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Claretiano – Centro Universitário Licenciatura em História FICHAMENTO POLO 2021 ATIVIDADE (PORTFÓLIO) – 2º CICLO DE APRENDIZAGEM A DISTÂNCIA Aluno(a): Antonio Airton Farias RA: 8119091 Polo: Blumenau/SC Disciplina: História Moderna Tutor: Reginaldo de Oliveira Pereira FICHAMENTO Referência Bibliográfica TORELLI, Leandro Salman; PEREIRA, Reginaldo de Oliveira. História Moderna I. Batatais: Claretiano, 2013. Unidades 1, 2 e 3. Resumo dos Capítulos UNIDADE 1 - A AURORA DA MODERNIDADE: CRISE DO FEUDALISMO E O SURGIMENTO DO CAPITALISMO • “O longo processo que resultou na falência do mundo Feudal e na organização do Capitalismo enquanto sistema econômico--social foi um tema de profundo interesse para a historiografia ocidental marxista, especialmente a inglesa, durante parte das décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, constituindo-se como um verdadeiro debate teórico”. (p. 37) • “Em 1946, foi publicado o livro Studies in the Development of Capitalism (em português: A evolução do capitalismo), escrito pelo economista e historiador inglês Maurice Dobb. Esse trabalho, de caráter marxista, pretendia dar conta do processo de surgimento, consolidação, expansão e decadência do modo de produção Capitalista”. (p. 38) • “Por esse motivo, o aspecto que mais chamou a atenção dos historiadores marxistas na obra de Dobb foi a temática da transição do modo de produção Feudal ao Capitalista. Se estávamos no momento da transição do Capitalismo para o Socialismo, nada melhor do que conhecer a transição anterior para interferir nesse processo, isto é, do Feudalismo para o Capitalismo. Por conta disso que esta concepção de transição Feudo- capitalista corresponde a uma maneira marxista de se conceber a passagem da Idade Média para a Idade Moderna”. (p. 38) • “Para Pirenne (1968), o Feudalismo foi destruído por um agente externo, ou seja, o Sistema Feudal não tinha, em sua dinâmica interna, agentes que pudessem destruí-lo, já que, fechado em si mesmo, não produziria contradições suficientes para sua desestruturação completa”. (p. 39) • “Na concepção de Dobb, as definições que tratavam o Feudalismo como uma economia natural ou como um modelo jurídico de relações feudo- vassálicas eram insuficientes, pois não trabalhavam o aspecto primordial que o definia, como um modo de produção: as relações de servidão”. (p. 39) • “Dobb define o Feudalismo na relação entre senhor e servo, ou seja, no campo da luta de classes. Para ele, é nessa tensão social que se desenvolvem os principais mecanismos de transformações que o Sistema Feudal passará e que permitirá o avanço do Capitalismo”. (p. 40) • “No entanto, Dobb tratou de questionar a tese de Pirenne e seus seguidores, mostrando que o Renascimento comercial da Europa ocidental, a partir do século 11 até meados do século 14, não foi um elemento suficiente para a desarticulação do Feudalismo como sustentavam”. (p.40) • “A ineficiência do Feudalismo como sistema produtivo, associada às necessidades crescentes de renda por parte dos senhores feudais, foi o fator fundamental de crise e declínio do modo de produção feudal. O aumento da pressão para extração de riqueza junto à camada servil foi fator fundamental de dissolução do Feudalismo”. (p. 41) • “Esse aumento de pressão sobre os servos tinha uma relação com o comércio, pois os senhores feudais passaram a ter a necessidade de comprar produtos de luxo para manter o seu status social. Entretanto, na concepção de Dobb, o fator fundamental não era o incremento mercantil e a alteração de padrões de comportamento da nobreza, mas sim a reação das classes subalternas ao aumento da exploração servil”. (p41) • “O Sistema Feudal dissolveu-se primordialmente em virtude da luta de classes. O aumento da pressão senhorial para a extração de maiores rendas com os servos resultou no movimento de fuga generalizada dos campos e nas revoltas populares, obrigando, em alguns casos, que senhores retomassem as antigas relações de trabalho. Em outras oportunidades, a nobreza buscou soluções diversas para a falta de mão de obra em suas terras, como o arrendamento de terras para os camponeses que estavam voltados para o mercado utilizando-se delas para produzir”. (p.41) • “Além de criticar a definição de Feudalismo de Dobb, Sweezy pretendia ir mais longe e criticar a própria ideia de dissolução do Sistema Feudal proposta pelo historiador inglês. Sweezy apresentou argumentos em oposição às teses de Dobb e aproximou-se daquela visão defendida por Pirenne à qual nos referimos no início deste tópico. Para o historiador norte- americano, o comércio foi a força criadora que gerou um sistema de produção para a troca, coexistindo com o Sistema Feudal, notadamente voltado para a economia natural”. (p.43) • “Para Sweezy, o comércio possibilitou o desenvolvimento das cidades e das primeiras manufaturas, provocou a fuga dos servos para as cidades e permitiu que, a longo prazo, a coexistência entre Feudalismo e sistema de produção para a troca não pudesse continuar, fatos que acabaram liquidando o Feudalismo na Europa ocidental”. (p.44) • “Dessa forma, Sweezy concluiu que o sistema social feudal foi desmantelado pelo desenvolvimento do comércio e da produção voltados para o mercado, que se tornou irresistível ao sistema anterior. Além disso, nos séculos 15 e 16 não existiria mais o Feudalismo (como supunha Dobb), mas sim uma produção comercial pré- -capitalista, que não era feudal, mas também não era capitalista”. (p.44) • “Dobb concluiu que negar que o Feudalismo tenha fatores de mudança em si mesmo é admitir uma exceção à lei geral do Marxismo, segundo a qual a sociedade é colocada em movimento por suas contradições internas”. (p.45) • “Por conta dessas características, podemos dizer que a sociedade feudal era estamental, isto é, cada um estava preso à sua posição na sociedade; a mobilidade era rara. As camadas principais eram o senhor e o servo; o primeiro definia-se pela posse legal da terra e pelo direito