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In t r o d u ç ã o ao Novo Testamento INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO HISTÓRIA, LITERATURA E TEOLOGIA V olume I QUESTÕES INTRODUTÓRIAS DO NOVO TESTAMENTO E ESCRITOS PAULINOS M. EUGENE BORING INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO HISTÓRIA, LITERATURA E TEOLOGIA QUESTÕES INTRODUTÓRIAS DO NOVO TESTAM ENTO E ESCRITOS PAULINOS Tradutores: Adenilton Tavares Aguiar Darcy Propodolski Pinto Diego Rafael da Silva Barros Santo André - SP 2016 V o l u m e I ACADEMIA CRISTà PAULUS ©byW JK Press © by Editora Academia Cristã Título do original inglês: An Introduction to the New Testament Editores: Paulo Cappelletti Luiz Henrique Rico Diagramação: Cicero Silva - (11) 94983-5964 Revisão: Darcy Propodolski Pinto Capa: James Valdana Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Boring, M. Eugene. Introdução ao Novo Testamento: história, literatura, teologia / M. Eugene Boring; tradução Adenilton Tavares Aguiar. - Santo André (SP): Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2015. ISBN 978-85-98481-94-4 (v. 1) 1. Bíblia - N.T. - Introdução. 2. Novo Testamento - Introdução. I. Título. CDD -225.61 índices para catálogo sistemático: 1. Bíblia - N.T. - Introdução - 225.61 2. Novo Testamento - Introdução - 225.61 ACADEMIA CRISTà PAULUS Editora Academia C rista Av. da Paz, 78 - Cam pestre CEP 09080-607 - Santo André - SP Tels./Fax: (11) 4424-1204 - 4901-5430 - 2857-0347 - 4421-8170 E-m ail: academ iacrista@globo.com Site: w w w .editoraacadem iacrista.com .br Tels.: (11) 5087-3700 - Fax: (11) 5579-3627 E-mail: editorial@paulus.com.br Site: www.paulus.com.br Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 -Sào Paulo-SP Paulus Editora mailto:academiacrista@globo.com http://www.editoraacademiacrista.com.br mailto:editorial@paulus.com.br http://www.paulus.com.br Sumário Lista de Ilustrações Lista de Quadros.... Prefácio................... Abreviaturas.......... ...XIV .XVII XVIII XXIII 1 O que é o Novo Testamento?................................................... 1.1 "Testamento".............................................................................. 1.2 "Novo".......................................................................................... 1.3 "Novo Testamento"................................................................... 1.4 O Novo Testamento como Epístola e Evangelho................. 1.4.1 Ambos os gêneros fundamentais da literatura do Novo Testamento são formas narrativas........................ 1.5 O Novo Testamento como Narrativa...................................... 1.5.1 A figura central do Novo Testamento é uma figura histórica, um ser humano que viveu e morreu no mundo da história atual.................................................................... 1.5.2 Do início ao fim, a Bíblia é uma história deste mundo.... 1.5.3 A Bíblia projeta uma macronarrativa que envolve suas histórias individuais de uma maneira abrangente....... 1.6 Para leitura adicional................................................................. 1 2 5 6 9 11 12 13 13 14 15 2 Formação: "O Novo Testamento como o livro da Igreja"... 17 2.1 O Novo Testamento é o livro da igreja no sentido de que ela o escreveu.............................................................................. ^ VIII Introdução ao N ovo Testamento 2.2 O Novo Testamento é o livro da igreja no sentido de que a igreja o selecionou........................................................... 20 2.2.1 Esboço histórico................................................................. 22 2.2.2 Reflexões Teológicas.......................................................... 29 2.3 O Novo Testamento é o livro da igreja no sentido de que a igreja o editou............ :................................................ 33 2.4 Para leitura adicional................................................................. 37 3 Crítica Textual: dos manuscritos ao texto eletrônico......... 39 3.1 Materiais para a reconstrução do texto do Novo Testamento....................................................................... 39 3.2 As variações e suas causas........................................................ 45 3.3 Crítica Textual - Em busca do "texto original".................... 52 3.4 Resultados: O(s) Novo(s) Testamento(s) Grego(s) moderno(s) impresso(s)............................................................. 56 3.5 Implicações para a Tradução.................................................... 58 3.6 Implicações Teológicas............................................................. 59 3.7 Para leitura adicional................................................................. 59 4 Da LXX à NRSV: Não há tradução sem interpretação....... 60 4.1 O Novo Testamento é o livro da igreja no sentido de que a igreja o traduziu............................................................... 60 4.2 A Tarefa da Tradução................................................................ 61 4.3 História da Tradução Bíblica................................................... 62 4.3.1 A tradução na comunidade judaica................................ 63 4.3.2 Do Protocristianismo até a Reforma............................... 67 4.3.3 A Bíblia Inglesa.................................................................. 68 4.3.4 "Qual é a melhor tradução?"........................................... 83 4.4 Para leitura adicional................................................................. 87 5 O Novo Testamento Interpretado............................................. 88 5.1 O Novo Testamento é o livro da igreja no sentido de que a igreja o interpreta....................................................... 88 5.1.1 Interpretação: Necessidade, Natureza e Valor.............. 89 5.1.2 Toda interpretação é perspectiva, dentro de uma comunidade de interpretação................................................ 90 5.1.3 O Fluxo Contínuo de Interpretação Histórica............... 93 S u m á r i o IX 5.1.4 A Interpretação do Novo Testamento na História da Igreja............................................................... 98 5.2 Para leitura adicional................................................................ 119 6 O Novo Testamento dentro do Mundo Helenístico.......... 120 6.1 O Novo Testamento como História........................................ 120 6.2 O Mundo Helenístico de Alexandre até Adriano................ 121 6.2.1 Helenização........................................................................ 122 6.2.2 A Crise dos Macabeus....................................................... 124 6.2.3 A Chegada dos Romanos................................................. 129 6.2.4 Herodes, o Grande (74 a.C. - 7 d.C.)............................... 130 6.2.5 A Judeia como Província, 6 a.C. - 66 d.C........................ 134 6.2.6 As Revoltas de 66 - 70 e 132 - 135 d.C............................ 135 6.3 Para leitura adicional................................................................. 138 7 O Judaísmo Palestino dentro do Mundo Helenístico........ 139 7.1 Principais Fontes Primárias...................................................... 140 7.1.1 Josefo.................................................................................... 140 7.1.2 Filo........................................................................................ 142 7.1.3 Pseudoepígrafos................................................................. 142 7.1.4 Rolos do Mar Morto.......................................................... 145 7.1.5 Literatura Rabínica............................................................ 150 7.2 O Templo, o Sumo Sacerdote e o Rei..................................... 151 7.3 A Sinagoga................................................................................... 153 7.4 Dos saduceus aos Sicários: O Espectro Pré-70 do Judaísmo Palestino...............................................................154 7.4.1 Samaritanos........................................................................ 156 7.4.2 Judeus Helenistas e Helenísticos..................................... 157 7.4.3 Essênios, Terapeutas e os Participantes de Qumran.... 158 7.4.4 Movimentos Batistas Sectários......................................... 161 7.4.5 Zelotes, Sicários, a "Quarta Filosofia", o "banditismo social" e outros movimentos militaristas revolucionários.............................................. 163 7.4.6 Os Herodianos.................................................................... 165 7.4.7 Os Saduceus........................................................................ 165 7.4.8 Os Fariseus.......................................................................... 167 X Introdução ao N ovo Testamento 7.4.9 "O Povo da Terra", cam-ha3aretz, "o povo comum", "o judaísmo comum"........................................................ 170 7.5 A Profecia e o Espírito............................................................... 171 7.6 O Espectro da Esperança Apocalíptica, Messiânica e Escatológica......................................................... 172 7.6.1 Os Traços Típicos da EsCatologia Apocalíptica............. 175 7.6.2 Apocalíptica e Império...................................................... 178 7.6.3 "Aquele que virá" - Variações da Esperança Messiânica... 180 7.7 Jâmnia e a "Divisão dos Caminhos"...................................... 