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Claretiano – Centro Universitário 
Licenciatura em História 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHAMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLO 
2021 
ATIVIDADE (PORTFÓLIO) – 2º CICLO DE APRENDIZAGEM A 
DISTÂNCIA 
 
 
 
Aluno(a): Antonio Airton Farias 
RA: 8119091 
Polo: Blumenau/SC 
Disciplina: História Moderna 
Tutor: Reginaldo de Oliveira Pereira 
 
 
FICHAMENTO 
 
Referência Bibliográfica 
TORELLI, Leandro Salman; PEREIRA, Reginaldo de Oliveira. História Moderna I. 
Batatais: Claretiano, 2013. Unidades 1, 2 e 3. 
 
 
Resumo dos Capítulos 
 
UNIDADE 1 - A AURORA DA MODERNIDADE: CRISE DO FEUDALISMO E O 
SURGIMENTO DO CAPITALISMO 
 
• “O longo processo que resultou na falência do mundo Feudal e na 
organização do Capitalismo enquanto sistema econômico--social foi um 
tema de profundo interesse para a historiografia ocidental marxista, 
especialmente a inglesa, durante parte das décadas posteriores à Segunda 
Guerra Mundial, constituindo-se como um verdadeiro debate teórico”. (p. 37) 
 
• “Em 1946, foi publicado o livro Studies in the Development of Capitalism (em 
português: A evolução do capitalismo), escrito pelo economista e historiador 
inglês Maurice Dobb. Esse trabalho, de caráter marxista, pretendia dar conta 
do processo de surgimento, consolidação, expansão e decadência do modo 
de produção Capitalista”. (p. 38) 
• “Por esse motivo, o aspecto que mais chamou a atenção dos historiadores 
marxistas na obra de Dobb foi a temática da transição do modo de 
produção Feudal ao Capitalista. Se estávamos no momento da transição do 
Capitalismo para o Socialismo, nada melhor do que conhecer a transição 
anterior para interferir nesse processo, isto é, do Feudalismo para o 
Capitalismo. Por conta disso que esta concepção de transição Feudo-
capitalista corresponde a uma maneira marxista de se conceber a passagem 
da Idade Média para a Idade Moderna”. (p. 38) 
 
• “Para Pirenne (1968), o Feudalismo foi destruído por um agente externo, ou 
seja, o Sistema Feudal não tinha, em sua dinâmica interna, agentes que 
pudessem destruí-lo, já que, fechado em si mesmo, não produziria 
contradições suficientes para sua desestruturação completa”. (p. 39) 
 
• “Na concepção de Dobb, as definições que tratavam o Feudalismo como 
uma economia natural ou como um modelo jurídico de relações feudo-
vassálicas eram insuficientes, pois não trabalhavam o aspecto primordial que 
o definia, como um modo de produção: as relações de servidão”. (p. 39) 
 
• “Dobb define o Feudalismo na relação entre senhor e servo, ou seja, no 
campo da luta de classes. Para ele, é nessa tensão social que se 
desenvolvem os principais mecanismos de transformações que o Sistema 
Feudal passará e que permitirá o avanço do Capitalismo”. (p. 40) 
 
• “No entanto, Dobb tratou de questionar a tese de Pirenne e seus seguidores, 
mostrando que o Renascimento comercial da Europa ocidental, a partir do 
século 11 até meados do século 14, não foi um elemento suficiente para a 
desarticulação do Feudalismo como sustentavam”. (p.40) 
 
• “A ineficiência do Feudalismo como sistema produtivo, associada às 
necessidades crescentes de renda por parte dos senhores feudais, foi o fator 
fundamental de crise e declínio do modo de produção feudal. O aumento da 
pressão para extração de riqueza junto à camada servil foi fator fundamental 
de dissolução do Feudalismo”. (p. 41) 
 
• “Esse aumento de pressão sobre os servos tinha uma relação com o 
comércio, pois os senhores feudais passaram a ter a necessidade de 
comprar produtos de luxo para manter o seu status social. Entretanto, na 
concepção de Dobb, o fator fundamental não era o incremento mercantil e a 
alteração de padrões de comportamento da nobreza, mas sim a reação das 
classes subalternas ao aumento da exploração servil”. (p41) 
 
• “O Sistema Feudal dissolveu-se primordialmente em virtude da luta de 
classes. O aumento da pressão senhorial para a extração de maiores rendas 
com os servos resultou no movimento de fuga generalizada dos campos e 
nas revoltas populares, obrigando, em alguns casos, que senhores 
retomassem as antigas relações de trabalho. Em outras oportunidades, a 
nobreza buscou soluções diversas para a falta de mão de obra em suas 
terras, como o arrendamento de terras para os camponeses que estavam 
voltados para o mercado utilizando-se delas para produzir”. (p.41) 
 
• “Além de criticar a definição de Feudalismo de Dobb, Sweezy pretendia ir 
mais longe e criticar a própria ideia de dissolução do Sistema Feudal 
proposta pelo historiador inglês. Sweezy apresentou argumentos em 
oposição às teses de Dobb e aproximou-se daquela visão defendida por 
Pirenne à qual nos referimos no início deste tópico. Para o historiador norte-
americano, o comércio foi a força criadora que gerou um sistema de 
produção para a troca, coexistindo com o Sistema Feudal, notadamente 
voltado para a economia natural”. (p.43) 
 
• “Para Sweezy, o comércio possibilitou o desenvolvimento das cidades e das 
primeiras manufaturas, provocou a fuga dos servos para as cidades e 
permitiu que, a longo prazo, a coexistência entre Feudalismo e sistema de 
produção para a troca não pudesse continuar, fatos que acabaram liquidando 
o Feudalismo na Europa ocidental”. (p.44) 
 
• “Dessa forma, Sweezy concluiu que o sistema social feudal foi desmantelado 
pelo desenvolvimento do comércio e da produção voltados para o mercado, 
que se tornou irresistível ao sistema anterior. Além disso, nos séculos 15 e 
16 não existiria mais o Feudalismo (como supunha Dobb), mas sim uma 
produção comercial pré- -capitalista, que não era feudal, mas também não 
era capitalista”. (p.44) 
 
• “Dobb concluiu que negar que o Feudalismo tenha fatores de mudança em si 
mesmo é admitir uma exceção à lei geral do Marxismo, segundo a qual a 
sociedade é colocada em movimento por suas contradições internas”. (p.45) 
 