de receber obrigações; o segundo, pela posse útil da terra e pela obrigação de realizar pagamentos ao senhor. O tipo de vida geralmente era rude, e mesmo a camada dos senhores não vivia luxuosamente, embora tivesse alimentação abundante, porém sem requinte. A vida dos servos era miserável em todos os sentidos: casa, roupa, alimentação; só se divertiam nos dias de festas religiosas ou nas colheitas (Cf. ARRUDA, 1976)”. (p.48) • “No plano político, o poder era local e as relações entre os homens eram diretas, impostas pelas necessidades de autoproteção. O poder, por ser localizado, era descentralizado em relação ao rei. A origem de tais relações políticas locais teve início ainda no mundo romano, com o surgimento de instituições como a clientela, o patrocínio, a recomendação e as imunidades”. (p.49) • “A consequência desse sistema era que a soberania política nunca estava focada em um único centro. As funções de poder e de governo desagregavam-se em concessões de feudos, e a cada nível estavam integradas as relações econômicas e políticas. A descentralização de poder era uma característica central deste Sistema Feudal”. (p.49) • “Para aumentar seus rendimentos, os senhores feudais aumentaram as pressões sobre os servos, e, em decorrência dessa coação senhorial, teve início uma fuga generalizada das propriedades feudais, assim como vimos anteriormente nas teses de Dobb (1983)”. (p.50) • “A fuga marcou a ruptura das relações servis e o ponto de partida para a mudança global do sistema, pois o declínio das rendas dos senhores obrigou-os a diminuírem suas despesas, apelando para o deserdamento dos filhos mais novos, que foram obrigados a sair em busca de terras(feudos) para que pudessem se reintegrar socialmente”. (p.50) • “Como lembra Arruda (1996), o processo de exclusão nas camadas dominadas (servis) e nas camadas dominantes (senhoriais) seria uma das causas que possibilitaram a formação de um contingente de homens disponíveis para a realização das Cruzadas. Convocadas pela Igreja e com um profundo sentido religioso que caracteriza a Idade Média, elas representaram uma válvula de escape para as tensões sociais; foram, na verdade, a primeira grande expansão territorial da Europa depois do recuo ocorrido no período medieval”. (p.51) • “De outro ângulo, as Cruzadas foram muito importantes também para o processo de dinamização das atividades mercantis entre a Europa ocidental e o Oriente, abrindo o Mediterrâneo, que estava fechado pelos muçulmanos desde o século 8º. Assim, elas permitiram que produtos orientais entrassem em circulação na Europa, sobretudo especiarias, importadas pelas cidades italianas dos portos do Mediterrâneo oriental. Além disso, o ouro muçulmano permitiu que as moedas voltassem a circular em território europeu”. (p.51) • “O medo relativo aos caminhos desconhecidos e também com relação aos muçulmanos foi substituído pelo espírito de risco e pelo desejo de aventura que pudesse representar lucros efetivos. Dessa forma, surgia uma nova visão de mundo, menos mística e mais pragmática em busca da riqueza”. (p.51) • “As rotas marítimas e fluviais foram mais importantes, pois as comunicações terrestres significavam riscos elevados, o que aumentava o custo dos transportes”. (p.52) • “Formou-se, assim, um grande circuito mercantil, que tendia a se expandir com rotas secundárias subordinadas às três rotas principais. No cruzamento das rotas, os comerciantes paravam para trocar, comprar e vender seus produtos. Eram as chamadas feiras, que, pouco a pouco, perderam o seu caráter temporário, prolongando-se, estabilizando-se e acabando por se transformarem em centros permanentes de trocas internacionais: as cidades mercantis”. (p.53) • “Os burgueses entravam em acordo com os senhores feudais locais, em cujas terras se localizavam as cidades onde haviam se instalado, adquirindo os direitos necessários ao desenvolvimento de suas atividades mediante pagamentos. Para proteger seus interesses contra comerciantes estrangeiros, eles se organizavam em associações – as chamadas guildas mercantis – segundo o Dicionário Houaiss Eletrônico: associação que agrupava, em certos países da Europa medieval, indivíduos com interesses comuns (negociantes, artesãos, artistas) e visava proporcionar assistência e proteção aos seus membros”. (p.53) • “No entanto, acredita-se que esse evento de transformação tão importante, que é a Revolução Comercial da Idade Média, não pode ser considerado como solvente do Sistema Feudal. Essa expansão comercial é parte interna ao próprio sistema, não significando a sua dissolução”. (p.54) • “Assim, as raízes da dissolução definitiva do Sistema Feudal não se encontrariam na Revolução Comercial da Idade Média, entre os séculos 11 e 13, mas sim no momento crucial do século 14”. (p.54) • “Do ponto de vista histórico, os fenômenos dessa crise são bastante conhecidos. Ela sofreu uma decadência agrícola, um processo que deu origem à chamada Grande Fome (1315-1317), uma estagnação comercial, a Peste Negra (1347-1350), as Guerras e as rebeliões populares”. (p.54-55) • “A partir do final do século 13, já não restavam novas fronteiras agrícolas para ocupar, e as que estavam sendo utilizadas apresentavam sinais claros de esgotamento. Além disso, as técnicas, anteriormente inovadoras, mostravam-se insuficientes para dar conta das necessidades produtivas. Todos esses fatores unidos acabaram gerando uma sensível queda no nível produtivo da agricultura medieval”. (p.55) • “Antes do ano 1000, a subalimentação era crônica na Europa. Do século 11 ao 13, a já mencionada melhoria na produção agrícola, associada à expansão cruzadista, reduziu muito a fome e as pestes. Nesse período, a população aumentou bastante, o que acarretou um novo descompasso entre as necessidades da população e a produção agrícola, trazendo de volta o problema da fome”. (p.55) • “Além disso, a Europa ainda vivia um processo intenso de conflitos armados, sendo o mais importante e decisivo para a história posterior à chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Sobre ela, iremos tratar mais detalhadamente na Unidade 3, uma vez que possui um papel decisivo no processo de centralização monárquica tanto na França quanto na Inglaterra. Basta destacar que se tratava, a princípio, de problemas típicos do mundo feudal, como posse de terras de nobres ingleses em território francês, mas que, no final, acabou se configurando em um conflito de interesse nacional entre os dois países”. (p.57) • “Passado o desastroso século 14, a economia europeia parecia retomar o ritmo de crescimento anterior. A população voltou a crescer, a produção também aumentou e, com isso, a possibilidade de dinamização do próprio crescimento populacional. No entanto, a partir de meados do século 15, começaram a surgir novos obstáculos que dificultavam a retomada do crescimento. Alguns historiadores nomearam esse momento de crise de crescimento”. (p.58) • “Um outro fator da crise de crescimento podia ser encontrado no comércio de longa distância. Foi com a compra e venda dos produtos orientais que o Ocidente europeu viu surgir as bases de sua economia mercantil. Entretanto, os problemas estavam no aumento dos intermediários entre esses produtos e o consumidor final na Europa”. (p.59) • “Um último fator, muito importante, da crise de crescimento era a ausência de moeda, a escassez de metais preciosos. Findadas as fontes dentro do território europeu, em virtude de muito ouro do continente ter sido levado para a Ásia como pagamento das especiarias de lá compradas, aconteceu uma profunda escassez de numerário na Europa na segunda metade do século 15”. (p.59) UNIDADE 2 - RENASCIMENTO CULTURAL: O DESPERTAR DO HUMANISMO • “Os próprios renascentistas defendiam que estavam rompendo com um momento histórico de mil anos, a “Era de Trevas”, a Idade Média, entre a civilização greco-romana e o chamado Renascimento”. (p.67) • “Desde o século 11, especialmente a partir dos séculos 13 e 14, a retomada do contato comercial da Europa Ocidental com as civilizações ao Oriente permitiu a emergência de cidades-estados extremamente fortes e desenvolvidas no norte da Itália”. (p.68) • “Essas cidades tinham tamanha importância durante a Baixa Idade Média que, segundo Perry Anderson (1995), conseguiram impedir a formação de um Estado unificado na Itália aos moldes das monarquias que surgiam pela Europa durante o esse período”. (p.68) • “Os antecedentes do Capitalismo encontraram, na Itália, o mais acentuado grau de desenvolvimento. A Península Itálica era, conforme mencionamos na Unidade 1, o centro mais ativo do comércio do Mar Mediterrâneo ao longo dos séculos 13, 14 e 15”. (p.71) • “Os centros urbanos italianos tornaram-se sedes das companhias de comércio e dos grupos financeiros. Era nesses centros que o capital sobrava e buscava mecanismos de valorização e distinção social para os seus detentores”. (p.71) • “O desenvolvimento comercial, como já sabemos, trouxe consigo o surgimento de uma nova classe social: a burguesia. Essa classe teve origem entre diversos grupos da estrutura social feudal e buscava, essencialmente, o prestígio que a riqueza podia comprar”. (p.71) • “Os burgueses passaram a investir na construção de palácios, igrejas, capelas, catedrais, esculturas, quadros, gravuras, afrescos e edifícios públicos. Eles queriam transmitir uma imagem de otimismo, de opulência, de dinamismo e de progresso, valores fundamentais para essa classesocial em ascensão”. (p.71) • “A tomada do poder das mãos da nobreza pelos grupos mercantis burgueses, a instalação de uma comunidade urbana vinculada a atividades econômicas renegadas pela elite feudal e a instalação de repúblicas ditatoriais impunham a necessidade de uma legitimação ideológica”. (p.72) • “O mecenato é uma forma de criar essa legitimação, de glorificar o novo Estado e de justificar as ações da burguesia e do príncipe governante. A Itália era, portanto, o cenário ideal para o surgimento do Renascimento”. (p.72) • “Os humanistas, que surgiram no século 12, defendiam principalmente a reforma no campo intelectual e do saber. Desejavam a revitalização dos estudos na área de humanidades, incluindo novas formações como: poesia, filosofia, história, matemática e eloquência”. (p.73) • “Fundamentalmente, o Humanismo aproxima-se de um novo sistema de valores que vinha surgindo na Europa desde a fase final da Escolástica nas Universidades Medievais, por volta do século 13”. (p.74) • “É importante ressaltar que há uma profunda relação dessa atitude científica com os interesses da camada burguesa, pois esta apoiava a crença na real capacidade humana de criar, recriar, transformar, com o objetivo de buscar atividades lucrativas”. (p.75) • “Comparando as visões de mundo medieval e humanista, percebemos que os teólogos medievais tinham a preocupação voltada para as almas e para Deus, para o mundo transcendente, espiritual e imaterial. Já os humanistas concentravam suas atenções nos conflitos dos homens e na natureza com o objetivo de controlar melhor o destino humano”. (p.75) • “Entretanto, o Humanismo desdobrou-se em uma série de movimentos difusos, nos quais várias correntes acabaram surgindo, tanto em função das localidades, quanto em razão do momento em que esses estudos apareceram em alguns países”. (p.76) • “Lourenço de Médicis, por exemplo, fundou a Academia de Florença, onde se desenvolveu o platonismo”. (p.76) • “Um grupo rival dos florentinos formou-se em Pádua. A chamada Escola de Pádua estava ligada à tradição aristotélica. Nesse local, subordinado a Veneza, não havia muita influência da Igreja, o que permitiu que seus intelectuais humanistas tratassem de assuntos que não diziam respeito a questões teológicas”. (p.77) • “As contribuições do Renascimento não se limitam às ciências, pois o movimento abrangeu primordialmente as artes”. (p.79) • “Segundo Arruda (1996, p. 37), as artes plásticas “tinham uma finalidade essencialmente didática, dirigida a uma sociedade de analfabetos, para os quais era indispensável uma arte absolutamente visual