190 7.7.1 A Academia em Jâmnia.................................................... 191 7.7.2 Uma liderança rabínica mais institucionalizada........... 192 7.7.3 Um senso crescente de um cânon autoritativo.............. 192 7.7.4 O Judaísmo da Sinagoga substitui o Judaísmo do Templo........................................................................... 194 7.7.5 O Birkath ha-Minim.......................................................... 195 7.7.6 Perseguição judaica aos primeiros cristãos?.................. 196 7.7.7 Quando a "Divisão dos Caminhos" aconteceu?........... 197 7.8 Para leitura adicional................................................................. 198 8 Jesus no Judaísmo........................................................................... 200 8.1 Terminologia............................................................................... 201 8.2 As fases da "Busca do Jesus Histórico"................................. 202 8.3 Um esboço do que podemos saber sobre o Jesus histórico... 208 8.4 Para leitura adicional................................................................. 222 9 De Jesus a Paulo.............................................................................. 223 9.1 A Primeira Geração de Cristãos, 30-70 d.C............................. 223 9.2 Os Primeiros Vinte Anos: de Jesus a Paulo, de Jerusalém a Corinto.............................................................. 224 9.2.1 Fontes para esse período................................................... 224 9.2.2 De Jesus a Paulo - Eventos-Chave.................................. 228 9.3 Para leitura adicional................................................................. 299 10 10 Paulo e Suas Cartas........................................................................ 301 10.1 Vida e Missão de Paulo até 50 d.C.: Um Esboço Preliminar............................................................. 301 10.1.1 Nascimento e Primeiros Anos..................................... 301 S u m á r i o XI 10.1.2 Paulo, o Perseguidor..................................................... 304 10.1.3 Chamado ao apostolado............................................... 305 10.1.4 Paulo em Damasco e na Arábia................................... 307 10.1.5 Jerusalém (1) - Visita a Pedro (G11,18)...................... 309 10.1.6 Paulo na Síria e Cilícia (e Galácia?) ("Primeira Viagem Missionária"?).............................. 310 10.1.7 Jerusalém (2) - O Concilio (G12,1-10; At 15,1-29)..... 314 10.1.8 Confronto e Separação em Antioquia........................ 317 10.1.9 A Missão ao Egeu (ao que tudo indica, "a Segunda e Terceira Viagens Missionária")........... 319 10.2 Introdução às Epístolas........................................................... 324 10.2.1 As Cartas no Novo Testamento e no Cristianismo Primitivo................................................. 324 10.2.2 Cartas no Mundo Antigo.............................................. 327 10.2.3 Forma e Estrutura das Cartas Paulinas...................... 336 10.2.4 Perspectivas Teológicas sobre o Gênero Carta.......... 339 10.3 As Cartas de Paulo................................................................... 343 10.4 Para leitura adicional............................................................... 343 11 * 11 Cartas da Missão ao Egeu............................................................ 345 11.1 Interpretando 1 Tessalonicenses........................................... 345 11.1.1 Tessalônica...................................................................... 345 11.1.2 Contexto Histórico........................................................ 346 11.1.3 A Igreja em Tessalônica................................................ 348 11.1.4 Unidade e Interpolações............................................... 350 11.1.5 Estrutura e Esboço......................................................... 352 11.1.6 Sumário teológico-exegético........................................ 353 11.2 Interpretando Filipenses......................................................... 360 11.2.1 Filipos: Cidade e Igreja................................................. 361 11.2.2 Data e proveniência: o cenário da vida de Paulo...... 363 11.2.3 Gênero............................................................................. 370 11.2.4 Unidade Literária.......................................................... 371 11.2.5 Estrutura e Esboço......................................................... 372 11.2.6 Síntese teológico-exegética........................................... 373 11.3 Interpretando Filemom........................................................... 381 11.3.1 Gênero............................................................................. 381 11.3.2 Autoria............................................................................ 382 XII Introdução ao N ovo Testamento 11.3.3 Ocasião............................................................................ 382 11.3.4 Data, Origem e Destinatários....................................... 385 11.3.5 Escravidão no Mundo Antigo e na Igreja Primitiva.............................................................. 386 11.3.6 Estrutura e Esboço......................................................... 392 11.3.7 Sumário Exegético-Teológico...................................... 392 11.4 Para leitura adicional.............................................................. 393 12 Paulo e os Coríntios....................................................................... 395 12.1 Interpretando 1 Coríntios....................................................... 395 12.1.1 Corinto: Cidade e Igreja................................................ 395 12.1.2 Cenário Histórico de 1 Coríntios................................. 397 12.1.3 Integridade Literária..................................................... 398 12.1.4 Estrutura e Esboço......................................................... 398 12.1.5 Sumário Exegético-teológico........................................ 400 12.2 Interpretando 2 Coríntios....................................................... 422 12.2.1 Estrutura e Esboço......................................................... 442 12.2.2 Síntese Exegético-Teológica......................................... 443 12.3 Para leitura adicional............................................................... 456 13 13 As Últimas Cartas de Paulo........................................................458 13.1 Interpretando Gálatas.............................................................. 458 13.1.1 Quem eram e onde estavam os gálatas?.................... 458 13.1.2 Data e Origem: como ela se encaixa na vida e missão de Paulo?........................................................... 460 13.1.3 Resultados: A história à qual a carta pertence.......... 465 13.1.4 Tipo da Carta.................................................................. 467 13.1.5 Estrutura e Esboço......................................................... 468 13.1.6 Síntese exegético-teológica........................................... 469 13.2 Interpretando Romanos.......................................................... 484 13.2.1 A Igreja em Roma: a primeira geração....................... 485 13.2.2 Integridade Literária..................................................... 487 13.2.3 Tipo da Carta, Ocasião e Propósito............................. 488 13.2.4 Estrutura e Esboço......................................................... 492 13.2.5 Síntese exegético-teológica.......................................... 493 13.3 Questões Contínuas e Abrangentes...................................... 519 13.3.1 A "Nova Perspectiva" sobre Paulo............................. 519 S u m á r i o XIII 13.3.2 A Centralidade da Participação "em Cristo"............ 520 13.3.3 Apostolicidade e os desafiantes do apostolado de Paulo: detratores, rivais e oponentes.................... 523 13.3.4 A "Vida de Paulo": Questões Cronológicas.............. 526 13.4 Para leitura adicional.............................................................. 532 14 Éfeso e a Escola Paulina................................................................ 534 14.1 O que aconteceu depois de Romanos?................................. 534 14.2 A Tradição da Escola Paulina Continua.............................. 536 14.3 Para leitura adicional............................................................... 550 15 Colossenses, Efésios e 2 Tessalonicenses............................... 552 15.1 Interpretando Colossenses..................................................... 552 15.1.1 Cinco cenários para a origem e interpretação de Colossenses..................................................................... 552 15.1.2 Autoria............................................................................ 555 15.1.3 Data.................................................................................. 565 15.1.4 Estrutura e Esboço......................................................... 566 15.1.5 Síntese Exegético-Teológica......................................... 567 15.2 Interpretando Efésios.............................................................. 580 15.2.1 Efésios: Um Texto Didático da Escola Paulina.......... 580 15.2.2 Estrutura e Esboço......................................................... 