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É a perda transitória e autolimitada da consciência, decorrente do comprometimento global agudo do fluxo sanguíneo cerebral. Características: início rápido; curta duração; repercussão espontânea e completa. Diagnósticos diferenciais: convulsões, isquemia vertebrobasilar, hipoxemia e hipoglicemia. Pode ser acompanhado de pródromo (pré-síncope) ou não. Sintomas da pré- síncope: o Tontura o Vertigem o Fraqueza o Fadiga o Distúrbios visuais e auditivos Podem ser divididas em 3 categoras: 1. Síncope neuromediada (síncope vagal ou reflexa): compreende um grupo heterogêneo de distúrbios funcionais que se caracterizam por uma alteração transitória nos reflexos responsáveis pela manutenção da homeostase cardiovascular. Ocorrem vasodilatação episódica e bradicardia em combinações variáveis, resultando em falha temporária do controle da pressão sanguínea. 2. Hipotensão ortostática: é decorrente de insuficiência autônoma. Nesse caso, os reflexos cardiovasculares e homeostáticos ficam prejudicados de maneira crônica. 3. Síncope cardíaca: pode ser decorrente de arritmias ou cardiopatias estruturais que causam queda no débito cardíaco. Corresponde a 3% de todos os comparecimentos de pessoas ao setor de emergência e 1% de todas as internações hospitalares. A incidência máxima entre jovens ocorre entre 10 e 30 anos, com pico em torno dos 15, sendo a síncope neuromediada a etiologia mais comum nessa faixa etária. Nos adultos, há aumento agudo na incidência da síncope após os 70 anos. Mais comum: síncope neuromediada. Sexo mais acometido: mulheres. OBS: doença cardiovascular devido a doença estrutural ou arritmias é a segunda causa mais comum, principalmente em idosos. A prevalência da hipotensão ortostática aumenta com a Síncope neuromediada Síncope vagal Síncope reflexa situacional: pulmonar, urogenital, gastrintestinal, sistema cardíaco, seio carotídeo, ocular Hipotensão ortostática Insuficiência autonômica primária por doenças neurodegenerativas idiopáticas centrais e periféricas Insuficiência autonômica secundária por neuropatias periféricas autonômicas Hipotensão pós-prandial Iatrogênica Depleção de volume Síncope cardíaca Arritmias Cardiopatia estrutural idade, devido a redução na responsividade do barorreflexo, na complacência cardíaca e da atenuação do reflexo vestibulossimpático (envelhecimento). O prognóstico de síncope após um único episódio de síncope, em qualquer grupo etário, geralmente é benigno. A síncope de causa cardíaca (por cardiopatia ou arritmia) está associada a risco elevado de morte súbita cardíaca e por outras causas. A posição ortostática impõe estresse fisiológico sobre o organismo. Ocorre acúmulo de sangue nas extremidades inferiores e na circulação esplâncnica, o que resulta na redução do débito cardíaco e da pressão sanguínea. Resultado: resposta reflexa compensatória, iniciada pelos barorreceptores no seio carotídeo e no arco aórtico, que resulta em aumento do efluxo simpático e diminuição da atividade nervosa vagal. A resposta reflexa acarreta: aumento da resistência periférica, do retorno venoso para o coração e do débito cardíaco, limitando a queda na pressão sanguínea. Tempo de latência da resposta → 5 a 10 s. Falha no mecanismo de resposta reflexa: o Cronicamente: hipotensão ortostática o Transitoriamente: s. neuromediada (hipoperfusão cerebral). A síncope é consequência da hipoperfusão cerebral global e representa uma falha no mecanismo autorregulador do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). Fatores responsáveis pela autorregulação do FSC: fatores miogênicos, metabólitos locais e controle autonômico neurovascular. → a cessação do FSC por 6 – 8 segundos, resulta em perda da consciência. Ocorre comprometimento da consciência se o fluxo sanguíneo diminuir para 25 mL/min/100g de tecido cerebral. PAS < 50 mmHg resulta em síncope. Ou seja, uma queda no débito cardíaco e/ou na resistência vascular sistêmica consistem na fisiopatologia da