dominada pelo tema da salvação”. (p.79) • “No entanto, a partir da segunda metade do século 12 e ao longo do século 13, surge o gótico. O nome “gótico” foi dado pelos críticos que diziam que a arte gótica era tão bárbara que poderia ter sido criada pelos godos, povo que invadiu Roma e destruiu muitas de suas obras”. (p.80) • “Passou-se também a retratar personalidades oficiais e as personalidades sagradas como se compartilhassem as mesmas características: assim, a representação de personalidades oficiais sugeria tratar-se de personagens sagradas”. (p.82) • “O estilo de escultura chamado mosaico foi a grande contribuição artística de Bizâncio. Consistia na colocação de pequenas pedras de tamanhos e cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa, de modo a construir uma imagem previamente determinada”. (p.83) • “Esse era o cenário artístico da Europa Ocidental à época do aparecimento da Renascença. Mas, como lembra Sevcenko (1994, p. 29), “mais do que normas, esses requisitos da imagem eram dogmas religiosos; rompê-los era sacrilégio, acarretando a destruição da obra e a punição do artista”. Justamente por isso, as inovações de estilos trazidas pelos renascentistas foram tão importantes”. (p.84) • “As primeiras manifestações de um novo estilo artístico surgiram no norte da Península Itálica, com Giotto (1266-1337). Sua arte era uma mistura do universo dinâmico e colorido do gótico com a noção de paisagem típica da arte bizantina”. (p.84) • “Giotto foi o pioneiro no estilo de pintura chamado perspectiva, que surgiu na Itália durante o Renascimento”. (p.85) • “Com o florentino Filippo Brunelleschi (1375-1444), a técnica da perspectiva desenvolvida na pintura foi aperfeiçoada na arquitetura. Brunelleschi, o grande nome da arquitetura renascentista, foi quem primeiro estabeleceu, em torno de 1420, uma relação matemática proporcional entre o objeto e sua representação. Era o surgimento da perspectiva matemática, ou perspectiva exata, em que todos os pontos do espaço retratado obedeciam a uma norma única de projeção”. (p.85) • “Em seguida ao aparecimento da perspectiva matemática de Brunelleschi, Leon Battista Alberti escreveu o seu Tratado de Pintura, em 1443, no qual sistematizava o trabalho do pintor propondo a elaboração da perspectiva em função de dois esquemas básicos: planta e elevação, que depois eram combinados para produzir o efeito desejado, aproximando a produção de uma obra pictórica dos passos seguidos numa obra arquitetônica”. (p.87) • “Com o efeito da perspectiva exata, combinada com a utilização da planta e da elevação, todo o espaço pictórico ficou subordinado a uma única diretriz visual, representada pelo ponto de fuga. Esse recurso determina que, quanto maior a distância dos objetos e elementos em relação ao olhar do pintor, menores eles aparecem no quadro. Essa é a chamada técnica do olho fixo, profundamente desenvolvida na arte renascentista”. (p.87) • “A arte na Renascença ligava-se, definitivamente, ao mundo burguês da produção técnica e individualizada, que se por um lado aumentava o prestígio social do artista, por outro, obrigava-o a entrar na lógica da produção em série que alguns artistas tentavam resistir, deixando-os sozinhos, isolados e decadentes, como aconteceu com Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que foi um grande pintor, escultor, poeta e arquiteto do Renascimento italiano”. (p.90) • “Na literatura e no teatro, as influências humanistas também foram sentidas. A obra fundadora e que primeiro sofreu essas influências foi A divina comédia, de Dante Alighieri (1265-1321)”. (p.91) • “Na mesma região da Toscana onde apareceu A divina comédia surgiu o pai da poesia lírica, Francesco Petrarca (1304-1374). Em sua obra principal, O cancioneiro, Petrarca utilizou as próprias emoções, hesitações, amores e perplexidades como tema único, referindo-se sempre a seu amor desenganado pela jovem Laura, amada distante, inacessível e alvo de um sentimento ao mesmo tempo sublime e tenso”. (p.91) • “Se Petrarca pode ser considerado o criador da poesia lírica moderna, Giovanni Boccaccio (1313-1375) é o pai da narrativa em prosa dos tempos modernos”. (p.92) • “No que diz respeito ao Renascimento italiano, os historiadores da arte dividem cronologicamente o movimento em três épocas. Vejamos exatamente como isso é feito, e quais são as características que se destacam em cada momento”. (p.93) • “Nesse período, assistimos a um processo de transição, a que muitos historiadores da arte preferem chamar o Trecento de Pré--Renascimento, embora já manifeste os elementos fundamentais que logo fariam parte do novo cenário artístico e literário”. (p.93) • “O grande centro de desenvolvimento da nova concepção artística foi a cidade de Florença. Foi lá que Cimabue (1240-1302), Duccio di Vuoninsegna (1255-1318) e Giotto (1266-1337) desenvolveram a maniera nuova, superando o hieratismo e a rigidez de Bizâncio e explorando a mobilidade, o cromatismo e a espacialidade do gótico”. (p.93) • “No entanto, a morte de Giotto foi o prenúncio de uma crise, que se verificaria com os problemas econômicos de Florença, resultando na falênciadas grandes companhias de Bardi e Peruzzi (1339). Ocorreria, ainda, uma revolta popular em 1378 que abalou a posição de destaque ocupada por Florença, desencorajando os gastos com arte e cultura”. (p.94) • “Na pequena cidade comercial de Siena, o Trecento teve sua recuperação, com figuras como Simoni Martini (1283-1344), os irmãos Pietro e Ambrolio Lorenzetti (1280-1348) (a data refere-se somente ao Ambrolio, pois as de Pietro são desconhecidas), Tadeo Gaddi (1300-1366), Bernardo Daddi (1330-1410) e Spinello Aretino (1330? -1410)”. (p.94) • “O Quatrocento é a época que simboliza o auge da Renascença. Florença reassumiu a liderança da cultura italiana e europeia sob o comando dos Médicis (Cosme, Pedro e Lourenço), que governaram a cidade entre 1434 e 1492. Todos foram mecenas de artistas e Lourenço foi um dos maiores colecionadores de arte do seu tempo. Ele ainda