590 15.2.3 Síntese Exegético-Teológica......................................... 591 15.3 Interpretando 2 Tessalonicenses........................................... 606 15.3.1 Autoria e Contexto Histórico....................................... 606 15.3.2 2 Tessalonicenses como um Produto da Escola Paulina. 609 15.3.3 Conclusão....................................................................... 615 15.3.4 Estrutura e Esboço......................................................... 615 15.3.5 Síntese Exegético-Teológica......................................... 616 15.4 Para leitura adicional............................................................... 623 16 As Pastorais e a Luta pela Tradição Paulina autêntica...... 624 16.1 Interpretando as Pastorais..................................................... 624 16.1.1 As Pastorais como Cartas Reais de Paulo a Timóteo e Tito................................................................ 625 16.1.2 As Pastorais como Documentos Pseudoepígrafos Escritos por um Mestre da Escola Paulina................. 626 16.1.3 Data, Testemunho, Canonicidade............................... 645 16.1.4 Procedência.................................................................... 647 16.1.5 A Teologia das Cartas Pastorais: Continuidade e Mudança......................................................................... 647 16.1.6 Ordem, Estrutura e Esboço.......................................... 655 16.1.7 Síntese Exegético-Teológica......................................... 657 16.2 Retrospecto: A Luta pela tradição paulina autêntica......... 671 16.3 Para leitura adicional............................................................... 673 índice de Autores Citados.......................................................................... 675 índice de Passagens Bíblicas....................................................................... 681 XIV Introdução ao Novo Testamento L ista de Ilustrações Mapas 1 - A região do Mediterrâneo no primeiro Século............................Abertura 2 - Mapa da Atividade Missionária de Paulo.............................................322 3 - Palestina no primeiro Século d.C........................................................ Final Fotos 1 - Pôncio Pila tos em Cesareia................................................................. 12 2 - Papiro 52 Fragmento........................................................................... 41 3 - 0 início do Evangelho de João, na edição de Nestle-Aland, NovumTestamentum Graece................................................................. 46 4 - Dr. Marie-Luise Lakmann................................................................ 47 5 - 0 aparato crítico de Atos 1.1 no processo de revisão....................... 48 6 - Páginas do Códice Vaticano, mostrando Lucas 24 - João 1............. 55 7 - M. Eugene Boring (esquerda) e Bruce M. Metzger (sentado) examinando o texto de Hebreus no Códice Vaticano na Biblioteca do Vaticano, em 1981........................................................................... 55 8 - Dr. Klaus Watchel................................ 56 9 - Teatro Romano em Cesareia............................................................... 130 10 - Cesareia de Filipe................................................................................ 132 11 - Arco de Tito em Roma, descrevendo sua vitória sobre Jerusalém e a Judeia............................................................................. 136 12 - Relevo sobre o Arco de Tito em Roma............................................... 136 13 - massada, mostrando a rampa construída pelos romanos................ 141 14 - Caverna 4 de Qumran......................................................................... 145 15 - Séforis.................................................................................................... 209 16 - Inscrição no altar em Perge................................................................. 243 17 - Uma imagem em alto relevo em Tessalônica.................................... 244 XVI Introdução ao N ovo Testamento 18 -Oferendas votivas............................................................................... 246 19 - Templo de Apoio em Corinto, Grécia................................................ 247 20 - Delfos................................................................................................... 249 21 - Altar de Mitra em Roma..................................................................... 250 22 - Modelo de culto de mistério, no centro de Elísios............................ 252 23 - stoa reconstruída da Ágora em Atenas-.............................................. 256 24 - Ascensão do César deificado.............................................................. 259 25 - Uma inscrição latina onde se pode ler "do imperador César Augusto..................................................................................... 260 26 - Inscrição do teatro em Mileto.............................................................275 27 - Porta da cidade de Mileto................................................................... 277 28 - Uma das inúmeras casas ricas e grandes, escavadas recentemente em Éfeso...................................................... 281 29 - Principal rua de Antioquia da Pisídia................................................ 311 30 - Ruínas de uma estrada romana perto de Tarso, na Turquia........... 333 31 - Ruínas de uma prisão em Filipos........................................................ 361 32 - A Via Egnatia em Filipos.................................................................... 361 33 - Ruínas do fórum romano em Filipos................................................. 362 34 - Fórum romano em Filipos.................................................................. 362 35 - Templo em Corinto, Acrópolis........................................................... 396 36 - Berna Coríntio...................................................................................... 396 37 - Esta pegada esculpida numa calçada em Éfeso................................. 406 38 - casal em relevo, segundo século, Bereia............................................ 407 39 - Hierápolis............................................................................................. 554 40 - Inscrição de advertência no Templo.................................................. 598 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 10 14 19 75 76 76 82 82 128 464 521 528 533 556 583 L ista de Q uadros Formação Literária do Novo Testamento................................ A Bíblia como uma história narrativa em cinco atos............... O livro da Igreja.......................................................................... Exemplos para esclarecimento da RSV para a NRSV............. Perguntas em grego que antecipam uma resposta particular . Reformulação com linguagem de gênero inclusivo................ Comparação de Romanos 12,6-8............................................... Comparação de Gênesis 1,26..................................................... O Império, do Nascimento de Jesus à Revolta de Bar Kochba Comparação da Estrutura de Gálatas e Romanos de Schnelle Uso de Paulo de "em Cristo".................................................... Visitas a Jerusalém...................................................................... Contornos sugeridos da vida e Ministério de Paulo............... Nomes Mencionados em Filemom e Colossenses................... Comparação entre Colossenses e Efésios................................. Prefácio Este livro foi escrito a partir das seguintes perspectivas e convicções: O Novo Testamento é um livro de histórias. Não é um livro de idéias, ideais e princípios religiosos, mas narrativas e interpretações de eventos relacionados à vida de Jesus e seus seguidores, os quais se tornaram a comunidade cristã primitiva. O Novo Testamento é mais (e não menos) do que um livro de histórias em que esses even tos são interpretados como revelação dos atos de Deus em favor da salvação do mundo. Em sua interpretação da história, os autores do Novo Testamento usam as idéias de seu mundo (judaico e gentio, religioso e secular). Cada escrito do Novo Testamento está arraiga do na história dos próprios autores, a história da igreja primitiva. O Novo Testamento como um todo contém uma história de cole ta, transmissão, tradução e interpretação. O Novo Testamento não apenas comunica uma história, ele tem sua própria história. Desse modo, um vislumbre histórico é um elemento necessário para uma compreensão autêntica. O estudo do Novo Testamento requer um método crítico prático. Como um livro de histórias, o Novo Testamento requer um método crítico. "Quem escreveu o quê, quando, onde, para quem e por quê" são questões inevitáveis à compreensão histórica, ainda que essas ques tões não possam ser definitivamente respondidas. Este livro não tenta explorar cada ponto seguindo detalhes metodológicos; porém, a par tir dos casos analisados pretende fornecer uma base suficiente para ilustrar evidências e argumentos. Em quatro pontos, questões gerais de introdução ao Novo Testamento são tratadas em extensas divaga- ções, explorando evidências e argumentos sobre os quais estão funda mentadas algumas conclusões acadêmicas típicas: a unidade literária P r e f á c i o XIX de 2 