalho de Jesus Cristo, nas Escrituras e na experiência pessoal. f) A revelação de Deus em milagres Um milagre genuíno é um acontecimento fora do comum, que realiza uma obra útil e revela a presença e o poder de Deus (Êx 4.2-5; 1Rs 18.24; Jo 5.36; At 2.22). Um milagre é um acontecimento fora do comum por não ser o mero produto das chamadas leis naturais. Milagres genuínos são revelações especiais da presença e do poder de Deus. Provam Sua existência, cuidado e poder. São ocasiões nas quais Deus como que sai de seu esconderijo e mostra ao homem que é um Deus vivo, que ainda está no trono do universo e que é suficiente para todos os problemas do homem. Se um milagre não produz essa convicção no tocante a Deus, então provavelmente não é um milagre genuíno. g) A revelação de Deus na profecia Usamos profecia aqui para indicar a predição de acontecimentos, não por virtude de mera percepção ou presciência humana, mas através de uma comunicação direta de Deus. Vejamos algumas predições acerca de Cristo que já foram cumpridas. Cristo deveria ser: nascido de uma virgem (Is 7.14; 31 Teísmo Mt 1.23); da semente de Abraão (Gn 12.3; Gl 3.8); da tribo de Judá (Gn 49.10; Hb 7.14); da linhagem de Davi (Rm 1.3). Ele deveria: nascer em Belém (Mq 5.2; Mt 2.6); entrar em Jerusalém montado em um asno (Zc 9.9; Mt 21.4,5); ser vendido por trinta moedas de prata (Zc 11.12,13; Mt 26.15; 27.9,10). Ele seria: “Abandonado por Deus” (Sl 22.1; Mt 27.46); enterrado com os ricos (Is 53.9; Mt 27. 57-60). h) A Revelação de Deus em Jesus Cristo Ao mundo gentio. A revelação geral de Deus não levou o mundo gentio a uma apreensão clara da existência de Deus, da natureza de Deus ou da vontade de Deus. Paulo reclama disto em uma passagem clássica (Rm 1.20- 23). Mesmo a filosofia não deu aos homens uma concepção verdadeira de Deus. Paulo assim fala da sabedoria do mundo: “Na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu por sua própria sabedoria” (1Co 1.21), e declara a verdadeira sabedoria: “nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da Glória” (1Co 2.8). Apesar de a revelação geral de Deus na natureza, na história, na consciência, o mundo gentio voltou-se para a mitologia, o politeísmo e a idolatria. Uma revelação mais plena se fazia grandemente necessária. A Israel. Tão pouco as outras revelações especiais de Deus nos milagres, profecia e teofania levaram Israel a um conhecimento real da natureza e da vontade de Deus. Israel cria na existência do Deus vivo e verdadeiro, mas possuía noções muito imperfeitas e até pervertidas a respeito dEle. Considerava-o principalmente o Grande Legislador e Juiz que insistia no cumprimento escrupuloso da letra da lei, mas que pouco se preocupava com a condição interior do coração e a prática da justiça, misericórdia e fé (Mt 23.23-28); como Aquele que tinha de ser aplacado com sacrifícios e persuadido com holocaustos, mas que não precisava de um sacrifício infinito e não aborrecia verdadeiramente o pecado (Is 1.11-15; Mt 9.13; 12.7; 15.7-9; 23.32-36); como Aquele que fez da descendência de Abraão a única condição para o Seu favor ebênção e que considerava os gentios inferiores a eles (Mt 3.8-12; 12.17-21; Mc 11.17). Israel necessitava também de uma revelação mais plena de Deus. E a temos na Pessoa e Missão de Jesus Cristo. Cristo é o centro da história e da revelação de Deus. O escritor aos Hebreus diz: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo filho” (Hb 1.1,2); e diz que Ele é o “resplendor da glória e a expressão exata do Seu ser” (Hb 1.3). Paulo diz que Ele é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), e diz que “nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). João diz: “Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai é quem O revelou” (Jo 1.18). E o próprio Jesus disse: “Ninguém conhece 32 o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o filho, e aquele, a quem o Filho quiser revelar”(Mt 11.27); ainda mais: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Conseqüentemente, a igreja tem, desde o princípio, visto em Cristo a Suprema revelação do Pai. i) Uma revelação tríplice Parece termos em Cristo uma revelação tríplice de Deus: Uma revelação de Sua existência, de Sua natureza e de Sua vontade. Ele é a melhor prova da existência de Deus, pois viveu a vida de Deus entre os homens. Ele tinha não apenas plena consciência da presença do Pai em sua vida e constante comunhão com