fundou a Academia Platônica de Florença, foi um grande poeta e ditou a produção cultural da cidade durante o seu período no poder”. (p.96) • “A construção da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, projetada por Brunelleschi, consagrou a glória e a hegemonia da burguesia florentina com o mais significativo dos monumentos renascentistas”. (p.97) • “Na mesma linha de Masaccio e Donatello, desenvolveram-se as tendências do naturalismo, arte que procura expressar a anatomia e as paisagens da maneira mais próxima possível do real. Pintores como Piero della Francesca (1416-1492), Paollo Uc-cello (1396-1475), Luca Signorelli e Andrea Nantegna marcaram o auge da corrente naturalista, que conseguia fazer uma composição bastante virtuosa com a perspectiva”. (p.99) • “Em contrapartida, nesse período também surgiu uma pintura mais próxima do velho estilo gótico, recompondo a espiritualidade e o simbolismo daquela visão, o que a aproximava muito da arte de Giotto. Fra Angélico (1384-1455) foi o pintor que melhor representou esse retorno”. (p.100) • “A última geração de artistas florentinos do século 15 representou uma espécie de síntese das duas anteriores, procurando fundir as conquistas formais e espaciais da corrente liderada por Masaccio, com a graça, sutileza e o formalismo de Fra Angelico. O precursor dessa síntese foi Sandro Botticelli (1445-1510)”. (p.102) • “O século 16, último período do Renascimento italiano, é aquele em que as obras artísticas atingiram seu mais elevado grau de elaboração, com artistas do calibre de Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio. Contudo, a vitalidade comercial e urbana da Península Itálica já não era mais a mesma, na medida em que a expansão marítima de Portugal e da Espanha deslocou o eixo dinâmico do comércio do Mediterrâneo para o Atlântico. Além disso, a invasão da Itália pelo rei da França, Carlos VIII, em 1494 e, finalmente, o saque de Roma e do palácio papal pelas tropas espanholas e alemãs de Carlos V, interromperam o processo criativo”. (p.103-104) • “A produção desses pintores sintetiza um processo de avanço da arte desde os primeiros momentos da Renascença e, por isso, faz todos os outros parecerem superados ou primitivos. Entretanto, foi por meio da sustentação teórica e metodológica criada por esses artistas anteriores que Rafael, Michelangelo e Leonardo puderam atingir o nível que atingiram”. (p. 104-105) • “Já no campo da escultura, Michelangelo destaca-se, superando em muitos aspectos seus antecessores, como Verrochio e Donatello. Segundo Proença (2007, p. 105), a comparação de Davi entre Verrochio (apresentada anteriormente) e Michelangelo (a seguir) demonstra claramente a evolução da escultura renascentista”. (p.109) • “Se a Itália é a casa do Renascimento, podemos dizer que Flandres foi o lar de férias do movimento. No campo da literatura, podemos destacar o humanista Erasmo de Roterdã (1467-1536), retratado na Figura 31, que nasceu em Roterdã, na Holanda e foi um pensador importante em sua época – celebrado como autor do clássico O elogio da loucura (1511)”. (p.112) • “Entre os principais pintores, podemos destacar o Mestre de Flemalle (Robert Campin, 1375? -1444), os irmãos Jan (1390-1441) e Hubert (1366-1426) Van Eyck, Rogier Van der Weyden (1400-1484), Hugo Van der Goes (1420-1482), Hans Memling (1435-1494) e, fundamentalmente, Hieronymus Bosch (1450- 1516) e Pieter Bruegel (1525-2569). Vejamos, nas Figuras 32 e 33, as pinturas representativas destes últimos”: (p.113) • “O Renascimento francês, muito mais restrito que o italiano ou mesmo do que dos Países Baixos, teve algum grau de elaboração, especialmente na corte de Paris, onde monarcas como Luís XI (1461-1483) e Francisco I (1515- 1547) atuaram como mecenas, mantendo diversos artistas, humanistas e literatos”. (p.115) • “Entretanto, foi na literatura que a França produziu seu maior nome do período renascentista, o escritor Rabelais (1494-1593), destacado na Figura 34, autor dos importantes livros Gargântua e Pantagruel”. (p.115) • “Os grandes nomes do Renascimento na Inglaterra estão na literatura e no teatro. Na literatura, destacaram-se Thomas Morus, com Utopia (1516), e Francis Bacon, com a Nova Atlântida (1614), obras seminais de uma corrente do pensamento humanista, os utopistas, que concebiam uma comunidade ideal, puramente imaginária, em que homens e mulheres vivem e trabalham felizes, com fartura, paz e mantendo relações fraternais entre si. Para eles, essa possibilidade seria dada quando os homens permitissem que o poder emanasse da razão, que exprimiria, necessariamente, a perfeição e o bem”. (p.116) • “Além disso, no teatro, a Inglaterra produziu um dos maiores autores de todos os tempos: William Shakespeare, um dos pais do drama moderno”. (p.116) • “Na Alemanha, o Renascimento chegou tardio, mas foi intenso, visto que muitas regiões tinham cidades com desenvolvimento comercial notável e, portanto, com a burguesia à espera de mecanismos sociais de distinção”. (p.116) • “Nas artes plásticas, o grande nome é Albrecht Dürer, que uniu em suas obras a solidez do gótico alemão, o cromatismo do gótico tardio, a luminosidade da arte flamenga e as inovações italianas na profundidade e harmonia (Cf. SEVCENKO, 1994). Entretanto, trouxe uma contribuição pessoal ao representar em seus quadros traços psicológicos do retratado (Cf. PROENÇA, 2007)”. (p.117) • “A ascensão do Renascimento espanhol acontece em um contexto completamente diferente de todos os expostos até aqui: nesse país, não há um desenvolvimento notável da burguesia, e a sociedade é tipicamente guerreira, aristocrática e católica. Nessas condições, é fácil compreender por que foi tão difícil a inclusão das ideias renascentistas na Espanha. Por conta da Contrarreforma católica e da consequente perseguição religiosa (particularmente forte nesse país), a vigência dos ideais do Renascimento foi curta, entre o fim do século 15 e início do 16”. (p. 117) • “Na Espanha, o Renascimento chegou tarde e foi embora