• “Por conta dessas características, podemos dizer que a sociedade feudal era 
estamental, isto é, cada um estava preso à sua posição na sociedade; a 
mobilidade era rara. As camadas principais eram o senhor e o servo; o 
primeiro definia-se pela posse legal da terra e pelo direito de receber 
obrigações; o segundo, pela posse útil da terra e pela obrigação de realizar 
pagamentos ao senhor. O tipo de vida geralmente era rude, e mesmo a 
camada dos senhores não vivia luxuosamente, embora tivesse alimentação 
abundante, porém sem requinte. A vida dos servos era miserável em todos 
os sentidos: casa, roupa, alimentação; só se divertiam nos dias de festas 
religiosas ou nas colheitas (Cf. ARRUDA, 1976)”. (p.48) 
 
• “No plano político, o poder era local e as relações entre os homens eram 
diretas, impostas pelas necessidades de autoproteção. O poder, por ser 
localizado, era descentralizado em relação ao rei. A origem de tais relações 
políticas locais teve início ainda no mundo romano, com o surgimento de 
instituições como a clientela, o patrocínio, a recomendação e as imunidades”. 
(p.49) 
 
• “A consequência desse sistema era que a soberania política nunca estava 
focada em um único centro. As funções de poder e de governo 
desagregavam-se em concessões de feudos, e a cada nível estavam 
integradas as relações econômicas e políticas. A descentralização de poder 
era uma característica central deste Sistema Feudal”. (p.49) 
 
• “Para aumentar seus rendimentos, os senhores feudais aumentaram as 
pressões sobre os servos, e, em decorrência dessa coação senhorial, teve 
início uma fuga generalizada das propriedades feudais, assim como vimos 
anteriormente nas teses de Dobb (1983)”. (p.50) 
 
• “A fuga marcou a ruptura das relações servis e o ponto de partida para a 
mudança global do sistema, pois o declínio das rendas dos senhores 
obrigou-os a diminuírem suas despesas, apelando para o deserdamento dos 
filhos mais novos, que foram obrigados a sair em busca de terras(feudos) 
para que pudessem se reintegrar socialmente”. (p.50) 
 
• “Como lembra Arruda (1996), o processo de exclusão nas camadas 
dominadas (servis) e nas camadas dominantes (senhoriais) seria uma das 
causas que possibilitaram a formação de um contingente de homens 
disponíveis para a realização das Cruzadas. Convocadas pela Igreja e com 
um profundo sentido religioso que caracteriza a Idade Média, elas 
representaram uma válvula de escape para as tensões sociais; foram, na 
verdade, a primeira grande expansão territorial da Europa depois do recuo 
ocorrido no período medieval”. (p.51) 
 
• “De outro ângulo, as Cruzadas foram muito importantes também para o 
processo de dinamização das atividades mercantis entre a Europa ocidental 
e o Oriente, abrindo o Mediterrâneo, que estava fechado pelos muçulmanos 
desde o século 8º. Assim, elas permitiram que produtos orientais entrassem 
em circulação na Europa, sobretudo especiarias, importadas pelas cidades 
italianas dos portos do Mediterrâneo oriental. Além disso, o ouro muçulmano 
permitiu que as moedas voltassem a circular em território europeu”. (p.51) 
 
• “O medo relativo aos caminhos desconhecidos e também com relação aos 
muçulmanos foi substituído pelo espírito de risco e pelo desejo de aventura 
que pudesse representar lucros efetivos. Dessa forma, surgia uma nova 
visão de mundo, menos mística e mais pragmática em busca da riqueza”. 
(p.51) 
 
• “As rotas marítimas e fluviais foram mais importantes, pois as comunicações 
terrestres significavam riscos elevados, o que aumentava o custo dos 
transportes”. (p.52) 
 
• “Formou-se, assim, um grande circuito mercantil, que tendia a se expandir 
com rotas secundárias subordinadas às três rotas principais. No cruzamento 
das rotas, os comerciantes paravam para trocar, comprar e vender seus 
produtos. Eram as chamadas feiras, que, pouco a pouco, perderam o seu 
caráter temporário, prolongando-se, estabilizando-se e acabando por se 
transformarem em centros permanentes de trocas internacionais: as cidades 
mercantis”. (p.53) 
 
• “Os burgueses entravam em acordo com os senhores feudais locais, em 
cujas terras se localizavam as cidades onde haviam se instalado, adquirindo 
os direitos necessários ao desenvolvimento de suas atividades mediante 
pagamentos. Para proteger seus interesses contra comerciantes 
estrangeiros, eles se organizavam em associações – as chamadas guildas 
mercantis – segundo o Dicionário Houaiss Eletrônico: associação que 
agrupava, em certos países da Europa medieval, indivíduos com interesses 
comuns (negociantes, artesãos, artistas) e visava proporcionar assistência e 
proteção aos seus membros”. (p.53) 
 
• “No entanto, acredita-se que esse evento de transformação tão importante, 
que é a Revolução Comercial da Idade Média, não pode ser considerado 
como solvente do Sistema Feudal. Essa expansão comercial é parte interna 
ao próprio sistema, não significando a sua dissolução”. (p.54) 
 
• “Assim, as raízes da dissolução definitiva do Sistema Feudal não se 
encontrariam na Revolução Comercial da Idade Média, entre os séculos 11 e 
13, mas sim no momento crucial do século 14”. (p.54) 
 
• “Do ponto de vista histórico, os fenômenos dessa crise são bastante 
conhecidos. Ela sofreu uma decadência agrícola, um processo que deu 
origem à chamada Grande Fome (1315-1317), uma estagnação comercial, a 
Peste Negra (1347-1350), as Guerras e as rebeliões populares”. (p.54-55) 
 
• “A partir do final do século 13, já não restavam novas fronteiras agrícolas 
para ocupar, e as que estavam sendo utilizadas apresentavam sinais claros 
de esgotamento. Além disso, as técnicas, anteriormente inovadoras, 
mostravam-se insuficientes para dar conta das necessidades produtivas. 
Todos esses fatores unidos acabaram gerando uma sensível queda no nível 
produtivo da agricultura medieval”. (p.55) 
 
• “Antes do ano 1000, a subalimentação era crônica na Europa. Do século 11 
ao 13, a já mencionada melhoria na produção agrícola, associada à 
expansão cruzadista, reduziu muito a fome e as pestes. Nesse período, a 
população aumentou bastante, o que acarretou um novo descompasso entre 
as necessidades da população e a produção agrícola, trazendo de volta o 
problema da fome”. (p.55) 
 