Coríntios, a pseudepigrafia, o problema sinótico e as marcas de paralelos nos evangelhos sinóticos. Em vez de meramente fornecer aos estudantes os resultados do que "os estudiosos pensam", evidên cia e argumentos são dados de modo a permitir que os estudantes julguem por si mesmos o grau de confiança que podemos ter sobre tais conclusões e que diferença elas fazem teologicamente. Estudantes que seguem os detalhes da evidência e argumento reforçam sua habi lidade de navegar e avaliar o oceano da literatura secundária sobre o Novo Testamento, e desenvolver suas próprias aptidões como intér pretes do Novo Testamento. "Quem começa pelo início vai mais longe". Este livro foi escrito para iniciantes, pressupondo estudantes com grande interesse em explorar o assunto, mas ainda sem a experiência em um estudo detalhado da Bíblia. Trata-se de um livro consideravelmente técnico, o qual reflete muito da história e posição atual da pesquisa em Novo Testamento. Às vezes, conservei citações em grego, como um lembrete de que o engajamento com o Novo Testamento implica um estudo transcultu- ral, e que aqueles que querem compreendê-lo precisam entrar em seu mundo linguístico. O livro é completamente inteligível mesmo para aqueles que não dominam o grego e o hebraico. Tudo está traduzido, e também frequentemente transliterado a fim de facilitar a pronúncia. Tenho em mente o tipo de leitores que encontramos no seminário ou pastor ado, muitos dos quais são estudantes de nível secundário, os quais não passaram por uma graduação em estudos de religião ou línguas bíblicas. Embora as pressuposições sejam mínimas, o livro procura levar o estudante a uma compreensão e competência mais profundas como um intérprete do Novo Testamento. O Novo Testamento é um livro áe fé e teologia. Os autores do Novo Testamento expressam sua fé de que Deus agiu na vida de Jesus e nos eventos da igreja primitiva. Quando a fé é expressa conceituai e ver balmente, o resultado é teologia, "fé que busca compreensão", para usar a frase histórica de A n s e l m o . Embora fé e teologia não sejam a mesma coisa, não pode haver reflexão sobre a fé, e nem comunicação de fé, à parte da teologia. "Teologia" não se refere apenas ao discurso sistemático e abstrato de segundo ou terceiro nível, mas ao discurso de primeiro nível, a qualquer articulação da fé. O Novo Testamento é, portanto, um livro inteiramente teológico. Isto significa que entender o Novo Testamento em seus próprios termos requer reflexão teológica, XX Introdução ao N ovo Testamento quer seus leitores compartilhem sua fé ou teologia, ou não. Uma in trodução ao Novo Testamento deve ser, em certo sentido, teológica, ainda que apenas no nível descritivo. O Novo Testamento é essencialmente composto de Cartas e Evangelhos. O processo histórico que levou à formação do Cânon resultou em um Novo Testamento composto de apenas dois tipos de literatura. Isto ainda se reflete na leitura litúrgica da Escritura, na qual todos os textos do Novo Testamento ou são "Epístola" ou "Evangelho". Essa estrutura genérica bipartida do Novo Testamento tem sido frequen temente percebida. Contudo, até onde eu saiba, este livro representa o primeiro esforço de estruturar uma introdução ao Novo Testamen to nesses moldes. Isso está em harmonia com a teologia e a história protocristã; há também uma razão pedagógica. As Cartas são trata das primeiro, na ordem histórica discutida aqui: 1 Tessalonicenses a 2 Pedro. Somente então nos voltamos para os Evangelhos e os Atos. Na metade do curso, os estudantes começam a perceber que havia uma extensa tradição,completa em si mesma, em expressar a fé intei ramente dentro dos limites do gênero epistolar. Eles se tornam cons cientes de que estudaram a maioria dos livros do Novo Testamento sem encontrar sequer uma história sobre Jesus. Eles veem as Epístolas como um gênero paralelo dos Evangelhos, e o enxergam com novos olhos, novas questões, novas idéias. Perto do fim do curso, eles perce bem, pela primeira vez, que Epístola e Evangelho estão combinados na comunidade joanina, a prolepse do Cânon do Novo Testamento. Existe uma subestrutura narrativa do Novo Testamento e suas teolo- gias. Tanto as Cartas quanto os Evangelhos compartilham uma base comum: narrativa. Todos os documentos do Novo Testamento con fessam a fé dentro de uma estrutura narrativa. Os evangelhos e Atos são obviamentç narrativos. Mas as epístolas são também um gênero narrativo; cada carta funciona projetando um mundo narrativo. Este livro está em harmonia com esse modo narrativo; ele próprio é um tipo de narrativa. Ele conta a história do Novo Testamento, desde o judaísmo pré-cristão, passando por Jesus, a igreja primitiva, Paulo e a tradição das cartas, a tradição de Marcos e o Evangelho, até a com binação de Cartas e Evangelho na comunidade joanina. Isto envolve uma possível (re)construção de histórias. A alternativa é estudar os documentos do Novo Testamento como textos de flutuação livre, não ligados à História. Uma vez que o Novo Testamento é uma história, P r e f á c i o XXI ou coleção de histórias dentro de uma história maior, este livro é uma narrativa. Ele conta a história do Novo Testamento. A teologia do Novo Testamento é mais bem feita como exposição diacrô- nica de textos. Este livro é uma síntese dos gêneros tradicionais Intro dução ao Novo Testamento e Teologia do Novo Testamento. A teologia do Novo Testamento está entrelaçada na descrição narrativa da forma ção do Novo Testamento. Em vez de atentar para ensaios temáticos sob categorias do tipo "Cristologia" e "Eclesiologia" de cada livro ou do Novo Testamento como um todo, uma síntese exegético-teológica de cada documento do Novo Testamento apresenta sua teologia es truturada ao modo do próprio texto. O próprio ato de teologizar do Novo Testamento está no modo narrativo. O caminho adequado para compreender a teologia de cada livro é processando cada texto em seu próprio gênero e estrutura. O Novo Testamento é o livro da igreja. Muito do que foi mencionado pode ser resumido nessa frase familiar, a qual, seguramente, não é original.1 Há cinquenta anos, eu fiquei impressionado com a impor tância central dessa chave hermenêutica nas palestras de Leander Keck's Vanderbilt. Eu tive outro professor, F r e d C r a d d o c k (também aluno de K e c k ) , que frequentemente se referia ao diálogo essencial entre Livro e Comunidade. A Comunidade precisa do Livro como norma e ponto de equilíbrio. O Livro precisa da Comunidade como seu contexto para compreensão. Eu devo muito a K e c k , C r a d d o c k e a todos os meus professores, assim como tenho uma dívida com todos os meus alunos, com quem também aprendi muito. Dedico este livro aos meus alunos das classes de "Introdução ao Novo Testamento", no Seminário da Phillips University (1967-1986), Texas Christian Univer- sity e Brite Divinity School (1987-2006). Ao longo dos anos, minha compreensão do Novo Testamento foi alargada e aprofundada pelo diálogo sobre o material deste livro com inúmeros colegas e estudantes. Valorizo especialmente o que aprendi com L e a n d e r K e c k , F r e d C r a d d o c k , R u s s e l l P r e g e a n t , U d o S c h n e l l e , D a v id B a l c h e W il l ia m B ir d , tanto em função de seus escritos quanto 1 Cf. e.g. Willi M a r x s e n , The New Testament as Church's Book?l Trans. James E. Mig- nard (Philadelphia: Fortress Press, 1972); S a n d r a S c h n e i d e r s , The Revelatory Text: Interpreting the New Testament as Sacred Scripture, 2nd ed. (Collegeville, MN: Litur- gical Press, 1999), chap. 3, "The New Testament as the Church's Book.". Introdução ao N ovo TestamentoXXII a partir de conversas pessoais. Sou profundamente grato à equipe de edição e produção da Westminter John Knox Press, que me ofereceu não apenas habilidade profissional, mas também conselhos e enco rajamento. Ao concluir esse projeto, ofereço minha sincera gratidão a J o n L. B e r q u is t , que era o Editor Executivo para a área de Estudos Bíblicos na Westminster John Knox, quando fui convidado a escrever este livro, em 1994. Ele me acompanhou ao longo do caminho com muitas e úteis conversas; a M a r ia n n e B l ic k e n s t a f f , Editora da área de Estudos Bíblicos, que dirigiu o processo até sua edição final, e a J u l ie T o n in i , Diretor de Produção. Esses dois manusearam um lon go e complexo manuscrito; a D a n i e l B r a d e n , Editor-Gerente, por seus conselhos. Sou também grato a J e r r y L. C o y l e , B o b b y W a y n e C o o k e J a m e s E. C r o u c h , pela leitura perspicaz do penúltimo rascunho. Sua diligência resultou em diversas sugestões incorporadas ao texto atual. Um agradecimento especial vai para V ic t o r P a u l F u r n is h , que leu as seções sobre Paulo e a tradição epistolar paulina, oferecendo muitas e valiosas sugestões. Porém, posso afirmar com segurança que nenhum desses nomes mencionados acima deve ser responsabilizado pelas imperfeições deste livro. Quanto a isto, assumo totalmente o ônus. A breviaturas 2DH 2GH 2SH AB Abraham ABRL Ag. Ap. Alleg. Interp. Ant. ANTC Apc. Apol. ASNU ASV AV B b. B. Bat. Bar BETL BJ BJRL BZNW CBQMS CD CEB [Hipótese dos dois Documentos] [Hipótese dos dois Evangelhos ou Hipótese de Griesbach] [Hipótese das duas Fontes] Anchor Bible Philo, On the Life of Abraham Anchor Bible Reíerence Library Josefo, Contra Apião Philo, Allegorical Interpretation Josefo, Antiguidades Judaicas