cedo, permitindo a emergência rápida do maneirismo e do específico mudéjar, estilos predecessores do Barroco. O Humanismo destacou-se especialmente na literatura, com obras de Miguel de Cervantes, Inácio de Loyola (Fundador da Companhia de Jesus) e Herrera. No teatro, surgiram as obras de Lope de Veja”. (p.117) • “O Renascimento em Portugal surgiu num contexto otimista e de resultados positivos advindos da expansão marítima. O Humanismo português teve em Francisco de Sá Costa (1495-1558) sua figura mais proeminente. Depois de um tempo na Itália, esse pensador trouxe as ideias renascentistas para Portugal, especialmente na literatura e na dramaturgia”. (p.118) • “Suas ideias influenciaram os jovens poetas da época, destacando-se Luís Vaz de Camões (1524-1580), autor da célebre epopeia das conquistas marítimas portuguesas, os lusíadas. No teatro, destacou-se Gil Vicente (1470-1536),fundador do moderno teatro nacional de Portugal e autor de uma vasta obra: Auto da barca do inferno, Auto da alma, A farsa de Inês Pereira”. (p.118) • “Nas artes plásticas, Nuno Gonçalves destacou-se como o pintor que conseguiu incorporar a maior parte do brilho, do colorido e da grandiosidade das obras renascentistas em seu Políptico de São Vicente de Fora, considerado a versão visual da epopeia de Camões”. (p.118) • “Dessa nova visão, resultou a perspectiva de que tudo o que existe pode e deve ser explicado pela razão e pela investigação, isto é, pela ciência. Portanto, a atitude científica é outra grande contribuição da Renascença, legado que se aprofundaria nos séculos posteriores”. (p.119) • “O Naturalismo, porém, não eliminou a noção de que a obra--prima divina era o homem. Ou seja, para os renascentistas, o homem era a criação fundamental de Deus, e deveria ser colocado no centro das preocupações, destacando suas necessidades sociais, políticas, religiosas e mentais”. (p.119) • “Dessa perspectiva surgiu o antropocentrismo, que não era, como se acreditou durante algum tempo, uma manifestação ateísta, pois considerava o homem, como já dissemos, a manifestação mais perfeita da obra divina”. (p.119-120) UNIDADE 3 – A CENTRALIZAÇÃO DO PODER: O SURGIMENTO DOS ESTADOS NACIONAIS • “Ao longo da Idade Média, especialmente após o século 10, as macroestruturas políticas ancoravam-se em torno dos seguintes eixos: 1) Igreja Católica 2) Sacro Império Romano Germânico 3) Monarquias locais 4) Comunas ou burgos” (p.120) • “Embora essas instituições disputassem a hegemonia política, a força da Igreja (principalmente) e do Império (de forma limitada) impedia o avanço efetivo do poder monárquico local. Além disso, a realidade histórica medieval no auge do Sistema Feudal, em que as populações camponesas eram subordinadas aos senhores de terras que detinham o poder político, também delegava ao rei um papel secundário, que, na prática, se tornava mais um senhor feudal”. (p.130) • “Os interesses da burguesia nascente também se ligavam ao rei. A centralização de poder auxiliou os burgueses no processo de obtenção de riqueza e acumulação de capital, ao mesmo tempo em que garantia um mercado consumidor e força militar para a luta contra as burguesias de outros países por diferentes mercados e produtos”. (p.131) • “Tanto a nobreza quanto a burguesia tinham interesses na centralização monárquica, porém esses interesses eram distintos e entravam, em alguns momentos, em choque. Além disso, essa centralização foi decisiva para a recuperação europeia na crise do Sistema Feudal”. (p.132) • “A força militar permitiu ao rei ampliar sua capacidade de cobrar impostos que recaíam, principalmente, sobre os camponeses e artesãos. Além disso, com exércitos fortes, a monarquia foi capaz de reprimir e fazer cumprir o seu poder dentro e fora do território que comandava”. (p.132) • “Entre os casos de centralização monárquica na transição da Idade Média para a Moderna, certamente o de Portugal é muito importante, em virtude de seu papel decisivo no processo de Expansão Marítima a partir do século 15”. (p.133) • “O processo de reconquista da Península Ibérica, do século 12 até o século 15, foi decisivo para a centralização da monarquia lusitana. Em Portugal, esse processo se iniciou com o papel decisivo de Afonso Henriques, chefe militar que liderou a reconquista do atual território norte de Portugal. Desse momento em diante, houve um processo mais intenso de centralização do poder nas mãos do monarca, com uma série de reis que formaram a primeira dinastia portuguesa”: (p.134) • “Dessa forma, "em torno dele foram-se reagrupando os vários setores sociais influentes da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes, a burocracia nascente". Até porque, "nas condições da época era o Estado, ou mais propriamente a Coroa, quem podia se transformar em um grande empreendedor, se alcançasse as condições de força e estabilidade para tanto"”. (p.137) • “Em meados do século 9º, ocorreu um fato simbólico de extrema importância para a formação do Estado espanhol. Numa pequena região ao norte da Península Ibérica, chamada Compostela, foram descobertos restos mortais identificados por religiosos como sendo do apóstolo São Tiago. Ele foi um dos principais seguidores de Jesus, e teria sido morto em Jerusalém, de onde seu corpo foi trazido milagrosamente para a Península, segundo a interpretação cristã”. (p.138) • “Paralelamente, no caminho até Santiago de Compostela, diversas localidades receberam um impulso econômico em virtude do contingente de pessoas que passavam por lá, desenvolvendo o comércio e os serviços urbanos para atendimento dos peregrinos. A população cristã aumentou a força militar também e, paulatinamente, as lutas contra os muçulmanos começaram a pender para o lado cristão. Mesmo assim, foram mais de quatro séculos de batalhas para expulsar, definitivamente, os mouros da Península Ibérica”. (p.138) • “Na medida em que os conflitos com os muçulmanos se estendiam, os reinos menores foram incorporados por Castela e Aragão. Em 1469, ocorreu a formação da Espanha, com o