Ele (Jo 8.18, 28,29; 11.41; 12.28), como também provava por meio de Suas reivindicações (Jo 8.58; 17.5), Sua vida sem pecados (Jo 8.46), Seus ensinamentos (Mt 7.28,29; Jo 7.46), obras (Jo 5.36; 10.37,38; 15.24), posições e prerrogativas (Mt 9.2,6), e relações com o Pai (Mt 28.19; Jo 10.38) que Ele próprio era Deus. Ele revelou a santidade absoluta de Deus (Jo 17.11,25), o profundo amor de Deus (Jo 3.14-16), a Paternidade de Deus, não, em verdade, de todos os homens, mas dos crentes verdadeiros (Mt 6.32; 7.11) e a natureza espiritual de Deus (Jo 4.19-26). Ele revelou também a vontade de Deus; de que todos se arrependam (Lc 13.1-5), creiam nEle (Jo 6.28,29), sejam perfeitos como o Pai é perfeito (Mt 5.48), e que os crentes levem o Evangelho a todo o mundo (Mt 28.19,20). j) A revelação de Deus nas Escrituras Tem sido sempre afirmado pelo crente verdadeiro que temos na Bíblia uma revelação de Deus, certamente a revelação mais clara e a única que é infalível. Ela registra o conhecimento de Deus e de Seu relacionamento com a criatura. O cristão volta-se para as Escrituras como a única fonte suprema e infalível para a construção da sua teologia. l) A revelação de Deus na experiência pessoal Homens de todas as idades têm professado ter comunhão direta com Deus. Declaram que o conheceram, não simplesmente através da natureza, história e consciência, não apenas por meio dos milagres e profecias, mas também por experiência pessoal direta. Foi assim nos tempos do Velho Testamento. Enoque e Noé andaram com Deus (Gn 5.21-24; 6.9); Deus falou a Noé (Gn 6.13); a Abraão (Gn 12.1-3) e a muitos outros. Da mesma maneira, no Novo Testamento Deus falou a Jesus (Mt 3.16,17) etc. 33 Teísmo Capítulo 2 A Doutrina de Deus 2.1 O Único e Verdadeiro Deus Muitas teologias sistemáticas do passado tentaram classificar os atributos morais e a natureza de Deus. O Supremo Ser, porém, não se revelou simplesmente para transmitir-nos conhecimentos teóricos a respeito de si mesmo. Pelo contrário: a revelação que Ele fez de si mesmo está vinculada a um desafio pessoal, a uma confrontação e a oportunidade de o homem reagir positivamente a essa revelação. Isso fica evidente quando o Senhor se encontra com Adão, com Abraão, com Jacó, com Moisés, com Isaías, com Maria, com Pedro, com Natanael e com Marta. Juntamente com estas e muitas outras testemunhas (Hb 12.1), podemos testificar que estudamos a fim de conhecê-lo experimentalmente, e não somente para saber a respeito dEle. "Celebrai com júbilo ao SENHOR, todos os moradores da terra. Servi ao SENHOR com alegria e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o SENHOR é Deus" (Sl 100.1,3). Todos os textos bíblicos que examinarmos devem ser estudados com um coração disposto à adoração, ao serviço e à obediência ao Único e Verdadeiro Deus. Nossa maneira de compreender a Deus não deve basear-se em pressuposições a respeito dEle, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo contrário: devemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós através das Escrituras. O ser humano tende a criar falsos deuses, nos quais é fácil crer; deuses que se conformam com o modo de viver e com a natureza pecaminosa do homem (Rm 1.21,25). Essa é uma das características das falsas religiões. 2.2 A Existência de Deus A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova racional quanto à existência de Deus! Pelo contrário: ela já começa tomando a sua existência como pressuposição básica: "No princípio, Deus" (Gn 1.1). Deus existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia, há evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado "disseram os néscios no seu coração: Não há Deus" (SI 14.1); por outro: "os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos" (SI 19.1). Deus se tornou conhecido mediante o seu ato de criar e de sustentar tudo quanto existe. Ele 34 dá vida, alento (At 17.24-28), alimento e alegria (At 14.17). Essas ações são acompanhadas por palavras que interpretam o seu significado e relevância, fornecendo um registro que explica sua presença e propósito. Deus também revela a sua existência através do ministério dos profetas, sacerdotes, reis e servos fiéis. Finalmente, Deus se revelou claramente a nós mediante o Filho e por intermédio do Espírito Santo que em nós habita. Os que, entre nós, acreditam que Deus haja se revelado nas Escrituras, descrevem a Deidade única e verdadeira tendo como base sua