Abingdon New Testament Commentaries Apocalipse Justino Mártir, Apologia Acta seminarii neotestamentici upsaliensis American Standard Version Authorized Version Codex Vaticanus Babylonian tractate (of the Talmud) Bava Batra Baruch Bibliotheca ephemeridum theologicarum lovaniensium Bíblia de Jerusalém Bulletin ofthe John Rylands University Library ofManchester Beihefte zur Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft Catholic Biblical Quarterly Monograph Series Documento de Damasco The Common English Bible XXIV Introdução ao N ovo Testamento CJA Ciem. Col Cor Cr D De Princip. Did. Dn Dt Ecl EDNT Ef EKKNT Ep. Ep. Brut. Esd Êx Exc. Ez FGH F1 Fm FRLANT GCS G1 Gn GTA Hb Heir Hist. eccl. HNTC HTS HUT Christianity and Judaism in Antiquity Clemente Colossenses Coríntios Crônicas Bezae Cantabrigiensis ' Origen, De principiis Didaquê Daniel Deuteronômio Eclesiastes Exegetical Dictionary of the New Testament. Edited by H. Balz, G. Schneider. ET. Grand Rapids, 1990-1993. Efésios Evangelisch-katholischer Kommentar zum Neuen Testa ment Sêneca, Epistulae morales Cícero, Epistulae ad Brutum Esdras Êxodo Excursus Ezequiel Farrer-Goulder Hypothesis Filipenses Filemom Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und Neuen Testaments Die griechische christliche Schriftsteller der ersten [drei] Jahrhunderte Gálatas Gênesis Gõttinger theologischer Arbeiten Hebreus Philo, Who Is the Heir? Eusebius, História eclesiástica Harper's New Testament Commentaries Harvard Theological Studies Hermeneutische Untersuchungen zur Theologie A b r e v i a t u r a s XXV ICC International Criticai Commentary Ign. Eph. Inácio aos Efésios Ign. Phld. Inácio aos Filipenses Ign. Pol. Inácio a Policarpo Ign. Rom. Inácio aos Romanos Ign. Smyrn. Inácio à Esmirna Is Isaías JBL Journal of Biblical Literature Jr Jeremias Js Josué JSNTSup Journal for the Study of the New Testament: Supplement Series Jt Judite Jub. Jubileus Jz Juizes KEK Kritisch-exegetischer Kommentar über das Neue Testament (Meyer-Kommentar) KJV King James Version [Versão Rei Tiago] LCL Loeb ClassicalLibrary Life Josephus, The Life LJS Lives of Jesus Series Lv Levíticos LXX Septuaginta Mac Macabeus Mal Malaquias MAs Minor Agreements Mq Miqueias Mt Mateus NAB The New American Bible NACSBT New American Commentary Studies in Bible and Theology NASB New American Standard Bible NEB The New English Bible NICNT New International Commentary on the New Testament NIGTC New International Greek Testament Commentary NIV New International Version NJB The New Jerusalem Bible Nm Números NovTSup Novum Testamentum Supplements XXVI Introdução ao N ovo Testamento NRSV New Revised Standard Version NT Novo Testamento NTL New Testament Library NTS New Testament Stuáies Os Oseias ÕTK Õkumenischer T aschenbuch-Kommentar Pd Pedro Pol. Phil. Policarpo aos Filipenses Pv Provérbios Q Fonte Q Rab. Rabbah REB The Revised English Bible Rm Romanos RSV Revised Standard Version Salm. Sal. Salmos de Salomão SBLDS Society of Biblical Literature Dissertation Series SBLSBL Society of Biblical Literature Studies in Biblical Literature SBLSBS Society of Biblical Literature Sources for Biblical Study SIG Syllogeinscriptionumgraecarum. Editedby W. Dittenberger. 4 vols. 3rd ed. Leipzig, 1915-1924 Sir Siríaco SI(Sls) Salmo(s) Sm Samuel SNTSMS Society for New Testament Studies Monograph Series SP Sacra página T. Levi Testamento de Levi t. Suk. Tosefta Sukkah TDNT Theological Dictionary of the New Testament. Edited by G. Kittel and G. Friedrich. Translated by G. W. Bromiley. 10 vols. Grand Rapids, 1964-1976. TEV Today's English Version THKNT Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament Tm Timóteo TM Texto Massorético TNIV Today's New International Version TNTC Tyndale New Testament Commentaries TOB Tobias Ts T essalonicenses A b r e v i a t u r a s XXVII TUGAL War WBC Wis WMANT WUNT Zc ZNW Texte und Untersuchungen zur Geschichte der altchri- stlichen Literatur Josefo, Guerra Judaica Word Biblical Commentary Wisdom of Solomon Wissenschaftliche Monographien zum Alten und Neuen Testament Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament Zacarias Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft und die Kunde der alteren Kirche 1 O que É o Novo Testamento? O Novo Testamento é a seleção dos escritos protocristãos que se tor naram a Bíblia Cristã. Abrir suas páginas é mergulhar numa história que está em curso há muito tempo. Trata-se do ato subsequente de um drama que se aproxima de sua cena culminante, uma história que alega comunicar o significado do universo e da vida humana. Com efeito, não é necessário ler essa coleção de cartas e narrativas como Santa Escritura. A mesma coleção de textos pode, legitimamente, ser chamada de Seleções da Literatura Religiosa da Antiguidade ou algo do tipo, e ser lida, portanto, pelo viés de um valor educativo de expan são horizontal. Certamente, o Novo Testamento é um tesouro cultu ral, o livro mais influente na formação da literatura, da arte e da fi losofia da civilização ocidental. Não obstante, quase todo indivíduo que se debruça sobre esses textos os lê como parte da Bíblia cristã, como o "Novo Testamento". A fim de entender por que a própria Bíblia (tanto o Antigo Testamento1 quanto o Novo Testamento) fala 1 Os judeus, é claro, não se referem à sua Escritura Sagrada como o "Antigo Testa mento", uma designação desses primeiros escritos recebidos como parte da Bíblia cristã. Eu sigo o modelo de S a n d r a S c h n e i d e r s , W a l t e r B r u e g g e m a n e diversos ou tros que preferem "Escrituras Judaicas", quando querem se referir à Bíblia dos judeus, antiga e moderna, e "Antigo Testamento", quando se referem à primeira parte da Bíblia cristã ( S c h n e i d e r s , Revelatory Text, 6; W a l t e r B r u e g g e m a n n , An In- troduction to the Old Testament: The Canon and the Christian Imagination (Louisville: Westminster John Knox, 2003), 1-3). Para uma coleção de ensaios que discutem 2 Introdução ao N ovo Testamento de um "Novo Testamento", precisamos tentar entender a linguagem bíblica da aliança. O que significa chamar essa coleção de documentos de o "Novo Testamento"? 1 » 1 "Testamento" Um poderoso rei do Antigo Oriente Próximo envia um exército du rante a noite para cercar uma cidade a certa distância. Pela manhã, o mensageiro do rei fala aos habitantes da cidade, os quais ficaram tomados de surpresa: "Eu sou seu novo rei. Vocês são o meu povo. Esta é a minha aliança com vocês. Eu os protegerei de seus inimi gos, e garantirei sua paz e prosperidade. De agora em diante, vocês devem obedecerás seguintes leis...". As pessoas não tinham direito a voz, nem tampouco a voto, na decisão de tomar-se parte do reino. A única coisa que podem escolher é como irão responder... Terminologia. As traduções portuguesas da Bíblia usam os termos "testamento" e "aliança" de modo intercambiável. Portanto, "Anti go Testamento" e "Novo Testamento" significam, respectivamente, "Antiga Aliança" e "Nova Aliança". Embora o português contempo râneo utilize tanto o termo "aliança" quanto o termo "testamento" nos contextos não bíblicos, eles são usados em seus sentidos restri tos: o termo "aliança" é usado como sinônimo de "contrato", e na cerimônia de casamento tradicional, sendo bilateral e voluntário; o termo "testamento" pode ser encontrado na frase "última vontade e testamento", sendo unilateral e imposto. O significado bíblico dos termos não pode ser determinado com base no seu uso na língua por tuguesa, mas no seu uso nos contextos bíblicos. O termo consisten temente usado para "aliança" no Antigo Testamento é rrnn (berith); na LXX e no Novo Testamento, 8ia0f|KT| (diathêkê). A linguagem da aliança no Novo Testamento, como muito da sua terminologia e conceitualismo teológicos, deriva do Antigo Testamento. Embora o Antigo Israel pudesse falar de um "livro da aliança" (e.g. Êx 24,7; essa questão a partir de diversas perspectivas, ver R o g e r B r o o k s e J o h n J. C o l l i n s , eds., Hebrew Bible or Old Testament? Studying the Bible in Judaism and Christianity (CJA 5; Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press, 1990). Francisco 1 • O q u e É o Novo T e s t a m e n t o ? 3 2 Cr 34,30-31; 1 Mac 1,57), a aliança em si não era um livro, mas uma ação unindo duas partes. Unilateral. A terminologia da Aliança já estava presente no An tigo Oriente Próximo, antes e durante o tempo de Israel, que adotou o termo tanto no seu aspecto secular quanto no sagrado. No Antigo Testamento, as. alianças eram basicamente de dois tipos: aquelas entre os homens, e aquelas entre Deus e os homens. As alianças entre os seres humanos eram frequentemente bilate rais, recíprocas e mútuas - como a "aliança" na tradicional cerimônia de casamento, (cf. e.g. 1 Rs 15,19, onde berith é um pacto negociado, traduzido como "aliança"; diathêkê de 1 Mac 11,9 é mútuo e bilateral). Contudo, mesmo no nível humano, as alianças são frequentemente do parceiro superior para o parceiro inferior. A aliança era, assim, unila teral e não negociada, como o uso que fazemos do termo "testamento" na língua portuguesa, mas não como nossa "aliança" de casamento. A aliança não era um contrato, nem mesmo um contrato sagrado. No berith entre Jônatas e Davi (1 Sm 18,3), Jônatas [o filho do rei] fez uma aliança com Davi [plebeu, pastor], e 'não' Jônatas e Davi fizeram aliança.