• “Além disso, a Europa ainda vivia um processo intenso de conflitos armados, 
sendo o mais importante e decisivo para a história posterior à chamada 
Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Sobre ela, iremos tratar mais 
detalhadamente na Unidade 3, uma vez que possui um papel decisivo no 
processo de centralização monárquica tanto na França quanto na Inglaterra. 
Basta destacar que se tratava, a princípio, de problemas típicos do mundo 
feudal, como posse de terras de nobres ingleses em território francês, mas 
que, no final, acabou se configurando em um conflito de interesse nacional 
entre os dois países”. (p.57) 
 
• “Passado o desastroso século 14, a economia europeia parecia retomar o 
ritmo de crescimento anterior. A população voltou a crescer, a produção 
também aumentou e, com isso, a possibilidade de dinamização do próprio 
crescimento populacional. No entanto, a partir de meados do século 15, 
começaram a surgir novos obstáculos que dificultavam a retomada do 
crescimento. Alguns historiadores nomearam esse momento de crise de 
crescimento”. (p.58) 
 
• “Um outro fator da crise de crescimento podia ser encontrado no comércio de 
longa distância. Foi com a compra e venda dos produtos orientais que o 
Ocidente europeu viu surgir as bases de sua economia mercantil. Entretanto, 
os problemas estavam no aumento dos intermediários entre esses produtos e 
o consumidor final na Europa”. (p.59) 
 
• “Um último fator, muito importante, da crise de crescimento era a ausência de 
moeda, a escassez de metais preciosos. Findadas as fontes dentro do 
território europeu, em virtude de muito ouro do continente ter sido levado 
para a Ásia como pagamento das especiarias de lá compradas, aconteceu 
uma profunda escassez de numerário na Europa na segunda metade do 
século 15”. (p.59) 
 
UNIDADE 2 - RENASCIMENTO CULTURAL: O DESPERTAR DO HUMANISMO 
 
• “Os próprios renascentistas defendiam que estavam rompendo com um 
momento histórico de mil anos, a “Era de Trevas”, a Idade Média, entre a 
civilização greco-romana e o chamado Renascimento”. (p.67) 
 
• “Desde o século 11, especialmente a partir dos séculos 13 e 14, a retomada 
do contato comercial da Europa Ocidental com as civilizações ao Oriente 
permitiu a emergência de cidades-estados extremamente fortes e 
desenvolvidas no norte da Itália”. (p.68) 
 
• “Essas cidades tinham tamanha importância durante a Baixa Idade Média 
que, segundo Perry Anderson (1995), conseguiram impedir a formação de 
um Estado unificado na Itália aos moldes das monarquias que surgiam pela 
Europa durante o esse período”. (p.68) 
 
• “Os antecedentes do Capitalismo encontraram, na Itália, o mais acentuado 
grau de desenvolvimento. A Península Itálica era, conforme mencionamos na 
Unidade 1, o centro mais ativo do comércio do Mar Mediterrâneo ao longo 
dos séculos 13, 14 e 15”. (p.71) 
 
• “Os centros urbanos italianos tornaram-se sedes das companhias de 
comércio e dos grupos financeiros. Era nesses centros que o capital sobrava 
e buscava mecanismos de valorização e distinção social para os seus 
detentores”. (p.71) 
 
• “O desenvolvimento comercial, como já sabemos, trouxe consigo o 
surgimento de uma nova classe social: a burguesia. Essa classe teve origem 
entre diversos grupos da estrutura social feudal e buscava, essencialmente, o 
prestígio que a riqueza podia comprar”. (p.71) 
 
• “Os burgueses passaram a investir na construção de palácios, igrejas, 
capelas, catedrais, esculturas, quadros, gravuras, afrescos e edifícios 
públicos. Eles queriam transmitir uma imagem de otimismo, de opulência, de 
dinamismo e de progresso, valores fundamentais para essa classesocial em 
ascensão”. (p.71) 
 
• “A tomada do poder das mãos da nobreza pelos grupos mercantis burgueses, 
a instalação de uma comunidade urbana vinculada a atividades econômicas 
renegadas pela elite feudal e a instalação de repúblicas ditatoriais impunham 
a necessidade de uma legitimação ideológica”. (p.72) 
 
• “O mecenato é uma forma de criar essa legitimação, de glorificar o novo 
Estado e de justificar as ações da burguesia e do príncipe governante. A 
Itália era, portanto, o cenário ideal para o surgimento do Renascimento”. 
(p.72) 
• “Os humanistas, que surgiram no século 12, defendiam principalmente a 
reforma no campo intelectual e do saber. Desejavam a revitalização dos 
estudos na área de humanidades, incluindo novas formações como: poesia, 
filosofia, história, matemática e eloquência”. (p.73) 
 
• “Fundamentalmente, o Humanismo aproxima-se de um novo sistema de 
valores que vinha surgindo na Europa desde a fase final da Escolástica nas 
Universidades Medievais, por volta do século 13”. (p.74) 
 
• “É importante ressaltar que há uma profunda relação dessa atitude científica 
com os interesses da camada burguesa, pois esta apoiava a crença na real 
capacidade humana de criar, recriar, transformar, com o objetivo de buscar 
atividades lucrativas”. (p.75) 
 
• “Comparando as visões de mundo medieval e humanista, percebemos que 
os teólogos medievais tinham a preocupação voltada para as almas e para 
Deus, para o mundo transcendente, espiritual e imaterial. Já os humanistas 
concentravam suas atenções nos conflitos dos homens e na natureza com o 
objetivo de controlar melhor o destino humano”. (p.75) 
 
• “Entretanto, o Humanismo desdobrou-se em uma série de movimentos 
difusos, nos quais várias correntes acabaram surgindo, tanto em função das 
localidades, quanto em razão do momento em que esses estudos 
apareceram em alguns países”. (p.76) 
 
• “Lourenço de Médicis, por exemplo, fundou a Academia de Florença, onde se 
desenvolveu o platonismo”. (p.76) 
 
• “Um grupo rival dos florentinos formou-se em Pádua. A chamada Escola de 
Pádua estava ligada à tradição aristotélica. Nesse local, subordinado a 
Veneza, não havia muita influência da Igreja, o que permitiu que seus 
intelectuais humanistas tratassem de assuntos que não diziam respeito a 
questões teológicas”. (p.77) 
 
• “As contribuições do Renascimento não se limitam às ciências, pois o 
movimento abrangeu primordialmente as artes”. (p.79) 
 
• “Segundo Arruda (1996, p. 37), as artes plásticas “tinham uma finalidade 
essencialmente didática, dirigida a uma sociedade de analfabetos, para os 
quais era indispensável uma arte absolutamente visual dominada pelo tema 
da salvação”. (p.79) 
 