auto- revelação. Vivemos, todavia, num mundo que, via de regra, não aceita esse conceito da Bíblia como fonte primária de informação. E são muitas as pessoas que preferem confiar na engenhosidade e percepção humanas para lograrem alcançar uma descrição particular da Deidade. Sob o ponto de vista secular de se entender a história, a ciência e a religião, a teoria da evolução tem sido aceita por muitos como fato fidedigno. Segundo essa teoria, à medida que os seres humanos foram evoluindo, também evoluíram suas crenças religiosas e seus modos de expressá-las. A religião é apresentada como um movimento que parte de práticas e crenças simples para as mais complexas. Os seguidores da teoria da evolução dizem que a religião começa no nível do animismo - a crença de que poderes sobrenaturais, ou espíritos desencarnados, habitam nos objetos naturais e físicos. Tais espíritos, segundo suas próprias vontades malignas, teriam influência sobre a vida humana. O animismo evoluiu-se até transformar-se no politeísmo simples, no qual certos poderes sobrenaturais são considerados deidades. O passo seguinte, ainda segundo os evolucionistas, é o henoteísmo: uma das deidades atinge uma posição de supremacia sobre todos os demais espíritos, e é adorada em detrimento das outras. Segue-se a monolatria, quando as pessoas optam por adorar um só dos deuses, sem, porém, negar a existência dos demais. A conclusão lógica (segundo essa teoria) é o monoteísmo que surge somente quando as pessoas evoluem-se ao ponto de negar a existência de todos os demais deuses e de adorar uma única deidade. As pesquisas realizadas pelos antropólogos e pelos missiologistas neste século, demonstram com clareza que essa teoria não é corroborada pelos fatos históricos, nem pelo estudo cuidadoso das culturas "primitivas" contemporâneas. Quando os seres humanos criam um sistema de crenças segundo seus próprios desígnios, ele não tende a se desenvolver em direção ao monoteísmo, mas, sim, ao animismo e à crença em vários deuses. A tendência é cair no sincretismo,acrescentando-se a estes deidades recém descobertas ao conjunto das que já são adoradas. 35 Teísmo Em contraste com a evolução, temos a revelação. Servimos a um Deus que tanto age quanto fala. O monoteísmo não é o resultado do caráter humano evolucionário, mas do desvendamento que Deus fez de si mesmo. A revelação divina é progressiva na sua natureza à medida que Deus se revelou através dos registros bíblicos. Já no dia de Pentecostes, após a ressurreição e ascensão de Cristo, temos a prova de que Deus realmente se manifesta ao seu povo em três Pessoas distintas. Nos tempos do Antigo Testamento, porém, a prioridade era estabelecer o fato de que há um só Deus em contraste com os inúmeros deuses cultuados pelos vizinhos de Israel, em Canaã, no Egito e - na Mesopotâmia. Através de Moisés, essa verdade foi proclamada: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4). A existência de Deus e a sua atividade contínua não dependiam do seu relacionamento com qualquer outro deus, ou criatura. Pelo contrário: nosso Deus podia simplesmente "ser", optando por chamar o homem a estar ao seu lado (não porque Ele precisasse de Adão, mas porque este precisava de Deus). 2.3 Evidências Racionais da Existência de Deus No transcurso dos tempos, filósofos e pensadores têm buscado na teologia, argumentos racionais sobre a existência de Deus. Alguns desses argumentos vêm de Platão e Aristóteles, filósofos gregos que viveram há mais de 300 anos a.C. Outros argumentos foram formulados nos tempos modernos pelos estudiosos da filosofia da religião. Desses argumentos, vamos mencionar aqui os mais comuns. 2.3.1 O Argumento Ontológico O Argumento Ontológico tem sido apresentado sob diversas formas, por diferentes pensadores. Em sua mais refinada forma, foi apresentado por Anselmo, teólogo e filósofo agnosticista, de origem italiana. Seu argumento é que o homem tem imanente em si, a idéia de um ser absolutamente perfeito e, por conseguinte, deve existir um ser absolutamente perfeito. Este argumento admite que existe na mente do próprio homem o conhecimento básico da existência de Deus, posto lá pelo próprio criador. 2.3.2 O Argumento Cosmológico Este argumento tem sido apresentado de várias formas. Em geral encerra a idéia de que tudo o que existe no mundo, deve ter uma causa primária ou razão de ser. Emanuel Kante, filósofo alemão, indicou que se tudo que existe tem uma razão de existir, isto deve ter um ponto de origem em Deus. Assim sendo, deve haver um Agente único que equilibra e harmoniza em si todas as coisas. 