síncope. Causas do comprometimento do débito cardíaco: o Diminuição do volume sanguíneo circulante o Aumento da pressão torácica o Embolia pulmonar maciça o Bradiarritmias e taquiarritmias o Cardiopatia valvular o Disfunção miocárdica O aumento da resistência vascular cerebral por hipocarbia induzida por hiperventilação também pode contribuir para a síncope. Dois padrões ocorrem na síncope: 1. Padrão “lento-plano-lento”: atividade de fundo normal é substituída por ondas delta lentas de alta amplitude, seguido por achatamento súbito do ECG (marcador de hipoperfusão cerebral mais grave), seguido pelo retorno de ondas lentas e, depois, atividade normal. 2. Padrão lento: aumento e diminuição da atividade de ondas lentas. Também conhecida como reflexa ou vasovagal. É a via final de um arco reflexo complexo do SNC e SNP. Alteração súbita e transitória da atividade autonômica eferente → resposta vasodepressora → bradicardia, vasodilatação e/ou redução do tônus vasoconstritor → redução do FSC. É necessário um SNA funcionante para que haja a síncope neuromediada, ao contrário da síncope resultante de falha autonômica. A síncope pode resultar de um gatilho específico (seio carotídeo, TGI ou bexiga) ou ser multifatorial. Classificação: pode ser subdividida de acordo com a via aferente e o gatilho provocativo. 1. Síncope vasovagal: desmaio comum. Causada por emoções intensas, dor e/ou estresse ortostático. 2. Síncopes reflexas situacionais: tem estímulos específicos localizados que provocam vasodilatação reflexa e bradicardia → síncope. O gatilho aferente pode ser originado no sistema pulmonar, no TGI, no sistema urogenital, no coração e na artéria carótida. Hiperventilação tem papel central em síncopes reflexas situacionais pois causa → hipocarbia, vasoconstrição cerebral e aumento da pressão torácica → prejudica retorno venoso para o coração. A via aferente diferente de acordo com o gatilho, mas a resposta eferente via n. vago e vias simpáticas é semelhante. A síncope neuromediada também pode ser subdividada, de acordo com a via eferente predominante, em: o Vasodepressora: falha vasoconstritora simpática eferente. o Cardioinibidora: bradicardia ou assistolia devido a aumento do efluxo vagal. o Mista: alterações vagais e no refluxo simpático. A síncope neuromediada pode acompanhar aspectos premonitórios, como: diaforese, palidez, palpitações, náusea, hiperventilação e bocejos. → também acompanha sintomas de intolerância ortostática: vertigem, tontura, fadiga. Sintomas que podem ocorrer durante a síncope neuromediada: mioclonia proximal e distal (possibilidade de epilepsia); pupilas dilatadas e olhos abertos, desviados para cima; grunhidos, gemidos, roncos e estertores respiratórios; incontinência urinária. Tratamento: evitar estímulos provocativos e expandir o volume plasmático com líquido e sal; manobras isoméricas de contrapressão dos MMSS (cruzar as pernas ou aperto de mão com braço tenso). Em pacientes refratários, fludrocortisona, agentes vasoconstritores e adrenorreceptores antagonistas beta são utilizados, embora não haja evidência consistente sobre qualquer farmacoterapia. É definida como uma redução na PAS de pelo menos 20 mmHg ou na PAD de pelo menos 10mmHg dentro de 3 minutos com o paciente em pé ou com a cabeça para cima em uma mesa inclinada. É uma manifestação de falha vasoconstritora simpática autonômica. Em muitos casos, não há aumento compensatório da FC. “Queda da PA sem aumento compensatório na FC, decorrente de insuficiência autônoma.” → hipotensão ortostática “precoce”, dentro de 15 segundos, não representa insuficiência autonômica, apenas desajuste transitório entre débito cardíaco e resistência vascular periférica. Sintomas: vertigem, tontura e pré síncope (quasedesmaio). Ocorrem em resposta a alteração súbita da postura. Os sintomas também podem estar ausentes ou serem inespecíficos, como: fraqueza, lentidão, cefaleia, falseio das pernas, borramento visual, dor no pescoço, dispneia, angina. Hipertensão supina