• “No entanto, a partir da segunda metade do século 12 e ao longo do século 
13, surge o gótico. O nome “gótico” foi dado pelos críticos que diziam que a 
arte gótica era tão bárbara que poderia ter sido criada pelos godos, povo que 
invadiu Roma e destruiu muitas de suas obras”. (p.80) 
 
• “Passou-se também a retratar personalidades oficiais e as personalidades 
sagradas como se compartilhassem as mesmas características: assim, a 
representação de personalidades oficiais sugeria tratar-se de personagens 
sagradas”. (p.82) 
 
• “O estilo de escultura chamado mosaico foi a grande contribuição artística de 
Bizâncio. Consistia na colocação de pequenas pedras de tamanhos e cores 
diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa, de modo a construir 
uma imagem previamente determinada”. (p.83) 
 
• “Esse era o cenário artístico da Europa Ocidental à época do aparecimento 
da Renascença. Mas, como lembra Sevcenko (1994, p. 29), “mais do que 
normas, esses requisitos da imagem eram dogmas religiosos; rompê-los era 
sacrilégio, acarretando a destruição da obra e a punição do artista”. 
Justamente por isso, as inovações de estilos trazidas pelos renascentistas 
foram tão importantes”. (p.84) 
 
• “As primeiras manifestações de um novo estilo artístico surgiram no norte da 
Península Itálica, com Giotto (1266-1337). Sua arte era uma mistura do 
universo dinâmico e colorido do gótico com a noção de paisagem típica da 
arte bizantina”. (p.84) 
 
• “Giotto foi o pioneiro no estilo de pintura chamado perspectiva, que surgiu na 
Itália durante o Renascimento”. (p.85) 
 
• “Com o florentino Filippo Brunelleschi (1375-1444), a técnica da perspectiva 
desenvolvida na pintura foi aperfeiçoada na arquitetura. Brunelleschi, o 
grande nome da arquitetura renascentista, foi quem primeiro estabeleceu, em 
torno de 1420, uma relação matemática proporcional entre o objeto e sua 
representação. Era o surgimento da perspectiva matemática, ou perspectiva 
exata, em que todos os pontos do espaço retratado obedeciam a uma norma 
única de projeção”. (p.85) 
 
• “Em seguida ao aparecimento da perspectiva matemática de Brunelleschi, 
Leon Battista Alberti escreveu o seu Tratado de Pintura, em 1443, no qual 
sistematizava o trabalho do pintor propondo a elaboração da perspectiva em 
função de dois esquemas básicos: planta e elevação, que depois eram 
combinados para produzir o efeito desejado, aproximando a produção de 
uma obra pictórica dos passos seguidos numa obra arquitetônica”. (p.87) 
 
• “Com o efeito da perspectiva exata, combinada com a utilização da planta e 
da elevação, todo o espaço pictórico ficou subordinado a uma única diretriz 
visual, representada pelo ponto de fuga. Esse recurso determina que, 
quanto maior a distância dos objetos e elementos em relação ao olhar do 
pintor, menores eles aparecem no quadro. Essa é a chamada técnica do 
olho fixo, profundamente desenvolvida na arte renascentista”. (p.87) 
 
• “A arte na Renascença ligava-se, definitivamente, ao mundo burguês da 
produção técnica e individualizada, que se por um lado aumentava o 
prestígio social do artista, por outro, obrigava-o a entrar na lógica da 
produção em série que alguns artistas tentavam resistir, deixando-os 
sozinhos, isolados e decadentes, como aconteceu com Michelangelo 
Buonarroti (1475-1564), que foi um grande pintor, escultor, poeta e arquiteto 
do Renascimento italiano”. (p.90) 
 
• “Na literatura e no teatro, as influências humanistas também foram sentidas. 
A obra fundadora e que primeiro sofreu essas influências foi A divina 
comédia, de Dante Alighieri (1265-1321)”. (p.91) 
 
• “Na mesma região da Toscana onde apareceu A divina comédia surgiu o pai 
da poesia lírica, Francesco Petrarca (1304-1374). Em sua obra principal, O 
cancioneiro, Petrarca utilizou as próprias emoções, hesitações, amores e 
perplexidades como tema único, referindo-se sempre a seu amor 
desenganado pela jovem Laura, amada distante, inacessível e alvo de um 
sentimento ao mesmo tempo sublime e tenso”. (p.91) 
 
• “Se Petrarca pode ser considerado o criador da poesia lírica moderna, 
Giovanni Boccaccio (1313-1375) é o pai da narrativa em prosa dos tempos 
modernos”. (p.92) 
 
• “No que diz respeito ao Renascimento italiano, os historiadores da arte 
dividem cronologicamente o movimento em três épocas. Vejamos 
exatamente como isso é feito, e quais são as características que se 
destacam em cada momento”. (p.93) 
 
• “Nesse período, assistimos a um processo de transição, a que muitos 
historiadores da arte preferem chamar o Trecento de Pré--Renascimento, 
embora já manifeste os elementos fundamentais que logo fariam parte do 
novo cenário artístico e literário”. (p.93) 
 
• “O grande centro de desenvolvimento da nova concepção artística foi a 
cidade de Florença. Foi lá que Cimabue (1240-1302), Duccio di Vuoninsegna 
(1255-1318) e Giotto (1266-1337) desenvolveram a maniera nuova, 
superando o hieratismo e a rigidez de Bizâncio e explorando a mobilidade, o 
cromatismo e a espacialidade do gótico”. (p.93) 
 
• “No entanto, a morte de Giotto foi o prenúncio de uma crise, que se verificaria 
com os problemas econômicos de Florença, resultando na falênciadas 
grandes companhias de Bardi e Peruzzi (1339). Ocorreria, ainda, uma revolta 
popular em 1378 que abalou a posição de destaque ocupada por Florença, 
desencorajando os gastos com arte e cultura”. (p.94) 
 
• “Na pequena cidade comercial de Siena, o Trecento teve sua recuperação, 
com figuras como Simoni Martini (1283-1344), os irmãos Pietro e Ambrolio 
Lorenzetti (1280-1348) (a data refere-se somente ao Ambrolio, pois as de 
Pietro são desconhecidas), Tadeo Gaddi (1300-1366), Bernardo Daddi 
(1330-1410) e Spinello Aretino (1330? -1410)”. (p.94) 
 