36 2.3.3 O Argumento Teleológico O argumento teleológico pode ser enunciado assim: Ordem e organização útil em um sistema evidenciam inteligência e propósito na causa que o originou; o universo é caracterizado por ordem e organização útil; portanto, o universo tem uma causa inteligente e livre. A premissa principal é sugerida em Sl 94.9 “O que fez o ouvido, acaso não ouviria? O que formou os olhos será que não enxerga?” Tem sido, em verdade, alegado que pode haver ordem e organização útil sem plano, isto é, essas coisas podem resultar de operação da lei do acaso. Mas a natureza dependente das leis da natureza exclui a primeira idéia. Essas leis não são auto-originadas nem auto-sustentadas; elas pressupõem um legislador e alguém que sustente a lei. A lei da gravitação, por exemplo, não é auto-explicativa; ainda perguntamos “Por que ela age dessa maneira?” E a doutrina matemática das probabilidades desqualifica a última. Shedd diz: “A probabilidade da matéria agir desta maneira não é uma em milhões. A adaptação natural, baseada nesta teoria, seria um fenômeno tão raro quanto um milagre”. Em suma, o argumento teleológico concentra-se na evidência da harmonia, da ordem e do planejamento no universo, e argumenta que esse planejamento dá provas de um propósito inteligente (a palavra grega telos significa "fim", "meta" ou "propósito"). Como o universo parece ter sido planejado com um propósito, deve necessariamente existir um Deus inteligente e determinado que o criou para funcionar assim. 2.3.4 O Argumento Moral Este, como os outros argumentos, também têm diversas formas de expressão. Kante partiu do raciocínio que deduz a existência de um Supremo Legislador e Juiz, com absoluto direito de governar e corrigir o homem. Este filósofo era da opinião de que este argumento era superior a todos os demais. No seu intuito de provar a existência de Deus, ele recorria a este argumento. A teologia moderna utiliza este argumento afirmando que o reconhecimento por parte do homem de um bem supremo e do seu anseio por uma moral superior, indicam a existência de Deus que podem converter esse ideal em realidade. 2.3.5 O Argumento Histórico A exposição principal deste argumento é a seguinte: entre todos os povos e tribos da terra é comum a evidência de que o homem é um ser religioso em potencial. Sendo universal este fenômeno, isso deve ser parte constituinte da natureza do homem. E se a natureza do homem tende à prática religiosa, isto 37 Teísmo só encontra explicação num ser superior que originou uma tal natureza que sempre indica ao homem um ser superior. E aqui milhões, por ignorarem o único e verdadeiro Deus, praticam as religiões mais estranhas e deturpadas. E o anseio da alma na busca do criador que ela ignora, por ter dele se afastado conforme Romanos 1.20-23. 2.3.6 O Argumento Antropológico O argumento antropológico segue a mesma ordem a posteriori seguida pelos dois argumentos precedentes, mas diferindo do argumento cosmológico que considera todo o cosmos, e o argumento teleológico que observa o elemento do plano manifesto em todo o universo, o argumento antropológico restringe- se ao campo da evidência, quanto à existência de Deus e Suas qualidades, que deve ser extraída da constituição do homem. Há aspectos filosóficos e morais na constituição do homem que podem ser encontrados para buscar a sua origem em Deus, e nessa base este argumento criou o argumento filosófico ou o argumento moral. Mas, considerando que a latitude compreendida no argumento é o todo do ser humano, a designação todo- inclusiva, argumento antropológico, é a mais satisfatória. Com base no princípio declarado pelo Salmista, "O que fez o ouvido, acaso não ouvirá? e o que formou os olhos, será que não enxerga?", o argumento antropológico indica que os elementos que são reconhecidos como propriedades inatas ao homem devem ser possuídas pelo seu Criador. Como base de prova, a constituição orgânica do homem pertence ao argumento teleológico, mas há aspectos específicos no ser humano que fornecem provas excepcionais da finalidade divina, e elas ficam devidamente expostas no argumento antropológico. No começo de suas considerações sobre o argumento antropológico, o Dr. A. A. Hodge declara: O argumento cosmológico leva-nos a uma Causa Primeira