* 2 A aliança real na qual uma aliança é concedida/imposta sobre o inferior por um superior serve como modelo para a compreensão da relação entre Deus e Israel. Não se trata de parceiros iguais, numa relação em que cada um, livremente, escolhe e negocia os termos. Na Bíblia, Deus sempre fala da "minha aliança" (56 vezes), nunca da "nossa aliança". Assim, no texto chave de Jr 31,31-34, citado em Hb 8,8-12, Deus é o sujeito que faz toda a aliança e fala da "minha" (e não da nossa) aliança. Evento. Na Bíblia, o divino berith é um evento, e não um ideal ou princípio. A aliança é um ato gracioso de Deus, realizado por iniciati va divina para o benefício da humanidade.Está sempre associada a li vramento, validação de vida e segurança, total bem-estar e paz, shalom [□íbsí], i.e., a aliança é um ato salvífico. O ato salvífico fundamental de Deus para Israel no êxodo foi interpretado à luz da história de Abraão » 2 Na versão inglesa da Bíblia utilizada pelo autor, o texto de 1 Sm 18,3 lê-se: "Then Jonathan made a covenant with David" [Então Jônatas fez uma aliança com Davi] (cf. English Standard Version, New American Standard Bible, etc.), enquanto que a na versão portuguesa Almeida Revista e Atualizada, usada nesta tradução, o texto lê-se: "Jônatas e Davi fizeram aliança", que está em consonância com a tradução da versão K i n g J a m e s : "Then Jonathan and David made a covenant" [Então Jônatas e Davi fizeram uma aliança], N. do T. e Noé, e foi visto como o paradigma da maneira como Deus lida com o mundo como um todo. Os autores do Antigo Testamento tomaram como ponto de partida o ato histórico de Deus ao formar Israel livran do-o do Egito e concedendo-lhe, graciosamente, a aliança - incluindo seus deveres - e então utilizaram isto como seu modelo para com preender a relação do Criador para com toda a criação. Aqui e em outras partes da teologia bíblica, a ação é primária em relação ao ser, a história em relação à ontologia, o particular em relação ao universal. A Bíblia não é uma discussão do ser de Deus, mas o testemunho dos atos de Deus. Indicativo e Imperativo. A graça de Deus precede e é a base para o chamado à responsabilidade humana, algo também presente na aliança do Antigo Testamento. O judaísmo compreendeu isto. A graça re dentora de Deus precede a exigência, e a iniciativa divina de fazer uma aliança precede a resposta humana. Contudo, a aliança requer uma resposta humana, e a reclama. As boas novas da salvação ofere cida por Deus, o ato de fazer a aliança (indicativo) carrega consigo a exigência da resposta humana (imperativo). Comunidade. A aliança não é com indivíduos, mas com o povo de Deus. Sempre que a aliança é feita com uma pessoa (Noé, Abraão, Davi), esta pessoa representa uma comunidade. O povo escolhido é o povo da aliança, que se tornou o que é pela ação de Deus. Essa co munidade é encarregada de uma missão: ser o meio pelo qual a bên ção de Deus pode alcançar a todos (Gn 12,1-3), e ser uma luz para as nações (Is 42,6). Assim, mais tarde na história israelita, a aliança com Israel é compreendida em termos de uma aliança com Davi e seus descendentes, o meio para a bênção de Deus ao mundo inteiro (cf. 2 Cr 7,18; 13,5; 21,7; 23,3; SI 89,3; Is 55,3; Jr 33,21). Já/ainda não. Isto significa que há uma dimensão já/ainda não na linguagem da aliança de Israel, desde o início. Uma vez que Deus é já e eternamente Senhor e Rei do universo que ele criou, mas o governo de Deus ainda não se cumpriu entre suas criaturas rebeldes, então a aliança de Deus com o povo fiel da aliança já existe no mundo, mas ela ainda é parcial, fragmentária e espera uma consumação futura. A aliança não é estática, não é completa, mas espera um cumprimento final. Um dos quadros da consumação do propósito de Deus no fim da história é a renovação da aliança, envolvendo a renovação da hu manidade, pela qual Deus assume a responsabilidade (Jr 31,31-33). ................................................................................... Introdução ao N ovo Testamento 1 • O q u e é o Novo T e s t a m e n t o ? 5 Fidelidade unilateral, amor incondicional. A aliança de Deus é unila teral, e não pode ser anulada a partir do ponto de vista humano. Como uma determinação, a aliança está ali simplesmente pela imposição daquele que a fez. O povo da aliança pode ignorá-la ou recusar viver pelas responsabilidades para as quais ela o conclama. É unicamente nesse sentido que os seres humanos podem "quebrar" a aliança de Deus. Eles não podem quebrá-la no sentido de revogá-la, anulá-la ou destruí-la. Isto só pode ser feito unicamente pelo Criador da aliança. A fidelidade de Deus requer uma resposta humana, mas não está con dicionada a ela. Mesmo quando os seres humanos são infiéis, Deus permanece fiel (Lv 26,44-45; Jz 2,1; Is 54,10; Jr 33,19-21; SI 89,19-45). A aliança e o livro. Como ato redentivo de Deus - passado, presente e futuro — a aliança tem sinais que atestam sua realidade e significado. Alguns são sinais não verbais, tais como o arco-íris (Gn 6,18; 9,9-16), a circuncisão (Gn 17,11-13), e a arca da aliança, a qual acompanhou Israel em sua jornada e tornou a presença de Deus algo tangível e real (Êx 26,34; Dt 10,8; 1 Sm 4). O "sangue da aliança" (Êx 24,8; Zc 9,11), o pão da aliança (Lv 24,5-8), e o vinho da aliança (Dt 7,12-13) apontam para sua realidade. Há também testemunhos verbais para a aliança: as tábuas dos mandamentos e o livro da lei, chamado de livro da aliança (e.g. Êx 24,7; Dt 29,21; 31,26; 2 Rs 23,3; cf. 1 Mac 1,56-57). O livro não é a aliança, mas ele é colocado na arca, e testemunha do significado da aliança e a torna tangível e real (Êx 24,7; 25,21). 1.2 "Novo" Assim como "Testamento" não deve ser definido nos termos do por tuguês contemporâneo, o termo "novo" não deve ser compreendido nos padrões da cultura contemporânea, na qual "novo" é, geralmente, um termo relativo positivo; por sua vez, o termo "velho" tende a sig nificar algo como "fora de moda, relativamente inferior". As Escritu ras Judaicas usam o termo novo em sentido absoluto, como um termo para o cumprimento escatológico das promessas divinas. Assim no Deuteroisaías, com base na fidelidade de Deus à aliança, conclama Israel a perceber a "coisa nova" que Deus está para fazer (Is 43,19) - a qual não é uma negação do passado, mas seu cumprimento es catológico. Ezequiel fala da intenção de Deus de implantar um novo Francisco 6 Introdução ao N ovo Testamento coração e um espírito novo em seu povo (Ez 11,19; 18,31). Deus não desiste de pecadores que violaram a aliança; ao contrário, ele assume a responsabilidade de recriá-los conforme seu propósito final. O Tri- toisaías espera com interesse "novos céus e nova terra" nos quais ha bita justiça (Is 65,17; 66,22). Isto não significa que o Criador abandona a "antiga" criação, mas a conduz para o cumprimento final. Quando Paulo usa a linguagem da "nova criação" para falar do evento salví- fico de Jesus Cristo (2 Co 5,17; G1 6,15), isto não implica a rejeição da atual criação, mas sua redenção. Quando João descreve a salvação fi nal como a descida da "Nova Jerusalém" (Ap 3,12; 21,2), isto significa tanto a continuidade quanto a descontinuidade da atual Jerusalém. Em todas essas ilustrações, "novo" não é um termo relativo, mas esca- tológico. No pensamento bíblico, o novo não substitui o passado rela tivamente, mas cumpre-o absolutamente. Não é a anulação do antigo, mas sua renovação escatológica. "Novo Testamento" Jeremias, Especificamente, retrata o cumprimento escatológico dos pro pósitos de Deus como a realização de uma nova aliança, i.e., a reno vação escatológica da aliança de Deus com Israel (Jr 31,31-34). Como expressão da esperança escatológica de Israel, esse vocabulár a não é repetido em nenhum outro lugar do Antigo Testamento, mas a ideia é refletida (cf. Ez 16,60, 62; 34,25; 36,26; 37,26; Is 54,10; 55,3; 61,8, e 42,6; 49,8, onde o Servo é o representante da aliança). A comunidade judaica de Qumran, contemporânea de Jesus e da Igreja primitiva, entendeu os eventos de sua própria história como o ato escatológico de Deus da renovação da aliança. Os manuscritos do Mar Morto demonstram que eles compreenderam a realidade que estava acontecendo em seu meio, com a vinda do Mestre de Justiça, como o cumprimento e clímax da aliança de Deus com Israel, e viram a si mesmos como o povo da aliança (cf. CD 6,19; 8,21; 19,33; 20,12 [Baruc 2,35?; Jub. 1,22-24?]). Os membros da comunidade de Qumran eram judeus que interpretaram sua própria experiência em termos de suas Escrituras e da aliança de Deus com Israel. Sua linguagem da nova aliançanão era uma rejeição da antiga aliança ou uma alegação de que ela havia sido substituída. Francisco 71 • O q u e É o Novo T e s t a m e n t o ? Análoga às perspectivas hermenêuticas de Qumran, a comuni dade cristã primitiva interpretou o evento Jesus de Nazaré como um evento salvífico e revelador definitivo de Deus, e viu este evento-Cristo como o cumprimento dos propósitos de Deus para o mundo, a re novação escatológica da aliança de Deus. Desse modo, o documento mais antigo que relata as palavras eucarísticas de Jesus apresenta-o falando de seu próprio corpo e sangue como a expressão dessa nova aliança (1 Co 11,23-26). A linguagem da aliança ocorre frequentemente no Novo Testamento; a expressão "nova aliança", por exemplo, é encontrada sete vezes: Lc 22,20; 1 Co 11,25; 2 Co 3,6; Hb 8,8,13; 9,15; 12,24. Contudo, a nova aliança está frequentemente implícita mesmo onde o "novo" não está explícito. Paulo claramente fala nessas cate gorias (cf. e.g. G1 4), embora ele use a frase "nova aliança" apenas duas vezes 1 Co 11,25; 2 Co 3,6). As conotações da aliança também es tão presentes na linguagem da realeza (cf. acima). Jesus falou muitas vezes do reino de Deus, raramente da aliança. Duas notas conclusivas (1) Muito embora a aliança nunca tenha sido um livro, mas o ato salvífico de Deus que fundou uma comunidade, nós agora usamos corretamente "Novo Testamento" para referir-nos a um livro, uma coleção de documentos. Quando a comunidade cristã se refere a uma parte de sua Escritura sagrada como "Novo Testamento", isto é ape nas uma forma abreviada de afirmar que esta coleção de documentos dá testemunho autêntico do significado do evento-Cristo, o ato salvífico de Deus de renovação escatológica da aliança com Israel. No Novo Testamento, "Nova Aliança/Testamento" nunca se refere a um livro. Esse vocabu lário começou a ser usado no final do segundo século (Irineu, Contra as Heresias, 4,9.1), quando a igreja começou a selecionar os documentos que davam testemunho autêntico do ato de Deus em Cristo. No iní cio do terceiro século, Orígenes podia referir-se à "divina Escritura" como composta do "Antigo Testamento" e do "Novo Testamento" (De Principiis, [origem] 4,11.16). (2) A discussão anterior deve deixar claro que os cristãos não precisam hesitar em usar a terminologia "Novo Testamento" e seu corolário "Antigo Testamento" para referir-se às duas seções da Bí blia cristã. A terminologia não deve implicar que o "novo" substituiu o "antigo", ou que ele seja "melhor" (cf. "um antigo amigo" não significa que ele foi substituído por um "novo amigo"). Os cristãos confessam que o ato de Deus em Jesus Cristo é o evento escatológico. Uma maneira de expressar esse pensamento é a declaração de que a aliança de Deus com Israel foi escatologicamente renovada, e que os crentes em Jesus como o messias de Deus são incorporados nesta esta aliança através do ato gracioso de Deus. A linguagem tradicio nal da igreja: "Antigo Testamento" e "Novo Testamento" é uma afir mação de que ambos os Testamentos têm uma origem e centro co muns, de que o Deus que definitivamente agiu em Jesus Cristo não é outro senão o Deus de Israel, o Deus da aliança, que é fiel às suas promessas de cumprimento escatológico. Visto que essa terminolo gia tem sido algumas vezes mal compreendida, como implicando superação ou desvalorização do Antigo Testamento, alguns intér pretes contemporâneos preferem usar os termos "Bíblia Hebraica", para o Antigo Testamento, e "Primeiro Testamento" e "Segundo Testamento" para as duas seções da Bíblia Cristã. Embora desejem acertadamente evitar serem ofensivas, tais substituições modernas são, em si mesmas, problemáticas: "Bíblia Hebraica" exclui não ape nas as porções aramaicas das Escrituras Judaicas, mas também a maioria dos livros deuterocanônicos/ apocalípticos, não escritos em hebraico, mas considerados como parte do Antigo Testamento pela maioria dos cristãos do mundo. Os termos "Primeiro/Segundo Tes tamento" também estão sujeitos ao mesmo tipo de mal-entendido das expressões "Antigo" e "Novo", tendo em vista os seus sentidos relativos. Os termos "Primeiro" e "Segundo", na terminologia bíbli ca, não estão numa escala de relativizações, mas "segundo" significa "último", além do qual não pode haver um "terceiro" ou "quarto" (cf. e.g. 1 Co 15,45-47; Hb 8,7; 10,9; Ap 20,6). Na fé cristã, o Novo Testamento não é uma espécie de versão beta do "Antigo", mas o ômega do qual o "Antigo" é o alfa (cf. Ap 1,8; 21,6; 22,13). Os tex tos os quais, tradicionalmente, os cristãos têm denominado de An tigo Testamento certamente são recebidos pela comunidade judaica como Escritura Sagrada, mas num contexto cristão, ou no contexto da Bíblia cristã como um todo, falar de "Escrituras Judaicas" parece negar que o Antigo Testamento também é Escritura cristã - de fato, a Bíblia original da Igreja Cristã. 8 Introdução ao N ovo Testamento 91 • O q u e é o Novo T e s t a m e n t o ? I A O Novo Testamento como Epístola e Evangelho Em termos de gênero literário, o Novo Testamento contém apenas uma seleção restrita dos tipos de literatura produzida no cristianismo primitivo (ver abaixo §3.1, sobre a formação do cânon). Os primeiros cristãos fizeram coleções dos ditos de Jesus, hinos, e ditos de sabedo ria; eles escreveram constituições a fim de regular a ordem na igreja e fizeram listas de leis eclesiásticas, compuseram mitos explicando a origem do mal num mundo presumivelmente criado e governado por um Deus todo-poderoso. Efetivamente, nenhum desses tipos de literatura foi incluído na Bíblia. O Novo Testamento contém apenas textos relacionados a dois gêneros literários amplamente definidos, ambos relacionados com pessoas e situações particulares: cartas abor dando certos grupos de cristãos, lidando com problemas particulares no cristianismo primitivo; e narrativas sobre grupos particulares de pessoas. Desde o início, é importante perceber que todos os livros que fizeram o corte canônico são, de uma forma ou de outra, narrativas. Os Evangelhos e os Atos são obviamente narrativas; muitas vezes, não se nota que as próprias cartas, inclusive Apocalipse, são também um tipo de narrativa. As cartas são um gênero narrativo que pressu põem e projetam um mundo narrativo (cf. §10.2.4). Todos os textos do Novo Testamento são narrativas terrenais que lidam com eventos e perspectivas transcendentais. Parece ter havido uma força teológica, intuitiva e implícita no trabalho desses movimentos dentro do cristia nismo primitivo que se tornou dominante, uma força não coercitiva que tendia para a escrita de documentos confessionais da fé cristã no modo de narrativa, expresso em apenas dois gêneros: Cartas e Evan gelhos.3 Houve uma "pressão epistolar" para adaptar os escritos para a forma epistolar (cf. §10.2.1), e para confessar sua fé no ato de Deus em Cristo, escrevendo Evangelho como narrativas, e, finalmente, para aceitar apenas tais documentos nas Escrituras canônicas. Os cren tes falam disso, teologicamente, como o trabalho do Espírito Santo (ver §§2.2, 5.1.4). 3 Atos é o volume dois de um Evangelho; Apocalipse é uma carta. Todos os docu mentos do Novo Testamento se encaixam dentro das amplas categorias Carta e Evangelho. Veja as introduções a cada gênero e a cada livro abaixo. Q u a d r o 1 : F o r m a ç ã o L it e r á r ia d o N o v o T e s t a m e n t o 10 Introdução ao N ovo Testamento QBh O n □ □ □ □ << O o T3 8 <QD 5 Ui o■<£ cn U- h- u CN UJ u <°, < □□□ o < o . < < < Ch O O í >§ g 2T3 tn U OhH W < 1 < O o o o □□ o'< o * 0 —'O □ < _ □ n 0 □ o □ < < □ □ □□ o < o □ < o o □ □ □ J í 2 o < o o o o o £Í(S O)y 6cT3 g 2 > H W Qj 0>co TS T3 . 2 co co .ço Í . 3 . 5 S . . 5 > '£ 'S •§ & o .15 .2 S S # f c l í u u S 8aU3 1 8C TJ ? 2 8 B i | •% K S vtf) çn2 2 8-sfc- (A <1 ga» O 6 1 □ JScn tf)O W 2 «s ■2 T31 1tf) 3 E historicamente apropriado e hermeneuticamenteútil colocar em foco essa estrutura bipartida do Novo Testamento, Carta/Evan gelho. Essa divisão em duas partes está presente em nossa coleção canônica mais antiga, representada em dois códices do Papiro Chester Beatty, o p i5 (que contém os quatro Evangelhos e os Atos) e o p 46 (que contém as Cartas de Paulo). A igreja exercitou sua intuição e per cepção quando, num período primitivo, ela designou todas as leituras litúrgicas do Novo Testamento como Epístola ou como Evangelho. No cristianismo primitivo, os dois gêneros se moveram em ca nais separados: a origem e transmissão dos Evangelhos (e Atos) foram posteriores e diferentes das Cartas. As cartas vieram primeiro, tanto no que se refere à origem quanto à coleção. Pode-se ler tudo de Mateus a Atos, sem supor que havia outro gênero de confissão cristã em andamento na igreja, assim como se pode ler todas as epístolas sem qualquer indício de que há docu mentos do gênero Evangelho que narram "a vida e os ensinamentos de Jesus". Os gêneros não se misturam facilmente. Há, aqui, dois ti pos de Cristologia, duas maneiras diferentes de abordar o significado da vida e da fé cristã. Na fase final da história do Novo Testamento, a comunidade joanina foi a primeira a colocar juntos as Cartas e os Evangelhos, mas mesmo ali os gêneros se mantiveram distintos. A comunidade cristã uniu-os em uma Bíblia. 1.4.1 Ambos os gêneros fundamentais da literatura do Novo Testamento são formas narrativas. Os gêneros literários adequados a uma fé histórica são relatos nar rativos relacionados a eventos concretos, e não discussões filosóficas re lacionadas a idéias abstratas. O denominador comum entre as Cartas e os Evangelhos é que tanto um quanto outro são formas narrativas. Este é um modelo fundamentalmente judaico de teologizar, diferente do pensamento discursivo e proposicional expressado na lógica do mun do grego. Tanto as Cartas quanto os Evangelhos projetam um mundo narrativo mais amplo do que a narrativa demarcada que eles apresen tam diretamente. Os documentos do Novo Testamento abordam seus leitores como vivendo suas vidas dentro dos mundos narrativos que eles projetam, quer os leitores vejam ou não suas vidas nessa perspec tiva. A narrativa implica ética. A Carta ou o Evangelho desafia seus 1 • O q u e É o Novo T e s t a m e n t o ? 