• “O Quatrocento é a época que simboliza o auge da Renascença. Florença 
reassumiu a liderança da cultura italiana e europeia sob o comando dos 
Médicis (Cosme, Pedro e Lourenço), que governaram a cidade entre 1434 e 
1492. Todos foram mecenas de artistas e Lourenço foi um dos maiores 
colecionadores de arte do seu tempo. Ele ainda fundou a Academia Platônica 
de Florença, foi um grande poeta e ditou a produção cultural da cidade durante 
o seu período no poder”. (p.96) 
 
• “A construção da cúpula da Catedral de Santa Maria del Fiore, projetada por 
Brunelleschi, consagrou a glória e a hegemonia da burguesia florentina com 
o mais significativo dos monumentos renascentistas”. (p.97) 
 
• “Na mesma linha de Masaccio e Donatello, desenvolveram-se as tendências 
do naturalismo, arte que procura expressar a anatomia e as paisagens da 
maneira mais próxima possível do real. Pintores como Piero della Francesca 
(1416-1492), Paollo Uc-cello (1396-1475), Luca Signorelli e Andrea Nantegna 
marcaram o auge da corrente naturalista, que conseguia fazer uma 
composição bastante virtuosa com a perspectiva”. (p.99) 
 
• “Em contrapartida, nesse período também surgiu uma pintura mais próxima 
do velho estilo gótico, recompondo a espiritualidade e o simbolismo daquela 
visão, o que a aproximava muito da arte de Giotto. Fra Angélico (1384-1455) 
foi o pintor que melhor representou esse retorno”. (p.100) 
 
• “A última geração de artistas florentinos do século 15 representou uma 
espécie de síntese das duas anteriores, procurando fundir as conquistas 
formais e espaciais da corrente liderada por Masaccio, com a graça, sutileza e 
o formalismo de Fra Angelico. O precursor dessa síntese foi Sandro Botticelli 
(1445-1510)”. (p.102) 
 
• “O século 16, último período do Renascimento italiano, é aquele em que as 
obras artísticas atingiram seu mais elevado grau de elaboração, com artistas 
do calibre de Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio. Contudo, a 
vitalidade comercial e urbana da Península Itálica já não era mais a mesma, 
na medida em que a expansão marítima de Portugal e da Espanha deslocou 
o eixo dinâmico do comércio do Mediterrâneo para o Atlântico. Além disso, a 
invasão da Itália pelo rei da França, Carlos VIII, em 1494 e, finalmente, o 
saque de Roma e do palácio papal pelas tropas espanholas e alemãs de 
Carlos V, interromperam o processo criativo”. (p.103-104) 
 
• “A produção desses pintores sintetiza um processo de avanço da arte desde 
os primeiros momentos da Renascença e, por isso, faz todos os outros 
parecerem superados ou primitivos. Entretanto, foi por meio da sustentação 
teórica e metodológica criada por esses artistas anteriores que Rafael, 
Michelangelo e Leonardo puderam atingir o nível que atingiram”. (p. 104-105) 
 
• “Já no campo da escultura, Michelangelo destaca-se, superando em muitos 
aspectos seus antecessores, como Verrochio e Donatello. Segundo Proença 
(2007, p. 105), a comparação de Davi entre Verrochio (apresentada 
anteriormente) e Michelangelo (a seguir) demonstra claramente a evolução da 
escultura renascentista”. (p.109) 
 
• “Se a Itália é a casa do Renascimento, podemos dizer que Flandres foi o lar 
de férias do movimento. No campo da literatura, podemos destacar o 
humanista Erasmo de Roterdã (1467-1536), retratado na Figura 31, que 
nasceu em Roterdã, na Holanda e foi um pensador importante em sua época 
– celebrado como autor do clássico O elogio da loucura (1511)”. (p.112) 
 
• “Entre os principais pintores, podemos destacar o Mestre de Flemalle (Robert 
Campin, 1375? -1444), os irmãos Jan (1390-1441) e Hubert (1366-1426) Van 
Eyck, Rogier Van der Weyden (1400-1484), Hugo Van der Goes (1420-1482), 
Hans Memling (1435-1494) e, fundamentalmente, Hieronymus Bosch (1450-
1516) e Pieter Bruegel (1525-2569). Vejamos, nas Figuras 32 e 33, as 
pinturas representativas destes últimos”: (p.113) 
 
• “O Renascimento francês, muito mais restrito que o italiano ou mesmo do que 
dos Países Baixos, teve algum grau de elaboração, especialmente na corte 
de Paris, onde monarcas como Luís XI (1461-1483) e Francisco I (1515-
1547) atuaram como mecenas, mantendo diversos artistas, humanistas e 
literatos”. (p.115) 
 
• “Entretanto, foi na literatura que a França produziu seu maior nome do 
período renascentista, o escritor Rabelais (1494-1593), destacado na Figura 
34, autor dos importantes livros Gargântua e Pantagruel”. (p.115) 
 
• “Os grandes nomes do Renascimento na Inglaterra estão na literatura e no 
teatro. Na literatura, destacaram-se Thomas Morus, com Utopia (1516), e 
Francis Bacon, com a Nova Atlântida (1614), obras seminais de uma corrente 
do pensamento humanista, os utopistas, que concebiam uma comunidade 
ideal, puramente imaginária, em que homens e mulheres vivem e trabalham 
felizes, com fartura, paz e mantendo relações fraternais entre si. Para eles, 
essa possibilidade seria dada quando os homens permitissem que o poder 
emanasse da razão, que exprimiria, necessariamente, a perfeição e o bem”. 
(p.116) 
 
• “Além disso, no teatro, a Inglaterra produziu um dos maiores autores de todos 
os tempos: William Shakespeare, um dos pais do drama moderno”. (p.116) 
 
• “Na Alemanha, o Renascimento chegou tardio, mas foi intenso, visto que 
muitas regiões tinham cidades com desenvolvimento comercial notável e, 
portanto, com a burguesia à espera de mecanismos sociais de distinção”. 
(p.116) 
 
• “Nas artes plásticas, o grande nome é Albrecht Dürer, que uniu em suas 
obras a solidez do gótico alemão, o cromatismo do gótico tardio, a 
luminosidade da arte flamenga e as inovações italianas na profundidade e 
harmonia (Cf. SEVCENKO, 1994). Entretanto, trouxe uma contribuição 
pessoal ao representar em seus quadros traços psicológicos do retratado (Cf. 
PROENÇA, 2007)”. (p.117) 
 
• “A ascensão do Renascimento espanhol acontece em um contexto 
completamente diferente de todos os expostos até aqui: nesse país, não há 
um desenvolvimento notável da burguesia, e a sociedade é tipicamente 
guerreira, aristocrática e católica. Nessas condições, é fácil compreender por 
que foi tão difícil a inclusão das ideias renascentistas na Espanha. Por conta 
da Contrarreforma católica e da consequente perseguição religiosa 
(particularmente forte nesse país), a vigência dos ideais do Renascimento foi 
curta, entre o fim do século 15 e início do 16”. (p. 117) 
 