eterna e auto- existente. O argumento da ordem e da adaptação descoberto no processo do universo revelou esta grande Causa Primeira como possuidora de inteligência e vontade; isto é, como um espírito pessoal. O argumento moral ou antropológico fornece novos dados por inferência, imediatamente confirmando as primeiras conclusões quanto ao fato da existência de uma Causa Primeira inteligente e pessoal, e ao mesmo tempo acrescentando ao conceito os atributos de santidade, justiça, bondade e verdade. O argumento a partir do plano inclui o argumento a partir da causa, e o argumento a partir da justiça e benevolência inclui os dois argumentos a partir da causa e do plano, e acrescenta-lhes um novo elemento seu próprio (Outlines of Theology, p. 41). O homem é composto daquilo que é material e daquilo que é imaterial, e estas duas partes constituintes não são relacionadas. A matéria possui os 38 atributos de extensão, forma, inércia, divisibilidade e afinidade química; enquantoque a parte imaterial do homem possui os atributos de pensamento, de razão, de sensibilidade, de consciência e de espontaneidade. Se fosse possível explicar a origem da parte física do homem através de uma teoria de desenvolvimento natural (o que não acontece), o imaterial, quanto à sua origem, permaneceria um problema insolúvel à parte do reconhecimento de uma causa suficiente. Embora em sua estrutura orgânica geral, a parte material do homem seja semelhante à estrutura das formas mais elevadas dos animais, ela é tão refinada que supera todos os aspectos da criação material. A mão do homem executa os elevados desígnios de sua mente de todas as maneiras na construção e na arte; sua voz atende às exigências de uma mente nobre para falar; seu ouvido ouve e seu olho vê os reinos da realidade além e de maneira diferente do animal. O corpo humano é, portanto, uma prova específica de um Criador, uma vez que não pode ser explicado de outra maneira. A parte imaterial do homem, que incorpora os elementos da vida, do intelecto, da sensibilidade, da vontade, da consciência e da crença inerente em Deus, apresenta uma exigência ainda mais insistente de uma causa adequada. A vida não pode evoluir da matéria inerte, e embora o evolucionista reivindique remontar tudo que agora existe à origem de uma neblina gasosa original, ou ao protoplasma, todas estas formas de vida, de acordo com esta teoria, deveriam estar presentes na forma latente nessa alguma coisa original. Essas teorias não comprovadas não deveriam ser toleradas em nenhum campo de investigação e não ser naquele onde as trevas da mente natural demonstraram sua incapacidade de aceitar as coisas de Deus. Além disto, a inteligência do homem com suas realizações nas descobertas, nas invenções, na ciência, na literatura e nas artes, exige com implacável insistência uma causa adequada. Semelhantemente e sob a mesma compulsão inflexível, tanto a sensibilidade como a vontade, com suas capacidades transcendentes, exigem uma causa digna. E, finalmente, a consciência como também a crença inerente, em Deus não podem ser explicadas em nenhuma outra base que não seja que o homem veio de Alguém que possuía todos estes atributos em um grau infinito. Uma força cega, por mais excepcional que fosse, jamais poderia produzir um homem com intelecto, sensibilidade, vontade, consciência e crença inerente em um Criador. O produto de uma força cega jamais se aplicaria na busca da arte e da ciência, e na adoração a Deus. De acordo com a teoria da evolução do desenvolvimento natural, a criatura é o efeito de uma causa natural e foi moldada e formada de acordo com as forças sobre as quais não tinha controle; mas, subitamente, este efeito se 39 Teísmo levanta e exerce autori-dade e poder sobre a própria natureza que supostamente a produziu, e coloca todos os recursos naturais ao serviço de seu propósito e sua vontade. Não seria pertinente perguntar quando o homem se tornou o senhor da criação que supostamente o criou? "Seria possível conceber", pergunta Janet: Que o agente assim dotado de poder de coordenar a natureza para os fins seja ele mesmo um simples resultado que a natureza realizou, sem se propor a um fim? Não é uma espécie de milagre admitir na série mecânica dos fenômenos um elo que subitamente tivesse o poder de reverter, de alguma forma, a ordem das séries, e que, sendo ele mesmo apenas o resultado conseqüente de um número infinito de antecedentes, impuzesse a partir daí sobre as séries esta nova e imprevista lei, que faz da conseqüente a lei e a regra da antecedente?" (Final Causes, p. 149, 150, citadas por Miley,Systematic Theology, I, p. 103.) Escrevendo sobre os aspectos morais do argumento antropológico, o Dr. Augustus H. Strong declara: O argumento é complexo e pode ser dividido em três partes. 