é comum em pacientes com hipotensão ortostática por insuficiência autonômica. Causas neurogênicas de HO incluem disfunção do SNAC e SNAP, que geralmente são acompanhadas por disfunção autonômica de outros sistemas orgânicos. o Distúrbios degenerativos autonômicos primários: atrofia de múltiplos sistemas, Parkinson, insuficiência autonômica pura → “sinucleinopatias”. o Disfunção autonômica periférica: neuropatia diabética, amiloide, imunomediada, hereditárias sensoriais e autonômicas, inflamatórias. Pacientes com insuficiência autonômica e idosos são suscetíveis a quedas na PA associadas às refeições. A hipotensão ortostática geralmente é iatrogênica, causada por fármacos que podem diminuir a resistência periférica. A depleção de volume iatrogênica devida à diurese e a de origem clínica também podem causar hipotensão ortostática e síncope. Tratamento: 1. Eliminar causas reversíveis (medicamentos) 2. Intervenções não farmacológicas: orientação, cuidados com efeitos hipotensivos das refeições volumosas, instruções sobre manobras de contrapressão isométrica e eleva a cabeça no leito para reduzir hipertensão supina. 3. Expandir volume intravascular e aumentar consumo dietético de líquido e sal. 4. Se as medidas acima falharem, optar por intervenção farmacológica com acetato de fludrocortisona e agentes vasoconstritores (midodrina, pseudoefrina, a L-di- hidroxifenilserina). É causada por arritmias e doença cardíaca estrutural, que podem ocorrer de forma combinada ou não. Arritimias: o Bradiarritmias: as que causam síncope incluem aquelas devidas à disfunção grave do nodo sinusal (associadas a taquiarritmia atrial → taquicardia-bradicardia), bloqueio atrioventricular, medicações e pela crise de Stokes-Adams. o Taquiarritmias ventriculares: compromete a função hemodinâmica. o Podem ser causadas por distúrbios associados a instabilidade eletrofisiológica causada por mutações genéticas de subunidades de canais e íons. Doença estrutural: o Cardiopatias estruturais: podem ocasionar síncope por comprometimento do débito cardíaco. Também podem predispor arritmogênese. Tratamento: tratamento do distúrbio subjacente (para arritmias, pode incluir marca-passo, ablação, antiarrítmicos, etc.). o Convulsões generalizadas e parciais o Convulsões autonômicas o Hipoglicemia → A perda da consciência associada a uma convulsão em geral dura mais de 5 minutos e está associada a sonolência pós- ictal prolongada e desorientação, enquanto após um evento de síncope ocorre quase imediatamente a reorientação. Avaliação inicial: determinar se a perda transitória da consciência foi causada por síncope; identificar a causar e avaliar a possibilidade de futuros episódios e danos graves. Inclui anamnese, exame físico e neurológico completos. Medir PA em posição supina e em ortostatismo após 3 minutos, para avaliar hipotensão ortostática. Realizar ECG em casos de suspeita de síncope por arritmia ou cardiopatia subjacente. Exames laboratoriais: raramente são úteis para identificar a causa. Realizar hemograma quando houver suspeita de distúrbios específicos (anemia, IM, IAS). Avaliação do SNA: teste de mesa inclinada. Útil para revelar evidência objetiva de insuficiência autonômica e também predisposição para síncope neuromediada. Considerar massagear o seio carotídeo em pacientes com sintomas sugestivos e naqueles com mais de 50 anos. Avaliação cardíaca: monitorização com ECG em pacientes com alta probabilidade de pré-teste de arritmia como causa de síncope. Realizar ECO em pacientes com antecedentes de cardiopatia ou caso sejam encontradas anormalidades ao exame físico ou ECG. Realizar teste de esforço com monitoração de ECG e PA em pacientes que experimentam síncope durante ou logo após exercício físico. Realizar estudos eletrofisiológicos em pacientes com cardiopatia estrutural e anormalidades ao ECG em que as investigações invasivas não levaram ao diagnóstico. Avaliação psiquiátrica: apropriado em pacientes com episódios recorrentes inexplicados de síncope.