• “Na Espanha, o Renascimento chegou tarde e foi embora cedo, permitindo a 
emergência rápida do maneirismo e do específico mudéjar, estilos 
predecessores do Barroco. O Humanismo destacou-se especialmente na 
literatura, com obras de Miguel de Cervantes, Inácio de Loyola (Fundador da 
Companhia de Jesus) e Herrera. No teatro, surgiram as obras de Lope de 
Veja”. (p.117) 
 
• “O Renascimento em Portugal surgiu num contexto otimista e de resultados 
positivos advindos da expansão marítima. O Humanismo português teve em 
Francisco de Sá Costa (1495-1558) sua figura mais proeminente. Depois de 
um tempo na Itália, esse pensador trouxe as ideias renascentistas para 
Portugal, especialmente na literatura e na dramaturgia”. (p.118) 
 
• “Suas ideias influenciaram os jovens poetas da época, destacando-se Luís 
Vaz de Camões (1524-1580), autor da célebre epopeia das conquistas 
marítimas portuguesas, os lusíadas. No teatro, destacou-se Gil Vicente 
(1470-1536),fundador do moderno teatro nacional de Portugal e autor de 
uma vasta obra: Auto da barca do inferno, Auto da alma, A farsa de Inês 
Pereira”. (p.118) 
 
• “Nas artes plásticas, Nuno Gonçalves destacou-se como o pintor que 
conseguiu incorporar a maior parte do brilho, do colorido e da grandiosidade 
das obras renascentistas em seu Políptico de São Vicente de Fora, 
considerado a versão visual da epopeia de Camões”. (p.118) 
 
• “Dessa nova visão, resultou a perspectiva de que tudo o que existe pode e 
deve ser explicado pela razão e pela investigação, isto é, pela ciência. 
Portanto, a atitude científica é outra grande contribuição da Renascença, 
legado que se aprofundaria nos séculos posteriores”. (p.119) 
 
• “O Naturalismo, porém, não eliminou a noção de que a obra--prima divina era 
o homem. Ou seja, para os renascentistas, o homem era a criação 
fundamental de Deus, e deveria ser colocado no centro das preocupações, 
destacando suas necessidades sociais, políticas, religiosas e mentais”. 
(p.119) 
 
• “Dessa perspectiva surgiu o antropocentrismo, que não era, como se 
acreditou durante algum tempo, uma manifestação ateísta, pois considerava 
o homem, como já dissemos, a manifestação mais perfeita da obra divina”. 
(p.119-120) 
 
 
UNIDADE 3 – A CENTRALIZAÇÃO DO PODER: O SURGIMENTO DOS 
ESTADOS NACIONAIS 
 
 
• “Ao longo da Idade Média, especialmente após o século 10, as 
macroestruturas políticas ancoravam-se em torno dos seguintes eixos: 1) 
Igreja Católica 2) Sacro Império Romano Germânico 3) Monarquias locais 4) 
Comunas ou burgos” (p.120) 
 
• “Embora essas instituições disputassem a hegemonia política, a força da 
Igreja (principalmente) e do Império (de forma limitada) impedia o avanço 
efetivo do poder monárquico local. Além disso, a realidade histórica medieval 
no auge do Sistema Feudal, em que as populações camponesas eram 
subordinadas aos senhores de terras que detinham o poder político, também 
delegava ao rei um papel secundário, que, na prática, se tornava mais um 
senhor feudal”. (p.130) 
 
• “Os interesses da burguesia nascente também se ligavam ao rei. A 
centralização de poder auxiliou os burgueses no processo de obtenção de 
riqueza e acumulação de capital, ao mesmo tempo em que garantia um 
mercado consumidor e força militar para a luta contra as burguesias de 
outros países por diferentes mercados e produtos”. (p.131) 
 
• “Tanto a nobreza quanto a burguesia tinham interesses na centralização 
monárquica, porém esses interesses eram distintos e entravam, em alguns 
momentos, em choque. Além disso, essa centralização foi decisiva para a 
recuperação europeia na crise do Sistema Feudal”. (p.132) 
 
• “A força militar permitiu ao rei ampliar sua capacidade de cobrar impostos 
que recaíam, principalmente, sobre os camponeses e artesãos. Além disso, 
com exércitos fortes, a monarquia foi capaz de reprimir e fazer cumprir o seu 
poder dentro e fora do território que comandava”. (p.132) 
 
• “Entre os casos de centralização monárquica na transição da Idade Média 
para a Moderna, certamente o de Portugal é muito importante, em virtude de 
seu papel decisivo no processo de Expansão Marítima a partir do século 15”. 
(p.133) 
 
• “O processo de reconquista da Península Ibérica, do século 12 até o século 
15, foi decisivo para a centralização da monarquia lusitana. Em Portugal, 
esse processo se iniciou com o papel decisivo de Afonso Henriques, chefe 
militar que liderou a reconquista do atual território norte de Portugal. Desse 
momento em diante, houve um processo mais intenso de centralização do 
poder nas mãos do monarca, com uma série de reis que formaram a primeira 
dinastia portuguesa”: (p.134) 
 
• “Dessa forma, "em torno dele foram-se reagrupando os vários setores sociais 
influentes da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes, a 
burocracia nascente". Até porque, "nas condições da época era o Estado, ou 
mais propriamente a Coroa, quem podia se transformar em um grande 
empreendedor, se alcançasse as condições de força e estabilidade para 
tanto"”. (p.137) 
 
• “Em meados do século 9º, ocorreu um fato simbólico de extrema importância 
para a formação do Estado espanhol. Numa pequena região ao norte da 
Península Ibérica, chamada Compostela, foram descobertos restos mortais 
identificados por religiosos como sendo do apóstolo São Tiago. Ele foi um 
dos principais seguidores de Jesus, e teria sido morto em Jerusalém, de 
onde seu corpo foi trazido milagrosamente para a Península, segundo a 
interpretação cristã”. (p.138) 
 
• “Paralelamente, no caminho até Santiago de Compostela, diversas 
localidades receberam um impulso econômico em virtude do contingente de 
pessoas que passavam por lá, desenvolvendo o comércio e os serviços 
urbanos para atendimento dos peregrinos. A população cristã aumentou a 
força militar também e, paulatinamente, as lutas contra os muçulmanos 
começaram a pender para o lado cristão. Mesmo assim, foram mais de 
quatro séculos de batalhas para expulsar, definitivamente, os mouros da 
Península Ibérica”. (p.138) 
 