1. A natureza intelectual e moral do homem deve ter como autor um Ser intelectual e moral. Os elementos da prova são os seguintes: a) O homem, como um ser intelectual e moral, iniciou a sua vida sobre o planeta. b) Forças materiais e inconscientes não fornecem uma causa suficiente para a razão, a consciência e a vontade livre do homem. c) O homem, como um efeito, só pode ser atribuído a uma causa possuindo autoconsciência e uma natureza moral, em outras palavras, personalidade [...] 2. A natureza moral do homem prova a existência de um Legislador e Juiz santo. Os elementos da prova são: a) A consciência reconhece a existência de uma lei moral que tem autoridade suprema. b) Violações conhecidas desta lei moral são seguidas por sentimentos de demérito e temores de julgamento. c) Esta lei moral, considerando que não é auto-imposta, e estas ameaças de julgamento, considerando que não são auto-executantes, provam respectivamente a existência de uma vontade santa que impôs a lei, e de um poder punitivo que executará as ameaças de natureza moral [...] 3. A natureza emocional e voluntária do homem prova a existência de um Ser que pode fornecer em si mesmo um objeto de satisfação do afeto humano e um fim que convocará as atividades mais nobres do homem e garantirá o seu mais nobre progresso. Apenas um Ser de poder, de sabedoria, de santidade e de bondade, e tudo isso infinitamente maior do que qualquer coisa que conhecemos sobre a terra, pode atender a esta procura da alma humana. Tal Ser tem de existir. Caso contrário a maior necessidade humana ficaria insatisfeita, e a crença em uma mentira seria mais produtora de virtude do que a crença na verdade. (Systematic Theology, p. 45,46). 40 2.4 Os Nomes Bíblicos de Deus O nome é uma das mais fortes evidências da personalidade de um ser. Os nomes bíblicos de pessoas e lugares são geralmente significativos, e isto não é diferente para com os nomes de Deus. O dicionário de Webster define “nome” como “aquilo pelo qual a pessoa ou coisa é conhecida”. Os hebreus consideravam os nomes como uma revelação, encerrando algum atributo ou característica da pessoa nomeada. Por exemplo, o nome “Adão” significa “da terra” ou “tirado da terra vermelha”; o seu nome revela a sua origem. As Escrituras contêm vários nomes para Deus, pois nem um só nome nem uma multiplicidade de nomes podem revelar todos os seus atributos. Os muitos nomes de Deus nas Escrituras apresentam uma revelação adicional de seu caráter. Não são meros títulos dados pelas pessoas, mas, em sua maioria, descrições que ele fez de si mesmo. Sendo assim, revelam aspectos de seu caráter. Mesmo quando nenhum nome em particular é usado, a ocorrência da frase "o nome do Senhor" revela algo a respeito de seu caráter. Invocar o nome do Senhor era o mesmo que adorá-Io (Gn 21.33). Usar seu nome em vão era desonrá-Io (Êx 20.7). Não seguir os requerimentos da Lei equivalia a profanar o nome do Senhor (Lv 22.2-32). Os sacerdotes realizavam seu serviço em nome do Senhor (Dt 21.5). Seu nome era a garantia da continuidade da nação (1Sm 12.22). 2.4.1 Jeová (YHWH - Yahweh) Jeová é o nome para o Senhor Deus que ocorre com mais freqüência no AT (5.321 vezes). A forma hebraica verdadeira da palavra era YHWH (o alfabeto hebraico não possui vogais). Não sabemos realmente como os hebreus pronunciavam o nome (provavelmente Yahweh (Iavé), a transliteração grega de iaoue). Em vista dos Mandamentos proibirem que tomassem o nome do Senhor em vão, os hebreus temiam pronunciar o nome de Yahweh, substituindo-o na leitura pela palavra Adonai. Jeová é um dos nomes mais importantes pelos quais Deus tem feito conhecer no seu relacionamento com o homem. Foi por esse nome e suas várias combinações que Ele se revelou ao homem nos dias do Antigo Testamento. Tudo o que significa para nós o nome de Jesus, significa Jeová para o antigo Israel. Jeová é Deus em relação a aliança com aqueles que por Ele foram criados. Jeová, pois, significa o Ser único e imutável, que é, e que há de vir. É o Deus de Israel e o Deus daqueles que são remidos; pelo que