casamento de Isabel, rainha de Castela, com o príncipe de Aragão, Fernando. A essa altura, a Reconquista estava praticamente terminada, faltava apenas a vitória sobre o último reduto mouro na Península, Granada, ao extremo sul, objetivo alcançado em 1492, e a anexação de Navarra, em 1515”. (p.139) • “Desse modo, no século 16, aquela região que esteve ocupada pelos muçulmanos ao longo de boa parte da Idade Média se tornava o principal reduto de recuperação europeia da crise final do Feudalismo. Foi na Península Ibérica que surgiram os primeiros Estados centralizados e foi de lá que partiu a Expansão Marítima e a recuperação comercial do continente. O Estado Espanhol mostrara-se hegemônico, formando um Império sem precedentes na história”. (p.139) • “Os países mais ao norte, no caso a França e a Inglaterra, tiveram um processo de centralização monárquica diferente das nações ibéricas. Foi uma guerra, a chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que teve um papel fundamental no processo de formação do Estado inglês e francês”. (p.140) • “A Guerra dos Cem Anos continha todas as semelhanças possíveis com os conflitos típicos do Feudalismo. Entretanto, algumas características podem ser relacionadas ao novo momento histórico de transição sistêmica. Para muitos historiadores, o fator fundamental da Guerra dos Cem Anos foi a disputa entre Inglaterra e França pelo domínio da região de Flandres”. (p.140) • “Observamos que nessa guerra vários tipos de conflitos se estabeleceram ao mesmo tempo, um com características marcadamente comerciais, outro com traços feudais e um terceiro de caráter político”. (p.141) • “Em contrapartida, a Guerra que se travou entre França e Inglaterra ao longo dos séculos 14 e 15 é também a expressão do surgimento de uma nova hegemonia capitalista, em substituição às cidades italianas. Da Guerra dos Cem Anos sairia a estrutura político-econômica que deslocaria o eixo dinâmico do Capitalismo comercial do Mediterrâneo para o norte europeu, a partir do chamado ciclo sistêmico de acumulação holandês”. (p.141) • “Depois da morte do papa Bonifácio VIII, Filipe interferiu na sucessão da Igreja impondo um nome de seu agrado: Clemente V. Além disso, a Igreja deixou Roma e foi para Avignon sob supervisão direta da monarquia francesa. Esse processo desencadeou uma crise profunda nos meios eclesiásticos e, o mais importante para a nossa discussão, uma afirmação definitiva da monarquia francesa. Essa era a faceta da monarquia francesa às portas da Guerra dos Cem Anos”. (p.143) • “No caso inglês, o processo foi um pouco diferente. Em 1066, nafamosa Batalha de Hastings, Guilherme, o Conquistador, invadiu o território da atual Grã-Bretanha e destruiu os reinos herdeiros da época germânica que estavam instalados ali”. (p.144) • “No século 15, a vitória final da França na Guerra dos Cem Anos tornou mais intenso o poder do rei e consolidou a monarquia francesa. Em contrapartida, a derrota inglesa mergulhou o país em uma guerra civil, a chamada Guerra das Duas Rosas (1455-1485). A Guerra das Duas Rosas foi uma luta entre duas famílias nobres, Lancaster e York, apoiadas por facções rivais da nobreza. Essa guerra civil pelo trono inglês devastou o país, dizimou a nobreza e terminou com a ascensão de Henrique Tudor (casado com Elizabeth de York), apoiado pela burguesia (MELLO; COSTA, 1999, p. 75)”. (p.145) • “A consolidação dos Estados Modernos europeus foi seguida pela estruturação político-ideológica do poder supremo do rei. Esse processo criou um tipo específico de Estado, que, apesar das nuances diferenciadas de cada localidade, foi denominado Absolutista”. (p.146) • “Desse modo, a formação da monarquia nos países ao final da Idade Média foi seguida de uma estrutura de Estado que rompeu definitivamente com as estruturas de poder cristalizadas durante o período: a destruição das relações feudo-vassálicas e da servidão. Em seu lugar surgiu, ao redor do rei, um Estado centralizado, forte, com exércitos regulares, burocracia permanente, sistema tributário unificado, códigos de leis e mercado nacional”. (p.146) • “Ao longo dos séculos 16 e 17, surgiram as justificativas teóricas para o poder absoluto do rei, que estavam inseridas na terceira etapa apontada por Arruda (1996). No contexto de autoridade que esses reis tinham, muitos pensadores passaram a estruturar construções lógicas que explicassem a necessidade desse poder. Dentre esses pensadores, podemos citar: Nicolau Maquiavel, Jean Bodin, Thomas Hobbes, Jacques Bossuet, entre outros. Vamos ver um pouco mais sobre eles”. (p.147) • “Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano do século16, escreveu O príncipe, um tratado destinado a se converter em um manual de política para ensinar aos príncipes como conquistar e manter o poder, mesmo tendo de ir contra as normas de conduta e moral cristã da época”. (p.147) • “O francês Jean Bodin (1530-1596) desenvolveu a teoria da soberania do Estado, na qual compreendia o poder supremo do rei sobre todos os súditos, sem restrições de qualquer natureza. Para ele, a autoridade do rei era uma concessão divina, cabendo a todos os súditos a obediência passiva”. (p.148) • “Thomas Hobbes (1588-1679), inglês, em seu famoso livro Leviatã afirmou que, em seu estado natural, os homens lutavam uns contra os outros, até que a guerra e violência incontroláveis levaram os homens a estabelecer um pacto. Por meio desse Contrato Social, os homens abriam mão da liberdade em troca da segurança oferecida pelo Estado, cuja soberania sobre os súditos se tornou absoluta. O rei era a expressão desse Estado e o detentor dessa soberania. Para Hobbes, a autoridade do rei não vinha de Deus, mas dos poderes que os próprios homens o haviam concedido”. (p.148-149) • “Jacques Bossuet (1627-1704), francês, escreveu A política inspirada nas sagradas escrituras, na qual formulou a teoria do absolutismo por direito divino. Essa teoria defendia que o rei era um representante de Deus e, como tal, seus atos poderiam ser julgados somente