11 1 2 Introdução ao N ovo Testamento leitores a aceitar o mundo narrativo que eles projetam como o mundo real, a história como sua própria história e a viver de acordo com ela. O Novo Testamento não encontra seus leitores com uma lista moralista de "você deve" e "você deveria", mas com um estranho novo mundo.4 A estrutura do mundo narrativo projetado pelos documentos do Novo Testamento constitui um chamado persistente e silencioso à conversão, a reconfiguração do próprio mundo narrativo que faz a vida ter sentido. 1.5 O Novo Testamento como Narrativa Como um livro de fé, O Novo Testamento narra eventos no mundo real de espaço e tempo, compreendidos como os atos salvíficos de Deus na história. O Novo Testamento é um livro de história em três sentidos: (1) a figura central do Novo Testamento é uma figura his tórica; (2) assim como em toda a Bíblia, o Novo Testamento é sobre a história deste mundo; e (3) a Bíblia projeta uma macronarrativa que envolve suas histórias individuais de uma maneira abrangente. [FOTO 1 - em 1961, arqueólogos italianos desenterraram uma estátua de Pôncio Pilatos, em Cesareia, a capital da província romana da Judeia. Crédito: M. Eugene Boring] 4 Cf. K a r l B a r t h , "The Strange New World within the Bible," in The Word ofGod and The Word of Man, ed. Karl Barth (New York: Harper & Brothers, 1957), 28-50. 1 • O q u e É o Novo T e s t a m e n t o ? 13 1.5.1 A figura central do Novo Testamento é uma figura histórica, um ser humano que viveu e morreu no mundo da história atual Lc 3,1-2 estabelece o início de sua narrativa da missão de Jesus na história política real: No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pi- latos governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da região da Itureia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás... Jesus nasceu durante o reinado de Herodes o Grande, que foi no meado e apoiado pelos romanos; viveu e trabalhou na Galileia sob o lacaio romano Herodes Antipas; e foi executado por Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia. Tal narrativa projeta um mundo dife rente do "era uma vez...". 1.5.2 Do início ao fim, a Bíblia é uma história deste mundo. A Bíblia como um todo não é um livro de princípios eternos, de lei casuística ou mitologia sobrenatural. A Bíblia contém leis, materiais de sabedoria, poesia, hinos e coisas do gênero, mas tudo é definido numa estrutura narrativa. Assim, os Dez Mandamentos não são apresentados como leis abstratas ou ideais a ser almejados, mas são prefaciados com "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão" (Êx 20,2). Todos os leitores da Bíblia sabem que ela é composta principalmente por histórias: Adão, Eva e a serpente; o assassinato de Abel por Caim; Noé e o di lúvio; Moisés e o êxodo; Davi e Golias; Daniel na cova dos leões; o bebê Jesus e os reis magos; Jesus curando um cego; Pedro negando a Jesus, enquanto o galo canta; a execução de Jesus pelas autorida des romanas; a aparição do Jesus ressurreto às mulheres que corre ram para dizer aos discípulos na manhã da Páscoa; a pregação de Paulo em Atenas; Pedro sendo miraculosamente libertado da pri são. Nem todos os leitores reconhecem, contudo, que a Bíblia não apenas contém um grande número de histórias, mas que a Bíblia como um todo, de Gênesis a Apocalipse, pode ser lida como uma Grande História. Introdução ao N ovo Testamento14 1.5.3 A Bíblia projeta uma macronarrativa que envolve suas histórias individuais de uma maneira abrangente O excesso de locais e micronarrativas são agrupados sobre uma grande metanarrativa, um drama em cinco atos. A narrativa bíblica começa com a criação deste mundo, com uma assinalada falta de inte resse no que acontecia no mundo celestial antes da criação, e conclui com o fim deste mundo, mas sem descrever que tipo de coisas ocorre rá na era vindoura. Mesmo quando ocorrem eventos "sobrenaturais", eles ocorrem neste mundo. O mundo do Novo Testamento inclui his tórias de anjos e demônios, e dos atos de Deus. Mas esses são atos de Deus neste mundo, entre a criação e o eschaton, e não mitos dos acon tecimentos do mundo transcendente antes, depois e acima da história. Um esboço improvisado e organizado do abrangente drama bíblico é apresentado abaixo: QUADRO 2: A Bíblia como uma história narrativa em cinco atos I. Criação (Gênesis): o Deus único criou tudo que existe; II. Aliança (Êxodo - Malaquias): Quando a criação foi danificada pela humanidade rebelde, Deus criou um povo, Israel, para ser agente e testemunha de Deus, e portador da promessa da salvação presente e futura; III. Cristo (Mateus - João): O evento definitivo de toda a história é o ato de Deus, na pessoa de seu Filho, o Messias, para efetuar a salvação e mediar a reconciliação. IV. Igreja (Atos a Judas): Deus continuou a missão de Israel na igreja ao criar uma comunidade inclusiva, a partir de todas as nações, de modo que ela fosse testemunha e agente do ato salvífico de Deus, já realizado para todas as pessoas. V. Consumação (Apocalipse): Deus conduzirá a história a uma conclu são digna, quando a criação que de jure pertence ao reino de Deus, de facto "se tornará o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para sempre e sempre (Ap 11,15). O Novo Testamento pressupõe e reconta sua(s) própria(s) varia- ção(ões) da grande narrativa da história universal do judaísmo e de 1 • O q u e é o Novo T e s t a m e n t o ? 15 Israel desde criação até o eschaton. Dizer "Novo Testamento" { - Nova Aliança) ou "Jesus é o Cristo" é colocar cada parágrafode seus conteú dos dentro da varredura desta macronarrativa. 1.6 Para leitura adicional Aliança e Nova Aliança BEHM, Johannes " kouvóç, kocivóttiç, àvocmivíÇco ktà.. [new, newness, re- new]" In Theological Dictionary of the New Testament, edited by Kittel, Ger- hard and Gerhard Friedrich. Grand Rapids: Eerdmans, 1964-1976. 3.447-54 BROOKS, Roger, and John J. Collins, eds. Hebrew Bible or Old Testament? Studying the Bible in Judaism and Christianity. 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A expressão é um tanto análoga à que se refere ao Alcorão como o li vro do Islã. Não é necessário pertencer à comunidade islâmica para ler seus textos significativos com discernimento e apreciação. Mas os muçulmanos os leem com olhos diferentes e veem lá o que os outros não veem. Aqueles que entendem esses textos devem ouvir as vozes daqueles que os confessam como sua própria fé. Ouvir a confissão em seus próprios termos é indispensável à compreensão, quer os intér pretes compartilhem ou não essa confissão. Embora os textos sejam escritos por autores que acreditam que estão testemunhando a verdade suprema e chamem os leitores a compartilhar tal confissão, eles foram escritos para "pessoas de dentro", mas sempre indiretamente chamando "pessoas de fora" para compartilhar a perspectiva "de dentro". Por "igreja", não quero dizer qualquer instituição ou denominação particular, antes me refiro à comunidade ecumênica da fé cristã aber tamente reconhecível, a qual existe ao redor do mundo e ao longo dos séculos. Também não estou me referindo aos admiradores de Jesus no âmbito individual, nem aos defensores da "espiritualidade" privada, os quais contrastam aqueles com a "religião institucionalizada" - 18 embora também, é claro, tenham eles todo o direito de estudar e ava liar o Novo Testamento em seus próprios termos. Pela frase "o livro da igreja", não quero dizer que o Novo Testamento seja de proprie dade da igreja e sujeito à compreensão da igreja, como se a igreja pu desse ouvir dele apenas aquilo que não desafia seus dogmas, ideolo gias e pressuposições. Nem pretejido sugerir que apenas aqueles da comunidade cristã têm o direito de interpretá-lo. De fato, o Novo Testamento pode ser legitimamente interpretado de diferentes ma neiras. O que o indivíduo entende dele depende, em grande medida, daquilo que ele está procurando. Os linguistas podem estudá-lo como amostra do grego helenístico, analisando seu vocabulário e gramática e colocando seus vários documentos no lugar apropriado em relação ao desenvolvimento da língua grega. Os sociólogos podem estudar a família e as estruturas sociais refletidas em seus escritos, suas es truturas de poder e as diferentes formas em que as comunidades do Mediterrâneo do primeiro século estiveram em harmonia com elas, como importantes janelas para o mundo helenístico. Os historiadores da religião podem examiná-lo a partir da luz que ele lança sobre o status das instituições religiosas do mundo mediterrâneo do primeiro século, o novo grupo cristão. Representantes de diversas ideologias (e.g. nacionalismo, cosmopolitanismo, racismo, antirracismo, feminis mo, antifeminismo, militarismo, pacifismo, comunismo, capitalismo) podem vasculhar os textos do Novo Testamento à procura de dados relevantes às suas próprias crenças, assim como os defensores de qualquer seita ou denominação cristã. As perspectivas são sobrepos tas, e algumas trazem à luz dados que podem ser omitidos, mas que são importantes para a compreensão do Novo Testamento. No en tanto, todas trazem sua própria agenda ao texto, e nenhuma delas admite interpretar o Novo Testamento nos termos de sua agenda (so bre "agenda", ver abaixo §5.1.4). Interpretar o Novo Testamento como o Novo Testamento significa tentar compreendê-lo a partir do ponto de vista da comunidade para a qual ele se tornou o conjunto fundamen tal e normativo de documentos que dão testemunho autêntico do ato de Deus da renovação da aliança em Jesus Cristo. Ninguém hoje recebe os documentos do Novo Testamento di retamente das