• “Na medida em que os conflitos com os muçulmanos se estendiam, os reinos 
menores foram incorporados por Castela e Aragão. Em 1469, ocorreu a 
formação da Espanha, com o casamento de Isabel, rainha de Castela, com o 
príncipe de Aragão, Fernando. A essa altura, a Reconquista estava 
praticamente terminada, faltava apenas a vitória sobre o último reduto mouro 
na Península, Granada, ao extremo sul, objetivo alcançado em 1492, e a 
anexação de Navarra, em 1515”. (p.139) 
 
• “Desse modo, no século 16, aquela região que esteve ocupada pelos 
muçulmanos ao longo de boa parte da Idade Média se tornava o principal 
reduto de recuperação europeia da crise final do Feudalismo. Foi na 
Península Ibérica que surgiram os primeiros Estados centralizados e foi de lá 
que partiu a Expansão Marítima e a recuperação comercial do continente. O 
Estado Espanhol mostrara-se hegemônico, formando um Império sem 
precedentes na história”. (p.139) 
 
• “Os países mais ao norte, no caso a França e a Inglaterra, tiveram um 
processo de centralização monárquica diferente das nações ibéricas. Foi uma 
guerra, a chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que teve um papel 
fundamental no processo de formação do Estado inglês e francês”. (p.140) 
 
• “A Guerra dos Cem Anos continha todas as semelhanças possíveis com os 
conflitos típicos do Feudalismo. Entretanto, algumas características podem ser 
relacionadas ao novo momento histórico de transição sistêmica. Para muitos 
historiadores, o fator fundamental da Guerra dos Cem Anos foi a disputa entre 
Inglaterra e França pelo domínio da região de Flandres”. (p.140) 
 
• “Observamos que nessa guerra vários tipos de conflitos se estabeleceram ao 
mesmo tempo, um com características marcadamente comerciais, outro com 
traços feudais e um terceiro de caráter político”. (p.141) 
 
• “Em contrapartida, a Guerra que se travou entre França e Inglaterra ao longo 
dos séculos 14 e 15 é também a expressão do surgimento de uma nova 
hegemonia capitalista, em substituição às cidades italianas. Da Guerra dos 
Cem Anos sairia a estrutura político-econômica que deslocaria o eixo 
dinâmico do Capitalismo comercial do Mediterrâneo para o norte europeu, a 
partir do chamado ciclo sistêmico de acumulação holandês”. (p.141) 
 
 
• “Depois da morte do papa Bonifácio VIII, Filipe interferiu na sucessão da 
Igreja impondo um nome de seu agrado: Clemente V. Além disso, a Igreja 
deixou Roma e foi para Avignon sob supervisão direta da monarquia 
francesa. Esse processo desencadeou uma crise profunda nos meios 
eclesiásticos e, o mais importante para a nossa discussão, uma afirmação 
definitiva da monarquia francesa. Essa era a faceta da monarquia francesa às 
portas da Guerra dos Cem Anos”. (p.143) 
 
• “No caso inglês, o processo foi um pouco diferente. Em 1066, nafamosa 
Batalha de Hastings, Guilherme, o Conquistador, invadiu o território da atual 
Grã-Bretanha e destruiu os reinos herdeiros da época germânica que 
estavam instalados ali”. (p.144) 
 
• “No século 15, a vitória final da França na Guerra dos Cem Anos tornou mais 
intenso o poder do rei e consolidou a monarquia francesa. Em contrapartida, 
a derrota inglesa mergulhou o país em uma guerra civil, a chamada Guerra 
das Duas Rosas (1455-1485). A Guerra das Duas Rosas foi uma luta entre 
duas famílias nobres, Lancaster e York, apoiadas por facções rivais da 
nobreza. Essa guerra civil pelo trono inglês devastou o país, dizimou a 
nobreza e terminou com a ascensão de Henrique Tudor (casado com 
Elizabeth de York), apoiado pela burguesia (MELLO; COSTA, 1999, p. 75)”. 
(p.145) 
 
• “A consolidação dos Estados Modernos europeus foi seguida pela 
estruturação político-ideológica do poder supremo do rei. Esse processo 
criou um tipo específico de Estado, que, apesar das nuances diferenciadas 
de cada localidade, foi denominado Absolutista”. (p.146) 
 
• “Desse modo, a formação da monarquia nos países ao final da Idade Média 
foi seguida de uma estrutura de Estado que rompeu definitivamente com as 
estruturas de poder cristalizadas durante o período: a destruição das 
relações feudo-vassálicas e da servidão. Em seu lugar surgiu, ao redor do 
rei, um Estado centralizado, forte, com exércitos regulares, burocracia 
permanente, sistema tributário unificado, códigos de leis e mercado 
nacional”. (p.146) 
 
• “Ao longo dos séculos 16 e 17, surgiram as justificativas teóricas para o 
poder absoluto do rei, que estavam inseridas na terceira etapa apontada por 
Arruda (1996). No contexto de autoridade que esses reis tinham, muitos 
pensadores passaram a estruturar construções lógicas que explicassem a 
necessidade desse poder. Dentre esses pensadores, podemos citar: Nicolau 
Maquiavel, Jean Bodin, Thomas Hobbes, Jacques Bossuet, entre outros. 
Vamos ver um pouco mais sobre eles”. (p.147) 
 
• “Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano do século16, escreveu O 
príncipe, um tratado destinado a se converter em um manual de política para 
ensinar aos príncipes como conquistar e manter o poder, mesmo tendo de ir 
contra as normas de conduta e moral cristã da época”. (p.147) 
 
• “O francês Jean Bodin (1530-1596) desenvolveu a teoria da soberania do 
Estado, na qual compreendia o poder supremo do rei sobre todos os súditos, 
sem restrições de qualquer natureza. Para ele, a autoridade do rei era uma 
concessão divina, cabendo a todos os súditos a obediência passiva”. (p.148) 
 
• “Thomas Hobbes (1588-1679), inglês, em seu famoso livro Leviatã afirmou 
que, em seu estado natural, os homens lutavam uns contra os outros, até que 
a guerra e violência incontroláveis levaram os homens a estabelecer um 
pacto. Por meio desse Contrato Social, os homens abriam mão da liberdade 
em troca da segurança oferecida pelo Estado, cuja soberania sobre os 
súditos se tornou absoluta. O rei era a expressão desse Estado e o detentor 
dessa soberania. Para Hobbes, a autoridade do rei não vinha de Deus, mas 
dos poderes que os próprios homens o haviam concedido”. (p.148-149) 
 