por Ele. Bossuet afirmava que "o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus" e que "o rei vê melhor, e deve obedecer-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição"”. (p.149) • “No momento de sua consolidação, o Absolutismo encontrou, na Espanha, seu modelo mais próximo da perfeição. A dinastia Habsburgo, no século 16, conseguiu dominar um império territorial de dimensões nunca antes vistas”. (p.149) • “Aproveitando-se de situações históricas que a colocavam à frente das outras monarquias europeias, a Coroa espanhola utilizou-se largamente de suas possessões territoriais conquistadas para comandar os rumos geopolíticos do mundo”. (p.150) • “No entanto, na construção teórica de Giovanni Arrighi, todo esse império espanhol serviu como anteparo material e militar para a hegemonia capitalista de Gênova, cidade-estado italiana da época moderna”. (p.150) • “Dessa forma, não podemos deixar de destacar que foi graças aos metais preciosos do continente americano que Filipe II, rei espanhol sucessor de Carlos V, conseguiu promover enormes operações militares e navais no canal da Mancha no Egeu, em Túnis e na Antuérpia; incorporar-se ao trono português; e dominar, enfim, boa parte do norte da Península Itálica. É em seu reinado que o crepúsculo do poderio ibérico começou a se apresentar no horizonte”. (p.151) Comentário. Nas três primeiras unidades da Apostila de História Moderna I foi abordado a rota geral e a historiografia da transição do feudalismo para o capitalismo, mostrando dois argumentos básicos: fatores externos e luta de classes. Embora este seja um método marxista de transição da Idade Média para a Idade Moderna, por considerar o conceito de mudanças no modo de produção do feudalismo para o capitalismo, permitindo assim compreender os aspectos importantes que constituem os fatores da produção, a partir do surgimento da era moderna. Portanto, embora tenha como foco os problemas econômicos do período, também nos permite analisar esses problemas por meio de uma compreensão mais ampla dos acontecimentos. Nessa perspectiva, podemos perceber que o processo de transição, primeiramente foi restaurando os aspectos básicos das organizações feudais, para depois estabelecer o processo de comércio e regeneração urbana entre os séculos XI e XIII. E que a expansão marítima, formação de Estados-nação e o surgimento de empregos com remuneração, foram fatores fundamentais para resolver a crise de crescimento que a Europa viveu no século XV. Iniciando assim o século 16 com o nascimento do capitalismo comercial, onde houve transição do feudalismo para o capitalismo em diferentes áreas da sociedade, como na cultura, política, economia e religião, e que essas mudanças geraram muita tensão social, tendo o declínio da aristocracia, e a ascensão da burguesia, o desenvolvimento de camponeses rebeldes, trabalhadores urbanos e outras atividades. A sociedade feudal estava intimamente relacionada ao status na sociedade, portanto, há pouca possibilidade de mudança. Essa sociedade se organizava em dois pilares, o mestre e o servo, a primeira é definida como a propriedade legal da terra e o direito de aceitar dívidas dos empregados, a segunda é a propriedade útil da terra e a obrigação de pagá-lo. No nível político, o poder é local e a relação entre as pessoas é direta, devido à necessidade de autoproteção. A origem das relações políticas locais ocorreu no mundo romano, com o surgimento de instituições como clientes, patrocínios, encaminhamentos e imunidade. O juramento de lealdade conecta o vassalo com seu mestre. A igreja é o ápice da sociedade feudal, interpreta a realidade de forma ortodoxa, o que tem um grande impacto na formação da mentalidade das pessoas. Além disso, proíbe o lucro e os juros exigidos na agiotagem porque são pecaminosos para os cristãos. Quando percebemos que, sob o pano de fundo histórico da transição do feudalismo para o capitalismo, a sociedade europeia vivia um momento de mudanças profundas e lentas, este problema torna-se mais complicado, com o processo de formação, desenvolvimento e influência do humanismo e da cultura renascentista que se desenvolveu na Europa Ocidental dos séculos XIV ao XVI. No início do século 13, com as mudanças econômicas e políticas, o renascimento surgiu na Itália e exibiu suas principais características, destacandoos aspectos básicos que vinculam esta corrente de pensamento aos interesses da nova burguesia e demonstramos como se relaciona com as realidades locais, especialmente a italiana, o berço da Renascença. Comprovando que a crise do sistema feudal permitiu à monarquia centralizar o poder, que tem características diferentes em diferentes países da Europa Ocidental com Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França, e essa centralização da monarquia levou ao surgimento de um tipo de estrutura de país denominado ditadura absoluta, em que o rei exercia o poder de forma ditatorial, sem ser restringido por lei. Alguns pensadores associam esse verdadeiro poder à origem divina e argumentam com os defensores que o sujeito deve obedecê-lo. No entanto, podemos ver que este tipo de poder tem uma origem fundamental na luta pela hegemonia entre a aristocracia abolida e a ascensão da burguesia, que será destruído em uma série de revoluções burguesas que começaram na Inglaterra no século XVII..., a França no século XVIII, e XIV em outros países europeus. Por fim, a sociedade dominante sempre usou o poder para se proteger, e manter o poder sobre as classes, vimos que o avanço da divisão do trabalho e o surgimento da propriedade privada dos meios de produção levaram à divisão da sociedade em classes. Este processo atingiu o seu apogeu na sociedade capitalista, onde as classes que possuíam os meios de produção começaram a explorar a classe trabalhadora, e eles só tinha o seu trabalho. Para manter este tipo de exploração, a qualquer momento, a classe dominante em qualquer lugar sempre precisa de coerção e opressão para enfrentar a resistência dos explorados.