• “Jacques Bossuet (1627-1704), francês, escreveu A política inspirada nas 
sagradas escrituras, na qual formulou a teoria do absolutismo por direito 
divino. Essa teoria defendia que o rei era um representante de Deus e, como 
tal, seus atos poderiam ser julgados somente por Ele. Bossuet afirmava que 
"o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus" e que 
"o rei vê melhor, e deve obedecer-lhe sem murmurar, pois o murmúrio é uma 
disposição para a sedição"”. (p.149) 
 
• “No momento de sua consolidação, o Absolutismo encontrou, na Espanha, 
seu modelo mais próximo da perfeição. A dinastia Habsburgo, no século 16, 
conseguiu dominar um império territorial de dimensões nunca antes vistas”. 
(p.149) 
 
• “Aproveitando-se de situações históricas que a colocavam à frente das outras 
monarquias europeias, a Coroa espanhola utilizou-se largamente de suas 
possessões territoriais conquistadas para comandar os rumos geopolíticos do 
mundo”. (p.150) 
 
• “No entanto, na construção teórica de Giovanni Arrighi, todo esse império 
espanhol serviu como anteparo material e militar para a hegemonia 
capitalista de Gênova, cidade-estado italiana da época moderna”. (p.150) 
 
• “Dessa forma, não podemos deixar de destacar que foi graças aos metais 
preciosos do continente americano que Filipe II, rei espanhol sucessor de 
Carlos V, conseguiu promover enormes operações militares e navais no 
canal da Mancha no Egeu, em Túnis e na Antuérpia; incorporar-se ao trono 
português; e dominar, enfim, boa parte do norte da Península Itálica. É em 
seu reinado que o crepúsculo do poderio ibérico começou a se apresentar no 
horizonte”. (p.151) 
 
Comentário. 
 
Nas três primeiras unidades da Apostila de História Moderna I foi abordado a 
rota geral e a historiografia da transição do feudalismo para o capitalismo, 
mostrando dois argumentos básicos: fatores externos e luta de classes. Embora este 
seja um método marxista de transição da Idade Média para a Idade Moderna, por 
considerar o conceito de mudanças no modo de produção do feudalismo para o 
capitalismo, permitindo assim compreender os aspectos importantes que constituem 
os fatores da produção, a partir do surgimento da era moderna. Portanto, embora 
tenha como foco os problemas econômicos do período, também nos permite 
analisar esses problemas por meio de uma compreensão mais ampla dos 
acontecimentos. 
Nessa perspectiva, podemos perceber que o processo de transição, 
primeiramente foi restaurando os aspectos básicos das organizações feudais, para 
depois estabelecer o processo de comércio e regeneração urbana entre os séculos 
XI e XIII. E que a expansão marítima, formação de Estados-nação e o surgimento 
de empregos com remuneração, foram fatores fundamentais para resolver a crise de 
crescimento que a Europa viveu no século XV. Iniciando assim o século 16 com o 
nascimento do capitalismo comercial, onde houve transição do feudalismo para o 
capitalismo em diferentes áreas da sociedade, como na cultura, política, economia e 
religião, e que essas mudanças geraram muita tensão social, tendo o declínio da 
aristocracia, e a ascensão da burguesia, o desenvolvimento de camponeses 
rebeldes, trabalhadores urbanos e outras atividades. 
A sociedade feudal estava intimamente relacionada ao status na sociedade, 
portanto, há pouca possibilidade de mudança. Essa sociedade se organizava em 
dois pilares, o mestre e o servo, a primeira é definida como a propriedade legal da 
terra e o direito de aceitar dívidas dos empregados, a segunda é a propriedade útil 
da terra e a obrigação de pagá-lo. No nível político, o poder é local e a relação entre 
as pessoas é direta, devido à necessidade de autoproteção. A origem das relações 
políticas locais ocorreu no mundo romano, com o surgimento de instituições como 
clientes, patrocínios, encaminhamentos e imunidade. O juramento de lealdade 
conecta o vassalo com seu mestre. 
A igreja é o ápice da sociedade feudal, interpreta a realidade de forma 
ortodoxa, o que tem um grande impacto na formação da mentalidade das pessoas. 
Além disso, proíbe o lucro e os juros exigidos na agiotagem porque são 
pecaminosos para os cristãos. 
Quando percebemos que, sob o pano de fundo histórico da transição do 
feudalismo para o capitalismo, a sociedade europeia vivia um momento de 
mudanças profundas e lentas, este problema torna-se mais complicado, com o 
processo de formação, desenvolvimento e influência do humanismo e da cultura 
renascentista que se desenvolveu na Europa Ocidental dos séculos XIV ao XVI. No 
início do século 13, com as mudanças econômicas e políticas, o renascimento surgiu 
na Itália e exibiu suas principais características, destacandoos aspectos básicos 
que vinculam esta corrente de pensamento aos interesses da nova burguesia e 
demonstramos como se relaciona com as realidades locais, especialmente a 
italiana, o berço da Renascença. 
Comprovando que a crise do sistema feudal permitiu à monarquia centralizar 
o poder, que tem características diferentes em diferentes países da Europa 
Ocidental com Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França, e essa centralização da 
monarquia levou ao surgimento de um tipo de estrutura de país denominado 
ditadura absoluta, em que o rei exercia o poder de forma ditatorial, sem ser 
restringido por lei. Alguns pensadores associam esse verdadeiro poder à origem 
divina e argumentam com os defensores que o sujeito deve obedecê-lo. No entanto, 
podemos ver que este tipo de poder tem uma origem fundamental na luta pela 
hegemonia entre a aristocracia abolida e a ascensão da burguesia, que será 
destruído em uma série de revoluções burguesas que começaram na Inglaterra no 
século XVII..., a França no século XVIII, e XIV em outros países europeus. 
Por fim, a sociedade dominante sempre usou o poder para se proteger, e 
manter o poder sobre as classes, vimos que o avanço da divisão do trabalho e o 
surgimento da propriedade privada dos meios de produção levaram à divisão da 
sociedade em classes. Este processo atingiu o seu apogeu na sociedade capitalista, 
onde as classes que possuíam os meios de produção começaram a explorar a 
classe trabalhadora, e eles só tinha o seu trabalho. Para manter este tipo de 
exploração, a qualquer momento, a classe dominante em qualquer lugar sempre 
precisa de coerção e opressão para enfrentar a resistência dos explorados.

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